Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Para Quem o Novo Relatório da Auditoria Independente é Compreensível? João Antônio Salvador de Souza Universidade Federal de Santa Catatina Luiz Alberton Universidade Federal de Santa Catatina José Alonso Borba Universidade Federal de Santa Catatina Resumo O atendimento das exigências linguísticas é fundamental para que a mensagem enviada seja adequada com as capacidades de leitura das partes interessadas. Nesse sentido, este estudo examinou o grau de complexidade do Novo Relatório da Auditoria Independente (NRA), avaliando: (i) se os exemplos para confecção do NRA apresentam maior atendimento às exigências linguísticas de inteligibilidade (clareza, precisão e objetividade do texto redigido) do que seus antecessores; e (ii) se as características da firma de auditoria alteram a inteligibilidade do NRA. Empregou-se o índice de Flesch (1948) adaptado para o português brasileiro para medir a inteligibilidade. Os resultados mostram que os padrões normativos não atendem os princípios linguísticos. A revisão promovida pela International Federation of Accountants em 2015, harmonizada pelo Conselho Federal de Contabilidade em 2016, manteve o relatório da auditoria independente incompreensível para inúmeros usuários, por exigir elevado nível educacional de seus leitores. Além disso, as firmas de auditoria big four apresentam relatórios classificados como muito difíceis de ler. Estes resultados são condizentes com a literatura internacional, e contribuem para os profissionais de mercado, investidores e analistas reivindicarem informações mais compreensíveis e úteis para tomada de decisões. Palavras-chave: Inteligibilidade; Princípios normativos; Exigências linguísticas; Novo relatório da auditoria independente; Índice Flesch. Método de Pesquisa: MET 3 – Arquivo / Banco de Dados Área do Conhecimento da Pesquisa: AT 1 – Auditoria e Perícia 1 INTRODUÇÃO O auditor independente desempenha um papel importante ao validar as informações contidas nas demonstrações contábeis, corroborando para a tomada de decisões por parte dos stakaholders. Os auditores nacionais seguem atualmente conjunto de normas emitidas pela International Federation of Accountants (IFAC) harmonizadas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC). A fase normativa dos trabalhos de auditoria, no Brasil, remota a 1972 com promulgação da resolução CFC nº 321 (CFC, 1972) que adotou como modelo padrão para relatório final do trabalho de auditoria o empregado pela American Institutute of Certified Public (AICPA) de 1948. Posteriormente a resolução CFC 700/91 (CFC, 1991) adequou o modelo padrão ao molde vigente estadunidense, SAS 58 de 1988. Na última década, a resolução CFC 820/97 (CFC, 1997) culminou na aprovação da Norma de Auditoria Independente das Demonstrações Contábeis - NBC T 11 - que vigorou na elaboração, do até então intitulado parecer do auditor independente, das demonstrações contábeis encerradas até 31 de dezembro de 2009. Durante o ano de 2009, devido mudanças advindas da harmonização das normas profissionais de auditoria, foram traduzidas e implementadas as Internacional Standards on Auditing (IAS) emitidas pela IFAC que substituíram a NBC T 11 pelas Normas Brasileiras de Contabilidade de Auditoria Independente (NBC TA) para auditorias em demonstrações contábeis iniciadas em 01 de janeiro de 2010 e datas posteriores. Em 2015 a IFAC revisou as IAS objetivando melhora no conteúdo das informações fornecidas pela auditoria aos usuários da informação contábil, aperfeiçoando a compreensibilidade do Novo Relatório da Auditoria Independente (NRA). Nesse intuito, seguindo o processo de normatização, a harmonização das normas de auditoria para validação da contabilidade, no que tange a segurança razoável, ante os padrões internacionais emitidos pela IFAC, modificou o cenário contábil brasileiro. Para o período findado em 31 de dezembro de 2016, e subsequentes, as auditorias independentes estão sujeitas a um reformulado conjunto de normas - NBC TA. O NRA proporciona maior autonomia de escrita por parte dos auditores, possibilitada pela inclusão do item “Principais assuntos de auditoria”, onde os profissionais exercem seu julgamento sobre as demonstrações contábeis. Apesar da forte normartização e padronização dos relatórios, sua compreensão pode ser afetada por diversos fatores. O grau de dificuldade de leitura e compreensão do texto, proveniente da escolha de palavras e forma de construção das frases, é definido como inteligibilidade (Klare, 1963; McLaughlin, 1969). Para Smith e Taffler (1992) a inteligibilidade é a dificuldade do texto e o sucesso na comunicação de mensagens contábeis. Fundamentalmente, a inteligibilidade depende de como a mensagem é enviada ao usuário. Relatórios compreensíveis atenuam possíveis problemas de diferenças de expectativa entre usuários da informação e auditores. Holt e Moizer (1990) e Innes, Brown, e Hatherly (1997), descobrem que existem interpretações dúbias dos relatórios por seus usuários. Barnett e Leoffler (1979) e Hay (1998), informam que uma ampla gama de usuários não compreende em sua plenitude os relatórios, devido sua complexidade de escrita. Em pesquisa pioneira, Li (2008) examinou a relação entre medidas de inteligibilidade do relatório financeiro anual, desempenho da empresa e persistência dos ganhos. Impulsionados por esta pesquisa, estudiosos buscam associar a inteligibilidade à qualidade da informação contábil 1 . Por outro lado, esta recente literatura é escassa quando da associação de inteligibilidade com relatório da auditoria independente (Zorio, Garcia-Benau, & Civera, 2011; Fakhfakh, 2013; 2015; Hay, 1998). Zorio et al. (2011), estudam se as diretrizes do Claricy Project melhoraram a inteligibilidade das IAS. Os autores, aplicando medidas de inteligibilidade por meio dos índices de Flech Reading Ease, SMOG e Gunning-FOG provenientes das pesquisas em linguística, identificaram baixa inteligibilidade das IAS. Em sua pequisa, Fakhfakh (2015) examinou a inteligibilidade da padronização das normas de auditoria. Utilizando os índices de Flesch Reading Ease e Gunning-FOG para mensurar a inteligibilidade das IAS 700, 705 e 706 e compará-las com sua tradução para língua francesa, o autor, evidenciou que a normatização dos relatórios é imperfeita por não atender aos padrões linguísticos de tamanho das palavras, estrutura adequada das frases e escolhas de palavras simples. As empresas de auditoria podem emitir relatórios incompreensíveis que deterioram seu conteúdo informacional. Por outro lado, empresas que emitem relatórios menos complexos podem criar valor a seus clientes. Hay (1998), examinando a inteligibilidade dos relatórios de auditoria na Nova Zelândia, identificou a existência de diferenças estatisticamente significantes entre os relatórios emitidos por firmas de auditoria distintas. Diante do disposto, a inteligibilidade é uma das medidas para avaliar a compreensão do relatório da auditoria independente. A complexidade prejudica o usuário da informação a entender as demonstrações contábeis acarretando em dificuldades para tomada de decisão. Destarte, analisar se a harmonização do NRA cumpre com seus aspectos linguísticos, bem como compreender se as características da firma de auditoria alteram a inteligibilidade do mesmo, originou a seguinte questão norteadora da pesquisa: qual o grau de compressibilidade do novo relatório da auditoria independente (NRA) à luz das exigências linguísticas de inteligibilidade? Frente ao questionamento, esta pesquisa tem como objetivo identificar o grau de complexidade do NRA, pela perspectiva das exigências linguísticas de inteligibilidade. A operacionalização deste trabalho procedeu em duas etapas: (i) com base em testes estatísticos de diferença de média foram comparadas as ilustrações constantes na NBCTA 700, 705 e 706, emitidas em 2009, com sua nova redação, emitidas em 2010, a fim de detectar melhora na inteligibilidade entre as versões; e (ii) foi elaborada uma amostra composta pelos novos relatórios da auditoria independente das empresas listadas na BM&FBovespa, que compõem os níveis diferenciados de governança corporativa (Novo mercado, Nível 2 e Nível 1), sobre as demonstrações contábeis encerradas em 31 de dezembro de 2016, objetivando verificar homogeneidade da inteligibilidade do novo relatório entre as firmas de auditoria. O mercado acionário brasileiro é apropriado para realização deste estudo pela exigência de auditoria independente em empresas de capital aberto, atividades reguladas e determinada faixa de faturamento e/ou patrimônio. Ainda, a harmonização do NRA ao modelo do IFAC é um fator exógeno que possibilita análise entre cenários. Este artigo contribui para a literatura contábil em geral. A incipiente pesquisa internacional que relaciona o tema proposta e a inexistência de trabalhos em âmbito nacional torna a pesquisa original. Sua importância verifica-se por analisar as características da escrita dos relatórios da auditoria, não seu conteúdo, o que torna os resultados da pesquisa expansíveis e inter-relacionados com numerosas temáticas contábeis e diversas áreas do conhecimento, além de contribuir com a prática contábil, ao verificar e medir uma característica que torna o entendimento do trabalho final do auditor complexo. Nossas descobertas podem ser úteis para reguladores e normalizadores aplicarem políticas públicas para melhorar a qualidade do NRA. A identificação de uma leitura difícil pode servir para investidores reivindicarem informações mais claras, precisas, objetivas e imparciais. 2 REVISÃO TEÓRICA E DESENVOLVIMENTO DAS HIPÓTESES 2.1 Auditoria no Brasil: normatização, harmonização e compreensão do relatório do auditor independente A fase normativa da auditoria data de 1972 pela promulgação da resolução CFC nº 321/72 (CFC, 1972) que estabelecia um modelo padrão a ser adotado pelos auditores independentes ao final de suas atividades, nos moldes do parecer padrão de auditoria empregado em 1948 pela AICPA. Posteriormente duas resoluções do CFC vieram modificar substancialmente as atividades de auditoria, as resoluções 700/91 e 820/97 (CFC, 1991; 1997). Aquela resultou da adequação do modelo brasileiro ao estadunidense que adotavam, à época, a Statement on Auditing Board (SAS) 58/88. Esta aprovou a NBC T 11 que vigorou até as demonstrações contábeis encerradas em 2009. No ano de 2009, a IFAC promulgou as IAS com o propósito de clarificar e alterar pontos do título, destinatário, parágrafo introdutório, parágrafo intermediário e parágrafo de opinião em relação ao modelo vigente. Em consonância com os padrões internacional foi editada a resolução CFC nº 1.231/09 (CFC, 2009), dando início ao processo de harmonização da auditoria aos padrões internacionais, que substituiu a NBC T 11 pela tradução das 38 IAS com vigência a partir de 1º de janeiro de 2010. Assim, o modelo de relatório padrão, que substituiu o parecer padrão, passou a ser ilustrado pela NBC TA 700 (Formação da Opinião e Emissão do Relatório do Auditor Independente sobre as Demonstrações Contábeis). Em suma, as modificações vieram clarificar o processo de auditoria e adequá-los no que tange a responsabilidade dos auditores (Dutra, 2011). Em 04 de julho de 2016 o CFC publicou as seis primeiras NBC TA, que fazem parte do arcabouço teórico do NRA, dando nova redação as NBC TA 260 (R1), 570, 700, 701, 705 e 706, utilizadas para auditorias de demonstrações contábeis que se encerraram em 31 de dezembro de 2016 ou datas posteriores. Não obstante, o NRA advém da convergência das IAS revisadas pela IFAC no ano de 2015, e dentre outras modificações, trás em seu escopo o item “Principais assuntos de auditoria” que são (NBC TA 700, 2016) “assuntos que, segundo o julgamento do auditor, foram os mais significativos na auditoria das demonstrações contábeis do período corrente” (p. 3). Este novo item é o campo onde os auditores independentes possuem maior autonomia na escrita. Mesmo sendo um documento prioritariamente hermético, as alterações foram implementadas objetivando clarificar a forma de elaboração concernente à compreensão do relatório. Assim, o mesmo deve ser redigido de forma clara, concisa, objetiva e imparcial, como disciplina os princípios linguísticos. O trabalho do auditor independente é visto como necessário para validar as informações contidas nas demonstrações contábeis, auxiliando na tomada de decisões por parte dos stakaholders. Todavia, podem existir problemas de diferenças de expectativas gerados pela perspectiva entre o papel do auditor independente (alcance da auditoria) e os usuários da informação contábil (expectativa de alcance) (Porter, 1993). Esta diferença de expectativas é crescente (Albuquerque, 2009) sendo somente minimizadas (Dutra, 2011), por exemplo, com uma comunicação menos complexa entre os auditores independentes e os usuários da informação contábil. Nesta seara, a harmonização visou reduzir obstáculos entre a comunicação escrita dos relatórios com o entendimento por parte de seus usuários. Deste modo, o NRA visa minimizar assimetrias na forma de comunicação entre os elaboradores e os stakholders da informação contábil (Seow & Tam, 2002; Fakhfakh & Fakhfakh, 2010). Esta assimetria é reduzida pela inserção de características linguísticas da redação dos relatórios normatizados. Linguisticamente, para maior compreensão dos relatórios, seus princípios normativos devem estar consoantes com os preceitos de inteligibilidade. 2.2 Inteligibilidade (readability) e sua relação com o relatório da auditoria independente 2.2.1 Análise da inteligibilidade e relatório da auditoria independente O conceito de inteligibilidade é definido por diversos autores não sendo uma construção definida com exatidão. A inteligibilidade, proveniente do termo inglês readability, de modo geral, mede o grau de dificuldade de leitura e compreensão do texto. Segundo Dale e Chall (1948) a inteligibilidade reúne características dos elementos do material impresso que influencia o modo pelo qual um grupo de leitores o entende. Ademais, não se confunde inteligibilidade com legibilidade, esta diz respeito à tipografia e layout do texto. Para Klare (1963), a inteligibilidade está associada a facilidade de compreensão do texto devido o grau de dificuldade das palavras (dificuldade lexical) e das frases (dificuldade sintática). Esta definição ressalta o estilo de escrita separando-o dos conceitos de complexidade, coerência e ordem do conteúdo. Ampliando o conceito de Klare (1963), McLaughlin (1969) define inteligibilidade como o grau de compreensão da leitura por certa classe de leitores. Na literatura contábil, Smith e Taffler (1992) informam que a dificuldade do texto das demonstrações contábeis narrativas e o sucesso na comunicação da mensagem contábil é medida pela inteligibilidade. Li (2008) entende que a complexidade e o comprimento do texto definem seu grau de inteligibilidade. Segundo DuBay (2004), as pesquisas relacionadas a inteligibilidade surgiram no século XIX nas escolas primárias estadunidenses. Após, em 1917, foram implantados testes de leitura no exército americano. No século XX as pesquisas de inteligibilidade focaram na aplicação de métricas sintáticas e semânticas para concepção de fórmulas que contribuíram para medida de compreensão de textos. Para assegurar uma leitura mais acessível e compreensível a uma ampla gama de usuário o grau de inteligibilidade de determinados textos deve ser regulado (Curto, 2014). Teoricamente, a padronização da forma de escrita molda relatórios menos complexos que facilitam à leitura a seus diversos usuários. Segundo as revisões do IFAC, os relatórios devemcumprir com os padrões de clareza dos textos redigidos, ou seja, devem atender as exigências linguísticas. Os relatórios resumem os resultados da auditoria, sendo a forma de comunicação entre os auditores e stakeholders. No entanto, a eficácia dos relatórios é questionada devido sua complexidade (Fakhfakh, 2015). As principais críticas estão relacionadas à gradação (Tweedie, 1985), forma de exposição das ideias do texto, e formato da comunicabilidade das conclusões, que são consideradas de difícil entendimento (Carmichael & Winters, 1982; Gwilliam, 1987). Assim, os auditores devem reduzir às restrições informacionais que obstruem o desempenho dos relatórios (Fakhfakh, 2013), priorizando uma linguagem clara e objetiva. As pesquisas internacionais relatam que: (i) existem interpretações dúbias sobre os relatórios pelos usuários internos e externos das informações financeiras (Holt & Moizer, 1990; Innes et al., 1997); (ii) os relatórios são incompreendidos por inúmeros stakeholders (Barnett & Leoffler, 1979; Hay, 1998); (iii) o comportamento dos usuários é impactado de forma ambígua pelos relatórios afetando suas decisões (Libby, 1979; Gul, 1987; 1990); e (iv) os preços de mercado podem ser impactados pelo conteúdo informacional dos relatórios de forma ambígua (Gwilliam, 1987; Bailey, 1982). Todavia poucas pesquisas analisam a inteligibilidade das normas de auditoria e suas traduções (Zorio et al., 2011; Fakhfakh, 2013; 2015) Zorio et al. (2011) estudam de forma pioneira a inteligibilidade das normas internacionais de auditoria. O foco da pesquisa foi verificar a ocorrência de melhora da inteligibilidade das IASs tendo como base as diretrizes do Claricy Project desenvolvido pela International Auditing and Assurance Standards Board (IAASB), tal como identificar as determinantes da inteligibilidade das IAS. Para alcançar os objetivos, a pesquisa lançou mão de métricas de mensuração de inteligibilidade (índice de Flesch Reading Ease, índice SMOG e índice Gunning-FOG), validadas por análises de correlação, testes de média e regressões econométricas. Em suma, o estudo evidenciou baixa inteligibilidade das IAS, todavia, as demais análises não identificaram as determinantes da inteligibilidade. Expandindo sua pesquisa realizada em 2013, Fakhfakh (2015) examinou a inteligibilidade da padronização das normas de auditoria. O autor analisou os parâmetros linguísticos de densidade lexical, índices de inteligibilidade (Flesch Reading Ease e Gunning- FOG) e demais parâmetros linguísticos, por meio de testes de inferência estatística, objetivando verificar a heterogeneidade dos padrões internacionais fornecidos em língua inglesa (IAS 700, 705 e 706) com sua tradução para língua francesa. Os achados mostram que, para padrões linguísticos, a normatização dos relatórios de auditoria é imperfeita, devido, principalmente, a aspectos culturais da língua. Diante do disposto, para verificar se a normatização do parecer cumpre com suas características linguísticas lançou-se a seguinte hipótese: H1: O novo relatório da auditoria independente (NRA) apresenta maior inteligibilidade do que seu antecessor. 2.2.2 Análise da inteligibilidade e características da firma de auditoria De Franco, Hope, Vyas, e Zhou (2015), em análise preliminar de sua pesquisa, examinaram os determinantes da inteligibilidade do relatório dos analistas. Os autores investigaram 354.463 relatórios de empresas estadunidenses no período de 2002 a 2009. Utilizando como medida de inteligibilidade os índices Gunning-FOG, Flesch Reading Ease e Flesch-Kincaid, como variáveis dependentes, evidenciaram que analistas mais experientes emitem mais previsões e com maior frequência as revisam. Smith e Smith (1971) analisaram as 50 maiores empresas conforme a Fortune’s list para o ano de 1969. Os autores verificaram que as notas explicativas das demonstrações contábeis tidas como inteligíveis estavam associadas às empresas de auditoria externa de modo geral. Adicionalmente não se pode concluir que existia uma relação entre a identidade dos auditores e o grau de facilidade de compreensão das notas explicativas. Estendendo a pesquisa anterior, Barnett e Leoffler (1979) evidenciaram uma diferença entre a inteligibilidade das notas explicativas e a identidade do auditor externo. Este achado dicotômico foi explicado pela falta de padronização dos relatórios de auditoria à época, tal como pelo aumento da média de palavras por frases, o que interferiu nos índices de inteligibilidade analisados. Hay (1998), examinando a inteligibilidade (índice Flesch Reading Ease) dos relatórios narrativos das demonstrações contábeis de 1989 e 1990 para as 50 empresas com maior capitalização de mercado para o ano de 1990 na Nova Zelândia, identificou a existência de diferenças significantemente estatísticas entre os relatórios emitidos por firmas de auditoria distintas. Esse achado estava relacionado o estrutura dessas empresas. Tendo em vista que a padronização do relatório apresenta uma estrutura hermeticamente normatizada, contribuindo para uniformidade da apresentação do mesmo pelas distintas firmas de auditoria, emergiu a seguinte hipótese: H2: Existe diferença entre o nível de inteligibilidade do novo relatório da auditoria independente (NRA) emitido por diferentes firmas de auditoria. Conforme estabelecido anteriormente, a inteligibilidade mede o nível de complexidade de uma informação narrativa. Fundamentalmente é responsável pelo sucesso na comunicação da mensagem as partes interessadas. Assim, é uma questão empírica analisar se a normatização via harmonização do relatório cumpre com suas características de compreensibilidade, tal como conhecer se as características da firma de auditoria estão relacionadas com a inteligibilidade. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1 Definição teórica e operacional da medida de inteligibilidade A inteligibilidade de um texto pode ser avaliada a partir da utilização de fórmulas, sendo a mais utilizada a proposta por Rudolf Flesch. O pesquisador, em 1943, publicou sua primeira fórmula de inteligibilidade objetivando prever a dificuldade de leitura para textos direcionados a adultos. Posteriormente, em 1948, Flesch simplificou sua fórmula, originando a seguinte equação algébrica: Flesch Reading Ease (FRE) = 206, 835 − (1,015 × ASL) − (84, 6 × ASW) (1) Os valores 206,835, 1,015 e 84,6 são fixos na fórmula. ASL representa o tamanho médio das sentenças, e é medido pelo número de palavras dividido pelo número de frases do texto analisado. ASW é definido como o número médio de sílabas por palavras, e é calculado pelo número de sílabas dividido pelo número de palavras do texto examinado. A saída da fórmula de Flesch é um índice, que, segundo o autor, tem seus resultados relevantes enquadrados na escala entre 0 a 100, sendo que índices mais altos indicam maior facilidade de leitura e vice-versa. A utilização da fórmula de Flesch foi desenvolvida para escrita em inglês, limitando sua aplicabilidade a textos escritos em tal idioma (Curto, 2014). Devido às diferenças linguísticas mencionadas, a fórmula de Flesch foi adaptada para o português por Martins, Claudete, Nunes, e Oliveira Junior (1996), sendo a primeira e única métrica de inteligibilidade adaptada para o idioma em voga (Scarton & Aluísio, 2010). A adaptação resultou na equação que corresponde à fórmula de Flesch (FRE) adicionando o número 42 a constante (206,835 + 42 = 248,835), como segue: Flesch Reading Ease Port (FREP) = 248,835 – (1,015 x ASL) – (84,6 x ASW) (2) A interpretação é análoga aos valores dos índices da fórmula original. Para valores variando entre 100 a 75 considera-se que os textos apresentam leitura muito fácil; 75 a 50 textos de fácil leitura; 50 a 25 textos de difícil leitura; e 25 a 0 textos muito difíceis de se ler. Ademais, esteslimites podem ser relacionados a séries educacionais, tal como segue: Tabela 1 Interpretação do índice FREP da fórmula de inteligibilidade Intervalo de Scores do índice Nível de dificuldade Séries educacionais 100 – 75 Muito fácil Primário 75 – 50 Fácil 50 – 25 Difícil Secundário 25 – 0 Muito difícil Ensino superior Nota: Índices inferiores a 0 (zero) são calculados e mantidos pelos seus valores, sendo interpretados como tendo leitura muito difícil. Fonte: elaborada pelos autores. 3.2 Seleção da amostra e procedimentos estatísticos Para sustentar empiricamente as hipóteses adotaram-se testes estatísticos de diferença de média. Inicialmente para testar a primeira hipótese (H1: O novo relatório da auditoria independente (NRA) apresenta maior inteligibilidade do que seu antecessor) foram calculados o FREP para os exemplos constantes nas NBC TA 700, 705 e 706, emitidas no ano de 2009, e suas alterações promovidas no ano de 2016 que culminou no Novo Relatório de Auditoria (NRA) vigente a partir das demonstrações contábeis encerradas no ano de 2016 e posteriores. Para validar a segunda hipótese (H2: Existe diferença entre o nível de inteligibilidade do novo relatório da auditoria independente (NRA) emitido por diferentes firmas de auditoria) foram selecionados o NRA das empresas ativas com ações listadas na BM&FBovespa (B3), para cálculo do índice de inteligibilidade. Em primeiro momento foram selecionados 129, 20 e 28 NRA das empresas pertencentes a níveis diferenciados de governança corporativa Novo Mercado, Nível 2 e Nível 1, respectivamente. Esta seleção justifica-se, uma vez que características do cliente podem afetar o nível de divulgação da opinião do auditor (Smith, 2016). Em seguida o item “Principais assuntos de auditoria” do NRA foi selecionado para cálculo do FREP, o que acarretou na eliminação de 28 NRA, por apresentarem falta de informação para cálculo do referido índice, culminando em uma amostra total de 149 relatórios. Em análise qualitativa verificou-se que o item “Principais assuntos de auditoria” é fonte da mudança na forma de escrita dos relatórios pelos auditores, sendo utilizado para descrever quais assuntos foram considerados relevantes e como a auditoria independente os analisou. Assim, para presente pesquisa, os itens herméticos da norma, tal como: base para opinião, ênfase, demais assuntos de auditoria, foram tratados como meras repetições da norma, não apresentando características distintas de escrita entre as empresas analisadas. Ressalta-se que o índice de inteligibilidade não mede o conteúdo da escrita, mas sim, sua forma (parte narrativa). Deste modo, o setor de atuação, tipo de negociação e complexidade das operações não invalidam a análise de inteligibilidade, dado que o índice mede a forma como determinado texto é redigido. Não obstante, a amostragem por nível diferenciado de governança corporativa fez-se necessária para mitigar o efeito do nível de divulgação. Ademais, no Apêndice A é apresentado um exemplo do tratamento analítico dado ao NRA, bem como o cálculo dos parâmetros para fórmula de inteligibilidade. 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS Destaca-se que os valores negativos de inteligibilidade foram considerados na interpretação dos resultados. Esta decisão não prejudica a análise dos resultados, visto que valores inferiores a 0 (zero) representam escrita com leitura considerada muito difícil. Em análises não declaradas na pesquisa, foram refeitas as interpretações considerando valores negativos como sendo 0 (zero), todavia, não houveram alterações nas interpretações. 4.1 Análise da inteligibilidade dos exemplos oriundos da NBC TA 700, 705 e 706 Na Tabela 2 são apresentados os resultados para as características linguísticas do relatório exemplificados nas NBC TA 700, 705 e 706 do ano de 2009 e sua posterior revisão no ano de 2016. Tabela 2 Características linguísticas de inteligibilidade das normas de auditoria brasileira NBC TA 700 Painel A - Ilustração dos exemplos de Relatórios de Auditoria oriundos da NBC TA 700 (2009) Exemplos Sentenças Palavras Sílabas ASL ASW FREP Ex. 1 15 390 1.012 26,000 2,595 2,919 Ex. 2 15 366 949 24,400 2,593 4,710 Ex. 3 15 406 1.102 27,067 2,714 -8,266 Média 15,000 387,333 1.020,999 25,822 2,634 -0,212 Desvio padrão 0,000 20,133 76,896 1,342 0,070 7,032 Teste de normalidade Shapiro-Wilk Jarque-Bera Coeficiente Valor-p Coeficiente Valor-p 0,851 0,244 0,496 0,780 Painel B - Ilustração dos exemplos do Novo Relatório de Auditoria (NRA) oriundos da revisão da NBC TA 700 (2016) Exemplos Sentenças Palavras Sílabas ASL ASW FREP Ex. 1 39 1.066 2.793 27,333 2,620 -0,567 Ex. 2 41 1.157 3.072 28,220 2,655 -4,433 Ex. 3 22 542 1.387 24,636 2,559 7,334 Ex. 4 31 782 2.054 25,226 2,627 1,021 Média 33,250 886,750 2.326,501 26,354 2,615 0,839 Desvio padrão 8,655 279,875 759,455 1,699 0,040 4,899 Teste de normalidade Shapiro-Wilk Jarque-Bera Coeficiente Valor-p Coeficiente Valor-p 0,969 0,834 0,287 0,866 Painel C - Teste diferença de média entre ilustrações Graus de liberdade Stat t t crítico Valor-p Hipótese testada 3 -0,222 2,353 0,419 H0: 2009 < 2016 Nota: * estatisticamente significante a 0,05. FREP = 248,835 – (1,015 x ASL) – (84,6 x ASW); ASL = tamanho médio das sentenças (número de palavras dividido pelo número de frases); ASW = número médio de sílabas por palavras (número de sílabas dividido pelo número de palavras). Ex.1, Ex. 2, Ex. 3. e Ex.4 são os exemplos constantes na NBC TA (2009) e sua nova redação (2016). Shapiro-Wilk e Jarque-Bera foram os testes de normalidade aplicados na pesquisa para validar a aplicação do teste t de student de diferença de médias. Todos os testes indicaram para aceitação da normalidade do índice FREP. Fonte: dados da pesquisa. Na Tabela 2, nos painéis A e B, são apresentadas as estatísticas descritivas individuais dos exemplos ilustrados na NBC TA 700 emitida no ano de 2009 (antigo relatório) e sua posterior revisão que originou o NRA no ano de 2016. O antigo relatório possuía três exemplos homogêneos (sentenças equivalentes) com baixa variabilidade na quantidade de palavras (desvio padrão = 20,1333). Estas características refletem no cálculo das variáveis ASL e ASW, que, por conseguinte, apresentam baixa dispersão (ASL = 1,342 e ASW = 0,070). De acordo com os princípios de escrita, a utilização de palavras consideradas longas intensifica a complexidade de leitura. Frases ditas como adequadas devem apresentar no máximo 20 palavras (François, 1973), sendo que quanto mais curtas as frases maior seu coeficiente de retorno (Berthoud, 1992). As ilustrações do antigo relatório (Painel A), no geral, excedem as regras de linguística (ASL = 25,822), sendo o exemplo 1 o que maior se distancia dos princípios linguísticos (ASL = 26,000). A quantidade de sílabas interfere no tamanho das palavras (Giannotti, 2004). Considera-se adequado três sílabas por palavras (Fakhfakh, 2013). A medida ASW captura esta relação e, para o antigo relatório, verifica-se adequação com os princípios da escrita compreensível. Para o NRA (Painel B), verifica-se aumento no número de exemplos (quatro exemplos) e na duração média desses (Sentenças = 33,250 e Palavras = 886,750). Assim, existem indícios de que o novo relatório se tornou mais informativo (medido pelo número de informações contastes no exemplo) do que seu antecessor, porém, o mesmo não cumpre com os princípios claros de escrita, visto que o comprimento médio das frases é superior ao desejável (26,354 > 20). Comparando a média do índice Flesch (FREP = 0,839) com os scores da Tabela 1, podemos verificar que, os novos exemplos mantiveram elevado grau de incompreensão, demonstrando que a revisão do IFAC manteve os relatórios complexos e somente compreensíveis para pessoas com alto grau de escolaridade (nível superior). Analisandode forma conjunta o Painel A e B, observa-se que o segundo exemplo do antigo relatório apresenta maior inteligibilidade (FREP = 4,710), sendo o terceiro exemplo o mais complexo (FREP = -8,266). No geral, os exemplos ilustrados no antigo relatório são considerados difíceis de ler (FREP = -0,212). A terceira ilustração do NRA é mais inteligível (FREP = 7,334). O menor índice de inteligibilidade corresponde ao segundo exemplo (FREP = -4,433). Não obstante, todos os relatórios são considerados muito difíceis de ler, visto que apresentam scores inferiores a 25, de acordo com a Tabela 1. Os resultados do Painel C mostram que os relatórios de auditoria padronizados não são totalmente compreensíveis. Com base no teste t de diferença de médias observa-se um valor-p do teste (0,419) superior ao nível de significância fixado (0,05), indicando não haver evidência estatisticamente significativa para confirmar melhora na inteligibilidade do relatório frente à harmonização realizada no ano de 2016 com base nas normas da IFAC. Estes resultados corroboram com os achados de Zorio et al. (2011) , baixa inteligibilidade das IAS, Fakhfakh (2013), falta de compreensão na totalidade dos relatórios padronizados e Fakhfakh (2015), padrões linguísticos não são atendidos em sua plenitude pelos exemplos oriundos das IAS. Tabela 3 Características linguísticas de inteligibilidade das normas de auditoria brasileira NBC TA 705 Painel A - Ilustração dos exemplos de Relatórios de Auditoria oriundos da NBC TA 705 (2009) Exemplos Sentenças Palavras Sílabas ASL ASW FREP Ex.1 20 519 1.316 25,950 2,536 7,980 Ex.2 21 519 1.380 24,714 2,659 -1,198 Ex.3 19 548 1.373 28,842 2,505 7,597 Ex.4 15 372 937 24,800 2,519 10,571 Ex.5 18 419 1.030 23,278 2,458 17,241 Média 18,600 475,400 1.207,201 25,517 2,535 8,438 Desvio padrão 2,302 75,738 208,323 2,087 0,075 6,630 Teste de normalidade Shapiro-Wilk Jarque-Bera Coeficiente Valor-p Coeficiente Valor-p 0,957 0,789 0,115 0,944 Painel B - Ilustração dos exemplos do Novo Relatório de Auditoria (NRA) oriundos da revisão da NBC TA 705 (2016) Exemplos Sentenças Palavras Sílabas ASL ASW FREP Ex.1 26 559 1.358 21,500 2,429 21,490 Ex.2 24 485 1.239 20,208 2,555 12,201 Ex.3 25 607 1.494 24,280 2,461 15,966 Ex.4 15 422 1.078 28,133 2,554 4,169 Ex.5 18 454 1.097 25,222 2,416 18,816 Média 21,600 505,400 1.253,200 23,869 2,483 14,528 Desvio padrão 4,827 76,173 176,256 3,130 0,067 6,739 Teste de normalidade Shapiro-Wilk Jarque-Bera Coeficiente Valor-p Coeficiente Valor-p 0,946 0,709 0,494 0,781 Painel C - Teste diferença de média entre ilustrações Graus de liberdade Stat t t crítico Valor-p Hipótese testada 8 -1,441 1,860 0,094 H0: 2009 < 2016 Nota: * estatisticamente significantes a 5%. FREP = 248.835 – (1,015 x ASL) – (84,6 x ASW); ASL = tamanho médio das sentenças (número de palavras dividido pelo número de frases); ASW = número médio de sílabas por palavras (número de sílabas dividido pelo número de palavras). Ex.1, Ex. 2, Ex. 3, Ex.4 e Ex. 5 são os exemplos constantes na NBC TA (2009) e sua nova redação (2016). Shapiro-Wilk e Jarque-Bera foram os testes de normalidade aplicados na pesquisa para validar a aplicação do teste t de student de diferença de médias. Todos os testes indicaram para aceitação da normalidade do índice FREP. Fonte: dados da pesquisa. Em relação à padronização da NBC TA 705, os dados da Tabela 3, Painel A e B, mostram que, no geral, os exemplos do relatório apresentam comprimento médio das sentenças superior ao desejado pelas regras linguísticas (ASL = 25,517 e 23,869, antigo e novo relatório, respectivamente). O não atendimento a este princípio de escrita demonstra que os relatórios são complexos para uma gama de usuários. Corroboram com essa afirmação a análise do índice de inteligibilidade que apresentou scores abaixo de 25 (FREP = 8,438 e 14,528, antigo e novo relatório, respectivamente), indicando uma leitura muito difícil das ilustrações. Ressalta-se que o primeiro exemplo do NRA (Painel B) apresentou índice de inteligibilidade superior a 20 (FREP = 21,490), indicando ligeira melhora na compreensibilidade do texto, todavia, ainda abaixo de níveis aceitáveis de compreensão. Com base no Painel C, para o nível de significância fixado de 5%, não há evidencias de que o novo relatório é mais inteligível do que seu antecessor (valor-p = 0,094. Ademais, os valores do índice de inteligibilidade do NRA são inferiores aos níveis adequados de leitura, sendo indicados para pessoas com nível superior de escolaridade. Tabela 4 Características linguísticas de inteligibilidade das normas de auditoria brasileira NBC TA 706 Painel A - Ilustração do exemplo de relatório de auditoria oriundo da NBC TA 706 (2009) Exemplos Sentenças Palavras Sílabas ASL ASW FREP Ex.1 23 591 1.496 25,696 2,531 8,606 Painel B - Ilustração dos exemplos do Novo Relatório de Auditoria (NRA) oriundos da revisão da NBC TA 706 (2016) Exemplos Sentenças Palavras Sílabas ASL ASW FREP Ex.1 25 443 1.086 17,720 2,451 23,455 Ex.2 21 461 1.124 21,952 2,438 20,283 Média 23 452 1.105,002 19,836 2,445 21,869 Desvio-padrão 2,828 12,728 26,872 2,993 0,009 2,243 Painel C - Teste diferença de média entre ilustrações t crítico Valor-p Hipótese testada 8,363 0,076 H0: 2009 = 2016 Nota: * estatisticamente significante a 5%. FREP = 248,835 – (1,015 x ASL) – (84,6 x ASW); ASL = tamanho médio das sentenças (número de palavras dividido pelo número de frases); ASW = número médio de sílabas por palavras (número de sílabas dividido pelo número de palavras). Ex.1 e Ex. 2 são os exemplos constantes na NBC TA (2009) e sua nova redação (2016). Foi utilizado teste de igualdade de médias fixando como valor desejável 25 (oriundo da Tabela 1) como índice mínimo para identificar se o FREP do NRA é pelo menos igual a 25. Caso o valor fosse estatisticamente significativo seriam refeitas as estimativas com os demais scores da Tabela 1. Este procedimento foi adotado devido à impossibilidade de verificação direta entre o antigo e o NRA, dado a quantidade de exemplos contidos na NBC TA 706 de 2009. Fonte: dados da pesquisa. Por fim, na Tabela 4 são analisados os exemplos oriundos da NBC TA 706. Para o antigo relatório (Painel A) constata-se que as regras linguísticas não são atendidas no tocante ao comprimento médio das frases (ASL = 25,696 > 20), tal como apresenta restrição de compreensão com base no índice de inteligibilidade (FREP = 8,606). Deste modo, entende-se que o exemplo do antigo relatório não atende aos princípios de escrita, apresentando complexidade de leitura e consequente restrição a determinado grupo de leitores. Para o NRA (Painel B) o primeiro exemplo adéqua-se aos princípios de escrita, apresentando comprimento da frase inferior a 20 (ASL = 17,720). O aumento da quantidade de palavras (461) e a redução no número de frases (Sentenças = 21) acarretaram em aumento do ASL para o segundo exemplo (ASL = 21,952). No geral, NRA apresenta, na média, exemplos dentro das características aceitáveis de boa escrita (ASL = 19,836). Para a medida de inteligibilidade observa-se uma melhora quando comparado o NRA (FREP = 21,869) com o antigo relatório (FREP = 8,606). Todavia, mesmo com a melhora nos níveis de inteligibilidade o NRA se enquadra como sendo muito difícil de ler. Com base nos resultados até aqui descritos não foi possível aceitar que o NRA apresenta maior inteligibilidade do que seu antecessor (H1). De modo geral os resultados das Tabelas 2, 3 e 4 demonstram que o comprimento médio das sentenças não atende aos princípios de escrita. Ao longo da padronização dos relatórios (NBC TA 700, 705 e 706), a estrutura para ilustrar a redação dos relatórios de auditoria não é alterada pelo normatizador, visto a falta de significância estatística, ao nível fixado de 5%, entre as médias doíndice de inteligibilidade. Deste modo, os relatórios ilustrados pelos padrões são considerados muito difíceis de ler, sendo indicados para usuários da informação que possuam nível superior de ensino. Os achados da pesquisa corroboram com estudos internacionais (Zorio et al., 2011; Fakhfakh, 2013; 2015). 4.2 Análise da inteligibilidade do NRA por firma de auditoria É necessário que a concepção da formulação de opiniões do auditor independente, além de obedecer às regras linguísticas, seja adequada com as capacidades de leitura das partes interessadas. Os relatórios devem servir de apoio para leitura das demonstrações contábeis, sendo sua compreensão característica crucial para este objetivo. Para analisar esta relação são apresentadas na Tabela 5 as estatísticas para testar as características linguísticas da opinião do auditor independente por firma de auditoria. Tabela 5 Teste para características linguísticas da opinião do auditor independente das big four Variável analisada (FREP) PwC Deloitte EY KPMG Média 7,209 -9,329 -0,016 -6,537 Desvio padrão 5,441 10,810 6,734 6,075 Mínimo -4,490 -31,499 -12,365 -23,181 Máximo 20,538 6,687 12,390 6,305 Contagem 37 31 31 50 Shapiro-Wilk [0,984] (0,849) [0,951] (0,169) [0,967] (0,430) [0,979] (0,556) Jarque-Bera [0,066] (0,968) [1,811] (0,404) [0,896] (0,639) [0,151] (0,927) Teste de Homogeneidade ANOVA (F) Comparação múltipla de Scheffe Levene Statistic Valor-p Estatística F Valor-p Diferença entre Deloitte e KPMG valor-p = 0,581 8,096 0,000* 38,815 0,000* Nota: * estatisticamente significante a 5%. FREP = 248,835 – (1,015 x ASL) – (84,6 x ASW); ASL = tamanho médio das sentenças (número de palavras dividido pelo número de frases); ASW = número médio de sílabas por palavras (número de sílabas dividido pelo número de palavras). PwC (PricewaterhouseCoopers), Deloitte (Deloitte Touche Tohmatsu), EY (Ernst & Young) e KPMG (KPMG Auditores Independentes) são firmas de auditoria que compõem as big four. Shapiro-Wilk e Jarque-Bera foram os testes de normalidade aplicados na pesquisa para validar a aplicação da ANOVA (F). Para os testes, em colchetes temos o valor do coeficiente e em parênteses são apresentadas as https://pt.wikipedia.org/wiki/PricewaterhouseCoopers Com base na Tabela 5, observamos que somente a PwC apresenta média para o índice de inteligibilidade, calculado sobre o item “Principais assuntos de auditoria”, do NRA positiva (média = 7,209), sendo a Deloitte a firma de auditoria com menor média de inteligibilidade (média = -9,329). A PwC é a empresa de auditoria que apresenta o maior valor positivo para o FREP (máximo = 20,538) seguida da EY (máximo = 12,390). Os menores valores para medida de inteligibilidade pertence a Deloitte (mínimo = -31,499) e KPMG (-23,181). Assim, observa-se heterogeneidade entre a forma de escrita adotada pelas big four, que, em sua totalidade, não cumprem com os princípios linguísticos por apresentarem relatórios considerados muito difíceis de ler, sendo direcionados a determinada parcela de leitores. Os testes de normalidade (Shapiro-Wilk e Jarque-Bera) e homogeneidade (Levene) validaram a aplicação da ANOVA (F), para testar a diferença de médias dos índices de inteligibilidades por empresa de auditoria. O teste F indicou existir diferenças entre as médias analisadas (valor-p = 0,000). Aplicando o teste de comparação múltipla de Scheffe constatou- se que somente os índices de inteligibilidade da Deloitte e KPMG não são significativamente diferentes, sendo as demais interações diferentes entre si no nível de significância de 5%. Com base na análise geral da Tabela 5 é possível afirmar que a característica da empresa de auditoria influencia no índice de inteligibilidade, sendo que, as big four apresentam de forma complexa o item “Principais assuntos de auditoria”. Assim, a estrutura de auditoria é uma forma de diferenciação de mercado. Este achado corrobora com a pesquisa de Hay (1998), que evidenciou diferenças no grau de inteligibilidade entre relatórios emitidos por firmas de auditoria distintas. Assim, foi possível aceitar que existe diferença entre o nível de inteligibilidade dos relatórios emitidos por diferentes firmas de auditoria independente (H2). Em suma, e levando em consideração os resultados presentes na seção 4, os padrões normativos não atendem os princípios linguísticos. A revisão promovida pelo IFAC em 2015, com posterior harmonização pelo CFC em 2016, não cumpre com os padrões de clareza dos textos redigidos. As empresas de auditoria consideradas big four apresentam heterogeneidade nos índices de inteligibilidade medidos, sendo seus relatórios de difícil compreensão. Os resultados sugerem que as características linguísticas do país interferem na a harmonização completa das normas. Assim, os órgãos reguladores e normalizadores devem priorizar uma padronização adequada e adaptada para o país. 5 CONCLUSÃO O objetivo neste estudo foi identificar o grau de complexidade do novo relatório de auditoria independente (NRA), pela perspectiva das exigências linguísticas de inteligibilidade. Para tanto, inicialmente, foram comparados os níveis de inteligibilidade dos exemplos oriundos da NBC TA 700, 705 e 706 emitida no ano de 2009 com os exemplos promovidos pela revisão a estas normas no ano de 2016. Em seguida buscou-se verificar se a característica estatísticas do valor-p. Todos os testes indicaram para aceitação da normalidade do índice FREP. O teste de homogeneidade para comparação de variâncias aplicado foi o de Levene (1960). O teste de Scheffe (1959) foi utilizado para verificar diferenças estatisticamente significativas entre as médias testadas. Não obstante, optou-se por declarar na estatística deste teste o valor-p superior ao nível de significância estatística aplicado na pesquisa, sendo que as demais interações foram estatisticamente significantes a 5%. Fonte: dados da pesquisa. da empresa de auditoria é relevante na inteligibilidade do NRA. Assim, foram comparados os níveis de compreensibilidade do NRA entre as firmas de auditoria big four. A revisão da literatura legitimou a proposição de uma abordagem baseada na análise do índice de inteligibilidade de Flesch, como medida de compreensão de uma narrativa. Através de tal proposição, e adotando a fórmula de Flesch adaptada para o português brasileiro, os resultados indicaram que as ilustrações para confecção dos relatórios da auditoria independente são consideradas muito difíceis de ler e, indicadas para leitores com maior grau de ensino (ensino superior). Os achados também indicaram que, no geral, as firmas de auditoria consideradas big four, quando comparadas, apresentam relatórios com diferente grau de inteligibilidade, porém com igual nível de dificuldade de compreensão. Nossos achados são condizentes com a literatura sobre o tema. Confirmamos as constatações de Zorio et al. (2011) de que a norma de auditoria é complexa. Corroboramos com as afirmações de Fakhfakh (2015), ao identificarmos que as traduções das IAS não são adequadas. Por fim, lançamos luz às suposições de Hay (1998), por evidenciarmos que empresas distintas de auditoria elaboram relatórios com níveis diferenciados de complexidade de escrita. A despeito da estrutura das ilustrações padronizadas é possível confirmar que as mesmas não obedecem às regras linguísticas por não atenderem aos princípios de escrita. A harmonização promovida em âmbito nacional no ano de 2016, com base na revisão do IFAC em 2015, não tornou os relatórios mais compreensíveis para os leitores, demonstrando que padrões linguísticos são afetados por aspectos culturais da língua. Esta evidencia questiona a necessidade de relatórios padronizados. Assim, os órgãos normatizadores devem indagassem quanto à utilidade de relatórios padronizados incompreensíveis que não atendem a necessidadedos usuários da informação contábil. Este estudo evidenciou relação entre a estrutura da empresa de auditoria e a inteligibilidade dos relatórios, demonstrando que a estrutura pode ser um diferencial de mercado. A heterogeneidade da forma de escrita dos relatórios entre as firmas de auditoria big four foi identificada. Os usuários da informação contábil podem obter benefícios com um relatório mais fácil de ler. Porém os resultados evidenciaram que as firmas de auditoria big four apresentam relatórios considerados muito difíceis de ler, sendo incompreensíveis para inúmeros usuários. A revisão na forma de escrita deve ser incentivada, podendo se tornar vantagem competitiva para empresas de auditoria, visto que a incompreensibilidade do trabalho final do auditor independente pode impactar negativamente sua utilização para tomada de decisão. O método utilizado nesta pesquisa apresenta algumas limitações: (i) a inteligibilidade pode ser medida com base em outras funções linguísticas; e (ii) dado que, em uma das análises foi utilizado o NRA, ainda é prematura a identificação de seu efeito no mercado de capitais. A utilização de outras funções linguísticas para narrativa, tal como uma análise prognóstica do impacto do NRA nas empresas, são propostos para estudos futuros. Outra sugestão seria verificar se o mercado reconhece informações contábeis mais inteligíveis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Albuquerque, K. S. L. S. (2009). Auditoria e sociedade: análise das diferenças de expectativas dos usuários da contabilidade em relação ao papel do auditor. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil. Bailey, W. T. (1982). An appraisal of research designs used to investigate the information content of audit reports. The Accounting Review, 57, 141-146. Barnett, A., & Leoffler, K. (1979). Readability of accounting and auditing messages. Journal of Business Communication, 16, 49-59. Berthond, O. (1992). Imágenes y textos para la educación popular: orientaciones metodológicas con ênfasis em la elaboración de impresos para neolectores/as. CIMCA-La Paz y Comunica-Tegucigalpa. Carmichael, D. R., & Winters, A. J. (1982), The evolution of audit reporting, In Auditing Symposium VI, Lawrence, Kansas: University of Kansas. Cheung, E., & Lau, J. (2016). Readability of notes to the financial statements and the adoption of IFRS. Australian Accounting Review, 26, 162-176. Conselho Federal de Contabilidade (1972). Resolução CFC n. 321, de 11 de maio de 1972. Dispõe sobre aprovação das normas e is procedimentos de auditoria. Recuperado em 05 de maio de 2017, de: http://cfc.org.br/legislacao/. Conselho Federal de Contabilidade (1991). Resolução CFC n. 700, de 24 de abril de 1991. Dispõe sobre as normas de auditoria independente das demonstrações contábeis. Recuperado em 05 de maio de 2017, de: http://cfc.org.br/legislacao/. Conselho Federal de Contabilidade (1997). Resolução CFC n. 820, de 17 de dezembro de 1997. Dispõe sobre as normas de auditoria independente das demonstrações contábeis com alterações e dá outras providências. Recuperado em 05 de maio de 2017, de: http://cfc.org.br/legislacao/. Conselho Federal de Contabilidade (2009). Resolução CFC n. 1.231, de 27 de novembro de 2009. Dispõe sobre a formação da opinião e emissão do relatório do auditor independente sobre as demonstrações contábeis. Recuperado em 05 de maio de 2017, de: http://cfc.org.br/legislacao/. Conselho Federal de Contabilidade (2016). Norma brasileira de contabilidade – NBC TA 700, de 17 de junho de 2016. Dá nova redação à NBC TA 700 que dispõe sobre a formação da opinião e emissão do relatório do auditor independente sobre as demonstrações contábeis. Recuperado em 05 de maio de 2017, de: http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/NBCTA700. Curto, P. S. L. (2014). Classificador de textos para o ensino de português como segunda língua. Dissertação de Mestrado, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal. Dale, E., & Chall, J. S. (1948). A formula for predicting readability. Educational Research Bulletin, 27,1-20, 37-54. http://cfc.org.br/legislacao/ http://cfc.org.br/legislacao/ http://cfc.org.br/legislacao/ http://cfc.org.br/legislacao/ http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/NBCTA700 De Franco, G., Hope, O-K, Vyas, D., & Zhou, Z. (2015). Analyst report readability. Contemporary Accounting Research, 32, 76-104. Dubay, W. H. (2004). The principles of readability, Cosa Mesa, CA: Impact Information. Dutra, M. H. (2011). Modelo de referência para o relatório final da auditoria independente baseado na abordagem de expections gap. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil. Fakhfakh, H., & Fakhfakh, M. (2010). The impact of revised ISA 700: an international empirical comparison. International Journal of Accounting, Auditing and Performance Evaluation, 6, 274-326. Fakhfakh, M. (2013). The readability of standardised reports by the international federation of accountants. Journal of Commerce and Accounting Research, 2, 10-28. Fakhfakh, M. (2015). The readability of international illustration of auditor’s report: an advanced reflection on the compromise between normative principles and linguistic requirements. Journal of Economics, Finance and Administrative Science, 20, 21-29. Flesch, R. (1943). Marks of readable style: a study in adult education (Contributions to education) (n. 897). New York, United States: Columbia University, Teachers College, Bureau of Publications. Flesh, R. (1948). A new readibility yardstick. Journal of Aplied Psychology, 32, 221–233. Fraçois, R. (1973). Le langage efficace. Retz. Giannotti, V. (2004). Muralhas da linguagem (1a ed.). Rio de Janeiro: Mauad. Guay, W., Samuels, D., & Taylor, D. (2016). Guiding through the Fog: financial statement complexity and voluntary disclosure. Journal of Accounting and Economics, 62, 234-269. Gul, F. A. (1987). The effects of uncertainty reporting on lending officers’ perceptions of risk and additional information required. A Journal of Accounting, Finance and Business Studies, 23, 172-179. Gul, F. A. (1990). Qualified audit reports, field dependence cognitive style, and their effects on decision making. Accounting & Finance, 30, 15-27. Gwilliam, D. (1987). A Survey of Auditing Research. London: Prentice-Hall. Hay, D. (1998). Communication in auditors’ reports: variations in readability and the effect of audit firm structure. Asia Pacific Journal of Accounting, 5, 179–197. Holt, G., & Moizer, P. (1990). The meaning of audit reports. Accounting and Business Research, 20, 111–122. Innes, J., Brown, T., & Hatherly, D. (1997). The expanded audit report ‐ a research study within the development of SAS 600. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 10, 702- 717. Klare, G. R. (1963). The Measurement of Readability. Iowa State University. Press: Ames, IA. Levene, H. (1960). Robust testes for equality of variances. In Contributions to Probability and Statistics (I. Olkin, ed.). Stanford Univ. Press, Palo Alto, CA. http://www.publishingindia.com/jcar/ http://www.emeraldinsight.com/author/Brown%2C+Tom http://www.emeraldinsight.com/author/Hatherly%2C+David Li, F. (2008). Annual report readability, current earnings, and earnings persistence. Journal of Accounting and Economics, 45(2-3), 221-247. Libby, R. (1979). Bankers’ and auditor’s perceptions of the message communicated by the audit report. Journal of Accounting Research, 17, 99-122. Lo, K., Ramos, F., & Rogo, R. (2017). Earnings management and annual report readability. Journal of Accounting and Economics, 63(1), 1-25. Martins, T. B. F., Claudete M. G., Nunes, M. G. V., & Oliveira Junior, O. N. (1996). Readability formulas applied to text books in brazilian portuguese. Notasdo ICMC, 28, 1-11. McLaughlin, G. H. (1969). SMOG grading – a new readability formula. Journal of Reading, 12, 639-646. Porter, B. (1993). An empirical study of the audit expectation-performance gap. Accounting and Business Research, 24, 49–68. Scarton, C. E., & Aluísio, S. M. (2010). Análise da inteligibilidade de textos via ferramentas de processamento de língua natural: adaptando as métricas do Coh-Metrix para o português. Linguamática, 2, 45– 61. Scheffe, H. (1959). The analysis of variance. Wiley, New York. Seow, G. S., & Tam, K. (2002). The usefulness of derivative-related accounting disclosures. Review of Quantitative Finance and Accounting, 18, 273-91. Smith, J. E., & Smith, N. P. (1971). Readability: a measure of the performance of the communication function of financial reporting. The Accounting Review, 46, 552–561. Smith, K. W. (2016). Tell me more: a content analysis of expanded auditor reporting in the United Kingdom. [Working Paper]. Virginia Polytechnic Institute and State University. Recuperado em 05 de maio de: http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.2821399. Smith, M., & Taffler, R. (1992). Readability and understandability: different measures of the textual complexity of accounting narrative. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 5(4), 84-98. Tweedie, D. (1985). The accountant: a crusader or a prisoner of the Past?: finacial reporting in the late 1980s. Wellington, N.Z.: New Zealand Society of Accountants. Zorio, A., Garcia-Benau, M. A., & Civera, J. N. (2011). Readability of clarified ISAs and explanatory factors. In The 6th European Auditing Research Network Symposium, Hosted by Norwegian School of Economics (NHH), Bergen. NOTAS 1. Por exemplo: Guay, Samuels, e Taylor (2016), examinam se os gestores utilizam informações voluntárias para mitigar o efeito de demonstrações financeiras complexas; Cheung e Lau (2016), estudam inteligibilidade das divulgações financeiras e adoção de normas internacionais (IFRS); Lo, Ramos, e Rojo (2017), exploram a relação entre inteligibilidade das demonstrações financeiras e gerenciamento de resultados. http://econpapers.repec.org/article/kaprqfnac/ http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.2821399 APÊNDICE Apêndice A Exemplo da aplicação de análise qualitativa e cálculo do índice de inteligibilidade Identificação da empresa: Magazine Luiza S.A Nível de Governança Corporativa: Novo Mercado CNPJ: 47.960.950/0001-21 Empresa que emitiu relatório de auditoria independente: Ernst & Young Painel A Análise qualitativa do Novo Relatório de Auditoria (NRA) Principais assuntos de auditoria. Principais assuntos de auditoria são aqueles que, em nosso julgamento profissional, foram os mais significativos em nossa auditoria do exercício corrente. Esses assuntos foram tratados no contexto de nossa auditoria das demonstrações contábeis individuais e consolidadas como um todo e na formação de nossa opinião sobre essas demonstrações contábeis individuais e consolidadas e, portanto, não expressamos uma opinião separada sobre esses assuntos. Revogação dos benefícios da Lei do Bem. Conforme divulgado na nota explicativa 20, a Companhia obteve decisão favorável em sede de tutela antecipada, a qual lhe permite não recolher as contribuições ao PIS e COFINS incidentes sobre a receita decorrente de vendas de produtos elegíveis ao Processo Básico de Produção. Devido a relevância que as contribuições ao PIS e COFINS tem sobre as operações da Companhia e do setor de varejo e complexidade que envolve o entendimento da lei em referência e dos argumentos que sustentam a conclusão de que os benefícios concedidos não poderiam ter sido cessados, esse tema foi considerado com um assunto importante em nossa auditoria. Nossos procedimentos de auditoria incluíram, entre outros, a utilização de membros seniores de nossa equipe de auditoria, além da inclusão de especialistas em tributos indiretos em nossa equipe para nos ajudar a avaliar técnica e juridicamente os argumentos da Companhia e de seus assessores jurídicos, bem como para testar os cálculos do valor envolvido. Também verificamos a adequação das divulgações da Companhia no que diz respeito ao assunto. Recuperabilidade de ágio gerado em combinações de negócios. Conforme divulgado na nota explicativa 16, em 31 de dezembro de 2016, a Companhia possuía registrado em seus ativos intangíveis, ágio pago por de expectativa de rentabilidade futura no valor de R$350.683 mil originado na aquisição de negócios. Anualmente, a Companhia realiza o teste da redução ao valor recuperável (teste de impairment) destes valores, conforme requerido pelo CPC 01 (R1) - Redução ao Valor Recuperável de Ativos. Este processo é complexo e envolve um alto grau de subjetividade, bem como é baseado em diversas premissas, tais como a determinação das unidades geradoras de caixa, taxas de descontos, projeção de inflação, percentuais de crescimento e rentabilidade dos negócios da Companhia para os próximos anos, entre outros. Estas premissas serão afetadas pelas condições de mercado ou cenários econômicos futuros do Brasil, os quais não podem ser estimados com precisão. Consideramos o teste anual de impairment como um dos principais assuntos de auditoria devido ao alto grau de subjetividade e complexidade nas premissas e cálculos envolvidos. Nossos procedimentos de auditoria incluíram, entre outros, o envolvimento de especialistas em avaliação para nos ajudar a avaliar o modelo utilizado para mensurar o valor recuperável e as premissas, projeções e metodologia utilizadas pela Companhia, em particular aquelas relacionadas às estimativas de vendas futuras, taxas de crescimento e de desconto utilizadas nos fluxos de caixa descontados e margem de lucro da unidade geradora de caixa na qual o ágio foi alocado. Focamos também na adequação das divulgações efetuadas pela Companhia sobre as premissas utilizadas nos cálculos de recuperabilidade, principalmente aquelas que tiveram efeito mais significativo na determinação do valor recuperável do ágio. Cálculo do índice de inteligibilidade Quantidade de palavras Quantidade de frases Quantidade de sílabas ASL ASW Índice de inteligibilidade Nível de dificuldade 450 13 1.090 34,615 2,422 8,78 Muito difícil Nota: A parte tachada é considerada comum a todos os novos relatórios do auditor independente (NRA), por isso, a mesma foi excluída para o cálculo do índice de inteligibilidade. O índice de inteligibilidade é calculado utilizando a fórmula Flesch Reading Ease Port (FREP) = 248,835 – (1,015 x ASL) – (84,6 x ASW). ASL = tamanho médio das sentenças (número de palavras dividido pelo número de frases); ASW = número médio de sílabas por palavras (número de sílabas dividido pelo número de palavras). Fonte: dados da pesquisa.
Compartilhar