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1 TÓPICOS AVANÇADOS EM BIOLOGIA MOLECULAR 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................4 2. BIOLOGIA MOLECULAR: O QUE É ? .......................................................................................6 2.1. VIDA, DNA, GENES, PROTEÍNAS ........................................................................................7 3. GENÉTICA MOLECULAR: AVANÇOS E PROBLEMAS ..................................................... 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 28 4 1. INTRODUÇÃO https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Frtgespecializacao.com.br%2Fpos-graduacao%2Fespecializacao- em-genetica-medica-e-biologia-molecular%2F&psig=AOvVaw23ZQOlzJSnX9dEJvPs_h- N&ust=1614000668023000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwig8JKVi_vuAhWUALkGHVWpDhQQr4kDegUIARDHAQ OBJETIVOS E PÚBLICO-ALVO – Fornecer sólida formação aplicada aos conceitos fundamentais da genética médica e biologia molecular, assim como capacitar os profissionais a compreenderem as novas estratégias e ferramentas utilizadas no diagnóstico molecular e biotecnológico aplicado. – Propiciar conhecimento teórico/prático sobre fundamentos da genética médica e biologia molecular; – Fornecer informação altamente atualizada e detalhada sobre as aplicações da genética e biologia molecular na saúde; – Contribuir para o crescimento do número de profissionais que consigam atuar e trabalhar com as novas plataformas genômicas; – Capacitar o profissional a desenvolver habilidades na área da genética médica e biologia molecular, assim como na automação de equipamentos e última geração; – Destacar a importância do conhecimento tecnológico como ferramenta para profissionais que estejam prontos para as necessidades do mercado. https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Frtgespecializacao.com.br%2Fpos-graduacao%2Fespecializacao-em-genetica-medica-e-biologia-molecular%2F&psig=AOvVaw23ZQOlzJSnX9dEJvPs_h-N&ust=1614000668023000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwig8JKVi_vuAhWUALkGHVWpDhQQr4kDegUIARDHAQ https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Frtgespecializacao.com.br%2Fpos-graduacao%2Fespecializacao-em-genetica-medica-e-biologia-molecular%2F&psig=AOvVaw23ZQOlzJSnX9dEJvPs_h-N&ust=1614000668023000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwig8JKVi_vuAhWUALkGHVWpDhQQr4kDegUIARDHAQ https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Frtgespecializacao.com.br%2Fpos-graduacao%2Fespecializacao-em-genetica-medica-e-biologia-molecular%2F&psig=AOvVaw23ZQOlzJSnX9dEJvPs_h-N&ust=1614000668023000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwig8JKVi_vuAhWUALkGHVWpDhQQr4kDegUIARDHAQ 5 O estudo da biologia molecular representa hoje uma das áreas de maior potencial para a realização de pesquisas na área médica, considerando-se não apenas sua grande relevância clínica e epidemiológica, mas também pela possibilidade de aplicação de ferramentas recentemente desenvolvidas a um número bastante amplo de doenças. Em consequência do grande interesse despertado por esta área, observa-se um número cada vez maior de profissionais da área de saúde motivados em aprofundar seus conhecimentos e produção científica, mediante a realização de projetos de pesquisa, os quais de alguma forma utilizem conceitos e procedimentos relacionados á biologia molecular. Entretanto, já aos primeiros passos neste caminho o candidato a pesquisador defronta-se com questões bastante complexas referentes não apenas à escolha do tema a ser estudado, mas principalmente á definição de seus objetivos gerais, específicos ou mesmo aos recursos adequados e/ou disponíveis para a execução de sua metodologia. Assim, o objetivo neste contexto será apresentar uma breve revisão de conceitos básicos sobre a biologia molecular e seus avanços. 6 2. BIOLOGIA MOLECULAR: O QUE É ? https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.biometrix.com.br%2Fbiologia-molecular-aplica-parte- 2%2F&psig=AOvVaw2koIsVSLOKbeHBWoXUmk57&ust=1614001261423000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwiUho2 wjfvuAhVLNbkGHQO-B6sQr4kDegQIARBv Até algumas décadas atrás, o estudo dos tecidos vivos baseava-se quase que exclusivamente em observações de natureza morfológica, fossem estas a nível macroscópico ou microscópico. Desta forma, a análise das alterações ocorridas na intimidade destes tecidos poderiam ser identificadas apenas mediante a constatação de seus efeitos sobre sua estrutura, a qual iria apresentar modificações em sua forma, tamanho, aparência e outras variáveis. O grande e acelerado desenvolvimento da tecnologia permitiu que estes mesmos tecidos fossem posteriormente analisados em seu conteúdo submicroscópico, ou seja, através da identificação das moléculas que os compõem pela aplicação de métodos químicos ou físicos. O grande salto de conhecimento ocorrido nesta área foi proporcionado pelos trabalhos pioneiros de Watson e Crick, na década de 50, os quais, ao definir a estrutura química da molécula de DNA, estabeleceram a principal diferença entre os seres vivos e a matéria inanimada. https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.biometrix.com.br%2Fbiologia-molecular-aplica-parte-2%2F&psig=AOvVaw2koIsVSLOKbeHBWoXUmk57&ust=1614001261423000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwiUho2wjfvuAhVLNbkGHQO-B6sQr4kDegQIARBv https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.biometrix.com.br%2Fbiologia-molecular-aplica-parte-2%2F&psig=AOvVaw2koIsVSLOKbeHBWoXUmk57&ust=1614001261423000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwiUho2wjfvuAhVLNbkGHQO-B6sQr4kDegQIARBv https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.biometrix.com.br%2Fbiologia-molecular-aplica-parte-2%2F&psig=AOvVaw2koIsVSLOKbeHBWoXUmk57&ust=1614001261423000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwiUho2wjfvuAhVLNbkGHQO-B6sQr4kDegQIARBv 7 A partir deste achado, sucedeu-se uma sequência de descobertas que demonstrou que esta molécula representava o elemento primordial, a partir do qual poderíamos compreender as principais características dos seres vivos. Nascia a biologia molecular. 2.1. VIDA, DNA, GENES, PROTEÍNAS https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fquerobolsa.com.br%2Fenem%2Fbiologia%2Fcodigo-genetico- e-sintese-de- proteina&psig=AOvVaw1KMQN98cD1c5tYzZIN_eOk&ust=1614001911174000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwi76P blj_vuAhX_B7kGHfx-DgQQr4kDegQIARBG A identificação da molécula de DNA possibilitou uma melhor compreensão do ciclofinito da vida, descrito como o intervalo entre os processos de nascimento e morte, e mantido através de um constante funcionamento baseado na ação de moléculas, a qual seria o elemento básico das transformações morfológicas observadas de forma peculiar em cada ser vivo no reino animal ou vegetal. Para melhor analisarmos o impacto destas descobertas, consideremos como elemento vivo uma única célula, mínimo organismo capaz de realizar as tarefas inerentes á vida como captação de energia e o metabolismo interno necessário durante o seu ciclo de existência. Os estudos bioquímicos nos trouxeram o conhecimento de que as principais moléculas responsáveis pela realização destas tarefas são as proteínas. Estas macromoléculas, compostas por sequências de aminoácidos, representam a maior https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fquerobolsa.com.br%2Fenem%2Fbiologia%2Fcodigo-genetico-e-sintese-de-proteina&psig=AOvVaw1KMQN98cD1c5tYzZIN_eOk&ust=1614001911174000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwi76Pblj_vuAhX_B7kGHfx-DgQQr4kDegQIARBG https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fquerobolsa.com.br%2Fenem%2Fbiologia%2Fcodigo-genetico-e-sintese-de-proteina&psig=AOvVaw1KMQN98cD1c5tYzZIN_eOk&ust=1614001911174000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwi76Pblj_vuAhX_B7kGHfx-DgQQr4kDegQIARBG https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fquerobolsa.com.br%2Fenem%2Fbiologia%2Fcodigo-genetico-e-sintese-de-proteina&psig=AOvVaw1KMQN98cD1c5tYzZIN_eOk&ust=1614001911174000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwi76Pblj_vuAhX_B7kGHfx-DgQQr4kDegQIARBG https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fquerobolsa.com.br%2Fenem%2Fbiologia%2Fcodigo-genetico-e-sintese-de-proteina&psig=AOvVaw1KMQN98cD1c5tYzZIN_eOk&ust=1614001911174000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwi76Pblj_vuAhX_B7kGHfx-DgQQr4kDegQIARBG 8 parte de matéria seca de uma célula. Além de auxiliar a compor sua estrutura, as proteínas realizam praticamente todas as funções celulares, como enzimas, transporte, transmissão de sinais, recepção de estímulos e até a regulação da ativação de genes para a produção de outras proteínas. Estima-se hoje que cada célula necessite para seu funcionamento vital de cerca de 10 000 proteínas diferentes, cada uma delas desempenhando uma tarefa específica. Estas proteínas, como sabemos, são produzidas a partir de segmentos de sequências gênicas no DNA, através da qual se estruturam moléculas de RNA, descritas como mensageiras (RNAm). Estas moléculas irão migrar a partir do DNA nuclear para os ribossomos, no citoplasma, onde, através de ligações com outra forma de RNA (descrito como transportador), irão realizar a síntese das proteínas mediante o encadeamento sequencial de aminoácidos. Poderíamos então sumarizar esta sequência de eventos da seguinte forma: Estruturando um projeto de pesquisa em biologia molecular Utilizando os conceitos acima revistos, discutiremos a seguir três tipos de projetos mais frequentemente utilizados em biologia molecular: 1º tipo: Pesquisar no DNA de um indivíduo saudável o risco de desenvolver uma doença de caráter hereditário. Esta é certamente um dos tipos de projetos de pesquisa mais realizados, representando a base do estudo das doenças genéticas. Como 9 exemplo clássico na área da Coloproctologia para este modelo de estudo, podem citar a necessidade de identificar se um membro de uma família de um paciente portador de polipose adenomatosa familiar terá ou não o risco de desenvolver a mesma doença. Neste caso, sabem que o gene responsável pela ocorrência desta doença é dominado como APC, cuja função é codificar uma proteína relacionada ao controle da atividade proliferativa da célula intestinal. Para realizar este estudo, foi preciso responder às seguintes perguntas: A sequência deste gene APC em um DNA normal (sem mutações) já é conhecida ? Sim, como a maior parte dos genes de relevância clínica, sua sequência já é publicamente disponível em bases de dados facilmente acessíveis pela Internet; ·Já foi identificada a mutação existente no paciente portador da polipose ? Provavelmente não. Neste caso, terá necessariamente que fazer um sequenciamento de todo o gene APC deste paciente, em qualquer célula normal somática (ou seja, excluindo óvulos e espermatozóides), pois ao se tratar de uma mutação (também chamada de polimorfismo) provavelmente herdada geneticamente, esta deve estar necessariamente universalmente presente. Para esta finalidade, utiliza-se mais frequentemente as células sanguíneas, cujo DNA é extraído. Para realizar esta avaliação da sequência de todo o gene, necessitaremos utilizar sequenciadores eletrônicos, os quais permitirão determinar a sequência de bases nitrogenadas (adenina, citosina, guanina e timina) no segmento desejado, conforme demonstrado na figura 1, e compará-la com a sequência previamente conhecida. Este é um procedimento ainda disponível em poucos centros, demorado e de alto custo, especialmente se considerarmos que o gene APC é bastante longo, contendo 8535 pares de bases nitrogenadas. Caso este exame seja possível, e tenha sido possível identificar uma mutação em algum segmento (como uma troca de uma adenina por timina, por exemplo). Como saber se um familiar assintomático apresenta a mesma mutação em seu DNA? Para isto, bastar extrair o DNA de algum tecido celular deste paciente (sangue, esfregaço da bochecha, etc) para pesquisar se esta mutação estará presente. Como 10 neste caso sabendo onde e qual a mutação a ser procurada, não necessitam fazer um sequenciamento novamente. Para isto, foi possível apenas utilizar uma técnica de amplificação do DNA denominada como reação em cadeia pela polimerase (PCR), a qual irá permitir a replicação in vitro em larga escala apenas do segmento de DNA desejado, ou seja, aquele no qual está contida a sequência que apresentou a mutação no familiar doente. Caso o laboratório disponha de aparelhos de PCR mais modernos (real-time PCR) esta identificação e mensuração dos segmentos a serem examinados poderá ser realizada eletronicamente, no chamado tempo real. Caso o aparelho de PCR não disponha deste recurso, o produto de sua amplificação deverá ser identificado posteriormente em gel de eletroforese (Figura 2). Como qualquer alteração na sequência de DNA implicará uma alteração de seu peso molecular, será possível observar se a sequência do segmento gênico examinado está íntegra ou não, pois o peso molecular do segmento normal é conhecido (Figura 11 3). Este tipo de estudo é, portanto, utilizado quando desejam conhecer a existência de uma alteração genética, hereditária ou não, e é usualmente descrito como pesquisa de polimorfismos. 2º tipo: Pesquisa de DNA estranho ao indivíduo em um tecido Este tipo de estudo, de grande relevância na esfera da infectologia, é semelhante a este último apresentado acima, com a diferença de que o segmento de DNA pesquisado no tecido do indivíduo não é uma variação de uma sequência gênica humana normal, mas uma sequência presente exclusivamente em um determinado ser vivo de outra espécie, seja este um vírus ou bactéria, denotando assim a sua presença anômala. 12 Como exemplo, define-se como hipótese que a ileite em um paciente portador de diarreia é causada pela presença de uma infecção por Yersinia enterocolitica. Neste caso, como podem utilizar as ferramentas da biologia molecular para fazer este diagnóstico? Extração do DNA a partir de uma biópsia do íleo terminal colhida por colonoscopia Trata-se de um procedimento bioquímico relativamente simples, podendo ser realizado por laboratórios bem equipados com pessoal treinado. Pesquisa do DNA da Yersinia através de PCR Neste caso, a técnica de reação em cadeia pela polimerase deverá incluir, além do DNA ileal extraído, pequenas sequências (denominadas como primers) previamente preparadaspara amplificar apenas um segmento conhecido do DNA da Yersinia. Se neste tecido houver DNA da Yersinia, mesmo em mínima quantidade, este será amplificado e identificado pelo PCR (em tempo real ou no gel de eletroforese), gerando um resultado preciso e sem necessidade de realização da cultura, nem sempre disponível. Embora tenhamos utilizado um exemplo referente a tecido intestinal, exames análogos de identificação de DNA extrínseco podem também ser realizados em outros 13 tecidos, incluindo o sangue circulante, o que é feito com grande frequência, por exemplo, no diagnóstico de infecções virais sistêmicas. 3º tipo: Determinação do comportamento biológico de um tecido tumoral Este é o principal objetivo de muitos estudos em biologia molecular, destacando-se aqueles referentes à área oncológica, e é descrito como análise da expressão gênica tecidual. Através desta análise, podemos compreender as funções de cada proteína mediante a correlação entre sua expressão tecidual e diferentes parâmetros clínicos e anatomo- patológicos observados, como grau de diferenciação tumoral, potencial metastático, resposta à terapêutica, intensidade de processos inflamatórios, prognóstico etc. Como o comportamento biológico de uma célula ou um tecido, seja ele normal ou patológico, será determinado pela presença e concentração das proteínas existentes em seu interior, os métodos anteriormente citados para determinar a sequência gênica no DNA não se aplicam neste caso, pois todos os genes deverão estar presentes em todas as células somáticas de nosso corpo, independentemente de serem ou não ativados para a produção de sua respectiva proteína. Desta forma, o gene da insulina, por exemplo, se mostrará presente e íntegro em células como neurônios ou linfócitos, embora não ocorra sua ativação (expressão) visando à produção desta proteína nestas células. Assim, toda célula, seja ela um organismo independente como uma bactéria ou integrante de um grande organismo multicelular como um hepatócito ou célula tumoral, terá suas funções realizadas pela ação de milhares de proteínas distintas, formadas a partir de um número equivalente de RNAs mensageiros, os quais foram produzidos sobre os respectivos genes em seu DNA. Portanto, pode se estudar o comportamento biológico de cada célula através da determinação do estado funcional e integridade de uma proteína ou um conjunto delas. É importante destacar que, ao contrário dos estudos anteriores, em que o foco estava sobre o código genético do indivíduo, presente em qualquer célula somática, neste caso necessitaria fazer a análise biomolecular específica do tecido a ser estudado, seja ele um tumor, um processo inflamatório, ou mesmo um tecido normal cuja atividade celular fisiológica necessite ser esclarecida. Para esta avaliação, dispo se de duas abordagens distintas, a saber: 14 1-Pesquisa do RNAm de uma determinada proteína Considerando a sequência: DNA RNAm Proteína, conclui se que, ao contrário da sequência gênica do DNA, a qual estará presente em todas as células somáticas, seu respectivo RNA mensageiro (RNAm) somente estará presente em um tecido no qual tenha havido a ativação deste gene específico visando a produção de sua respectiva proteína. Para identificar a presença deste RNAm, seria necessário inicialmente extrair, por meios bioquímicos, todo o RNA do tecido a ser analisado. Em seguida, através de reações químicas que utilizem uma enzima denominada como transcriptase reversa, reverter a transcrição deste RNAm em DNA novamente (em segmentos denominados como cDNA ou DNA complementar), os quais poderão ser quantificados, segundo o método de PCR descrito acima. Caso possam identificar a presença deste, demonstrar que sua respectiva proteína está sendo produzida naquele tecido, pois foi formado a partir de um RNAm já existente. Este método de análise de expressão gênica é denominado como RT-PCR (RT = reverse transcriptase) e apresenta a vantagem de permitir a avaliação das proteínas produzidas naquele tecido, possibilitando uma análise do perfil genômico tumoral. São as células não-sexuais. Elas são as células que compõem os órgãos, como fígado, pulmão, coração, entre outros. Esse grupo representa a maior parte das células do corpo e, nos humanos, possuem 23 pares de cromossomos totalizando 46. 15 Uma aplicação mais sofisticada deste procedimento é denominada como microsequência (microarrays), para a qual são utilizados os chamados ‘microchips’, possibilitando a identificação simultânea de milhares de genes que estão sendo ativados (ou não) no DNA daquele tecido. Este método, embora venha sendo aplicado cada vez mais em laboratórios avançados de pesquisa, é ainda bastante complexo para sua utilização em bases clínicas. 2. Pesquisa da proteína propriamente dita no tecido Para correlacionar o comportamento biológico de um tecido diretamente com as proteínas ali expressas dispomos de dois procedimentos mais frequentemente utilizados. O primeiro deles é a imunohistoquímica, já revista recentemente nesta Seção, a qual nos permite a visualização in loco da proteína em questão em um corte do tecido após sua reação com um anticorpo específico, como demonstrado na Figura 4. A imunohistoquímica apresenta grandes vantagens, como sua maior disponibilidade em laboratórios de anatomia patológica, baixo custo, a possibilidade de identificação do posicionamento da proteína no tecido (nuclear, citoplasmática, etc) ou a intensidade de sua presença através do grau de coloração. Por outro lado, apresenta- se pouco adequada à análise estatística devido ao forte componente subjetivo na quantificação dos resultados durante a observação das lâminas. Outra forma de demonstrar a presença de uma determinada proteína a ser estudada em um determinado tecido é através da técnica conhecida como Western blotting. Este método consiste na extração bioquímica de um pool, contendo todas as proteínas presentes no tecido, sendo estas posteriormente separadas por um processo de eletroforese. 16 Feito isto, a identificação de uma determinada proteína naquele tecido poderá ser feita através da adição de um anticorpo específico e sua demonstração através de corante, conforme demonstrada na Figura 5. Assim, o conhecimento destes tipos mais frequentes de estruturas de pesquisa em biologia molecular representa, na verdade, a primeira etapa na elaboração de um projeto, pois baseia-se na disponibilidade de equipamentos e experiência de cada laboratório, devendo ser então o resultado de uma perfeita integração entre o pesquisador clínico e o grupo de profissionais que atuam neste, incluindo outros profissionais da área de saúde, como biologia, bioquímica e farmácia. 17 18 3. GENÉTICA MOLECULAR: AVANÇOS E PROBLEMAS https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.ictq.com.br%2Findustria-farmaceutica%2F769- biotecnologia-o-futuro-presente-na-industria- farmaceutica&psig=AOvVaw0Ae0xVFniMox6hfiTiEYbY&ust=1614002257628000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwi3 4ZCLkfvuAhXsAbkGHfvfAGAQr4kDegUIARCEAQ https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.ictq.com.br%2Findustria-farmaceutica%2F769-biotecnologia-o-futuro-presente-na-industria-farmaceutica&psig=AOvVaw0Ae0xVFniMox6hfiTiEYbY&ust=1614002257628000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwi34ZCLkfvuAhXsAbkGHfvfAGAQr4kDegUIARCEAQ https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.ictq.com.br%2Findustria-farmaceutica%2F769-biotecnologia-o-futuro-presente-na-industria-farmaceutica&psig=AOvVaw0Ae0xVFniMox6hfiTiEYbY&ust=1614002257628000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwi34ZCLkfvuAhXsAbkGHfvfAGAQr4kDegUIARCEAQ https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.ictq.com.br%2Findustria-farmaceutica%2F769-biotecnologia-o-futuro-presente-na-industria-farmaceutica&psig=AOvVaw0Ae0xVFniMox6hfiTiEYbY&ust=1614002257628000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwi34ZCLkfvuAhXsAbkGHfvfAGAQr4kDegUIARCEAQhttps://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.ictq.com.br%2Findustria-farmaceutica%2F769-biotecnologia-o-futuro-presente-na-industria-farmaceutica&psig=AOvVaw0Ae0xVFniMox6hfiTiEYbY&ust=1614002257628000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwi34ZCLkfvuAhXsAbkGHfvfAGAQr4kDegUIARCEAQ 19 A partir de 1972 uma série de descobertas revolucionou o estudo da genética e permitiu o surgimento de uma “nova ciência”, a genética molecular ou engenharia genética – um conjunto de técnicas onde um determinado fragmento de DNA (ácido desoxirribonucléico) é isolado e os genes são purificados, examinados e manipulados: I. a descoberta de enzimas que tinham a propriedade de clivar (hidrolisar) material genético em locais específicos (sequências nucleotídicas) dos genes, dividindo a dupla hélice do DNA em pedaços menores – estas enzimas foram chamadas de enzimas de restrição; II. a descoberta de enzimas capazes de unirem fragmentos de DNA (genes) – enzimas de ligação; e III. a descoberta de inúmeros microcromossomos (miniorganismos) – os plasmídios, usados como vetores de fragmentos de DNA. Estava começando uma nova tecnologia baseada na expansão do conhecimento sobre o DNA. Estas descobertas levaram a tecnologia de clonagem, i.e., a purificação de genes ou cópia deles por reproduzi-los em grande número na bactéria hospedeira. Daí para a tecnologia de DNA recombinante dominar a ciência biológica e biomédica foi um passo. Tornou-se possível o uso de sondas (“probes”) genéticas – pedaços de genes ou cópias de DNA complementar – para hibridização. A sonda marcada com traçadores radioativos ou fluorescentes poderia detectar a forma híbrida (complementar) de fragmentos ou regiões específicas do DNA. Esta A Biotecnologia tem tido avanços significativos na saúde humana. Segundo a Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU (1992), a Biotecnologia é entendida como qualquer aplicação tecnológica que use sistemas biológicos, organismos vivos ou derivados destes, para fazer ou modificar produtos ou processos para usos específicos. 20 tecnologia tornou-se o princípio molecular de inúmeras técnicas utilizadas em diagnósticos de doenças genéticas, infecciosas e parasitárias. A genética molecular pode ser utilizada para fazer com que genes estranhos sejam expressos em bactérias e leveduras ou mesmo em outras células superiores. As indústrias química, farmacêutica e agrária passaram a investir milhares de dólares no desenvolvimento desta tecnologia. Com isto, foram desenvolvidas técnicas capazes de produzir diagnósticos extremamente sensíveis, e corrigir genes com erros inatos, “fabricar” animais transgênicos, etc. Tornou-se possível modificar o genoma e algumas características de um indivíduo na direção planejada. O conhecimento molecular de genes possibilitou a oferta de variados testes na forma de kits, ao contrário dos procedimentos clássicos trabalhosos usados anteriormente em diagnósticos. Uma outra técnica desenvolvida no mesmo período também por clonagem foi a produção de anticorpos monoclonais, que são utilizados como marcadores genéticos. Juntas, as tecnologias da genética molecular e de hibridoma produziram as ferramentas biológicas necessárias para explorar e conhecer as principais funções celulares em nível molecular e desenvolver métodos sensíveis e específicos de diagnósticos. Nesta área, a biologia começou a ser comercial. No final dos anos 70 até meados dos anos 80 foram criadas nos EUA várias companhias que se propunham desenvolver comercialmente produtos utilizando estas metodologias. Foi um verdadeiro “boom” na época. Acreditava-se em um novo milagre industrial. Quase tudo na biologia poderia ser produzido desde que fossem conhecidos os genes. Logo depois veio o desencantamento. Nem tudo poderia ser realizado pelo conhecimento gerado pela biologia molecular. Mesmo assim alguns produtos foram consagrados nesta época. Em 1982 a Lilly foi autorizada pelo Food and Drug Administration (FDA) – agência governamental americana responsável pelo registro de medicamentos – para entrar no mercado com a insulina obtida por engenharia genética. Hoje já foram reconhecidos outros produtos: vacina contra hepatite B, hormônio de crescimento, ativador de plasminogênio espécie-específico (TPA), alfa-interferon. Entretanto, outros produtos não tiveram o mesmo sucesso no mercado. Com o avanço da engenharia genética e a possibilidade de se conhecer cada gene e sua função nos 21 seres humanos (Projeto Genoma Humano), as ciências biológicas e biomédicas deixaram de ter um papel secundário na evolução das ciências em geral. O Projeto Genoma Humano está causando uma grande mobilização e esforço de vários países para mapear e investigar o conjunto dos genes humanos. Deve-se lembrar que o complemento total dos cromossomos humanos no núcleo celular contém o equivalente a 3 bilhões de pares de bases. Assumindo, pragmaticamente, que cada gene codifica uma proteína com peso molecular em média de 40.000 daltons, pode-se estimar que um gene corresponde a 1.200 pares de bases. O núcleo da célula humana contém cerca de 2,5 milhões de genes. O DNA contido nas células de um homem, se desenrolado, poderia atingir a lua e voltar. No entanto, um grande número de genes não tem propriedades de codificar proteínas – geralmente são sequências repetitivas, que não expressam proteínas, ou pseudogenes e introns, pedaços de genes que são eliminados sem função conhecida. Estima-se que o ser humano tenha de 50.000 a 100.000 distintos genes funcionais contidos em 23 pares de cromossomos. Assim, se tivermos 200 grupos trabalhando, com a tecnologia atual, seriam necessários cerca de 10 a 12 anos para se ter o genoma humano totalmente mapeado. O Projeto Genoma Humano é considerado o mais ambicioso projeto científico realizado neste século. Seu custo é de cerca de 2,5 bilhões de dólares. O biólogo norte-americano Dr. James Dewey Watson (n. 1928 – ) – um dos descobridores da estrutura de dupla hélice do DNA e prêmio Nobel em 1962 – sugeriu que 3% deste montante fosse utilizado no estudo dos aspectos éticos, sociais e jurídicos do trabalho. Watson coordenou o Centro Nacional para Pesquisa do Genoma Humano de 1989 a 1992. Em meados de 91, foi anunciado que os National Institutes of Health estariam tentando patentear seqüências de DNA de genes expressos no cérebro humano. Watson foi totalmente contra esta estratégia e, em abril de 92, pediu demissão, ficando como diretor apenas do Laboratório Cold Spring Harbor. Em seu lugar, assumiu Francis Collins, descobridor do gene da fibrose cística. O mapeamento dos genes permitirá o conhecimento da função de cada um no organismo. A posse de toda a informação codificada no genoma humano nos dá crédito, pelo menos inicial, para 22 compreender os mecanismos do desenvolvimento, da fisiologia e até mesmo do comportamento humano. Ser um biologista nos dias de hoje, na área da bioquímica e da genética molecular, é uma tarefa de entusiasmo e dificuldade. Entusiasmo devido ao avanço no conhecimento que esta tecnologia nos traz e que pode levar a mudanças e a novos desafios sociais e culturais. Dificuldade em função da possibilidade do nascimento de uma nova moral, um novo escrúpulo, uma nova ética científica e tecnológica. Nos dias de hoje, se há um campo científico em que pesquisadores e sociedade devem estar juntos e fazer uma grande reflexão é a entrada da engenharia genética na área da saúde. Realmente, tem-se diminuído o período de tempo que separa as descobertas nas bancadas dos laboratórios e suas aplicações na saúde pública. Cientistas e população são faces de uma mesma moeda. As recentes tecnologias da biologia molecular e da imunologia, as quais resultaram em métodos de diagnósticos extremamente sensíveis, demoram de 6 a 8 anos para saíremdos laboratórios e serem usados na medicina. O Projeto Genoma Humano atrai grandes empresas (veja Tabela 1). Os testes para detectar partes falhas do DNA, causadoras de doenças. 23 A biologia molecular tornou-se um grande “negócio” para a sociedade. Os bons cientistas saíram da “torre de marfim” e junto com profissionais da área de saúde, juristas, filósofos e religiosos, começaram o debate com a sociedade sobre o uso da engenharia genética em seres humanos, o patenteamento da vida e a ética. A sociedade ainda não esqueceu o impacto terrível da experiência nazista, nem as campanhas de esterilização maciça dos alcoólatras, psicóticos, portadores de doenças genéticas realizadas em alguns estados americanos nos anos 20 e 30. Seria fácil cair no maniqueísmo. Mas, para a ciência, o impacto social de novas técnicas, 24 por exemplo, de diagnóstico pré-natal, erros inatos ou mesmo de reprodução humana assistida, necessitam de uma reflexão profunda da sociedade. Com estes questionamentos é que a bioética entrou seriamente no cenário científico e tecnológico. Seria ético manipular a natureza? Como vimos, o genoma humano é imenso e possui milhares de genes. O tamanho do DNA humano facilita alterações e combinações genéticas que podem refletir em conhecidas doenças hereditárias. Por longo tempo, essas doenças eram estudadas baseando-se em observações teratogênicas, as malformações congênitas, ou doenças geneticamente transmissíveis, como a conhecida hemofilia, bastante estudada nos descendentes da família real russa. Após a última guerra os erros inatos começaram a ser investigados pelo refinamento das técnicas citológicas e cariótipos. Os avanços da bioquímica e imunologia permitiram o diagnóstico de várias doenças genéticas relacionadas ao metabolismo – alcaptonúria, cistinúria, hemo-globinopatias, albinismo, etc. A estas doenças foi acrencentadas outras outras como anencefalia, espinha bífida, psicoses maníaco- depressivas, doença de Huntington, mal de Alzheimer, síndrome de Down, fibrose cística, mucoviscidose, bem como a detecção dos genes responsáveis pelo câncer de mama vários anos antes do tumor ser detectado por mamografia. Hoje se conhece cerca de 3.000 doenças relacionadas a “defeitos” genéticos. Estima-se que 1% dos nascimentos traga de alguma maneira um bebê com deficiência genética, e que 30% da mortalidade infantil (em países não afetados com doenças endêmicas e má nutrição) estejam relacionados a um erro inato do metabolismo ou a uma malformação congênita – que reflete também alteração metabólica. Assumindo que 1 gene com defeito causa uma doença genética, há situações em que as modificações levam a condições poligênicas. Por exemplo, fatores ambientais como doenças infecciosas (principalmente as virais) e parasitárias podem causar alterações complexas. Um número alto de pessoas possui condições poligênicas – diabetes dependente de insulina, arteriosclerose, hipertensão, algumas formas de depressão –, onde vários genes se interagem e se combinam com o ambiente e estilo de vida, produzindo a doença. Como o progresso a engenharia genética permite detecção de cópias ou mesmo fragmentos de genes (hibridização, PCR, RFLP, etc.) havendo possibilidade 25 de se diagnosticar doenças genéticas no recém-nascido ou no feto, ou mesmo em adultos. Quando realizado em pessoas adultas estes dados podem levar ao “aconselhamento” do casal a não ter filhos devido, por exemplo, à probabilidade de ter genes de alto risco. Um outro ponto a ser considerado é a consequência da doença para o recém- nascido ou feto, quando não há terapia. A sociedade não deve subestimar este problema. As consequências legais e morais de uma expansão de diagnósticos genéticos são ameaçadoras. Por exemplo, o que fariam os pais de uma criança nascida com erro inato de metabolismo, se soubesse que a doença poderia ser diagnosticada no feto, ou mesmo antes da concepção do bebê? Um outro problema, a impressão “genética” (DNA fingerprint) de um indivíduo – tecnologia já utilizada hoje para identificação de paternidade e que, futuramente, poderá ser utilizada para apoio às autoridades de imigração, identificar “possíveis” alterações individuais ou “potenciais” modificações de personalidade, ou mesmo fatores de risco para determinadas doenças hereditárias – e produzir seres humanos de primeira e segunda classe. O que fariam a medicina preventiva, as companhias de seguro, as indústrias na seleção de seus empregados, o noivo na escolha da companheira, etc? A sociedade precisa saber disto. Vamos aprofundar um pouco mais estes pontos. Um feto com alguns meses de desenvolvimento que apresentasse, por diagnóstico genético, uma doença hereditária. Seria recomendável um aborto? Esta tentação de eugenia nos leva a esquecer a essencialidade humanitária, a sensibilidade das pessoas, a ética pessoal. A sociedade precisa discutir profundamente esta questão. A engenharia genética poderia ainda influenciar a medicina no controle da reprodução. Por exemplo, poderia modificar embriões humanos por técnicas transgênicas. Isto quer dizer, manipulação de genes, eliminação de genes “ruins” e inserção de genes “bons” (terapia gênica). Certas doenças poderão ser tratadas por reposição do gene defeituoso. Seria a versão moderna do bebê de proveta ou da reprodução assistida. É bem verdade que reprodução assistida, principalmente, inseminação artificial, fertilização “in vitro’’, implante de embrião, já vem sendo usada 26 pela medicina veterinária por vários anos. A medicina humana começou a usar estas tecnologias mais recentemente. Neste cenário pode se pensar que uma criança poderá ser “gerada” totalmente fora do organismo da mãe, como as plantas cultivadas na ausência de solo, no Epcot Center (EUA). Genes foram inseridos em camundongos, coelhos, porcos e ovelhas. Cerca de dez anos após a descoberta da transgênese foram produzidas mais de 1.000 cepas de camundongos e mais de dez tipos de porcos geneticamente alterados. Hoje já são geradas ovelhas que produzem leite contendo fator 9, que pode ser extraído e utilizado como medicamento para hemofilia. Também foi criada um tipo de ovelha que produz leite contendo TPA em quantidade suficiente para suprir a demanda mundial da droga. O patenteamento da vida é outra questão bastante complexa. Em 1972, a microbiologista Ananda Chakrabarty, da Universidade de Illinois, desenvolveu um microorganismo engenheirado não-recombinante capaz de degradar componentes do petróleo bruto. Em 1980, a Suprema Corte Americana concedeu a patente a este microorganismo, constituindo o primeiro ser vivo patenteado nos EUA. O caso tornou- se jurisprudência para o Escritório Americano de Patentes. Desde então, os pedidos de patente relacionados a seres vivos parecem não ter limites. Em 12 de abril de 1988 foi concedida à Universidade de Harvard a patente U.S. 4.736.866, para um rato transgênico, que continha um gene causador de câncer. O problema ético é sério. Os conhecimentos sobre a genética humana e animal podem ser explorados economicamente por empresas? A tendência internacional é que prevaleça as razões econômicas. Acreditam que em breve as legislações de propriedade industrial dos países em desenvolvimento estarão adaptadas aos novos tempos e à globalização dos mercados, de acordo com a lógica neoliberal. A sociedade precisa refletir e decidir como ela quer e deve utilizar os conhecimentos gerados pela engenharia genética. Não basta ter uma vida saudável e maior expectativa de vida. É necessária uma vida ética e necessariamente mais feliz. Para finalizar, historicamente sabemos que quando Darwin publicou há cerca de 130 anos a obra “A Origem das Espécies”, a sociedade reagiu às ideias levantadas pelo cientista sobre “seleção natural”. Este conceito mudou os rumos da biologia nos últimos100 anos. Hoje a nossa sociedade deve discutir se a manipulação da natureza pelas 27 técnicas de biologia molecular pode levar a uma “seleção induzida/- artificial”. Talvez, nos próximos 100 anos tenhamos uma compreensão melhor do que significa a biologia molecular e a engenharia genética para a humanidade. 28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.Alberts e cols. Fundamentos da Biologia Celular, Artmed, 1999. 2. Lodish e cols. Biologia Celular e Molecular, Revinter, 2002. 3. Pinho M. Biologia Molecular do Câncer, Revinter, 2005. 4. Croner RS, Peters A, Brueckl WM, Matzel KE, Klein-Hitpass L, Brabletz T, Papadopoulos T, Hohenberger W, Reingruber B, Lausen B. Microarray versus conventional prediction of lymph node metastasis in colorectal carcinoma. Cancer. 2005 Jul 15;104(2):395-404. 5. Eschrich S, Yang I, Bloom G, Kwong KY, Boulware D, Cantor A, Coppola D, Kruhoffer M, Aaltonen L, Orntoft TF, Figura 5 - Técnica de Western-Blotting. Observa- se na avaliação de duas amostras (2 e 3) a presença de uma banda de peso molecular correspondendo a 100 kDa, demonstrando a existência da proteína pesquisada no presente espécime. (Extraído de www.upstate.com) Quackenbush J, Yeatman TJ. Molecular staging for survival prediction of colorectal cancer patients. J Clin Oncol. 2005 May 20;23(15):3526-35. 6. Pinho M. Imunoistoquímica: o estudo da biologia molecular ao alcance de todos. Ver Bras Coloproctologia 2005;25:188- 91. 1 Vice-Presidência de Pesquisa e Ambiente, Fundação Oswaldo Cruz. Av. Brasil 4365, Rio de Janeiro, RJ 21045-900, Brasil. 2 Coordenação de Gestão Tecnológica, Fundação Oswaldo Cruz. Av. Brasil 4365, Rio de Janeiro, RJ 21045-900, Brasil.
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