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1 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS: EDUCAÇÃO INFANTIL 1. CARVALHO, M. T. V.; ORTIZ, C. INTERAÇÕES: SER PROFESSOR DE BEBÊS - CUIDAR, EDUCAR E BRINCAR, UMA ÚNICA AÇÃO Iniciando a conversa Em relação à história das instituições de educação, o lugar específico para bebês ainda está, como eles, engatinhando, principalmente em nosso país onde não há uma cultura totalmente estabelecida sobre essa prática, onde ainda é polêmica a questão: “Bebês podem ir às creches?”. Ainda assim, o espaço do bebê em instituições de educação já tem um caminho percorrido com algumas histórias para contar e outras a serem construídas a partir de muita experiência e transformações nas políticas públicas. Embora hoje em nossa sociedade o acesso à escola de educação infantil é lei desde 1998, conforme preconiza nossa constituição e a LDB, de 1996, em dados de 2011, apenas 18% das crianças brasileiras frequentam creches e cerca de 80% das crianças de 4 a 5 anos frequentam pré-escolas. Entre as crianças que frequentam as creches (0 a 3 anos), as de até um ano de vida, praticamente não são atendidas. Começamos efetivamente a atender as crianças a partir de 1 ano de idade. O bebê enquanto sujeito: uma visão de várias dimensões Ao nos referirmos ao bebê, na perspectiva de pensar neste processo de constituição do sujeito, incluímos tanto os aspectos de condições ambientais (ambiente físico, material e relacional) e orgânicas (constituição e funcionamento físico e fisiológico), quanto os aspectos simbólicos que o determinam: o lugar que ocupa na família, os mitos familiares, as ações realizadas em função do bebê, o que se fala dele, os sujeitos desses discursos, os desdobramentos desses campos discursivos a partir dos primeiros contatos, enfim, o que se pode falar a respeito dele e por ele. Não podemos nos limitar a dizer que basta cuidar e responder às necessidades físicas de um recém- nascido para que ele cresça saudável, pois não basta um corpo saudável, biologicamente organizado e programado para funcionar; é preciso ocupar-se dele, atribuir significados, responder às suas primeiras demandas, ter expectativas sobre suas ações e reações, e situá-lo na cultura por meio do desejo daqueles que cuidam dele. A importância do acolhimento ao iniciar a vida fora de casa O processo de inserção de crianças pequenas no âmbito institucional, comumente chamado de processo de adaptação, requer cuidado específico. No trabalho em creches, entende-se por cuidado com a adaptação, a tentativa de amenizar os impactos e as dificuldades inerentes ao enfrentamento de situações novas, como entrada de crianças novas, mudanças de grupo, substituição de educadores, saída de crianças para outra instituição, mudanças no funcionamento cotidiano etc. Aqui, vamos nos deter exclusivamente aos fatos relacionados com a entrada de bebês, portanto, que dizem respeito tanto a eles e a suas famílias, como à instituição. É o período considerado necessário para que a criança se familiarize com o contexto da creche, assim como a família e a instituição passem a se conhecer, vindo a estabelecer um bom relacionamento. Essa preocupa- ção parte do princípio básico de que a criança precisa ser cuidada, rodeada de afeto, respeitada em suas diversas necessidades e que a separação mãe-bebê pode gerar sofrimentos e dificuldades no estabelecimento de novas relações. O novo, mesmo quando desejado e esperado, sempre causa estranhamento, surpresas, receios. E isso não apenas quando somos bebê, mas por toda vida encontraremos situações com as quais vamos precisar de um tempo de acomodação ou experimentar algumas mudanças em nós mesmos. Organização dos ambientes para os bebês – o olhar atento De onde partimos A importância da organização do ambiente não apenas entendido como espaço físico, mas humano, que ofereça condições de desenvolvimento para as crianças pequenas, necessita ser pensada. O ambiente comporta quatro elementos principais: MATERIAIS – INTERAÇÕES- ESPAÇO FÍSICO - TEMPO/ ROTINAS. Vamos agora aprofundar a discussão sobre a organização do espaço físico, pois nos capítulos anteriores já nos referimos às interações, e à organização do tempo. Falaremos, ainda, das propostas de atividades, destacando o brincar. As crianças necessitam: se pendurar, subir, descer, balançar, tentar fazer, acertar, errar, tentar de novo. Só desta maneira elas aprendem a conhecer seu pró- prio corpo, a controlá-lo e a saber seus limites e possibilidades. No ambiente externo, as propostas corporais fazem ainda mais sentido e podem ser realizadas com maior segurança. E os bebês... brincam! http://docslide.com.br/documents/interacoes-ser-professor-de-bebes-cuidar-educar-e-brincar-uma-unica.html http://docslide.com.br/documents/interacoes-ser-professor-de-bebes-cuidar-educar-e-brincar-uma-unica.html http://docslide.com.br/documents/interacoes-ser-professor-de-bebes-cuidar-educar-e-brincar-uma-unica.html 2 Crianças brincam de esconder, de correr, de casinha, de carros, de bola, de heróis, de jogos de quintal. Brincam de modo cada vez mais elaborado, do exercício motor a complexos jogos de regras, passam principalmente pelos jogos simbólicos ou faz de conta. Há muito que se falar sobre esse tema, pois em cada momento do desenvolvimento a brincadeira coloca em campo várias competências e sentidos, desdobrando-se em diferentes funções atribuídas a essa importante e fundamental atividade humana. E os bebês, brincam de quê? Antes de brincar de alguma coisa, o bebê brinca com. Brinca com o rosto de sua mãe – primeiro elemento identificável para um bebê, assim como o seio que o alimenta – com seu próprio corpo, com as coisas que toca, com as pessoas que vê, com os movimentos, as luzes, os sons que acontecem ao seu redor. O bebê começa brincando com os pró- prios sentidos, num crescente jogo de descobertas, desenvolvimento de habilidades e construções de significados. “Perceber o que se passa dentro e fora do corpo é uma tarefa de integração. A criança se utiliza de jogos e brincadeiras em busca dessa consciência.” (TRINDADE, 2007) Primeiro brinca com aquele que dele se ocupa com atenção para depois brincar com seus pés, mãos e sons que consegue emitir. Atividade com alto grau de concentração, o bebê se ocupa em discernir as diferentes partes de seu corpo, a saber, o que é dele, o que é do outro, num jogo de diferenciação eu/outro. Brincadeiras primordiais Brincadeiras primordiais (RODULFO, 1990) devem ser consideradas. Elas serão aqui apresentadas de modo sintético, lembrando que só são possibilidades se a criança for tomada como ser ativo e protagonista. A primeira é identificada como jogo de extrair-fabricar superfícies contínuas. São ações de explorar superfícies, que observamos tanto na brincadeira citada, do bebê mexer no rosto do adulto descobrindo seus buracos e saliências, como naqueles momentos em que o bebê se lambuza com a comida, a papa, a sopa, o muco, a baba. A criança experimenta com isso a construção de uma película, ou seja, a ideia de um contorno, um invólucro, a noção de limite corporal. Nesse período, o espaço é o corpo, o corpo e o espaço coincidem, pois o modo de o bebê explorar o mundo passa primeiro pelo próprio corpo. E os bebês... falam! A comunicação oral como construtora do pensamento, da interação com o outro e com a cultura Ovo Novelo Novo no velho O filho em folhas na jaula dos joelhos infante em fonte feto feito dentro do centro Ovonovelo, de Augusto de Campos Os poetas brincam com as palavras. Antes de brincarcom elas, eles se apropriam delas, as degustam, escolhem algumas, desprezam outras, montam e desmontam as frases antes de concluí-las. Assim também fazem os bebês. Brincam com o corpo de onde saem os primeiros sons, depois brincam com esses sons e com aquilo que ouvem ainda antes de nascer, a voz da mãe, os sons do ambiente. Desde o início, adulto e bebê se enovelam em ritmos, imita- ções, escutas atentas. Desde o início a linguagem está presente. Se entrarmos nesse poema, podemos imaginar a criança “na jaula dos joelhos” do adulto, capturada pela linguagem enquanto se olham. Para além do falar... Que outras ações, além das conversas dirigidas ao bebê podem compor o dia a dia da creche no sentido de enriquecer as interações verbais contribuindo assim para o desenvolvimento e aprendizagem da criança? As cantigas, os brincos, as rimas, as lengas- lengas, já apresentadas no subcapítulo Brincar e Movimento, vistas como as brincadeiras de tradição oral são instrumentos que compõem as interações verbais. Para além da objetividade das conversas informativas, que apresentam o jogo de comunicação e a estrutura da língua materna, há uma modalidade da linguagem de aspecto mais lúdico, que evidencia ritmo, melodia, entoação e que figura como “instanciadora de uma subjetividade brincalhona”. (BELINTANE, s/d) É quando as palavras brincam num diálogo de outra dimensão, desdobramentos literários e artísticos que permeiam de afeto e de cultura as relações verbais. Como nomeou o arte-educador Chico dos Bonecos, são os “brinquedos invisíveis, aqueles que usam artifícios da própria linguagem para se fazer valer com interação lúdica”.(BELINTANE, s/d) Há que lançar mão do nosso repertório de tradição oral e ampliá- -lo no ambiente coletivo. Cada um tem na memória algo para contar, algo que a avó lá do interior cantava para a neta que veio para a cidade, coisas que aprendemos na rua, no recreio da escola e também no berço e no trocador, capturados por um momento especial com o adulto. Acompanhando as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças 3 Pautas de observação: como construir um olhar específico para o bebê? Até aqui muito já se falou sobre a importância do olhar atento para o bebê. Olhar atento é olhar sensível, olhar cuidadoso, olhar que espera, olhar que antecipa, prevê, planeja, organiza. Olhar que conhece, acolhe, envolve, oferece afeto, põe limites, dá segurança, que indica caminhos. Olhar de quem acompanha e se envolve em um processo repleto de detalhes e riquezas. Enfim, muito se exige desse olhar específico ao bebê em ambientes coletivos de educação. Quando propomos aos professores que tenham este olhar, com certeza estamos propondo que o construam por meio de sua formação continuada. Formação continuada é direito de todos os profissionais, e dos professores mais ainda, pois o objeto de sua ação são as crianças e suas famílias, pessoas que “afinam e desafiam” como diz nosso mestre Guimarães Rosa. Sugestões aos professores Música Sugestões de CDs Toda boa música interessa às crianças, que precisam conhecer diferentes ritmos e de diferentes países e tempos. Seguem algumas sugestões de CDs infantis, lembrando que não são só os infantis que as crianças podem e devem ouvir. A Arca de Noé (vol. 1 e 2), de Toquinho e Vinicius de Moraes. (Polygram, 1980) Adivinha o que é?, de MPB- 4. (Ariola, 1983) Brincadeiras de roda, estórias e canções de ninar, de Solange Maria e Antonio Nóbrega. (Estúdio Eldorado, 1983) Canções de brincar (Coleção Palavra Cantada). (Estúdo Eldorado, 1996) Canções de ninar (Coleção Palavra Cantada). (MDL, 2001) Cantigas de Roda (Coleção Palavra Cantada). (MCD Word Music, 1998) Meu nenen (Coleção Palavra Cantada). (MCD Word Music, 2003) Carnaval Palavra Cantada (Coleção Palavra Cantada). (MCD Word Music, 2008) Canções Casa de Brinquedos, de Toquinho. (Polygram, 1995) Castelo Rá-Tim-Bum (TV Cultura/ SESI). (Velas, 1995) Coleção Música Popular do Norte, de Carolina Andrade e Cesário Coimbra de Andrade (prod.). (Discos Marcus Pereira, 1994) 2. FARIA, VITÓRIA LÍBIA BARRETO DE; SALLES, FÁTIMA REGINA TEIXEIRA DE. CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DIÁLOGO COM OS DEMAIS ELEMENTOS DA PROPOSTA PEDAGÓGICA. O livro foi escrito a partir das experiências e dos conhecimentos construídos ao longo da carreira das autoras com relação à Educação Infantil. Ele foi compilado em três capítulos. No primeiro intitulado “O currículo como um dos elementos da Proposta Pedagógica”, as autoras discutem sobre a Proposta Pedagógica como parte do currículo, sendo ela a construção da identidade, da organização e da gestão do trabalho pedagógico dentro da escola. Esse processo de construção é imbuído de crenças, valores, concepções que exercem e sofrem influências na ação pedagógica como também no processo de avaliação seja da instituição, seja dos alunos. A proposta pedagógica está ainda referendada por leis que normatizam sua estrutura e seu papel histórico nas lutas por conquistas na Educação Infantil, por isso faz necessário na sua elaboração observar alguns critérios, tais como: os objetivos (Para quê?), a quem se destina (Para quem?), os sujeitos de sua elaboração (Por quem é elaborada?) reafirmando a necessidade de um trabalho coletivo e reflexivo sobre a prática educativa desenvolvida na escola. As autoras chamam a atenção a respeito da articulação da proposta pedagógica da escola com as normatizações referendadas pelos Conselhos de Educação devendo ser contempladas nas instituições de Educação Infantil particularidades das dimensões do cuidar-educar. O primeiro capítulo é concluído considerando que é importante na elaboração da proposta pedagógica a inclusão da história da instituição, o contexto em que ela está inserida, sua estrutura, sua filosofia e as intenções quanto à organização do tempo, do espaço e da gestão do trabalho, incluindo o currículo. No segundo capítulo, “O currículo na Educação Infantil: as relações da criança com os conhecimentos da natureza e da cultura”, as autoras partem da concepção de criança, de suas formas privilegiadas de aprender e de se desenvolver em uma perspectiva sociocultural. Além disso, discutem o papel da escola e da instituição de educação infantil na constituição da identidade da criança como sujeito histórico- cultural e ainda mostram os conhecimentos, atitudes, procedimentos e valores que devem ser trabalhados apresentando as diversas possibilidades de apropriação, criação e recriação da cultura dentro de conhecimentos formais e informais sobre as linguagens, a sociedade e a natureza. Nessa fase de 0 a 6 anos a criança está em pleno desenvolvimento físico-motor construindo as relações com o mundo que a cerca, com o outro, com os objetos, começam a adquirir e desenvolver sua capacidade simbólica, a fase da brincadeira, da imitação, desenvolvendo assim múltiplas linguagens que nessa fase da Educação Infantil é essencial, assimilando a cultura historicamente construída, e produzindo também cultura e conhecimentos numa 4 perspectiva de mundo numa visão macro, globalizada e informatizada. A escola nesse processo é caracterizada como um espaço de acesso a conhecimentos ditos como formais que permitem novas formas de pensamento e comportamento construídos historicamente e culturalmente pela humanidade através de interações entre os sujeitos e de forma intencional. Por isso, cabe ao professor promover intencionalmente aprendizagens significativas para as crianças conduzindo-as para esses conhecimentos historicamente acumulados. E por fim no terceiro capítulo cujo título é “O currículo em ação na Instituição de Educação Infantil”, as autoras mostram experiências práticas mostrando como os diversos elementos da Proposta Pedagógica se articulam no fazer cotidiano dos professores que trabalhamcom crianças de 0 a 6 anos. Essa articulação se dá através das metodologias adotadas pelo professor e se baseiam através das crenças, valores e concepções que o profissional tem sobre educação, currículo, criança e, além disso, envolvem posturas, atitudes, procedimentos, estratégias e ações. Portanto, é fundamental o professor de Educação Infantil participar da elaboração da proposta pedagógica da instituição na qual está inserido, conhecer o currículo da Educação Infantil, refletir sobre sua execução na prática de sala de aula para poder opinar sobre o que funciona ou não, na prática cotidiana. Mas para isso é necessário o conhecimento e uma prática pedagógica reflexiva, uma participação efetiva dentro da escola, sendo um colaborador constante, um profissional engajado e preocupado com o bem maior da instituição de educação infantil que são as crianças. 3. “DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR E APRENDIZAGEM” VITOR DA FONSECA Ao abordar a temática “Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem”, numa perspectiva intercultural, uma vez que nos vamos servir de contributos de pioneiros europeus, norte-americanos e russos, temos que prioritariamente reformular, ou refundar, epistemologicamente o que entendemos por Psicomotricidade. Serve portanto este resumo, para explicar as nossas fontes de estudo e de inspiração e as nossas raízes reflexivas, pretéritas e prospectivas, sobre um tema tão interessante e abrangente. Nesta conferência abordaremos preferencialmente as relações entre o desenvolvimento psicomotor e a aprendizagem, mais a psicomotricidade do que efectivamente a aprendizagem, e mais a aprendizagem não simbólica e não verbal, do que a aprendizagem simbólica e verbal, que já foi tema doutro livro que escrevemos (Fonseca, 1984, 1999). A Psicomotricidade pode ser definida, em termos necessariamente reduzidos, como o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências, recíprocas e sistémicas, entre o psiquismo e a motricidade. O psiquismo nesta perspectiva é entendido como sendo constituído pelo conjunto do funcionamento mental, ou seja, integra as sensações, as percepções, as imagens, as emoções, os afectos, os fantasmas, os medos, as projecções, as aspirações, as representações, as simbolizações, as conceptualizações, as ideias, as construções mentais, etc., assim como a complexidade dos processos relacionais e sociais. O psiquismo, nesta dimensão integra a totalidade dos processos cognitivos, compreendendo as funções de atenção, de processamento e integração multissensorial (intero, próprio e exteroceptiva), de planificação, regulação, controlo e de execução motora. A activação de tais funções psíquicas corresponde a vários substratos neurológicos de origem filogenética e emergidos num contexto sociogenético, subentendendo uma plasticidade neuronal, uma hierarquização funcional e uma auto-actualzação internalizada que se desenvolvem ao longo da ontogénese, mas que tendem a delapidar-se no processo inevitável da retrogénese. A motricidade nesta dimensão é entendida como o conjunto de expressões mentais e corporais, envolvendo funções tónicas, posturais, somatognósicas e práxicas que suportam e sustentam as funções psíquicas. Com base neste pressuposto, a motricidade não pode ser compreendida apenas nos seus efeitos extrassomáticos, aliás como a linguagem, uma vez que ela depende de motivações, significações internas e fins que a justificam, não sendo possível portanto, separá-la dos processos psicológicos que a integram, representam, elaboram e executam, na medida em que ela se encontra sempre em coesão e coibição com a fenomenologia das necessidades, com a contextualização das situações e com a diversidade das circunstâncias, a partir das quais é desencadeada como acto significativo e intencional único entre os seres vivos. Ao longo da evolução da espécie (filogénese e sociogénese) e do desenvolvimento da criança e do jovem (ontogénese), a motricidade permitiu, permite e permitirá, a sobrevivência e afiliação, a manutenção de estilos de vida (caça, recolecção, etc.) e a fabricação de utensílios e tecnologias, a domesticação de animais e a produção de obras de arte, a invenção e expressão da fala e da escrita, ou seja, foi, é e será a plataforma a partir da qual o pensamento reflexivo, a cultura e a civilização se perpetuaram, se conservam e se co-construirão. 5 Neste pressuposto, a psicomotricidade tem como finalidade principal o estudo da unidade e da complexidade humanas através das relações funcionais, ou disfuncionais, entre o psiquismo e a motricidade, nas suas múltiplas manifestações biopsicossociais e nas suas mais diversificadas expressões, envolvendo concomitantemente, a investigação, a observação e a intervenção ao nível das suas dissociações, desconexões, perturbações ou transtornos ao longo do processo do desenvolvimento. Partindo duma matriz teórica original, multi e transdisciplinar, a psicomotricidade estuda e pesquisa as complexas relações recíprocas e sistémicas da motricidade com o todo da personalidade que caracteriza o indivíduo, espec ificamente nas suas expressões afectivo-emocionais e psico-sócio- cognitivas. O objectivo principal da psicomotricidade visa, consequentemente, aprofundar a influência das interacções recíprocas entre a motricidade e o psiquismo humanos, assumindo a unidade, a diversidade e a complexidade transcendente da condição humana como componentes estruturantes do seu conhecimento. Neste parâmetro de enquadramento conceptual, a motricidade é entendida como o conjunto de expressões corporais não verbais e verbais (a linguagem não deixa de ser uma oromotricidade onde participam cerca de cem músculos), que sustentam e suportam as manifestações do psiquismo, sendo este entendido como sendo composto pelo funcionamento mental total. Cabem nesta concepção dinâmica, holística, sistémica e actuante do psiquismo, todos os processos cognitivos que integram, planificam, regulam, controlam, monitorizam e executam a motricidade, como uma resposta adaptativa intencional, auto- engendrada e inteligível que ilustra a evolução da espécie e a evolução da criança, sendo este preferencialmente, o objecto nuclear da conferência. A motricidade humana, a única que se pode designar como psicomotricidade, estudada em pressupostos claramente diferenciados da sensoriomotricidade animal, é portanto compreendida como suporte das funções mentais próprias e exclusivas do ser humano, donde emana a sua identidade singular e plural em muitos aspectos do seu desenvolvimento, da sua adaptabilidade, da sua aprendizagem e da sua socialização. A concepção triárquica da psicomotricidade que tem sido estudada e investigada, ao longo de mais de cem anos pode apontar na nossa óptica, tendo por analogia a concepção de sistemas complexos de conhecimento, para três vectores paradigmáticos a saber: o multicomponencial, o multiexperiencial e o multicontextual. - Multicomponencial, porque procura integrar de forma coerente e sistémica os contributos não só das ciências biológicas, mas também das ciências humanas e doutros domínios que abrangem secâncias transdisciplinares que integram outros paradigmas nomeadamente: da filosofia, da fenomenologia, da biosemiótica, da antropologia, da epistemologia genética, da psicologia evolutiva e diferencial, da psicossomática, da psicofisiologia, da neuropsiquiatria, da psicanálise, da psiquiatria, da neuropsicologia, da defectologia, da patologia, da psicopedagogia, da ecologia humana, da sociologia, etc. A construção do saber em psicomotricidade estabelece inevitavelmente relações com outros domínios conexos e apropria-se doutros fundamentos conceptuais exteriores a ela própria, sendo esta estratégia uma virtualidade da sua orientação epistemológica. - Multiexperiencial, dado que procura estudar e pesquisar a implicação da psicomotricidade no processo do desenvolvimentoe desdesenvolvimento humano consubstanciando a diversidade da experiência e da vivência, desde o recémnascido ao idoso (sénior), desde o indivíduo inexperiente ou imaturo ao experiente ou sobredotado, desde o indivíduo normal ao indivíduo com deficiências, dificuldades e ou desvantagens (ou com necessidades especiais), em qualquer actividade ou manifestação da sua conduta e cultura, etc. - Multicontextual, na medida em que visa projectar o nível de aplicação do seu conhecimento e intervenção nos vários contextos onde se integra e observa a actividade humana nos seus múltiplos envolvimentos, desde a família, aos centros materno-infantis, desde o hospital aos centros de saúde, desde a educação pré- escolar à escola primária, da escola secundária à universidade, desde os centros de lazer e recreação aos clubes desportivos, desde os centros de emprego à total inclusão do indivíduo na sociedade em geral, isto é, envolvendo todos os ecossistemas (micro, meso, exo e macrosistemas) e contextos onde o ser humano se desenvolve, interage e integra como ser sócio-histórico. A sua matriz científica e prática clínica encerra uma concepção de educação, de reabilitação e de terapia psicomotora, em cujo campo se integra a psicomotricidade como um subsistema de conhecimento e de intervenção específica, para além doutros, que tem a finalidade de estudar as condições predisponentes à maximização, optimização e modificabilidade máximas do potencial de adaptabilidade e de aprendizibilidade, do indivíduo normal ou excepcional, tendo em vista a sua acessibilidade eficaz aos vários ecossistemas, quer sejam naturais, culturais, quer arquitectónicos ou tecnológicos. A visão de uma educação ou terapia ancorada à noção de psicomotricidade, toma em consideração, não só o 6 indivíduo normal, como o indivíduo portador de deficiências, de dificuldades e de desvantagens de vária ordem, como uma subjectividade transcendente como um todo único, original e evolutivo, onde as funções da motricidade e da corporeidade são consideradas indissociáveis das funções afectivas, relacionais, linguísticas e cognitivas. O corpo e a motricidade, são concebidos em psicomotricidade como uma imanência absoluta onde habita a subjectividade e a auto-consciência, donde emana um ser vivo e original situado no mundo e em perfeita interacção com ele. Como entidades vivas, o corpo humano e a motricidade humana não se reduzem a uma pura realidade biológica, na medida em que agregam uma dimensão metafísica. Como organismo complexo que é, o ser humano é portador de uma experiência interna transcendente, ascende a uma dimensão ontológica onde emerge o sentimento íntimo e o conhecimento interno imediato do Outro e do seu Eu, da sua consciência, atributos inseparáveis da sua natureza. A psicomotricidade considera ainda preponderante em termos ontológicos, o contexto sócio-histórico e cultural, onde o ser humano está inserido, com a finalidade de gerar novos processos de facilitação e de interacção com os ecossistemas, no sentido dele se poder adaptar a uma sociedade em mudança acelerada. Desta concepção de educação, de reabilitação e de terapia psicomotora, decorrerá obviamente a relevância da sua inovação e da sua investigação. A psicomotricidade tal e qual a concebemos hoje, tem uma história de cerca de 100 anos, mas apresenta uma estrutura de conhecimento já enraizada num longo passado de mais de 5 milhões de anos, onde decorreu a maravilhosa história da Hominização. Como concepção dinâmica e evolutiva do ser humano, ela é extremamente actual. A psicomotricidade, com base em vários autores e várias escolas de pensamento, onde a compatibilidade e coibição das suas disciplinas estruturantes, ainda peca por falta de fecundidade e de alguma fragmentação teórica, porque emergida duma matriz biológica, não conseguiu todavia envolver, e integrar dialecticamente, uma matriz cultural mais complexa, específica, coerente e abrangente da evolução da espécie humana, e consequentemente, do desenvolvimento da criança e do jovem. A psicomotricidade parte de uma evidência ontológica inquestionável: somos seres vivos, antes de sermos seres humanos e seres culturais, por essa imanência transcendente, só a podemos formular numa vocação epistemológica biopsicossocial. Os seus paradigmas de desenvolvimento, de aprendizagem e de adaptação, não sendo ainda cabal e sistemicamente entendidos como uma relação transcendente entre a situação externa e a acção internamente elaborada, caminham no futuro, à luz das novas disciplinas emergentes, para uma reflexão epistemológica mais integrada, alargada e actualizada. Com a presente conferência, tentamos lançar, de forma introdutória, alguns dos seus novos fundamentos. Como qualquer conhecimento, o conceito da psicomotricidade, a sua função, o seu papel e a sua importância, não escapam ao risco do erro em qualquer pioneiro ou novo messias que a conceba e perspective. A articulação da psicomotricidade com os outros saberes tem sido proveitosa e positiva ao longo dos tempos, independentemente da atitude de co-construção de conhecimento, da superação das contradições, da redução da incerteza e da ampliação da comunicação entre os vários conhecimentos e as várias culturas, ser ainda diminuta e episódica. O saber acumulado em inúmeras obras de psicomotricidade, a experiência clínica positiva e a memória viva dos vários pesquisadores oriundos de várias culturas (europeias, norte-americanas e russas), que vamos tratar nesta conferência, não encontrou ainda no seio das ciências humanas uma plataforma de debate e de reflexão prospectiva, construtiva e não defensiva, que valorize a interdependência das suas várias disciplinas estruturantes e das suas várias sub-matrizes. A psicomotricidade como disciplina emergente, decorre efectivamente duma interdisciplinaridade e duma transdisciplinaridade originais. Os incentivos para uma discussão mediatizada e para uma transferência de conhecimento entre os vários saberes não tem sido tentada de forma sistemática, apesar dalgumas tentativas dispersas. O pensamento estratégico e a engenharia do saber da psicomotricidade no seu todo, peca ainda por não adoptar modalidades de inovação, de flexibilização e de qualidade, que no seu conjunto impedem que o seu desenvolvimento conceptual assuma dimensões mais criativas, reflexivas, sustentadas, críticas e úteis para todos os saberes. No ponto de reflexão em que nos encontramos, não é possível hoje conceber a semiologia psicomotora sem os contributos da fenomenologia, da psicanálise, da psicossomática, da psicofisiologia, das neurociências, da psicopedagogia, etc. Com a presente palestra, pretendemos fazer um levantamento das principais linhas de elaboração conceptual do desenvolvimento psicomotor, criando um paradigma consensual de pressupostos para o seu futuro estudo, algo que não é fácil, na medida em que unificar concepções de várias disciplinas distintas e de vários autores oriundos de diferentes culturas, para compreender melhor o modo como funciona a psicomotricidade enquanto sistema complexo, é um tremendo desafio. Em resumo, a psicomotricidade, apesar de não ter atingido ainda um estadio completo e formal de conhecimento, ela subentende um conjunto de 7 definições, axiomas, postulados, constructos hipotéticos, princípios, etc., ela possui potencial suficiente para se afirmar, em pelo menos, quatro campos profissionais: o da saúde, o da segurança social, o da justiça e o da educação, para além de apresentar um percurso histórico com coerência e com representatividade profissional em muitos países. Na Saúde, na Segurança Social e na Justiça, as referências à Reeducação e Terapia Psicomotora têm a sua base nas obras de grandes pioneiros como Dupré, Wallon, Ajuriaguerra, Michaux, Duché, Cruickshank, J. Ayres, etc., advindas das contribuições mais globalizantes de Freud, Schultz, Piaget, Winnicott,Vygotsky, Luria, etc. Ela poderia intervir assim, em: Hospitais, Centros de Saúde, Centros Materno-Infantis, Instituições de Solidariedade Social e Centros Especializados de Reinserção Social, e igualmente no contexto das profissões liberais, com modalidades de intervenção profilácticas e terapêuticas. Na Educação, ela tem a sua base nas obras de Guilmain, Picq, Vayer, Lapierre, Aucouturier, Soubiran, Kephart, Cratty, Frostig, Barsch, Zaporozhets, Elkonin, etc., advindas de contribuições mais distantes, como as de Demeny, Hebert, Tissié, etc. Ela poderia perspectivar modalidades de intervenção para: a Educação Infantil, a Educação Básica, a Educação Especial, a Educação Inclusiva, os Centros Médico-Psicopedagógicos, os Centros Pedagógicos Especializados, as Escolas e Centros Especiais, os Serviços de Apoio Pedagógico, etc., abrangendo por especificidade própria as modalidades de intervenção preventiva e reeducativa. Como vimos, a identidade forjada pela psicomotricidade ao longo de cerca de cem anos, enraizou-se quer nos paradigmas da educação e da reeducação, quer nos paradigmas da terapia propriamente dita. É dentro deste quadro conceptual, que podemos delimitar o seu campo de intervenção e afirmar a sua especificidade própria. Perspectivada num complexo cruzamento e interacção de saberes, a psicomotricidade revela-nos que o corpo e a motricidade são meios de expressão privilegiados na relação com o outro e meios extraordinários de apreensão dos ecossistemas, do espaço, do tempo, do mundo dos objectos e da cultura. A modulação tónica, o controlo postural estático e dinâmico, a auto e eco organização espacial, a sequencialização temporal, a coordenação e a dissociação das praxias, constituem os componentes do sistema psicomotor do ser humano (SPMH) que testemunham o seu auto- conhecimento, a sua plasticidade psíquica, a sua adaptabilidade e a sua capacidade de aprender a aprender. Com tais factores psicomotores integrados que ilustram a disponibilidade do sujeito (da criança, do jovem, do adulto, etc.), é possível mobilizar as suas funções de atenção, de processamento, de memorização, de planificação, de expressão, de mentalização, de simbolização, de inibição, de regulação e passar do registo do real ao registo do imaginário. Nesta ordem de ideias, a psicomotricidade assume o papel duma psicoterapia mediada pelo corpo e pela motricidade do indivíduo, com base nela, procura reduzir os sintomas de perturbação da sua personalidade evolutiva, reforça os seus poderes relacionais e interaccionais e promove a sua modificabilidade instrumental e operativa no sentido da maximização do seu potencial psicomotor, isto é, motor, afectivo e cognitivo. Em síntese, a psicomotricidade tem por objecto de estudo a globalidade do ser humano, no plano teórico e prático, a ela combate a dicotomia do soma e do psíquico, ensaiando pelo contrário a sua fusão e unificação complexa e dialéctica. 4. GOBBI, M. A.; PINAZZA, M. A. INFÂNCIAS E SUAS LINGUAGENS (...) o propósito fundamental da educação é a promoção de situações que privilegiem as experiências da criança, visando ao seu desenvolvimento pleno. Em se tratando da educação de crianças pequenas, talvez as primeiras referências a esse respeito possam ser encontradas na pedagogia da infância de Froebel, que pressupõe a criança como ser criativo e a educação pela auto atividade, pautada na espontaneidade. O educador alemão defende que, pela ação, a criança expressa suas intenções em contato com o mundo externo e considera que o conhecimento é um processo de conexão que engloba sentimentos, percepção e pensamento. Froebel contrapõe-se ao conceito de educação como preparação para um estado futuro. A vida em que a criança deve ser inserida não é a vida do adulto, mas a vida que a rodeia no presente, ou seja, a educação ocorre no processo, não no passado ou no futuro. Na filosofia da experiência de John Dewey, a experiência não é simples sensação, fruto do mero contato com os objetos, com seus atributos isoladamente. Na verdade, as experiências efetivam- se pelas relações que as pessoas estabelecem com os objetos e seus atributos em um processo de 8 discriminações e identificações por meio da experimentação. Se a criança não for verdadeiramente engajada numa situação em que o ato de desenhar esteja integrado com experiências que o antecederam e não se fizer num fluxo contínuo com outros atos, num esforço de consumação da experiência, então, o que se tem não é ‘uma experiência’ com o desenho, mas mera atividade de desenhar. (...) É pouco provável que o produto seja reconhecido pela criança (a artista) como ‘uma experiência’ ou um acontecimento integral. “Essa estética a serviço da pedagogia sempre cumpre encargos alheios e, segundo a ideia de alguns pedagogos, deve servir como meio para a educação do conhecimento, do pensamento e da vontade moral.” O convite feito por Vygotsky aos profissionais da educação da infância é no sentido de valorização da obra de arte naquilo que ela pode suscitar verdadeiramente nas crianças, a despeito dos propósitos impostos a priori pelos adultos. Deve-se atentar para o fato de que como meio de aquisição de ‘herança cultural’, de acesso à ‘memória social’, a educação não pode prescindir do desenvolvimento dos processos de inteligência que permitam aos indivíduos avançarem para além das formas culturais de seu mundo social, inovando e criando uma cultura própria, para que “qualquer que seja a arte, ciência, literatura, história e geografia da cultura, cada indivíduo tenha de ser seu próprio artista, cientista, historiador e navegador”. (Jerome Bruner) Provocam (os autores) a pensar que meninas e meninos são sujeitos culturais, sociais e históricos e tomam para si a vida como grande problema a ser descoberto, vivido, experimentado. Com isso, vivendo e criando distintas experiências, nas mais diversas linguagens, podem passar das investigações às criações artísticas sem constrangimentos, mostrando- nos formas singulares e específicas de relações estabelecidas entre as crianças e com o mundo. O ir e vir no “tudo ao mesmo tempo agora” – passado, presente, futuro – evidenciam lógicas próprias e coexistentes das crianças, rompendo até mesmo, com uma concepção linear do tempo. Encontram-se presentes nas linguagens artísticas na infância e entre os adultos, tais como na poesia, na pintura, escultura, teatro rompendo e nos ensinando a romper com a dicotomia racional irracional. Sem razão 1 + 1 = 2 Longe está o sentimento do cálculo Amarelo + azul = centenas de verdes. Longe esta a razão da arte (Bruno Munari) O exercício humano de criação é encarado cotidianamente entre pares ou individualmente. Por trás das ações vistas pelo universo adulto como aparentemente inúteis, encontram-se elementos da cultura vivida e elaborada pelas crianças a partir do sexo, idade, etnia, classe social, religião. Seus segredos existenciais, desejos, hipóteses e teorias, o ato de conhecer e de criar encontram-se de modo concomitante sendo manifestados em formas e conteúdos diversos. Desenhar, pintar, dançar é para as crianças, como para os artistas, a possibilidade de descobrir, conhecer e aproximar-se, são exercícios de vida nos quais estão contidas a arte e a ciência, podendo ser compreendidas quase numa única palavra: arteciência. O que essa tríade arte-ciência- infância pode nos oferecer é a produção de novos mundos em que imaginação, intuição, cognição, fantasia e emoção caminhem conjuntamente. Inegável desafio. Inegável desafio ainda para nossos dias em que a fragmentação e a diluição de sentimentos e percepções encontram- se cada vez mais presentes. “(...) oferecemos às nossas crianças situações de experiências conjuntas e sozinhas escutando com paciência suas histórias e, sobretudo, acolhendo cominteresse seu repertório?” CONSIDERAÇÕES FINAIS... Mostrou-se aqui a preocupação em atuar favoravelmente em direção à formação daqueles/as que se encontram com as crianças. (...) Tratando de linguagens e da infância é urgente refletir sobre seu teor e isso pressupõe disposição para se perceber o tipo de comunicação que está presente ou ausente entre as crianças em seus choros, suas falas, seus gestos, desenhos, pinturas, esculturas. 9 5. HOFFMANN. JUSSARA. AVALIAÇÃO E EDUCAÇÃO INFANTIL: UM OLHAR SENSÍVEL E REFLEXIVO SOBRE A CRIANÇA. Estudos sobre a Educação Infantil revelam que os ambientes devem destacar sua função social. Motivos: Construtivismo (Piaget); Para isso, é necessário que o educador: • Conheça as reações das crianças; •Perceba suas tentativas, limites e possibilidades; • Planeje as ações pedagógicas a partir de tais observações e reflexões. Sendo assim é tarefa essencial do avaliador, realizar a mediação, como intervenção pedagógica desafiadora do potencial de cada criança; É papel do avaliador buscar uma articulação significativa entre os conceitos construídos pela criança e formais mais elaboradas de compreensão da realidade; O educador, deve abandonar listagens de comportamentos uniformes e padronizados; É seu papel buscar estratégias de acompanhamento da história que cada criança vai construindo ao longo de sua descoberta do mundo. Mediação significa um estado de alerta permanente do professor que acompanha e estuda a história da criança em seu processo de desenvolvimento; E os registros de avaliação, deverão resguardar a singularidade da história de cada criança e do acompanhamento dessa história construída a partir de suas vivências de grupo. 6. MARIA DA GRAÇA SOUZA HORN .“SABORES, CORES, SONS, AROMAS – A ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL” O livro aborda uma pesquisa da autora Maria da Graça de Souza Horn focada na organização dos espaços na educação infantil. A autora introduz os relatos de sua pesquisa com um embasamento teórico sobre o assunto em questão, tratando primeiramente do histórico desses espaços, como vêm se organizando através dos tempos e por que. Também trata da visão social do professor e de sua formação, necessária para que seja possível uma grande mudança na Educação Infantil neste quesito. Ela retrata, em suas experiências, dúvidas e medos dos educadores envolvidos, sem, porém, julgá-los, adotando uma postura compreensiva e auxiliadora. O livro traz o relato detalhado de toda a experiência que teve com três turmas de Educação Infantil, suas professoras e toda a equipe escolar nesta escola de Porto Alegre – RS onde fez sua pesquisa, dando voz a todos os lados, a coordenadora, as professoras e as crianças, registrando todo esse processo (desde as reuniões e interações da coordenadora com as professoras, até as mudanças que gradativamente foram ocorrendo nas salas) com texto, imagens e citações desenvolvidos. O livro não dá receitas prontas para a organização dos espaços na educação infantil, e sim dá todo o embasamento necessário para que cada educador possa fazê-lo da melhorforma considerando seu próprio contexto. Além disso, o livro tem o poder de instigar e empolgar o professor para a realização dessa mudança tão importante, que começa dentro de cada um. Organizar o cotidiano da criança na Educação Infantil pressupõe pensar que o estabelecimento de uma sequencia básica de atividades diárias é, antes de mais nada, o resultado da leitura que fazemos no nosso grupo de crianças, a partir, principalmente, de suas necessidades. É importante que o educador observe com o que as crianças brincam, como estas brincadeiras se desenvolvem, o que mais gostam de fazer, em que espaços preferem ficar, o que lhes chama mais atenção, em que momentos do dia estão mais tranquilos ou mais agitados. Este conhecimento é fundamental para que a estruturação espaço- temporal tenha significado. Ao lado disso, também é importante considerar o contexto sociocultural no qual se insere e a proposta pedagógica da instituição, que deverão lhe dar suporte. Um educador atento deve observar, ouvir e sentir as crianças e o ambiente para definir quais as intervenções necessárias para melhorá-lo. A organização e reorganização do espaço deve ser reflexo das necessidades e vontades das próprias crianças. O modo como organizamos materiais e móveis e a forma como crianças e adultos ocupam esse espaço e como interagem com ele são reveladores de uma concepção pedagógica. No que se refere à organização das atividades notempo, nas escolas de Educação Infantil, são necessários momentos diferenciados, organizados de acordo com as necessidades biológicas, psicológicas, sociais e históricas das crianças (menores ou maiores). Nesse sentido, a organização do tempo nas creches e pré- escolas deve considerar as necessidades relacionadas 10 ao repouso, alimentação, higiene de cada criança, levando-se em conta sua faixa etária, suas características pessoais, sua cultura e estilo de vida que traz de casa para a escola. O olhar de um educador atento é sensível a todos os elementos que estão postos em uma sala de aula. O modo como organizamos materiais e móveis, e a forma como crianças e adultos ocupam esse espaço e como interagem com ele são reveladores de uma concepção pedagógica. Aliás, o que sempre chamou minha atenção foi a pobreza frequentemente encontrada nas salas de aula, nos materiais, nas cores, nos aromas,; enfim, em tudo que pode provocar o espaço onde cotidianamente as crianças estão e como poderiam desenvolver-se nele e por meio dele se fosse mais bem organizado e mais rico em desafios. As escolas de Educação Infantil têm na organização dos ambientes uma parte importante de sua proposta pedagógica. Ela traduz as concepções de criança, de educação, de ensino aprendizagem, bem como uma visão de mundo e de ser humano do educador que atua nesse cenário. Portanto, a concepção pedagógica do professor será refletida no modo com queos espaços são organizados. Uma professora com uma concepção empirista, por exemplo, tende a centrar o espaço nas suas próprias necessidades. Já outra com concepção apriorista, centraria o espaço todo na criança minimizando suas possibilidades de intervenção. Investir na formação dos profissionais que atuam nessa área é um dos caminhos a serem seguidos. Historicamente esses educadores têm sua prática ancorada no fato de ter paciência, de gostar de criança, de não ter uma formação profissional, de ter um trabalho próximo as suas casas, etc. Além da formação superior dos professores, são de extrema importância os cursos e oficinas que proporcionam aos mesmos uma atualização constante, proporcionando o embasamento teórico necessário para melhorar a prática pedagógica e romper com esse histórico da profissão que ainda é presente em nosso dia-a-dia. A medida que o adulto alia-se a um espaço que promova descentração de sua figura e que incentive as iniciativas infantis, abrem-se grandes possibilidades de aprendizagens sem sua intervenção direta. Segundo a autora, este processo é inicialmente trabalhoso, até as crianças adaptarem-se a liberdade de escolha, pois na maioria das vezes são acostumadas justamente ao contrário. Nesse sentido, a intervenção do professor se faz muito necessária na fase inicial, porém com o tempo essa situação de autonomia é muito benéfica em todos os sentidos, resolve muitos “problemas”de agitação e agressividade que eram na verdade reflexo do descontentamento com o antigo sistema. Para a criança brincar e exercitar sua capacidade de compreensão e produção de conhecimento, é essencial que haja um espaço em sala de aula organizado visando a esse objetivo. A forma como organizamos o espaço interfere, de forma significativa, nas aprendizagens infantis. A organização do espaço pode ser uma grande aliada na construção do conhecimento desdeque feita visando as necessidades e vontades das próprias crianças, oferecendo diversidade e múltipla escolha de atividades. Também pode ser a grande vilã da prática pedagógica, se organizada de forma a limitar a autonomia, a participação e a liberdade dos alunos, o que muitas vezes os deixa agitados por estarem ociosos ou insatisfeitos com esta organização. De modo geral, os educadores tem preferência por realizar trabalhos dirigidos, feitos individualmente, não prevêem espaços para tarefas coletivas e tem dificuldades de orientar seu trabalho para escolhas feitas pelas crianças sem sua constante vigilância e ordenamento. POR QUE É IMPORTANTE ORGANIZAR OS ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL? Espaço é o mediador das relações sociais através das trocas que ocorrem. A brincadeira para as crianças é uma forma de oportunizar fantasiar vivencias que no dia-a-dia não são possíveis de se realizar de forma real. Para elas, é totalmente satisfatório protagonizar opapel de cozinhar, lavar, passar, dirigir, construir e criar enredos a partir destas ações. A necessidade dos trabalhos individuais vêm também da própria instituição ou dos pais que os exigem em certa quantidade como registro. É realmente notável a dificuldade que observo na maioria de minhas colegas de trabalho, e por vezes em mim, de deixar as crianças livres para escolherem. Isso vem de uma relação de confiança construída aos poucos. Os estrados foram retirados e os cantos de castigo desapareceram; porém, na realidade, isso não significou que de fato tenham sido “retirados”. Percebemos que muitas vezes estes são apenas substituídos ou disfarçados por outras práticas de igual significado. Existem muitos outros meios de exercer a dominação sobre a criança que fazem parte do dia-a-dia das escolas. “A escola para crianças pequenas deveria ser um lugar onde elas pudessem ter um contato mais próximo com a natureza, conviver com animais e plantas e mexer na água e na terra.” Esta citação afirma justamente o contrário da escola onde trabalho. Além de os pequenos terem pouco contato com a natureza em casa (muitos moram em apartamentos) a escola orienta as professoras a limitar seu contato com seus elementos, para evitar que a criança se suje. Além de que, que eu saiba, na maioria das escolas é vedada a 11 presença de animais. Destaca-se também, a importância dos jogos que desenvolvem a capacidade criadora dosalunos, utilizando materiais simples, como bolas, cilindros e cubos. Por vezes investimos somente em brinquedos prontos, buscamos estes para nossas salas e alegamos que a falta de verba para estes diminui as possibilidades de brincadeira na sala de aula, quando na verdade o que realmente instiga a criança são os brinquedos com os quais ela pode criar, aqueles que pode modificar, construir, desconstruir, reconstruir. Entre muitos educadores infantis, a ideia do modelo, da receita, é bastante usual. Copiam-se atividades, reorganizam-se espaços sem considerar o contexto da instituição, a trajetória do grupo, suas necessidades e seus desejos. Quando não há um processo de aprofundamento teórico, discussão, levantamento de hipóteses, quando se cria uma obrigatoriedade e se exige das professoras uma mudança nos espaços, o que mais poderá ser observado será uma cópia de outros espaços visitados ou observados, pela falta de embasamento e tempo para observar e sentir o ambiente e as necessidades das crianças. O espaço nunca é neutro. A forma como o organizamos transmite uma mensagem que pode ser coerente ou contraditória com o que o educador quer fazer chegar à criança. O espaço é um aliado da prática pedagógica, se construído com sabedoria e de forma reflexiva. Do contrário pode vir a dificultar e prejudicar a prática pedagógica, se distanciando das intenções do educador. Por vezes o educador tem determinada intenção,mas não tem a sensibilidade de identificar os elementos espaciais que podem colaborar ou dificultar sua concretização. O espaço não deverá ser somente um local útil e seguro, mas também deverá ser agradável e acolhedor, revelador das atividades que nele as crianças protagonizam. E torná-lo agradável e acolhedor, é, também, tarefa das crianças, em conjunto com o professor. Estes devem ser ouvidos e também devem ajudar manualmente na construção destes ambientes que são direcionados para elas próprias. Apesar das combinações feitas serem um modo democrático de relacionamento, a organização do espaço, ao impedir a liberdade das expressões lúdicas das crianças, cria uma dicotomia entre corpo e mente, ou seja, entre razão e emoção. Praticamente todas as turmas de educação infantil tem seus combinados. Não correr na sala de aula, não gritar, não agredir, mas é necessário observar se a organização da sala e da turma facilita o cumprimento desses combinados. Se os alunos não tem nenhuma atividade que os instigue, vão acabar se agitando e consequentemente descumprindo as combinações. “Um coelho de verdade visitara a sala do maternal. Quando as crianças maiores perceberam que havia um coelho em uma das salas, saíram todas correndo. Cercaram o bicho, cheias de curiosidade. As professoras, muito aflitas, “recolheram” todas as crianças, dizendo que não era hora de ver o coelho, pois tinham outras coisas para fazer”.Segundo a autora, o educador precisa de sensibilidade para valorizar situações ricas como essa, em que surgiu o interesse pelo coelho. Sempre ouvimos e repetimos que os projetos devem ser formulados em cima do interesse dos alunos, porém quando surgem situações de interesse muitas vezes as cortamos em favor da rotina. Seria um bom momento para questionar e instigar os alunos. As mudanças, de modo geral, geram conflitos nem sempre absorvidos pelas pessoas, ainda mais quando abordamos propostas inovadoras em ambientes escolares. Qualquer mudança causa um espanto, porque tira os envolvidos da zona de conforto. No ambiente escolar as mudanças no espaço, na rotina, no método de ensino, devem ser propostas com um subsídio da direção e coordenação e com tempo e paciência para ser realizado, do contrário cai na obrigatoriedade, na receita e na cópia. Essa postura reflexiva do professor deve ser permanente, inserindo-se em uma relação analítica com a ação. É um processo de articulação entre o fazer e o refletir sobre esse fazer, o qual, por sua vez, apresenta rupturas, avanços e retrocessos. O professor que reflete sobre sua prática jamais está satisfeito, jamais fica estagnado. Questionar a si mesmo e suas práticas é fundamental, pois professor nenhum sabe de tudo ou está “pronto”, cada experiência é um novo desafio. É importante, também, estar aberto a novos conhecimentos e ideias. 7. LEAL, TELMA FERRAZ. JOGOS E BRINCADEIRAS NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA 8. ZILMA DE MORAES RAMOS DE OLIVEIRA EDUCAÇÃO INFANTIL: FUNDAMENTOS E MÉTODOS Uma introdução ao tema Em nosso país, as instituições mantidas pelo poder público têm dado prioridade de matrícula aos filhos de trabalhadores de baixa renda, invocando a noção de “risco social”. Por vezes, o argumento é que a educação das crianças em idade anterior à do ingresso no ensino fundamental deve ser um serviço de assistência às famílias, para que pais e mães possam trabalhar despreocupadas com os cuidados básicos a 12 serem ministrados a seus filhos pequenos. Em outras ocasiões, sustenta-se, particularmente por parte dos grupos sociais privilegiados, que a creche e pré-escola devem ser organizações preocupadas em garantir a aprendizagem e o desenvolvimento global das crianças desde o nascimento. P.37 (...) não é possível ter guarda das crianças sem as educar, e educá-las envolve também tomar conta delas. A existência desse tipo de argumentação só se explica por razões históricas, como uma das formas que a sociedade brasileira, com suas marcantes desigualdades sociais para regular as oportunidades de acesso aos bens culturaisde que dispõem as diferentes camadas da população.P.38 Pode-se falar em uma escola da infância? Na educação grega do período clássico, “infância” referia-se a seres com tendências selvagens a serem dominadas pela razão e pelo bem ético e político. Já o pensamento medieval entendia a infância como evidência da natureza pecadora do homem, pois nela a razão, reflexo da luz divina, não se manifestaria. P.44 (...) propomos que creches e pré-escolas busquem aproximar cultura, linguagem, cognição e afetividade como elementos constituintes do desenvolvimento humano e voltados para a construção da imaginação e da lógica, considerando que estas, assim como a sociabilidade, afetividade e a criatividade, têm muitas raízes e gêneses. P.45 A forte influência, na área da educação infantil, de uma história higienista, de priorização de cuidados de saúde, e assistencialista, que ressalta o auxílio a população de risco social, tem feito com que as propostas de creches e pré-escolas oscilem entre uma ênfase maior ou no cuidar ou no educar, apresentando dificuldades para integrar as duas tarefas. P.47 1.Metas almejadas “A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (Lei 9394/ 96, artigo 29). P.49 Na educação infantil, hoje, busca-se ampliar certos requisitos necessários para adequada inserção da criança no mundo atual: sensibilidade (estética e interpessoal), solidariedade (intelectual e comportamental) e senso crítico (autonomia, pensamento divergente). P.50 2.Educação para a cidadania e para o convívio com diferenças Ser cidadão significa ser tratado com urbanidade e aprender a fazer o mesmo em relação às demais pessoas, ter acesso a formas mais interessantes de conhecer e aprender a enriquecer-se com a troca de experiências com outros indivíduos. Isso implica tomar consciência de problemas coletivos e relacionar experiências da própria comunidade com o que ocorre em outros contextos. A educação para a cidadania inclui aprender a tomar a perspectiva do outro (...) e ter consciência dos direitos e deveres próprios e alheios. P.52 Os primeiros passos na construção das ideias e práticas de educação infantil No que se refere à educação da criança pequena em creches e pré-escolas, práticas educativas e conceitos básicos foram sendo constituídos com base em situações sociais concretas que, por sua vez, geraram regulamentações e leis como parte de políticas públicas historicamente elaboradas. Concepções, muitas vezes, antagônicas, defendidas na educação infantil têm raízes em momentos históricos diversos e são postas em prática hoje sem considerar o contexto de sua produção. P.57 3.A construção de concepções teóricas sobre a educação da infância A discussão sobre a escolaridade obrigatória, que se intensificou em vários países europeus nos séculos XVIII e XIX, enfatizou a importância da educação para o desenvolvimento social. Nesse momento, a criança passou a ser o centro do interesse educativo dos adultos, o que tornava a escola (pelo menos para os que podiam frequentá-la) um instrumento fundamental. P.62 Alguns setores das elites políticas dos países europeus sustentavam que não seria correto para a sociedade como um todo que se educassem as crianças pobres, para as quais era proposto apenas o aprendizado de uma ocupação e da piedade. Opondo-se, alguns reformadores protestantes defendiam a educação como um direito universal. P.62 Autores como Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Decroly, Froebel e Montessori, entre outros, estabeleceram as bases para um sistema de ensino mais centrado.P.63 Um olhar sobre as novas propostas educacionais 13 Educar crianças menores de 6 anos de diferentes condições sociais já era uma questão tratada por COMÊNIO (1592 – 1670), educador e bispo protestante checo. (...) Em 1637 elaborou um plano de escola maternal em que recomendava o uso de materiais audiovisuais, como livros de imagens, para educar crianças pequenas. Afiançava ele que o cultivo dos sentidos e da imaginação precedia o desenvolvimento do lado racional da criança. Impressões sensoriais advindas da experiência com manuseio de objetos seriam internalizadas e futuramente interpretadas pela razão. Também a exploração do mundo no brincar era vista como uma forma de educação pelos sentidos. P.64 (...) o filósofo genebrino Jean Jacques ROUSSEAU (1712 – 1778) criou um proposta educacional em que combatia preconceitos, autoritarismos e todas as instituições sociais que violentassem a liberdade característica da natureza. Ele se opunha à prática familiar vigente de delegar a educação dos filhos a preceptores, para que estes os tratassem com severidade, e destacava o papel da mãe como educadora natural das crianças. P.65 As ideias de Rousseau abriram caminho para as concepções educacionais do suíço PESTALOZZI (1746 – 1827), que também reagiu contra o intelectualismo excessivo da educação tradicional. P.65 Pestalozzi destacou ainda valor educativo do trabalho manual e a importância de a criança desenvolver destreza prática. P.66 Levou adiante a ideia de pronidão, já presente em Rousseau, e de organização graduada do conhecimento, do mais simples ao mais complexo, que já aparecia em Comênio. Sua pedagogia enfatizava ainda a necessidade de a escola treinar a vontade e desenvolver as atitudes morais dos alunos. P.66 As ideias de Pestalozzi foram levadas adiante por FROEBEL (1782 – 1852), educador alemão (...) criou em 1857 o kindergarten (‘jardim de infância”), onde crianças e adolescentes (...) estariam livres para aprender sobre si mesmos e sobre o mundo. P.67 O manuseio de objetos e a participação em atividades diversas de livre expressão por meio da música, de gestos, de construções com papel, argila e blocos ou da linguagem possibilitariam que o mundo interno da criança se exteriorizasse, a fim de que ela pudesse, então, ver-se objetivamente e modificar-se, observando, descobrindo e encontrando soluções. P.68 A educação infantil européia no século XX No período que se seguiu a Primeira Guerra Mundial, por exemplo, com o aumento do número de órfãos e a deterioração ambiental, as funções de hospitalidade e de higiene exercidas pelas instituições que cuidavam da educação infantil se destacaram. P.73 A sistematização de atividades para crianças pequenas com o uso de materiais especialmente confeccionados foi realizada por dois médicos interessados pela educação: Ovídeio Decroly e Maria Monterossi. DECROLY (1871 – 1932), médico belga, trabalhando com crianças excepcionais, elaborou, em 1901, uma metodologia de ensino que propunha atividades didáticas baseadas na ideia de totalidade do funcionamento psicológico e no interesse da criança, adequadas ao sincretismo que ele julgava ser próprio do pensamento infantil. P.74 (...) psiquiatra italiana Maria MONTESSORI (1879 – 1952) inclui-se também na lista dos principais construtores de propostas sistematizadas para a educação infantil no século XX. Tendo sido encarregada da seção de crianças com deficiência mental em uma clínica psiquiátrica de Roma, produziu uma metodologia de ensino com base nos estudos dos médicos Itard e Segun, que haviam proposto o uso de materiais apropriados como recursos educacionais.P.74 Ao contrário de Rousseua, que defendia a autoeducação, Montessori não aceitava a natureza como o ambiente apropriado para o desenvolvimento infantil. P.75 Montessori criou instrumentos especialmente elaborados para a educação motora (...) e para a educação dos sentidos e da inteligência – por exemplo, letras móveis, letras recortadas em cartões- lixa para aprendizado de operações com números. Foi ainda quem valorizou a diminuição do tamanho do mobiliário usado pelas criançasnas pré-escolas e a exigência de diminuir os objetos domésticos cotidianos a serem utilizados para brincar na casinha de bonecas.P.76 Destacaram-se, na pedagogia e na psicologia, no período seguinte à Primeira Guerra Mundial (quando era proposta a salvação social pela educação), as ideias a respeito da infância como fase de valor positivo e de respeito à natureza. Tais ideias impulsionara um espírito de renovação escolar que 14 culminou com o Movimento das Escolas Novas. Esse movimento se posicionava contra a concepção de que a escola deveria preparar para a vida com uma visão centrada no adulto, desconhecendo as características do pensamento infantil e os interesses e necessidades próprias da infância. P.76 Celestin FREINET (1896 – 1966) (...) Para ele, a educação que a escola dava ás crianças deveria extrapolar os limites da sala de aula e integrar-se às experiências por elas vividas em seu meio social. P.77 A pedagogia de Freinet organiza-se ao redor de uma série de técnicas e atividades, entre elas as aulas- passeio, o desenho livre, o texto livre, o jornal escolar, a correspondência interescolar, o livro da vida. Inclui ainda oficinas de trabalhos manuais e intelectuais, o ensino por contratos de trabalho, a organização de cooperativas na escola. Apesar de ele não ter trabalhado diretamente com crianças pequenas, sua experiência teve lento mas marcante impacto sobre as práticas didáticas em creches e pré-escolas em vários países.P.77 Os primeiros passos da história da Educação Infantil Ademais, a abolição da escravatura no Brasil (...) concorreu para o aumento do abandono de crianças e para a busca de novas soluções para o problema da infância, as quais, na verdade, representavam apenas uma “arte de varrer o problema para debaixo do tapete”: criação de creches, asilos e internatos, vistos na época como instituições assemelhadas e destinadas a cuidar de crianças pobres. P.92 O Brasil República Particulares fundaram em 1899 o Instituto de Proteção e Assistência a Infância, que precedeu a criação, em 1919, do Departamento da Criança, iniciativa governamental decorrente de uma preocupação com a saúde pública que acabou por suscitar a ideia de assistência científica à infância (...) surgiu uma série de escolas infantis e jardins de infância, alguns deles criados por imigrantes europeus para o atendimento de seus filhos. P.94 Enquanto isso, a urbanização e a industrialização nos centros urbanos maiores, intensificadas no início do século XX, produziram um conjunto de efeito que modificaram a estrutura familiar tradicional no que se refere ao cuidado com os filhos. P.94 Como a maioria da mão de obra masculina estava na lavoura, as fábricas criadas na época tiveram de admitir grande número de mulheres no trabalho. O problema do cuidado de seus filhos enquanto trabalhavam não foi, todavia, considerado pelas indústrias que se estabeleciam, levando as mães operárias a encontrar soluções emergenciais em seus próprios núcleos familiares ou em outras mulheres. P.95 (...) a vida da população das cidades, conturbadas pelo projeto de industrialização e urbanização do capitalismo monopolista e excludente em expansão, exigia paliativos aos seus efeitos nocivos nos centros urbanos, que se industrializavam rapidamente e não dispunham de infraestrutura urbana em termos de saneamento básico, moradias, etc., trazendo o perigo de constantes epidemias. A creche seria um desses paliativos, na visão de sanitaristas preocupados com as condições de vida da população operária, ou seja, com a preservação e reprodução da mão de obra, que geralmente habitava ambientes insalubres. P.99 Entendidas como “mal necessário”, as creches eram planejadas como instituições de saúde, com rotinas de triagem, lactário, preocupação com a higiene do ambiente físico. Por trás disso, buscava-se regular todos os atos da vida, particularmente dos membros das camadas populares. P.100 No imaginário da época, a mãe continuava sendo a dona do lar devendo limitar-se a ele (...). O trabalho com as crianças nas creches tinham assim um caráter assistencial-protetoral. A preocupação era alimentar, cuidar da higiene e da segurança física, sendo pouco valorizado um trabalho orientado à educação e ao desenvolvimento intelectual e afetivo das crianças. P.100-101 Novos tópicos na história da educação infantil no Brasil (...) debates nacionais sobre os problemas das crianças provenientes dos extratos sociais desfavorecidos afiançavam que o atendimento pré- escolar público seria elemento fundamental para remediar as carências de sua clientela, geralmente mais pobre. Segundo essa perspectiva compensatória, o atendimento às crianças dessas camadas em instituições como creches, parques infantis e pré- escolas possibilitaria a superação das condições sociais a que estavam sujeitas, mesmo sem alteração das estruturas sociais geradores daqueles problemas. P.109 9. REIS, SILVIA MARINA GUEDES DOS. A MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: JOGOS E ATIVIDADES COM CRIANÇAS DE 3 A 6 ANOS. 15 Quando se fala em matemática na educação infantil, não estamos falando em somar, subtrair, dividir ou multiplicar, mas sim em proporcionar ao aluno experiências e a oportunidade de entrar no universa damatemática trazendo conhecimentos relacionados aos números, quantidades, medidas e noções de espaço. No dia a dia da educação infantil começa a surgir a necessidade dos alunos de estarem construindo este tipo de conhecimento, e é ai que o professor tem a responsabilidade de estar apresentado a matemática da melhor forma possível, apresentado por exemplo o sistema de numeração (0,1,2,3,4...), as medidas (grande, pequeno e médio), a geometria (quadrado, círculo...) e o tratamento de dados (números de alunos, por exemplo.). Mas é nesse momento que ficamos com a seguinte pergunta: como apresentar tudo isso ao aluno? Ao trabalhar a matemática na educação infantil, temos que nos basear sempre no seguinte pressuposto: deve-se focar no cotidiano do aluno. Então o simples fato de contar quantos alunos tem na sala, quantos lápis irão usar para determinada atividade, contar as páginas de um livro que irão ler, os alunos já estão sendo apresentados ao sistema de numeração. Mas a matemática pode ir ainda mais além, como trabalhar a divisão, por exemplo dividir um pacote de bala entre todos os alunos da turma. Só que existem ainda milhares de outras atividades simples que pode-se estar trabalhando com os alunos que estarão fazendo com que o mesmo se familiarize ao mundo da matemática, como por exemplo: confeccionar uma agenda telefônica com o endereço e telefones de todos os colegas da turma, observar o calendário ou o relógio para se localizar no tempo, observar os preços de embalagens do supermercado, pesar os ingredientes para se fazer a receita de um bolo, trabalhar compesquisas, entre outras atividades. O importante é saber que deve-se trabalhar a matemática na educação infantil e que todas as sugestões citadas a cima possibilitam o conhecimento matemático de forma significativa. Outro ponto que deve-se ser observado é que ao trabalhar a matemática na educação infantil não podemos esquecer de estarmos trabalhando em cima do lúdico também. Essa perspectiva de trabalho com a matemática na Educação Infantil é hoje reforçada pelas DCNEI/2009 (Diretrizes Curriculares Nacional da Educação Infantil,2009) que, no seu artigo 9º, determina que: [...] as práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira, garantindo experiências que [...] VI – recriem, em contextos significativos para as crianças relações quantitativas, medias, formas e orientações espaço temporais. (BRASIL, 2009) Várias pesquisas demonstram que a criança constrói se conhecimento matemático durante o processo de amadurecimento biológico, interação sociale experiências vividas. Desta forma a criança vai estabelecendo diversas relações entre os objetos como: mais, menos, igual, diferente, entre outros. A construção e definição do conceito de número, é uma dessas relações complexas que a criança constrói nessa fase da vida. Durante todo esse processo de aquisição da matemática a criança necessita de constante apoio e incentivo partido do professor, partindo de pressuposto Constance Kamii, diz que para possibilitar uma estruturação cada vez mais complexa da criança é muitoimportante: Encorajar a criança a colocar todos os tipos de coisas em todas as espécies de relações; Encorajar a criança a pensar sobre o número e a quantidade de objetos quando estes sejam significativos para ela; Encorajar a criança a trocar ideias com os colegas, procurar entender a sua lógica e intervir adequadamente. (KAMII,1985) O professor da Educação Infantil ao trabalhar a matemática deve ter em mente que não se deve utilizar-se apenas de materiais concretos ou simples manipulação de objetos, ou até mesmo a memorização da sequência numérica através da escrita e repetição. Na Educação Infantil é preciso que o professor crie uma ação intencional fazendo intervenções necessárias para que os alunos pensem de forma espontânea nos números e por seguinte na matemática. Pensando nisso a matemática deve ser trabalhada como um objeto de uso social sobre o qual as crianças elaborarão hipóteses que irão se apropriar. Outro fator de suma importância, é o ambiente na qual iremos trabalhar, lembrando que deve-se criar um ambiente matematizado que supere as formas escolarizadas de trabalhar os conhecimentos matemáticos dos alunos. O aluno ao se apropriar dos vários aspectos da matemática, também estará percebendo as funções da matemática na sociedade não apenas em relação ao número, mas também nas experiências, envolvendo as relações espaciais, medidas, formas e o tratamento da informação. 2.1 OBJETIVOS DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 16 Segundo o Currículo da Educação Infantil, é de suma importância o professor de Educação Infantil trabalhar a matemática com seus alunos, tendo em vista a importância que esse conhecimento irá fazer na vida do aluno e no mundo social na qual o aluno está inserido, a matemática na Educação Infantil tem como objetivos: Apropriar-se dos usos e funções do números, medida e noções de espaço no dia a dia; Construir o conceito de número; Apropriar-se da linguagem matemática; Apropriar de metodologias de contagem, jogos, brincadeiras e resoluções de problemas matemáticos de seu cotidiano; Desenvolver noções de espaço, tendo como referência seu corpo; Construir formas para registrar e representar conhecimentos matemáticos; Familiarizar-se com as diferentes formas de tratamento da informação. Partindo desses objetivos, é de responsabilidade do professor de oferecer ao aluno experiências na perspectiva do desenvolvimento do seu pensamento lógico e da apropriação dos conhecimentos matemático. E é necessário que o professor tenha clareza de sua função e de seu papel, organizando seu trabalho e assumindo uma postura coerente com os objetivos definidos na proposta pedagógicas de cada unidade de Educação Infantil. 3 A MATEMÁTICA NO COTIDIANO ESCOLAR DA EDUCAÇÃO INFANTIL Parece que não, mas sim, a matemática está presente no cotidiano da Educação Infantil, desde a chegada dos alunos na sala de aula até a saída é possível se trabalhar a matemática de forma lúdica com os alunos. A primeira coisa que é feito nas turmas de Educação Infantil todos os dias é a roda da conversa, e é neste comento que se começa a trabalhar a matemática. O simples fatode os alunos terem que se sentar em um círculo, já faz com que eles trabalhem um tipo de forma geométrica, neste caso a circunferência, outra atividade que a roda da conversa pode oferecer é a contagem de quantos alunos vieram no dia, algo que parece simples mas que irá fazer com que os alunos memorizem a sequência numérica. A partir da roda de conversa é que o professor expõe para seus alunos a rotina do dia. Que também aparece como uma nova oportunidade de se trabalhar a matemática, mas antes de tudo deve-se saber que a rotina na Educação Infantil é algo indispensável e suma importância para o aluno, de acordo com o RCNEI (Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil): “Considerada como instrumento de dinamização da aprendizagem, facilitador das percepções infantis sobre o tempo e o espaço, uma rotina clara e compreensível, para as crianças é fator de segurança. A rotina pode orientar as ações das crianças, assim como dos professores, possibilitando a antecipação das situações que irão acontecer.” (Volume 1, p. 73, 1998) No momento da exposição da rotina aos alunos, temos a possibilidade de trabalharmos quatros atividades matemáticas. Durante a chamada, escolha do ajudante do dia, planejamento das atividades do dia e construção do calendário, podemos trabalhar tranquilamente a matemática. Na chamada, podemos trabalhar a quantidade, através da verificação de quantas crianças estão presentes, pode-se trabalhar também gráficos, tabelas, interpretação de tabelas, contagem, quantidades, adição, subtração e problemasmatemáticos. A escolha do ajudante do dia, também pode envolver a matemática. Através da proposta de resolução de problemas, a turma tem que resolver quem será o ajudante do dia, essa atividade explora a habilidade de elaboração de perguntas, fundamental no processo de formulação e resolução de problemas não somente em matemática, mas também em diferentes áreas do conhecimento. Outro momento no qual podemos utilizar a matemática, é no planejamento das atividades do dia, no qual trabalhamos a organização no espaço e tempo do aluno, além de trabalhar o individual e o coletivo de cada um. Durante este planejamento podemos estar trabalhando algo mais complexo, como por exemplo a ordem das atividades: o que vem primeiro? Qual será a última atividade que iremos fazer? A observação do calendário também é algo crucial para que o aluno possa se situar em relação ao espaço e tempo. O calendário deve ser uma atividade permanente e trabalhada todos os dias. O calendário ainda proporciona ao aluno noções de números e medidas, reconhecimento do sistema de contagem do tempo, reconhecer unidades de dia, mês e ano, e situar e organizar eventos ou acontecimentos. O calendário é uma das ferramentas na qual mais tem possiblidades de trabalhar a matemática, além das atividades já listadas ainda podemos trabalhar: 17 sequência numérica, ordem, interpretação, entre outros. 4 A MATEMÁTICA NAS BRINCADEIRAS INFANTIS Como já foi falado anteriormente, quando trabalhamos a matemática na Educação Infantil temos que ter em mente o lúdico, ou seja tornar amatemática algo natural e divertido. A matemática pode estar até nas brincadeiras infantis, que parecem não ter nada de tão espetacular e parecem ser algo tão simples, é assim que os alunos pensam, mas por trás de toda essa diversão e simplicidade está o aprendizado da matemática. O aluno quando brinca na caixa de areia mesmo não percebendo está sendo induzido a trabalhar formas, quantidades e capacidades. Nas brincadeiras com cordas também estarão estimulando o aluno a contar, memorizar, resolução de problemas e trabalhar a sequência. Outro exemplo de brincadeira que trabalha a matemática são as cantigas de roda que trabalham a sequência numérica, como é o caso das cantigas: 10 indiozinhos e Serra, serra, serrador por exemplo. 10. RIOS TEREZINHA AZERÊDO. COMPREENDER E ENSINAR: POR UMA DOCÊNCIA DA MELHOR QUALIDADE COMPREENDER E ENSINAR NO MUNDO CONTEMPORÂNEO - É a articulação entre Filosofia e Didática - saberes que contribuem para a construção contínua da competência do professor. Filosofia - é a reflexão e a compreensão da atuação dos seres humanos no mundo. Didática
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