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FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA LIDAR COM ALUNOS AUTISTAS NO ENSINO FUNDAMENTAL

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57
UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP
@santos_minondas
@santos_nutri_minondas
@heleno_consultorimobiliario
FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA LIDAR COM ALUNOS AUTISTAS NO ENSINO FUNDAMENTAL
Atividade Prática Supervisionada
SÃO PAULO
2022
@santos_minondas
@santos_nutri_minondas
@heleno_consultorimobiliario
FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA LIDAR COM ALUNOS AUTISTAS NO ENSINO FUNDAMENTAL
Atividade Prática Supervisionada
Trabalho acadêmico do curso de Psicologia, Universidade Paulista – Cidade Universitária, que tem o intuito da prática da atuação do psicólogo na interface com a educação em uma perspectiva crítica em Psicologia
SÃO PAULO
2
2022
RESUMO
O presente trabalho visa compreender como a formação dos profissionais da educação de ensino fundamental abrange e inclui alunos com T.E.A. A pesquisa conta com fundamentação teórica de artigos diversos sobre o tema, além de entrevistas com professores da área que permitirão a coleta de dados sobre a Educação Inclusiva em suas graduações e prática. Parte-se da problemática que as instituições de ensino não priorizam essa vertente na educação e a análise dos dados obtidos demonstram esse fato.
Palavras-chave: Formação de professores. Educação inclusiva. Autismo. T.E.A.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO	5
2. MÉTODOS	7
2.1 Sujeito da Pesquisa	7
2.2 Instrumentos de pesquisa	7
2.3 Aparatos de Pesquisa	7
2.4 Procedimento para coleta de dados	7
2.5 Procedimento para análise dos dados	8
2.6 Ressalvas éticas	8
3. ANÁLISE DE DADOS/RESULTADOS	10
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS	13
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	16
6. ANEXOS	17
9
4
LISTA DE ANEXOS
Entrevistas	17
Anexo A – Carta de Apresentação	52
Anexo B – Termo de Consentimento	54
1. INTRODUÇÃO
A educação de pessoas neurodivergentes é um tema emergente e que ainda enfrenta diversos desafios, e as discussões sobre incluem questões pedagógicas, psicológicas, sociais e de inclusão. Dessa maneira, um dos maiores obstáculos para concretização da integração destas pessoas na educação, tanto básica quanto superior, se dá na formação dos professores, visto que muitos não são preparados para acolher e entender as necessidades de um aluno neurodivergente. Esse despreparo é uma das principais barreiras para a efetividade da inclusão, é preciso uma formação pedagógica, e não apenas funcional/instrumental (GARCIA, 2013).
No Brasil, a educação inclusiva é algo amplamente discutido e sua implantação é um dos objetivos presente em nosso Plano Nacional de Educação (PNE). Segundo GARCIA (2013, p. 102), no âmbito do PNE (BRASIL, 2000, p. 86), foi considerada como um grande avanço a ser desenvolvido na década a “criação de uma escola inclusiva” baseada na formação de recursos humanos. 
A formação de recursos humanos com capacidade de oferecer o atendimento aos educandos especiais nas creches, pré-escolas, centros de educação infantil, escolas regulares de ensino fundamental, médio e superior, bem como em instituições especializadas e outras instituições é uma prioridade para o Plano Nacional de Educação. Não há como ter uma escola regular eficaz quanto ao desenvolvimento e aprendizagem dos educandos especiais sem que seus professores, demais técnicos, pessoal administrativo e auxiliar sejam preparados para atendê-los adequadamente. (BRASIL, 2000, p. 87)
O objetivo deste trabalho é compreender quão aprofundado o estudo de professores, na graduação, é em relação a educação inclusiva, visando que esse primeiro contato durante a graduação traz uma base para a atuação desses profissionais. 
Compreende-se que, ainda nos dias atuais, a maioria das instituições escolares, públicas e privadas, não atendem as dificuldades desses alunos de forma abrangente, isso pode ser percebido tanto em noticiários como em histórias particulares de indivíduos em diversas regiões, é um problema em grande escala, 
já que se entende que a forma de tratar esses alunos em sala é reflexo do tratamento da sociedade num todo para com eles.
Através dessa pesquisa então, há o objetivo de entender o que poderia ser feito para que os professores fossem mais bem preparados e os alunos atendidos de maneira adequada
A educação é um direito de todos e tem uma responsabilidade enorme na sociedade, visto que é uma forma de mudar o mundo e nos tornar um ser mais crítico, porém nem sempre se torna eficaz para alunos que necessitam de uma educação Inclusiva. Esse tema foi escolhido pois ainda hoje há muitos educadores que por mais que tivessem tido uma instrução para isso em sua vida acadêmica, ainda há muita dificuldade de fornecer aprendizado de qualidade para esse grupo.
Acreditamos que todos devem ter uma educação de qualidade, visando aumentar a aceitação de diferenças no ambiente escolar e fora dele, e promover mais igualdade nas escolas, sendo assim, a educação inclusiva garante que alunos neurodivergentes tenham o acesso a um bom desenvolvimento.
2. 
3. MÉTODOS
2.1 SUJEITO DA PESQUISA
No presente estudo participaram 4 professores do ensino fundamental, docentes em diferentes escolas e regiões da região da Grande São Paulo. O método da seleção da amostra foi por disponibilidade. O tipo de amostra é não probabilístico, porque nem todos têm a mesma probabilidade de serem escolhidos. Essas pessoas foram escolhidas pelas características que as descrevem: professoras, do ensino fundamental de escolas regulares.
2.2 INSTRUMENTOS DE PESQUISA
Será utilizado um questionário de cunho qualitativo, composto por questões objetivas e semiestruturadas, tais como:
· Tempo de atuação;
· Formação acadêmica;
· Conhecimento sobre o tema abordado;
· Perfil dos alunos de sala de aula.
A entrevista será feita através da plataforma TEAMS, da Microsoft, por meio de vídeo conferência entre os entrevistados e os entrevistadores.
2.3 APARATOS DE PESQUISA
As entrevistas serão gravadas dentro da plataforma e depois transcritas. Para que os integrantes do grupo utilizam seus computadores para acompanhar a entrevista e realizar anotações que achem pertinentes.
2.4 PROCEDIMENTO PARA COLETA DE DADOS
Serão utilizados para a análise dos dados bibliografias pertinentes ao tema, tais como livros, artigos científicos, matérias de websites relacionados à educação, educação inclusiva, transtorno do espectro autista.
2.5 PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DOS DADOS
A análise das respostas coletadas nos possibilitará investigar a preparação dos profissionais da educação docentes de escolas regulares para receberem em suas instituições alunos dentro do espectro autista e o impacto na vivência escolar do aluno dentro desta condição.
2.6 RESSALVAS ÉTICAS
Todos os participantes envolvidos serão orientados a respeito da finalidade da pesquisa, bem como sobre sua execução. Também será solicitado que assinem o Termo de Consentimento livre e esclarecido pontuando também o anonimato das respostas e da inserção de suas vivências no trabalho. Essa pesquisa não tem objetivo de causar nenhum dano, de qualquer espécie aos participantes, de modo que poderão se recusar a prosseguir com a entrevista a qualquer momento.
4. ANÁLISE DOS DADOS/ RESULTADOS
O TEA (Transtorno do Espectro Autista) é um transtorno do neurodesenvolvimento e caracteriza-se pelo déficit na comunicação social e interação social, além de padrões restritos e repetitivos de comportamento, atividades e interesses. A presente pesquisa trata de compreender a eficácia da formação superior de professores no sentido de abranger os alunos com o Transtorno do Espectro Autista.
Parte das questões feitas aos professores apresentam respostas objetivas e de fácil tabulação (mesmo com justificativas qualitativas), o que chamamos de questões fechadas. Já as questões que têm como objetivo trazer maiores informações para complementar a pesquisa, iremos chamar de questões abertas. 
	 
	Questão
	Professor 1
	Professor 2
	Professor 3
	Professor 4
	1
	A quanto tempo atua como o professor?
	30 anos
	 5 anos
	16 anos
	5 anos
	2
	Com que frequência realiza cursos de atualização?
	Sempre
	Sempre
	SempreSempre
	3
	Quantos alunos tem em sua sala de aula?
	Aproximadamente 20 alunos
	23 alunos
	Aproximadamente
40 alunos
	19 alunos
	4
	O que você entende por TEA?
	*
	*
	*
	*
	5
	Qual foi o seu contato com o tema na sua graduação em pedagogia?
	Introdutório
	Introdutório
	Introdutório
	Introdutório
	6
	Quanto a questão anterior, você achou esse contato suficiente?
	Insuficiente
	Insuficiente
	Insuficiente
	Insuficiente
	7
	Quais cursos extracurriculares / livres você fez para se aprofundar no assunto?
	*
	*
	*
	*
	8
	Você acha que esse modelo acadêmico realmente favorece a inclusão de alunos com TEA em escolas neurotípicas?
	Não favorece
	Não favorece
	Não favorece
	Não favorece
	9
	Como essas formações preparam os professores para lidar com as questões práticas desses alunos?
	*
	*
	*
	*
	10
	Quais resultados esses alunos apresentaram após o uso das ferramentas adquiridas dessas formações?
	*
	*
	*
	*
* Respostas analisadas de maneira qualitativas.
** Neuropsicologia foi a formação em comum entre todos eles, porém eles apresentam outras formações complementares diferentes.
Da amostragem entrevistada, um entrevistado tem 30 anos de profissão, onde aponta que as grades curriculares de suas formações não eram convergentes com o cenário atual de inclusão no Brasil. Outro entrevistado, com 16 anos como professor diz que sua formação precisaria ter mais enfoque na aprendizagem para esse perfil de aluno. Já a outra metade, mesmo tendo 5 anos de atuação e com a formação mais atual, colocaram que o tema autismo só consegue ser aprofundado com outros cursos de formação.
Com base nos dados coletados nas entrevistas, pudemos notar 100% dos professores se atualizam constantemente. Os quatro professores também entendem que os contatos com os temas relacionados ao Autismo na graduação em pedagogia são superficiais e insuficientes para atuar com esse perfil de alunos, sendo necessário para todos formações específicas, incluindo a neuro pedagogia.
Notamos que 75% dos professores têm salas com número inferior a 23 alunos e colocam que conseguem adaptar as atividades para os alunos autistas por esse número restrito de estudantes.
Todos os profissionais da educação têm conhecimento sobre TEA (Transtorno do Espectro Autista), sobre o processo de inclusão destes alunos dentro do sistema de ensino e falam com propriedade sobre as conquistas que estes alunos apresentam após a utilização das ferramentas adquiridas nos cursos além da graduação em pedagogia. Aliás, ficou claro os entrevistados concordam que o curso superior em pedagogia não dá base suficiente para trabalhar com os estudantes autistas.
Sem exceções, os professores acham que o modelo acadêmico atual não favorece a aprendizagem dos alunos com autismo, tendo cada uma particularidade de como devem ocorrer as mudanças no ambiente da escola tradicional para favorecer os alunos autistas.
As formações extracurriculares são diversas, onde na amostra entrevistada todos os professores fizeram psicopedagoga, temos um professor mestrando, um professor com neuropedagogia, dois professores cursando o método ABA (Applied Behavior Analysis que traduzindo do inglês significa Análise do Comportamento Aplicada), dizendo que os cursos oferecem bastante opções de práticas para usarem em sala de aula para esses alunos.
Quanto aos resultados em sala de aula, todos apontam com satisfação seus resultados obtidos com as formações extracurriculares. Dentre os resultados, temos alunos com alto grau de autismo mantendo relações de contato visual e recebendo cuidados envolvendo toque, até alunos apresentando notas superiores aos alunos tidos como neurotípicos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB 9394/96), é obrigatório que todos os professores de educação básica (infantil, fundamental e ensino médio), sejam habilitados em nível superior, salvo educação infantil e as quatro primeiras séries do ensino fundamental que são admitidos professores formados em cursos de nível médio, fator que impacta a educação como um todo. Porém, para que exista a possibilidade de resolução da complexidade dos problemas na educação do país foi criada a Proposta de Diretrizes para a Formação de Professores da Educação Básica em Cursos de Nível Superior (MEC, 2000), que delineia as exigências ao professor dentro das novas concepções de educação contemporânea, incluindo a habilidade em “saber lidar” com a diversidade entre alunos. Assim como, o Council for Exceptional Children (CEC), que estabelece, em nível internacional, a forma de preparação, certificação e a prática na educação, compreendendo então o conjunto de habilidades e competências necessárias para os professores lidarem com alunos de inclusão. (Pletsch, 2009).
Diante disso, Márcia Denise Pletsch em “A formação de professores para a educação inclusiva: legislação, diretrizes políticas e resultados de pesquisas” (2009), explicita que muitos estudiosos e pesquisadores traçam o perfil da educação brasileira como ineficaz no âmbito da inclusão. Ela analisa estudos desenvolvidos com professores a partir dessa ótica e conclui:
Os resultados evidenciaram a necessidade de uma formação continuada em serviço desses professores para a efetivação com qualidade da educação inclusiva. (...) Diante do exposto, avaliamos que o despreparo e a falta de conhecimentos estão diretamente relacionados com a formação ou capacitação recebida (...) neste sentido, advertimos que, num primeiro momento, são comuns sentimentos de incapacidade e até mesmo de medo frente ao ingresso de um aluno com algum tipo de deficiência ou distúrbio de comportamento em sala de aula regular (...) (PLETSCH, 2009, p. 148)
Entende-se que, tanto os alunos quanto os professores, vivem uma situação de sofrimento frente ao despreparo do sistema educacional em relação a educação inclusiva e isso se fez notável em nossa atual pesquisa direcionada a disciplina de Psicologia Escolar.
É necessário então compreender que se há problemas na formação destes alunos, consequentemente há problemas na formação destes professores. Dessa forma, quando partimos para entrevistas com profissionais da área, enfatizando o ensino fundamental, os próprios professores admitem que a formação superior em pedagogia não abrange de maneira aprofundada os alunos com autismo e demais transtornos ou síndromes. 
Com isso, pudemos perceber que em todas as entrevistas, havia frases que indicavam que a maioria dos profissionais de educação ainda não estão preparados e/ou dispostos a trabalhar com essas crianças, como por exemplo: “Eu estou na escola desde mil novecentos e noventa e nove nessa escola, então os professores que vão chegando se assustam um pouquinho, os professores mais novos porque é a mesma coisa que eu, na faculdade eles não tiveram orientação suficiente para lidar.” – (Professora Kátia); “Assim, que que eu vejo, né? Eu posso falar para vocês o que eu vivencio, tá? Então assim, eu conheço muitos professores que não buscam essas formações e isso é uma situação de alguns professores que realmente não querem entender, né?” – (Professora Patrícia). 
Do conteúdo das entrevistas, o que permaneceu enfático foi a forma como alguns professores enxergam os alunos que possuem dificuldades em sala de aula como empecilho para dinâmica escolar, já que estes profissionais normalmente estão sob pressões para entregar resultados e “dar toda a matéria” como a entrevistada Katia informou. Percebe-se no relato dos entrevistados que são exceções os professores que buscam se aprofundar no ensino inclusivo, na verdade em sua grande maioria eles apenas se preocupam em lidar com a criança para que ela não atrapalhe a aula e os demais alunos. Isso, em uma sala onde o aluno ainda é integrado, porque tivemos relato de situações em que as crianças eram nitidamente separadas em classes de acordo com sua capacidade intelectual, capacidade essa que era julgada a partir de notas em atividades que não visam atingir todas as inteligências de um indivíduo.
Portanto, para que tais alunos estejamde fato integrados e pertencentes a sala de aula, se faz necessário um tempo e dedicação muito maior para com eles, além de acrescentar matérias na grade curricular de cursos de graduação, visto que, muitos professores se especializam nesse tipo de assunto com cursos que fazem por fora, citados nas entrevistas, e que aprendem a lidar com esses alunos na prática e por contato com outros profissionais da educação. Como uma das entrevistadas, Patrícia, explicou que com alunos autistas e aqueles com demais dificuldades, existirão situações imprevistas que irão demandar maior atenção, cuidado e ferramentas especificas para satisfação das necessidades desses alunos.
Conclui-se que, então, o professor é de fato um mediador em sala de aula e a falta de preparo para atender crianças neuroatípicas prejudica o pleno desenvolvimento cognitivo e o aprendizado destes alunos, além de reforçar comportamentos hostis, visto que não entendem como lidar com as necessidades de uma pessoa autista ou com outros transtornos. Ao se atualizarem e procurarem aprender sobre a melhor maneira de atendê-los, os professores promovem também a inclusão no ambiente escolar, garantindo uma educação de qualidade a todos os alunos, neuroatípicos ou não.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Simone Saraiva de Abreu; MAZETE, Bianca Pollyanna Gobira Souza; BRITO, Adriana Rocha; VASCONCELOS, Marcio Moacyr. Transtorno do espectro autista. Residência Pediátrica 2018; 8(supl 1):72-78.
GARCIA; Rosalba Maria Cardoso. Política de educação especial na perspectiva inclusiva e a formação docente no Brasil. Universidade Federal de Santa Catarina, Revista Brasileira de Educação, v. 18, n. 52, 2013. 
PLETSCH, Márcia Denise. A formação de professores para a educação inclusiva: legislação, diretrizes políticas e resultados de pesquisas. Educar, Curitiba, n. 33, p. 143-156, 2009. Editora UFPR. Disponível em: https://www.scielo.br/j/er/a/VNnyNh5dLGQBRR76Hc9dHqQ/?format=pdf&lang=pt Acesso em 6 nov. 2022
10
ANEXOS
ENTREVISTA 1
Kátia: Boa noite pessoal, meu nome é Kátia. A Ju me conhece, mas vocês não. Eu sou professora há uns 30 anos, já passei por todas as faixas etárias, todos os tipos de escola: pública, privada, para jovem adulto. E é isso, estou disponível para vocês perguntarem o que precisam. 
Mayara: Você deve ter bastante bagagem. 
Juliana: É, trinta anos é bastante coisa. 
Kátia: Pode falar. 
Juliana: Então a primeira pergunta seria: “há quanto tempo você atua como professor, há trinta anos mesmo, certinho?”. 
Kátia: Não sei, sabia, Ju? Eu estou para fazer isso na minha carteira porque tem problemas de registro, deixar em aberto, problemas que sempre a gente encontra. Mas assim, teoricamente são 30 anos. 
Juliana: Ah sim, não, tudo bem, aproximadamente trinta anos. A segunda pergunta que a gente quer te fazer é: com que frequência você realiza curso de atualização, você faz algum cursinho assim para se atualizar no assunto?
Kátia: Então, mais por minha conta do que por cobrança de escola, tá? Sou eu que gosto muito da área, né? E aí eu procuro fazer cursos online, ou então cursos dentro de faculdade, às vezes eles abrem palestras, pequenos cursos. Eu moro numa cidade que é muita acessível, tem várias universidades, acontecem momentos dessa forma, aí eu vou, mas é por minha conta.
Juliana: Ah sim, beleza. E quantos alunos têm na sua sala de aula? 
Kátia: Então, é... As duas escolas são particulares, então as salas são em média vinte... dezessete a vinte, não passa disso. 
Mayara: Você trabalha em duas escolas então?
Kátia: Duas escolas, é. Uma escola eu trabalho do sexto ao nono, e na outra do nono ao terceiro do ensino médio. 
Juliana: Ah, sim. É que nosso trabalho é mais focado para o sexto ao nono, então quando a gente for perguntar, toma mais de referência essa primeira escola. Ela é pequena também, né?
Kátia: É dezessete a vinte alunos. 
Juliana: Ah, sim, certo. E o que você entende por TEA. 
Kátia: Então, não entendo, se você falar para mim aí eu vou saber do assunto. Assim, a sigla mesmo, não. 
Mayara: É o Transtorno do Espectro Autista. 
Kátia: Ah, nós temos vários alunos, principalmente nessa escola que eu trabalho do sexto ao nono, ela é uma escola Waldorf, então ela tem um respeito ao tempo de aluno muito grande, né? Os professores de pré a quinto ano são obrigados a fazer cursos Waldorf, eles sim não são nem convidados, são obrigados. É uma filosofia que respeita os setênios dos alunos, então os pais se sentem muito bem em colocar os alunos lá porque a escola é acolhedora, a escola tem um olhar diferente, direção e coordenação presente, então é realmente uma escola diferenciada. Nós do sexto ao nono não somos obrigados a fazer, até porque os professores que estão lá até o quinto ano é só lá, não tem outro trabalho. Como nós podemos, por conta de carga horária, nós podemos atuar em outras escolas, então a gente não é obrigado a ser um professor Waldorf, então a gente é diferenciado. Mas por conta disso, é o que eu falei, a gente acaba buscando, a gente quer entender o que é isso, como é esse olhar, o que a gente tem que fazer, o que a gente tem que observar, que tempo é esse de setênios que eles falam pra gente poder olhar esses alunos. Em especial, os da Síndrome de Down, eles têm graus muito diferentes, né? Então a gente já teve aluno que acompanha a parte cognitiva, mesmo, até o sétimo ano maravilhosamente bem. Em geral, no sétimo ano, eles entendem que eles não são normais, eles enxergam: “ué, eu não faço isso? Eu não posso fazer aquilo? Por que aquela menina não gosta de mim? Por que aquele menino não faz isso?”. Eles entendem, é muito estranho isso, é sempre no sétimo ano, então tem a ver com a faixa etária mesmo, eles percebem e aí que a gente vê as características mais sérias do autismo no sétimo ano, em geral é assim. E Down também, os dois, eles percebem nessa idade.
Mayara: Eu tenho só uma dúvida, fiquei um pouco perdida aqui; essa primeira classe, essa primeira escola que você está falando, ela é particular? 
Kátia: As duas são particulares. 
Mayara: As duas são? Tá bom. E aí ela tem uma carga horária menor. 
Kátia: Não tem uma carga horária menor. 
Mayara: Você falou assim: “nós que temos uma carga horária menor podemos atuar em outras- “.
Kátia: É porque o professor até o quinto ano, ele é professor de sala, nós não. Nós somos professores que entramos duas vezes por semana, três vezes por semana, depende, professor de matemática e português ele entra muita em sala. É isso. 
Juliana: Entendi, você é de biologia, né, Kátia?
Kátia: É, de sexto ao nono é ciências: química, física e biologia. Eles chamam assim. 
Juliana: Depois altera, né, o nome?
Kátia: Isso, aham. 
Juliana: Beleza. E qual foi o seu contato com o tema na sua graduação em pedagogia?
Kátia: Então, em pedagogia, bastante, né? A gente tinha tanto ela abordada em didática; na própria ciência, na disciplina ciências, não sei por que, mas tinha; tinha orientação. É, nessas três, mas não era especificamente a característica de cada uma das síndromes, ou de cada um dos problemas, não era a característica mas era essa sensibilização de mobilizar o coordenador, ficar atento as diferenças que aparecem para mobilizar o coordenador para o coordenador falar com os pais, e esses pais então buscarem um diagnóstico e que, a gente sabe, agora eu sei que esse diagnóstico não vem tão rápido, ele demora muito ás vezes porque em geral o aluno não tem uma coisa só, ele tem várias, e elas se confundem quando ele é criança. Então realmente é na puberdade para a adolescência que as características vão se tornando mais “sólidas”, e aí o diagnóstico realmente é efetuado, e aí a gente pode até fazer relatórios. Até então são relatórios muito simples enquanto a gente não tem um diagnóstico, um laudo que a gente fala, né? Criança laudada é um termo que a gente usa, não sei se é correto, mas se ela não é laudada a gente tem comentários, conversas e ajuda, a gente ajuda porque a gente conhece e está cansado de trabalhar com semelhanças, né? Mas na hora que vem o diagnóstico há algumastarefas que nós temos que cumprir porque precisamos entregar material para o psicólogo, para o fono, e outros. Às vezes tem fisioterapeuta envolvido também, né? Aí a gente tem material para a entrega mesmo. 
Juliana: Certo, e alguém tem mais alguma pergunta? E quanto a questão anterior -, pode falar, foi a Mayara? 
Mayara: É, eu só ia te falar que faltava essa. 
Juliana: Não, sim, eu ia falar ainda, é porque... Quanto a questão anterior, você achou esse contato suficiente, que você teve na sua graduação?
Kátia: Jamais. Jamais. Muito superficial. Eu falei né? A gente não sabia, eu não sabia nem as características direito, né? Eu fui procurar as características, até hoje, inclusive tem pais que levam para a gente material: “olha, o tipo que meu filho tem é esse”. Então a gente lê entre os professores e coordenação a gente conversa como é que em cada disciplina a gente vai trabalhar porque é completamente diferente. O aluno em si, ele é tratado igual, uma coisa que essa escola pede para a gente fazer isso, ele se senta com os alunos, junto com os alunos, intervalo é o mesmo, só que existe um contato a mais com a família, trabalho não é o mesmo, a prova não é a mesma, a forma de corrigir não é a mesma. Como eles são pequenos, não é que eles são enganados, mas eles não percebem muito bem que a gente tá fazendo tudo isso. É que a gente não está conversando sobre o ensino médio, o ensino médio é um “problemaço” gigante porque eles não querem ser tratados diferente, nem aceitam ser diferentes. Agora, até o nono ano, eles se revoltam um pouco no sétimo ano, mas a gente trabalha por fora esse contato com a família, todos aqueles que dão acesso a ele que é o psicólogo, terapeuta, o fono que está sempre muito presente. A gente não fica falando então eles não sabem tudo o que está por trás, né? E a gente evita deixar de recuperação porque é uma coisa para eles que eles não entendem que é uma recuperação, então algumas vezes a gente deixava e virava castigo, né? Então não é para deixar de recuperação, a gente dá tarefas, a gente faz trabalhos, fica depois do horário para que esse momento de escola seja mais um momento para compartilhar experiências do que realmente cognitivo, porque o cognitivo para, para lá no quinto ou no sexto, ou no sétimo, nunca vai oitavo ou nono, muito difícil. Um autista, como tem muitos tipos de autista, tem autista que vai até a faculdade, entre aspas, né? A gente tem faculdades aqui que pegam o autista, mas assim, é outra coisa. Agora o Down é bem difícil porque ele vai ficando agressivo, poucos casos que não fica agressivo, que são realmente aquela coisa fofinha, acolhedora, eles são assim quando pequenos, quando eles vão crescendo eles se incomodam demais. Pelo menos é essa experiência que eu tive até agora. No momento lá na escola nós temos sete alunos de sexto ao nono autistas, Down e tem também um caso que eu não sei o nome, mas eles só tudo que eles precisam ler tem que ser em folha azul. Procurem, tem um nome. Tudo tem que ser em folha azul porque as letras boiam, elas soltam do papel. Em um papel branco as letras soltam do papel e eles não conseguem, essa é a visão que eles têm, elas sobem e ficam dançando. 
Mayara: Isso para todos?
Kátia: Não, só essa criança recebe a folha azul.
Mayara: Sim, mas todos os transtornos; o autista, o Down...
Kátia: Não, só essa que eu estou falando e não sei o nome. 
Mayara: Ah, tá. Desculpa.
Kátia: O Down e o autista recebem tudo igual sem perceberem, tudo igual. Às vezes a gente fala com os pais, pede para os pais orientarem um trabalho que é em casa. É isso. A gente que é mais velhinho, né? Eu estou na escola desde mil novecentos e noventa e nove, nessa escola, então os professores que vão chegando se assustam um pouquinho, os professores mais novos porque é a mesma coisa que eu, na faculdade eles não tiveram orientação suficiente para lidar. Até a teoria, ok, eles têm melhor do que eu tive, isso a gente já percebe, já está melhor, só que o lidar é muito diferente que a teoria. Então aí, como tem essas reuniões, né? Esses momentos, a gente vai falando: “olha, o tal aluno faz assim, com esse faz assim”. A gente já põe ali um caminho porque não é fácil. Não é fácil não. 
Juliana: É difícil porque eu acredito que nesses casos assim de autismo, Down e tal, cada um tem uma característica diferente, né? Nem todos são iguais, então você tem que lidar com cada um de uma forma diferente e se adequar da forma que ele aprende, né?
Kátia: Então, o problema é assim, cada aluno também é diferente, só que você pode dar bronca igual em todos. Nos alunos você dá bronca igual, chama atenção igual, coloca ali uma média que você quer atingir. Agora, os alunos especiais a gente não pode falar igual, não pode dar bronca igual, nada é igual. Não pode porque eles são, além de ter seus limites e ter suas diferenças, ainda são casos diferentes, não são os mesmos casos. A escola não fala: “olha, só entra Down aqui” ou “só entra autista”, não faz isso. Tivemos um Tourett uma época, meu Deus do céu, esse até saiu porque é muito briguento, né? Atrapalha muito, muito agressivo. Atrapalha a questão social. Teve um autista com esquizofrenia, que inclusive estudou com meu filho por dez anos, ele tinha também episódios por causa da esquizofrenia, mas até descobrirem achavam que ele era só um autista muito violento, e não era. Ele arrasava a sala, ele levantava e saía derrubando tudo, revirando as carteiras, a gente tinha que retirar todos os alunos. Foi dureza. Foram dez anos difíceis na escola. Mas assim, se um dia vocês forem trabalhar com alunos assim o melhor é nunca bater de frente. É você parar, é você se sentar com o aluno, falar baixo, não olhar no olho. O contato físico, quando deixa, né? Alguns não deixam nem contato físico, mas quando deixa abraçar, quando não deixa nem olhar no olho, só sentar perto e falar bem baixinho. Nunca dar bronca, nunca advertir, não expor. 
Juliana: Teve um caso assim, não foi, Agatha? Que o aluno olhou para você, primeira vez.
Agatha: Oi?
Juliana: Você não teve um caso assim que o aluno estava evitando contato visual com você, uma vez ele olhou para você.
Agatha: Ah, não. Isso do contato visual agora trabalhando com bebês a gente percebeu em um aluninho, né? Que a mãe está investigando, ele não olha muito, ele é bem agressivo também, e ele tem só dois anos então é complicado. É difícil mesmo ter essa sensibilidade na prática, né? Do que fazer. Eu falei isso que uma vez ele olhou para mim e ele não tem muito de olhar, e ele olhou, e parou e ficou por um tempo olhando, então é difícil mesmo. 
Kátia: Então, isso que você acabou de falar você vai colecionar esses momentos que me emocionam porque esses momentos que fazem a gente ficar. 
Agatha: Que fazem tudo valer a pena, com certeza. 
Kátia: Porque a gente aprende, né? Ninguém ensina isso pra gente, né? É a teoria mesmo. Então a gente está aprendendo, por exemplo, quando inicia um ano eles avisam a gente: “olha, tantos alunos, tal aluno é assim e assim”, e às vezes os professores do ensino fundamental tiveram problemas muito sérios de apanhar, muitas coisas, e a melhor coisa que a gente faz é deletar. O histórico que o aluno traz do ensino fundamental não vai ser o mesmo no fundamental dois, no da pré-escola e do fundamental um, e cabe a cada professor colocar o seu jeito porque o aluno não é igual também, mesmos especiais ele não é igual com todos os professores, ele é completamente diferente justamente por essa postura, né? Quando a gente está aberto a realmente a lidar com aquela pessoa ela se abre pode demorar, pode dar trabalho, mas ela se abre, ela permite que a gente chegue, mas se a gente for duro: “sou professor e acabou, vou ter que dar minha aula”, ele não vai deixar você dar aula, isso sim, né? Então realmente é colecionar esses momentos, essas coisas que a gente vê: “nossa eu consegui, eu fiz a diferença”, “não aconteceu nada comigo, eu fiquei cinco anos com ele aluno, ele não fez nada nunca”. Então é sinal de que você conseguiu de alguma forma aquela pessoa, isso é muito bom.Vocês verão, vocês vão trabalhar mais de perto do que a gente, a gente está na escola com um monte, vocês vão trabalhar com um cliente, é mais legal eu acho. 
Juliana: Certo. A próxima pergunta era... Nossa, estou confusa. Era “quais cursos extracurriculares ou livros você fez para se aprofundar no assunto”. 
Kátia: Olha, eu fiz...Como que chama? Extensão. Não, especialização em neuropsicologia e fiz mestrado psicopedagogia. Na verdade, a minha origem, eu sou bióloga. De biologia eu fui para a pedagogia. De pedagogia para neuropsicologia. E Neuropsicologia para mestrado em psicopedagogia. Percebe que eu gosto dessa área assim “pessoa”. Gente, meu negócio é gente. 
Juliana: Legal. E você acha que esse modelo acadêmico realmente favorece a inclusão de alunos com espectro autista em escolas neuro atípicas?
Kátia: Então, eu sou de um tempo que inclusão não existia. Quando eu fiz magistério, nem existe mais, fiz magistério e depois fiz biologia, não existia inclusão. Não existiam crianças que a gente chamava, que não era normal dentro de uma escola, não tinha. Não sei mais dizer que foi obrigado a ser inclusão, né? Só que ninguém preparou os professores para essa inclusão então é muito difícil para professores que não aceitam, não gostam, não querem trabalhar com inclusão, e são obrigados, pedem as contas e vão embora. Então para esses professores é bastante complicado porque se negam a fazer provas diferenciadas, a falar com os pais, eles acham tudo isso muito chato, dá muito trabalho. Ele quer entrar na sala de aula e ir embora, ponto. Esse tipo de professor que tem na cabeça que “olha, grade curricular é essa, eu tenho que começar esse assunto, terminar tal dia”, esse tipo de professor deixa a gente louco. 
Agatha: E você acha que essa mentalidade desses professores: “é isso, pronto e acabou”, se dá pelo quê? 
Kátia: Pelo ultrapassado, né? Na minha opinião eles estão ultrapassados, eles estão engessados, eles não perceberam que cada vez essa é a nossa realidade, nós temos cada vez mais alunos, em qualquer lugar. Na escola pública está cheio porque eu lido com professores de escola pública. A escola que eu estou de ensino médio tem um monte também, mas é um monte, fora os que não têm laudo porque os pais não aceitam, não querem fazer laudo porque acham que fazendo laudo ele vai ser tratado diferente, eles não entendem que a gente já trata diferente, porque é diferente, né? Tudo é diferente, eu não posso fazer uma correção de uma prova e exigir de um aluno o acompanhamento cognitivo que um aluno Down tem, que um autista tem e do meu aluno que pode alcançar aquele conteúdo que eu deveria dar, né? E dou, né? E assim, o que eu não entendo nesses professores é que eu passo meu conteúdo do mesmo jeito, eu passo o que tenho que passar, só que meu olho, meu carinho, o meu deixa passar, a minha correção, os meus trabalhos, isso é diferente para aquele aluno, né? É para dois, é para três, é para um, é só isso que é diferente. Mas eu continuo sendo o mesmo professor com os outros, eu vou exigir o tanto que eu exijo, que não é pouco, eu sou exigente na matéria, mas para eles a exigência é outra, né? Eles têm graus de alcance diferentes, eu também vou avaliar, eu também vou ver se ele é organizado, se ele é interessado, se ele é disciplinado, que ele estuda, porque às vezes ele estuda mesmo, é bonitinho né? Eles conseguem responder oral, eu falo “olha isso aqui, eu sei que você sabe, volta lá”, e aí eles falam alto, maravilhoso, né? Todo mundo chuta. “Isso mesmo, volta lá e anota”. Então falta nesses professores esse olhar que o mundo mudou cada vez mais. 
Juliana: O tema de inclusão é muito novo, né?
Kátia: Para nós da minha idade, pegou a gente já adulto para ficar velho, né? Então esses professores mais assim, engessados, são os professores mais velhos. Então bastante bravos. E tem os jovens que é o contrário, que quando eles não gostam, eles simplesmente ignoram, deletam, fazem o trabalho dele, entram e saem como se aquelas pessoas não existissem, que eu acho até menos ruim do que os bravões, aqueles que ficam batendo de frente, porque quando um professor faz o seu trabalho e vai embora, ele pelo menos está ali presente, ele está interagindo, né? “Ah, mas eu não quero fazer prova diferente”, ok, aí ele vai lá e dá a nota. Não é o certo? Não é o certo, mas ele não está atrapalhando. Ele não está nem atrapalhando o desenvolvimento dessa criança, porque a criança se sente igual. Quando esse professor deleta ele acha que ele é igual, está tudo certo com aquele professor, o ruim é aquele que ignora no sentido de não dar atenção, não olha, não quer fazer, não trata muito bem, não trata os pais muito bem, esses para mim são os mais velhos, é mais complicado.
Juliana: Certo. E como essas formações preparam os professores para lidar com as questões práticas desses alunos?
Kátia: Então, no meu tempo não tinha esse preparo, né? Então o pouco que eu sei, do jeito que eu sei, é porque eu fiz alguns cursos e li muito, e pela escola ser Waldorf a gente tem muito essas conversas, essas palestras, essas coisas. Não sei hoje como é o curso de pedagogia, mas pelo que eu vejo de outras pessoas que fazem o curso de pedagogia, que é para ser professor, não se compara a um curso antigo que era de magistério. A pedagogia de hoje, para o universitário de pedagogia é fraquíssimo. Tem gente que faz um ano e um mês, um ano e três meses, são cursos simbólicos, não vale nada. Desculpa falar assim. 	
Mayara: Pode ficar à vontade. 
Kátia: Esqueci. Mas assim, esses cursos de pedagogia são um papel, não preparam o professor para nada. O professor a gente vê que ele se prepara trabalhando, é isso. Por isso que a gente pede para os pais procurarem especialistas, porque o psicólogo vai levar informação para esses professores que não têm. O fonoaudiólogo vai levar informação para o professor que se nega. O terapeuta vai levar, então a gente implora para os pais procurarem ajuda porque aí essa ajuda retorna para a escola, e vai dar os puxões de orelha nos professores, e vai fazer com que eles se mexam e façam o que realmente precisa fazer, porque precisa, né? Não dá para não fazer nada. Um professor não fazer nada, ok. A escola inteira não fazer nada não tem como. Tem que fazer. É obrigado, né? É obrigado por lei, mas assim, mas tirando o obrigado por lei é obrigado, é um aluno que está ali, né? É uma pessoa para ser atendida. Eu gosto que eles estejam com a gente. Quando você perguntou, Ju, alguma pergunta aí que é do sistema obrigar e ter inclusão, né? Eu acho que tem que ter por que a sociedade é assim. Isso faz com que os alunos daquela sala entendam cada limite, que não é tudo permissivo, não são todas as pessoas iguais, vão ter várias dessas lá fora no trabalho, na farmácia, no mercado, o respeito, os valores. Tudo isso, sem eles perceberem, eles estão aprendendo como ter inclusão dentro da sala. Então eu particularmente gosto de escola pequena, e gosto que tenha inclusão por conta disso, é a verdade, é a realidade, é ter negro, ter índio, ter inclusão, ter tudo ali, olha. Isso aqui, olha, é uma mini sociedade que se aprende como viver, né? Além das matérias, né? Aprende como viver, eu gosto. 
Juliana: É que é um tema muito novo, né? Acho que algumas pessoas não tiveram tanto isso na formação, é um tema que a gente está discutindo mais agora e tal. 
Kátia: Então, há uma grande quantidade de professores que querem que volte a não ter inclusão nas escolas porque é mais fácil de trabalhar, né? 
Mayara: Segregar, né? Separar. 
Kátia: E é uma verdade, né? Falando ao pé da letra você trabalha muito bem quando você não precisa administrar esse tempo, esse seu andar da sala, sua atenção, para um aluno que te tira do eixo muitas vezes, né? Você está ali focado naquele assunto e vem uma pergunta nada a ver, vem um comportamento inadequado. É óbvio que se você pudesse entrar na sala e fazer aquela linear bonitinho, opa, estou com o dia ganho. Só que com aluno de inclusão dentro não tem nada de linear, você se senta e levanta, ela vai e volta, tem quevoltar no assunto. Então é isso que os professores às vezes reclamam, né? Eu escuto professor fala que “ah, eu fico perdendo o meu tempo”, caramba, você pode até estar perdendo o seu tempo, mas os alunos que estão ali estão ganhando, estão aprendendo. Só que eu não falo assim viu, gente? Com os meus amigos professores eu não posso falar assim como eu estou falando para vocês. Infelizmente, se eu fosse uma coordenadora acho que eu falaria, mas como amiga professora eu não dou essas falas não, porque eu acho que as pessoas deviam se ligar, né? Mas não se ligam. Não se ligam não. 
Juliana: E uma última pergunta aqui para a gente finalizar é: “quais resultados esses alunos apresentaram após o uso das ferramentas adquiridas dessas formações?”
Kátia: Então, eu vou falar por mim, né? Eu nunca tive problemas, eu tenho alunos que estão na faculdade, eu tenho alunos que trabalham, eu falo farmácia porque tenho um aluno que trabalho numa farmácia, eu tenho alunos que eu vou ver, não porque quero, mas assim, porque a cidade é pequena e eu acabo vendo e lembram de mim, falam, né? Estão integrados na sociedade. Viveram momentos muito ruins na escola, essa é a verdade, porque eles passam por momentos ruins, mas eles também, por outro lado se conheceram e veem diferente, e de alguma forma eles conseguiram estar na sociedade, fazendo pouco ou muito ajudados, né? Porque eu vejo, por exemplo, os dois alunos que eu tenho em faculdade são muito ajudados? São, claro que são. Estão lá porque a universidade abriu essa vaga disponível a eles, existe quem ajuda, mas ok, deu certo. Então tudo isso ou meio, e eu procuro fazer cursos e converso bastante com a minha coordenadora, com a minha diretora, me faz ver tudo isso e colocar em prática o que eu aprendo. Eu tenho amigas psicólogas que também converso muito, e eu acho que eu consigo atingir essas crianças sim. Eu nunca tive nenhum agressivo comigo, nunca tive um pai ou uma mãe falando mal de mim para a coordenação, né? “Aquele professor não dá atenção”, “aquele professor está sendo injusto”, “aquele professor está tratando diferente o meu filho”. Graças. Eu acho que todo material que li por minha conta, e continuo, me ajuda a ter muita paciência, olhar diferente e carinho. É isso. Eu queria que fosse assim se eu tivesse um filho. É isso que tenham em mente, tá, meninas? O dia que vocês tiverem filhos, caramba, o meu filho não é especial, mas se fosse? Lógico que eu sei que é diferente, mas não é para ficar excluído, marginalizado, eu quero que viva o quanto pode viver, que atinja até onde conseguir, que tenha o seu lado cognitivo estimulado o quanto for, e o emocional manter mais equilibrado possível, e um bom tratamento. Não bater de frente.
ENTREVISTA 2
Agatha: Vamos lá, a primeira pergunta é: “há quanto tempo você atua como professor?”
Patrícia: Então, a caminhada é um pouco longa, mas eu sou formada em... Na verdade eu comecei minha formação como técnica de edificações e depois fui para a área de educação, que foi exatamente esse amor por cuidar dessas crianças, então hoje eu atuo já fazem cinco anos com essas crianças com deficiência e é o maior prazer, é o que eu amo fazer, né? 
Agatha: Com que frequência realiza cursos de atualização?
Patrícia: Ah... Pode ser de um em um minuto? O tempo todo, o tempo todo. Agora no momento eu estou fazendo o curso do ABA, que era um curso que eu precisava muito fazer. Já trabalho com o manejo do ABA diariamente na escola, mas hoje eu tô realmente fazendo curso, terminando uma pós de psicopedagogia, entregando estágio, já querendo fazer a neurociências, e assim, é sem fim os cursos que eu quero fazer. Fora isso a gente tem muitos livros que a gente precisa ler, muitos textos que falam sobre o assunto, muitas lives. Então a gente tá o tempo todo assim buscando informação, as coisas mudam muito rápidas, né? Então eu tô sempre me atualizando, é o tempo todo. 
Agatha: Quantos alunos têm em sua sala de aula, né? Com quantos alunos você trabalha normalmente?
Patrícia: Então, hoje eu tô no quarto ano, com uma turminha do quarto ano, que tem vinte e três alunos no total, e fico especificamente com o Mateus, que é um autista. Já fiquei com ele no segundo ano, tive a oportunidade de trabalhar com ele fora da escola também como acompanhante terapêutico, e agora eu tô com ele na sala de aula, então é maravilhoso. 
Agatha: Ai, imagino. Eu tô tentando muito ser imparcial. 
Patrícia: Você consegue. 
Agatha: O que você entende por TEA? O Transtorno do Espectro Autista. 
Patrícia: Eu assusto um pouco as pessoas quando eu falo sobre isso na verdade, né? Porque para mim é muito natural, né? Uma criança que tem um TEA, que é o Transtorno do Espectro Autista, ela é pra mim uma criança como qualquer outra, com todas as habilidades, que é capaz de fazer tantas coisas como nós, né? Então uma criança que tem sim das suas dificuldades como nós também temos, né? Sempre abordo muito isso, né? A gente fala de uma criança com deficiência, mas todo nós temos as nossas, né? E eu, pra mim assim as minhas são bem latentes, né? Dentro da minha cabeça. É o maior prazer poder trabalhar com essas crianças porque a gente aprende mais do que ensina, a gente consegue ter um olhar sensível pra entender, e essa experiência de tempo que eu tô com eles, eu vejo que cada criança, cada autista é de uma forma, é um jeito, né? Eu não posso falar aqui pra vocês “a criança é autista, ela tem esses, esses e esses traços”, não, eu tenho uma criança que ela tem algumas das suas deficiências, das suas limitações, e uma outra que eu posso citar de outras situações enfim. Então pra mim é maravilhoso trabalhar com essas crianças, eles são cheios de habilidades, de dons, carinhosos, como eu disse alguns são mais carinhosos, se aproximam, hoje eu tava com uma experiência bem gostosa, nem sei se eu posso compartilhar, porque se eu falar eu falo muito. Eles estavam apresentando um coral e aí tava o meu Mateus e tinha o Pedro, que também é autista, e eles são muito diferentes. Aí toda vez que eu encontro o Pedro eu tenho o costume, ele já é mais de toque que o Mateus não é tanto, então eu encontro o Pedro aí eu tiro abraço e cheiro, cheiro, cheiro, vira até uma brincadeira, só que hoje não dava para dar cheiro e abraço, eu tinha que controlar ele no coral, e aí ele vinha pra cima de mim e ficava me dando beijo, ficava dando cóceguinha, eu: “Pedro, é o coral”, tipo “mas é assim que você faz comigo todos os dias, como que agora eu vou conseguir me manter?”, né? Enfim, nós ficamos no coral, ele me dando um monte de beijo, eu quase caí da escada junto com ele, é uma belezinha, mas assim, eles são crianças que, no meu modo de ver, todas elas são, né? Mas especificamente trabalhar com elas é tudo muito especial, é muito gostoso, é prazeroso. 
Agatha: Qual foi o seu contato com o tema do autismo na sua graduação em pedagogia?
Patrícia: A gente tem uma matéria, né? É algo bem assim bem superficial. Na faculdade eles falam não especificamente das deficiências, eles falam do autismo, a gente conhece elas, né? Eu falo que elas são apresentadas pra gente, nada fundo. Tanto que muitas pessoas que fazem pedagogia desconhecem até, assim, já ouvi falar, né? Tanto que é muito difícil às vezes contratar pessoas na área de educação que trabalhe com essas crianças porque às vezes realmente não sabem de nada, não conhecem sobre, né? Então assim, é tudo muito superficial. Por isso que eu digo que nós educadores, nós precisamos renovar, e essa renovação, esse buscar, tem que ser muito diário. 
Agatha: Sim. 
Patrícia: É uma coisa que não dá para ficar “ah, faço uma pós de um ano, seis meses, aí eu faço outra”, não, é uma coisa muito constante. Então ler livro, ver entrevistas, enfim, porque a faculdade em si ela não te dá tanto desse suporte. 
Agatha: E aproveitando já essa pergunta, eu acho que você já respondeu, mas para fazer ela, você acha que esse contato foi suficiente na graduação?
Patrícia: Não, é bem superficial. Então assim, a gente aprende, no meu caso quando eu fui contratada pela escola, você aprendeali o dia a dia. Tanto que tem muitas coisas que você é pego de surpresa, você fala “como fazer isso?”, e aí que você vai fazer cursos, você vai se especializar, você vai tentar entender, você vai se aprofundar no assunto, né? E só assim que a gente consegue fazer a diferença na vida dessas crianças, porque tem uma importância nisso, que eu tenho cada vez mais percebido. Quando a gente busca entender, nós temos manejos, formas de lidar com essas crianças com deficiência. Então quanto mais você estuda, mais você entende, aquele seu trabalho fica mais fácil, vamos dizer assim, porque você sabe como abordar, como fazer. 
Agatha: Tem as ferramentas, né?
Patrícia: Tem as ferramentas, exato. Então isso faz total diferença. 
Agatha: Certo. Essa também você já respondeu, mas quais cursos extracurriculares livres você fez para se aprofundar no assunto. 
Patrícia: É isso, assim, hoje, tá? A pedagogia não é suficiente, ela é o início de uma fundação em relação a educação, muito superficial. E aí finalizando uma psicopedagogia, clínica institucional, principalmente a clínica me trouxe, assim, por isso que eu sou tão apaixonada por vocês, a Agatha sabe, ela sabe quanto eu amo a psicologia e pretendo num futuro fazer psicologia porque eu acho que a gente trabalha isso diretamente na escola, e o tempo todo. Assim, é o ABA, vários cursos curtos, congresso de autismo já participei de final de semana com vários especialistas, contatos com neuro, com fono, eu acho essa parceria superimportante.
Agatha: Certo. 
Mayara: Esses cursos a mais que você foi aí, é tudo... Você mesmo que foi atrás, não foi uma cobrança externa, né? Tipo, fora assim da sua escola, alguma coisa. Não, né?
Patrícia: Não, não. É algo que eu busco mesmo, é algo que a gente necessita, eu vejo que é necessário. 
Mayara: Sim. 
Patrícia: Pra quem tá no meio, né? E aí a gente vai atrás e tenta fazer o melhor também, porque aí isso facilita o nosso trabalho. 
Agatha: Você acha que esse modelo acadêmico realmente favorece a inclusão de alunos com autismo em escolas neuro atípica?
Patrícia: Ai que pergunta difícil, que polêmica. Ai, eu tenho uma visão tão diferente disso, eu acho que as escolas estão... Olha, hoje eu trabalho numa escola que ela se diz inclusiva, não que ela não seja, eu acredito que ela já tá assim, há um bom caminho de muitas que quase não reconhece essa situação, mas assim eu acho que falta muita coisa, falta um olhar diferente, né? Eu acho que a escola ela tem que vir, ela tem que receber esses pais, essas crianças, os especialistas, geralmente eles já vêm com os especialistas quando vão para a escola com outro olhar. Às vezes acaba se tornando como uma disputa, escolas que não têm estrutura pra receber essas crianças, mas eu também tenho algo muito bom pra dizer. Eu tenho uma filha, não sei se a Agatha chegou a falar isso pra vocês, ela não é uma autista, mas ela tem dificuldades, ela tem um laudo de microcefalia, Transtorno de Aprendizagem e o PAC, e hoje ela estuda numa escola pública que dá toda a estrutura pra ela e pra nossa família. Então ela dentro da escola ela tem uma agente que fica com ela na sala porque ela tá no sexto ano, ela tá sendo alfabetizada e a escola tem o AE, que é uma professora que fica com ela trabalhando as habilidades que ela tem diante das dificuldades também que ela apresenta. Então acho que assim, eu acho que falta muita coisa, eu acho que tem escolas que precisam se preparar mais, precisa ter um outro olhar, mas também vejo escolas que estão caminhando nisso e isso é muito bom, né? Eu acho que a gente tá nesse processo, espero que sempre pra cima agora. 
Agatha: Sempre em evolução. 
Patrícia: A Mayara quer falar eu acho. 
Mayara: Não, eu tô com a mão aqui. 
Patrícia: Não? Você tá com o dedinho. Então tá bom, vai. 
Agatha: Como essas formações preparam os professores para lidar com as questões práticas desses alunos em sala de aula?
Patrícia: Faz de novo a pergunta. 
Agatha: Como essas formações, que você falou que fez, preparam os professores para lidar com as questões práticas desses alunos? 
Patrícia: Assim, que que eu vejo, né? Eu posso falar pra vocês o que eu vivencio, tá? Então assim, eu conheço muitos professores que não buscam essas formações e isso é uma situação de alguns professores que realmente não querem entender, né? E tem outros professores como eu, e tenho outras amigas que fazem questão de buscar essa formação, de querer entender. Isso na prática é facilitador demais, porque assim, é como eu disse do ABA; o ABA, ele é... Eu estou no início de um curso, mas é engraçado que conforme eu vou estudando, eu vejo que são tudo... São situações e são estratégias que nós já usamos na escola, né? Por já ter aprendido, já por ter ouvido alguma coisa, por ter estudado, então ele é muito facilitador porque a forma que você aborda com essas crianças é extremamente importante. E ainda vejo mais, não só com essas crianças, eu acho que com todas as crianças, tem uma forma certa de você abordar, uma forma certa de você falar, de você se impor, de você se posicionar. Então acho que quanto mais você busca esse conhecimento, que seja através de cursos, através de formação, isso fica na vida prática muito mais fácil para lidar com essas crianças. 
Agatha: Sim. Já respondeu também a próxima: quais resultados que esses alunos apresentaram após o uso das ferramentas adquiridas nessas formações?
Patrícia: Nossa, é extraordinário, né? É extraordinário de ver. Então, a gente teve até uma situação semana passada de um autista que a gente pedia - ele gosta de mexer com a massinha, ele faz dinossauros com massinha, maravilhoso assim, e é dinossauro de verdade, não é imitação, é dinossauro, perfeito, e toda vez que a gente pedia para ele estar fazendo a atividade e ele não queria largar a massinha, então ele ficava “aaaah”, né? Gritava, ele não queria. E aí a gente começou a usar um método de cronometrar o tempo com ele, algo visual. Então através mesmo do tablet dele que vem para a escola, a gente colocou o tempo e a gente fez um combinado: “olha, você vai ficar com a massinha até esse horário, dez minutinhos, depois vai ser o momento da atividade, ok?”, “Ok”. E deu super certo, uma coisa supersimples. Então ele mesmo via a contagem e ele entendia, a gente nem precisava falar, ele realmente entregava a massinha e fazia a atividade. Então assim, essas crianças trabalham com rotina, né? Então é necessária uma rotina, então eles chegam na escola, geralmente tem a rotina que eles precisam seguir, então isso traz conforto para eles e tem várias outras situações. Tem um aluno que fico, ele tem uma dificuldade de blusa, então ele usa blusa de frio, não pode ter zíper, não pode ter etiqueta, não pode ter nada que incomode. Então a gente fez um trabalho com TNT, um bonequinho que é ele, e várias blusas. Pegamos as blusas, pedimos para o pai mandar mais ou menos os modelos de blusa que ele teria, pegamos umas cinco e colocamos no bonequinho. Então todo dia ele chega e a gente conversa: “e aí, tá frio ou tá calor?”, e é muito engraçado, ele: “tá frio”, “ah legal, e aí, qual blusa nós vamos colocar?”, e aí é geralmente a blusa que ele veio, e aí com isso a gente conseguiu implantar, porque quando fazia muito frio ele não ia para a escola porque ele não queria pôr blusa. Então assim, são diárias, são situações que a gente diariamente vai reforçando, é o reforçar na vida dessas crianças, é superimportante. 
Agatha: Certo, essa foi a última pergunta, vocês têm mais perguntas? 
Mayara: Eu acho que não, eu gosto das histórias que você conta, né? Mas a gente vai ficar muito tempo aqui. 
Juliana: Eu adoro também. 
Patrícia: Posso contar a última que foi hoje?
Mayara: Pode. 
Agatha: Pode. 
Patrícia: Meu aluno, ele de terça-feira está tendo dificuldade de ir para a escola, e aí o pai desceu hoje e veio conversar comigo, e aí falou que não entendeu muito bem o que estava acontecendo; ele colocava uniforme, ia ao banheiro e dizia que estava com dorzinha na barriga, e o pai achando estranho, né? Isso já tendo vindo semanas nessa terça-feira,e de terça-feira ele tem aula de artes que é a primeira aula, e assim, eles arrasam nas aulas de artes em relação a barulho e a convivência social, é tudo muito maravilhoso. E para ele incomoda absurdamente. Falei: “então vamos fazer alguns trabalhos aí; primeiro, aula de artes vamos mudar tudo”, eu acho que isso é pensar numa escola que é inclusiva. Então fui conversar com a coordenação, isso aconteceu hoje, e aí a professora de artes aceitou que nós não íamos subir para a sala de artes, íamos fazer em sala de aula, porque até os outros alunos entenderem que precisa de uma ordem, não é fazer o que eles querem, tem a bagunça, exatamente. E aí ela explicou tudo isso e fizemos lá. Ok, deu certo. O outro passo: com a dorzinha da barriga ele tem muita dificuldade de beber água, ele não bebe água durante o dia todo, ele toma suco porque a maioria dos autistas tem essa questão alimentar, alimentação seletiva, enfim. E aí eu consegui hoje encher a minha garrafinha junto com a dele, fizemos um combinado: eu encho a minha, você enche a sua, aí eu bebo a minha e você bebe a sua. É quase um teatro, né? Aí ele enche a dele, eu encho a minha, aí eu dou um gole, ele deu um gole, e aí resumindo, conseguimos que ele bebesse água hoje, foi uma grande vitória. 
Agatha: Ah, que alegria!
Patrícia: E isso foi logo na segunda aula. Quando foi depois do intervalo, que ele já tomou uma caixinha de suco, eu falei: “nós precisamos ir ao banheiro, não tem como, você vai ficar no coral depois das aulas e a gente vai precisar que você vá ao banheiro, não tem como ficar todo esse tempo.”, “tá bom, Paty”. E aí é assim, né? “Tá bom, Paty”. Aí vai eu e ele, aí fico na porta do banheiro, não entrei, aí só ponho o ouvido, né? Para ver se eu escuto o barulho do xixi. Resumindo, deu certo. Então assim, é uma vitória. Como diz: cada dia é uma vitória. E é muito gostoso acompanhar essa vitória, é isso que faz toda diferença no nosso trabalho, é ver que a gente consegue com persistência, com muito amor, com muito cuidado inserir isso na vida deles. Ai, posso contar mais uma?
Agatha: Pode. Tá bom. 
Patrícia: Eu prometo que é a última. 
Mayara: Não, vai, fala.
Patrícia: Prometo. A gente estava fazendo prova bimestral, e aí eu percebi que ele estava muito incomodado, deram uma prova de matemática que tinha muitas contas, é uma prova muito longa. Aí eu percebi que ele não se sentava na cadeira, ele estava incomodado, e aí eu: “Mateus, tá tudo bem?”, e aí percebi que estava incomodado. E quando ele, eu percebo através do movimento dele com o corpo que alguma coisa está fora, a mãe trabalha com os óleos essenciais, né? Que aí a gente passa na nuca, esse óleo fica na escola e a gente já tem uma rotina de fazer isso com ele. Então peguei o óleo, fizemos todo o processo, só que ele tinha feito cocô nas calças, no meio da prova, e foi muita judiação porque ele não estava com coragem para falar. E aí enfim, dei a mão para ele, disse: “a Paty está junto com você, vamos ao banheiro”. Quando nós fomos ao banheiro ele tinha se sujado inteiro, só que ele tem muita dificuldade sensorial, né? Assim, a situação de encostar, e aí eu ficava o tempo todo: “Mateus, a Paty vai encostar em você. Mateus a Paty vai tirar a sua calça. Mateus, tudo bem?”, e ele faz assim (gesto positivo de polegar) querendo chorar, né? Resumindo, tiramos toda a calça, tiramos toda a cueca, limpei ele todo com lenço umedecido, fizemos uma mega de uma higiene e eu o tempo todo pedindo autorização para ele porque eu estava encostando no corpo dele, e aí a coordenadora conseguiu uma outra calça, ele pôs a outra calça até mesmo sem cueca porque ele fica muito incomodado com toda a situação, mas vencemos sem desequilíbrio, sem surto nenhum, e isso foi muito especial porque em qualquer outra situação ele iria gritar, ele iria bater, e foi muito bom porque aí depois nós fomos para a sala, terminamos essa prova de matemática que, né? Foi perfeito. E aí depois ele ficou ainda no coral nesse dia porque ele tinha coral. Então assim, é isso. Tem várias coisas para contar, eu vou lembrando cada hora de uma, mas é tudo muito especial com eles, é maravilhoso poder ter esse contato e trabalhar todos os dias assim com eles, é muito bom. 
Mayara: E dá para perceber que eles sentem confiança na sua dedicação, no seu acolhimento ali, ele permitiu que você... né? É uma coisa muito forte para ele pelo que você está me falando, né? Essa questão sensorial é muito forte para eles no geral. 
Patrícia: E eu falo que é como um filho, né? A gente tem um amor muito grande. Entenda, imagina você limpar uma criança que está com diarreia, e assim, gente, era uma sujeira absurda e você não poder ter nojo, de ali você ser mais forte e fala: “eu estou com você, eu vou te ajudar”. E depois, eu fui até o outro banheiro, lavei toda a roupa dele, que jamais iria mandar daquela forma. Então assim, é tudo por muito amor. Então é isso Mayara, estar com essas crianças é muito amor, é transbordar. A Agatha conseguiu vivenciar um pouco e eu tenho o maior amor de poder estar com eles, é prazeroso.
Mayara: Sim, dá para ver, é notável.
 
ENTREVISTA 3
Milena: Eu queria então que você começasse se apresentando e falando também um pouquinho sobre há quanto tempo você atua como professor. 
Milton: Tá bom, vamos lá. Primeiramente boa tarde a todos vocês, obrigado pelo convite que vocês me estenderam. Eu me chamo Milton, tenho 45 anos, a minha formação é licenciatura plena em matemática, pedagogia, aí eu tenho pós-graduação em educação matemática, ensino da matemática e educação para jovens e adultos. Concluí há muito tempo, há muito tempo não, um certo tempo já uma pós em psicopedagogia pela FMU, justamente para tentar entender como que eu iria conseguir trabalhar com alguns alunos com algumas síndromes em sala de aula. Nos últimos tempos vem aumentando o número desses alunos, e sou mestrando em educação matemática também pela universidade Anhanguera, onde a minha linha de pesquisa é justamente o ensino da matemática com crianças autistas. Então a gente trabalha com a proposta de jogos, tudo em sala de aula para que possamos atender a demanda dos alunos com essa necessidade. Eu estou na educação da cidade de São Paulo há dezesseis anos, eu sou concursado na rede estadual há quatorze anos, e também trabalho na rede privada de ensino, eu leciono matemática e física. A pedagogia entrou na minha vida pela necessidade de focar na coordenação hoje na rede estadual eu acumulo duas funções: eu dou aula e também tenho uma carga de aula de doze aulas de matemática no ensino médio, e nas demais horas atuo como coordenador pedagógico da área de ciências da natureza e matemática. Como o estado de São Paulo implementou uma nova filosofia na educação, muitas escolas estaduais que eram regulares, hoje elas são de período integral, então somos da área de ciências da natureza e matemática, que contempla biologia, química, física e matemática. Essa é minha experiência atual, né? Na sala de aula. 
Milena: Legal, muito legal. E aí você falou um pouquinho, mas vou perguntar: com que frequência você realiza cursos de atualização para ensinar?
Milton: Todo ano eu faço um curso, pela Cedup, nós temos que fazer vários cursos de extensão, por exemplo: cursos de eletivas, projetos de vida, como o novo sistema de ensino é integral, então nós temos uma gama de cursos que nós somos obrigados a fazer, né? E você faz cursos de, no meu caso, os cursos que eu já fiz: eletiva, projetos de vida, são cursos que estão linkados aí para que a gente possa fazer com que os alunos consigam se empenhar. Então nós também temos outros cursos como de libras. E eu comecei uma pós-graduação faz uns três meses em gestão escolar justamente por causa dessa nova atuação que eu estou tendo como gestor, mas todo ano eu faço algum tipo de curso de especialização, curso de técnicas de redação, ensino física, práticas experimentais para avaliar a matemática e física nas escolas, né? Eu procuro fazer todo ano algum tipo de curso para me manter atualizado. 
Milena: Legal, legal. E em médiavocê tem quantos alunos em sala de aula, normalmente? 
Milton: De estadual, ensino médio eu leciono para segundos anos, né? Mas em média, primeiro, segundo e terceiros anos em torno de trinta e cinco a quarenta e dois alunos. Nas redes particulares o número vai reduzindo, então tem salas de aulas que eu tenho apenas dezesseis, né? Bem discrepante, a metade, menos da metade do que na rede estadual. Então por você ter um número menor de alunos na rede particular, na realidade da escola que eu vivo, é muito mais fácil do professor conseguir ter os olhos atentos para atender algumas especificidades de alguns alunos com mais deficiência ou dificuldade de aprendizagem, né? Então fica mais fácil olhar, mas a experiência de sala de aula nos permite que na mesma rede pública a gente consiga também observar esses alunos que apresentam muita dificuldade. Mas aí, muitas das dificuldades elas não estão relacionadas só com a patologia ou alguma síndrome. Nós percebemos também que muitos vêm de problema estrutural, familiar, então nós temos aí uma quantidade de alunos que apresenta uma estrutura muito bagunçada familiar, onde o pai tem problema com alcoolismo, ou a mãe presidiária, muitos alunos que são criados por outros parentes, a vó, tia, tio, padrinhos, madrinhas, né? Então muitos desses fatores eles colaboram com as dificuldades de aprendizagem do aluno. E já entra também alunos que têm alguma síndrome de hiperatividade, autismo. Então tem muitas coisas aí que impactam, mas a gente também – o estado de uns tempos para cá vem tentando minimizar isso colocando especialistas para trabalhar com essa demanda para auxiliar o professor em sala de aula, então tem sala de aula que nós temos um intérprete de libras, nós temos, eu tenho aluno que precisa do intérprete nas aulas. Eu tenho dois alunos, uma aluna que é autista do segundo ano, eu já dou aula para ela há alguns anos, uma menina super inteligente, muito inteligente, ela tem uma facilidade de aprendizado só que nós temos que tomar alguns cuidados com ela no tocante a não trabalhar atividades muito prolongadas, falar muito alto porque ela não tolera aí barulho, e nós temos outro aluno que ele já tem um tipo de probleminha que é motor, né? Então impacta na fala dele, na pronúncia, só que é o melhor aluno que nós temos na escola, ele é um moleque que ele vai bem em qualquer disciplina, principalmente na minha que é matemática, um aluno super mega inteligente, porém ele tem problemas motores nas mãos, tem dificuldade de escrever, mas ele escreve dentro daquela realidade dele, mas ele compreende muito os tipos de avaliação que nós fazemos com ele não é a mesma que nós consideramos regulares, normais, né? Então avaliação com ele é mais uma avaliação oral, nós fazemos uma chamada ali oral com ele em todas as disciplinas e é dessa forma que vamos avaliando ele, e hoje em dia com esse projeto de escola, então nós temos aí tutorias, temos projeto de vida, nós temos eletivas, que que são essas disciplinas aí? Essas disciplinas elas vêm para suprir uma demanda do mercado de trabalho, para a gente conseguir dar uma direção para os alunos, né? De acordo com o que ele pretende exercer no futuro, então nós temos lá diversas especialidades de profissões, então tem psicologia, tem direito, eu estou trabalhando com a eletiva de direito e segurança pública. Minha primeira faculdade que eu fiz foi de direito, lá em dois mil, né? Mas eu não cheguei a concluir e a gente vai fazendo convites aos profissionais dessas áreas de segurança pública, direito, para falar um pouco como que é a carreira, como que consegue acessar aí os cargos por meio de concurso público, nós procuramos levar para os alunos da escola vários profissionais, como promotor de justiça, delegado, escrevente do tribunal de justiça, e eles vão falando. Levei semana passada o comandante e subcomandante da polícia de Carapicuíba, guarda municipal, então nós vamos usando esses caminhos com esses alunos, mas assim também é com as demais opções, então nós temos um trabalho que a – posso também falar o nome de outra faculdade aqui ou não tem problema? Pode? – Nós temos um trabalho com parceria com a faculdade Anhanguera onde ela disponibiliza os alunos de psicologia do último ano, do nono e décimo semestre, e aí acho que conta como hora de estágio para eles e eles estão fazendo o trabalho de atender algumas demandas, na pandemia muitos alunos com problemas de ansiedade, muitos alunos que perderam seus pais, entes queridos ou pessoas bem próximas e que vem de alguma maneira impactando aí também na evolução desses alunos, né? Então nós temos ali diversas gamas de profissões, enfermagem, médico, psicólogos, advogados, então são vários, nutricionistas, então nós procuramos cada um para cada eletiva que faz os convites para esses profissionais que vão acompanhando durante todo o ano esses alunos, né? Então é uma maneira de os alunos enxergarem, mesmo sendo de periferia, a possibilidade de acessar aí, ter uma profissão, de acordo com os seus sonhos, seu projeto de vida, e aí nós também temos algumas parcerias com algumas empresas que acabam participando dessa, desse processo e no término do terceiro ano eles já começam a empregar esses alunos de maneira via estágio, alguns já depois do período de estágio são efetivados nas empresas, vão fazer a faculdade no curso que escolheram e trabalharam nas eletivas, e por incrível que pareça a área de vocês, psicologia é uma das áreas junto com direito, psicologia, direito e nutrição, segurança pública são as quatro áreas aí que têm um número maior de alunos que procuram seguir carreira nessas áreas aí. 
Milena: Legal. 
Milton: Bacana, né? E a psicologia no meu entendimento, ela é super importante e eu acredito que ela deveria sempre existir, principalmente na rede pública porque é onde nós temos alunos com menos acesso a algumas especialidades, né? E a psicologia ajuda muito o professor, porque vocês também atendem os professores, os estudantes também fazem com os professores. Então vem ajudando muito, colaborando com o trabalho em sala de aula através das dinâmicas, muito interessante que são realizadas né? É muito bacana isso.
Milena: Legal, legal, obrigada Milton. É, então, a próxima pergunta, a gente queria entender o que você entende por TEA, Transtorno do Espectro Autista.
Milton: O que que eu entendo? É bem complexo né isso daí, foi justamente por esse motivo que eu fui fazer a minha especialização, porque eu dava aula para alguns alunos com TEA só que eu não sabia como trabalhar, né? Foi a partir daí, da especialização, e lendo documentos, artigos, as aulas, nós fomos entendendo que ele é mensurado por graus, é isso né? E cada grau a gente tem que trabalhar de uma maneira, por exemplo, a aluna com TEA que eu atendo, que é a Mel, eu já dou aula pra ela faz alguns anos, não sei quanto tempo faz, dou aula pra ela desde o sexto ano, então eu tenho algumas atividades que eu... tenho que trabalhar algumas atividades com ela que são diferenciadas. Não diferenciadas dos demais alunos, o tempo tem que ser menor, quando eu vou me dirigir a sala dela eu procuro falar com um tom mais baixo, moderado, procuro orientar os alunos que estão ao redor dela também, para que eles não falem muito alto, porque causa irritação nela, então é, eu fui entendendo que pra cada aluno com TEA, cada um reage de uma maneira, principalmente por sermos pessoas heterogêneas, e assim também é com pessoas que não tem esse transtorno né? Mas o estudo da psicopedagogia foi a maneira que eu encontrei pra poder lidar com esse público dentro da sala de aula e atender eles da melhor maneira possível, porque nós já vivemos em uma sociedade completamente discriminatória, e aí a gente tenta dentro da sala de aula ter a maior equidade possível e fazer com que eles também tenham a oportunidade de desenvolver aprendizagem da melhor maneira possível, né? E com equidade com os demais.
Cleber: E Milton, você estava falando da psicopedagogia, mas vamos voltar um pouquinho, tá? A graduação em pedagogia, ela te deu algum suporte,alguma coisa que te embasasse para essa experiência em TEA?
Milton: Muito superficial, a pedagogia ela foi de suma importância pra mim como profissional pra melhorar minha prática didática dentro de sala de aula, isso ela, vou falar pra você que ela foi mil por cento, porque você faz um curso de licenciatura, um curso específico, no meu caso foi matemática e física, então você vê mais coisas voltadas para suas áreas, né? Na pedagogia você lê, fazia vários trabalhos também, porém é de maneira muito superficial, eu acho, eu penso que deveria haver uma modificação na ementa dos cursos de pedagogia que desse mais ênfase às síndromes né, esses transtornos aí. Estudar de maneira mais aprofundada, não só na pedagogia como nas outras licenciaturas também, porque hoje é completamente diferente, e eu acredito que dentro dessa modificação, dessa mudança, deveria também ser inserido nos cursos, nas universidades, faculdades, a tecnologia, porque a tecnologia ela colabora demais para você conseguir desenvolver um trabalho com mais qualidade na sala de aula. O governo ele vem é... por mais que eu seja um crítico do governo que está aí atuando em nosso Estado faz mais de 24 anos, 27 anos precisamente, mas ele começou a modificar um pouco o olhar para atender essa demanda, dessas pessoas. Disponibilizando mais materiais pedagógicos para que nós possamos trabalhar dentro da sala de aula, então nós temos aí inúmeros jogos de tabuleiro, que a gente consegue trabalhar com os autistas e desenvolver neles uma atenção maior, uma concentração, mas assim, precisa melhorar muito ainda. Mas eu acredito que as faculdades têm que rever a grade curricular, modificar a ementa delas, para que haja uma alteração tocante a disciplina de pedagogia ou psicologia, em todos os cursos, porque você vê que é superficial, psicologia da aprendizagem, é superficial, você faz a leitura de algumas bibliografias, alguns autores dos mais renomados, mas aí você ainda não consegue enxergar a importância dela dentro da sala de aula. Então você tem que aprender no curso e quando você se deparar com um cenário no qual você tem pessoas com algum tipo de transtorno, você saiba o que você deve fazer, de que maneira você vai agira, né? E eu consegui ter essa visão em prior na pós-graduação e no meu mestrado né? Porque eu atuo com jogos, com materiais baratos, né? E a gente consegue por exemplo, meu experimento é ensinar os alunos matemática com produtos notáveis, então tem aluno que não consegue, dependendo da síndrome que ele tiver, do problema que ele tiver, ele não consegue memorizar uma fórmula. Então você proporciona a confecção de alguns jogos, que você vai ter figuras planas ali, quadrado, retângulo, e você vai mostrando pra ele ali a fórmula que é utilizada, mas sem usar a fórmula necessariamente ali né? Então você vai mostrando pra ele, montando jogos e ele vai fazendo cálculo de um produto notável, o quadrado da soma, diferença da soma, e ele consegue aprender sem a necessidade de você ficar trabalhando com a lousa e com fórmulas. Precisa ter essa visão nos cursos de especialização. Os cursos de graduação são bem superficiais. É uma falha grande, e é um dos pontos que eu acho que o Ministério da Educação deveria começar a pensar em modificar, a ementa do curso, a grade curricular, pra que pudesse formar profissionais, professores, que tivessem uma capacidade maior de lidar com esse pessoal em sala de aula né? Porque infelizmente... e eu vou falar o que eu vejo, você tem algum aluno com transtorno, você dá uma folha pro aluno, um lápis de cor, o aluno fica ali, isso pra mim é exclusão total, é uma exclusão total, é um desrespeito com o ser humano, então, mas você às vezes não consegue identificar o pensamento da pessoa.
Milena: É verdade.
Cleber: Sim, e aí, até uma das nossas perguntas, desculpa interromper, mas é que você estava falando e, borbulhando na nossa cabeça o que a gente está estudando, que a gente já tem uma pergunta que se isso era suficiente, mas você já respondeu que não tem nada de suficiente no que é feito hoje. Mas você acha que esse modelo acadêmico que vem sendo utilizado hoje, ele favorece o modelo de inclusão dos alunos que tem o Transtorno do Espectro Autista? 
Milton: Não. Ainda não. Ele para mim ainda continua excludente. Ele amenizou, mas continua excludente, ele não atende, não atende porque eu vou falar pra você que eu tenho um primo que ele é autista, ele é um grau mais severo do qual ele precisa tomar medicamento pra poder controlar os anseios dele, ele estuda na rede municipal de Carapicuíba, ele tem 6 para 7 anos, só que ele estuda menos tempo, justamente porque ele já é um pouco mais, o caso dele requer um pouco mais de cuidado, e tem dias que ele não consegue estudar porque a professora auxiliar falta, e você não tem ninguém pra colocar como substituta dela. Então só por isso você já vê que continua sendo excludente. Não é pensado numa possível doença ou qualquer outro tipo de coisa que aquela profissional vai estar preparada para lidar com em sala de aula e auxiliar a professora, no meu entendimento ele amenizou, mas não é o suficiente, é muito insuficiente e continua excludente ainda. 
Milena: Sim... e aí, você já falou um pouco sobre isso, mas nós tínhamos a pergunta, como essas formações, tanto de pedagogia, quantos as pós, etc, preparam os professores para lidar com as questões práticas, então vocês aprendem a teoria, mas e na prática, como eles preparam vocês, tem esse preparo ou não?
Milton: Tem, você faz ali os estágios que são obrigatórios, você passa a ter a vivência e nas especializações que eu já fiz, nós procuramos cenários de aula com esses alunos. E aí a gente vai desenvolvendo ali diversas atividades as quais a gente possivelmente iremos lidar em sala de aula. Só que é igual, vamos fazer uma analogia com uma partida de futebol, treinar é uma coisa, jogar é outra. Então às vezes nem sempre o que você estuda, o que você treina, é de fato o que você vai conseguir fazer dentro de uma sala de aula. Mas ajuda muito, você já não vai cru, você já sabe como proceder em determinado assunto, determinada situação, então pra quem faz a especialização, sai com um pé na frente né, dos profissionais que só tem a licenciatura e mais nada, ele pelo menos sabe como, pelo menos deveriam saber como agir né? Eu não vou falar que todos os que fazem o curso saem de lá com esse conhecimento, né? Mas é o ser humano, o ser humano é falho em todos os segmentos né? 
Milena: É verdade.
Milton: Mas eu, as especializações que eu fiz, graças a Deus tem me auxiliado muito e assim, eu tenho uma grande honra em dizer que esses alunos acabam se apegando a minha pessoa, pela maneira que eu trato eles, pela maneira que eu fico com eles na sala de aula, a atenção que eu dou, eu procuro entender um pouco da estrutura familiar dessas pessoas, desses alunos, quais são os anseios, as dificuldades, e ali eu vou inserindo o conhecimento que eu adquiri e que eu vou fazer de alguma maneira com que eles consigam aprender, e vem o resultado né?
Milena: Falando, é, desculpa...
Milton: Os pais acabam até fazendo convites para participar das festas deles, mas acho que é por causa dessa proximidade.
Milena: Sim, e aí, falando disso, é... quais resultados você percebe nos alunos com TEA? quais resultados eles apresentam após o uso das ferramentas que você tem conhecimento sobre e o que você aprendeu nas suas especializações e etc? 
Milton: Há uma evolução muito grande, e aí você, é igual o caso da Mel, você acaba tendo um resultado com muito mais devolutiva que um aluno que é considerado sem nenhum tipo de transtorno, eles passam a ter mais concentração, prestam mais atenção na aula, então eles são metódicos, bem criteriosos, então eles acabam tendo um desempenho muito melhor, na minha visão, muito melhor. Pelos dois com quem estou trabalhando atualmente, e na escola particular eu tenho um que ele é hiperativo, do sexto ano, mas ele é muito inteligente, só que é outro também que nós temos que trabalhar, fazer um trabalho com ele mais curto, e ter

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