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AVT MET MAT 8 out

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Metodologia de Ensino Matematica 3° Série FD
Prof. Gizele Marcelino Rosinski.
 Etnomatemática
O principal objetivo da tendência etnomatemática é procurar entender o saber/fazer e o fazer/aprender matemático, segundo cada comunidade, tribo, cultura ou etnia, ou seja, é aprender a partir da sua própria realidade.
Na década de 1970, depois do fracasso da Matemática moderna, surgiu, entre os educadores matemáticos, várias correntes educacionais dessa disciplina, que tinham um componente comum – reação contra um currículo comum e a maneira imposta de apresentar a Matemática em uma só visão, com características de divulgar verdades absolutas e como um conhecimento universal. Percebia-se, ainda, que a Matemática moderna não valorizava o conhecimento prévio do aluno, proveniente do seu ambiente social.
Uma pergunta comum entre os alunos é: “Para que eu preciso aprender isso?”Embora um dos objetivos explícitos do ensino da matemática seja preparar o estudante para lidar com atividades práticas que envolvam aspectos quantitativos da realidade, isso acaba não acontecendo (TOLEDO e TOLEDO, 1997, p. 11). O programa etnomatemática é definido, pelo seu criador, como um programa de pesquisa que procura entender o saber/fazer matemático ao longo da história da Humanidade, contextualizado em diferentes grupos de interesses, comunidades, povos e nações (D’AMBRÓSIO, 2003, p.17).
O programa etnomatemática procura entender a relação humana e suas aventuras na buscado conhecimento, considerando o seu comportamento dentro de um grupo ou de uma sociedade.
D’Ambrósio (2003) ainda tem uma preocupação de esclarecer que a sua proposta de etnomatemática não é puramente a de um estudo epistemológico.
Todo ser humano tem um conhecimento e, por consequência, admite um comportamentorefletido. O comportamento humano e o seu conhecimento estão em constante transformação.
Essa relação é definida como “uma verdadeira simbiose, em total interdependência.”
A etnomatemática é um programa de pesquisa, com certo rigor, na linguagem e na metodologia. Tem um caráter interdisciplinar e dinâmico. O programa necessita estar aberto às novas metodologias, voltado para a evolução da ciência. Acredita-se que a pesquisa etnomatemática
“resulta de uma historiografia dinâmica” (D’AMBRÓSIO, 2003, p.18). Pensando assim, o programa considera e valoriza a interação do ser humano com uma “noção de cultura”, “alimentação, espaço e tempo” e o “fazer matemático no cotidiano”.A noção de cultura destaca a necessidade da interação entre homem–natureza–homem,com a finalidade de sobrevivência. O intercâmbio de conhecimento e comportamento, em diferentes organizações e grupos de interesses comuns (família, agremiação, tribos etc.), é uma característica do instinto humano.
A interação dinâmica do indivíduo nos grupos, o compartilhamento do conhecimento e dos comportamentos, “tais como a linguagem, os sistemas de explicações, os mitos e cultos, a culiná ria e os costumes”(D’AMBRÓSIO, 2003) definem que esse indivíduo pertence a um grupo cultural ou uma cultura, podendo, ainda, identificar uma cultura de família, de profissão ou de uma nação.
O terreno em que germinam as reflexões que conduzem a essas concepções é o que chamamos de realidade, que desse modo incorpora, de maneira absolutamente solidária, tudo como um todo: seres, ideias, emoções, coisas. São esses fatos que constituem a realidade holística na maneira como a concebemos. (...) A partir do indivíduo como fato concebido de uma realidade, nós procuramos com preender o significado dos artefatos e mente fatos por ele mesmo concebidos e criados, e por ele, agora integrado numa coletividade, transformados em fatos culturais (D’AMBRÓSIO, 2003 p. 39). Apresenta-se, assim, uma interação permanente entre o saber e o fazer, ou seja, são as diferentes práticas e teorias que caracterizam a cultura de um indivíduo, numa sociedade dinâmica onde se compartilha o comportamento e o conhecimento. A Matemática escolar depende exclusivamente dessa interação no processo de ensino/aprendizagem, na construção do conhecimento lógico-matemático, através da contextualização das linguagens matemáticas.Os aspectos da alimentação, do espaço e do tempo caracterizam-se, fundamentalmente,na necessidade humana de se alimentar e de competir com outras espécies. Essas características estimulam o homem na construção de instrumentos que contribuam para a obtenção do alimento para a sobrevivência e, por consequência, na busca de satisfação humana e de melhores condições de vida. Visto isso, há cerca de mais de dois milhões de anos atrás, com a técnica da pedra lascada e com a sua utilização como instrumento cortante. A avaliação das dimensões apropriadas para a pedra lascada talvez seja a primeira manifestação matemática da espécie. O fogo, utilizado amplamente a partir de 500 mil anos, dá à alimentação características inclusive de organização social(D’AMBRÓSIO, 2003, p.19).
A organização social humana dá origem “às primeiras sociedades, centradas em mitos e representações simbólicas, sendo provavelmente responsável pelo surgimento do canto [tempo] e dança [espaço]” (D’AMBRÓSIO, 2003, p.20).
Pedagogia - Fundamentos e Metodologia da Matemática A dança e o canto estão associados a uma representação matemática do espaço e do tempo. Na agricultura, surge a necessidade do planejamento do plantio e da colheita. A Geometria surgiu da prática dos faraós, com a medição e a distribuição de terras às margens do rio Nilo. O calendário surge com a necessidade de obter sucesso no plantio, na colheita e no armazenamento. Cada local admitia um calendário, associado aos seus mitos e cultos, porém, objetivava-se em contar e em registrar o tempo. Faz-se necessário destacar a etnomatemática na utilização desses recursos, associada a um processo de produção do alimento de uma sociedade.
O fazer matemático no cotidiano está relacionado ao saber/fazer matemático contextualizado, e está indissociavelmente ligado aos fatores naturais e sociais (D’AMBRÓSIO, 2003, p. 22).
D’Ambrósio (2003) ainda relata que o cotidiano proporciona o indivíduo, na relação com o meio onde vive, para comparar, classificar, quantificar, medir, explicar, generalizar, inferir e avaliar,através de recursos materiais e intelectuais próprios de uma cultura. A etnomatemática do cotidiano não é aprendida nas escolas, mas no ambiente familiar, no ambiente de brincadeiras, nas práticas do trabalho e em diversas práticas do cotidiano.
A perspectiva da Etnomatemática é ampla e, portanto, não se limita a identificar a Matemática criada e praticada por um grupo cultural específico, restringindo se a essa dimensão local. Considera a matemática acadêmica uma entre outras formas de Etnomatemática (HALMENSCHLAGER, 2001, p. 27). A autora justifica a amplitude e as várias dimensões do programa de etnomatemática, proposto por D’Ambrósio (2003). No programa, foi destacada a dimensão conceitual, que considera ma Matemática uma resposta das diferentes formas de suprir a necessidade humana de sobrevivência e de transcendência na busca da síntese das questões existenciais, formalizando o conhecimento e transformando o comportamento do indivíduo.A dimensão histórica retrata, historicamente, aspectos da evolução do pensamento, desde o raciocínio quantitativo (derivado da Aritmética), considerado a essência da modernidade, até o raciocínio qualitativo (inclui emoções), através da evolução da ciência com o pensamento artificial e a Robótica. Outro aspecto importante nessa dimensão é a convergência da subordinação global do pensamento (característica predominante nas culturas nas margens do Mediterrâneo) para o pensamento sequencial (característica da filosofia grega), que prevaleceu sobre uma proposta holística (Jan Comenius). 
Estamos vivendo, agora, um momento que se assemelha à efervescência. A dimensão cognitiva é a mais complexa, pois destaca a inteligência humana e toda a capacidade de comparar, classificar, inferir, generalizar e avaliar como forma de pensamento particular do ser humano. O pensamento matemático,na espécie humana, é objeto de intensa pesquisa. A busca de respostas e de explicações para o mistério da relação entre causa e efeito já é uma importante evolução da espécie humana. Desafios do cotidiano correspondem uma dimensão da etnomatemática que faz do pensamento matemático instrumento de organização e de análise dos fenômenos naturais, com o objetivo de suprir a necessidade humana de criar um sistema de conhecimento e de comportamento necessário para lidar, sobreviver, explicar o visível e o invisível do meio onde se vive. D’Ambrósio afirma:O conjunto de instrumentos que se manifesta nas maneiras, nos modos, nas habilidades, nas artes, nas técnicas, nas ticas de lidar com o ambiente, de entender e explicar fatos e fenômenos, de ensinar e compartilhar tudo isso, que é o matema próprio ao grupo, à comunidade, ao etno. Isto é, na sua etnomatemática (D’AMBRÓSIO, 2003, p. 22).
Segue uma sugestão de atividades com brincadeiras na tendência etnomatemática.
ATIVIDADE
A proposta pedagógicada etnomatemática é fazer da matemática algo vivo, ligando-a com situações reais no tempo [agora] e no espaço[aqui]. E, através da crítica, questionar o aqui e agora. Ao fazer isso, mergulhamos nas raízes culturais e praticamos a dinâmica cultural.
Estamos, efetivamente, reconhecendo, na educação, a importância das várias culturas e das tradições na formação de uma nova civilização, transcultural e transdisciplinar. 
 Pesquise uma brincadeira ao seu critério relacionada à etnomatemática para ser realizada com alunos de séries iniciais do ensino fundamental ou educação infantil.
(Segue um modelo)Pesquise outro
BRINCADEIRA: “Seu Rei mandou”
Conteúdo/objetivos: essa brincadeira contribui com a construção do conceito de número (abstração), com grandezas discretas e contínuas; desenvolve as propriedades aditiva ,multiplicativa e suas operações opostas; auxilia na sistematização do sistema de numeração decimal e do sistema monetário; desenvolve o raciocínio lógico e a atenção. Esse tipo de brincadeira deve ser trabalhado conforme a proposta da etnomatemática, considerando-se situações reais presentes na cultura, a etnia e os costumes de um grupo. A brincadeira pode gerar uma gama conceitos, quando se é trabalhada como um recurso pedagógico. Inicialmente, professor pode explorar a brincadeira, gerando uma discussão sobre os tipos de brincadeiras atuais e antigas etc.
A brincadeira “Seu Rei mandou” é uma adaptação de uma brincadeira antiga, conhecida por “Boca de forno”, que se iniciava com o Sr. Rei dizendo aos participantes:
Sr. Rei: Boca de forno!
Participantes: Forno!
Sr. Rei: Jacarandá!
Participantes: Já
Sr. Rei: Quem não for?
Participantes: Apanha!
Sr. Rei: Quantos bolos?
Participantes: Dez!
Sr. Rei: Sr. Rei mandou dizer que você deve fazer.... (dar a ordem)
Observação: o participante que não obedecia à ordem dada pelo “Sr. Rei” era punido com10 bolos na mão (palmadas na mão).
Na adaptação da brincadeira, não há punição, pois todas as ordens são fáceis e acessíveis a todos os participantes. O professor pode analisar a lista de compra de cada participante como objetivo de verificar valores iguais, diferença de valores, maior, menor, a mais, a menos etc.
MATERIAL
• Encartes de supermercados (com fotos e preços)
• Tesoura
• Cola
• Folha papel sulfite (como lista de compra)
DESENVOLVIMENTO
• a brincadeira pode ser em duplas ou individual;
• distribuir, para cada dupla, encartes de supermercado/lojas (de preferência do mesmo
supermercado), folha de papel sulfite com o título: “Lista de compras”, tesoura e cola;
• oriente os alunos para ouvirem com bastante atenção as ordens (lidas pela professora).
Para cada ordem, o aluno deverá recortar o produto do encarte e colar na folha da lista
de compra;• depois de cumprir todas as ordens, o professor trabalha com a turma situações como, por exemplo:
1. Quanto foi gasto para cumprir todas as ordens?
2. Compare, entre as duplas, quem gastou mais ou menos.
3. Se essa compra fosse paga com “tantos reais”, quanto receberia de troco?
4. Entre outras situações, conforme a necessidade de compreensão da turma.
ORDENS
Seu rei mandou:
1. comprar um presente para a mamãe;
2. comprar um presente para o papai;
3. comprar um presente pra professora;
4. comprar um alimento da sua preferência;
5. comprar um produto de limpeza;
6. comprar um produto de vestuário;

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