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Aula 3 - O positivismo jurídico

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HERMENÊUTICA E 
ARGUMENTAÇÃO 
JURÍDICA
Magnum Eltz
O positivismo jurídico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar os contrastes entre o positivismo jurídico e a jurisprudência 
dos valores.
  Analisar a influência do positivismo jurídico na escola da exegese.
  Avaliar os diversos tipos de positivismo jurídico.
Introdução
O positivismo jurídico é uma das principais escolas da ciência jurídica, 
sendo responsável pela sistematização e o desenvolvimento de méto-
dos focados em fatores endógenos do sistema legal. Neste capítulo, 
estudaremos o positivismo jurídico em contraste com a pós-moderna 
jurisprudência de valores, a sua relação histórica com a escola da exegese 
e os seus métodos interpretativos e os diferentes tipos de juspositivismo.
Positivismo jurídico e juízo de valores
O positivismo é uma corrente fi losófi ca e idealista que procura objetivar o 
estudo da ciência. É considerada por seu criador, Augusto Comte (1978), a 
“verdadeira fi losofi a”, e ele afi rmava que as fases anteriores do desenvolvimento 
das ciências eram condições necessárias para atingir esse patamar. No contexto 
jurídico, o positivismo jurídico é uma espécie de evolução do Direito jusnatural 
que utiliza o contexto codifi cista e antropocêntrico do século XIX para criar 
uma base teórica avalorativa e desenvolver uma ciência jurídica de fato, a 
partir de uma “teoria pura” que estuda a norma tal como dada pelo legislador.
A fundação teórica dada pelo positivismo filosófico pode ser extraída do 
seguinte texto de Comte (1978, p. 36-37):
Enfim, no estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibili-
dade de obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do 
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universo, a conhecer as causas íntimas dos fenômenos, para preocupar-se 
unicamente em descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e da 
observação, as suas leis efetivas, a saber, as suas relações invariáveis de su-
cessão e de similitude. A explicação dos fatos, reduzida então a seus termos 
reais, se resume de agora em diante à ligação estabelecida entre os diversos 
fenômenos particulares e a alguns fatos gerais, cujo número o progresso da 
ciência tende cada vez mais a diminuir.
A partir do positivismo filosófico de Comte, para o qual as ciências devem se 
ater aos fatos e à ligação dos fenômenos conhecidos, deixando de lado questões 
metafísicas ou demasiadamente complexas — utilizando-se da observação 
desses fenômenos e da reflexão lógica sobre eles —, os diversos ramos do 
positivismo, histórico, sociológico e jurídico tornam a sua atenção para aspectos 
endógenos (internos) aos seus ramos científicos, ignorando a influência de 
aspectos exógenos (exteriores). O positivismo jurídico, por sua vez, segundo 
Norberto Bobbio (1995, p. 45-46), ocorre no ocaso do jusnaturalismo:
Para que o Direito Natural perca terreno, [...] é preciso que a filosofia jusna-
turalista seja criticada a fundo e que as concepções, ou, ainda, os “mitos” 
jusnaturalistas (estado de natureza, lei natural, contrato social...), desapareçam 
da consciência dos doutos. Esses mitos estão ligados a uma concepção filosó-
fica racionalista (a filosofia iluminista, cuja matriz se encontra no pensamento 
cartesiano). Ora, é precisamente no quadro geral da polêmica antirracionalista, 
conduzida na primeira metade do século XIX pelo historicismo (movimento 
filosófico-cultural), que acontece a “dessacralização” do Direito Natural.
O surgimento do positivismo jurídico teve de passar por essa polêmica acon-
tecida no clima do romantismo.
O autor (Gustavo Hugo), entendendo o Direito Natural como filosofia do Direito 
Positivo, o resolve num conjunto de conceitos jurídicos gerais elaborados com 
base no Direito Positivo (não no Direito Positivo de um Estado específico, 
mas naquele existente, ou que pode existir, em qualquer Estado. Usando uma 
terminologia moderna, podemos dizer que Hugo elabora mais do que uma 
“filosofia do Direito”, uma “teoria geral do Direito”. Com a redução do Direito 
Natural e da filosofia do Direito Positivo, a tradução jusnaturalista é esgotada 
(mesmo que ela, naturalmente, vá ressurgir por outras vias). A obra de Hugo 
assinala a passagem da filosofia jusnaturalista para a juspositivista (lato sensu). 
Esse pensamento, aflorado na doutrina alemã, viria a encontrar eco no 
trabalho desenvolvido por Bentham na Inglaterra, onde, segundo Bobbio 
(1995, p. 92):
[...] toda a obra de Bentham é guiada pela convicção de que é possível es-
tabelecer uma ética objetiva. É precisamente essa convicção que justifica a 
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sua fé no legislador universal, na possibilidade, portanto, de estabelecer leis 
racionais válidas para todos os homens. 
Assim, aproveitando-se da secularização jusnaturalista, o juspositivismo 
utiliza a filosofia de um Direito Humanista em oposição ao Direito canônico 
para a construção de um Direito científico que poderia ocorrer em qualquer 
Estado, deixando a principiologia jusnaturalista de lado para privilegiar o 
sistema organizado a ser estudado a partir dele mesmo. Para tanto, a escola 
do positivismo jurídico buscou a isenção da ciência jurídica em relação à 
valoração do seu objeto, ou seja:
[...] o positivismo jurídico nasce do esforço de transformar o estudo do Direito 
numa verdadeira e adequada ciência que tenha as mesmas características das 
ciências físico-matemáticas, naturais e sociais. Ora, a característica funda-
mental da ciência consiste em sua avaloratividade, isto é, na distinção entre 
juízos de fato e juízos de valor e na rigorosa exclusão destes últimos do campo 
científico: a ciência consiste somente em juízos de fato. O motivo dessa dis-
tinção e dessa exclusão reside na natureza diversa desses dois tipos de juízo: o 
juízo de fato representa uma tomada de conhecimento da realidade, visto que 
a formulação de tal juízo tem apenas a finalidade de informar, de comunicar 
a um outro a minha constatação; o juízo de valor representa, ao contrário, 
uma tomada de posição frente à realidade, visto que a sua formulação possui 
a finalidade não de informar, mas de influir sobre o outro, isto é, de fazer 
com que o outro realize uma escolha igual à minha e, eventualmente, siga 
certas prescrições minhas (por exemplo, diante do céu rubro do pôr do sol, 
se eu digo “o céu é rubro”, formulo um juízo de fato; se digo “este céu rubro 
é belo”, formulo um juízo de valor) (BOBBIO, 1995, p. 135).
Assim, para tornar-se ciência universal, o Direito deveria abandonar o 
estudo de juízos que adjetivam ou tomam posse de determinada posição em 
detrimento de entendimentos genéricos e aplicáveis a todos, desconstruindo 
a casuística em função da normatividade.
Em contraste ao pensamento juspositivista, encontra-se a chamada juris-
prudência dos valores, baseada na principiologia jusnaturalista, que é vista 
como uma visão “pós-moderna” do Direito. Conforme ensina Karl Larenz 
(1991, p. 297-298):
[...] ao interpretar as leis (com vista à solução de “casos jurídicos”), não se pode 
descurar-se que nelas não se trata de um qualquer tipo de enunciados, mas 
de preceitos que hajam de ser seguidos, de bitolas de julgamento prescritas, 
em suma: de normas.
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O legislador que estatui uma norma, ou, mais precisamente, que intenta 
regular um determinado setor da vida por meio de normas, deixa-se nesse 
plano guiar por certas intenções de regulaçãoe por considerações de justiça 
ou de oportunidade, às quais subjazem em última instância determinadas 
valorações. Essas valorações manifestam-se no fato de que a lei confere 
proteção absoluta a certos bens, deixa outros sem proteção ou protege-os em 
menor escala; de que quando existe conflito entre os interesses envolvidos 
na relação da vida a regular faz prevalecer um em detrimento de outro, ou 
considera cada um dentro de um certo âmbito, na imposição ou proibição de 
certos modos de conduta, na cominação de “sanções” contra os infratores, 
na restrição ou negação de direitos, na imputação de riscos. Nesses termos, 
“compreender” uma norma jurídica requer o desvendar da valoração nela 
imposta e o seu alcance. A sua aplicação requer o valorar do caso a julgar 
em conformidade a ela, ou, dito de outro modo, acolher de modo adequado 
a valoração contida na norma ao julgar o “caso”. Diz, com razão, Joergensen 
que a peculiaridade da ciência do Direito e da jurisprudência dos tribunais é 
“terem de tratar quase exclusivamente com valorações”.
Assim, ao passo em que o “realismo” juspositivista encara a norma tal 
como escrita, o “realismo” valorativo reconhece que as normas possuem 
ideais e valores ou mesmo interesses que maculam a gênese e a aplicação da 
norma, estando o julgador, o jurista e o legislador fadados aos seus próprios 
vieses. Assim:
[...] “aplicar” uma norma se trata sempre de uma valoração, é algo que certa-
mente não se manifesta quando a previsão da norma está formulada em termos 
de conceitos fáticos isentos de valoração, aos quais possa ser “subsumida” 
a situação fática, mediante um procedimento lógico. Um tal procedimento 
postula o constatar-se que todas as notas distintivas que formam o conceito 
hão de estar presentes na situação sub judice. Se essa constatação puder ser 
feita, então decorre daí que, em conformidade com as leis da lógica, a situação 
de fato cai dentro do conceito.
Mas para se chegar a essa constatação, necessita-se as mais das vezes de uma 
série de juízos intermédios ou auxiliares. A lei define, por exemplo, “coisas 
consumíveis” como “coisas móveis cujo uso regular consiste no consumo ou 
na alienação” (§ 42 do BGB). O que seja “uso regular” de uma coisa sabe-o o 
julgador pela sua experiência social. Requer-se-lhe, portanto, um juízo com 
base na experiência e um juízo desse tipo é, já por si, raramente “exato”. Nou-
tros casos, há que julgar uma conduta humana, por exemplo, se nela se expressa 
uma determinada vontade de efeitos jurídicos. Um tal juízo não é uma pura 
constatação de fatos, reclama antes uma interpretação (LARENZ, 1991, 298).
Ou seja, a aplicação de uma norma ao caso concreto depende de um juízo 
de valor que lhe dá sentido de acordo com o intérprete, e essa valoração 
preenche a norma por meio de processos de subsunção da norma à vontade 
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do intérprete. Portanto, não há como se falar em Direito sem reconhecer a 
valoração das normas e a falibilidade humana.
Assim, o juspositivismo e o juízo de valores são visões antagônicas do 
Direito. A primeira corrente encara o Direito como ciência isenta e aplicável 
por intermédio de uma lógica cartesiana endógena, e a segunda reconhece a 
submissão do Direito aos valores dos seus criadores e intérpretes. A relação 
entre as duas correntes, no entanto, é de complementariedade, não de exclusão, 
uma vez que, para o desenvolvimento de uma ciência jurídica, é necessária uma 
análise avalorativa das normas para que se possa traçar uma teoria sistêmica 
de um determinado ordenamento jurídico posto. A visão crítica de uma análise 
valorativa é capaz de identificar falhas de sistema a serem corrigidas ou mesmo 
encarar o estudo avalorativo de forma mais fiel à realidade ao agregar estudos 
valorativos à mesma ciência.
Na prática, as visões valorativas e avalorativas do Direito são utilizadas 
de forma estratégicas pelos juristas para firmar as suas próprias posições, 
devendo o acadêmico dominar ambas as técnicas para a sua utilização na 
práxis jurídica ou mesmo na construção doutrinária.
O positivismo jurídico é um ramo que crê que o Direito deve abster-se de examinar 
valores na aplicação da lei e na sua interpretação. Já a jurisprudência dos valores 
remete aos princípios jusnaturalistas para trabalhar o sistema jurídico a partir dos 
valores pessoais dos seus operadores.
A influência do positivismo jurídico 
na escola da exegese
O positivismo, como visto, é uma escola jurídica que encontrou proeminência 
no século XIX a partir de uma abordagem avalorativa do Direito. Um dos 
seus principais expoentes é o fenômeno da codifi cação, resumido por Bobbio 
(1995, p. 63):
Em 1804, entrou em vigor, na França, o Código de Napoleão. Trata-se de um 
acontecimento fundamental, que teve uma ampla repercussão e produziu 
uma profunda influência no desenvolvimento moderno e contemporâneo. 
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Hoje estamos acostumados a pensar no Direito em termos de codificação, 
como se ele devesse necessariamente estar encerrado num código. Isso é uma 
atitude mental particularmente enraizada no homem comum e da qual os 
jovens que iniciam os estudos jurídicos devem procurar se livrar. Com efeito, 
a ideia de codificação surgiu por obra do pensamento iluminista na segunda 
metade do século XVIII e atuou no século passado: portanto, há apenas dois 
séculos, o Direito se tornou Direito codificado. Por outro lado, não se trata de 
uma condição comum a todo o mundo e a todos os países civilizados. Basta 
pensar que a codificação não existe nos países anglo-saxônicos. Na realidade, 
a codificação representa uma experiência jurídica dos últimos dois séculos 
típica da Europa continental.
A codificação, pode ser considerada fruto do pensamento juspositivista 
a partir da incorporação de uma racionalidade e sistematização da norma. O 
código napoleônico é uma representação perfeita da lógica de uma lei universal 
a partir da atualização e codificação de preceitos romanos e da cristalização 
da doutrina e jurisprudência correntes na época. A partir das Guerras Napo-
leônicas e do Império Francês, a sua notoriedade se expandiu, tornando-se um 
dos diplomas legais mais influentes da sua época e com formato seguido até 
os dias atuais em sistemas jurídicos derivados do sistema continental europeu.
Segundo Norberto Bobbio (1995), a codificação, por sua vez, é uma das 
principais causas da criação da escola hermenêutica da exegese, sendo que:
[...] esta serve, com efeito, como uma espécie de prontuário para resolver, se não 
todas, ao menos as principais controvérsias. Como pôs em evidência Ehrlich 
[...], os operadores do Direito (juízes, administradores públicos, advogados) 
procuram sempre a via mais simples e mais curta para resolver uma dada 
questão. Ora, é indubitável que, existindo um código, a via mais simples e 
mais curta consiste em procurar a solução no próprio código, desprezando as 
outras fontes das quais se poderia deduzir uma norma de decisão (costume, 
jurisprudência, doutrina, etc.), sendo o manuseio dessas fontes mais complexo 
e difícil do que o Direito codificado (BOBBIO, 1995, p. 78).
A escola da exegese é uma consequência da codificação e do juspositi-
vismo por se tratar de uma visão hermenêutica em que a interpretação deve 
ser restrita à busca da vontade do legislador e aos aspectos literais da norma, 
na qual o código deve ser a principal fonte de resolução de conflitos. Para a 
escola da exegese:
[...] o argumento fundamental que guia os operadores do Direito no seu racio-
cínio jurídico é o princípio da autoridade, isto é, a vontade do legislador que 
pôs a norma jurídica;pois bem, com a codificação, a vontade do legislador 
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é expressa de modo seguro e completo e, aos operadores do Direito, basta 
ater-se ao ditado pela autoridade soberana (BOBBIO, 1995, p. 78).
Em contexto, se a legislação é fruto do trabalho do “legislador universal” 
e as suas normas são fruto de um raciocínio lógico que produz partes de um 
sistema coeso e racional, é natural que a autoridade do legislador deva ser 
respeitada e que as normas sejam interpretadas de acordo com a sua vontade 
originária, podendo ser depreendida do próprio texto normativo. Também é 
nesse contexto que é construída a figura do juiz “boca da lei”, como regra 
advinda do pensamento de Montesquieu, fundado na separação dos poderes, 
que contextualiza a formação do ordenamento jurídico “iluminista” do século 
XIX, segundo o qual:
[...] a justificação jurídico-filosófica da fidelidade ao código é representada 
pela doutrina da separação dos poderes, que constitui o fundamento ideológico 
da estrutura do Estado moderno (fundada na distribuição das competências, 
portanto na atribuição das três funções fundamentais do Estado — a legis-
lativa, a executiva e a judiciária — a três órgãos constitucionais distintos). 
Com base nessa teoria, o juiz não podia criar o Direito, caso contrário in-
vadiria a esfera da competência do poder legislativo, mas devia, de acordo 
com a imagem de Montesquieu, ser somente a boca través da qual fala a lei 
(BOBBIO, 1995, p. 79).
Finalmente, Bobbio (1995) elenca como característica da exegese o prin-
cípio da certeza do Direito, segundo o qual os associados podem ter do 
Direito um critério seguro de conduta somente conhecendo antecipadamente, 
com exatidão, as consequências do seu comportamento. Ora, a certeza só é 
garantida quando existe um corpo estável de leis, e aqueles que devem resolver 
as controvérsias se fundam nas normas nele contidas, não em outros critérios. 
Esse princípio se relaciona ao próprio movimento de codificação e respeito à 
autoridade do legislador como forma de garantir a segurança jurídica.
Por consequência dessas características, Larenz (1991) destaca que os 
métodos da escola da exegese se diversificam em função dos elementos de 
interpretação e do grau de liberdade conferido aos juízes:
O método tradicional ou clássico se valeu do meio gramatical e da lógica 
interna. Foi adotado pela chamada escola da exegese, que se formou na França 
no início do século XIX. O pensamento predominante da escola era codicista, 
de supervalorização do código.
Pensavam os seus adeptos que o código encerrava todo o Direito. Não have-
ria qualquer outra fonte jurídica. Além do código, o intérprete não deveria 
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pesquisar o Direito na organização social, política ou econômica. A sua 
função limitava-se ao estudo das disposições legais. Em seu teor, o código era 
considerado absoluto, com regras para qualquer problema social (LARENZ, 
1991, p. 158).
Assim, os métodos de interpretação da escola da exegese, conforme a 
teoria juspositivista, buscam no código, por meio de interpretação gramatical 
e lógica interna, a resolução de conflitos, refutando elementos exógenos ao 
Direito posto. Conforme o autor (LARENZ, 1991, p. 158):
O principal objetivo da exegese era revelar a vontade do legislador, daquele 
que planejou e fez a lei. A única interpretação correta seria a que traduzisse o 
pensamento do seu autor. Consequência dos postulados expressos pela escola 
foi o entendimento de que o Estado era o único autor do Direito, pois detinha 
o monopólio da lei e do código. Como os tradicionalistas não admitiram outra 
fonte normativa, a sociedade ficava impedida de criar o Direito costumeiro. 
Em resumo, os postulados básicos da escola da exegese foram:
— dogmatismo legal;
— subordinação à vontade do legislador;
— o Estado como único autor do Direito.
Segundo Larenz (1991, p. 158), o declínio da escola da exegese (assim 
como o da escola do juspositivismo) “[...] teve início no último quartel do 
século XIX, na época em que o Poder Judiciário chamou a si a importante 
tarefa de adaptar os velhos textos às necessidades do tempo”. A jurisprudência 
se voltou novamente à atualização das normas aos novos tempos. Para isso, 
utilizou o preenchimento de “conceitos abertos”, até então não reconhecidos 
pelo positivismo, para construir um novo Direito, baseado no uso de princípios 
jusnaturalistas. Isso caracteriza o Direito pós-moderno, com a contradição 
constante da doutrina que ora alterna o seu direcionamento à escola avalora-
tiva positivista, como é o caso da corrente análise econômica do Direito, ou 
valorativa, como as doutrinas da constitucionalização do Direito Privado 
e privatização do Direito Constitucional.
Os diferentes “positivismos jurídicos”
Segundo a doutrina especializada, representada aqui por Norberto Bobbio 
(1995), há duas correntes principais dentro de uma perspectiva doutrinária do 
positivismo jurídico. A primeira se caracteriza pela exacerbação da legislação 
como única fonte da lei e como o alpha e o omega do Direito, como fonte 
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primária e único método de resolução de confl itos. A segunda é pautada pela 
identifi cação da instrumentalidade da legislação como um meio de atingir a 
justiça e outros valores que circundam a ciência jurídica positiva. Segundo o 
autor, trata-se de uma classifi cação ideológica do positivismo jurídico:
O positivismo jurídico, além de uma teoria, é também uma ideologia? Para res-
ponder a essa indagação, devemos, preliminarmente, esclarecer os conceitos de 
teoria e de ideologia. [...] Dissemos que a teoria é a expressão da atitude puramente 
cognoscitiva que o homem assume perante uma certa realidade e é, portanto, 
constituída por um conjunto de juízos de fato, que têm a única finalidade de 
informar os outros acerca de tal realidade. A ideologia, em vez disso, é a expres-
são do comportamento avaliativo que o homem assume face a uma realidade, 
consistindo num conjunto de juízos de valores relativos de tal realidade, juízos 
estes fundamentados no sistema de valores acolhido por aquele que o formula, 
e que tem o escopo de influírem sobre tal realidade (BOBBIO, 1995, p. 223).
Segundo Bobbio (1995), portanto, ao examinar a literatura positivista e 
classificá-la, não se examinam fatores objetivos da aplicação da doutrina, 
senão a posição valorativa da crença dos seus autores, o que faz com que essa 
distinção seja efetivamente uma classificação sobre a ideologia de correntes 
distintas de doutrina juspositivista.
O autor complementa essa ideia ao sustentar o plano ideológico do posi-
tivismo jurídico:
Supondo-se que seja correto falar de uma ideologia típica de todo o positivis-
mo jurídico, no que consiste isso? Podemos dizer que tal (suposta) ideologia 
consiste em afirmar o dever absoluto ou incondicional de obedecer à lei 
enquanto tal. É evidente que com tal afirmação não estamos mais no plano 
teórico, mas no plano ideológico, visto que ela não se insere na problemática 
(cognoscitiva) que concerne à definição do Direito, mas naquela (valorativa) 
relativa à determinação do nosso dever: não estamos mais diante de uma dou-
trina científica, mas de uma doutrina ética do Direito (BOBBIO, 1995, p. 225).
Assim, a divisão dessa doutrina ética do Direito sedá não pelo questio-
namento sobre a necessidade de obedecer a lei enquanto tal, ética comum a 
todo o positivismo, mas sobre o pano de fundo que rege esse predicado. Para 
o chamado positivismo dito extremista:
[...] a afirmação do dever absoluto de obedecer à lei encontra sua explicação 
histórica no fato de que, com a formação do Estado moderno, não só a lei se 
tornou a fonte única do Direito, mas o Direito estatal-legislativo se tornou o 
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único ordenamento normativo, o único sistema de regulamentação do compor-
tamento do homem em sociedade; e, como a valoração de um comportamento 
se funda numa norma, podemos acrescentar: o Direito estatal-legislativo se 
tornou o critério único e exclusivo para valoração do comportamento social 
do homem. Isso sucedeu pelo fato de, na época moderna, o Estado não só ter 
emergido e se imposto sobre todas as outras organizações do tipo político como 
também ter se tornado o único portador dos valores morais, desautorizando 
e substituindo a Igreja (a saber, as instituições religiosas em geral). Estando 
assim as coisas, compreende-se porque, segundo o positivismo jurídico, o 
dever de obedecer às leis é absoluto e incondicionado. [...] O absolutismo ou 
incondicionalismo da obediência à lei significa à ideologia positivista também 
outra coisa: significa que a obrigação de obedecer à lei não é apenas uma 
obrigação jurídica, mas também uma obrigação moral (BOBBIO, 1995, p. 226).
Logo, a lei deve ser obedecida, pois existe. Não há, para essa corrente, 
necessidade de outro valor que condicione a obediência à lei, senão uma 
própria e inerente obrigação moral, absoluta e incondicionada.
Em contraste, a versão moderada do positivismo jurídico:
[...] afirma que o Direito tem um valor enquanto tal, independentemente do 
seu conteúdo, mas não porque (como sustenta a versão extremista) seja sempre 
por si mesmo justo (ou com certeza o supremo valor ético) pelo simples fato 
de ser válido, mas porque é o meio necessário para realizar um certo valor, 
o da ordem (e a lei é a forma mais perfeita de Direito, a que melhor realiza a 
ordem). Para o positivismo ético, o Direito, portanto, tem sempre um valor, 
enquanto para a sua versão extremista trata-se de um valor final, para a mo-
derada trata-se de um valor instrumental (BOBBIO, 1995, p. 229).
Ou seja, para o juspositivismo moderado, a obediência à lei justifica-se pela 
busca de um valor maior, seja a ordem ou a justiça; o Direito é um instrumento 
para alcançar determinados fins.
Para tanto, elenca Bobbio (1995) dois requisitos que garantem a instrumen-
talidade e neutralidade da lei ecoada na doutrina moderada do positivismo:
Generalidade da lei — a lei é geral no sentido de que disciplina o com-
portamento não de uma única pessoa, mas de uma classe de pessoas. Desse 
modo, a lei realiza um outro aspecto ou concepção da justiça: a igualdade 
forma, que consiste em tratar de modo igual as pessoas que pertencem à 
mesma categoria.
O positivismo jurídico10
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Abstração da lei — a lei é abstrata no sentido de que comanda não uma ação 
singular, mas uma categoria de ações. De tal modo ela realiza uma exigência 
de fundamental importância para que a ordem possa ser conservada: a certeza 
jurídica, que consiste na possibilidade de cada pessoa poder, no âmbito de 
um sistema normativo, prever as consequências do próprio comportamento.
Assim, a lei deve ser geral e disciplinar a totalidade dos sujeitos presentes 
em um Estado e deve ser abstrata o suficiente para comportar uma série de 
ações. No mesmo sentido, deve ser específica o suficiente para que os sujeitos 
possam identificar as consequências do seu comportamento. Em suma, o con-
ceito de ordem do positivismo jurídico moderado é bastante similar ao conceito 
geral de segurança jurídica, somente alcançável em um sistema coeso e claro.
A versão moderada do positivismo jurídico difere da extremista em relação à valoração 
do próprio sistema jurídico. Para a versão moderada, o Direito é um meio para atingir a 
determinadas finalidades, enquanto, para a versão extremista, as leis são um fim nelas 
mesmas e devem ser obedecidas por existirem.
BOBBIO, N. O positivismo jurídico: lições de filosofia do Direito. São Paulo: Ícone, 1995. 
(Elementos de Direito).
COMTE, A. Curso de filosofia positiva; Discurso sobre o espírito positivo; Discurso preliminar 
sobre o conjunto do positivismo; Catecismo positivista. São Paulo: Abril Cultural, 1978. 
(Os Pensadores).
LARENZ, K. Metodologia da ciência do Direito. 3. ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1991.
Leitura recomendada
FERRAZ JUNIOR, T. S. Introdução ao estudo do Direito: técnica, decisão, dominação. 4. 
ed. São Paulo: Atlas, 2003.
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