Buscar

02_NOCOES_DE_EPISTEMOLOGIA_DA_CIENCIA_E_METODOLOGIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 75 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 75 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 75 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

IMPRESSÃO E EDITORAÇÃO IBRAP 
www.institutoibrap.com.br 
 
NOÇÕES DE EPISTEMOLOGIA 
DA CIÊNCIA E METODOLOGIA 
CIENTIÍFICA 
 
 
 
MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA N° 3.445 DO DIA 19/11/2003 
 
 
1 
 
Sumário 
PARTE 1 EPISTEMOLOGIA .............................................................................. 3 
TEORIA DCONHECIMENTO E CIÊNCIA MODERNA ....................................... 3 
EPISTEMOLOGIA E FILOSOFIA ....................................................................... 3 
REVOLUÇÃO CIENTÍFICA .............................................................................. 15 
PARTE 2 METODOLOGIA CIENTIFICA .......................................................... 20 
MÉTODO CIENTIFICO .................................................................................... 20 
DEFINIÇÕES DE CIÊNCIA .............................................................................. 21 
CONHECIMENTO CIENTÍFICO E CONHECIMENTO POPULAR ................... 28 
MÉTODO CIENTÍFICO .................................................................................... 31 
PARTE 3 PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS ......................................................... 45 
TRABALHOS CIENTÍFICOS NOS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO ............ 57 
EVENTOS CIENTÍFICOS................................................................................. 64 
REFERENCIAS ................................................................................................ 72 
 
 
 
 
2 
 
 
IBRAP INSTITUTO BRASILEIRO DE GRADUAÇÃO 
E PÓS-GRADUAÇÃO 
A história do Instituto, inicia com a realização do sonho do nosso Diretor 
Maurício, CEO do Colminas, em atender a crescente demanda de alunos para 
cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado o Instituto Brasileiro 
de Pós & Graduação, IBRAP, como entidade oferecendo serviços educacionais 
em nível superior. 
O instituto IBRAP tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas 
de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
3 
 
 
PARTE 1 EPISTEMOLOGIA 
TEORIA DCONHECIMENTO E CIÊNCIA MODERNA 
EPISTEMOLOGIA E FILOSOFIA 
“As ciências modernas são tesouros culturais que estão entre as mais 
marcantes conquistas humanas. Como outros, merecem uma relação de 
respeito e escrúpulo” Noam Chomsky 
O que é Epistemologia? Como toda tentativa de definição, podemos 
começar com uma investigação do significado das partes significantes que 
compõe a palavra que designa o conceito, para depois enfrentarmos os 
inevitáveis senões. Epistemologia pode ser definida etimologicamente como 
discurso racional (logos) da ciência (episteme). A palavra grega episteme pode 
ser traduzida por conhecimento estabelecido, conhecimento seguro. A palavra 
grega logos, dona de várias acepções, pode ser aqui traduzida por “teoria 
racional”. 
Portanto, nosso livro é sobre Epistemologia, a “teoria racional do 
conhecimento seguro”, a teoria da ciência. 
Então podemos começar com os problemas. No século passado, a 
palavra Epistemologia foi progressivamente perdendo sua acepção ampla, de 
teoria do conhecimento, para ganhar uma acepção mais estrita, de estudo 
metódico da ciência moderna, suas aplicações, limites, métodos, organização e 
desenvolvimento. Ao mesmo tempo, alguns filósofos de influência francesa 
também passaram a usar o termo Epistemologia para designar o sentido bem 
amplo de estudos gerais dos “saberes”, especulativos e científicos (ciência, 
teologia, filosofia, técnicas), suas histórias, organizações e funcionamentos. 
Para evitar a vaguidade e confusão conceitual, vamos convencionar a partir de 
agora os seguintes sentidos específicos para alguns termos centrais usados 
neste livro. A palavra Epistemologia se referirá aqui ao sentido mais amplo entre 
os já conferidos a ela. É o estudo geral dos métodos, história, critérios, 
 
4 
 
funcionamento e organização do conhecimento sistemático, seja ele 
especulativo (teologia e filosofia) ou científico. Para o sentido mais restrito de 
Epistemologia, usaremos o termo Filosofia da Ciência, ou seja, o estudo 
sistemático das condições de possibilidade, métodos e critérios deste corpo 
especial de conhecimento, o conhecimento científico. Por fim, designaremos 
Teoria do Conhecimento a disciplina filosófica que estuda as condições de 
possibilidade de todo e qualquer conhecimento (não somente o científico), a 
saber: a possibilidade de conhecer, a origem do conhecimento, a essência do 
objeto do conhecimento, os tipos de conhecimento e os métodos de obtenção 
de conhecimento. 
Assim uma pergunta tradicional começa a exigir enfrentamento, antes que 
sigamos adiante. Porque estudar epistemologia? Poderia responder com outra 
pergunta (como filósofos gostam de fazer): Como estudar qualquer ciência 
profundamente antes de estudar epistemologia? De fato, se você não sabe o 
que o conhecimento é, de onde vem e como obtê-lo, como você pode afirmar 
que conhece algo sobre qualquer coisa, ou ainda pior, que seu conhecimento é 
“científico”? Estudar epistemologia é estudar o que faz de um tipo específico de 
conhecimento uma forma mais segura de conhecer aspectos de nossa realidade; 
o que faz de nosso conhecimento específico de aplicação prática de medicina, 
psicologia ou engenharia um corpo de conhecimento mais preciso e seguro do 
que outros corpos de conhecimento empíricos fundados unicamente na tradição 
oral ou experiência privada. Estudar epistemologia é estudar as diferenças entre 
vários tipos de conhecimento, como o prático, o filosófico, o religioso e o 
científico. 
Realidade, Verdade, Conhecimento, Hipótese 
Gostaria, antes de abordar o problema da definição de ciência, de analisar 
particularmente os quatro termos do subtítulo, tão confundidos por leigos e 
iniciantes na ciência e filosofia. Muitos de nós usamos cotidianamente algumas 
destas palavras como sinônimas, no entanto, aqueles que não compreendem o 
significado profundamente distinto destes termos, estão condenados à confusão 
conceitual que pode desembocar inclusive em relativismo radical. 
 
5 
 
Podemos dizer do conhecimento que uma de suas principais 
características é que ele pode ser transmitido. Ele é algo compartilhado por uma 
comunidade, não uma crença pessoal intransferível. Nesse sentido, sempre 
pressupomos que suas crenças são passíveis de verificação por uma técnica 
qualquer, que todos aqueles que a conhecem podem chegar às mesmas 
conclusões. Esta visão geral acerca do conhecimento foi estabelecida no famoso 
diálogo platônico Teeteto. Platão estabeleceu a definição de conhecimento que 
foi considerada válida por mais de dois milênios (só no fim do século XX esta 
definição foi aprimorada, como veremos no sétimo capítulo), de que 
conhecimento é crença verdadeira justificada. Com efeito, todo conhecimento 
sobre algo é uma crença de que algo é assim ou assado. Também é uma 
alegação de verdade, pois se soubéssemos que uma crença particular sobre 
algo é falsa, jamais a consideraríamos conhecimento. Por fim, a terceira parte 
da definição, a justificação,vem do caráter público do conhecimento. 
Conhecimento não é revelação divina, mas uma crença, aproximadamente 
verdadeira, que podemos através de um método de demonstração ou de teste 
transmitir a nosso semelhante. Conhecimento pode ser público porque seu 
fundamento, o fundamento daquela crença, pode ser justificado. 
Portanto, podemos provisoriamente definir conhecimento como crença 
verdadeira justificada. Mas aqui se impõe outro problema de definição: o que é 
a verdade? Essa pergunta (a famosa pergunta de Pilatos), não faremos aqui ao 
gosto dos Pilatos contemporâneos, sempre prontos a escarnecer deste conceito. 
Faremos filosoficamente, procurando definir o que é esta ideia tão fundamental 
para o pensamento e a vida cotidiana. A primeira coisa que poderíamos fazer é 
o contraste. Conhecimento é o mesmo que verdade? Por certo que não. 
Intuitivamente isto fica evidente quando consideramos que existem infinitas 
verdades que não conhecemos. Também fica evidente quando constatamos que 
para definir conhecimento precisamos lançar mão do conceito de verdade. 
Verdade tem então o mesmo significado que realidade? Aqui o mau uso 
cotidiano destas palavras torna a distinção menos evidente. Realidade é aquilo 
que existe independentemente da mente humana. Ou seja, o termo realidade 
designa aquilo que existe quer pensemos ou não nisto, quer queiramos ou não 
 
6 
 
isto. Assim, o que é real não é verdadeiro nem falso, ele simplesmente é. 
Realidade é o que existe. Verdadeiro ou falso são atributos que se aplicam a 
declarações acerca da realidade. Por exemplo, a folha de seu livro é real, não é 
verdadeira nem falsa. Mas se eu afirmo que ela é branca, esta afirmação é 
verdadeira ou falsa. Se eu afirmo que ela é dourada, provavelmente, a afirmação 
é completamente falsa. Mas se sua folha fosse dourada, alguém poderia 
equivocadamente afirmar que “esta folha de ouro é falsa”. No entanto, esta 
afirmação é mal formulada. Não existe tal coisa como uma “folha de ouro falsa”. 
Uma folha de ouro ou existe, ou não existe. O que é falsa, é a afirmação de que 
a tal folha dourada é feita de ouro. 
Portanto, definimos verdade de acordo com a teoria da correspondência 
(conforme restabelecida no século XX por Alfred Tarski, 1944), que afirma que 
uma declaração é verdadeira se sua estrutura sintática e conteúdo semântico 
reflete o estado de coisas do mundo por ela referido. Ou seja, conhecimento 
verdadeiro consiste na concordância do conteúdo do pensamento com o objeto, 
a verdade é a concordância do pensamento com o aspecto do mundo por ele 
intencionado. Toda essa formalidade pode parecer um tanto de empolgação 
para falar algo óbvio, de que falamos a verdade quando declaramos que algo é 
de uma forma, e este “algo” referido por nós é de fato da forma como declaramos. 
Mas acontece que este princípio básico das relações humanas, que regula as 
mais banais comunicações de nossa vida cotidiana, é contraditado por uma 
minoria filosófica contemporânea, que pretende nos fazer crer que o conceito de 
verdade, pilar de nossa vida em sociedade e de nosso conhecimento, não só é 
dispensável, como é indesejável. De fato, devo alertar o leitor de que não 
compartilho dessas posições questionáveis, e que aqui se adere à teoria da 
correspondência, a teoria sobre o que é verdade ou falsidade que nos foi 
passada, sem rigor filosófico mas com clareza e dignidade, por nossos pais e 
avós. 
Por fim, agora que distinguimos entre conhecimento, verdade e realidade, 
temos que partir para o último membro de nossa confusão conceitual, a hipótese. 
Hipótese, estrito senso, é um enunciado que só pode ser testado através de suas 
consequências, nunca diretamente. Ordinariamente no entanto, costumamos a 
 
7 
 
chamar de hipóteses crenças que temos sobre algo ou alguém, que no entanto, 
não são comprovadas nem refutadas. A abordagem deste termo neste primeiro 
capítulo deve-se a necessidade de enfrentarmos um problema de confusão 
conceitual comum nos dias de hoje. Vemos constantemente pessoas afirmarem 
que “cada um tem a sua verdade”. Evidentemente, ao pé da letra, esta frase é 
um absurdo conceitual. Por definição, se uma verdade é uma declaração 
adequada sobre algo real, e se a realidade independe da mente dos sujeitos 
particulares, sua crença particular em que algo é assim ou assado não tem nada 
a ver com a verdade: ela é isto sim, uma hipótese sobre a realidade, que pode 
ser verdadeira ou falsa. Se você acredita que esta folha é branca, e eu acredito 
que ela é dourada, isto não significa que eu tenho minha verdade e você a sua. 
Significa que eu tenho minha hipótese sobre a folha real, e você a sua. A verdade 
é algo que está além de nossas representações individuais, estando entre elas 
e a realidade. Existe uma declaração sobre a cor da folha de papel real que é 
verdadeira, e infinitas que são falsas. Isto independe de nossas crenças 
particulares. A verdade é uma meta ideal, algo que perseguimos, mas nunca 
temos completamente, a não ser em algumas sentenças matemática ou 
logicamente verdadeiras (como 2+2=4 ou “se A é B e B é C então A é C”), onde 
podemos definir a verdade como concordância do pensamento consigo mesmo. 
Portanto, temos aqui uma escala progressiva do mais distante ao mais 
próximo do real. Realidade é o que existe independentemente de nossas 
mentes. Verdade, num sentido ideal, é o conjunto das declarações acerca do 
real que correspondem linguisticamente a este. Conhecimento, é o conjunto das 
crenças acerca do real que acreditamos serem verdadeiras por serem 
justificadas por um método demonstrativo ou de teste. Finalmente, hipótese é 
uma crença acerca do real que não foi submetida a um processo de justificação. 
Assim, “todo mundo tem a sua hipótese acerca do que é verdade”, mas não “sua 
própria verdade”. A verdade não é algo que se tenha, mas algo que se aplica a 
uma declaração sobre alguma coisa. Ela está para além das crenças 
particulares, pois é algo que se refere ao que de fato existe, e não simplesmente 
ao que acreditamos que existe. Afirmar que existem “várias verdades”, é o 
mesmo que afirmar que existem “várias realidades”, e isto é, realmente, 
 
8 
 
racionalmente inaceitável. Mais do que isso, se tomado ao pé da letra na vida 
cotidiana, só poderia conduzir a vida ao caos e a selvageria. Imagine se seu 
vizinho resolvesse pegar a TV de sua casa sob a alegação de que na realidade 
dele aquela TV é sua? Ou ainda de que na realidade dele aquela TV é seu 
cachorrinho falecido? 
O conceito de Ciência Moderna 
O que encontraremos se passarmos os olhos por enciclopédias filosóficas 
e dicionários de Filosofia atrás da definição de ciência? Ferrater Mora (1994) 
indica que a palavra ciência é derivada do vocábulo scientia, substantivo que 
procede do verbo scire, que significa saber. Etimologicamente, ciência equivale 
a "o saber". Deste sentido básico, originário, podem derivar interpretações 
errôneas do termo, o que leva a borrar seus limites precisos. Porque há “saberes” 
que não pertencem à ciência, como o conhecimento de fatos cotidianos vulgares 
ou de experiências subjetivas, no entanto, isto não significa que estes “saberes” 
não se constituam em formas de conhecimento legítimas. Porém, legítimas em 
esferas de legitimidade epistemologicamente distintas. 
Assim, seria útil fazermos aqui uma discriminação que o leitor já deve 
estar cansado de ler, mas que no entanto ainda somos obrigados a fazer. Antes 
de começarmos a investigação desta forma de conhecimento específica que é a 
ciência moderna, precisamos elencar quais são as diferentes formas de 
conhecimento. 
A forma de conhecimento mais primordial, comum, e cotidianamente 
usada por nós é o senso-comum. Outras designações possíveis para este são 
conhecimento prático, ou ainda conhecimento popular. O chamamos também de 
conhecimento empírico, mas esta é uma designação quepode causar confusão 
com o conhecimento científico, que também é empírico. De fato, muitos filósofos 
consideram o conhecimento científico como sendo um aprimoramento do senso-
comum, mas temos muitas diferenças entre estes. O senso-comum é aquele 
corpo de conhecimentos que adquirimos em virtude de nossa experiência 
ordinária cotidiana, onde descobrimos de forma superficial como funcionam as 
coisas de forma a podermos nos orientar eficientemente num ambiente 
 
9 
 
determinado, e que muitas vezes é transmitido de geração em geração pela 
tradição oral. 
Outra espécie de conhecimento é o filosófico, onde dispensando o senso-
comum, tentamos responder os problemas do mundo ou da existência com base 
somente na especulação racional. Este corpo de conhecimento é sistemático 
(pois apresenta uma visão coerente e sistemática da realidade) e infalsificável 
(pois não pode ser submetido a testes empíricos), no entanto, todas as suas 
alegações e conclusões são submetidas a permanente crítica racional. 
Temos ainda uma terceira espécie de conhecimento que é o religioso, ou 
seja, a teologia, que tem um caráter de especulação racional e corpo sistemático 
de doutrinas, construída em cima de crenças que não se colocam em dúvida (os 
dogmas). Também aqui temos um corpo de conhecimento infalsificável, baseado 
na intuição ou emoção em suas crenças básicas, e na razão na construção do 
edifício doutrinário de consequências destas crenças. 
Assim voltamos à ciência, quarto tipo de conhecimento que é o nosso 
objetivo aqui, e que ainda não definimos provisoriamente. No que este tipo de 
corpo de conhecimento diferiria dos outros três? Para Abbagnano (2000) ciência 
é o conhecimento que inclua, em qualquer forma ou medida, uma garantia da 
própria validade. Segundo a versão clássica deste conceito, essa garantia seria 
absoluta, mas com o advento da Ciência Moderna, que não tem pretensões de 
saber absoluto, essa definição foi flexibilizada. Segundo Mora (1994), a definição 
atualmente mais aceita de ciência (empírica) é aquela que afirma ser ela um 
modo de conhecimento que aspira a formular, mediante linguagens rigorosas e 
apropriadas (e sempre que possível matemáticas), leis por meio dos quais se 
regem os fenômenos. 
Estas leis, ainda segundo Mora, devem possuir, para ser consideradas 
sentenças científicas, várias características em comum. São elas as 
características Descritiva, Experimental e Preditiva. A primeira se refere à 
capacidade para expressar linguisticamente de forma precisa séries de 
fenômenos; a segunda à propriedade de serem comprováveis por meio da 
manipulação e observação sistemática e matematizada dos fatos (de 
 
10 
 
0 
experimentação); a terceira à capacidade de serem capazes de determinar, seja 
mediante predição exata ou estatística, o desenrolar de acontecimentos futuros 
relativos aos fenômenos sobre os quais versa. 
Uma das definições mais aceitas de Ciência Moderna ainda hoje é a 
elaborada por Ernest Nagel em “The Structure of Science”, de 1961. Em resumo, 
este filósofo define a ciência como sendo uma atividade com seis características 
básicas. A primeira é a forma sistêmica da organização que deve ter o edifício 
teórico e o conjunto de leis. A segunda é a definição de métodos de investigação, 
que também estabeleçam o objeto de estudo e os fatos relevantes para estudá-
lo. A terceira é a redução, a ciência sempre procura reduzir fenômenos a seu 
nível mais profundo de fundamentação. A quarta é a objetividade, no sentido de 
ser controlável, reproduzível e intersubjetivamente observável. A quinta é a 
claridade das leis e teorias científicas, estabelecidas em linguagem clara, 
formalmente impecável e semanticamente unívoca. Por fim, a sexta 
característica principal seria a incompletude e falibilidade, o conhecimento 
científico está sempre aberto a revisões, nunca é definitivo. 
É sempre importante lembrar que estas definições se referem portanto à 
atividade que surge da Revolução Científica e suas pretensões. Não se refere a 
nenhuma tentativa de fechamento de questão em torno do que é a ciência, mas 
sim do significado majoritariamente aceito para este termo hoje. Ao longo do livro 
estudaremos as diferentes posições acerca do que é a ciência, mas por hora, 
basta estabelecer um significado coerente com alguns consensos básicos. 
Depois, a partir desta definição, é possível a realização da atividade crítica deste 
livro. 
Portanto, essa forma de conhecimento a que a modernidade chama 
ciência – e aqui fica claro que não estou me referindo às ciências formais, 
somente à empírica – fica definida como a que permite ao menos uma 
aproximação do conhecimento universalmente válido e empiricamente 
comprovável. Ciência empírica é aquele modo de obtenção de conhecimento 
que aspira a formular teorias gerais e leis universais que expliquem, de forma 
cada vez mais acurada, ainda que probabilisticamente, fenômenos da realidade 
 
11 
 
1 
objetiva. Como vimos acima, desde Platão estabeleceu-se a visão de que 
conhecimento é crença verdadeira justificada. Como afirma Oliva (2003), a partir 
da filosofia moderna os discursos sobre a ciência tendem a estabelecer que uma 
proposição, para aspirar à condição de científica, deve ser passível de validação 
como verdadeira ou ao menos como provável Assim, verdadeira é a proposição 
que estabeleça correspondência com o estado de coisas ao 
qual se reporta, e que possa ser justificada por critérios epistemológicos 
rigorosamente estabelecidos. O que está em jogo na ciência é a forma de 
justificação de crenças verdadeiras. E são os pressupostos filosóficos nos quais 
se baseia a definição acima de ciência que são abordados adiante. 
Pressupostos filosóficos da Ciência Moderna 
Quais são as crenças fundamentais, os pressupostos filosóficos, que 
estão na base da empreitada científica moderna caracterizada acima e sem as 
quais ela não seria possível? Estabelecem-se aqui cinco, que para o tipo de 
busca delimitado acima, são irredutíveis e necessárias. A primeira é a crença de 
que o objeto existe independentemente da mente do observador, a isto 
chamaremos Realismo Ontológico; a segunda é a crença na estabilidade, pelo 
menos em alguns de seus aspectos, do objeto que se estuda, a isto chamaremos 
Regularidade do Objeto; a terceira é a crença de que através do método 
adequado, podemos vir a conhecer algo sobre o objeto, a isto chamaremos 
Otimismo Epistemológico; a quarta é a assunção das leis básicas da lógica 
clássica na formulação de argumentos válidos, os Pressupostos Lógicos, e, por 
último e não menos importante, a crença de que podemos representar adequada 
e estavelmente o mundo através da linguagem, a isto chamaremos aqui, 
Representacionismo. 
Realismo Ontológico 
Se tivéssemos que indicar a mais básica das crenças que sustentam a 
atividade científica, a escolha talvez recaísse sobre a crença de que há algo a 
ser pesquisado. Esse é o pressuposto ontológico do realismo, ou seja, a 
atividade de pesquisa pressupõe antes de qualquer coisa a existência do objeto 
que está sendo pesquisado. Essa existência é objetiva, ou seja, existe num 
 
12 
 
2 
campo do real que tem algum nível de independência em relação ao observador 
humano; o objeto não é meramente uma criação da mente humana, antes, 
independe, ao menos em algum de seus aspectos, da mesma. 
É claro que, depois de Kant, a única posição realista que permanece 
defensável filosoficamente é o realismo crítico. Esta posição defende que as 
representações mentais não são idênticas aos objetos que visam, mas são 
influenciadas por estes uma vez que as expectativas que temos sobre como os 
objetos se comportarão são muitas vezes frustradas (falsificadas) por eles. 
Assim, para o realismo crítico nossas representações sofrem a influência tanto 
das impressões provocadas por objetos externoscomo das expectativas e 
crenças do observador, condicionadas ambas ainda, pelos limites e 
possibilidades de nosso aparato fisiológico. Não podemos evidentemente, 
sustentar uma crença oposta a alguma espécie de realismo como compatível 
com a atividade científica. Não há como imaginar um ser humano dedicado à 
investigação científica e ao mesmo tempo descrente quanto à existência do 
próprio objeto do esforço de sua investigação. 
 
Regularidade do Objeto 
Portanto, admite-se que o objeto tem que existir na realidade objetiva. Mas 
sua existência não basta para que ele possa ser estudado cientificamente. Uma 
vez que admitamos como explicações científicas formulações de hipóteses 
causais, precisamos necessariamente assumir que o objeto que está sendo 
contemplado com estas hipóteses, em ao menos algum de seus aspectos, esteja 
submetido a leis. A atividade científica se caracteriza, em suma, pela busca 
racional da descoberta das leis que governam um objeto particular. 
A crença na regularidade do objeto está vinculada por sua vez ao 
determinismo e ao naturalismo, que estão na base da ciência moderna desde 
Galileu Galilei. O naturalismo é a crença num universo governado por leis 
intemporais, fora do jugo da magia, dos deuses, do acaso ou do caos. Veja como 
Galileu (1973) descreve essa crença em passagem clássica: 
 
13 
 
3 
“A filosofia encontra-se escrita neste vasto livro que continuamente se 
abre perante nossos olhos (isto é, o universo), que não se pode compreender 
antes de entender a língua e os caracteres com os quais está escrito. Ele está 
escrito em língua matemática.” (p. 119) 
Ou seja, Galileu possui uma crença profunda de que as formas 
matemáticas governam o mundo, de que a natureza é estável e governada por 
leis matemáticas, e portanto, passíveis de descoberta. Para ele, a natureza fala 
a linguagem da matemática, e portanto só pode ser conhecida através dessa 
linguagem, ou seja, de questões que lhe são colocadas corretamente colocadas 
através de um novo método: a experimentação, a aplicação à experiência das 
leis da medida e da interpretação matemática. 
Otimismo Epistemológico 
A crença de que podemos conhecer algo é uma crença de tal forma 
generalizada no ser humano que sua posição oposta, o ceticismo radical, é 
inaceitável tanto ao senso comum quanto ao senso filosófico. Não faz nenhum 
sentido imaginar o enorme empenho de conhecer, admitindo-se previamente 
que não é possível se chegar a algum conhecimento. Uma vez que assumimos 
o pressuposto da possibilidade de se obter conhecimento válido, imediatamente 
somos chamados a nos decidir em relação à forma pela qual ele é adquirido. Ou 
seja, de que forma obtemos conhecimento? Qual é a sua origem? E a outra 
decisão consequente é: de que forma validamos este conhecimento? Estas são 
as principais questões da epistemologia, e as diferentes respostas a estas 
perguntas, particularmente em relação à espécie particular de conhecimento 
chamado de conhecimento científico, é o que avaliaremos no decorrer deste 
livro. 
Pressupostos Lógicos 
Existem regras básicas de pensamento nas quais está assentado todo o 
pensamento humano, e estas são as regras que possibilitam a obtenção de 
argumentos válidos. As teorias científicas, uma vez que são produtos do 
pensamento, apresentam uma estrutura que aplica estas regras. Estas regras 
específicas são o que está se chamando aqui de Lógica, das quais são exemplos 
 
14 
 
4 
os três princípios básicos da não-contradição, de identidade e o do terceiro 
excluído. Estes princípios foram explicitados pela primeira vez em Aristóteles, 
mas encontram-se presentes no pensamento ocidental desde o surgimento do 
pensamento de Parmênides. 
O princípio da não-contradição é um princípio negativo, ou seja, ele afirma 
a impossibilidade de aceitação por parte do pensamento racional da ideia de que 
um atributo possa estar presente e deixar de estar presente no mesmo objeto, 
ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Este princípio pode ser formulado 
portanto da seguinte forma: duas proposições contraditórias não podem ser 
simultaneamente verdadeiras. O princípio da identidade enuncia-se da seguinte 
forma: Toda proposição é idêntica a si mesma. O princípio do terceiro excluído 
se enuncia: apenas uma de duas proposições contraditórias pode ser 
verdadeira. 
Mais ainda do que no pensamento cotidiano, na formulação de teorias 
científicas não se pode aceitar dois postulados ou sentenças que se 
contradigam. Embora a Ciência Moderna, conforme descrita por Abbagnano 
(2000), tenha renunciado à pretensão clássica de construção de um sistema de 
mundo ou até de um pensamento sistemático, permanece a exigência de que as 
proposições que constituem o corpo linguístico de uma ciência sejam 
compatíveis entre si, isto é, sejam não-contraditórios. 
Representacionismo 
O representacionismo é a crença de que podemos representar 
adequadamente e estavelmente o mundo através da linguagem. Existe uma 
implicação necessária entre o realismo ontológico e o representacionismo. O 
coração da questão, é que o realismo ontológico é assumido por nossa 
linguagem, sendo na verdade sua própria essência. É absolutamente irrelevante 
o caráter arbitrário da relação entre significante e significado. Não interessa se 
nós chamamos a caneta de “caneta”, ou mesmo a ciência de “ciência”. O que 
interessa é o conceito abstrato de caneta e o conceito abstrato de ciência. O 
realismo ontológico que sustenta a atividade científica, filosófica e mesmo 
meramente representacional é baseado na crença na existência dos conceitos 
 
15 
 
5 
abstratos. Sem este pressuposto, nem mesmo o entendimento de minhas 
palavras nesta tese seria possível. 
Cada declaração sincera é uma tentativa de dar uma explicação 
verdadeira sobre algo assumido como real, essa é a essência da ciência. Não é 
possível conceber a ciência sem o pressuposto de que a linguagem na qual 
estão expressas suas leis é capaz de representar, pelo menos em parte, o 
mundo a que ela procura se referir. 
Assim, estamos admitindo com o representacionismo uma outra crença, 
que é sobre o conceito de verdade. Para o representacionismo, verdade é a 
correspondência entre estruturas sintáticas e conteúdos semânticos de uma 
declaração e o estado de coisas do mundo por ela referido. Ou seja, 
conhecimento verdadeiro consiste na concordância do conteúdo do pensamento 
com o objeto. 
REVOLUÇÃO CIENTÍFICA 
“A Filosofia encontra-se escrita neste vasto livro que continuamente se 
abre perante nossos olhos (o universo), que não se pode compreender antes de 
entender a língua e os caracteres com os quais está escrito. Ele está escrito em 
língua matemática.” Galileu Galilei 
Há consenso em se apontar o período que vai de 1543 - data da 
publicação do De Revolutionibus de Nicolau Copérnico - a 1687 - quando foi 
publicada Princípios Matemáticos de Filosofia Natural, de Isaac Newton - como 
o período em que se deu a Revolução Científica, responsável pelo surgimento 
da Ciência Moderna. A Revolução Científica é um movimento muito amplo de 
ideias, que tem seu elemento detonador nas teorias heliocêntricas de Copérnico, 
Galileu e Kepler, e que encontrou seus grandes arautos filosóficos em René 
Descartes e Francis Bacon. 
A IMAGEM DE MUNDO QUE FOI DESTRUÍDA PELA 
REVOLUÇÃO 
As ideias que forjaram a Revolução Científica se afirmaram em oposição 
radical a todo pensamento teológico-metafísico e político vigente no início do 
 
16 
 
6 
século XIV. O sistema aristotélico apresentava uma ajustada e confortável 
ideologia para o clero e a nobreza, que não estavam dispostos a abrir mão do 
instrumento de justificação da ordem social que ele representava. No mundo que 
esse sistema descrevia tudo ocupava seu lugar imutável, determinado pela 
qualidade de sua essência. A Terra ocupava o centro desseCosmos, onde o 
homem não dominava e não podia dominar a natureza. O mundo não era nada 
mais que um conjunto de qualidades e de percepções sensíveis. 
Na cosmologia, o modelo era o ptolomeico-aristotélico, dividindo o 
Cosmos basicamente entre o mundo sublunar - o mundo da imperfeição, da 
mudança constante e da corrupção de tudo - e o mundo celestial supralunar, 
perfeito e incorruptível. O mundo sublunar era submetido ao determinismo físico 
e ontológico da esfera celeste, de onde os valores “desciam” para a Terra. Neste 
esquema, os astros ordenavam todo o mundo sublunar com seu poder 
transcendente. Os seres humanos se encontravam sob o abrigo protetor da 
abóbada celeste, de onde Deus a tudo comandava. 
Esse Cosmos era visto como um todo finito e bem ordenado, no qual a 
estrutura espacial refletia também uma estrutura ontológica e axiológica, ou seja, 
a posição no espaço revelava também uma hierarquia de perfeição: abaixo, a 
Terra pesada e opaca, centro da região sublunar onde reinam a mudança e a 
corrupção; acima, as esferas celestes dos astros imponderáveis, incorruptíveis 
e luminosos. O espaço aristotélico é portanto um conjunto diferenciado de 
lugares que possuem naturezas diversas. 
CARACTERÍSTICAS CENTRAIS DA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA 
A Revolução Científica veio destruir completamente esse modelo de 
universo. Ela operou, no decorrer de um século e meio, provavelmente a maior 
revolução intelectual e cultural da história da humanidade. Não se trata somente 
da imagem de mundo que se transforma durante esse período, mas das ideias 
sobre a ciência, o homem, as relações entre ciência e sociedade, ciência e 
filosofia e ciência e fé. Emergiram nesse período as seguintes ideias principais: 
a) A Terra não é o centro do universo: A Terra deixa de ocupar para a 
ciência o centro do universo para se tornar nada mais que um planeta entre 
 
17 
 
7 
outros planetas. Do universo fechado onde residia o homem, surge um universo 
infinito, cuja concepção nasce da incorporação do modelo de espaço oferecido 
pela geometria euclidiana à representação do universo real. O pensamento 
ocidental, a partir desse momento, precisa encontrar uma nova morada para 
Deus. 
b) A Ciência se torna experimental: A Ciência Moderna é na verdade o 
grande resultado da revolução científica. Daqui por diante, “ciência” não é mais 
resultado da intuição privilegiada de um mago ou do comentário a um filósofo de 
autoridade incontestável. A ciência qualifica-se enquanto tal, ou seja, enquanto 
“o saber”, porque obtém suas proposições através de experimentos e 
demonstrações. A ciência é superior enquanto forma de conhecimento porque é 
experimental. Essa é a nova ciência: teorias rigidamente testadas através dos 
experimentos, publicamente controláveis, e sempre aprimoráveis por novos e 
mais precisos instrumentos de medidas. O método experimental torna a ciência 
autônoma, separando-a da filosofia e da teologia. 
c) A Ciência rejeita a busca pela essência das coisas: A filosofia 
aristotélica é uma filosofia essencialista, ocupada em definir a essência das 
coisas e em responder à pergunta de “O quê” as coisas são. A ciência moderna, 
originalmente denominada filosofia natural, não está mais voltada para a 
essência ou a substância das coisas e dos fenômenos, e sim para 
responder “o como” eles se desenvolvem. A Ciência Moderna busca funções 
matemáticas que regem os fenômenos. 
d) A Revolução Científica é triunfo do neo-platonismo: Na Revolução 
Científica ressurgem temas da filosofia neo-platônica e neo-pitagórica que há 
muito estavam sufocados pela escolástica aristotélica. A mística do Sol, presente 
em Copérnico e Kepler; o Deus Geômetra, que cria o mundo nele imprimindo 
uma ordem geométrica e matemática; são exemplos típicos da influência da 
filosofia neo-platônica. 
e) A Ciência tem como objetivo intervir na natureza: O conhecimento 
passa a ter, até mesmo por seu caráter público e experimental, um objetivo 
prático, em oposição a seu sentido anterior, meramente contemplativo. A Ciência 
 
18 
 
8 
deve servir para aprimorar as técnicas dos artesãos e aumentar a produtividade 
do trabalho humano. O saber dos intelectuais, desta forma, aproxima-se do 
saber dos técnicos e artesãos. Fica somente a dúvida levantada por Koyré 
(1979), sobre a verdadeira origem deste saber de caráter público e cooperativo: 
ele nasceu de filósofos e cientistas como Copérnico e Galileu; ou emergiu dos 
artesãos superiores (navegantes, engenheiros de fortificações, técnicos de 
artilharia, agrimensores, arquitetos, entre outros. 
A NOVA SÍNTESE EPISTEMOLÓGICA 
A Revolução Científica substituiu a física qualitativa de Aristóteles por uma 
física quantitativa, onde a identificação entre o real objetivo e a percepção 
sensível fica definitivamente rejeitada: as qualidades são relativas a nossos 
sentidos e a matéria é quantitativa. Assim, como afirma Japiassú (1997), entre a 
ciência grega e a ciência moderna, a diferença intransponível se pode sintetizar 
nos conceitos de experimentação e matematização. A “ciência” grega nada mais 
é do que metafísica. Ela permaneceu confinada nos domínios da teoria, sem 
nenhuma preocupação com qualquer tipo de validação experimental ou utilidade 
prática. Esse descompromisso com a aplicação das teorias tomou dois caminhos 
distintos no pensamento epistemológico grego. O primeiro foi o aristotélico, que 
acreditava na experiência como a única fonte do conhecimento. Este caminho 
construiu uma ciência sistemática, rica em observações, mas puramente 
qualitativa. Aqui a quantificação não cumpria qualquer papel, o interesse era 
essencialista: o objetivo das observações sistemáticas era captar a essência das 
coisas e dos fenômenos e classificá-los. 
O segundo, platônico-pitagórico, foi o da veneração dos números e das 
idealidades matemáticas, sem qualquer compromisso com sua aplicação no 
mundo material. A matemática e a geometria se tornam um meio de purificação 
para a alma que se distancia do mundo sensível, corruptível. Ao contemplar 
essas idealidades, o ser humano consegue compreender a real essência do 
conhecimento. Segundo a platônica teoria das ideias, uma vez que o verdadeiro 
conhecimento deve ter necessidade lógica e validade universal, ele não pode vir 
do mundo físico, do mundo da experiência, uma vez que este se encontra em 
 
19 
 
9 
permanente alteração e mudança. Desta forma, o conteúdo estável e as ideias 
perfeitas que temos sobre os objetos geométricos ideais não podem proceder do 
mundo físico, tendo que justificar sua origem num outro plano, que Platão 
denomina mundo das ideias. Esse mundo das Ideias não é um lugar físico, mas 
sim um reino das essências ideais das coisas, porém, mais real do que o mundo 
fenomênico, pois imutável. O interesse da filosofia platônica do conhecimento é 
portanto pelas ideias, e com isso ele praticamente se divorcia do mundo físico. 
Como defende Japiassú (1997), a nova síntese epistemológica que nos 
traz a Revolução Científica é a realizada entre as matemáticas e a experiência. 
Essa síntese tem nome, e é experimentação. Podemos atribuir a Galileu Galilei 
o aparecimento dessa síntese revolucionária. Sua tarefa foi a de elaborar um 
conceito de experiência e de teoria fundado no recurso inédito à matemática, 
modelo sem precedentes na história do saber racional. Ele consegue o que 
ninguém ainda havia conseguido: formula uma descrição matemática dos 
movimentos dos corpos. Sua epistemologia consiste na unidade da experiência 
e da matemática. Esta unidade pode acontecer porque Galileu admite o 
pressuposto que a natureza se organiza de forma matemática. Assim, a 
matemática deve definir, na natureza, os sistemas acessíveis de fenômenos 
observáveis. 
Galileu possui uma crença profunda que as formas matemáticas estão 
realizadas no mundo. Para ele, a naturezafala a linguagem da matemática, e 
portanto só pode ser conhecida através dessa linguagem, ou seja, de questões 
que lhe são colocadas através de linguagem matemática. As respostas vêm, 
quando as questões são corretamente colocadas através de um novo método: a 
experimentação. A experimentação é a aplicação à experiência, à observação 
da natureza, das leis da medida e da interpretação matemática: é a quantificação 
da experiência. 
Como nos mostra Koyré (1979), ao destruir a imagem aristotélica de 
Cosmos, Galileu a substitui pelo esquema de um universo infinito e unitário, 
submetido à disciplina rigorosa da física matemática. Ele geometriza o universo, 
identificando o espaço físico com o espaço da geometria euclidiana. Uma nova 
 
20 
 
0 
imagem do universo, quantitativa, atômica e infinitamente extensa (mecanicista) 
vem substituir a velha imagem qualitativa, contínua, limitada e mística herdada 
de Aristóteles. Daqui para frente, o universo será concebido como um contínuo 
físico de extensão infinita, no interior do qual os fatos físicos se condicionam 
entre si em virtude de necessidades materiais e matematicamente calculáveis. 
Assim, uma das consequências da Revolução Científica foi o divórcio 
entre o mundo dos valores (do sentido, dos fins) e o mundo dos fatos (causas 
materiais e eficientes). O pensamento científico não pode mais aceitar as noções 
de valor, perfeição, harmonia, sentido, finalidade. A Revolução portanto cinde o 
mundo em dois. Pascal (1975), profetizaria diante do universo surgido da 
Revolução Científica que o homem se encontraria doravante sob um espaço 
vazio, onde nenhum valor mais teria lugar: “O silêncio eterno desses espaços 
vazios me apavora...”. 
 
PARTE 2 METODOLOGIA CIENTIFICA 
MÉTODO CIENTIFICO 
A importância da metodologia científica para os estudos acadêmicos na 
universidade. Primeiramente, apresentamos a definição etimológica do termo: a 
palavra Metodologia vem do grego “meta” = ao largo; “odos” = caminho; “logos” 
= discurso, estudo. 
A Metodologia é compreendida como uma disciplina que consiste em 
estudar, compreender e avaliar os vários métodos disponíveis para a realização 
de uma pesquisa acadêmica. A Metodologia, em um nível aplicado, examina, 
descreve e avalia métodos e técnicas de pesquisa que possibilitam a coleta e o 
processamento de informações, visando ao encaminhamento e à resolução de 
problemas e/ou questões de investigação. 
A Metodologia é a aplicação de procedimentos e técnicas que devem ser 
observados para construção do conhecimento, com o propósito de comprovar 
sua validade e utilidade nos diversos âmbitos da sociedade. 
 
21 
 
1 
Para entender as características da pesquisa científica e seus métodos, é 
preciso, previamente, compreender o que vem a ser ciência. Em virtude da 
quantidade de definições de ciência encontrada na literatura científica, serão 
apresentadas algumas consideradas relevantes para este estudo. 
DEFINIÇÕES DE CIÊNCIA 
Etimologicamente, o termo ciência provém do verbo em latim Scire, que 
significa aprender, conhecer. Essa definição etimológica, entretanto, não é 
suficiente para diferenciar ciência de outras atividades também envolvidas com 
o aprendizado e o conhecimento. Segundo Trujillo Ferrari (1974), ciência é todo 
um conjunto de atitudes e de atividades racionais, dirigida ao sistemático 
conhecimento com objetivo limitado, capaz de ser submetido à verificação. 
Lakatos e Marconi (2007, p. 80) acrescentam que, além der ser “uma 
sistematização de conhecimentos”, ciência é “um conjunto de proposições 
logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que 
se deseja estudar.”. 
Trujillo Ferrari (1974), por sua vez, considera que a ciência, no mundo de 
hoje, tem várias tarefas a cumprir, tais como: 
a) aumento e melhoria do conhecimento; 
b) descoberta de novos fatos ou fenômenos; 
c) aproveitamento espiritual do conhecimento na supressão de falsos 
milagres, mistérios e superstições; 
d) aproveitamento material do conhecimento visando à melhoria da 
condição de vida humana; 
e) estabelecimento de certo tipo de controle sobre a natureza. 
Demo (2000, p. 22), em contrapartida, acredita que “no campo científico 
é sempre mais fácil apontarmos o que as coisas não são, razão pela qual 
podemos começar dizendo o que o conhecimento científico não é.” Para o autor, 
apesar de não haver limites rígidos para tais conceitos, conhecimento científico: 
 
22 
 
2 
a) Primeiro, não é senso comum – porque este se caracteriza pela 
aceitação não problematizada, muitas vezes crédula, do que afirmamos ou 
temos por válido. Disso não segue que o senso comum seja algo desprezível; 
muito ao contrário, é com ele, sobretudo, que organizamos nossa vida diária, 
mesmo porque seria impraticável comportarmo-nos apenas como a ciência 
recomenda, seja porque a ciência não tem recomendação para tudo, seja 
porque não podemos dominar cientificamente tudo. No entanto, conforme 
Demo (2000), o conhecimento científico representa a outra direção, por vezes 
vista como oposta, de derrubar o que temos por válido; mesmo assim, em 
todo conhecimento científico há sempre componentes do senso comum, na 
medida em que nele não conseguimos definir e controlar tudo cientificamente. 
b) Segundo, não é sabedoria ou bom-senso – porque estes apreciam 
componentes como convivência e intuição, além da prática historicamente 
comprovada em sentido moral. 
c) Terceiro, não é ideologia – porque esta não tem como alvo central 
tratar a realidade, mas justificar posição política. Faz parte do conhecimento 
científico, porque todo ser humano, também o cientista, gesta-se em história 
concreta, politicamente marcada. 
Diferencia-se porque, enquanto o conhecimento científico busca usar 
metodologias que – pelo menos na intenção – salvaguardam a captação 
da realidade, a ideologia dedica-se a produzir discurso marcado pela 
justificação. (DEMO, 2000, p. 24). 
d) Quarto, não é paradigma específico – “como se determinada 
corrente pudesse comparecer como única herdeira do conhecimento científico, 
muito embora lhe seja inerente essa tendência.” (DEMO, 2000, p. 25). Com 
maior realismo, conhecimento científico é representado pela disputa dinâmica 
e interminável de paradigmas, que vão e voltam, somem e transformam-se. Com 
isso, podemos dizer que não é produto acabado, mas processo 
produtivo histórico, que não podemos identificar com métodos específicos, 
teorias datadas, escolas e culturas. 
 
23 
 
3 
Apesar das diversas definições de ciência, seu conceito fica mais claro 
quando se analisam suas características, denominadas critérios de 
cientificidade. 
CRITÉRIOS DE CIENTIFICIDADE 
Tendo visto o que o conhecimento não é, podemos arriscar a dizer o que 
é. Conforme Demo (2000, p. 25), “do ponto de vista dialético, conhecimento 
científico encontra seu distintivo maior na paixão pelo questionamento, 
alimentado pela dúvida metódica.” Questionamento como método, não apenas 
como desconfiança esporádica, localizada, intermitente. Os resultados do 
conhecimento científico, obtidos pela via do questionamento, permanecem 
questionáveis, por simples coerência de origem. 
Antes de tudo, de acordo com Demo (2000), cientista é quem duvida do 
que vê, se diz, aparece e, ao mesmo tempo, não acredita poder afirmar algo com 
certeza absoluta. É comum a expectativa incongruente de tudo criticar e pensar 
que podemos oferecer algo já não criticável. 
No contexto da unidade de contrários, o caminho que vai é o mesmo que 
volta; criticar e ser criticado são, essencialmente, o mesmo procedimento 
metodológico. Nesse sentido, o conhecimento científico não produz 
certezas, mas fragilidades mais controladas. (DEMO, 2000, p. 25). 
Questionar, entretanto, não é apenas resmungar contra, falar mal, 
desvalorizar, mas articular discurso com consistência lógicae capaz de 
convencer. Conforme Demo (2000), poderíamos propor que somente é científico 
o que for discutível. Esse procedimento metodológico articula dois horizontes 
interconectados: o da formalização lógica e o da prática. Dito de outra maneira, 
conhecimento científico precisa satisfazer a critérios de qualidade formal e 
política. Costumeiramente, segundo Demo (2000), aplicamos apenas os critérios 
formais, porque classicamente mais reconhecidos e aparentemente menos 
problemáticos. Entretanto, assim procedendo, não nos desfazemos dos critérios 
políticos. Apenas os reprimimos ou argutamente os ocultamos. 
 
24 
 
4 
Para que o discurso possa ser reconhecido como científico, precisa ser 
lógico, sistemático, coerente, sobretudo, bem-argumentado. Isso o distancia de 
outros conhecimentos, como senso comum, sabedoria, ideologia. 
Sistematizando, conforme Demo (2000), podemos arrolar critérios de 
cientificidade normalmente citados na literatura científica: 
a) objeto de estudo bem-definido e de natureza empírica: delimitação 
e descrição objetiva e eficiente da realidade empiricamente observável, isto é, 
daquilo que pretendemos estudar, analisar, interpretar ou verificar por meio de 
métodos empíricos; 
b) objetivação: tentativa de conhecer a realidade tal como é, evitando 
contaminá-la com ideologia, valores, opiniões ou preconceitos do pesquisador; 
[...] refere-se ao esforço – sempre incompleto – de tratar a realidade 
assim como ela é; não se trata de ‘objetividade’, porque impossível, mas 
do compromisso metodológico de dar conta da realidade da maneira 
mais próxima possível, o que tem instigado o conhecimento a ser 
‘experimental’, dentro da lógica do experimento. (DEMO, 2000, p. 28). 
Essa colocação não precisa coincidir com vícios empiristas e positivistas, 
mas aludir apenas ao intento de produzir discursos controlados e controláveis, a 
fim de evitarmos meras especulações, afirmações subjetivistas, montagens 
teóricas fantasiosas; embora a ciência trabalhe com “objeto construído” – não 
com a realidade diretamente, mas com expectativa modelar dela -, não pode ser 
“inventado”; vale a regra: tudo o que fazemos em ciência deve poder ser refeito 
por quem duvide; daí não segue que somente vale o que tem base empírica, 
mormente se entendermos por ela apenas sua face quantificável, mas segue 
que também as teorias necessitam ser referenciadas a realidades que permitam 
relativo controle do que dizemos; 
c) discutibilidade: significa a propriedade da coerência no 
questionamento, evitando, conforme Demo (2000, p. 28), “a contradição 
performativa, ou seja, desfazermos o discurso ao fazê-lo, como seria o caso de 
pretender montar conhecimento crítico imune à crítica”; trata-se de conjugar 
 
25 
 
5 
crítica e autocrítica, dentro do princípio metodológico de que a coerência da 
crítica está na autocrítica. Conhecimento científico é o que busca se fundamentar 
de todos os modos possíveis e imagináveis, mas mantém consciência crítica de 
que alcança esse objetivo apenas parcialmente, não por defeito, mas por 
tessitura própria do discurso científico; 
d) observação controlada dos fenômenos: preocupação em controlar 
a qualidade do dado e o processo utilizado para sua obtenção; 
e) originalidade: refere-se à expectativa de que todo discurso científico 
corresponda a alguma inovação, pelo menos, no sentido reconstrutivo; “não 
é aceito discurso apenas reprodutivo, copiado, já que faz parte da lógica do 
conhecimento questionador desconstruir o que existe para o reconstruir em 
outro nível” (DEMO, 2000, p. 28); 
f) coerência: argumentação lógica, bem-estruturada, sem contradições; 
critério mais propriamente lógico e formal, significando a ausência de 
contradição no texto, fluência entre premissas e conclusões, texto bem-tecido 
como peça de pano sem rasgos, dobras, buracos. Segundo Demo (2000, p. 27), 
[...] as peças encaixam-se bem, sem desafinação, os capítulos fluem 
elegantemente, as conclusões jorram sem dificuldade, quase que como 
necessárias, inevitáveis, inequívocas; em sua face positiva, coerência 
representa critério importante, tanto pelo exercício de lógica formal, 
como pela habilidade demonstrada de uso sistemático de conceitos e 
teorias; 
g) sistematicidade: parceira da coerência, significa o esforço de dar 
conta do tema amplamente, sem exigir que se esgote, porque nenhum tema é, 
propriamente, esgotável; supomos, porém, que tenhamos estudado por todos 
os ângulos, tenhamos visto todos os autores relevantes, dando conta das 
discussões e polêmicas mais pertinentes, passando por todos os meandros 
teóricos, sobretudo, que reconstruamos meticulosamente os conceitos 
centrais. Demo (2000, p. 27) afirma que [...] é exigido que se trate o assunto, 
sem mais, buscando ‘matar o tema’; incluímos nisso, sempre, que o texto seja 
enxuto, direto, claro, feito para entender-se na primeira leitura, evitando-se 
 
26 
 
6 
estilos herméticos, enrolados, empolados; admitimos que a profundidade do 
conhecimento combina melhor com a sobriedade; 
h) consistência: base sólida, “refere-se à capacidade do texto de resistir 
à contra argumentação ou, pelo menos, merecer o respeito de opiniões 
contrárias; em certa medida, fazer ciência é saber argumentar, não só como 
técnica de domínio lógico, mas sobretudo como arte reconstrutiva.” (DEMO, 
2000, p. 27). Saber argumentar começa com a capacidade de estudar o 
conhecimento disponível, as teorias, os autores, os conceitos, os dados, as 
práticas, os métodos, ou seja, de pesquisar, para, em seguida, colocar tudo em 
termos de elaboração própria; saber argumentar coincide com saber 
fundamentar, alegar razões, apresentar os porquês; conforme Demo (2000), vai 
além da descrição do tema, para se aninhar em sua explicação, ou seja, 
queremos saber não apenas o como das coisas, mas, sobretudo, suas razões, 
seus porquês. O conhecimento nem sempre consegue ir muito longe na busca 
das causas para poder dominar os efeitos, mas assume isso como procedimento 
metodológico sistemático; tudo o que é afirmado precisa ter base, primeiro, no 
conhecimento existente e considerado válido e, segundo, na formulação própria 
do autor; 
i) linguagem precisa: sentido exato das palavras, restringindo ao máximo 
o uso de adjetivos; 
j) autoridade por mérito: significa o reconhecimento de quem conquistou 
posição respeitada em determinado espaço científico e é por isso considerado 
“argumento”; segundo Demo (2000, p. 43), “corre todos os riscos de vassalagem 
primária, mas, no contexto social do conhecimento, é impossível livrarmo-nos 
dele”; 
k) relevância social: os trabalhos acadêmicos, em qualquer nível, 
poderiam ser mais pertinentes, se também fossem relevantes em termos sociais, 
ou seja, estudassem temas de interesse comum, se se dedicassem a confrontar-
se com problemas sociais preocupantes, “buscassem elevar a oportunidade 
emancipatória das maiorias.” (DEMO, 2000, p. 43). Segundo Demo (2000), é 
frequente a queixa de que, na universidade, estudamos teorias irrelevantes, cuja 
 
27 
 
7 
sofisticação, por vezes, é diretamente proporcional à sua inutilidade na vida. No 
entanto, “sem nos rendermos ao utilitarismo acadêmico – porque seria querer 
sanar erro com erro oposto -, é fundamental encontrar relação prática nas 
teorias, bem como escrutínio crítico das práticas” (DEMO, 2000, p. 43); 
l) ética: procura responder à pergunta: a quem serve a ciência? Em seu 
contexto extremamente colonizador, o conhecimento científico tem sido, 
sobretudo, arma de guerra e lucro e, assim, como construiu fantástica 
potencialidade tecnológica, pode tornar inviáveis as condições ambientais do 
planeta (DEMO, 2000). A visão ética dedica-se sobremaneira a direcionar 
tamanha potencialidade para o bem-comum da sociedade, no sentido mais 
preciso de, primeiro, evitar que os meios se tornemfim; segundo, que se 
discutam não só os meios, mas também os fins e, terceiro, assegurar que os fins 
não justifiquem os meios. Conforme Demo (2000, p. 43), “a fantástica 
potencialidade emancipatória do conhecimento até hoje tem servido a minorias, 
sem falar que é usada muitas vezes para imbecilizar, torturar, manipular”; 
m) intersubjetividade: opinião dominante da comunidade científica de 
determinada época e lugar. 
Referência ao consenso dominante entre os cientistas, pesquisadores e 
professores, que acabam avaliando e decidindo o que é ou não válido; 
muitas vezes, podemos entendê-la como grupo fechado, mas é possível 
também vê-la como concorrência aberta entre correntes que, assim, ao lado de 
coibir inovações, acabam também as promovendo. (DEMO, 2000, p. 43). 
A intersubjetividade é considerada um critério externo à ciência, pois a 
opinião é algo atribuído de fora, por mais que provenha de um cientista ou 
especialista na área. Devemos destacar, no entanto, que a intersubjetividade é 
tão importante para a ciência como os critérios internos, ditos de qualidade 
formal. Desse critério decorrem outros, como a comunicação, a comparação 
crítica, o reconhecimento dos pares, o encadeamento de pesquisas em um 
mesmo tema etc., os quais possibilitam à ciência cumprir sua função de 
aperfeiçoamento, a partir do crescente acervo de conhecimentos da relação do 
homem com a natureza. 
 
28 
 
8 
Tais critérios podem ser sistematizados certamente de outras formas, mas 
sempre têm em comum o propósito de formalização. De acordo com Demo 
(2000, p. 29), “dentro de nossa tradição científica, cabe em ciência apenas o que 
admite suficiente formalização, quer dizer, pode ser analisado em suas partes 
recorrentes. Pode ser vista como polêmica tal expectativa, mas é a dominante, 
e, de modo geral, a única aceita.” Por trás dela, está a expectativa muito 
discutível de que a realidade não só é formalizável, mas, sobretudo, é mais real 
em suas partes formais. O racionalismo positivista vive dessa crença e por isso 
aposta, muitas vezes, em resultados definitivo e parâmetros metodológicos 
absolutizados. 
Os movimentos em torno da pesquisa qualitativa buscam confrontar-se 
com os excessos da formalização, mostrando-nos que a qualidade é 
menos questão de extensão do que de intensidade. Deixá-la de fora seria 
deturpação da realidade. Que a ciência tenha dificuldade de a tratar é 
problema da ciência, não da realidade.” (DEMO, 2000, p. 29). 
Tem sido chamada de “ditadura do método” essa imposição metodológica 
feita à realidade, relevando nela apenas o que pode ser mensurado, ou melhor, 
reduzindo-a às variáveis que mais facilmente sabemos tratar cientificamente. 
CONHECIMENTO CIENTÍFICO E CONHECIMENTO POPULAR 
Por existir mais de uma forma de conhecimento, é conveniente destacar 
o que vem a ser conhecimento científico em oposição ao chamado conhecimento 
popular, vulgar ou de senso comum. 
Não deixa de ser conhecimento aquele que foi observado ou passado de 
geração em geração através da educação informal ou baseado em imitação ou 
experiência pessoal. Esse tipo de conhecimento, dito popular, diferencia-se do 
conhecimento científico por lhe faltar o embasamento teórico necessário à 
ciência. 
Conforme Trujillo Ferrari (1974), o conhecimento popular é dado pela 
familiaridade que temos com alguma coisa, sendo resultado de experiências 
pessoais ou suposições, ou seja, é uma informação íntima que não foi 
suficientemente refletida para ser reduzida a um modelo ou uma fórmula geral, 
 
29 
 
9 
dificultando, assim, sua transmissão de uma pessoa a outra, de forma fácil e 
compreensível. 
Lakatos e Marconi (2007, p. 77, grifos dos autores) comentam que o 
conhecimento popular se caracteriza por ser predominantemente: 
- superficial, isto é, conforma-se com a aparência, com aquilo que se 
pode comprovar simplesmente estando junto das coisas: expressa-se 
por frases como “porque o vi”. “porque o senti”, “porque o disseram”, 
“porque todo mundo diz”; 
- sensitivo, ou seja, referente a vivências, estados de ânimo e emoções 
da vida diária; 
- subjetivo, pois é o próprio sujeito que organiza suas experiências e 
conhecimentos, tanto os que adquire por vivência própria quanto os “por 
ouvi dizer”; 
- assistemático, pois esta “organização” das experiências não visa a uma 
sistematização das ideias, nem na forma de adquiri-las nem na tentativa 
de validá-las; 
- acrítico, pois, verdadeiros ou não, a pretensão de que esses 
conhecimentos o sejam não se manifesta sempre de uma forma crítica. 
Na opinião de Lakatos e Marconi (2007), o conhecimento popular não se 
distingue do conhecimento científico nem pela veracidade nem pela natureza do 
objeto conhecido: o que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os 
instrumentos do “conhecer”. 
Para que o conhecimento seja considerado científico, é necessário 
analisar as particularidades do objeto ou fenômeno em estudo. A partir desse 
pressuposto, 
Lakatos e Marconi (2007) apresentam dois aspectos importantes: 
a) a ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à 
verdade; 
 
30 
 
0 
b) um mesmo objeto ou fenômeno pode ser observado tanto pelo cientista 
quanto pelo homem comum; o que leva ao conhecimento científico é a forma de 
observação do fenômeno. 
O conhecimento científico difere dos outros tipos de conhecimento por ter 
toda uma fundamentação e metodologias a serem seguidas, além de se basear 
em informações classificadas, submetidas à verificação, que oferecem 
explicações plausíveis a respeito do objeto ou evento em questão. 
Assim, ao analisar um fato, o conhecimento científico não apenas trata de 
explicá-lo, mas também busca descobrir e explicar suas relações com outros 
fatos, conhecendo a realidade além de suas aparências. O conhecimento 
científico é considerado como: 
a) acumulativo, por oferecer um processo de acumulação seletiva, em que 
novos conhecimentos substituem outros antigos, ou somam-se aos anteriores; 
b) útil para a melhoria da condição da vida humana; 
c) analítico, pois procura compreender uma situação ou um fenômeno 
global por meio de seus componentes; 
d) comunicável, já que a comunicabilidade é um meio de promover o 
reconhecimento de um trabalho como científico. A divulgação do conhecimento 
é responsável pelo progresso da ciência; 
e) preditivo, pois, a partir da investigação dos fatos e do acúmulo de 
experiências, o conhecimento científico pode dizer o que foi passado e predizer 
o que será futuro. 
f) Com base nas definições anteriormente citadas e comentadas, 
podemos elaborar um quadro comparativo entre conhecimento científico e 
popular. 
A ciência tem como objetivo fundamental chegar à veracidade dos fatos. 
De acordo com Gil (2008, p. 8), “neste sentido não se distingue de outras formas 
de conhecimento. O que torna, porém, o conhecimento científico distinto dos 
demais é que tem como característica fundamental a sua verificabilidade.” 
 
31 
 
1 
Para que um conhecimento possa ser considerado científico, torna-se 
necessário identificar as operações mentais e técnicas que possibilitam a sua 
verificação (GIL, 2008). Ou, em outras palavras, determinar o método que 
possibilitou chegar a esse conhecimento. 
Podemos definir método como caminho para chegarmos a determinado 
fim. E método científico como o conjunto de procedimentos intelectuais e 
técnicos adotados para atingirmos o conhecimento. 
A investigação científica depende de um “conjunto de procedimentos 
intelectuais e técnicos” (GIL, 2008, p. 8), para que seus objetivos sejam 
atingidos: os métodos científicos. 
Método científico é o conjunto de processos ou operações mentais que 
devemos empregar na investigação. É a linha de raciocínio adotada no processo 
de pesquisa. Os métodos que fornecem as bases lógicas à investigação são: 
dedutivo, indutivo,hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico. 
Vários pensadores do passado manifestaram o desejo de definir um 
método universal que fosse aplicado a todos os ramos do conhecimento. Hoje, 
porém, os cientistas e filósofos da ciência preferem falar numa diversidade de 
métodos, que são determinados pelo tipo de objeto a investigar e pela classe de 
proposições a descobrir. Assim, podemos afirmar que a Matemática não tem o 
mesmo método da Física e que esta não tem o mesmo método da Astronomia. 
E, com relação às ciências sociais, podemos mesmo dizer que dispõem de 
grande variedade de métodos. 
 
MÉTODO CIENTÍFICO 
Partindo da concepção de que método é um procedimento ou caminho 
para alcançar determinado fim e que a finalidade da ciência é a busca do 
conhecimento, podemos dizer que o método científico é um conjunto de 
procedimentos adotados com o propósito de atingir o conhecimento. 
De acordo com Trujillo Ferrari (1974), o método científico é um traço 
característico da ciência, constituindo-se em instrumento básico que ordena, 
 
32 
 
2 
inicialmente, o pensamento em sistemas e traça os procedimentos do cientista 
ao longo do caminho até atingir o objetivo científico preestabelecido. 
Lakatos e Marconi (2007) afirmam que a utilização de métodos científicos 
não é exclusiva da ciência, sendo possível usá-los para a resolução de 
problemas do cotidiano. Destacam que, por outro lado, não há ciência sem o 
emprego de métodos científicos. 
Muitos foram os pensadores e filósofos do passado que tentaram definir 
um único método aplicável a todas as ciências e a todos os ramos do 
conhecimento. Essas tentativas culminaram no surgimento de diferentes 
correntes de pensamento, por vezes conflitantes entre si. Na atualidade, já 
admitimos a convivência, e até a combinação, de métodos científicos diferentes, 
dependendo do objeto de investigação e do tipo de pesquisa. 
Dada a diversidade de métodos, alguns autores costumam classificá-los 
em gerais, também denominados de abordagem, e específicos, denominados 
discretos ou de procedimento. 
Métodos de abordagem - bases lógicas da investigação 
Por método podemos entender o caminho, a forma, o modo de 
pensamento. É a forma de abordagem em nível de abstração dos fenômenos. É 
o conjunto de processos ou operações mentais empregados na pesquisa. 
Os métodos gerais ou de abordagem oferecem ao pesquisador normas 
genéricas destinadas a estabelecer uma ruptura entre objetivos científicos e não 
científicos (ou de senso comum). 
Esses métodos esclarecem os procedimentos lógicos que deverão ser 
seguidos no processo de investigação científica dos fatos da natureza e da 
sociedade. São, pois, métodos desenvolvidos a partir de elevado grau de 
abstração, que possibilitam ao pesquisador decidir acerca do alcance de sua 
investigação, das regras de explicação dos fatos e da validade de suas 
generalizações. 
Podem ser incluídos, neste grupo, os métodos: dedutivo, indutivo, 
hipotético dedutivo, dialético e fenomenológico. Cada um deles se vincula a 
 
33 
 
3 
uma das correntes filosóficas que se propõem a explicar como se processa o 
conhecimento da realidade. O método dedutivo relaciona-se ao racionalismo; o 
indutivo, ao empirismo; o hipotético dedutivo, ao neopositivismo; o dialético, ao 
materialismo dialético e o fenomenológico, à fenomenologia. A utilização de um 
ou outro método depende de muitos fatores: da natureza do objeto que 
pretendemos pesquisar, dos recursos materiais disponíveis, do nível de 
abrangência do estudo e, sobretudo, da inspiração filosófica do pesquisador. 
Comentamos, na sequência, cada um dos métodos gerais ou de abordagem. 
Método dedutivo 
O método dedutivo, de acordo com o entendimento clássico, é o método 
que parte do geral e, a seguir, desce ao particular. A partir de princípios, leis ou 
teorias consideradas verdadeiras e indiscutíveis, prediz a ocorrência de casos 
particulares com base na lógica. “Parte de princípios reconhecidos como 
verdadeiros e indiscutíveis e possibilita chegar a conclusões de maneira 
puramente formal, isto é, em virtude unicamente de sua lógica.” (GIL, 2008, p. 
9). Método proposto pelos racionalistas Descartes, Spinoza e Leibniz pressupõe 
que só a razão é capaz de levar ao conhecimento verdadeiro. O raciocínio 
dedutivo tem o objetivo de explicar o conteúdo das premissas. Por intermédio de 
uma cadeia de raciocínio em ordem descendente, de análise do geral para o 
particular, chega a uma conclusão. Usa o silogismo, a construção lógica para, a 
partir de duas premissas, retirar uma terceira logicamente decorrente das duas 
primeiras, denominada de conclusão. 
O método dedutivo encontra ampla aplicação em ciências como a Física 
e a Matemática, cujos princípios podem ser enunciados como leis. Já nas 
ciências sociais, o uso desse método é bem mais restrito, em virtude da 
dificuldade para obter argumentos gerais, cuja veracidade não possa ser 
colocada em dúvida. 
Mesmo do ponto de vista puramente lógico, são apresentadas várias 
objeções ao método dedutivo. Uma delas é a de que o raciocínio dedutivo é 
essencialmente tautológico, ou seja, permite concluir, de forma diferente, a 
mesma coisa. Esse argumento pode ser verificado no exemplo apresentado. 
 
34 
 
4 
Quando aceitamos que todo homem é mortal, colocar o caso particular de Pedro 
nada adiciona, pois essa característica já foi adicionada na premissa maior. 
“Outra objeção ao método dedutivo refere-se ao caráter apriorístico de 
seu raciocínio.” (GIL, 2008, p. 10). De fato, partir de uma afirmação geral significa 
supor um conhecimento prévio. Como é que podemos afirmar que todo homem 
é mortal? Esse conhecimento não pode derivar da observação repetida de casos 
particulares, pois isso seria indução. A afirmação de que todo homem é mortal 
foi previamente adotada e não pode ser colocada em dúvida. Por isso, os críticos 
do método dedutivo argumentam que esse raciocínio se assemelha ao adotado 
pelos teólogos, que partem de posições dogmáticas. 
Método indutivo 
É um método responsável pela generalização, isto é, partimos de algo 
particular para uma questão mais ampla, mais geral. Para Lakatos e Marconi 
(2007, 86), 
Indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados 
particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral 
ou universal, não contida nas partes examinadas. Portanto, o objetivo 
dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito 
mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam. 
Essa generalização não ocorre mediante escolhas a priori das respostas, 
visto que essas devem ser repetidas, geralmente com base na experimentação. 
Isso significa que a indução parte de um fenômeno para chegar a uma lei geral 
por meio da observação e de experimentação, visando a investigar a relação 
existente entre dois fenômenos para se generalizar. Temos, então, que “o 
método indutivo procede inversamente ao dedutivo: parte do particular e coloca 
a generalização como um produto posterior do trabalho de coleta de dados 
particulares.” (GIL, 2008, p. 10). 
No raciocínio indutivo, a generalização deriva de observações de casos 
da realidade concreta. As constatações particulares levam à elaboração de 
generalizações. Entre as críticas ao método indutivo, a mais contundente é 
 
35 
 
5 
aquela que questiona a passagem (generalização) do que é constatado em 
alguns casos (particular) para todos os casos semelhantes (geral). 
Nesse método, partimos da observação de fatos ou fenômenos cujas 
causa desejamos conhecer. A seguir, procuramos compará-los com a finalidade 
de descobrir as relações existentes entre eles. Por fim, procedemos à 
generalização, com base na relação verificada entre os fatos ou fenômenos. 
As conclusões obtidas por meio da indução correspondem a uma verdade 
não contida naspremissas consideradas, 
[...] diferentemente do que ocorre com a dedução. Assim, se por meio 
da dedução chega-se a conclusões verdadeiras, já que baseadas em 
premissas igualmente verdadeiras, por meio da indução chega-se a 
conclusões que são apenas prováveis. (GIL, 2008, p. 11). 
O raciocínio indutivo influenciou significativamente o pensamento 
científico. 
Desde o aparecimento no Novum organum, de Francis Bacon (1561- 
1626), o método indutivo passou a ser visto como o método por excelência 
das ciências naturais. Com o advento do positivismo, sua importância 
foi reforçada e passou a ser proposto também como o método mais 
adequado para investigação nas ciências sociais. (GIL, 2008, p. 11). 
Nesse sentido, conforme Gil (2008), não há como deixar de reconhecer e 
destacar a importância do método indutivo na constituição das ciências sociais. 
Surgiu e serviu para que os estudiosos da sociedade abandonassem a postura 
especulativa e se inclinassem a adotar a observação como procedimento 
indispensável para atingir o conhecimento científico. Devido à sua influência é 
que foram definidas técnicas de coleta de dados e elaborados instrumentos 
capazes de mensurar os fenômenos sociais. 
Tanto o método indutivo quanto o dedutivo concordam com o fato de que 
o fim da investigação é a formulação de leis para descrever, explicar e prever a 
realidade; as discordâncias estão na origem do processo e na forma de proceder. 
Enquanto os adeptos do método indutivo (empiristas) partem da observação 
 
36 
 
6 
para depois formular as hipóteses, os praticantes do método dedutivo têm como 
inicial o problema (ou a lacuna) e as hipóteses que serão testadas pela 
observação e pela experiência. 
Lakatos e Marconi (2007) comentam a respeito dessas duas 
características: 
a) Característica I. No argumento dedutivo, para que a conclusão “todos 
os cães têm um coração” fosse falsa, uma das ou as duas premissas teriam de 
ser falsas: ou nem todos os cães são mamíferos ou nem todos os mamíferos 
têm um coração. Por outro lado, no argumento indutivo, é possível que a 
premissa seja verdadeira e a conclusão, falsa: o fato de não ter, até o presente, 
encontrado um cão sem coração não é garantia de que todos os cães tenham 
um coração. 
b) Característica II. Quando a conclusão do argumento dedutivo afirma 
que todos os cães têm um coração, está dizendo alguma coisa que, na verdade, 
já tinha sido dita nas premissas; portanto, como todo argumento dedutivo, 
reformula ou enuncia, de modo explícito, a informação já contida nas premissas. 
Dessa forma, se a conclusão, a rigor, não diz mais que as premissas, ela tem de 
ser verdadeira, se as premissas o forem. Por sua vez, no argumento indutivo, a 
premissa refere-se apenas aos cães já observados, ao passo que a conclusão 
diz respeito a cães ainda não observados; portanto, a conclusão enuncia algo 
não contido na premissa. É por esse motivo que a conclusão pode ser falsa – 
pois pode ser falso o conteúdo adicional que encerra –, mesmo que a premissa 
seja verdadeira. 
Conforme Lakatos e Marconi (2007, p. 92), esses dois tipos de 
argumentos têm finalidades distintas – “o dedutivo tem o propósito de explicar o 
conteúdo das premissas; o indutivo tem o objetivo de ampliar o alcance dos 
conhecimentos.” Analisando isso sob outro enfoque, podemos dizer que os 
argumentos dedutivos ou estão corretos ou incorretos, ou as premissas 
sustentam, de modo completo, a conclusão ou, quando a forma é logicamente 
incorreta, não a sustentam de forma alguma; portanto, não há graduações 
intermediárias. 
 
37 
 
7 
Contrariamente, os argumentos indutivos admitem diferentes graus de 
força, dependendo da capacidade das premissas de sustentarem a 
conclusão. Resumindo, os argumentos indutivos aumentam o conteúdo 
das premissas, com sacrifício da precisão, ao passo que os argumentos 
dedutivos sacrificam a ampliação do conteúdo, para atingir a “certeza”. 
(LAKATOS; MARCONI, 2007, p. 92). 
Os exemplos inicialmente citados mostram as características e a 
diferença entre os argumentos dedutivos e indutivos, mas não expressam sua 
real importância para a ciência. Dois exemplos ilustram sua aplicação 
significativa para o conhecimento científico. 
Método hipotético-dedutivo 
O método hipotético-dedutivo foi definido por Karl Popper a partir de 
críticas à indução, expressas em A lógica da investigação científica, obra 
publicada pela primeira vez em 1935 (GIL, 2008). 
A indução, conforme Popper, não se justifica, “pois o salto indutivo de 
‘alguns’ para ‘todos’ exigiria que a observação de fatos isolados atingisse o 
infinito, o que nunca poderia ocorrer, por maior que fosse a quantidade de fatos 
observados.” (GIL, 2008, p. 12). 
Como já dito, o método hipotético-dedutivo foi proposto por Karl Popper e 
consiste na adoção da seguinte linha de raciocínio: 
[...] quando os conhecimentos disponíveis sobre determinado assunto são 
insuficientes para a explicação de um fenômeno, surge o problema. Para 
tentar explicar as dificuldades expressas no problema, são formuladas 
conjecturas ou hipóteses. Das hipóteses formuladas, deduzem-se 
consequências que deverão ser testadas ou falseadas. Falsear significa 
tornar falsas as consequências deduzidas das hipóteses. Enquanto no 
método dedutivo se procura a todo custo confirmar a hipótese, no método 
hipotético-dedutivo, ao contrário, procuram-se evidências empíricas 
para derrubá-la. (GIL, 2008, p. 12). 
 
38 
 
8 
O método hipotético-dedutivo inicia-se com um problema ou uma lacuna 
no conhecimento científico, passando pela formulação de hipóteses e por um 
processo de inferência dedutiva, o qual testa a predição da ocorrência de 
fenômenos abrangidos pela referida hipótese. 
Podemos apresentar o método hipotético-dedutivo a partir do seguinte 
esquema (GIL, 2008, p. 12): 
Problema → Conjecturas → Dedução de consequências observadas → 
Tentativa de falseamento → Corroboração 
A pesquisa científica, com abordagem hipotético-dedutiva, inicia-se com 
a formulação de um problema e com sua descrição clara e precisa, a fim de 
facilitar a obtenção de um modelo simplificado e a identificação de outros 
conhecimentos e instrumentos, relevantes ao problema, que auxiliarão o 
pesquisador em seu trabalho. Após esse estudo preparatório, o pesquisador 
passa para a fase de observação. Na verdade, essa é a fase de teste do modelo 
simplificado. É uma fase meticulosa em que é observado determinado aspecto 
do universo, objeto da pesquisa. A fase seguinte é a formulação de hipóteses, 
ou descrições-tentativa, consistentes com o que foi observado. Essas hipóteses 
são utilizadas para fazer prognósticos, os quais serão comprovados ou não por 
meio de testes, experimentos ou observações mais detalhadas. Em função dos 
resultados desses testes, as hipóteses podem ser modificadas, dando início a 
um novo ciclo, até que não haja discrepâncias entre a teoria (ou o modelo) e os 
experimentos e/ou as observações. 
De acordo com Popper, toda investigação tem origem num problema, cuja 
solução envolve conjecturas, hipóteses, teorias e eliminação de erros; por isso, 
Lakatos e Marconi (2007) afirmam que o método de Popper é o método de 
eliminação de erros. 
O problema surge de lacunas ou conflito em função do quadro teórico 
existente. A solução proposta é uma conjectura (nova ideia e/ou nova teoria) 
deduzida a partir das proposições (hipóteses ou premissas) sujeitas a testes. Os 
testes de falseamento são tentativas de refutar as hipóteses pela observação 
e/ou experimentação. 
 
39 
 
9 
Além das críticas inerentes ao método dedutivo, ao hipotético-dedutivo 
acrescenta-se aquela que questiona o fato de as hipóteses jamais serem 
consideradas verdadeiras; quando corroboradas, são apenas soluções 
provisórias. 
O método hipotético-dedutivo desfruta de notável aceitação, em especial

Outros materiais