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SAÚDE COLETIVA

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ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS 
PÚBLICOS DE SAÚDE INDÍGENA 
 
 
2 
 
 
 
FACUMINAS 
 
A história do Instituto FACUMINAS, inicia com a realização do sonho de um 
grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos 
de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a FACUMINAS, como 
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A FACUMINAS tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
SUMÁRIO 
 
O Sistema Único de Saúde e as populações indígenas: por uma integração diferenciada 
(Adaptado) ........................................................................................................................ 4 
1 - INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 4 
2 - O ATENDIMENTO AO ÍNDIO BRASILEIRO ........................................................ 5 
3 - ESPECIFICIDADES DOS CUIDADOS DE SAÚDE A POPULAÇÕES 
INDÍGENAS .................................................................................................................... 6 
4 - ALGUMAS PROPOSTAS ......................................................................................... 8 
4.1 - Algumas estratégias a serem consideradas são as seguintes: ................................... 8 
5 - PERSPECTIVAS ...................................................................................................... 12 
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 14 
6 - Índios lutam por dignidade e acesso à saúde de qualidade ....................................... 16 
Referências ..................................................................................................................... 22 
 
 
 
4 
O Sistema Único de Saúde e as populações indígenas: por uma integração 
diferenciada (Adaptado) 
 Ulisses E. C. Confalonieri 
Coordenador, Centro de Estudos de Saúde de Populações Indígenas - 
ENSP/FIOCRUZ 
 
1 - INTRODUÇÃO 
No momento em que se procura consolidar o Sistema Único de Saúde no País, 
segundo os princípios e diretrizes estabelecidos na 8º Conferência Nacional de Saúde e 
consagrados na Nova Constituição, mais uma vez se coloca a questão da assistência às 
populações indígenas no Brasil. 
Na Conferência Nacional de Proteção à Saúde do índio, realizada em novembro 
de 1986, tema específico que se seguiu à 8º. Conferência, aspectos relacionados a políticas 
de saúde para grupos indígenas foram discutidos e propostas foram encaminhadas. O que 
se faz necessário agora é a retomada destes temas e reflexões sobre as consequências da 
aplicação das novas orientações do Sistema Único para as comunidades aborígenes, em 
função de sua situação peculiar no conjunto da sociedade brasileira, para que estas possam 
efetivamente ser contempladas com os benefícios da seguridade social e da 
universalização do atendimento. 
Com base nas diretrizes e princípios fundamentais do Sistema Único, serão 
discutidas neste trabalho algumas peculiaridades relativas à assistência à saúde em áreas 
indígenas, revendo-se sumariamente algumas das experiências brasileiras recentes neste 
campo. Concluiremos com algumas sugestões de estratégias a serem implementadas no 
sentido de se estender, de forma mais eficaz, a participação do Estado nos cuidados de 
saúde aos grupos tribais do território brasileiro. 
 
 
5 
 
2 - O ATENDIMENTO AO ÍNDIO BRASILEIRO 
Sendo o SUS a reafirmação da responsabilidade do Estado no financiamento, 
organização e gestão de um sistema abrangente de cuidados à saúde, com cobertura 
universal a todos os habitantes do território, a extensão da rede de serviços aos grupos 
indígenas ocorre, por princípio, de forma automática. Deve-se, no entanto, avaliar as 
implicações de tal descentralização, com a execução direta de ações em áreas cultural e 
linguisticamente diferenciadas, frequentemente isoladas fisicamente, bem como a 
articulação destas ações com a estrutura do sistema em seus diferentes níveis, de modo a 
preservar a sua integridade e continuidade. 
Historicamente, no Brasil, os primeiros cuidados de saúde dispensados aos grupos 
tribais partiram das missões religiosas. Posteriormente, com a criação do Serviço de 
Proteção ao índio, na primeira década deste século, o atendimento médico aos grupos 
indígenas passou a ser atribuição desta agência governamental. A responsabilidade do 
Estado foi reafirmada no Estatuto do índio que assegurou aos mesmos "o regime geral da 
Previdência Social"; "os meios de proteção à saúde facultados à comunhão nacional" e 
"especial assistência dos poderes públicos em estabelecimentos a esse fim destinados" 
(Art. 54 e 55). 
O SPI não tinha uma estrutura organizada e abrangente de assistência à saúde e 
atendia basicamente às situações de surtos epidêmicos advindos da perda do isolamento. 
Ainda em sua época surgiu a experiência pioneira de Noel Nutels, através do Serviço de 
Unidades Sanitárias Aero-Transportadas, ligado ao Ministério da Saúde. Este, embora se 
propondo inicialmente apenas a controlar a tuberculose em áreas indígenas, na prática 
ampliou o espectro das ações de saúde desenvolvidas (COSTA, 1986). 
A primeira tentativa de sistematizarão do atendimento de saúde em áreas 
indígenas, foi a criação das equipes volantes de Saúde, no âmbito da Divisão de Saúde da 
FUNAI, sucedânea do SPI (COSTA, loc. cit.). Este esquema, que persiste, é o responsável 
pela maior parte das ações de saúde hoje desenvolvidas em áreas indígenas. Este modelo, 
de pouca eficácia, esbarrou em várias dificuldades, dentre as quais a falta de planejamento 
e de integralidade das ações; política de remuneração não contempladora de tempo 
 
 
6 
integral; carência crônica de infra-estrutura e recursos; falta de articulação com outros 
níveis de atenção; ausência de um sistema de informações em saúde e o preparo 
inadequado de quadros para atuação em comunidades culturalmente distintas. A falta de 
uma estrutura adequada de atendimento à saúde na atual agência Federal de assuntos 
indígenas (FUNAI), com múltiplas atribuições, resultou, de forma compensatória, em 
uma pletora de convênios com entidades governamentais e não-governamentais. 
Devem ser citadas outras experiências assistenciais de âmbito mais localizado, 
envolvendo a participação de entidades religiosas; organizações não-governamentais 
(CCPY, 1987), escolas médicas (BARUZZI et al, 1978) e projetos de desenvolvimento 
regional (VIEIRA FILHO, 1988). 
 3 - ESPECIFICIDADES DOS CUIDADOS DE SAÚDE A POPULAÇÕES 
INDÍGENAS 
Pode-se distinguir algumas peculiaridades no que tange ao trabalho em saúde em 
comunidades tribais, destacando-se as seguintes: 
a) Situação de Transculturação — dentro da questão mais ampla do processo 
aculturativo, observado com intensidade e rapidez variáveis após o contato com a 
sociedade não índia envolvente, a transculturação no campo da saúde surge pela 
introdução de um conjunto de princípios e práticas do sistema médico oficial em 
comunidades que vêm lidando com as questões de saúde-doença através de sistemas 
tradicionais de crençase práticas de cura. A sobreposição destas duas medicinas envolve 
conflitos de compatibilização e aceitação tanto por parte dos receptores como dos 
executores das ações. Neste contexto, tem papel fundamental a intermediação 
antropológica no acompanhamento dos programas de saúde e, principalmente, na 
formação de pessoal de saúde - índios e não índios — para atuação em comunidades 
indígenas. O instrumental conceituai da antropologia médica ao elucidar a concepção 
indígena do organismo humano, da causalidade das doenças e das terapêuticas da 
medicina tradicional, subsidia e possibilita o processo de integração controlada entre os 
dois sistemas médicos. 
b) Situação Geográfica — a maioria das comunidades indígenas brasileiras se 
localiza em regiões distantes da Amazônia e Centro-Oeste, com aldeias mais ou menos 
 
 
7 
esparsas e de baixa densidade demográfica. Isto implica dificuldades de acesso que, 
aliadas à deficiência da infra-estrutura local e recursos, contribuem para a 
descontinuidade na execução das ações e programas. Neste contexto, toma-se 
imprescindível um sistema de comunicações permanente com outros níveis de referência. 
A elevação dos custos operacionais, principalmente em função da dificuldade de 
manutenção de equipamentos e instalações, além da grande dependência do transporte 
aéreo é outro aspecto a ser considerado. Uma outra conseqüência é a dificuldade de 
permanência prolongada de equipe de saúde não-índia nestas áreas em virtude do 
isolamento social e profissional e ausência de comodidades das áreas urbanas. 
c) Dinâmica do Perfil Epidemiológico — é conhecido o rápido ciclo de adaptação 
às enfermidades antes desconhecidas por grupos tribais isolados do contato com a 
sociedade não indígena e que sofrem grandes transformações aculturativas em seus 
hábitos e condições de vida. De uma situação inicial de equilíbrio por convívio secular 
com processos infecciosos de caráter endêmico e baixa letalidade, iniciam-se surtos de 
viroses introduzidas, com alta morbidade e mortalidade e importantes repercussões na 
organização social. Se superada esta fase, com a continuidade da reprodução biológica, 
inicia-se uma nova etapa na qual prevalecem os problemas dentários e os processos 
infecciosos da "aculturação parcial" tais como infecções cutâneas, tuberculose, DST, 
diarréia, malária etc. Estes resultam principalmente da sedentalização forçada, do 
desequilíbrio alimentar, padrão inadequado de higiene individual e contato mais íntimo 
com as populações urbanas. Por fim, a terceira etapa que completa a "transição 
epidemiológica" (YOUNG, 1988 b) ocorre com a maior integração à sociedade 
envolvente e as perdas e aquisições culturais decorrentes, caracterizando-se pelo aumento 
das doenças crônico-degenerativas (câncer, hipertensão, diabetes etc.) com o surgimento 
de um perfil de morbi-mortalidade mais próximo ao da sociedade não-índia. Tal se deve 
basicamente ao estresse social, à aculturação alimentar radical e à exposição a poluentes 
ambientais e produtos industrializados. É também característico desta fase o surgimento 
de um maior índice de doenças mentais (alcoolismo, suicídio) resultantes da 
desintegração social e marginalidade econômica, que explicam a participação dos 
 
 
8 
acidentes e violências como as mais importantes causas de mortalidade em grupos 
largamente aculturados (YOUNG, 1983; RHOADES et al, 1987 b). 
A constatação destas rápidas mudanças nos perfis de morbi-mortalidade que se 
seguiram aos processos de transformação socio-cultural, bem como a expectativa de 
continuidade deste processo, colocam os planejadores e administradores de serviços de 
saúde em situação de poderem se preparar para reduzir o impacto destes fenômenos nos 
níveis de saúde da comunidade. 
4 - ALGUMAS PROPOSTAS 
Conforme citado na Conferência de Proteção à Saúde do Índio, o relatório final 
apontou diretrizes relativas à questão da organização, pelo poder público, dos serviços de 
saúde para as comunidades etnicamente diferenciadas. Dentre elas destacam-se a 
participação de representantes indígenas na formulação de políticas e execução das ações 
e serviços; a criação de uma agência específica para assuntos de saúde indígena no âmbito 
do ministério responsável pela coordenação do SUS e o desenvolvimento de estratégias 
de atenção primária a nível local que respeitem as especificidades etnoculturais. 
Retomaremos algumas destas proposições, consideradas como ponto de partida para a 
discussão da integração da assistência aos indígenas às redes,de serviços do Sistema 
Único de Saúde. 
E importante enfatizar que a saúde dos grupos tribais é expressão direta das formas 
tradicionais de ocupação do espaço territorial que assegurem a reprodução biológica e 
cultural dos grupos; da integridade de seus sistemas de crenças e valores responsáveis 
pela coesão social, bem como das relações de contato com a sociedade branca envolvente 
e, portanto, da política indigenista desenvolvida no país. 
 
4.1 - Algumas estratégias a serem consideradas são as seguintes: 
a) Distritalização diferenciada — dar-se-ia através da criação de áreas especiais 
de saúde (Distritos Sanitários) que englobem apenas comunidades indígenas, segundo 
critérios geográficos, demográficos e culturais a serem especificados. O que confere um 
 
 
9 
caráter especial a estas áreas, além das barreiras linguísticas, é a necessidade de se 
organizarem os sistemas locais de saúde de modo a permitir: 
b) a manutenção complementar das práticas tradicionais de cura. 
c) o treinamento especial dos profissionais de saúde não-índios com base em 
conhecimentos etnológicos. 
d) o estabelecimento de formas diferenciadas de articulação com as diferentes 
instâncias de gestão do SUS. Em relação a este último aspecto, a integração destas áreas 
com o sistema não se daria necessariamente através do nível municipal, podendo se dar a 
nível estadual ou mesmo central, dependendo do grau de aculturação e integração na 
sociedade envolvente e do perfil mórbido. Esta flexibilidade na forma de articulação dos 
distritos sanitários indígenas no SUS é fundamental pois são bem distintas as 
necessidades e capacidades de comunidades autóctones pouco contatadas e isoladas na 
floresta amazônica em relação às de outras com séculos de contato e que se localizam 
próximo a centros urbanos, como se observa no Brasil. 
É questionável se a simples municipalização da assistência à saúde dos grupos 
indígenas trará benefícios reais a estas comunidades. Estas, em geral, são precariamente 
toleradas ou mesmo rechaçadas pela população regional, e pode-se prever a incapacidade 
do Poder Municipal em reconhecer a situação cultural especial dos grupos tribais bem 
como de preparar adequadamente quadros para o atendimento, em função de conflitos 
decorrentes da não-assimilação étnica, de preconceitos e de disputas fundiárias. neste 
sentido, a distritalização diferenciada surge como alternativa para garantir o acesso real 
dos índios aos serviços e a equidade no atendimento, pressupostos para um Sistema de 
Saúde socialmente justo. 
Por outro lado, o fortalecimento destes sistemas locais, através do treinamento, 
nas próprias comunidades, de alguns dos membros como agentes de saúde capacitados 
para desenvolver cuidados básicos e educação para a saúde, garantiria maior autonomia 
e continuidade das ações de saúde neles desenvolvidas bem como a redução dos custos 
operacionais. Esta foi a estratégia desenvolvida para ampliação efetiva da cobertura dos 
serviços para as áreas indígenas em países que hoje têm um sistema estruturado atendendo 
 
 
10 
estas populações de difícil acesso, como os EUA (BATHKE, 19-74; JUSTICE, 1978) e 
o Canadá (YOUNG, 1988). 
e) Participação Comunitária — sendo uma das premissas básicas para o melhor 
controle e planejamento dos serviços torna-se especialmente importante para os Distritos 
Sanitários Indígenasna medida em que os membros da comunidade conduzem o processo 
de integração das práticas da medicina oficial aos valores culturais do grupo, o que 
reforçaria a sua auto-estima e autodeterminação. 
Esta participação comunitária dar-se-ia através dos Conselhos Distritais de Saúde, 
onde haveria também a participação dos representantes locais do SUS, e de outras 
instituições presentes como prestadoras de serviços, permitindo assim a adequada 
determinação de prioridades e estratégias assistenciais. Esta forma de participação seria 
o passo inicial para o desenvolvimento da autogestão em saúde, conforme já se observa 
em algumas comunidades indígenas do hemisfério norte (MOFFATT, 1987; GARRO et 
al, 1986; RHOADES et al, 1987a). 
A transferência do controle dos programas de saúde para as próprias comunidades 
indígenas foi estabelecida como política tanto no Canadá em 1981, através do documento 
ministerial "Transfer of Health Services to Indian Communities" (GARRO et al, loc. cit.), 
como nos EUA, ao reafirmar, por ocasião da criação do "Indian Health Service", como 
uma de suas metas o "encorajar a máxima participação dos indígenas no planejamento e 
administração dos serviços do IHS e assisti-los no desenvolvimento de sua capacidade de 
integrar e gerenciar programas de saúde" (RHOADES et al, 1987a). Desde o início desta 
década grupos no Canadá com o apoio do Departamento de Saúde Canadense e de 
Universidades foram paulatinamente adquirindo o controle dos serviços de saúde e, a 
despeito de dificuldades iniciais relativas ao recrutamento de profissionais de saúde e o 
gerenciamento de fundos insuficientes, o esquema consolidou-se. 
Seria ainda fundamental a criação de Comissões de Saúde Indígena, funcionando 
associadas aos Conselhos Estaduais de Saúde. Tais comissões seriam compostas por 
representantes das nações indígenas e por profissionais de saúde pertencentes às 
estruturas de atendimento já existentes os quais passariam a integrar o SUS. As principais 
atribuições destas comissões seriam supervisionar as referências para atendimento a nível 
 
 
11 
secundário e terciário; promover o estabelecimento dos Conselhos locais e ampará-los 
tecnicamente; planejar e avaliar programas de saúde; treinar equipes, além da 
responsabilidade fiscal. 
f) Agência de Saúde Indígena no Ministério Gestor do SUS — desde o 
2º Congresso Indigenista Interamericano (1949) foi aprovada uma resolução defendendo 
a criação, nos Ministérios da Saúde dos Países Latinoamericanos, de uma seção de 
"Defesa Biológica dos Indígenas" com a finalidade de "estudar as doenças dos índios; 
preparar a bioestatística e formar enfermeiros índios" (MARROQUIN, 1977). 
Da mesma forma, a OMS, ao estabelecer o papel dos Ministérios da Saúde na 
Atenção Primária, discutindo as infra-estruturas de Sistemas de Saúde, refere-se no 
concernente às populações especiais, à organização de serviços de saúde específicos em 
países com populações aborígenes claramente identificadas (WHO, 1988). 
Observa-se que os países da América que hoje têm os melhores indicadores de 
saúde para populações indígenas inicialmente administraram os serviços de saúde para 
grupos autóctones através do órgão governamental de assuntos indígenas, de amplas 
atribuições em diversas áreas, e ligados aos respectivos Ministérios do Interior, como nos 
EUA ("Bureau of Indian Affairs") e Canadá ("Department of Indian Affairs") (STONE, 
1935; RHOADES et al, 1987a). Com a evolução dos Sistemas de Saúde respectivos, 
embora tenham tomado rumos distintos quanto ao papel do Estado na prestação direta de 
Serviços e no financiamento do setor, foram criados serviços específicos de atenção à 
saúde dos indígenas nos respectivos Departamentos de Saúde, em 1955, nos EUA 
(RHOADES et al, 1987a) e em 1945, no Canadá (YOUNG, 1984). 
Por ocasião da Conferência de Proteção à Saúde do índio a ideia foi levantada e 
hoje significaria a criação de uma Secretaria Técnica dentro da estrutura central de gestão 
do SUS, com a finalidade de coordenação executiva das ações de saúde indígena em todo 
o território. Teria assim a seu encargo: a normatização técnica, programação, 
orçamentação, captação de recursos, articulação com o nível estadual, desenvolvimento 
específico de recursos humanos e processamento de informações sobre saúde de grupos 
indígenas. É importante que esta unidade seja assessorada por representantes das 
 
 
12 
entidades indigenistas, universidades, associações de profissionais de saúde e outras 
instâncias governamentais reunidas em um Conselho. 
O funcionamento desta agência junto ao nível central do SUS traria como 
vantagens um maior respaldo técnico e integração com outros setores governamentais 
pertinentes, envolvidos em questões de saúde. 
É importante enfatizar que a diferenciação no atendimento à saúde dos grupos 
indígenas dentro do Sistema Único implica uma vinculação orçamentária específica para 
atendimento dos programas nas diferentes áreas. 
 5 - PERSPECTIVAS 
A reorganização do sistema de atenção à saúde em âmbito nacional, para uma 
melhor integração e distribuição dos serviços em todo o território, se apresenta como a 
ocasião adequada para a construção de uma estrutura de saúde que atenda às necessidades 
cambiantes dos grupos indígenas brasileiros, que sofreram um processo de 
destribalização até então relativamente reduzido. 
Da mesma forma, na necessária reestruturação administrativa ministerial para a 
adequada gestão do Sistema a nível central, surge a oportunidade para a criação de um 
organismo específico para a coordenação executiva das ações de saúde e responsável pela 
elaboração e implementação de políticas de saúde para as populações indígenas. Estas 
embora se constituam em apenas 0,2% da população do país, apresentam, como um todo, 
um crescimento demográfico acima daquele observado na população não-índia, podendo-
se prever um aumento rápido na demanda de atenção médico-sanitária. Nos períodos de 
estabilidade demográfica que se seguiram às depopulações pós-epidêmicas iniciais, 
alguns grupos exibiram crescimento numérico acelerado, da ordem de 500% em duas 
décadas (RIBEIRO, 1982). 
Deve ser lembrado que os esforços de reorganização institucional propostos, com 
o objetivo de melhorar o atendimento de saúde para os índios, visam basicamente superar 
os aspectos biológicos adversos das fases iniciais da transição da morbi-mortalidade, pela 
proteção contra agravos de maior importância, notadamente os de natureza infecciosa. A 
etapa seguinte, mais difícil, e que não se resolve com a simples melhoria da qualidade e 
 
 
13 
acesso aos serviços de promoção e recuperação da saúde, envolve uma verdadeira 
"profilaxia cultural" e implica assegurar-se a estas comunidades a possibilidade de 
direcionarem e controlarem o processo geral de aculturação e mudança em seus hábitos 
e estilos de vida tradicionais e a consequente participação progressiva na formação 
socioeconômica dominante. Sem isto, encontraremos no futuro próximo o que já se 
observa nas comunidades aborígenes da Austrália e países da América do Norte: perda 
de identidade cultural, da coesão social e da dignidade individual; baixos níveis de 
escolaridade e emprego; doenças mentais e violência em proporções epidêmicas. 
Um papel importante na sustentação de programas e estruturas públicas de 
atendimento aos indígenas está reservado às instituições universitárias e de pesquisa, bem 
como às entidades médicas e afins. As primeiras, promovendo a discussão sobre aspectos 
relacionados à saúde de grupos tribais, bem como a participação efetiva em programas e 
pesquisas, contribuiriam para a produção de conhecimentos sobre a dinâmica do processo 
de saúde-doença nestas minorias étnicas bem como despertariam interesse e vocações em 
profissionais de saúde em processos de formação. As entidades teriam importante 
contribuição a dar como, por exemplo, através da criação decomissões técnicas 
permanentes de assessoramento a órgãos governamentais. 
Urge que o setor público formulador de políticas setoriais de saúde incorpore de 
forma mais efetiva em suas discussões sobre o futuro da assistência à saúde no Brasil a 
problemática específica das populações indígenas que ainda mantêm, em grande medida, 
o seu conteúdo étnico original. Neste sentido, é fundamental que as mesmas sejam 
consideradas como merecedoras de prioridades substantivas em termos de atendimento e 
que se aprofundem as questões técnicas envolvidas na organização da assistência aos 
índios, com suas peculiaridades anteriormente citadas. 
Finalmente, deve-se ter em mente que não se pode forçar uma integração destes 
grupos ao sistema de saúde de forma não-diferenciada, já que eles sob os aspectos 
linguístico, ideológico e econômico se diferenciam da sociedade nacional como um todo. 
 
 
 
 
14 
 
REFERÊNCIAS 
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em Debate, (Ed. Espec.); Jan/88, pg. 60. 
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Medicina do Parque Nacional do Xingu. Rev. Antropol, São Paulo, 21 (2): 155-164. 
BATHKE, J., 1974. The Community Health Medic in Indian America, pp 69-74, In Who, 
Public Health Papers, nº 60, Geneva. 
CCPY, 1987. CCPY. Dez Anos de Trabalho. Comissão Criação Parque Yanomami, 
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GARRO, L. C.; ROULETTE, J. & WHITMORE, R. G., 1987. Community Control of 
Health Care Delivery: The Sand Bay Experience, Can. J. Publ. Health, 77: 281-284. 
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MARROQUIN, A. D., 1977. Balance del Indigenismo. Inst. Indigenista Interamericano, 
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RIBEIRO, D., 1982. Os Índios e a Civilização. Vozes, Petrópolis. 
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STONE, E. L., 1935. Canadian Indian Medical Services. Can. Med. Assoc. J., 33: 82-85. 
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Ser., nº 766. 
YOUNG, T. K., 1983..Mortality patterns of isolated Indians in northwestern 
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16 
6 - Índios lutam por dignidade e acesso à saúde de qualidade 
Maira Baracho 
 
 
 
Etnias lutam para preservar sua cultura, superar os estereótipos e buscar melhores 
condições de vida e saúde para suas famílias (imagem: Site APOINME) 
Os primeiros registros feitos sobre as terras brasileiras já falavam sobre a 
população indígena e seu modo de vida e de interagir com a natureza. Mais de 500 anos 
depois da chegada dos primeiros europeus colonizadores ao País, este povo segue lutando 
para preservar sua cultura e seus hábitos, superar os estereótipos e buscar melhores 
condições de vida e saúde para suas famílias, dentro do seu próprio modelo de 
convivência. Preconceito, hostilidade e falta de informação fazem com que muitos índios 
ainda vivam submetidos às condições de vida precárias e longe de direitos considerados 
básicos – como o acesso universal à saúde – à vida de qualquer brasileiro. No processo 
de reconstrução de sua identidade e afirmação de sua cultura dentro de um modelo que 
nem sempre os compreende, os índios enfrentam problemas muito parecidos com outras 
populações vulnerabilizadas, como a falta de saneamento básico e a dificuldade no acesso 
aos serviços de saúde. 
Segundo o Censo Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE), em 80,5% dos municípios brasileiros há pelo menos um indígena 
autodeclarado. São 817.963 mil índios brasileiros, dos quais 26,1% vivem no Nordeste, 
segunda maior região com população indígena do país, ficando atrás apenas da Amazônia, 
onde vivem mais de 341 mil índios. É no Nordeste que se encontram o terceiro e quarto 
http://dssbr.org/site/2013/04/indios-lutam-por-dignidade-e-acesso-a-saude-de-qualidade/apoinme-2/
 
 
17 
maiores estados em densidade populacional indígena do país: Bahia, com 6,9% da 
população e Pernambuco com 6,5%. Ao todo no País são 220 povos, que falam cerca de 
180 línguas diferentes. 
Apesar da forte presença e da importância da cultura indígena para a formação da 
identidade de todo o povo brasileiro, desde o processo de colonização e de ocupação das 
terras, os índios perderam espaço não apenas territorial, mas tiveram também sua cultura 
hostilizada e diminuída. “Eles foram obrigados a deixar de lado sua etnicidade e vários 
rituais o que, ao longo do tempo, provocou um processo de perda da identidade cultural. 
Boa parte dos índios no Nordeste, por exemplo, perdeu a língua, que é uma raiz forte”, 
conta a pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Idê Gurgel. É o que também acredita 
Marcondes Secundino, consultor da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e da 
Organização das Nações do Mundo para Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para 
o Projeto de Educação Escolar Indígena. Ele defende que essa situação criou um 
estereótipo do indivíduo indígena, presente não apenas no senso comum, mas também na 
literatura, em publicações didáticas e no discurso elitista. “É aquela representação em que 
se projeta o índio destituído de roupas, nômade, habitante da floresta, isolado dos “hábitos 
modernos” e praticante de uma religião própria”, explica. 
Atualmente, as populações indígenas são atendidas por um subsistema do Sistema 
Único de Saúde (SUS), com equipes que circulam nas comunidades indígenas com o 
objetivo de prestar cuidados primários. Para Ceiça Feitosa, coordenadora do 
Departamento de Mulheres Indígenas da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas 
do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME), os índios deveriam ter um 
sistema de saúde que garantisse um atendimento diferenciado, não apenas nos 
atendimentos básicos, mas também nos casos mais complexos. “Até podemos dizer que 
a atenção primária está relativamente boa, mas, quando partimos para a atenção 
secundária e terciária as coisas se complicam, pois somos jogados no mesmo sistema e 
entramos na mesma fila”, pontua. 
Pesquisa realizada em 2011 pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca 
da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz) revelou que, no Nordeste, 41,2% das 
crianças indígenas sofrem com problemas de anemia. Apesar do alto índice, a região 
 
 
18 
obteve o melhor resultado se comparado às outras regiões do país. No Norte este número 
chegou aos 66%. A mesma pesquisa revelou que apenas 40% das moradias dos índios no 
Nordeste contam com latrinas. Se comparado ao Norte, onde o número não passou de 1%, 
o Nordeste apresenta condições melhores, no entanto, a maioria é ainda desassistida desse 
serviço,direito fundamental assegurado pela Constituição Federal, assim como acesso à 
água de qualidade e eletricidade, por exemplo. 
Entre os anos de 2008 e 2009, pesquisadores da Fiocruz Pernambuco realizaram 
uma pesquisa com o povo indígena Xukuru – etnia formada por mais de 9 mil índios que 
reside em Pesqueira, município da região Agreste de Pernambuco – para dimensionar e 
compreender a situação de saúde nas quais eles se encontravam. Os pesquisadores 
identificaram que em uma das divisões de área dessa etnia (região da Serra, Agreste e da 
Ribeira) 50% das casas ainda não possuíam banheiros. “A Fundação Nacional de Saúde 
(Funasa) e os agentes de saneamento têm essa função específica, então era uma situação 
que não precisava mais estar ocorrendo em volume tão grande”, defende Paulette 
Cavalcanti, uma das pesquisadoras envolvidas no projeto. Ela destaca, ainda, a absoluta 
importância de um sistema de saneamento para prevenir doenças e garantir condições de 
saúde mais adequadas dentro daquela comunidade. 
“No início do projeto ouvimos o depoimento da mãe do atual cacique. Ela contava 
que, quando o então cacique Chicão, seu marido, faleceu, ela se viu saindo de um posto 
de saúde com uma sacola cheia de remédios. Ela mencionava que a medicina daquele 
posto tinha transformado a dor dela em um problema de saúde com um remédio para 
dormir, um para depressão e outro para pressão. Essa visão foi muito importante para o 
nosso projeto”, conta Paulette Cavalcanti. “Na pesquisa percebemos, por exemplo, o 
quanto os postos de saúde tinham sido inseridos naquela área como um elemento 
completamente externo à cultura indígena. Não havia diferença alguma de um posto da 
Zona Rural de um município vizinho. E de péssima qualidade”, critica. Uma das ações 
propostas pelos pesquisadores para tentar minimizar esse choque cultural foi propor que 
os postos tivessem algum elemento da cultura dos Xukurus. “Poderia ser tanto no visual, 
de ter a foto do cacique ou adornos, como eram as escolas, como também um espaço onde 
tivessem plantas e que eles pudessem ter acesso”, detalha a pesquisadora, que ainda diz 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Xucurus
 
 
19 
que esta iniciativa dentro do projeto não teve grandes progressos. A falta de diálogo entre 
as formas de conhecimentos medicinais tradicionais com os saberes dos índios é uma 
falha deste sistema. 
Para Secundino, os gestores e profissionais de saúde indígena não são 
devidamente preparados para trabalhar com estas populações. “Eles não são preparados 
para trabalhar com especificidades étnicas e o reconhecimento de práticas e de saberes 
tradicionais que cada povo indígena detém como acerto cultural e com o qual a medicina 
ocidental deveria dialogar. O que existe na prática é uma imposição da medicina ocidental 
em detrimento dessas práticas e saberes tradicionais indígenas”, defende o consultor. Na 
opinião de Paulette Cavalcanti o sistema é falho por não garantir a qualidade dos serviços 
e a liberdade destes povos. “Na minha concepção, a existência do subsistema de saúde 
indígena deveria garantir uma organização de saúde diferente do SUS geral, para eles 
terem os elementos de garantir o direito, inclusive, de não se submeterem aos tratamentos 
oferecidos tradicionalmente”, defende a pesquisadora. “Uma crítica muito forte que 
fizemos durante o trabalho com os Xukurus era que uma das curandeiras se tornou 
auxiliar de enfermagem e ficamos muito impressionados porque ela não foi proibida, mas 
também não pode usar seu conhecimento dentro do posto. O conhecimento que ela tinha 
foi totalmente negado quando ela foi contratada”, comenta. 
Outra dificuldade no enfrentamento aos problemas de saúde locais está na própria 
infraestrutura e logística das ações. Dentro de boa parte dos territórios indígenas não há 
atendimentos específicos, como na área de odontologia, pela dificuldade de se criar uma 
unidade que seja itinerante e que se adapte e atenda as condições necessárias para atender 
plenamente esta população. Os índios acabam buscando estes serviços, como qualquer 
outro cidadão, nos centros urbanos. 
No Nordeste, 33,7% dos índios residem em áreas urbanas. Este processo de 
aproximação mais forte com a cultura tradicional também acabou refletindo numa nova 
realidade na saúde desta população. Problemas como dependência de drogas, sobretudo 
álcool e crack, começaram a ser retratados pelos indígenas dentro de suas comunidades, 
além da forte presença de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e 
hipertensão. A expansão das áreas urbanas e a natural aproximação dos povos indígenas 
 
 
20 
com não-indígenas também facilitam a continuidade do processo de pressão sobre os 
índios no sentido de tomar seus territórios e incorporá-los às terras de latifúndios e 
grandes produções. “Essa pressão se dá através de leis e uma forte bancada ruralista que 
existe no Congresso. Isso se deve ao fato das áreas indígenas ainda serem as únicas que 
possuem mata e água potável”, explica Ceiça Feitosa, que além de ser da APOINME, 
pertence à etnia Pitaguary do Ceará. 
Para Secundino, da Fundaj, a força da elite dentro da conjuntura política atual é o 
grande motor deste processo. “As elites ocupam relevantes posições no âmbito do Estado 
brasileiro e a partir deste privilégio tenta anular direitos e emperrar a burocracia estatal 
que tem como princípio assegurar esses direitos, entre eles, o da demarcação territorial 
que se encontra praticamente paralisada no Brasil e, especialmente, no Nordeste”, 
acredita. 
Apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas pelas populações indígenas ao 
longo dos séculos, as últimas décadas representam uma retomada da cultura dos índios, 
resgate de sua língua, do seu contato com a terra, com suas crenças e seus valores. Na 
década de 1980 – quando este processo começa a criar maior consistência –, pouco mais 
de uma dezena de povos indígenas era contabilizada no Nordeste, número que hoje passa 
de 80 povos. A região também apresentou um crescimento da população autodeclarada 
indígena. Enquanto no ano de 2000 eram 170.389 pessoas autodeclaradas como 
indígenas, em 2010 esse número foi de 208.691 declarações. 
Entre os desafios enfrentados por estas populações está a convivência com a 
tecnologia, que vem se colocando como grande ferramenta de mobilização e 
conscientização nesta luta. “É possível usar essas técnicas sem se distanciar da sua 
identidade indígena. Hoje tais tecnologias nos auxiliam na divulgação de nossa luta e na 
defesa dos nossos direitos”, acredita Ceiça Feitosa. Marcondes Secundino, da Fundaj, 
também defende que a tecnologia pode ser uma grande aliada na construção de uma 
realidade com mais igualdade e qualidade de vida para as populações indígenas. “Cabe a 
cada povo decidir o uso social que quer fazer do novo instrumento disponível. O acesso 
ao celular e à TV, por exemplo, pode significar democratização da comunicação e da 
informação em lugares remotos desse país. O uso social dessas novas tecnologias pode, 
 
 
21 
inclusive, melhorar a qualidade de vida. Também pode se transformar em instrumento de 
luta política, de formação de um pensamento crítico, capaz de mudar a realidade vivida”, 
conclui. 
Dentro da compreensão de saúde, estes brasileiros também têm um longo caminho 
pela frente. Universalizar o acesso ao atendimento básico de saúde, ampliar as condições 
de infraestrutura como instrumento facilitador do acesso aos serviços de saúde e resgatar 
a cultura medicinal, os saberes de cada povo, para retomar o envolvimento dos índios de 
cada localidade com os conhecimentos adquiridos por cada etnia ao longo dos séculos, 
são alguns dos desafios. Também há a necessidade de oferecer aos índios um atendimento 
que os compreenda, os respeite e que possa auxiliar na melhoria das condições de vida 
das famílias. 
Através do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (Sasi/SUS) e das suas 
unidades descentralizadoras,os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), o poder 
público, através da gestão Federal e da intersetorialidade necessária, pode e deve oferecer 
aos diversos grupos étnicos condições de habitação, alimentação, segurança, trabalho e 
educação, garantindo a eles o acesso aos mais diversos bens e serviços de saúde, 
interagindo com o conhecimento especial e único desta população e respeitando as 
diferenças neste diálogo. Além de todo esforço que cabe à iniciativa pública, a reflexão 
destes índios sobre sua própria realidade, sobre sua situação e seus direitos, é 
indispensável para a criação de uma comunidade indígena menos vulnerabilizada. 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
Referências 
Brito JSS, Albuquerque PCa, Silva EH. Educação popular em saúde com o povo indígena 
Xukuru do Ororubá. Interface (Botucatu) [periódico na internet]. [acesso em 17 abr 
2013]. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
32832013005000002&lng=en. In press 2013. Epub Feb 06, 
2013. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832013005000002. 
Censo 2010: população indígena é de 896,9 mil, tem 305 etnias e fala 274 idiomas 
[Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2012 Ago 10 [acesso em 17 abr 2013]. Disponível 
em: http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia
=2194 
IBGE. Os indígenas no Censo Demográfico 2010: primeiras considerações com base no 
quesito cor ou raça [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2012 [acesso em 17 abr 2013]. 
Disponível em: http://www.ibge.gov.br/indigenas/indigena_censo2010.pdf 
Schincariol I. Pesquisa apresenta panorama da saúde indígena [Internet]. Rio de Janeiro: 
Informe ENSP; 2011 Nov 18 [acesso em 17 abr 2013]. Disponível 
em: http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/28266 
Xucurus. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. [acesso em 17 abr 2013]. Disponível 
em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Xucurus 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832013005000002&lng=en
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http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=2194
http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=2194
http://www.ibge.gov.br/indigenas/indigena_censo2010.pdf
http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/28266
http://pt.wikipedia.org/wiki/Xucurus

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