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IZABELLA FERREIRA REIS - 2024 DIREITO CIVIL - PARTE GERAL - PESSOAS NATURAIS 1. Personalidade e capacidade O art. 1°. do CC prescreve acerca da titularidade de direitos e deveres de todo sujeito, isto é: Dessa forma, trata da capacidade de direito ou de gozo, ou seja, da qualidade de ser indivíduo de direitos e deveres na ordem privada, que todas as pessoas têm sem distinção. Existindo-se ainda uma outra capacidade para o exercício de direito, com foco nos interesses próprios, denominada capacidade de fato ou de exercício, que algumas pessoas não têm. Por fim, a pessoa que detém tanto a capacidade de gozo e de fato possui capacidade civil plena, isto significa que é capaz de exercer seus direitos e obrigações por si próprio. 1.1 Personalidade Por personalidade compreende-se a soma de caracteres da pessoa, ou seja, aquilo que ela é para si e para sociedade, logo, trata-se de uma aptidão genérica para titularizar direitos e deveres, referindo-se à qualidade da pessoa. Desta forma, determina o art. 2° do CC: Na norma acima ilustrada, determina que o início da personalidade é com o nascimento com vida, sendo ressalvado os direitos do nascituro, demonstrando certa divergência nesta questão, assim para compreender melhor acerca do início da personalidade, foi estabelecido três doutrinas: a) teoria natalista: a personalidade jurídica é adquirida a partir do nascimento com vida, tendo que o nascituro goza de mera expectativa de direitos, porém, é criticado a qualificação como coisa do nascituro; b) teoria da personalidade condicional: nascituro titulariza certos direitos da personalidade, mas somente consolida direitos de cunho material ou econômico sob a condição de nascer com vida, contudo, os direitos da personalidade não podem estar sujeitos a condição, termo ou encargo; c) teoria concepcionista: nascituro é considerado pessoa desde a concepção, dotado de personalidade jurídica plena, inclusive para titularizar certos direitos materiais ou econômicos, todavia, ocorreria conflitos se o nascituro se tornar natimorto. Logo, no Brasil é adotada a Teoria natalista, no entanto, a jurisprudência atual sofre influência da Teoria Concepcionista. 1.2 Capacidade A capacidade é regulada pelos arts. 3° e 4° do CC, em que o primeiro titulariza os absolutamente incapazes e o segundo os relativamente incapazes: IZABELLA FERREIRA REIS - 2024 Em verdade, o art. 3° consagra como princípios a igualdade plena das pessoas com deficiência e a sua inclusão com autonomia, caso haja a necessidade, poderá ser adotado a tomada de decisão assistida ou o procedimento de interdição, chamada curatela. Dessa forma, não existem maiores absolutamente incapazes. Em complemento, merece destaque o art. 6° da Lei 13.146/2015, segundo o qual determina que a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, logo a submissão ao processo de curatela ou tomada de decisão apoiada é facultativo, sendo considerada uma medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, durando menor tempo possível. Sendo assim, a curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial, conforme o art. 85 do EPCD, desta forma, não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto. Constata-se que, para que a curatela esteja presente, há necessidade de uma ação judicial específica. Por fim, a respeito dos absolutamente incapazes, devem eles ser representados sob pena de nulidade absoluta do ato praticado (art. 166, inc. I, CC), por outro lado, quanto aos relativamente incapazes, o instituto de suprimento é a assistência, sob pena de anulabilidade do negócio (art. 171, inc. I, CC). 1.3 Emancipação Conceituada como um ato jurídico que antecipa os efeitos da maioridade e dá, consequentemente, capacidade civil plena. Assim, o jovem passa a ser absolutamente capaz, mas não deixa de haver ainda a incidência do ECA, vide Enunciado 530, da VI Jornada de Direito Civil: IZABELLA FERREIRA REIS - 2024 Sendo assim, o menor emancipado não pode tirar carteira de motorista, entrar em locais proibidos para crianças e adolescentes ou ingerir bebidas alcoólicas. Logo, determina o art. 5° do CC: Por regra geral, ela ocorre de forma definitiva, irretratável e irrevogável, porém, a emancipação por concessão dos pais ou por sentença judicial está sujeita a desconstituição por vício de vontade (Enunciado 397, V Jornada de Direito Civil), sendo possível então sua anulação por erro ou dolo. Ademais, a emancipação pode ocorrer pelas seguintes maneiras: a) voluntária parental: por concessão dos pais ou de um deles na falta do outro. Para que ocorra a emancipação parental, o menor deve ter, no mínimo, 16 anos completos; b) judicial: por sentença do juiz, em casos, por exemplo, em que um dos pais não concordar com a emancipação, contrariando um a vontade do outro; c) legal matrimonial: pelo casamento do menor. Interessante lembrar que a idade núbil tanto do homem quanto da mulher é de 16 anos (art. 1.517 do CC), sendo possível o casamento do menor se houver autorização dos pais ou dos seus representantes. d) legal: por exercício de emprego público efetivo, desde que haja nomeação de forma definitiva; e) legal: por colação de grau em curso de ensino superior reconhecido, deve ser curso superior reconhecido; f) legal: por estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de relação de emprego, obtendo o menor as suas economias próprias, visando a sua subsistência, sendo necessário que o menor tenha ao menos de 16 anos, revelando amadurecimento e experiência desenvolvida, ter economia própria significa receber um salário mínimo. 1.4 Fim da personalidade O fim da personalidade dá-se pela morte, conforme determinado pelo art. 6° do CC: Contudo, de qualquer forma pode-se afirmar que o morto tem resquício de personalidade civil, não se aplicando por inteiro essa norma. IZABELLA FERREIRA REIS - 2024 Dessa forma, pode-se afirmar que o direito reconhece duas possibilidades para que ocorra o fim da personalidade: morte real ou presumida (não há corpo), que pode derivar das seguintes circunstâncias: a) o primeiro ocorre através da morte encefálica (critério para identificação do óbito e sua prova se dá através de atestado de óbito) e acarreta a extinção de todos os direitos e obrigações; b) presunção de morte com decretação de ausência, ocorre nos casos em que a pessoa está em local incerto e não sabido (LINS) não havendo indícios das razões do seu desaparecimento. c) presunção de morte sem decretação de ausência, pelo art. 7° do CC, por perigo de vida ou situação de guerra. 2. Comoriência Técnica jurídica presente no art. 8° do CC, onde é indicado a ordem de morte entre duas ou mais pessoas, sendo de extrema importância quando há relação parental ou patrimonial entre os civis, pois a partir da ordem de falecimento é possível estabelecer a sucessão dos bens (art. 8°, CC). 3. Direitos da personalidade Refere-se a direitos subjetivos e conferem à pessoa o poder de defender sua personalidade no aspecto psicofísico amplo. Tutelado por diferentes áreas, portanto, defendendo a personalidade de diferentes formas. Assim, há dois grupos que fundamentam este dispositivo, a corrente positivista e a jusnaturalista: a) positivista: os direitos da personalidade devem ser somente aqueles reconhecidos pelo Estado; b) jusnaturalista: destaca a acerca dos direitos inerentes à condição humana, reconhecido e sancionado pelo Estado. Sendo assim, foram criados para proteger os indivíduos de si mesmos e de terceiros, diferentemente dos direitos fundamentais que visam proteger os indivíduos do Estado, criando limites no poder político e na sua capacidade para ofender a pessoa como indivíduo e cidadão. Logo, tem como base os três princípios reitores da Constituição: a) princípio da proteção da dignidade da pessoa humana (art. 1º,III, CF); b) princípio da solidariedade social (art. 3°, I - III, CF); c)princípio da igualdade lato sensu ou isonomia (art. 5°, caput, CF). Nesse sentido, o Enunciado 247 da IV Jornada de Direito Civil compreende que: IZABELLA FERREIRA REIS - 2024 Além disso,conforme exposto nos arts. 11 e 12 do CC, são direitos inatos, absolutos, indisponíveis, intransmissíveis, irrenunciáveis, ilimitados, imprescritíveis, impenhoráveis, inexpropriáveis, extrapatrimoniais e vitalícios, que começam com a existência da pessoa humana e são defendidos pela lei contra ameaças de lesão: Assim, existem três grandes grupos da expressão dos direitos da Personalidade, direito à: i) integridade física; ii) intelectual; iii) e moral. Por outro lado, na concepção civil-constitucional, estas três expressões relacionam-se com a proteção da dignidade da pessoa humana e com as dimensões (ou gerações) dos direitos fundamentais, sendo eles: a) primeira dimensão: direitos de liberdade; b) segunda dimensão: relacionados aos direitos sociais, de isonomia; c) terceira dimensão: os direitos da fraternidade ou solidariedade social, compreendem a pacificação social, os direitos do consumidor e o direito ambiental; d) quarta dimensão: decorrentes da evolução da engenharia genética, compreendem direitos relacionados ao patrimônio genético. Por fim, o Código Civil tutela os seguintes direitos da personalidade: a) vida e a integridade físico-psíquica; b) nome da pessoa natural ou jurídica (arts. 16 a 19 do CC e na Lei de Registros Público); c) imagem, seja imagem-retrato e/ou imagem-atributo; d) honra, com repercussões físicas-psíquicas, divididas em subjetiva e objetiva; e) intimidade, sendo certo que a vida privada da pessoa natural é inviolável, conforme previsão expressa do art. 5.º, inc. X, da CF. 3.1 Características O art. 11 do CC e seguintes prevê algumas características do direitos da personalidade, quais sejam: a) intransmissibilidade: não podem ser objeto de transmissão entre pessoas, seja por negócio jurídico ou herança, porém, a lesão aos direitos da personalidade pode acarretar reflexos nos herdeiros, danos por ricochete, ou seja, a proteção transcendental do direito da personalidade (art. 12 do CC); b) irrenunciabilidade e inalienabilidade: não pode, mesmo que voluntariamente, dispor desses direitos de forma IZABELLA FERREIRA REIS - 2024 negocial, daí o porque são também inalienáveis. Contudo, é possível em caso de limitação temporária de alguns direitos da personalidade, desde que compatível com a espécie de direito em análise, por exemplo direito de imagem; c) imprescritibilidade: os direitos da personalidade não prescrevem, isto é, não são perdidos pela inércia do seu titular em caso de violação, sendo portanto sempre passíveis de indenizações; d) vitaliciedade: em via de regra, os direitos da personalidade acompanham o seu titular desde a concepção até a morte; e) oponibilidade erga omnes: corresponde à obrigatoriedade que todos os indivíduos têm de respeitar o direito alheio, quando este lhe pertence; f) originalidade: inerentes ao ser humano, ou seja, são adquiridos a partir do seu nascimento e assegurados ao nascituro Todavia, existe uma parcela desses direitos relacionados às questões patrimoniais que são transmissíveis, renunciáveis e disponíveis, conforme o enunciado 4 da I Jornada de Direito Civil: 3.2 Ponderação Quando os direitos da personalidade entrarem em conflito, a solução deve ser feita pela técnica da ponderação. Essa técnica consiste no sopesamento dos direitos fundamentais do caso concreto, assim, o juiz deverá avaliar as hipóteses de solução e acatar aquela que oferecer o melhor cenário sem descartar os direitos dos envolvidos, indo em concordância com o Enunciado 247 da IV Jornada de Direito Civil. Dessa forma, a análise da dignidade humana deve ser analisada em uma perspectiva coletiva, ou seja, deve prevalecer a vida, em prol da vontade coletiva. Contudo, muitos doutrinadores entendem pela prevalência da liberdade individual (Gustavo Tepedino, Anderson Schreiber, Nelson Nery, Villaça). Todavia, segundo o Enunciado 403 da V Jornada de Direito Civil, a liberdade de crença prevalece, visto que, para Flávio Tartuce, a liberdade individual levada às últimas consequências cria um Estado fundamentalista. 3.3 Tutela geral da personalidade Sem prejuízo de obter a respectiva reparação pecuniária ou específica, advinda de uma violação a um direito da personalidade, assim, a tutela geral da personalidade está previsto pelo art. 12 do CC, logo, existem dois princípios referentes à esta questão: a) princípio da prevenção: cabem medidas de tutela específica, o caput da norma citada faculta a exigência da cessão à ameaça ou lesão; b) princípio da reparação integral do dano: tendência de ampliação dos danos reparáveis, havendo a Súmula 37 do STJ que reconhece IZABELLA FERREIRA REIS - 2024 a acumulação dupla de danos materiais e morais em uma mesma ação, isto é, a Súmula 387 do STJ concretizando o dano estético, já a Súmula 624 do STJ lícita o acúmulo de dano moral com a reparação econômica - Lei n. 10.599/2002. Assim, além do natural e intuitivo direito que a vítima tem de pedir que o agressor cesse a ameaça ou a lesão a um direito da personalidade, caso o dano não tenha sido evitado, vindo a efetivamente ocorrer, terá o lesado direito à sua reparação. Dessa forma, é lícita a cumulação das indenizações e a tendência é o reconhecimento de novos danos, consagrado também pelo art. 944 do CC: Em alguns casos, a lesão aos direitos da personalidade gerará um dano moral presumido (in re ipsa), como por exemplo a Súmula 403 do STJ que trata do uso indevido de imagem sem a autorização com fins econômicos ou comerciais. Além disso, a violação desses direitos podem trazer consequências de âmbito civil, penal e administrativo, cuja incidência são relativamente independentes e autônomas. 3.4 Direitos da personalidade do morto Previsto pelo parágrafo único do art. 12 do CC em que, se tratando do morto, haverá legitimação para o requerimento de uma medida prevista em que o cônjuge sobrevivente e/ou qualquer parente em linha reta, nomeando esses legitimados de lesados indiretos “dano em ricochete”. Contudo, para prova, em se tratando de imagem de morto, somente aqueles determinados no parágrafo único do art. 20 do CC contém legitimidade: Em resumo, o art. 12 tutela acerca dos direitos da personalidade em geral e o art. 20 tutela acerca do direito à imagem (uma regra especial). 3.5 Tutela da integridade físico-psíquica Primeiro, o art. 13 do CC limita atos de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariarem os IZABELLA FERREIRA REIS - 2024 bons costumes às situações em que há exigência médica. Excetuam-se os casos de transplante de órgãos (art. 13, parágrafo único) e de disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte, com objetivo científico ou altruístico. Ademais, é possível a cirurgia de adequação do sexo, pois trata-se de uma exigência médica, conforme o previsto no Enunciado 276 da IV Jornada de Direito Civil: Bem como há alteração do sexo para todos os fins jurídicos, o STJ já julgou a questão na ADI 4.275/DF: Além disso, o art. 14 do mesmo código trata da integridade física e disposição post mortem de partes do corpo, para fins científicos ou altruísticos, bem como retira a responsabilidade do doador arrependido, não podendo os familiares revogar o ato de disposição feito em vida pelo próprio doador, conforme o Enunciado 277 da IV Jornada de Direito Civil. Por fim, o art. 15 protege a dignidade da pessoa humana, ao determinar que: 3.6 Individualização da pessoa natural O vocábulo “nome” é tratado como um elemento individualizador da pessoa natural, sendo empregado em sentido amplo, isto é, indica o nome completo, vide art. 16 do CC. Logo, integra a personalidade, individualiza a pessoa não só durante a sua vida como também após a sua morte, além de informar a sua procedência familiar, sendo um direito inalienável e extrapatrimonial. Ademais, oaspecto público decorre do fato de o Estado ter interesse em que as pessoas sejam perfeitas e corretamente identificadas na sociedade pelo nome e, por essa razão, disciplina seu uso na Lei de Registros Públicos (Lei n° 6.015/73), proibindo a alteração do pronome, salvo exceções expressamente admitidas (art. 58 da Lei n° 6.015/73) e o registro de prenomes suscetíveis de expor ao IZABELLA FERREIRA REIS - 2024 ridículo os seus portadores (art. 55, §1° da Lei n° 6.015/73). Nesse sentido, o direito ao nome abrange o de usá-lo e de defendê-lo contra usurpação, como no caso de direito autoral, e contra exposição ao ridículo, conforme exposto nos arts. 17 e 18 do CC, sendo integrado também ao pseudônimo adotado para atividades lícitas, vide art. 19 do mesmo ordenamento. Ademais, conforme o Enunciado 278 da V Jornada de Direito Civil também esclarece que: Mesmo aqueles que negam a natureza jurídica do nome civil admitem a concepção do nome comercial como um direito autônomo, exclusivo do comerciante, que pode impedir que o outro o utilize no exercício da profissão mercantil, e suscetível de alienação com a transferência do fundo de comércio. Diferentemente do nome civil, que é inalienável, o nome comercial integra-se no “fundo” como propriedade incorpórea e pode ser cedido juntamente com este. 3.7 Direitos da personalidade da pessoa jurídica Apesar de a noção dos direitos da personalidade está intrinsecamente ligada à condição da natureza humana, não se discute que as pessoas jurídicas possam gozar de alguns desses direitos, conforme estabelecido pela súmula 227 do STJ. Isto é, os objetos mais importantes do direito de personalidade são a vida e a liberdade, de essência plenamente humana e não encontradas na natureza formal. Porém, como reflexo da proteção que se deve à potência intelectual do humano, vê-se necessidade de protegê-la também. Dessa forma, pode determinar os direitos da personalidade jurídica são nome, fama, potência intelectiva (inteligência, vontade, liberdade, dignidade) e às potências realizadas da pessoa (atos). 4. Ausência A ausência é uma das hipóteses de morte presumida, previsto na segunda parte do art. 6° do CC, presunção legal relativa (juris tantum), decorrente do desaparecimento da pessoa natural, sem deixar corpo presente, enquadrando-se como tipo de inexistência por morte, presente nas situações em que a pessoa está em local incerto e não sabido (LINS), não havendo indícios das razões do seu desaparecimento, por fim, três são as IZABELLA FERREIRA REIS - 2024 fases relativas à declaração de ausência, que se dá por meio de ação judicial: i) curadoria dos bens do ausente, ii) sucessão provisória e iii) sucessão definitiva. 4.1 Curadoria dos bens do ausente A requerimento de qualquer interessado direito ou mesmo do Ministério Público, será nomeado curador (art. 22, CC), que passará a gerir os negócios do ausente até o seu eventual retorno (art. 24, CC). Na mesma situação se enquadra aquele que, tendo deixado mandatário e este último se encontre impossibilitado, físico ou juridicamente, ou simplesmente não tenha interesse em exercer o múnus (art. 23, CC). Observe-se que esta nomeação não é discricionária, tendo a lei estabelecendo uma ordem legal estrita e sucessiva, e também no caso de impossibilidade do anterior (art. 25 do CC). 4.2 Sucessão provisória Decorrido um ano após a arrecadação de bens do ausente e da nomeação de um curador ou após três anos se deixou um procurador ou mandatário, poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão (art. 26, CC). Ademais, a legitimidade para requerer a abertura da sucessão provisória limita-se às pessoas elencadas no art. 27 do CC e, na ausência de interessados, ao Ministério Público (art. 28, §1°, CC). Por cautela, o legislador, antes da partilha, determina a conversão dos bens móvei, sujeitos a deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos garantidos pela União, a fim de garantir restituição dos bens (caução) e só assim os herdeiros irão possuir os bens provisoriamente (art. 29, CC). Ocorrendo, desta forma, por meio da apresentação de penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos (art. 30 e 34 do CC). Isto é, por ocorrer de forma provisória, permitido apenas a IZABELLA FERREIRA REIS - 2024 alienação dos imóveis, sendo proibida a desapropriação, tendo sua venda permitida apenas para evitar a ruína (art. 31 do CC). Atrelado a essa ideia de preservação, ao máximo do patrimônio do ausente, é estipulado o prazo de 180 dias (art. 28, CC) para a produção de efeitos da sentença da abertura da sucessão provisória, após o que, transitando em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, caso existente, ou ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente tivesse falecido. Sendo assim, com a posse dos bens do ausente, passam os sucessores provisórios a representar ativa e passivamente o ausente, o que lhes faz dirigir contra si todas as ações pendentes e as que de futuro àquele forem movidas (art. 32, CC), havendo as duas seguintes situações: herdeiros empossados, se i) descendentes, ascendentes ou cônjuges terão direito subjetivo a todos os frutos e rendimentos dos bens que lhe couberem, o que não acontecerá com os ii) demais sucessores, que deverão, necessariamente, capitalizar metade desses bens acessórios, com prestação anual de contas ao juiz competente (art. 33, CC). Contudo, se, durante esta posse provisória, se prova efetivamente o falecimento será convertida em sucessão definitiva, considerando-se a mesma aberta na data comprovada, em favor dos herdeiros que o eram àquele tempo. Consequentemente, gerando modificações na situação dos herdeiros provisórios, uma vez que não se pode descartar a hipótese de haver herdeiros sobreviventes na época efetiva do falecimento do desaparecido, mas que não mais estavam vivos quando do processo de sucessão provisória. Como também, se houver a presença do corpo, seguirá os regramentos IZABELLA FERREIRA REIS - 2024 existentes no Direito das Sucessões (art. 35 do CC). 4.3 Sucessão definitiva O certo é que a existência de um longo lapso temporal sem informações acerca do ausente, reforça as suspeitas de seu falecimento. Sendo assim, presumindo efetivamente sua morte, estabelece a lei o momento próprio e os efeitos da sucessão definitiva. Dessa maneira, apoś dez anos o trânsito em julgado da sentença de abertura de sucessão provisória, ou provando-se que o ausente conta com 80 anos e que data de cinco anos as últimas notícias dele, converter-se-á na mesma em definitiva – o que, obviamente, dependerá da provocação da manifestação judicial para a retirada dos gravames impostos – podendo os interessados requerer o levantamento das cauções prestadas (arts. 37 e 38, CC). Esta plausibilidade maior do falecimento presumido é reforçado, em função da expectativa média de vida. 4.4 Retorno do ausente Admite a lei a possibilidade de o ausente retornar, ocorrendo em maneiras diferentes em cada situação: a) fase de arrecadação de bens: não há qualquer prejuízo ao seu patrimônio, continuando ele a gozar plenamente de todos os seus bens; b) abertura de sucessão provisória: caso a ausência tenha ocorrido de forma voluntária e injustificada, o ausente perderá em favor do sucessor provisório a sua parte nos frutos e rendimentos, caso não, cessasse imediatamente todas as vantagens dos sucessores imitidos na posse, que ficam obrigados a tomar medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu titular (art. 33, parágrafo único, e art. 36 do CC). c) sucessão definitiva: ausente terá direito aos seus bens existentes no estado em que se acharem ou sub-rogados em seu lugar, e/ou preço que os herdeiros e demais interessados tenham recebido pelos bens alienados. Contudo, passados dez anos e o ausente não regressar e nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município, D.F ou União, quando em território nacional (art. 39, CC). IZABELLA FERREIRA REIS -2024 2. Pessoas jurídicas 2.1 Associações 2.2 Fundações 3. Domicílio
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