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Webinar, Princeton 14/12/23 -“We've Got You Covered: Rebooting American Health Care” Entrevistada: Amy Finkelstein (MIT). Entrevistador: Markus Brunnermeir (Princeton) Objetivo: apresentar os principais pontos do livro homônimo, publicado agora em 2023, em coautoria com Liran Einav (Stanford). O livro, por sua vez, tem como propósito central delinear o que seria um “sistema de saúde ideal para os EUA”. Finkelstein aponta as deficiências do atual sistema: muitas pessoas não são cobertas; entre as que são, a cobertura não é completa/a coparticipação é alta e há muita incerteza quanto à continuidade da cobertura/elegibilidade diante de vicissitudes (perda de emprego etc.). Destaca-se a fragmentação (patchwork coverage) e a complexidade. A confusão de regras, por exemplo, faz com que muitos nem saibam se são elegíveis. O design ideal exige que se explicite o objetivo fulcral da política de saúde o que, embora pareça óbvio, ainda resta implícito em um “contrato social” difuso. Segundo Finkelstein, não se trata de corrigir falhas de mercado, reduzir desigualdade ou de sequer melhorar o nível em si de saúde. O objetivo fundamental é o de “garantir assistência aos que efetivamente precisam”: a autora elenca dados empíricos e alguma sustentação histórica para formular o ponto. Grosso modo, Finkelstein & Einav defendem um sistema com cobertura automática, gratuita e básica para todos. Garantido isso, itens suplementares poderiam ser negociados pelo mercado - a partir daqui sim, questões sobre seleção adversa e informação assimétrica, moral hazard etc. seriam relevantes. Não ter clareza (“not to realize”) do objetivo faz com que o sistema viva passando por remendos. É necessário que o “contrato” seja posto à mesa. Não sei no livro, mas na apresentação a autora não apresenta modelagem ou literatura normalmente empregada no debate econômico do tema saúde. O entrevistador faz algumas intervenções/provocações neste sentido. Anexo, mais detalhes. Anexo - Detalhamento/sequência do webinar Em vinte anos de pesquisa, ambos escreveram muitos trabalhos sobre política de saúde americana e o mercado de planos de saúde, embasados nos conceitos de informação assimétrica e seleção adversa. Embora tais trabalhos tenham, inclusive, subsidiado governos, Finkelstein se limitava à compreensão e diagnóstico dos problemas, não tanto à proposição ou designs de sistemas. O livro, segundo ela, vem para preencher essa lacuna e atinge uma audiência bem mais ampla. Afirma que o primeiro passo é estabelecer objetivos com clareza. Por meio de dados empíricos e alguma investigação histórica, diz ter depreendido que o objetivo central da política de saúde norte-americana sempre foi o amparo universal básico. Há assim um contrato social implícito que se manifesta de forma fragmentada nos vários “remendos”, idas e vindas, da política de saúde. Como seres humanos e sociedade, segundo ela, não suportamos ver outro desfalecer. Nesse sentido estrito, de certa forma todos estamos segurados. Mas o desenho é bagunçado, repleto de exceções e ineficiente. É necessário explicitar (em certo sentido, formalizar) esse contrato social e permitir que seja cumprido de forma adequada, não como colcha de retalhos. Os autores não propõem redução de gastos (ainda que sejam altos comparativamente a outros países desenvolvidos), mas um desenho que, dado o propósito irrevogável, gere o melhor resultado com menos complexidade. Proposta desafia alguns argumentos usualmente defendidos na literatura econômica, como por exemplo a necessidade de coparticipação - no caso deste “piso universal” isso não se aplicaria: sempre haverá alguém para quem $5,00 é muita coisa - daí vive se gerando remendos/isenções à coparticipação. Em uma palavra: a complexidade que os autores querem dirimir. Ver 45 min. A autora defende ter um argumento claro sobre o que os EUA efetivamente deveriam fazer para prover health care de forma eficiente/melhorar a saúde da população. O argumento não está calcado nos trabalhos sobre seleção adversa. Também não é um livro sobre mercado de health insurance em si - tema que, embora relevante, não é para ela um desafio intelectual. Alega que tanto ela como seu coautor tentaram pensar de forma isenta de restrições políticas; ao mesmo tempo, pretendem influenciar o debate político amplo. Embora fale em eficiência, não apresenta modelagem durante a apresentação. O entrevistador interpela algumas vezes, provocando a discussão nos termos usualmente considerados na literatura (moral hazard, informação assimétrica etc.); no geral ela responde apontando que concorda com muitos aspectos e que já usou esses conceitos em vários de seus papers, mas que o reconhecimento desse contrato social implícito, de provimento de um sistema de saúde básico universal, exige repensar o conjunto. O entrevistador também aponta que o significado de “básico” pode mudar muito a depender do contexto, local etc. Ela reconhece, mas afirma que a eventual revisão de parâmetro não condena o design proposto em si. Grosso modo, Finkelstein & Einav defendem um sistema com cobertura automática, gratuita e básica. Garantido isso, itens suplementares poderiam ser negociados pelo mercado - aqui sim, questões sobre informação assimétrica etc. entrariam em jogo. Estrutura do Livro Três partes, dedicadas ao objetivo de delinear um parâmetro de health care : 1.Descrição dos problemas 2. Descrição dos objetivos (algo que costuma ser trivial para economistas, mas não nas discussões políticas). Há bons motivos para intervenção do governo (falhas de mercado, redistribuição etc.), mas ficaram impressionados como nenhum deles parece ser o que motivou a política americana de saúde nos últimos 50-70 anos. 3. Redação do “contrato social” Quanto à descrição dos problemas (1), foca em três deles: a) EUA são o único país de alta renda sem cobertura universal. 10% dos americanos < 65 anos fica sem cobertura em algum momento da vida. b) “insurance uncertainty” , 25% < 65 anos fica sem cobertura por 2 anos ou mais c) Affordable Care Act (Obama Care, 2010) reduziu a proporção de pessoas não seguradas em um momento da vida (20% → 10%), mas foi medíocre na redução daquelas que ficam descobertas por 2 anos ou mais. O Obamacare é exemplo da abordagem de praxe, incremental, rotulada por ela “patchwork coverage”, que gera muita confusão/fragmentação informacional (quem é elegível ao que em cada nova intervenção; necessidade de checagem e monitoramento reiterado por parte do governo; pessoas acabam perdendo certificação etc.) Isso gera “lacunas não antecipadas”/ complexidade. Finkelstein e Einav constataram que entre os atualmente não segurados em algum momento, 60% já são elegíveis para cobertura gratuita ou altamente subsidiada. Não estão inscritos porque não sabem como se qualificar etc. Tal confusão se aplica não somente àqueles subscritos no Medicaid, mas também aos que têm assistência privada via empregador. Perda em caso de mudança de emprego/demissão/aposentadoria, muitas vezes associada, ela própria, à má saúde. Contrassenso: do ponto de vista econômico, o propósito de um seguro de saúde - apesar do termo - não é “assegurar a sua saúde”, mas prover uma medida de segurança econômica, um estabilizador. Suavizar a UMg do consumo em múltiplos cenários. Nesse sentido, é perverso que o próprio sistema de cobertura seja tão incerto e inseguro. Mesmo as pessoas que conseguem manter sua cobertura, quando ficam doentes, esbarram em uma cobertura cujo design é muito incompleto. O próprio Medicare é construído em cima de coparticipação; por exemplo, 20% em consultas, sem limite superior. Finkelstein afirma que isso traz muita incerteza, em especial, em situações mais graves - ironicamente, quando mais se espera estar amparado. Pré-pandemia, economistas constataram que o montante de débito de saúde junto às agências era idêntico à soma de débitos relacionados a todas as outras modalidades de consumo somadas!...Finkelstein estimou que 3/5 disso era de pessoas que estavam, sim, cobertas no momento do problemade saúde: elas esbarraram em deduções elevadas na folha. O entrevistador, Markus, questiona quanto mais o Obamacare teria que arcar caso não houvesse o regime de coparticipação, visto que os incentivos ao uso do sistema seriam ampliados. Ela responde, sem quantificar, dizendo que embora vários de seus trabalhos compartilhem da perspectiva de que a coparticipação induz a uso mais consciente, o sistema de cobertura básica universal que eles querem propor, seria uma exceção a tal argumento. Para cobertura suplementar, ok. “Universal Commitment”: Diz que os primeiros hospitais surgiram como instituições de caridade, não médicas em ambientes onde não havia suporte familiar (portos, por exemplo). Emaranhado de programas, embora bagunçado, indica compromisso persistente com o propósito de prover o básico. Há um contrato social persistente. Empiricamente (dados/história) atesta-se norma de que não se deve negar ajuda básica. Mesmo em situações em que as pessoas recebem renda e gastam com outras coisas, sem se preocupar com a saúde, caso venham a cair doentes, a sociedade não consegue se omitir. Não há atitude punitiva.
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