Buscar

PDF_Entrevista I e II Debora Cristina Galvao Prudente docx_V professor

Prévia do material em texto

1 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS 
INSTITUTO DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS 
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA 
DISCIPLINA: ESTÁGIO I 
PROFESSOR: HIDERALDO LIMA DA COSTA 
ACADÊMICAS: ELIZABETH FRANCIELLY ALECRIN MACEDO 
MACARENA CAVALCANTE MAIRATA 
 
 
Parte I com Elizabeth Macedo 
Entrevista com a profa. Déborah Cristina Galvão Prudente 
 
Elizabeth: Boa tarde, gostaria que você começasse nos dizendo seu nome por gentileza, 
a escola e a disciplina que atua, se é só no ramo da história ou em outra disciplina também. 
Deborah: Tá. Eu me chamo Deborah Cristina Galvão Prudente, atuo na escola Estadual 
Getúlio Vargas e na escola Estadual Ruy Araújo, ministro as disciplinas de História e 
Geografia.” 
Elizabeth: Ok, quais são as séries, professora? 
Deborah: “Fundamental 2, do 6° ao 9° ano” 
Elizabeth: Como é que foi ser aluna no ensino Fundamental e básico e se teve algum 
professor que lhe marcou para que fosse pudesse estar escolhendo a área de história? 
Deborah:” eu estudei sempre em escola pública, na época eu gostava muito de 
matemática. 
Elizabeth: Nossa (Risos) 
Deborah: Quando chegou no 3° ano do ensino médio eu resolvi fazer o vestibular para 
matemática, passei na primeira fase. Não sei se ainda é assim, mas na minha época era 
preciso duas fases para entrar na faculdade. 
“Aí passei na primeira fase e quando chegou na segunda caiu uma matemática que nunca 
tinha visto na escola, aí não passei e terminei o ensino médio sem entrar em uma 
faculdade.” 
Comecei então a fazer cursinho, trabalhava de manhã em uma clínica odontológica e fazia 
curso pré-vestibular a noite. Só que a verdade é que eu nunca gostei de história ou 
geografia, pois dava preguiça. 
Elizabeth: Risos. 
Deborah: Só que para passar você precisava não zerar nenhuma disciplina e eu não tinha 
conhecimento nenhum nessas duas. Eu tinha apenas uma noção básica; foi aí que eu 
resolvi começar a prestar atenção nas aulas de história. 
 2 
Eu conheci um professor, o Gildon. Acho que ele ainda é professor, dava aula lá no 
equipol. Inclusive ele é formado em contabilidade e história, então ele falava que ele era 
contador de história. 
Elizabeth: Risos 
Deborah: Ele é muito bom, foi quando eu me apaixonei por história. Quando ele falava 
parecia que eu estava vendo as coisas que ele falava. Então foi no cursinho que eu decidi 
cursar história. Desisti de matemática e escolhi a história. 
Elizabeth: Que legal, é interessante pois são áreas totalmente distintas. 
Elizabeth: Então no caso a sua preparação requeu muito esforço né? pois você nos contou 
que trabalhava de durante o dia e fazia o cursinho a noite. 
Deborah: Isso. 
Elizabeth: Você pode nos contar então mais um pouquinho de como foi essa preparação? 
Deborah: Aqui em casa, meu pai dizia que sempre tínhamos que passar em universidade 
pública, pois não somos ricos então tinha que ser uma publica mesmo. Era uma forma até 
de incentivar o estudo. 
Quando terminamos o estudo tem sempre aqueles que passam e os que não passam, e 
você se sente um pouco para trás, mas eu queria mudar isso. Então eu comecei a trabalhar, 
através da minha mãe que conhecia alguém, que conhecia outro alguém e me indicou para 
trabalhar como telemarketing. 
Eu comecei a trabalhar e ganhava 300 e pouco na época, era outra realidade e com isso 
pagava o cursinho. Eu trabalhava manhã e tarde, chegava em casa tomava banho, 
descansava um pouquinho e 7h tinha que estar lá na sala para assistir aula, ainda bem, 
que tudo era perto da minha casa, o cursinho era na rua, na Ferreira Pena e onde eu 
trabalhava era na rua subindo a Ferreira Pena; uma clínica odontológica. 
Elizabeth: Entendi. Isso é uma realidade né de muitos alunos que não passam de primeiro 
e se encontram inseridos nesse meio de pressão de que você tem que passar de primeiro. 
É uma cultural enraizada. 
Deborah: Sim, pois você fica com medo de ficar para trás. 
Elizabeth: E depois que você passou; como foi sua vivência nesse primeiro ano no curso 
de história, já que não era algo que você queria desde o início? 
Deborah: Quando eu entrei na sala tinha cerca de 40 alunos, e a primeira coisa que a 
gente percebe é que não precisa pedir para ir ao banheiro e nem pedir para beber água. 
As pessoas se levantam e vão. Aí entrou uma professora muito boa, a Patrícia Melo. 
Deborah: Ela começou a falar e alguns colegas levantaram a mão e eu ficava pensando 
que eles já tinham uma base e eu estava ali para construir ainda. Até porque eu não gostava 
de história, tive que aprender para passar no vestibular. A primeira aula foi para mim um 
choque. 
 3 
Elizabeth: Então você não tinha uma noção de como seria o curso ne? E agora mais 
madura, como você o avalia, você acredita que o curso atendeu as suas expectativas? Qual 
é sua visão hoje? 
Deborah: Eu costumo dizer que meus 4 melhores anos foi na UFAM, não 
necessariamente pelo conteúdo, mas pela vivência, a experiência de você está ali, debater 
com outras pessoas. Mas eu sinto que aprendi mais fora da universidade, porque na 
universidade é assim, eles passam o texto, você tem que ler e ali dentro e feito um debate. 
Por a gente sair da escola pública, a gente espera que o professor nos ensine e na 
universidade não é bem assim. Então você já tinha que chegar lá sabendo, tinha de correr 
atras, senão você ficava para trás. Até mesmo quando eles passavam prova você tinha que 
dissertar, construir ali teu ponto de vista. 
Elizabeth: E tu achas que para a sala de aula isso agregou em algo? 
Deborah: Sim, porque eu tento fazer os alunos falarem, quando eu estou em sala de aula 
quando eu tento puxar os alunos mais ali para o que estou falando. Porque na 
Universidade o professor falava: E você? e seu ponto de vista? Então faço isso com os 
alunos e acredito que peguei isso da Universidade. 
Elizabeth: Então podemos concluir que até suas avaliações tem muitas questões 
subjetivas? 
Deborah: Sim, pois quando o aluno escreve eu vejo o que ele realmente aprendeu. 
Elizabeth: Entendi, Deborah vou pedir que você fale agora um pouquinho sobre a sua 
experiencia em sala de aula, logo nos primeiros messes de aula. Houve uma preparação 
ou foi algo que você deixou acontecer de forma natural? 
Deborah: Certo, vamos do começo então. Quando a gente se forma não é assim tão fácil 
encontrar uma escola para trabalhar. Então eu me formei, mas não consegui emprego, 
pois todas as escolas que eu ia entregar currículo falavam que eu não tinha experiencia, 
mas como é que eu ia ter experiência se não me davam oportunidade? Então eu passei um 
ano depois de formada sem emprego na área. Depois de um tempo que eu comecei a 
trabalhar em escola particular. Desta forma, tive que me preparar, pois por mais que a 
gente saiba o assunto, a forma que é cobrada na escola é diferente. Na Universidade os 
assuntos são muito aprofundados, na escola é muito superficial. Peguei então o livro 
didático e me preparei através dele. 
Deborah: Assim, eu criei uma didática para dá aula. Eu costumo todas as aulas relembrar 
as aulas anteriores, isso é algo que eu vi que sempre funciona com eles. Eu aprendi a dá 
aula dando aula, na faculdade é mais conteúdo. 
Elizabeth: Você acha que isso faltou então na sua formação? 
Deborah: Sim. Eu não sei dizer qual seria uma disciplina específica para isso. Tem as 
práticas, mas ainda não supri. Nos estágios na minha época a gente dava uma aula. Então 
acho que deveria ter uma disciplina para ajudar a dá aula. 
Elizabeth: Agora voltando um pouco para a tua vivência em sala de aula. Quanto tempo 
você atua? 
 4 
Deborah: 8 anos, entre particulares e públicas. 
Elizabeth: Certo, e você pretende ou fez algum mestrado, especialização na área de 
história? 
Deborah: Sim, eu tenho pós-graduação em docência em ensino superior na Faculdade 
Estácio. Eu teria vontade de fazer algo na área ou o mestrado, mas é um pouco mais 
complicado na UFAM. 
Elizabeth: Compreendo. Deborah, em algum momento da tua carreira já se passoupela 
cabeça a vontade de desistir? 
Deborah: Não. Eu gosto de dá aula, eu gosto de falar sobre o gosto. Mesmo que eu 
reconheça que tem assuntos que são meio chatos para os alunos, mas eu sei que tem 
assuntos na história que são necessários para entender hoje em dia. E eu tento colocar na 
cabeça deles que é importante. Para o 6° ano que de fato começam a ter história eu começo 
a introduzir fazendo perguntas do tipo: Por que você acha que usa esse penteado? Aí elas 
respondem: 
 - “Porque eu quero” Aí eu digo que não é porque elas querem é porque está implícito na 
sociedade, então historicamente eu tenho uma resposta histórica para isso. 
Deborah: Eles pensam que história é só estudo do passado, mas digo que história é uma 
construção de todo dia. 
Elizabeth: Que legal! Mas é realmente isso. É entender a história para saber o porquê que 
isso está acontecendo no presente isso é muito importante ser tratado em sala de aula. 
Ainda mais por causa dessa mentalidade dos alunos em pensar que é só passado. 
Deborah: E para eles é um passado longínquo, e a história é também passado recentes. 
Elizabeth: Tem alguma turma que te marcou, alguma escola, projeto? Na atual escola 
que está para ser mais específica, pois imagino que nesses 8 anos já deve ter passado por 
outras escolas. 
Deborah: Sim, quando eu comecei a dá aula eu peguei uma turma de 9° ano, onde a gente 
fala mais de Brasil contemporâneo política e os alunos indagavam muito, eu senti que 
eles eram bem politizados, então o conteúdo fluiu muito durante todo o ano. Foi muito 
legal. 
Outro caso, foi eu dando aula de Revolução Francesa em uma escola pública de ensino 
médio em que a aula foi muito empolgante por conta do conteúdo e no final da aula um 
aluno chegou para mim e disse: 
- Professora eu já sei o que vou fazer, história. Aí eu disse AIIII (empolgação) fiquei feliz. 
Elizabeth: Que interessante, eu imagino a alegria que você deve ter sentido, ainda mais 
sendo o curso de história que na nossa sociedade é algo desvalorizado, à docência no 
modo geral é desvalorizada. Então acredito que quando chega um aluno e fala isso é algo 
vibrante. Eu vibrei aqui por você. 
(risos) 
 5 
Deborah: Teve outro caso, de uma turma de 7° ano onde eu estava falando sobre negros 
e cotas e uma aluna falou que todos tem a mesma chance, o mesmo direito. Aí eu fiquei, 
nossa como uma filha de professora está falando isso. Foi então que eu passei um vídeo, 
de uma corrida, onde ele coloca as dificuldades das pessoas para correr, mostra que as 
pessoas não estão no mesmo nível. Porque por exemplo, tem as barreiras do que precisam 
trabalhar e estudar, dos que só estudam, a dos que são de outra classe que precisam ajudar 
a família, ou tem família desestruturada. Então tem muitas coisas que os colocam em 
desvantagem. No final da corrida, eles perceberam que somente pessoas brancas saíram 
na frente, ganhariam aquela corrida, mas se todos estivessem no mesmo nível, no mesmo 
patamar, todos talvez, talvez as de classes mais baixas, os negros que são minorias no 
Brasil teriam chegado. Porque eu não acredito em meritocracia, eu acredito que é 
necessário sim ter essas políticas, é algo que precisa ter. 
Deborah: Aí eu falei sobre isso, expos minha opinião e ela falou, é professora é verdade 
você tem razão. Quando foi ano passado ela me mandou uma mensagem no Instagram, já 
no ensino médio, e ela falou assim: 
- Professora eu nunca vou esquecer aquela aula que a senhora deu sobre aquela corrida, 
parece que ali mudou meu pensamento, eu comecei a ver de outra forma. Ela conseguiu 
perceber que existe essas diferenças e que precisamos lutar contra elas. Foi muito bom, 
pois depois ela me agradeceu. 
Elizabeth: Que legal, é muito bom quando o professor tem esse papel fundamental, pois 
o papel dele vai além da sala de aula, não é só você ir ali e dá o conteúdo e vou embora, 
ele influencia na formação do cidadão, e você influenciou na vida dessa aluna e aí que 
está o papel do professor em somar e agregar na vida do aluno. 
 
Parte II com Macarena Mairata 
Entrevista com a profa. Déborah Cristina Galvão Prudente 
 
Macarena - Déborah, agora as perguntas que eu vou fazer agora se referem ao contexto 
que a gente está vivendo, que ainda é o da pandemia, certo? E aí, eu gostaria que você me 
dissesse como é que você avalia que a pandemia mudou a tua vida. Queria que você me 
dissesse acerca disso - se houve mudança: o que mudou com relação a hábitos, a tua 
relação com as outras pessoas, sabe? Tu podes contar um pouco mais acerca disso para a 
gente? 
Déborah - Fora do trabalho, você está falando? 
Macarena – Isso! 
Déborah – Deixa eu ver... acho que a convivência social, né? que foi limitada. E a 
utilização de máscaras. Mas a gente acabou que ficou um pouco mais pensativo, eu diria 
assim... a gente, eu acho, que ficou com mais medo, de... sei lá, de morrer. De pessoas 
próximas morrerem. Ainda mais que a gente via todo dia notícias sobre morte, não sei o 
quê, e eu tenho pai e tenho mãe. E minha avó que morreu nesta época em decorrência da 
Covid-19. Em decorrência da pandemia, não; em decorrência do Covid-19. É.... então foi 
 6 
muito difícil, até porque quando ela já estava mal, a gente sempre estava visitando-a, né? 
Quando ela voltou do hospital. Mas, uma semana antes dela morrer, eu e a minha tia, que 
estávamos indo muito para lá, pegamos Covid-19. Aí a gente não pôde ficar nessa última 
semana de vida com ela, porque papai estava com medo da gente levar Covid-19 para ela, 
sem saber que era ela que estava com Covid-19. 
Macarena – E em que período foi isso? 
Déborah – Foi na...? Em 2020, acho, que lá para abril, maio. Foi abril!! Acho que foi 
abril... 
Macarena – Foi logo na primeira onda, né? 
Déborah – Foi na primeira onda. Que pegou os mais velhinhos, aí ela tinha 82 anos, aí 
ela acabou pegando. Como ela tinha outras... outros problemas, acabou tudo piorando. 
Por conta do Covid-19, então né? Mas é.... talvez isso já fosse acontecer, mas estava no 
nível três, mas o Covid-19 adiantou isso, a morte dela. 
Macarena – A partida dela? 
Déborah – Sim! 
Macarena – E Déborah, assim... essas mudanças que aconteceram na tua vida, na tua 
carreira profissional, o que mudou? Como é que você consegue avaliar isso? 
Déborah – Mudou no sentido de, primeiro a gente começou com aula remota, né?! Então, 
é, tem diferença da aula remota da escola particular para a diferença da aula remota na 
escola pública. Na época da pandemia, 2020, eu dava aula de manhã na escola particular 
e de tarde na escola pública. Então de manhã, tinha muito mais trabalho, porque tinha que 
estar on-line todos os dias e seguir todos os tempos de aulas como se fosse na sala de 
aula. Então não tinha esse primeiro contato, não teve contato com os alunos...Aí, depois 
que começou a ter interação entre professor-aluno, mas também, por grupos. E depois a 
gente foi mudando, mas eu ainda consegui fazer atividades mesmo de maneira remota 
com eles. Apesar de não ser a mesma coisa que a sala de aula – nunca será! 
Macarena – Certo! Você falou que há uma diferença, entre as aulas nas escolas 
particulares, sendo remotas. E das aulas nas escolas públicas no modo remoto. Para você, 
o que é mais latente nessas diferenças, o que você pode nos contar? 
Déborah –É, na escola particular existe uma cobrança maior sob o professor. E os pais, 
eles também tinham muita preocupação: será que o aluno vai aprender? Muitos deles, dos 
alunos que eu tive nas escolas particulares, tinham - mesmo com a pandemia, um 
professor particular. Então fora da sala tinham um professor particular. 
Macarena – Ou seja, tinham um suporte a mais, né? 
Déborah – Isso, exatamente. É.... a pandemia, ela aumentou a diferença entre a escola 
pública e a escola privada. Na escola pública é muito legal a proposta de ter aula 
transmitida na televisão. Isso é muito legal! Mas vou dizer assim: que não atingiu todo 
mundo. Então muita gente ficando de fora - por vários fatores.Porque tinha que trabalhar, 
porque tinha que... era difícil de se concentrar. E.... não assistiam as aulas, não 
acompanhavam. Então, quando a gente recebeu esses alunos, parece que eles voltaram 
 7 
sem saber nada. A gente teve que começar do “zero” com eles, e ensinar todos os assuntos, 
todas as disciplinas. Então a gente percebeu que teve pouca participação dos alunos. 
Quem participou realmente é porque os pais fizeram um esforço muito grande, porque 
como eu falei: são realidades diferentes. Os pais da escola pública não tinham condição 
de pagar um professor particular para estar ali, acompanhando, o filho fazendo tarefa, 
fazendo tudo. Então é uma outra realidade. Então, é..... tiveram alunos que se esforçaram, 
que tentaram que conseguiram sim ter acesso a esse conhecimento transmitido pela 
televisão; que é conhecimento, que são aulas boas, mas é ...ficou muita gente de fora. 
Tinha gente que não tinha nem televisão, como é que ia assistir as aulas? 
Macarena – Ou internet, em casa né? 
Déborah – Mesmo sem internet. Era transmitido pela tevê, canal aberto. Mas tem gente 
que não tem tevê, essa é a realidade dos nossos alunos. 
Macarena – Claro! Ou seja, a pandemia, ela só veio para aumentar a desigualdade social? 
Déborah – Aumentou! Aumentou bastante. 
Macarena – Em várias áreas da sociedade. E Déborah, assim... você conseguiu, nesse 
período de pandemia, de home office, que você teve que dar aula em casa, da sua casa. 
Você conseguiu estabelecer um limite, uma fronteira entre o campo profissional e o 
campo pessoal, na tua casa, ou não, tudo misturou? 
Déborah – Não! Se misturou. E a gente... por exemplo, na escola particular, tinha os 
horários da aula, mas os alunos... os pais quando eles tiveram acesso aos nossos telefones, 
aos nossos números de telefone do WhatsApp.... meu deus do céu! Não tinha hora para 
eles. Então era a hora que eles queriam mandar mensagem. Eu cheguei a receber 
mensagem às 3h da manhã. Eu percebi que a mensagem era às 3h da manhã, porque 
quando eu acordei para trabalhar, que olhei tinha uma mensagem. Que aparece o horário, 
né? Então, para isso daí não existiu barreiras, eles invadiram nossa casa mesmo! E a gente 
deixa muito claro: não é ... mandar mensagem somente no horário do trabalho. Era falado 
isso na escola particular, era falado isso na escola pública, mas mesmo assim não era 
ouvido. Sábado e domingo então... eu estava em algum lugar, era aluna me mandando 
mensagem – ligação. Tinha aluno que me ligava de madrugada. A gente só rejeitava a 
chamada. Ligação eu nunca atendi, eu falei: se quiser, você vai escrever, mandar um áudio 
aí, porque ligação eu não vou atender. 
Macarena – Que absurdo! Três da manhã, (risos). 
Déborah – Deixa eu dormi em paz, pelo amor de deus! (risada). 
Elizabeth – Déborah, no caso, isso acontecia tanto na escola particular, quanto na pública, 
né? Então não tinha diferença? 
Déborah – Não, não tinha. 
Elizabeth – Poderia dizer se isso era a única coisa em comum entre a escola pública e a 
escola privada: essa falta de privacidade? 
Déborah – Sim! Porque não sei... e talvez eles não vissem a sala de aula, então para eles 
a professora estava disponível: eu tenho o número dela, eu posso mandar mensagem a 
 8 
hora que eu quiser, igual eu mando mensagem para os meus amigos, meus parentes. Então 
eles faziam isso, muito. 
Macarena – E Déborah, assim, e... nesse momento que a gente migrou para o home 
office. Eu digo “a gente” porque eu também me incluo, que eu também acabei começando 
a trabalhar em home office. Você consegue trabalhar bem com o computador, qual é essa 
tua relação com a tecnologia, é algo muito tranquilo, simples, ou não, você teve algum 
tipo de dificuldade, ou você ... teve algum tipo de estranheza? 
Déborah –Eu aprendi a lidar. Eu já sabia, mas eu utilizava o computador para fazer o 
básico. Para fazer aulas em PowerPoint ou para utilizar o Word. Então era só isso que eu 
utilizava. Então, ou baixar vídeo no máximo. Nas escolas particulares a gente fazia aula, 
então algumas aulas... a maioria das aulas, assim não era direto no Google Meet. Você 
tinha que deixar o vídeo gravado, pronto, de aparecer slide e aparecer tu comentando os 
slides. Então era um monte de coisa para uma aula (risos), e eram várias por semana, aí 
eu ficava doida - que eu tenho um milhão de aulas salvas aqui. Aí eu não sabia fazer isso. 
Eu: “Que programa que vai juntar tudo isso, meu deus! eu só sei mexer no PowerPoint.” 
(risos). Aí eu fiquei desesperada, aí só que eu tinha... eu tenho um professor que ele é 
amigo meu na escola particular. Ele foi ensinando os outros professores. Aí com o tempo 
eu estava ensinando outros professores que também estavam entrando nesse mundo e não 
tinham noção de nada. Porque eu ainda consigo pegar muito rápido – “oh tu fazes ali, tu 
baixas aqui”, pronto! Aí eu vou mexendo também, então eu vou descobrindo também, 
então eu não, eu não sinto tanta dificuldade, não. Se tu me mostrares: - olha o aplicativo 
é esse. Eu vou descobrir como mexer nele, uma hora eu vou descobrir. Mas saber assim 
de cara, eu não, eu não sabia, então foi tipo: “meu deus, eu preciso aprender!”. 
Macarena – Ou seja, não houve uma preparação para essa migração do presencial para 
home office, para o virtual? 
Déborah – Não! 
Macarena – Como também não houve um suporte técnico para os professores? 
Déborah – Um suporte de que forma? 
Macarena – Um suporte para ensinar. Por exemplo, como você estava relatando: “ah, eu 
tive de fazer as gravações das aulas, como é que eu vou fazer a edição das aulas...” 
Déborah – Isso na escola particular não houve. Na escola que eu trabalhei não houve esse 
suporte. Na escola pública, a gente não tinha que fazer aulas. Na pública as aulas já 
vinham prontas, aparecia a aula transmitida pela televisão. 
Macarena – Ou seja, o que eu percebo é que houve um benefício na pública. 
Déborah – É, porque a Seduc (Secretaria de Estado de Educação e Desporto) tem um 
centro de mídias que eles já utilizavam esse programa para as áreas ribeirinhas, então eles 
só aproveitaram este programa, entendeu? Então eles passaram a utilizar isso também, só 
que para o estado todo. Então eles já tinham, já tem... no concurso eles colocam 
professores no centro de mídia também. Então ele foi utilizado para isso. Ele foi criado 
com esse intuito de criar aula, então quando veio a pandemia, eles não pediram para a 
 9 
gente fazer aula, eles já transmitiam. O quê que a gente tinha que fazer? Atividades, 
avaliações, trabalhos, com base nessas aulas. 
Macarena – Então assim, a Seduc deu esse suporte por meio do centro de mídias? 
Déborah – É, isso, esse suporte. 
Macarena – E Déborah, como você avalia as aulas por meio dessas plataformas? Você 
avalia que a Educação, ela pode se utilizar das ferramentas tecnológicas? Você acha que 
isso ajuda/ajudou ou você acha que é muito melhor passar o conhecimento no modo 
presencial? 
Déborah – Ajuda. Eu acho que fica um recurso a mais, mas nada substitui o professor 
em sala de aula. Então é necessário ter o professor. Porque, por exemplo: quando eu dou... 
dava aula remota, é ... eu não consigo ter a percepção se o aluno realmente está prestando 
atenção. Tem muitos deles que desligam a câmera. Põe no silencioso, aí, eu já peguei 
menino deitado na cama, só o computador virado, assim para ele. Então, eu não consigo 
ter esse retorno. Dentro da sala eu consigo: “Ei vem cá; ei presta atenção; ei tá olhando 
pra lá por quê? volta, volta...”. Então eu consigo prender a atenção. E mesmo assim tem 
muitos alunos que não aprendem. Então no remoto eu não consigo ter essa noção, se eles 
tão realmente aprendendo ou não, porque fica todo mundo para o lado de lá. Um ou outro 
que fala, e o outro que fala, normalmente são aqueles que a gente chama de “CDF” de 
sala de aula, né? Então a gente não sabe realmente se eles estão aprendendo. 
Macarena – Ou seja, foge do controle do professor, certo? 
Déborah – Exatamente.Eu tenho mais controle presencialmente, com certeza. Mas os 
recursos digitais eles são pontos importantes e são muito bons para a diversificação das 
aulas. 
Macarena – Débora, você conhece o programa aula em casa da Seduc? 
Déborah – É o que é utilizado. 
Macarena – E você pode me falar tuas impressões positivas ou coisas que poderiam 
melhorar? Tuas impressões sobre esse programa? 
Déborah – Na verdade, deixa eu me lembrar aqui. A aula em casa... é, eu não consegui 
abrir o aplicativo, mas eles tinham uma página que a gente conseguia acessar pelo 
computador, lá ficava uns vídeos, as aulas transmitidas. São aulas boas, sim, mas nada 
como o suporte de um professor pessoalmente, né? São conteúdos bons, são aulas 
relevantes, e eu acho que foi necessário, foi bom. Mas como eu falei: não atingiu a todos. 
As aulas que eu falei que são transmitidas pela tevê são do programa aula em casa. 
Macarena – Certo. E Déborah, nesse modo remoto e presencial, você pode me dizer o 
quê que é mais latente acerca das perdas e dos ganhos? Você acha que houve evasão 
escolar nesse período...? 
Déborah – Sim! Houve muita evasão. Enquanto não voltou 100% dos alunos, que ficou 
voltando em grupos, né? Grupo A, grupo B, e... muitos alunos faltavam. Tinham dias que 
tinha três alunos, tinha dia que tinha um aluno na sala. Então os alunos sumiram nesta 
época, da pandemia. Mas a gente até entende, por causa do medo dos pais e tudo mais. E 
 10 
aí quando voltou, muitos voltaram com muitos problemas psicológicos, muitos 
deprimidos, muitos.... se cortavam (pensativa). Então a gente teve muito problema, de... 
tipo, na cabeça deles, ficaram muito tempo isolados. 
Macarena – Qual é a faixa etária dos teus alunos? 
Déborah – É de 11 a 14 anos, 15, depende. É do 6º ao 9º ano. 
Macarena – E quando eles voltaram... era notório esses transtornos? 
Déborah – Sim. Eles precisavam de muita atenção. Tinha aluno que ele só queria 
conversar. Só queria que a gente perguntasse se ele estava bem. Então ele se fechava, se 
fechava, se fechava, e quando conversava ele se abria, conseguia falar começava a 
interagir. 
Elizabeth – A escola e o professor tiveram papel superimportante? Nesse pós-pandemia 
principalmente, com esses alunos que já vieram com esse trauma. Você poderia falar um 
pouquinho sobre isso? Se tiver alguma situação que você possa estar nos relatando, claro, 
sem citar nomes. 
Déborah – Sim. É, a gente teve que acolhê-los, e... (pensativa). Por exemplo teve um 
aluno que eu dei aula - estava com a disciplina de ensino religioso. Aí foi em setembro 
do ano passado. Eu comentei um pouquinho sobre a campanha de setembro amarelo, né, 
mas esse assunto a gente tem que tomar cuidado para falar sobre ele. Mas eu falei só 
sobre, e sobre evitar estar distratando o colega; evitar coisas para ofender, porque por 
mais que o colega diga que não se sinta ofendido, ele pode sim está se sentindo e não está 
te falando. Então ter empatia pelo próximo, acolher quem está precisando. Então eu falei 
muito sobre isso, não entrei diretamente na questão ‘suicídio’, né? Até porque, quem tem 
respaldo para falar diretamente para falar sobre esse tipo de assunto são psicólogas. Aí eu 
(pausa), comentei mais sobre empatia mesmo. Aí terminou a aula, um aluno: - professora, 
posso falar com a senhora? Eu falei: pode. Aí ele falou: - professora é que, eu não vejo 
sentido mais para viver. Porque a minha mãe me deixa sozinho em casa e eu não tenho 
com quem ficar e não faz sentido a vida dessa forma. Aí eu conversei, comecei a conversar 
com ele: - mas o quê que acontece, para onde ela vai, teus tios e teu irmão – que ele parece 
que tem um irmão – e teus irmãos, mas o quê que tu gostas de fazer. Aí eu comecei a ir 
todos os dias que eu tinha aula nessa turma, a chamar ele no final da aula: - E aí, como é 
que foi o teu dia? O que é que tu fizeste ontem. E eu percebi que o que ele queria era 
conversar. Ele queria se abrir com alguém, talvez não tivessem dado a oportunidade para 
ele de conversar. Então toda vez eu falava isso. Aí teve algumas vezes, por exemplo, ele 
chegava assim: - E professora, a senhora nem sabe. Meu fim de semana fui para o cinema 
eu assisti tal filme, foi bem legal, meu tio me levou. Aí eu gostei... Então ele queria mais 
se abrir. Que eles estavam muito reclusos, muito fechados e maioria das famílias da escola 
pública, são desestruturadas, né? Então a gente convive com isso diariamente. 
Macarena – A pobreza, muitas das vezes, propicia, certo? Essa falta de estrutura 
familiar... 
Déborah – Mãe solo. 
Macarena – Mãe solo, exato! Existe uma sobrecarga muito maior quando se tem uma 
dupla função, dupla jornada, dentro de uma família? 
 11 
São interrompidas pela sobrinha de Déborah, todas riem. Macarena retoma a 
entrevista. 
Macarena – Déborah, nesse retorno, assim... (pensando) como é que tem sido esse 
retorno da pandemia, sabe, para o modo presencial? 
Déborah – Esse ano? 
Macarena – Esse ano de 2022. 
Déborah – Ano passado voltou também. 
Macarena – E aí depois, não deu certo por conta do avanço do contágio da Covid-19 
entre os alunos e voltou para o modo virtual. E agora voltou para o modo presencial, se 
eu não me engano em fevereiro. É isso? 
Déborah – Foi voltou em fevereiro. Acho que dia 14. A maioria está frequentando e 
temos poucos casos de alunos que não estão indo para a escola. Mas aquela mesma 
situação do ano passado, né, eles... a gente está tendo que ensinar passo a passo. Então 
eles vieram um pouco [crus], assim, digamos assim, não vou te falar que a gente: “ah 
estou ensinando tudo desde o começo”. Não. Alguma coisinha, ou outra ainda ficou na 
cabecinha deles, até porque ano passado ainda teve aula presencial também. 
Macarena – Sim. 
Déborah – Mas é, ensinando o passo a passo, é o mesmo trabalho que a gente já tinha: 
só que maior. 
Macarena – Ou seja, foi um trabalho... o que eu estou percebendo é isso né, que vocês 
professores tiveram uma sobrecarga muito maior nesse período da pandemia. Tanto 
quando adentrou, na pandemia, no modo virtual, como também para sair desse modo 
virtual e receber esses alunos novamente em sala de aula, certo? E com todos esses 
traumas, esses resquícios da pandemia e do isolamento social. 
Déborah – É, exatamente. Por exemplo: 6º ano, eu tenho que... eu começo história do 6º 
ano: (exemplificando) “o que é história para o historiador?”. Aí até então, tranquilo. Aí 
no 7º não, no 7º a gente já vai do feudalismo para lá, aí é como se a gente... eles não 
tivessem aquela base do 6º ano. Então eu preciso completar assuntos do 6º ano no 7º para 
poder entrar no assunto do 7º. Depois quando chega no 8º, tem que comentar assuntos do 
6º, do 7º, do 8º. 
Macarena – Nossa! Imagino. E Déborah, assim, como é que você avalia se a Seduc, se 
ela preparou as escolas para esse retorno, você sente que houve uma preparação ou não? 
Déborah – Houve, houve sim. Eu não posso te falar por todas as escolas, mas pelas que 
eu trabalho, houve uma preocupação sim. Então eles colocaram as pias na entrada das 
escolas, colocaram os panos, sabão papel toalha. Quando tinha – hoje em dia não tem 
mais o distanciamento das cadeiras, de um aluno uma cadeira vaga: mas tinha na época, 
as cadeiras que não podiam se sentar todas com adesivos. E tinha álcool em gel para os 
professores. Então, no primeiro retorno foi bem certinho mesmo, agora que já voltou 
100%, não tem como ter essa separação dentro de sala de aula, até porque no espaço não 
dá. 
 12 
Macarena – E quando começou a pandemia, que aí as escolas tiveram que... as aulas 
tiveram que passar a ser no modo virtual, houve esse apoio, essa preparação por parte da 
Seduc para com os professores, as professoras, ou não? 
Déborah – Mas qual tipo de preparação, como assim? 
Macarena – Preparação, por exemplo você receber algum tipo de equipamento? 
Déborah– Ah sim, sim. A gente recebeu. 
Macarena – Você teve alguma reunião de alinhamento? 
Déborah – Teve, teve. Teve todo o passo a passo de comoa gente deveria recebe-los as 
primeiras semanas seriam de acolhimento, porque já imaginávamos esse retorno, esse 
tempo que eles ficaram em casa, né, que poderia prejudicar – prejudica até a gente que é 
adulto, imagina crianças e adolescentes, né, de ficar isolado. Então teve sim, esse preparo. 
Macarena – Mas isso no modo virtual? 
Déborah –Hm?! 
Macarena – Isso no modo virtual, quando a pandemia começou? 
Déborah – No modo virtual e no modo presencial teve a semana de acolhimento, a 
primeira semana, tanto no virtual quanto no remoto foi de acolhimento. 
Macarena – E o que é essa semana de acolhimento? 
Déborah – É tipo fazer... (se distrai) é fazer atividades voltadas para acolher esses alunos, 
para interagir: - o quê que você gosta; o quê que você costuma fazer? É se comunicar 
com eles, fazer brincadeiras, dinâmica, esse tipo de coisa, sabe? Não entrar diretamente 
no conteúdo. 
Macarena – Para abstrair um pouco? 
Déborah – Exatamente! 
Macarena – Concordo. Aí que ótimo, então, houve essa preocupação por parte da 
secretaria. 
Déborah – Houve! 
Macarena – Assim é, você sente que ... a Seduc deu esse estímulo para que professores 
e alunos adotassem noções de higiene? Porque lavar a mão era algo que antes da pandemia 
pouco se fazia; tanto que muita gente ia para o banheiro e depois não lavava as mãos - 
que a gente sabe que tem que fazer isso - mas não era uma prática assídua que você via 
nas pessoas. Com a pandemia se pode ver que as pessoas passaram a usar álcool – que 
até agora eu uso álcool (sorri). Essa necessidade de haver higiene para evitar o contágio 
do vírus, houve esse tipo de informação para com os professores e alunos? 
Déborah – Sim, sim, houve sim. Então todas as vezes que eles os chegavam tinham que 
estar lavando as mãos. Terminou de lavar as mãos aí tinha o rapaz que fica lá na entrada 
da escola e dava álcool, aplicava álcool em gel para eles nas mãos. Sempre era reforçado 
isso: “Já passou álcool? Volta. Já lavou a mão?”. Então era sempre reforçado, para os 
 13 
professores também, apesar de que é complicado falar com professor: - Vai lavar a tua 
mão... enfim, mas era dito sim também (risos). Lembrar de manter a higiene, né? 
Macarena – E Déborah tem algo que você gostaria de falar ainda desse período 
pandêmico, tem algo que te marcou tanto com os alunos como os pais, ou como você 
como professora? 
Déborah – Não só de, por exemplo: teve trabalho que deu muito certo, teve um trabalho 
que eu passei, e não foi 100% da turma que enviou né, mas vamos dizer assim, foi 75% 
da turma enviou, que foi um trabalho que eu passei na época da... (lembrando) que era da 
consciência... da presença da população negra no Brasil. Então eles que – a cultura – eles 
tinham que mandar, representações da cultura africana por exemplo: alimentos, eles 
fazendo, eles se caracterizando, eles dançando; então foi muito legal, eu gostei muito. Até 
a coordenadora do nosso distrito postou nas redes social deles. Aí tinha menino praticando 
capoeira, tinha menina dançando dança africana; tinha gente se caracterizando, fazendo 
mingau. E foi muito legal esse trabalho. Foi todo remoto. 
Macarena – Você sentiu que as crianças sentiram falta da escola e do presencial, não é? 
Déborah – Sim, sim. Teve aluno que quando voltou falou: “- Aí professora que bom!” - 
porque queriam realmente voltar. Por que imagina ficar em casa preso o tempo todo é 
chato, né? 
Macarena – Porque é muito bom a interação social, né? A gente as vezes, por exemplo: 
eu vou compartilhar fazer uns parênteses de eu comecei a perceber o quanto é importante 
a interação social, apesar de as vezes a gente ter as nossas estranhezas com o colega no 
trabalho, com alguém da vizinhança, ou na universidade, você precisa do outro, e aí na 
pandemia se começou a perceber o quanto presença do outro é importante para nós. Você 
sentiu isso por parte dos alunos, né? 
Déborah – Sim, sim, senti sim. Até eu queria que voltasse. Quando falaram assim: “- Ah 
vai voltar...”, Ah meu deus! Será que vai ser em grupo? Será se vai ser remoto...? (longa 
pausa). 
Macarena – Déborah, agora a gente vai passar para uma última parte, que são perguntas 
mais voltadas para um campo mais... é.... (reflexiva) 
Déborah – (completando). Político! 
Macarena – Político. A gente está vivendo primeiramente um ano de eleição. E a gente 
sabe que o professor de história foi muito apedrejado nesses últimos anos, por conta do 
papel que a história ela exerce na sociedade. Então, muitas pessoas evitam olhar para o 
passado porque elas falam: “- Ah! O passado tem que ficar lá no museu, tem que ficar lá 
atrás, a gente tem que olhar para a frente, porque o mundo é para a frente etc.”. Então 
renegam a memória, renegam o passado e não dão valor ao passado que também influente 
no nosso presente, no hoje. E aí eu quero te perguntar: qual é o papel da escola em um 
ano como esse, que a Educação não é valorizada, em que a história não é valorizada, em 
que os professores não são valorizados? O quê que tu achas que é o mais importante para 
ser dito com relação ao papel dessa escola, na sociedade de hoje? 
 14 
Déborah – É, eu acho que a história contribui para formar um cidadão crítico. Então eu 
acho muito importante fazer o aluno pensar. Conhecer para pensar; conhecer para tomar 
uma decisão, é como eu falo para eles: “- Não tem problema você pensar diferente, não 
tem problema tu gostar de um candidato, ou tu não gostar de outro, mas tem que aprender 
a respeitar. E tu tem também que aprender, a, com base no quê você admira essa pessoa, 
será se não está sendo repetido o algo que já aconteceu? Será se algo que já aconteceu 
deu certo?”, então, é para isso que a história serve, é para você tomar base. Não tem como 
tu prever o futuro com a história, mas tem como tu ter uma base, tem como tu ter uma 
noção. Eu debato assuntos, mostro para eles o que aconteceu, sem maquiar a história. 
Então eu preciso que eles tenham esse conhecimento. Não tem problema que eles pensem 
diferentemente, politicamente, que a mim, mas é importante que eles saibam o que 
aconteceu. Não esconder os fatos. Então aconteceu dessa forma se você quer apoiar essa 
pessoa, ok, mas saiba que foi dessa forma. Então eu acho importante ter esse tipo de 
interação da escola, pelo menos na minha disciplina, eu tento fazer com que eles pensem. 
Elizabeth – Tu achas então, que essa questão política deveria ser abordada mais em sala 
de aula, não só em sala de aula, mas no campo da escola educacional como um todo, 
porque a gente sabe que dificilmente esse tema é abordado. Porque é de suma 
importância, até porque, não é porque é criança que não deixa de ser cidadão. Crianças e 
adolescentes são também considerados cidadãos perante a história! Então tu achas que 
isso deveria ser abordado em sala de aula? 
Déborah – Sim, eu acho que sim, deveria ser abordado. Tem muitos conteúdos que 
deveria, que dá para trabalhar, dependendo da faixa etária, né, então tem muita coisa que 
é deixada para lá. Tenho impressão de que as vezes é escondida, não sei. Mas eu tento, 
eu tento falar sobre, mas eu posso falar por min, não posso falar pelo colega que também 
é de história que prefere não comentar, então depende muito do ponto de vista de cada 
profissional, né? Então eu na minha opinião, eu acredito que é necessário sim. É 
necessário ter essa ideia de política, de saber menos o que que é política: de saber como 
é que ela surgiu; por que que é necessário; por que que tem pessoas que estão nos 
representando, então como é que foi decidido isso, por que que a gente vive numa 
democracia, ou não em um outro tipo de governo. Então tudo isso tem que ser falado, e 
tudo isso é falado em história, vem nos assuntos de história, agora se são trabalhados, aí 
eu não sei: eu trabalho. 
Macarena – Déborah, assim, você acha que como professora de história que você é, em 
contextos como esse que você vê o avanço da falta de conhecimento, o avanço de 
fakenews, de histórias mal contadas, de inverdadesditas, você vendo tudo isso, você acha 
que você consegue ser imparcial, ser alheia a tudo isso, ou não? 
Déborah – Não, não tem como. História não é imparcial, ela não trabalha com 
imparcialidade. Então, não tem como não escolher um lado. Eu costumava dizer, quando 
eu – hoje em dia eu não estou trabalhando com o 9º ano, porque tem um professor dava 
aula no lugar, mas enfim... Quando eu trabalhava, eu contava bem assim para o meu 
aluno: “- Imagine você; tem uma ladeira, tem uma bolinha e ela está rolando. Você tem 
duas opções: parar a bolinha ou deixar ela continuar rolando. Aí ele falava assim: - Ah 
professora, eu não vou interferir -. Você percebe que quando você não interfere você já 
escolheu um lado. Você escolheu um lado, de deixar a bolinha rolar”. Então com história 
 15 
eu não consigo, você não consegue ser imparcial, você acaba querendo ou não quando 
você vai trabalhar determinados assuntos se posicionando. Se posicionando, eu não estou 
dizendo assim, propriamente dizer: é... não dizer assim, claramente, é isso, essa é minha 
opinião, quero que vocês sigam, não, não é dessa forma. Quando você escolhe assuntos, 
quando você sem perceber você está se posicionando, sem perceber você está querendo 
ou não, “Ah, eu gosto mais dessa parte aqui”, por quê? Porque é o teu lado político que 
está falando por ti, porque você gosta, você se identifica com aquilo, então tu gostas de 
falar daquilo. Então é um posicionamento. Então é... Na minha opinião é impossível, em 
história você ser imparcial. 
Macarena – E Déborah, a gente viu nos últimos anos, que está muito em voga a Escola 
Sem Partido. 
Déborah – Não existe isso! 
Macarena – E aí eu queria que você me disse quais são as tuas impressões acerca desse 
projeto, Escola Sem Partido. 
Déborah – Como eu falei: não tem como. Porque o ser humano, ele, as escolhas que ele 
faz são com base nas coisas que ele acredita. Então quando eu falo sobre Escola Sem 
Partido, isso é impossível de fazer em história, não funciona, não dá. E eu não estou 
dizendo que é para o professor chegar na sala de aula e falar bem assim: “- Oh, vocês têm 
que seguir esse partido. Esse partido é melhor que o outro”. Não, não é dessa forma. É 
porque a ideia que o governo passa é que a gente vai fazer uma alienação no aluno, vai 
impor a nossa opinião, e vai fazer com que ele saia lá da sala de aula com a nossa opinião. 
Não, a gente não fala dessa forma com eles. A gente trabalha os assuntos e querendo ou 
não, a gente acaba falando mais de assunto mais do que de outro, mas não que a gente 
está falando para aquele menino se tornar aquilo, ou se... Tanto que eu já tive aluno em 
sala de aula que já falou: “– Não professora, ok, eu sei, eu entendi o que a senhora falou, 
mas eu continuo gostando dessa forma”; E tudo bem, é isso o que eu quero. Eu quero uma 
sala de aula democrática. Eu quero que exista, não é para ter todo mundo a mesma opinião 
que eu não. Eu falei: “- não quero que vocês pensem como eu. Vocês têm que debater, 
vocês têm que falar. Mas vocês têm que colocar o ponto de vista de vocês com 
conhecimento, porque sem conhecimento vocês vão falar e entrar no senso comum. Vocês 
vão falar um discurso que vocês viram no WhatsApp, você vai falar um discurso que você 
viu no Facebook, no Instagram, com base em quê? Em quê que você está falando?”. Então 
é necessário sim, existir dentro de sala de aula um pensamento democrático, onde existe 
uma liberdade democrática. A Escola Sem Partido, para mim não beneficia isso. 
Macarena – E Déborah, para encerrar essa entrevista que a gente está fazendo você 
gostaria de falar algo mais que a Elizabete não te perguntou, ou que eu não tenha te 
perguntado, tem algo que você queira falar, algo que você ache fundamental estar 
registrado nessa entrevista? 
Elizabeth –Seja no âmbito pandêmico, seja no âmbito de sala de aula, na tua vida mesma 
pessoal como professora se tem alguma experiência que te marcou que você não relatou 
para a gente. Ou seja, algum comentário positivo, ou negativo sobre o curso de história, 
está, é a gente gostaria que você estivesse comentando algo que você que você queria 
falar mesmo, se não a gente pode estar encerrando por aqui, está bom. 
 16 
Déborah – Quando a gente escolhe história. Na verdade, eu não escolhi história, eu 
escolhi matemática. A história foi quem me escolheu. Então é... saiba que você contribui 
para a formação de um pensamento crítico. Isso é bom, isso não é ruim. Então para fazer 
história, você tem que realmente amar história, você tem que se apaixonar por história. 
Então enquanto você faz um curso, isso não é só para a história, mas para qualquer área. 
Quando você faz um curso que você não é apaixonado por ele, você não é um, bom 
profissional. Então tu perguntaste: “- Ah você não tem vontade de mudar de profissão?”, 
talvez, sim, pelo salário, mas eu diria não, porque eu gosto do que eu faço, eu gosto de 
falar de algo que eu sou apaixonada. Acho que tem até uma frase do eu acho que é 
(tentando lembrar) eu esqueci o nome dele agora, que ele fala assim é: “amo a história, 
que se não amasse não seria historiador”, é porque é isso mesmo. Para você fazer esse 
curso você tem que amar. Então se você não amar, não tem como tu fazer com que alguém 
goste, então como é que tu vais falar de algo que tu não gostas para os teus alunos, eles 
não vão gostar também. Então eles só podem gostar se tu gostar primeiro. Então tem que 
fazer realmente porque você é apaixonado pelo curso, pela disciplina, aí é isso. 
Elizabeth – Déborah, muito obrigada pela tua participação. Você somou muito para a 
gente como profissional.

Continue navegando