Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Prof. Odair Dias UNIDADE I Política Setorial – Habitação Questão social No livro Serviço Social na Contemporaneidade, a autora traz o conceito de Cerqueira Filho e amplia o debate, explicitando que não é só a luta de classes na “fábrica”, mas também há diversas formas de lutas e manifestações da luta de classes. Por questão social, no sentido universal do termo, queremos significar o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o surgimento da classe operária impôs no curso da constituição da sociedade capitalista. Assim, a questão social está fundamentalmente vinculada ao conflito entre capital e trabalho (CERQUEIRA FILHO apud IAMAMOTO, 2000, p. 203). Conceituando questão social Direito à cidade O conceito foi desenvolvido pelo sociólogo francês Henri Lefebvre em seu livro de 1968 Le droit à la ville. [...] De acordo com Harvey: “O direito à cidade é muito mais do que a liberdade individual para acessar os recursos urbanos: é o direito de mudar a nós mesmos, mudando a cidade”. Conceituando direito à cidade Os problemas habitacionais existentes atualmente no Brasil são frutos de um processo de urbanização desordenado ocorrido durante o final do século XIX e todo o século XX, como veremos a seguir. Esses processos fortalecem as estruturas fundiárias, alimentam os conflitos e constituem elementos explicativos da desigualdade físico-territorial ainda vigente no país e, principalmente, da desigualdade social, na despossessão do/a trabalhador/a assalariado/a da terra para morar. Rodrigues (2013) sinaliza que a Lei de Terras de 1850, que ordena a situação fundiária por meio da compra e venda de terras confirma o poder político dos proprietários, a relação com o fim da escravidão em 1888, com a emergência do trabalho livre e demarca mudanças na sociedade brasileira para o evento da urbanização. Somava-se a esse processo o fluxo crescente e constante de trabalhadores/as imigrantes que aportaram no Brasil, ao fim do século XIX e início do século XX (TOLEDO, 2003). No fim do século XIX, no Brasil, há uma conjunção de acontecimentos que influenciaram decisivamente a ampliação e a formação dos espaços urbanos no país. O fim da escravidão fez com que milhares de negros fossem expulsos do campo e migrassem para a cidade. Concomitantemente, imigrantes europeus chegaram ao Brasil para trabalhar no campo e também na nascente indústria brasileira. Esses fatores provocaram o aumento da população nas cidades, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, fato que acarretou uma demanda por moradia, transporte e demais serviços urbanos, até então inédita. (MARICATO, 1997). Quadro “Operários” de Tarsila do Amaral, pintado em 1933. Arte como forma de expressão do processo de industrialização Fonte: http://tarsiladoamaral.com.br São traços que remetem, segundo a autora, a uma colonização processada por meio das sesmarias e das capitanias hereditárias, que definiram formas de apropriação da terra e influíram na consolidação do capitalismo brasileiro, principalmente em termos de um patrimonialismo que privatiza a terra. O censo de 1907 no Brasil registrou menos de 3000 empresas industriais, dessas, 905 empregavam 4 ou menos trabalhadores. Já entre 1907 e 1920, a produção industrial do país quase triplicou. (CFESS, 2016). Entre 1920 e 1940 aumentou 7.800%, nessa altura o país possuía mais de 70.000 indústrias, e um total de 1,4 milhão de trabalhadores, a aliança das oligarquias de Minas Gerais e São Paulo deu a elas o controle da política nacional. Em 1893, os estrangeiros eram 55% dos residentes na cidade de São Paulo e ocupavam 84% dos empregos nas indústrias manufatureira e artística, 81% no ramo dos transportes e 72% nas atividades comerciais. No início do século XX, 92% dos trabalhadores na indústria eram estrangeiros e em 1911, no setor têxtil, cerca de 75% da força de trabalho era estrangeira, em sua maioria italianos, seja no campo, seja na cidade. (DOMINGUES, 2006) Inicialmente, a primeira medida do governo brasileiro foi oferecer crédito às empresas privadas para que elas produzissem habitações. Todavia, os empresários não obtiveram lucros com a construção de habitações individuais devido à grande diferença entre os preços delas e das moradias informais; alguns passaram a investir em loteamentos para as classes altas, enquanto outros edificaram prédios para habitações coletivas, que passaram a figurar como a principal alternativa para que a população urbana pobre pudesse permanecer na cidade, especificamente no centro, onde estaria próxima das indústrias e de outras possibilidades de trabalho. (PECHMAN & RIBEIRO, 1983). Apesar de financiar a construção das habitações coletivas, o poder público considerava os cortiços degradantes, imorais e uma ameaça à ordem pública. Assim, tendo como referência os ideais positivistas, o novo poder republicano realiza, no início do século XX, uma reforma urbana no Rio de Janeiro para melhorar a circulação de mercadorias, serviços e pessoas na cidade. Foram demolidos 590 prédios velhos para construção de 120 novos edifícios, o que significou a expulsão de diversas famílias pobres de suas moradias, a ocupação dos subúrbios e a formação das primeiras favelas do Rio de Janeiro. (MARICATO, 1997). Fonte: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/p essoa26387/ze-keti “Acender as Velas” Zé Keti, 1964 Voltando para a Representação Popular Acender as velas Já é profissão Quando não tem samba Tem desilusão É mais um coração Que deixa de bater Um anjo vai pro céu Deus me perdoe Mas vou dizer O doutor chegou tarde demais Porque no morro Não tem automóvel pra subir Não tem telefone pra chamar E não tem beleza pra se ver E a gente morre sem querer morrer Por qual teórico (a) foi desenvolvido o conceito de “Direito à Cidade”? a) Ermínia Maricato. b) Karl Marx. c) Istvan Meszaros. d) Henri Lefebvre. e) Hannah Arendt. Interatividade Por qual teórico (a) foi desenvolvido o conceito de “Direito à Cidade”? a) Ermínia Maricato. b) Karl Marx. c) Istvan Meszaros. d) Henri Lefebvre. e) Hannah Arendt. Resposta Também nesse período, outras cidades seguiram o modelo de planejamento de Paris, que combinava saneamento, embelezamento, circulação e segregação territorial. Esse foi o caso de Belo Horizonte, que, segundo Le Ven (1977), adotou um projeto segregacionista, buscando determinar quais espaços poderiam ser ocupados e por quais grupos sociais. Assim, antes mesmo da inauguração, a cidade já tinha duas áreas ocupadas irregularmente – a do Córrego do Leitão e a do Alto da Estação –, que abrigavam três mil pessoas ao todo. (GUIMARÃES, 1992). Modelo segregacionista “A questão urbana, como particularidade da “questão social”, é a expressão da distribuição desigual das atividades humanas na organização socioespacial do processo de produção e reprodução do capital e é também forma de resistência e de luta entre as classes sociais que compõem a estrutura social no contexto das cidades”. (CFESS, 2016 apud BURNETT, 2012; SILVA, 1989). Assim, desde os anos 1930, a habitação constituiu-se numa força ideológica para a formação do/a trabalhador/a, fundamental na reprodução da força de trabalho, em um momento de profundas mudanças no Estado e na sociedade. É nessa perspectiva que se colocaram o incentivo do acesso à casa própria (ainda que fossem moradias autoconstruídas em áreas periféricas ou rurais, porque os trabalhadores recebiam um salário mínimo insuficiente para atender às suas necessidades sociais), a ampliação dos serviços de transporte e obras de saneamento, mecanismos importantes para manutenção da ordem econômica, política e social e valorização da família nuclear, monogâmica, dentro do espírito burguês. Se ampliou a aceitação, entre os diversos segmentos sociais e setores governamentais, da necessidade da intervenção estatal na produçãode moradias para os/as trabalhadores/as. Relação entre habitação e a formação do(a) trabalhador(a) Cortiço na área central do Rio de Janeiro, primeira década do século XX Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Cortico-na-area-central-do-Rio-de-Janeiro-primeira- decada-do-seculo-XX-Cada-uma-das_fig6_236334409 Dessa forma, do início do século XX até a década de 1930, diversas cidades brasileiras tiveram o problema da habitação agravado, com o poder público atuando de maneira pontual e ineficiente. Somente a partir do fim da década de 1930, quando a industrialização e a urbanização do país ganham novo impulso com a Revolução de 30, é que começa a se esboçar uma política para a habitação. É nesse momento, também, que a ciência e a técnica ganham maior relevância que os conceitos de embelezamento e os problemas urbanos em geral são colocados na chave do social. (MOTTA, 2009). O golpe que leva ao poder Getúlio Vargas que havia concorrido à eleição pela aliança liberal, mas derrotado, se deu com apoio de militares (em especial dos tenentes que já vinham se posicionando politicamente). O presidente deposto Washington Luiz foi também acusado de fraude eleitoral, importante lembrar que a partir deste período se acentua a industrialização do Brasil. Fonte: https://brainly.com.br/tarefa/30133532 Qual presidente ascende ao poder com a chamada Revolução de 30? a) Júlio Prestes. b) Café Filho. c) Juscelino Kubitscheck. d) Getúlio Vargas. e) Ernesto Geisel. Interatividade Qual presidente ascende ao poder com a chamada Revolução de 30? a) Júlio Prestes. b) Café Filho. c) Juscelino Kubitscheck. d) Getúlio Vargas. e) Ernesto Geisel. Resposta A questão urbana, como particularidade da “questão social”, é a expressão da distribuição desigual das atividades humanas na organização socioespacial do processo de produção e reprodução do capital e é também forma de resistência e de luta entre as classes sociais que compõem a estrutura social no contexto das cidades. É interessante ressaltar uma reflexão de Lojkine (1981 apud Silva, 1989, p. 16) que, ao afirmar o urbano como elemento-chave das relações de produção e um dos lugares decisivos da luta de classes, dialoga com Marx e Engels na crítica de que os mesmos fazem sobre a separação da cidade e do campo, que representa, nesse movimento, a divisão entre trabalho material e trabalho intelectual. Trata-se de uma desocultação necessária do discurso ideológico dominante (SANT’ANA, 2013), que se complementa na afirmação de Iamamoto (2007, p. 89) ao se referir à articulação existente entre relações de propriedade e relações de trabalho. Continuando... A propriedade fundiária é um pressuposto histórico e fundamento permanente do regime capitalista de produção, comum a outros modos históricos de produzir. Entretanto, o capital cria a forma histórica específica de propriedade que lhe convém, valorizando este monopólio na base da exploração capitalista, subordinando a agricultura ao capital. Para Bonduki (1998), são inúmeros os problemas ocasionados pela presença cada vez maior de trabalhadores/as com suas moradias localizadas em áreas segregadas, com deficiência dos serviços de água e esgoto, constituindo ameaças à saúde pública, e cujas respostas governamentais convergiram para a criação de uma legislação de controle do uso do solo, com enfoque higienista. (CFESS, 2006, P.20). Os anos 1940 trouxeram o início da atuação do Estado na produção direta de habitação para trabalhadores/as, ainda que não se constitua em uma política urbana. Ao contrário, segundo Bonduki (1998), a ação dos Institutos e as Caixas de Aposentadoria e Pensões (IAP e CAP), organizados por categoria laboral, primeiros a atuar no setor de habitação social, foi questionada, tendo em vista sua finalidade social. É importante observar que, concomitante a esse processo, os/as trabalhadores/as continuavam a buscar soluções habitacionais compatíveis com os baixos salários recebidos, na ocupação irregular de áreas periféricas, em condições inadequadas de habitabilidade. Em 1946, foi criada a Fundação da Casa Popular (FCP), cujo objetivo era intervir no problema habitacional, com oposições fortíssimas de vários segmentos, tanto aliados, quanto críticos ao governo. Destaca-se que foram criados outros órgãos municipais e estaduais no interior do país, tendo atribuições na área da assistência social, para responder ao problema da carência e precarização de moradias. Em 1956, foi promulgada a denominada “Lei das Favelas” (Lei 2.875), visando a intervenções pontuais na área urbana. Segundo Vieira (1983), a demanda habitacional durante o governo Vargas, em 1950, estava em torno de 2,4 milhões de moradias e as cidades configuram aspectos da desigualdade social na ausência de conforto e higiene para parte significativa da população brasileira, que habitava em favelas ou em loteamentos e conjuntos habitacionais distantes dos centros urbanos. (BONDUKI, 1998). Em síntese, as ações no campo da produção de moradia popular, até meados dos anos 1960, com a criação do BNH (Banco Nacional de Habitação), podem ser caracterizadas como dispersas nacionalmente e pouco significativas em termos de escala e de formas públicas de financiamento. Concomitante a esse cenário, desde os anos 1930, o real perfil da intervenção do Estado no campo da moradia popular foi marcado por políticas voltadas tanto para a erradicação, quanto para a integração subordinada e excludente de favelas, mocambos e cortiços às cidades. Tais ações concentraram-se notadamente nas principais cidades – palco do desenvolvimento urbano-industrial desigual e combinado do país – que sofreram os impactos do processo de expropriação da terra no campo e da mudança demográfica da população de rural para urbana, a partir dos anos 1960, como observado nas capitais da região sudeste. Em 1967, é implementado um modelo de política habitacional nacional com o BNH, que, sob um ideário desenvolvimentista, produziu moradias, “caracterizando-se pela gestão centralizada, ausência de participação comunitária, ênfase na produção de casas prontas por empreiteiras, localização periférica e projetos medíocres” (BONDUKI, 1998, p. 319). O BNH, como gestor de um sistema de financiamento (Sistema Financeiro de Habitação – SFH), possibilitou verba para o setor, tanto de depósitos compulsórios do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), quanto dos depósitos voluntários do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), para a operacionalização de um conjunto de programas federais, de uma agenda de distribuição de recursos e uma rede de agências locais responsáveis pela operação direta das políticas e pela mudança no perfil, com a verticalização das cidades. “Cidade de Deus”, cuja história se dá entre as décadas de 60 e 80, descreve os reflexos da segregação espacial e as consequências diretas do abandono do poder público quanto à infraestrutura e condições básicas de moradia na vida dos moradores do local. Sugestão de filme: Cidade de Deus Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/1/10/CidadedeDeus.jpg Em 1964, após o Golpe Militar que derrubou o governo João Goulart, o modelo de política habitacional implantou um conjunto de estratégias e “características que deixaram marcas importantes na estrutura institucional e na concepção dominante de política habitacional nos anos que se seguiram” (BRASIL, 2004, p. 9). Essas características podem ser identificadas a partir de alguns elementos fundamentais; por exemplo, a criação do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), composto pela captação de recursos específicos: o Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS), arrecadação compulsória – portanto, recurso garantido para habitação – e o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), sendo que ambos chegaram a atingir um montante significativopara o investimento habitacional. O BNH tornou-se uma das principais instituições financeiras do país e a maior instituição mundial voltada especificamente para o problema da habitação. Para termos uma noção, em 1969, o BNH era o segundo maior banco em termos de recursos disponíveis, ficando atrás somente do Banco do Brasil. Vamos entender: os recursos do BNH/SFH eram oriundos do FGTS, ou seja, do trabalhador. No entanto, esse recurso estava sendo destinado para a população de classe média e alta. O trabalhador que contribuiu e tinha esse dinheiro investido em habitação não podia usufruir dos financiamentos ou aquisição da casa própria. Como podemos perceber, o objetivo do banco e do sistema de financiamento foi desvirtuado, elevando o déficit habitacional e a questão econômica. Em qual década foi criado o Banco Nacional da Habitação (BNH)? a) 1930. b) 1991. c) 1970. d) 1985. e) 1960. Interatividade Em qual década foi criado o Banco Nacional da Habitação (BNH)? a) 1930. b) 1991. c) 1970. d) 1985. e) 1960. Resposta A promulgação da Constituição Federal de 1988 resultou de um exercício político coletivo, ainda que cheio de contradições, para consolidação da esfera pública no Brasil, pela defesa dos espaços democráticos para expressão das necessidades sociais e políticas do conjunto da sociedade numa perspectiva de redefinição da relação entre Estado e sociedade civil. É nesse contexto que a Emenda Popular da Reforma Urbana, de iniciativa popular, tomou corpo a partir de mobilizações populares e ganhou concretude no capítulo na CF dedicado à política urbana, incorporando a função social da cidade, além da função social da propriedade e da gestão democrática das cidades. O deputado Ulysses Guimarães ergue um exemplar da Constituição no dia da promulgação. “Constituição Cidadã” Fonte: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/10/05/senadores-comemoram-os-32-anos-da- constituicao Nos anos 1990, a atuação governamental nos programas urbanos para a população de baixa renda sofreu interferências diversas, seja nos critérios clientelistas ou de favorecimento de alianças, como no Plano de Ação Imediata para a Habitação (PAIH), lançado em 1990, seja na restrição dos gastos (sob prescrição do Fundo Monetário Internacional – FMI) para a produção de moradias, como nos programas Habitar e Morar Município, em 1994, em tempos de Plano Real e governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Outros programas foram criados no governo FHC, como o Pró-Moradia (urbanização de áreas precárias), ou mesmo o Programa de Arrendamento Residencial (PAR), sem desempenho quantitativo, principalmente em termos do atendimento aos segmentos da classe trabalhadora. Assim, no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, tem-se como consequência dessa limitação macroeconômica imposta e suas consequências para a política urbana, a restrição do atendimento da demanda das populações de baixa renda, destacando-se o financiamento internacional, firmado em final de 1999 com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e com recursos do Orçamento Geral da União (OGU), para o desenvolvimento do Programa Habitar Brasil/BID (HBB), gerenciado pelo governo federal e com a verba redistribuída para os municípios. A desarticulação institucional da ação governamental, que se acentuou desde final dos anos 1980 sofreu mudanças em 2003 com a criação do Ministério das Cidades (MCidades), responsável pela política de desenvolvimento urbano, pela elaboração e implantação das políticas setoriais de habitação, saneamento ambiental, transporte e mobilidade urbana e pelos programas urbanos. Com o objetivo de construir um modelo participativo e democrático, numa concepção de desenvolvimento urbano integrado, no qual a moradia digna implica no direito à infraestrutura, saneamento ambiental, mobilidade e transporte coletivo, equipamentos sociais e serviços urbanos, na perspectiva do direito à cidade para todos/as o governo articulou a realização das conferências nos âmbitos municipais, estaduais e nacional, e a instituição do Conselho Nacional das Cidades (ConCidades) em 2004. Ainda em 2004, sob a tese da necessidade de uma política urbana orientadora das ações desenvolvidas nos diferentes níveis de governo, contemplando também investimentos e ações dos legislativos, judiciário e da sociedade civil, na perspectiva da construção da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano, pautada na ação democrática, descentralizada e com participação popular, foram elaborados documentos norteadores do trabalho em torno dos temas estruturantes do espaço urbano: política nacional de habitação, política de saneamento ambiental, política de mobilidade urbana sustentável e política nacional de trânsito. Política Nacional de Desenvolvimento Urbano A habitabilidade nos remete ao espaço ocupado, de forma digna, portanto, para Santos (1994), o papel do território na sua função social reforça a ideia de pertencimento a um espaço que favorece e potencializa as relações humanas. Isso nos faz refletir sobre a condição das moradias “subnormais”. Dessa forma, é preciso reconhecer que o território não é apenas o resultado da superposição de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem. O território é o chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é a base do trabalho, da residência, das trocas materiais e espirituais e da vida sobre os quais ele influi. Território e o processo de identidade A segregação é um tema que exige compreensão política, histórica, social, econômica, numa articulação com o território e no território. Afinal, temos que exercer a pluralidade de conhecimentos para alçar novos espaços profissionais e fazermos a involução das questões sociais que nos são apresentadas. E conforme nos lembra Iamamoto, temos que dar respostas a essas diferentes demandas das expressões sociais existentes. A Política Urbana pode ser concebida “como produto de contradições urbanas, de relações entre diversas forças sociais opostas quanto ao modo de ocupação ou de produção do espaço urbano”. Nessa perspectiva, esta representa uma ação estatal, com foco na organização e no ordenamento territorial, para assegurar as condições necessárias à contínua “reprodução das forças produtivas e das relações de trabalho”. Para Milton Santos, o espaço geográfico é organizado pelo homem vivendo em sociedade e, cada sociedade, historicamente, produz seu espaço como lugar de sua própria reprodução. [...]. O espaço é organizado socialmente, com formas e funções definidas historicamente, pois se trata da morada do homem e do lugar de vida que precisa ser constantemente reorganizado. [...] O espaço social corresponde ao espaço humano, lugar de vida e trabalho: morada do homem, sem definições fixas. O espaço geográfico é organizado pelo homem vivendo em sociedade e, cada sociedade, historicamente, produz seu espaço como lugar de sua própria reprodução. Com a Constituição de 1988 foram estabelecidas as competências entre os níveis de governo no que se refere tanto à política urbana quanto à promoção de programas de construção de moradias e à melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico. A responsabilidade sobre tais matérias, portanto, passou a ser compartilhada entre os entes federativos, ou seja, os programas ligados à área urbana, sobretudo no que tange à habitação, tornam-se fragmentados em secretarias de governos subnacionais que se reestruturaram ou desapareciam de acordo com as mudanças partidárias na gestão pública (MARICATO, 2009; AZEVEDO & ANDRADE, 2011). Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001) Em 2003, criou-se um Ministério ao qual ficou ligada a Política de Habitação, qual foi? a) Ministério das Cidades.b) Ministério da Integração Nacional. c) Ministério dos Direitos Humanos. d) Ministério da Cidadania. e) Ministério da Saúde. Interatividade Em 2003, criou-se um Ministério ao qual ficou ligada a Política de Habitação, qual foi? a) Ministério das Cidades. b) Ministério da Integração Nacional. c) Ministério dos Direitos Humanos. d) Ministério da Cidadania. e) Ministério da Saúde. Resposta BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2010. BONDUKI, N. G. Origens da habitação social no Brasil. Arquitetura moderna, lei do inquilinato e difusão da casa própria. São Paulo: Estação Liberdade: FAPESP, 1998. BRASIL. Código de ética do assistente social. Brasília: CFESS, 1993. BRASIL. Constituição Federal. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. BRASIL. Ministério da Assistência e Desenvolvimento Social. Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8742.htm. COUTO, B. R. O direito social e a assistência social na sociedade brasileira: uma equação possível? São Paulo: Cortez, 2010. DOMINGUES, P. Protagonismo negro em São Paulo: história e historiografia. São Paulo: Edições Sesc, 2019. Referências FALEIROS, V. de P. A política social do Estado capitalista. São Paulo: Cortez, 2000. GUIMARÃES, Berenice Martins. Favelas em Belo Horizonte: tendências e desafios. Análise e Conjuntura, Belo Horizonte, v. 7, n. 2 e 3, p. 11-18, maio/dez. 1992. IAMAMOTO, M.V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 2000. MARICATO, Ermínia. Brasil 2000: qual planejamento urbano? Cadernos IPPUR, Rio de Janeiro, Ano XI, n. 1 e 2, p. 113-130, 1997. MARTINELLI, M. L. Serviço social: identidade e alienação. São Paulo: Cortez, 2009. SILVA, M.O. da S. Política Habitacional Brasileira. Verso e Reverso. São Paulo: Cortez Editora, 1989. Referências ATÉ A PRÓXIMA!
Compartilhar