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Pergunte e responda 10.1 O que são emoções? 404 10.2 Quão adaptativas são as emoções? 416 10.3 O que motiva as pessoas? 423 10.4 O que motiva alguém a comer? 434 10.5 O que motiva o comportamento sexual? 438 Emoção e motivação NO SEU PRIMEIRO ANO DE VIDA, GABRIELLE (“GABBY”) DOUGLAS não ti- nha casa e morava com sua família na parte de trás de uma van. Quando seu pai partiu, sua mãe cuidou sozinha de quatro filhos. Embora a família fosse pobre, a mãe de Gabby a matriculou na ginástica quando a menina tinha 6 anos. Sendo afro-americana, Gabby foi intimidada pelas colegas de equipe, que lhe diziam para fazer uma plástica no nariz e a chamavam de escrava. No entanto, ela de- dicou-se à ginástica (FIG. 10.1A). Quando tinha 8 anos, tornou-se a campeã de ginástica de 2004 do Estado da Virgínia, nos Estados Unidos. Quando tinha 14 anos, Gabby mudou-se para Iowa e morou com uma família de acolhimento para treinar com um treinador de ginástica famoso, Liang Chow. Ela sentia muitas saudades de casa. Quase desistiu. Mas persistiu e, aos 16 anos, ga- nhou o campeonato norte-americano, o que a mandou para as Olimpíadas de 2012. Gabby disse ao New York Times, “Estou indo para inspirar muitas pessoas. Todo mundo vai ficar se perguntando como eu consegui isso tudo tão rápido. Mas eu es- tou pronta para brilhar” (Macur, 2012). E ela brilhou. Suas realizações são históricas. Em 2012, Gabby se tornou a primeira norte-americana a ganhar o ouro tan- to nas competições de ginástica individual geral quanto por equipes nas mesmas Olimpíadas. Ela também se tornou o primeiro afro-americano, e a primeira mulher negra, a ganhar o título de campeã individual geral na ginástica. Quando pergunta- ram a Gabby como ela superou tantos obstáculos para subir tão alto, ela disse: “Eu tive um monte de dificuldades na minha vida e na minha carreira, mas nunca deixei que essa dor ferisse o que eu fazia no ginásio. Sempre colocava meu coração na gi- nástica e me motivava todos os dias, não importava o que estivesse acontecendo”. Em abril de 2014, Gabby começou oficialmente o treinamento para as Olim- píadas de 2016, se reunindo com seu ex-treinador Liang Chow em Iowa. Ela apro- veitou o tempo livre para coproduzir o filme de 2014 para o Canal Lifetime The Gabby Douglas Story (FIG. 10.1B), com a esperança de conseguir que as pessoas “se motivassem... quero que as pessoas se inspirem e saibam que seus sonhos são válidos. Você pode alcançá-los, mesmo que você tenha lutas. Seus sacrifí- cios serão recompensados” (Reeves, 2014). Especialistas dizem que as chaves para o sucesso são a motivação e o es- forço persistentes. Essas qualidades são cruciais se uma pessoa está tentando 10 404 Ciência psicológica ter sucesso nos Jogos Olímpicos, na escola ou em um emprego. Este capítu- lo examina os fatores que motivam o comportamento. Por exemplo, como as pessoas definem objetivos? O que faz as pessoas trabalhar arduamente e consis- tentemente para alcançar esses objetivos? Este capítulo também analisa como a motivação e as emoções estão atreladas. As pessoas são motivadas a agir e ter sucesso por causa de como se sentem. E alcançar objetivos após um traba- lho árduo e dedicado leva a um profundo sentimento de satisfação e felicidade. A história de Gabby Douglas mostra que todos nós podemos ter experiências gratificantes quando estivermos motivados a ter sucesso. Nem todos nós so- mos ginastas olímpicos, mas procuramos eventos, atividades e objetos que nos fazem sentir bem. Evitamos eventos, atividades e objetos que nos fazem sentir mal. Mas o que significa sentir alguma coisa? 10.1 O que são emoções? As pessoas têm um senso intuitivo do que significa emoção. Ainda assim, é difícil de- finir o termo com precisão. Os termos emoção, sensação e humor muitas vezes são utilizados de maneira intercambiável na linguagem cotidiana, mas é útil distinguir entre eles. Uma emoção é uma resposta negativa ou positiva imediata, específica para eventos ambientais ou pensamentos internos. As emoções normalmente interrompem o que está acontecendo ou desencadeiam mudanças no raciocínio e comportamento. Você está sentado em sua mesa e vê um movimento com o canto do olho e... argh, é um rato! Você está tendo uma resposta emocional negativa. Para os psicólogos, a emoção (às vezes chamada de afeto) tem três componentes: um processo fisiológico (p. ex., taquicardia e sudorese), uma resposta comportamental (p. ex., olhos arrega- lados e boca escancarada) e uma sensação que é baseada na avaliação cognitiva da situação e interpretação dos estados corporais (p. ex., estou com medo!). A sensação é a experiência subjetiva da emoção, como sentir medo, mas não a emoção em si. Por sua vez, os humores são estados emocionais difusos, de longa duração, que não têm um objeto ou gatilho identificável. Em vez de interromper o que está acon- tecendo, eles influenciam o raciocínio e o comportamento. Muitas vezes, as pessoas que estão com bom humor ou mau humor não têm ideia de por que elas se sentem dessa maneira. Assim, o humor se refere à vaga sensação que as pessoas têm de que Objetivos de aprendizagem � Distinguir entre emoções primárias e secundárias. � Discutir os papéis desempenhados pela ínsula, pela amígdala e pelo córtex pré-frontal na experiência emocional. � Comparar e contrastar as teorias de James-Lange, Cannon-Bard e de dois fatores de Schachter-Singer sobre a emoção. � Definir atribuição errônea do alerta fisiológico e transferência de excitação. (a) (b) FIGURA 10.1 A motivação de Gabby Douglas para o sucesso. (a) Gabby Douglas veio de uma origem humilde, mas se motivava a inspirar os outros. Trabalhou arduamente para se tornar a melhor ginasta do mundo. (b) Em 2012, Gabby ganhou o ouro olímpico nas competições de ginástica por equipe e individual geral. Sua história mostra a relação entre nossas emoções e nossas motivações para nos comportarmos de determinadas maneiras. Capítulo 10 Emoção e motivação 405 se sentem de determinada maneira. Pense na diferença desse modo: Levar uma fecha- da no trânsito pode levar a pessoa a sentir raiva (emoção), mas sem nenhuma razão aparente a pessoa pode ficar irritada (humor). As emoções variam em valência e alerta fisiológico Muitos teóricos da emoção distinguem entre as emoções primárias e secundárias. Essa abordagem é conceitualmente similar a visualizar as cores como consistindo em tons primários e secundários. As emoções básicas, ou emoções primárias, são inatas, evoluti- vamente adaptativas e universais (compartilhadas entre as culturas). Essas emoções in- cluem a raiva, o medo, a tristeza, o asco, a alegria, a surpresa e o desprezo. As emoções secundárias são misturas de emoções primárias. Existem inúmeras emoções secun- dárias, como o remorso, a culpa, a submissão, a vergonha, o amor, o rancor e a inveja. As emoções também foram categorizadas ao longo de diferentes dimensões. Um desses sistemas é o modelo circumplexo. Nesse modelo, as emoções são dispostas ao longo de dois continuums: valência (quão negativas ou po- sitivas elas são) e alerta fisiológico (quão excitantes elas são; Russell, 1980; FIG. 10.2). Alerta fisiológico é uma expressão genérica usada para descrever a ativação fisiológica (como o aumento na atividade cerebral) ou as respostas autonômicas aumentadas (como a taquicardia, a taquipneia ou a tensão muscular). Para entender a diferença entre valência e alerta fisio- lógico , imagine que você está caminhando e encontra no chão uma nota de U$ 5. Essa experiência provavelmente o deixará feliz, então você julgará que ela tem valência positiva. Isso também pode te deixar um pouco alerta fisiologicamente (aumenta um pouco as suas respostas autonômicas). Agora imagine que você encontra um bi- lhete de loteria que vale US$ 1 milhão. Essa experiência provavelmente irá deixá-lo ainda mais feliz; assim, você a julgará como ainda mais positiva na escala de valência. Seu alerta fisiológico provavelmenteestaria no ponto má- ximo. Os psicólogos têm debatido os nomes para as di- mensões da emoção e até mesmo para a ideia de di- mensões como um todo. No entanto, os modelos cir- cumplexos provaram ser úteis como uma taxonomia básica, ou sistema de classificação, dos estados de humor (Barrett, Mesquita, Ochsner, & Gross, 2007). Alguns estados emocionais parecem contradizer a abordagem circumplexa de ver as emoções em um continuum de negativo para positivo. Considere o sentimento amargo de estar tanto feliz quanto triste. Por exemplo, você pode sentir-se dessa forma ao se lembrar de bons momentos com alguém que morreu. Em um estudo, os participantes da pes- quisa relataram sentir-se felizes e tristes depois de deixar seus dormitórios quando se formaram na faculdade e depois de verem o filme A vida é bela (em que um bem- -humorado pai tenta proteger seu filho em um campo de concentração nazista; Lar- sen, McGraw, & Cacioppo, 2001). Evidências neuroquímicas apoiam a ideia de que o afeto positivo e o afeto negativo são independentes (Watson, Wiese, Vaidya, & Tellegen, 1999). Os estados de ativação positivos parecem estar associados a um aumento na dopamina, ao passo que estados de ativação negativos parecem estar associados a um aumento na noradrenalina (para explicações de neuroquímica, consulte o Cap. 3, “Biologia e comportamento”). As emoções têm um componente fisiológico Enquanto espera para fazer uma entrevista de emprego, seu coração pode estar acele- rado e as palmas das mãos suando. Quando você está com raiva, pode sentir seu rosto ficando quente. Quando alguém diz que lhe ama, pode sentir o corpo todo esquentan- do. Mesmo a linguagem cotidiana inclui descrições físicas para descrever experiências emocionais, como ficar com os “pés frios” ao reconsiderar um compromisso, sentir-se “de coração partido” ao ficar extremamente aflito ou estar com um “nó no estômago” Emoção Resposta imediata e específica negativa ou positiva para eventos ambientais ou pensamentos internos. Emoções primárias Emoções que são inatas, evolutivamente adaptativas e universais (compartilhadas entre as culturas). Emoções secundárias Misturas de emoções primárias. Sentir-se animado é um estado de afeto positivo e de alta excitação fisiológica. A depressão é um estado de afeto negativo e baixa excitação fisiológica. NeutroNegativo Positivo Desperto AlertaTenso Animado Ativação Valência Nervoso EntusiasmadoEstressado FelizAborrecido ContenteTriste SerenoDeprimido RelaxadoLetárgico CalmoFatigado Não desperto FIGURA 10.2 Mapa cir- cumplexo da emoção. As emoções podem ser cate- gorizadas pela sua valência (negativa para positiva) e alerta fisiológico (baixo a alto). 406 Ciência psicológica quando ansioso. As emoções envolvem a ativação do sistema nervoso autônomo para preparar o corpo para enfrentar os desafios ambientais (Levenson, 2003, 2014). Existem controvérsias em relação a essas respostas fisiológicas. Será que cada emoção tem uma resposta específica do corpo (Lench, Flores, & Bench, 2011)? Ou será que todas as emoções compartilham propriedades físicas fundamentais relacio- nadas com a valência e o alerta fisiológico (Wilson-Mendenhall, Feldman Barrett, & Barselou, 2013), dificultando a distinção com base somente na resposta do corpo? Muitas das respostas autonômicas às emoções se sobrepõem. No entanto, os padrões específicos entre as várias respostas autonômicas (cor da pele, frequência cardíaca, sudorese, dilatação da pupila e arrepios) sugerem algum nível de especificidade para cada emoção (Levenson, 2014). Recentemente, pesquisadores finlandeses pediram a pessoas de diferentes cul- turas que usassem um programa de computador para colorir quais áreas do corpo estavam envolvidas ao sentir várias emoções (Nummenmaa, Glerean, Hari, & Hie- tanen, 2014). Entre os cinco estudos, as emoções foram produzidas de maneiras diferentes (p. ex., imaginar as emoções, ler contos ou assistir a filmes). O relato das partes do corpo ativadas pelas emoções se sobrepõe um pouco, mas emoções espe- cíficas foram caracterizadas por padrões distintos de atividade corporal (FIG. 10.3). Segundo os pesquisadores, a percepção dessas sensações corporais pode influenciar como as diferentes emoções são experimentadas. SISTEMA LÍMBICO Em 1937, o neuroanatomista James Papez propôs que muitas regiões subcorticais do encéfalo estão envolvidas na emoção. Quinze anos mais tar- de, o médico e neurocientista Paul MacLean (1952) expandiu essa lista de regiões e chamou-a de sistema límbico. (Como discutido no Cap. 3, o sistema límbico consiste em estruturas cerebrais que fazem fronteira com o córtex cerebral.) Sabemos agora que muitas estruturas cerebrais fora do sistema límbico estão envolvidas na emoção e que muitas estruturas límbicas não são essenciais à emoção em si. Por exemplo, o hipocampo é importante principalmente para a memória, e o hipotálamo é importante principalmente para a motivação. Assim, o termo sistema límbico é usado sobretudo de maneira grosseira e descritiva e não como um meio de ligar diretamente áreas do cére- bro a funções emocionais específicas. Para compreender a emoção, as estruturas mais importantes do sistema límbico são a ínsula (ver Fig. 4.36) e a amígdala (FIG. 10.4), embora várias outras áreas contribuam para o processamento emocional. Além disso, várias regiões do córtex pré-frontal são importantes por suas ações nas emoções. Raiva Medo Asco Felicidade Tristeza Surpresa Neutro AmorAnsiedade Depressão Desprezo Orgulho Vergonha Inveja –15 –10 15 10 5 –5 0 FIGURA 10.3 Mapas cor- porais da emoção. Esses mapas representam áreas do corpo que estão mais ativas (cores quentes) ou menos ativas (cores frias) quando as pessoas consi- deram como as diversas emoções as fazem sentir. A barra de cores reflete a extensão do aumento ou diminuição na atividade. Capítulo 10 Emoção e motivação 407 A ínsula recebe e integra sinais somatossensoriais do corpo inteiro. Tam- bém está envolvida na consciência subjetiva dos estados corporais, como sentir sua pulsação, sentir fome ou sentir necessidade de urinar. Dado que as emoções produzem respostas corporais, não é de se estranhar que ela desempenhe um papel importante na experiência da emoção (Craig, 2009; Zaki, Davis, & Ochs- ner, 2012). Estudos de imagem descobriram que ela está particularmente ativa quando as pessoas experimentam nojo (como quando expostas a maus cheiros) ou observam expressões faciais de nojo em outras pessoas (Wicker et al., 2003). Danos à ínsula interferem na experiência de nojo e também no reconhecimento de expressões de nojo em outras pessoas (Camaludser, Keane, Manes, Antoun, & Young, 2000). A ínsula também é ativada em uma variedade de outras emoções, incluindo a raiva, a culpa e a ansiedade (Chang, Yarkoni, Khaw, & Sanfey, 2013). A amígdala processa o significado emocional dos estímulos e produz rea- ções emocionais e comportamentais imediatas (Phelps, 2006). De acordo com o teórico das emoções Joseph LeDoux (2007), o processamento das emoções na amígdala é um circuito que se desenvolveu ao longo do curso da evolução para proteger os animais do perigo. LeDoux (1996, 2007) estabeleceu a amígda- la como a estrutura cerebral mais importante para a aprendizagem emocional, como no desenvolvimento das respostas de medo condicionado clássico (ver Cap. 6, “Aprendizagem”). As pessoas com danos na amígdala não desenvolvem respos- tas de medo condicionado a objetos associados a objetos perigosos. Suponha que os participantes do estudo recebessem um choque elétrico cada vez que vissem uma imagem de um quadrado azul. Esses indivíduos normalmente desenvolve- riam uma resposta condicionada – indicada por maior alerta fisiológico – quando vissem o quadrado azul. Mas as pessoas com danos na amígdala não mostram condi- cionamento clássico dessas associações de medo. Considere S.P., uma paciente que mostrou pela primeira vez sinais de compro- metimento neurológicopor volta de 3 anos de idade e que mais tarde foi diagnos- ticada com epilepsia (Anderson & Phelps, 2000). Aos 48 anos, uma porção da sua amígdala foi removida para reduzir a frequência de suas convulsões. A cirurgia foi razoavelmente bem-sucedida, e S.P. manteve a maior parte de suas faculdades inte- lectuais. Ela tem um QI normal, fez faculdade e tem um bom desempenho em testes padronizados de atenção visual. Contudo, ela não mostra condicionamento do medo. Embora S.P. possa dizer que o quadrado azul está associado ao choque, seu corpo não mostra nenhuma evidência fisiológica de ter adquirido a resposta de medo. A informação chega à amígdala por meio de duas vias separadas. A primeira via é um sistema “rápido e sujo”, que processa quase instantaneamente as informações sensoriais. Lembre-se do Capítulo 5 que, com exceção do olfato, todas as informações sensoriais passam pelo tálamo antes de ir para outras estruturas do cérebro e partes relacionadas do córtex (FIG. 10.5A). Assim, ao longo dessa via rápida, a informação sensorial viaja de forma rápida por meio do tálamo diretamente para a amígdala para o processamento prioritário (FIG. 10.5B, SETA VERDE). A segunda via é um pouco mais lenta, mas leva a avaliações mais deliberadas e mais completas. Ao longo dessa via lenta, a informação sensorial viaja do tálamo ao córtex (córtex visual ou córtex auditivo), onde a informação é analisada com maior profundidade antes de ser repassada à amígdala (ver Fig. 10.5b, setas laranja). Teóri- cos acreditam que o sistema rápido prepara os animais para reagir a uma ameaça no caso de a via mais lenta confirmar a ameaça (LeDoux, 2000). Você experimentou as duas vias se, por exemplo, se esquivou de um movimento indistinto na grama, para apenas depois perceber que era o vento e não uma cobra. Como observado no Capítulo 7, os eventos emocionais são especialmente sus- cetíveis de armazenamento na memória. A amígdala atua nesse processo. Estudos de imagem cerebral mostraram que os eventos emocionais são suscetíveis de aumentar a atividade na amígdala e que o aumento na atividade é suscetível de melhorar a memória de longo prazo para o evento (Cahill et al., 2001; Hamann, Ely, Grafton, & Kilts, 1999). Os pesquisadores acreditam que a amígdala modifica a maneira como o hipocampo consolida a memória, especialmente a memória para eventos terríveis (Phelps, 2004, 2006). Em suma, graças à amígdala, emoções como o medo fortale- cem memórias. Esse mecanismo adaptativo possibilita que nos lembremos de situa- ções prejudiciais e, portanto, possamos evitá-las. A amígdala também está envolvida na percepção de estímulos sociais, como ao decifrar os significados emocionais das expressões faciais de outras pessoas, como a Amígdala Ínsula FIGURA 10.4 A ínsula e a amígdala. Esta figura mostra a ínsula e a amígdala em vista superior no meio do cérebro, indicando suas posições rela- tivas. A Figura 4.36 mostra a ínsula em vista lateral. A Figura 10.5 mostra a amígdala em vis- ta lateral. 408 Ciência psicológica sua confiabilidade (Todorov, Mende-Siedlecki, P., & Dötsch, 2013; Figura 10.6). Estudos de imagem mostram que a amígdala é especialmente sensível à intensidade das faces de medo (Dolan, 2000). Esse efeito ocorre mesmo que um rosto seja visto apenas de relance em uma tela, tão rapidamente que os participantes nem sabem que o viram (Whalen et al., 1998). Talvez surpreendentemente, a amígdala reage mais quando uma pessoa ob- serva um rosto exibindo medo do que quando observa uma face indicando raiva. Super- ficialmente, essa diferença faz pouco sentido, porque uma pessoa que a olha com raiva tende a ser mais perigosa. Segundo alguns pesquisadores, a maior atividade da amígdala que ocorre quando uma pessoa vê um rosto assustado é decorrente da ambiguidade da situação (Whalen et al., 2001). Em outras palavras, se a pessoa está olhando para você quando está com raiva, ela provavelmente está com raiva de você – não há ambiguidade nisso. Mas quando a pessoa mostra medo, parece improvável que ela tenha medo de você (afinal, você não está fazendo nada para ela). Ela deve estar com medo de outra coisa, como uma aranha que está pendurada atrás de você. A resposta da amígdala a expressões de medo em outras pessoas alerta você para potenciais perigos. A amígdala também responde a outras expressões emocionais, até mesmo à felicidade. Em geral, no entanto, o efeito é maior para o medo. Um estudo mostrou que a amígdala pode ser ativada até por expressões faciais neutras, mas esse efeito ocorre apenas em pessoas que estão cronicamente ansiosas (Somerville, Kim, Johnstone, Alexander, & Whalen, 2004). Uma vez que a amígdala está envolvida no processamento do conteúdo emocio- nal das expressões faciais, não é surpreendente que ocorram prejuízos sociais quan- do ela está danificada. Aqueles com danos na amígdala muitas vezes têm dificuldade para avaliar a intensidade de rostos temerosos. Contudo, eles não têm dificuldade no sentido de avaliar a intensidade de outras expressões faciais, como a felicidade. Um estudo sugere que as pessoas com danos na amígdala podem diferenciar um sorriso de uma carranca, mas não conseguem usar as informações dentro de expressões faciais para fazer julgamentos interpessoais precisos (Adolphs, Tranel, & Damásio, 1998). Por exemplo, elas têm dificuldade em usar fotografias para avaliar a confia- bilidade das pessoas, uma tarefa que a maior parte das pessoas pode desempenhar facilmente (Adolphs, Sears, & Piven, 2001; FIG. 10.6). Elas também tendem a ser excepcionalmente amigáveis com pessoas que não conhecem. Essa simpatia adicional pode resultar de uma falta de mecanismos normais de precaução com estranhos e da sensação de que algumas pessoas devem ser evitadas. (a) (b) Amígdala Tálamo Córtex visual Via lenta Via rápida Informação sensorial Tálamo Amígdala Córtex visual Resposta FIGURA 10.5 O cérebro emocional. (a) A amígdala é uma das mais importan- tes estruturas do cérebro para o processamento de emoção. Antes de as informações sensoriais che- garem à amígdala, passam pelo tálamo. Do tálamo, elas podem atravessar o córtex visual. (b) Quando a informação sensorial chega ao tálamo, pode seguir por duas vias. A via rápida (do tálamo à amígdala) e a via lenta (do tálamo ao córtex visual à amígdala) habili- tando as pessoas a avaliar e responder a estímulos produtores de emoção de maneiras diferentes. FIGURA 10.6 Avaliando expressões faciais. Em qual dessas pessoas você confia? A maior parte das pessoas diria que (a) parece confiável e (b) não parece. Ver um rosto não digno de confiança leva a uma maior atividade na amígdala. Pessoas com determi- nadas lesões cerebrais não conseguem detectar quão confiável é uma pessoa a partir de suas expressões faciais, como essas. (a) (b) Capítulo 10 Emoção e motivação 409 Uma característica essencial da natureza humana é que as pessoas ocasionalmen- te mentem. Desde que existem as menti- ras, as pessoas têm tentado desenvolver métodos para detectar tal fraude. Poten- ciais suspeitos em investigações crimi- nais e candidatos a determinados tipos de trabalhos, como aqueles envolvendo documentos confidenciais, são com fre- quência convidados a passar por um tes- te de polígrafo, informalmente conhecido como detector de mentiras. O polígrafo é um instrumento eletrônico que avalia a resposta fisiológica do corpo a perguntas. Registra diversos aspectos do alerta fisio- lógico, como a frequência respiratória e a frequência cardíaca. O uso de polígrafos é altamente controverso. A maior parte dos tribunais não aceita os resultados do polígrafo como evidência, e eles são proibidos no setor privado. No entanto, continuam sendo usados por pesquisadores crimi- nais e agências norte-americanas, como o FBI e a CIA. Qual a validade dos polí- grafos como detectores de mentira? O objetivo do polígrafo é determinar o nível de emotividade de uma pessoa, como indicado pelo alertaautonômico, quando confrontados com determina- das informações. Por exemplo, pode-se perguntar a criminosos sobre ativida- des ilegais específicas, os candidatos a um emprego podem ser questionados quanto ao uso de drogas, e potenciais agentes do Serviço Secreto ou da CIA podem ser questionados quanto à sim- patia que sentem por países estrangei- ros. Mentir é estressante para a maior parte das pessoas, de modo que o alerta autonômico deve ser maior quando elas estão mentindo do que quando estão di- zendo a verdade. Mas algumas pessoas ficam nervosas simplesmente porque o processo todo é novo e assustador ou porque estão aborrecidas por alguém pensar que elas são culpadas quando são inocentes. Nenhuma medida absoluta do alerta autonômico é capaz de indicar a presen- ça ou ausência de mentira, porque o ní- vel de alerta autonômico de cada pessoa é diferente. Estar altamente alerta não indica culpa. Em vez disso, para avaliar o alerta fisiológico, os poligrafistas usam uma técnica de pergunta-controle em que eles fazem uma variedade de per- guntas, algumas das quais são relevan- tes para as informações essenciais e ou- tras não. Perguntas-controle como “Qual é o endereço da sua casa?” e “Você já foi para o Canadá?” são selecionadas com a suposição de que não devem produzir uma resposta emocional forte. Questões essenciais como “Você roubou o dinhei- ro?” ou “Você usa drogas?” são as de interesse específico para os investigado- res. A diferença entre as respostas fisio- lógicas e as perguntas-controle e entre as respostas fisiológicas e as questões críticas é a medida utilizada para deter- minar se a pessoa está mentindo (FIG. 10.7). Às vezes, as perguntas incluem informações que só um culpado sabe- ria; por exemplo, como uma pessoa foi morta ou onde o corpo foi encontrado. Assim, basta ter conhecimento da culpa para produzir um alerta e, portanto, ser detectado pelo polígrafo. Existem inúmeros problemas com o uso dos polígrafos para descobrir frau- des. Um inconveniente grave é que pes- soas inocentes muitas vezes são falsa- mente classificadas como fraudulentas (Ben-Shakhar, Bar-Hillel, & Kremnitzer, 2002). A maior parte das pessoas que falha nos testes está realmente dizendo a verdade e está simplesmente ansiosa por passar pelo teste. O polígrafo não é capaz de dizer se uma resposta é decor- rente de uma mentira, nervosismo ou qualquer outra coisa excitante. Como resultado, os testes com o detector de mentiras são bastante fáceis de passar se você usar contramedidas como a contagem regressiva de sete em sete ou pressionar os pés contra o chão duran- te as questões críticas (Honts, Raskin, & Kircher, 1994). Qualquer pessoa pode fa- cilmente aprender a usar essas técnicas. Talvez o problema mais grave com os testes de detector de mentiras seja que o investigador precisa fazer um julgamento subjetivo para saber se o padrão de aler- ta indica fraude. Esse julgamento muitas No que acreditar? Aplicando o raciocínio psicológico Viés de confirmação: os testes com detector de mentiras são válidos? Frequência cardíaca Frequência respiratória Condutância da pele Pergunta crítica Pergunta-controle O seu nome é Janet? Você é música? Você era amiga da vítima? A sua cor favorita é vermelho? Você roubou a vítima? FIGURA 10.7 Detecção de mentira. O polígrafo mede os sistemas auto- nômicos, como a frequência cardíaca, a frequência respiratória e a condu- tância da pele pela transpiração. Diferenças nas reações autonômicas para questões críticas, em comparação a perguntas-controle, indicam o alerta. Esse alerta, por sua vez, pode indicar nervosismo, como resultado de uma mentira. No entanto, também pode ser decorrente do nervosismo geral e, portanto, falsamente indicar que a pessoa está mentindo. 410 Ciência psicológica Existem três teorias principais da emoção Suponha que você esteja em uma área rural. Você caminha de casa até o celeiro e abre a porta. De dentro dele, um urso olha para você, segurando o saco de comida de cachorro que ele estava comendo. Você pode pensar que ver o urso o deixaria assusta- do. Seu coração começaria a acelerar, fecharia a porta rapidamente e correria de volta para casa. Como esse exemplo ilustra, o senso comum sugere que as experiências – como ver um urso – geram emoções, como o medo, o que leva a respostas e compor- tamentos corporais. Três teorias principais propuseram diferentes maneiras pelas quais esses processos podem atuar: a teoria de James-Lange, a teoria de Cannon- -Bard e a teoria de dois fatores de Schachter-Singer. TEORIA DE JAMES-LANGE Embora o senso comum sugira que o nosso corpo res- ponda às emoções, William James (1884) elaborou o argumento contraintuitivo de que a situação é exatamente o oposto. Afirmou que a interpretação de uma pessoa das mudanças físicas a leva a sentir uma emoção. O autor coloca ”Sentimos-nos tris- tes porque choramos, com raiva porque brigamos, com medo porque trememos; ou seja, não choramos, brigamos e trememos porque lamentamos, estamos com raiva ou estamos com medo” (p. 190). James acreditava que mudanças físicas ocorrem em padrões distintos que se traduzem diretamente em emoções específicas. Na mesma época, uma teoria similar independente foi proposta pelo médico e psicólogo Carl Lange. De acordo com o que chamamos de teoria da emoção de James-Lange, percebemos padrões específicos de respostas corporais e, como resultado dessa percepção, sentimos emoção (FIG. 10.8). Isto é, ver o urso faz com que seu coração acelere, e você percebe o seu coração acelerado como medo. Algumas pesquisas apoiam a teoria de James-Lange. Estudos usando imagens cerebrais descobriram que diferentes emoções primárias produziram diferentes pa- drões de ativação cerebral (Vytal & Hamann, 2010). Esses resultados sugerem que cada experiência que produz emoção está associada a uma reação fisiológica diferen- te (Levenson, 2014). Como observado anteriormente, no entanto, outra pesquisa in- dica que as reações físicas muitas vezes não são específicas o suficiente para explicar completamente as experiências subjetivas das emoções (Cacioppo, Berntson, Larsen, Poehlmann, & Ito, 2000). Uma implicação da teoria de James-Lange é que, se moldar seus músculos fa- ciais de modo a imitar um estado emocional, você ativa a emoção associada. Em outras palavras, as expressões faciais fazem com que as emoções sejam sentidas, e não o contrário. Em 1963, Silvan Tomkins propôs essa ideia como a hipótese do feedback facial. James Laird (1984) depois testou a ideia pedindo às pessoas que segurassem um lápis entre os dentes ou com a boca de maneira a produzir um sor- vezes é influenciado pelas crenças do in- vestigador sobre se o avaliado é culpado. Esse tipo de viés de confirmação também foi encontrado em estudos laboratoriais, especialmente quando os resultados da poligrafia são ambíguos (Elaad, Ginton, & Ben-Shakhar, 1994). O viés de confirma- ção é um problema em toda investigação forense, principalmente quando os inves- tigadores desenvolvem um “afunilamento da visão” e se fixam em um suspeito es- pecífico, ignorando ou desconsiderando evidências em contrário (Kassin, Dror, & Kukucka, 2013). Como você poderia esperar, os pes- quisadores estão buscando novas estraté- gias para descobrir fraudes. Por exemplo, diversos estudos usando eletrencefalo- grama (EEG) e ressonância magnética nuclear funcional (RMNf) detectaram dife- renças na atividade cerebral entre quan- do as pessoas estão mentindo e quando estão dizendo a verdade. No entanto, as tarefas de fraude nesses estudos foram relativamente triviais, e os participantes provavelmente não se sentiram ansiosos sobre estar mentindo (afinal, os pesqui- sadores lhes pediram que mentissem). Atualmente, não se sabe se a ativação de várias regiões do cérebro indica fraude genuína ou simplesmente reflete outros processos cognitivos. Uma cuidadosa re- visão dessa pesquisa por uma equipe de especialistas em neurociênciadestacou vários problemas metodológicos com a pesquisa de RMNf para detectar a fraude. Esses especialistas levantaram questões éticas adicionais, como a privacidade, que necessitam de uma análise mais aprofun- dada antes de a RMNf estar pronta para ser usada no tribunal (Farah, Hutchinson, Phelps, & Wagner, 2014). Talvez o problema mais grave com os testes de detector de mentiras seja que o investigador precisa fazer um julgamento subjetivo. Teoria da emoção de James-Lange As pessoas percebem padrões específicos de respostas corporais e, como resultado dessa percepção, sentem emoção. Teoria da emoção de Cannon-Bard Informações sobre estímulos emocionais são enviadas simultaneamente ao córtex e ao corpo e resultam em experiência emocional e reações corporais, respectivamente. Teoria dos dois fatores da emoção Rótulo aplicado ao alerta fisiológico que resulta em experimentar uma emoção. Capítulo 10 Emoção e motivação 411 riso ou um olhar severo (FIG. 10.9). Quan- do os participantes classificaram desenhos animados, aqueles que sorriam os acharam mais divertidos. TEORIA DE CANNON-BARD Em 1927, o ex-aluno de James, o fisiologista Walter B. Cannon, fez algumas objeções à teoria de James. Philip Bard (1934), aluno de Can- non, mais tarde expandiu essas críticas. Sua teoria alternativa é agora chamada de teoria da emoção de Cannon-Bard. Cannon e Bard acreditavam que o sistema nervo- so autônomo era muito lento para explicar os sentimentos subjetivos das emoções. A mente responde rapidamente à experiên- cia, enquanto o corpo é muito mais lento, precisando de pelo menos 1 ou 2 segundos para reagir. Por exemplo, você pode se sentir constrangido antes de corar. Cannon e Bard também observaram que muitas emoções produzem respostas corporais semelhantes. As semelhanças tornam muito difícil para as pessoas de- terminar rapidamente qual emoção elas estão sentindo. Por exemplo, raiva, exci- tação e interesse sexual produzem altera- ções semelhantes na frequência cardíaca e pressão arterial. O exercício traz essas mesmas alterações, e isso pode afetar seu estado emocional, mas não produz uma emoção específica. Cannon e Bard propuseram que as informações sobre estímulos emocionais são enviadas à mente e ao corpo separada- mente e simultaneamente. Como resultado, a mente e o corpo experimentam emoções de maneira independente. De acordo com a teoria da emoção de Cannon-Bard, a infor- mação de um estímulo produtor de emoção é processada em estruturas subcorticais (Cannon originalmente focou no tálamo, mas sabe-se agora que mui- tas estruturas do sistema límbico estão envolvidas na emoção). As es- truturas subcorticais então enviam informações separadamente para o córtex e o corpo. Como resultado, as pessoas experimentam duas coisas separadas aproximadamente ao mesmo tempo: uma emoção, produzida no córtex, e as reações físicas, produzidas no corpo (FIG. 10.10). Quando você vê o urso no celeiro, sinais separados fazem com que seu coração dispare e você sinta medo. TEORIA DOS DOIS FATORES DE SCHACHTER-SINGER Os psicólogos sociais Stanley Schachter e Jerome Singer (1962) viam algum mérito em ambas as teorias. Eles achavam que a teoria de James-Lange estava cer- ta em equiparar a percepção da reação do corpo com uma emoção, mas concordavam com Cannon-Bard quando diziam que existem muitas emoções diferentes para que houvesse um padrão autonômico exclusivo para cada uma delas. Schachter e Singer propuseram a teoria dos dois fatores da emoção, de que que a resposta fisiológica a todos os estímu- los emocionais era essencialmente a mesma, a qual denominaram alerta fisiológico indiferenciado. O alerta era apenas interpretado de maneira diferente, dependendo da situação, e recebia um rótulo. Estímulo: um urso pardo ameaçador se aproximando Alerta: coração pulsando, tremores, sudorese, fuga Emoção MEDO Estímulo: um urso pardo ameaçador se aproximando Alerta: coração pulsando, tremores, sudorese, fuga Emoção MEDO (a) (b) FIGURA 10.8 Teoria de James-Lange da emoção. (a) De acordo com a visão do senso comum da emoção, uma experiência – como ver um urso pardo – pode produzir uma emoção e, em seguida, uma resposta corporal. (b) De acordo com a teoria de James-Lange, a percepção corporal vem antes de a pessoa sentir a emoção. Por exemplo, quando um urso lhe ameaça, você começa a suar, sente seu coração batendo e corre (se possível). Essas respostas produ- zem em você a emoção do medo. FIGURA 10.9 Hipótese do feedback facial. De acordo com essa hipótese, a expressão facial de uma pessoa leva essa pessoa a experimentar a emoção. Mesmo a alteração forçada na expressão facial do indivíduo pode mudar a expe- riência que ele tem da emoção. 412 Ciência psicológica De acordo com essa teoria, quando a pessoa experimen- ta um aumento no alerta fisiológico, ela começa a buscar a origem desse aumento (FIG. 10.11). A busca por uma expli- cação cognitiva, ou rótulo, muitas vezes é rápida e simples, já que a pessoa geralmente reconhece o evento que levou ao seu estado emocional. Ao ver o urso no celeiro, você experimenta um aumento no alerta fisiológico. Seu conhecimento de que os ursos são perigosos o leva a ficar alerta diante do animal e rotular o medo decorrente do aumento no alerta fisiológico. O que acontece quando a situação é mais ambígua? De acordo com a teoria dos dois fatores, o que quer que a pessoa acredite que causou a emoção vai determinar como ela rotula a emoção. Schachter e Singer conceberam um engenhoso experi- mento para testar a teoria dos dois fatores. Primeiro, injetou- -se nos participantes, todos do sexo masculino, um estimulan- te ou um placebo. O estimulante era adrenalina, que produziu sintomas como sudorese nas palmas das mãos, aumento na frequência cardíaca e agitação. Alguns dos indivíduos que re- ceberam adrenalina foram informados de que o fármaco que receberam faria com que sentissem um aumento no alerta fisiológico. Os outros participantes não foram informados de nada sobre os efeitos do fármaco. Por fim, deixou-se que cada indivíduo aguardasse com um cúmplice do pesquisador. O cúmplice, também do sexo masculino, estava trabalhando com o pesquisador e se comportou de acordo com o plano de pesquisa. Na condição de euforia, cada participante era exposto a um cúmplice que estava de ótimo humor, brincando com um bambolê e fazendo aviões de papel. Na condição de irritação, cada participante ficava sentado em uma sala com um cúmplice. Tanto o participante quanto o cúmplice foram convidados a preen- cher um longo questionário que lhes fazia questões pessoais muito íntimas, como “Com quantos homens (exceto seu pai) a sua mãe teve relações extracon- jugais?” (Para tornar a questão ainda mais ofensiva, as alternativas de resposta eram 4 ou menos, 5 a 9, ou 10 ou mais). O cúmplice ficava cada vez mais irrita- do à medida que respondia ao questionário. Por fim, ele rasgava o questionário e saía da sala. Quando os participantes receberam adrenalina, mas foram informados de como seus corpos responderiam ao fármaco, eles tinham uma explicação fácil para o seu aumento no alerta fisiológico. Eles atribuíram isso à adrenalina, não à situação. Em contraste, quando os participantes receberam adrenalina, mas não receberam informações sobre os seus efeitos, eles tinham um aumento no alerta fisiológico semelhante ao do grupo informado, mas não sabiam por quê. Olhavam para o ambiente para explicar ou rotular as respostas de seus corpos (sudorese nas palmas das mãos, taquicardia e agitação). Os participantes do grupo que não recebeu explicação relataram que se sentiam felizes enquanto esperavam com o cúmplice eufórico e que se sentiam menos felizes enquanto esperavam com o cúmplice com raiva. Enquanto atribuíram os seus sentimen- tos ao que estava acontecendo no ambiente, os participantes do grupo que foi informado não o faziam (ver “Pensamen- to científico: Teste da teoriade dois fatores de Schachter- -Singer”). Aqueles na con- dição placebo responderam entre as duas condições de adrenalina, dependendo de quanto o cúmplice aumentava o seu alerta fisiológico. Uma implicação interes- sante da teoria de dois fatores MEDO Alerta: coração pulsando, tremores, sudorese, fuga Emoção Estímulo: um urso pardo ameaçador se aproximando FIGURA 10.10 Teoria de Can- non-Bard da emoção. De acor- do com essa teoria, a emoção e as reações físicas acontecem in- dependentemente, mas ao mes- mo tempo. Por exemplo, quando um urso lhe ameaça, você simul- taneamente sente medo, começa a suar, sente seu coração pulsan- do e corre (se possível). Rótulo: “Esse urso é assustador! Eu tenho medo dele!” Estímulo: um urso pardo ameaçador se aproximando Alerta: coração pulsando, tremores, sudorese, fuga Emoção MEDO FIGURA 10.11 Teoria dos dois fatores de Schachter-Singer. De acordo com essa teoria, uma pessoa experimenta mudanças fisiológicas e aplica um rótulo cognitivo para explicá-las. Por exemplo, quando um urso lhe ameaça, você começa a suar, sente seu coração pulsando e corre (se possível). Você, então, rotula essas ações corporais como respostas ao urso. Como resultado, você sabe que está experimentando medo. Capítulo 10 Emoção e motivação 413 Pensamento científico Teste da teoria de dois fatores de Schachter-Singer HIPÓTESE: O que quer que uma pessoa acredite que seja a causa de sua emoção determinará como ela a experimenta e rotula. Condição de euforia Condição de irritação Injetou-se nos participantes um estimulante (adrenalina) ou placebo. Aos participantes informados da condição adrenalina foi dito que o fármaco poderia fazer com que se sentissem instáveis, tivessem taquicardia e sentissem seus rostos quentes. Todas essas atividades corporais são efeitos colaterais do uso de adrenalina. Os participantes não informados não receberam qualquer informação sobre os efeitos do fármaco. Na condição de euforia, cada participante foi exposto a um cúmplice que estava de ótimo humor, brincando com um bambolê e fazendo aviões de papel. Na condição de irritação, cada participante ficava sentado esperando com um cúmplice. Tanto o participante quanto o cúmplice foram convidados a preencher um questionário com perguntas muito insultantes, por exemplo se sua mãe tinha traído seu pai. O cúmplice ficou irritado, rasgou o questionário e saiu da sala. Os participantes codificaram os indicadores comportamentais de euforia como estando ligados à diversão. Eles também codificaram indicadores comportamentais de raiva como concordando com a raiva do cúmplice. Além disso, foram questionados os estados emocionais dos participantes, se eles se sentiam felizes ou com raiva. Participante não informado Participante não informado Participante informado Participante informado Hmmm... Coração pulsando, mão trêmula. Eu acho que o fármaco realmente funciona. Uhuuuuuu! Hmmm... Coração pulsando, mão trêmula. Eu acho que o fármaco realmente funciona. Grrrrrrr! 1 2 3 4 RESULTADO: Quando os participantes receberam adrenalina e foram informados de como seus corpos iriam responder ao fár- maco, eles tinham uma explicação fácil para o seu aumento na excitação fisiológica. Atribuíram isso à adrenalina, não à situação. Em contraste, quando receberam adrenalina, mas não foram informados sobre os seus efeitos, procuraram algo no ambiente para explicar ou para rotular as reações do seu corpo. Condição de euforia Condição de irritação Eu fo ri a co m po rt am en ta l –5 0 5 10 15 20 25 Participantes informados Participantes não informados R ai va c om po rt am en ta l –1 0 1 2 3 4 5 Participantes informados Participantes não informados Quando os participantes não informados esperaram junto com os cúmplices eufóricos, eles exibiram indicadores comportamentais de euforia (ver gráfi- co do lado esquerdo). Também relataram sentir-se felizes. Quando os participantes não informados esperaram junto com os cúmplices com raiva, eles exibiram indicadores comportamentais de raiva (ver gráfico do lado direito). Também relataram sentir rai- va. Esses resultados aconteceram porque os partici- pantes não informados atribuíram seus sentimentos ao que estava acontecendo no ambiente. Os partici- pantes informados não reagiram do mesmo modo nem fizeram as mesmas atribuições. Por exemplo, na condição de raiva, seus indicadores comporta- mentais de raiva diminuíram. CONCLUSÃO: O sentimento de aumento na excita- ção fisiológica pode ser atribuído a eventos no am- biente, moldando assim as emoções das pessoas. FONTE: Schachter, S., & Singer, J. (1962). Cognitive, social and physiological determinants of emotional state. Psychological Review, 69, 379-399. 414 Ciência psicológica é que os estados físicos causados por uma situação podem ser atribuídos à emoção errada. Quando as pessoas cometem erros na identificação da fonte do seu aumento no alerta fisiológico, isso é chamado de atribuição errônea do alerta fisiológico. Em uma exploração desse fenômeno, os pesquisadores tentaram ver se as pes- soas podiam sentir atração romântica por meio da atribuição errônea (Dutton e Aron, 1974). Cada participante, um homem heterossexual, foi convidado a atravessar uma de duas pontes sobre o rio Capilano, nos Estados Unidos. Uma delas era uma ponte suspensa estreita com um anteparo baixo, que oscilava 70 m acima de violentas corredeiras rochosas. A outra era uma ponte moderna e resistente, pouco acima do rio. No meio da ponte, uma atraente assistente de pesquisa do sexo feminino se aproximava do homem e o entrevistava. Ela lhe dava seu número de telefone e se oferecia para fornecer explicações sobre os resultados do estudo em um momento posterior se ele estivesse inte- ressado. De acordo com a teoria dos dois fatores da emoção, a ponte menos estável produziria alerta fisiológico (palmas das mãos suadas, aumento na frequência cardíaca), que poderia ser erroneamente atri- buída à atração pela entrevistadora. Na verdade, os homens entrevis- tados na ponte menos estável tinham maior propensão a convidar a entrevistadora para sair (FIG. 10.12). Você consegue pensar em um possível fator de confusão que afeta esse estudo? Quais as diferenças iniciais entre os homens que optaram por atravessar a ponte menos estável e aqueles que escolheram a ponte mais segura? Talvez os homens que tinham maior propensão a assumir riscos eram mais propensos a escolher a ponte assustadora e convidar Usando a psicologia em sua vida Como posso controlar minhas emoções? As emoções podem ser perturbadoras e problemáticas. Sentimentos negativos podem impedir as pessoas de se comportar como gostariam, do mesmo modo que senti- mentos positivos. Você já ficou tão nervoso a ponto de ser difícil falar na frente de uma pla- teia (FIG. 10.13A)? Ou já se sentiu tão anima- do em relação a um evento próximo que foi incapaz de se concentrar em uma prova (FIG. 10.13B)? Em nossas vidas diárias, as circuns- tâncias muitas vezes nos obrigam a controlar nossas emoções, mas isso não é fácil. Como você mascara a sua expressão de nojo quan- do é obrigado a comer por polidez algo de que não gosta? Como você se força a ser um bom perdedor em uma competição que realmente importa para você? James Gross (1999; 2013) delineou vá- rias estratégias que as pessoas utilizam para re- gular as emoções. Algumas dessas estratégias ajudam as pessoas a evitar ou se preparar para eventos, e outras ajudam a lidar com os even- tos depois que eles ocorrem. Contudo, nem todas as estratégias para regular os estados emocionais são igualmente bem-sucedidas. O que não fazer: Duas estratégias co- muns, a supressão de pensamento e a rumi- nação, não funcionam. Na supressão de pen- samento, as pessoas tentam não sentir ou responder à emoção. Daniel Wegner e colabo- radores (1990) demonstraram que a tentativa de suprimir pensamentos negativos é muito difícil.Isso muitas vezes leva a um efeito re- bote, em que os indivíduos pensam mais so- bre algo após a supressão do que antes. Por exemplo, as pessoas que estão de dieta e ten- tam não pensar em alimentos saborosos aca- bam pensando mais neles do que se tivessem tentado se envolver em outra atividade como uma maneira de não pensar em comida. A ruminação envolve pensar, elaborar e concentrar-se em pensamentos ou sentimen- tos indesejados. Essa resposta prolonga o es- tado de humor e impede estratégias bem-suce- didas de regulação do humor, como distrair-se ou concentrar-se em soluções para o problema (Lyubomirsky & Nolen-Hoeksema, 1995). Então o que você pode fazer para regular uma emo- ção? Pesquisas mostram que as estratégias a seguir são mais bem-sucedidas do que a su- pressão de pensamento ou a ruminação. Controle o local: Se você quiser se sen- tir romântico ao pedir sua namorada em casa- mento, é melhor você fazer o pedido em um bistrô íntimo e tranquilo, em vez de uma lan- chonete fastfood. Se você quiser evitar sentir ciúmes da habilidade atlética de sua irmã, você pode optar por não participar de seus jogos de futebol, basquete e futebol. Ao colocar-se em determinadas situações e evitar outras, você pode influenciar a probabilidade de experimen- tar determinadas emoções. Mude o significado: Também é possí- vel alterar diretamente reações emocionais a eventos ao reavaliá-los em termos mais neu- tros. Então, se você sente medo ao assistir a um filme, pode se lembrar de que todo o espetáculo foi encenado e que ninguém está sendo ferido de verdade. Estudos de imagem cerebral descobriram que a reavaliação muda FIGURA 10.12 Atribuição errônea do alerta fisiológico. Homens que passa- ram por essa ponte estreita e assustadora sobre o rio Capilano mostraram mais atra- ção pela pesquisadora do sexo feminino na ponte do que os homens que cami- nharam por uma ponte mais segura. Capítulo 10 Emoção e motivação 415 a entrevistadora para sair. Contudo, a ideia geral – de que as pessoas podem atribuir erroneamente o alerta fisiológico ao afeto – tem sido apoiada por outros estudos. A transferência de excitação é uma forma similar de atribuição errônea. Aqui, o alerta fisiológico residual causado por um evento é transferido para um novo estí- mulo. Por exemplo, no período após o exercício, o corpo volta lentamente ao seu es- tado inicial. Os sintomas de alerta residual incluem uma frequência cardíaca elevada. Depois de alguns minutos, a maior parte das pessoas vai ter prendido a respiração e pode não perceber que seus corpos ainda estão fisiologicamente alertas. Durante esse período transitório, elas são suscetíveis de transferir a excitação residual do exercício a qualquer evento que ocorra. Essa resposta tem uma aplicação prática: em seu pró- ximo encontro romântico, você pode sugerir assistir a um filme que você acha que irá produzir alerta fisiológico, como um dramalhão ou um filme de ação. Talvez a pessoa com quem esteja saindo irá erroneamente atribuir o alerta fisiológico residual a você! a atividade das regiões do encéfalo envolvidas em experimentar a emoção (Ochsner, Bunge, Gross, & Gabrieli, 2002; Ochsner, Silvers, & Buhle, 2012). Leve na brincadeira: Usar o hu- mor tem muitos benefícios para a saúde física e mental (Samson & Gross, 2012). Mais obviamente, o humor aumenta o afeto positivo. Quando acha algo engra- çado, você sorri, gargalha e entra em um estado de animação prazeroso e rela- xante. Pesquisas mostram que o riso es- timula a secreção endócrina, melhora o sistema imune e estimula a liberação de hormônios, dopamina, serotonina e en- dorfinas. Quando as pessoas riem, elas experimentam um aumento na circu- lação, pressão arterial, temperatura da pele e frequência cardíaca, juntamente com uma diminuição na percepção de dor. Todas essas respostas são seme- lhantes às que resultam do exercício fí- sico, e elas são consideradas benéficas para a saúde a curto e longo prazo. As pessoas às vezes riem em situações que não parecem muito en- graçadas, como em funerais ou velórios. De acordo com uma teoria, rir nessas situações ajuda as pessoas a se distan- ciar de suas emoções negativas e for- talece o seu vínculo com os outros. Em um estudo sobre o tema, Dacher Keltner e George Bonanno (1997) entrevistaram 40 pessoas que tinham perdido recen- temente um cônjuge. Os pesquisadores descobriram que o riso verdadeiro duran- te a entrevista esteve associado a saúde mental positiva e menos sentimentos ne- gativos, como tristeza. Era uma maneira de lidar com uma situação difícil. Distraia-se: Fazer algo que não seja uma atividade preocupante ou pen- sar em algo diferente é uma estratégia especialmente boa para controlar a emoção (Webb, Miles, & Sheeran, 2012). Por exemplo, se você tem medo de voar, pode distrair-se de sua ansiedade aju- dando a mulher ao seu lado a entreter sua criança inquieta. Ao absorver a aten- ção, a distração ajuda temporariamente as pessoas a parar de se concentrar em seus problemas. Contudo, algumas distrações saem pela culatra. As pessoas podem mudar seus pensamentos, mas acabam pensando em outros problemas. Ou po- dem se envolver em comportamentos desajustados. Por exemplo, como obser- vado no Capítulo 4, as pessoas às vezes tentam escapar da sua autoconsciência comendo demais ou tomando um porre. Para escapar temporariamente de seus problemas, você pode tentar assistir a um filme que capta a sua atenção. Esco- lha um filme que não irá lembrá-lo de sua situação problemática. Caso contrário, você pode simplesmente encontrar-se chafurdando na autopiedade. (Para mais sugestões sobre como lidar com seus problemas e tensões do dia a dia, con- sulte o Cap. 11, “Saúde e bem-estar”.) (a) (b) FIGURA 10.13 Emoções disruptivas. Nossas ações podem ser prejudica- das por (a) sentimentos negativos, como o nervosismo, ou (b) sentimentos positivos, como a excitação. Resumindo O que são emoções? � As emoções muitas vezes são classificadas como primárias ou secundárias. As primárias são inatas, evolutivamente adaptativas e universais (compartilhadas entre as culturas). Es- sas emoções incluem a raiva, o medo, a tristeza, o nojo, a alegria, a surpresa e o desprezo. As secundárias são misturas de emoções primárias. Elas incluem o remorso, a culpa, a submissão, a vergonha, o amor, o rancor e a inveja. 416 Ciência psicológica 10.2 Quão adaptativas são as emoções? Durante o curso da evolução humana, desenvolvemos maneiras de responder aos desafios ambientais. Ao resolver nossos problemas adaptativos, nossas mentes se debruçaram sobre nossas emoções. Experiências negativas e positivas têm orientado a nossa espécie a comportamentos que aumentam a probabilidade de sobrevivermos e nos reproduzirmos. Em outras palavras, as emoções são adaptativas porque prepa- ram e guiam comportamentos de sucesso, como a corrida quando você está prestes a ser atacado por um animal perigoso. As emoções fornecem informações sobre a importância dos estímulos para ob- jetivos pessoais, e então preparam as pessoas para ações que visem alcançar esses objetivos (Frijda, 1994). Elas também nos guiam para aprender as regras sociais e são necessárias para vivermos cooperativamente em grupos. Na próxima seção, vamos analisar como as emoções têm servido a funções cognitivas e sociais a fim de possibilitar que as pessoas se adaptem a seus ambientes físicos e sociais. � As emoções têm uma valência (positiva ou negativa) e um nível de alerta (fisiológico, baixo ou alto). � A ínsula recebe e integra sinais somato-sensoriais, ajudando-nos a experimentar a emo- ção, especialmente o nojo, a raiva, a culpa e a ansiedade. A amígdala processa o significa- do emocional dos estímulos e produz reações imediatas. Também está associada à apren- dizagem emocional, à memória de eventos emocionais e à interpretação de expressões faciais de emoção. � As três principais teorias para a emoção diferem em suas ênfases relativas naexperiência subjetiva, alterações fisiológicas e interpretação cognitiva. A teoria de James-Lange afirma que padrões específicos de mudanças físicas dão lugar à percepção de emoções associadas. A teoria de Cannon-Bard propõe que duas vias separadas – mudanças físicas e experiências subjetivas – são ativadas ao mesmo tempo. A teoria dos dois fatores de Schachter-Singer enfatiza a combinação entre alerta fisiológico generalizado e avaliações cognitivas para determinar emoções específicas. � Consistentes com a teoria de dois fatores de Schachter-Singer, pesquisas mostram que as pessoas podem atribuir erroneamente as causas de suas emoções, buscando explicações no ambiente para o que estão sentindo. Avaliando Para cada uma das três principais teorias das emoções – de James-Lange, de Cannon-Bard e dos dois fatores de Schachter-Singer –, selecione todos os enunciados descritivos e exemplos que se aplicam. Algumas respostas podem se aplicar a mais de uma teoria. Enunciados descritivos: 1. As emoções sucedem as respostas corporais. 2. As respostas cognitivas às situações são importantes na determinação das emoções. 3. As respostas corporais são uma parte importante de como as pessoas rotulam as emoções. 4. A transferência de excitação é incompatível com essa teoria da emoção. Exemplos: a. Se você canta uma canção feliz, você vai se sentir feliz. b. Se você quiser que alguém se apaixone por você (não necessariamente fique apaixonada), você deve escolher atividades excitantes para os seus primeiros encontros, como o snow- board ou a escalada. c. Sorrir durante um procedimento doloroso, como uma injeção dolorosa, vai deixá-lo com um humor melhor. d. Você se sente irritado e, simultaneamente, observa que seu coração está acelerado. RESPOSTAS: Para James-Lange, 1, 3, a e c, são aplicáveis. Para Cannon-Bard, 3, 4 e d são aplicáveis. Para dois fatores de Schachter-Singer, 1, 2, 3 e b se aplicam. Objetivos de aprendizagem � Discutir o impacto das emoções sobre a cognição e a tomada de decisão. � Revisar as pesquisas sobre a universalidade transcultural das expressões emocionais. � Definir as normas de expressão. � Discutir as funções interpessoais da culpa e da vergonha. Capítulo 10 Emoção e motivação 417 As emoções atendem a funções cognitivas Durante muito tempo, os psicólogos consideraram os processos cognitivos como se- parados dos processos emocionais. Os pesquisadores estudaram a tomada de deci- são, a memória, e assim por diante, como se as pessoas estivessem avaliando as in- formações a partir de uma perspectiva puramente racional. No entanto, as respostas afetivas imediatas surgem rápida e automaticamente. Elas dão cores às percepções no mesmo instante em que um objeto é notado. Como Robert Zajonc coloca, “Nós não apenas vemos ‘uma casa’: vemos uma casa bonita, uma casa feia ou uma casa osten- tosa” (1980, p. 154). Essas avaliações instantâneas posteriormente orientam a toma- da de decisão, a memória e o comportamento. Portanto, os psicólogos em geral agora reconhecem que é irrealista tentar separar a emoção da cognição (Phelps, 2006). Como o Capítulo 8 enfatiza, a cognição do dia a dia está longe de ser fria e ra- cional. Decisões e julgamentos são afetados por emoções e humores. Por exemplo, quando as pessoas estão de bom humor, elas tendem a ser persis- tentes e encontrar respostas elaboradas e criativas para problemas difíceis (Isen, 1993). Quando as pessoas estão perseguindo objetivos, sentimentos positivos sinalizam que elas estão fazendo progressos satisfatórios e, as- sim, incentivam um esforço adicional. TOMADA DE DECISÃO Você prefere fazer uma escalada nos Alpes ou as- sistir a uma apresentação de um pequeno grupo de dança em Paris? Ao considerar essa questão, você pensa racionalmente sobre todas as implica- ções de uma ou outra escolha? Ou tem um lampejo de como se sentiria em ambas as situações? As emoções influenciam a tomada de decisão de dife- rentes maneiras. Por exemplo, as pessoas antecipam estados emocionais, que então servem como uma fonte de informação e um guia na tomada de decisões. Dessa maneira, os indivíduos são capazes de tomar decisões mais rapidamente e de maneira mais eficiente. Além disso, em situações complexas e multifacetadas, as emoções servem como guias heurísticos, que fornecem feedback para tomar decisões rápidas (Slovic, Finucane, Peters, & MacGregor, 2002). Os julgamentos de risco são fortemente influenciados por sentimentos atuais, e quando as emoções e cognições estão em conflito, as emoções normalmente têm o impacto mais forte sobre as deci- sões (Loewenstein, Weber, Hsee, & Welch, 2001). De acordo com a teoria do afeto como informação, proposta por Norbert Schwarz e Gerald Clore (1983), as pessoas usam o humor do momento ao fazer julga- mentos e avaliações. Confiam em seu humor, mesmo que inconscientes de sua fonte. Por exemplo, Schwarz e Clore pediram às pessoas que avaliassem a sua satisfação ge- ral com a vida. Para responder a essa pergunta, as pessoas potencialmente deveriam considerar uma multiplicidade de fatores, incluindo situações, expectativas, objetivos pessoais e realizações. Contudo, os pesquisadores observaram que para chegar às suas respostas, os entrevistados não analisaram todos esses elementos, mas sim pa- reciam confiar em seu humor do momento. As pessoas de bom humor classificaram sua vida como satisfatória, enquanto as de mau humor deram classificações gerais mais baixas (FIG. 10.14). Do mesmo modo, as avaliações que as fazem de peças de teatro, palestras, políticos e até mesmo de estranhos são influenciadas por seu humor. Este, por sua vez, é influenciado pelo dia da semana, clima, saúde, e assim por diante. Se as pessoas estão cientes das fontes de seu humor (como quando um pesquisador sugere que o bom humor pode ser causado pela luz clara do sol), seus sentimentos têm menos influência sobre seus julgamentos. MARCADORES SOMÁTICOS O neurocientista Antonio Damasio sugeriu que o ra- ciocínio e a tomada de decisão são guiados pela avaliação emocional das consequên- cias de uma ação. Em seu livro O erro de Descartes (1994), Damasio estabelece a teoria do marcador somático. Segundo esse modelo, a maior parte das ações e decisões de autorregulação é influenciada por reações corporais chamadas marca- dores somáticos. Alguma vez você já teve uma sensação de enjoo no estômago ao olhar por um parapeito de um edifício alto? Para Damásio, o termo gut feeling (intuição, pressenti- Marcadores somáticos Reações corporais que surgem a partir da avaliação emocional de consequências de uma ação. FIGURA 10.14 Humor e satisfação com a vida. O humor afeta a satisfa- ção com a vida de uma pessoa, e o clima afeta o humor. Como resultado, as pessoas podem relatar es- tar mais satisfeitas com sua vida em dias ensolarados do que naqueles chuvosos. 418 Ciência psicológica mento) pode ser considerado quase literalmente. Quando você contempla uma ação, experimenta uma reação emocional com base parcialmente em sua expectativa do desfecho da ação. Sua expectativa é influenciada pelo seu histórico de realizar aquela ação ou ações semelhantes. Por exemplo, na medida em que dirigir rápido o levou a multas por excesso de velocidade, o que o fez se sentir mal, você pode optar por desacelerar quando vê uma placa com o limite de velocidade. Assim, marcadores somáticos podem guiar as pessoas a se envolver em comportamen- tos adaptativos. Damasio verificou que os pacientes que apresentam danos no meio da região pré-frontal com frequência são insensíveis aos marcadores somáticos. Quando essa região está danificada, as pessoas ainda são capazes de recordar a informação, mas ela perde a maior parte de seu significado afetivo. Elas po- dem ser capazes de descrever seus problemas atuais ou falar sobre a morte de um ente querido, mas o fazem sem experimentar qualquer dor emocional que normalmente acompanha esses pensamentos. Como resultado, essas pessoasnão tendem a usar os desfechos anteriores para regular o comportamento fu- turo. Por exemplo, em estudos utilizando uma tarefa de jogo, os pacientes que tiveram danos em seus lobos frontais continuaram seguindo uma estratégia arriscada: eles geralmente selecionavam cartas de um baralho que dava raras recompensas enormes, mas perdas frequentes ruins, em vez de cartas de um baralho que dava frequentes pequenas recompensas e raras perdas pequenas (pessoas sem lesões frontais escolhem essa estratégia mais segura). Escolher cartas do baralho de alto risco tinha provado não levar a sucesso em tentativas anteriores, mas, quando os pacientes contemplavam selecionar uma carta do baralho de alto risco, não mostravam a resposta mais comum de aumento no alerta fisiológico (Bechara, Damasio, Tranel, & Damásio, 2005). Ou seja, o mar- cador somático que diria à maior parte das pessoas que algo é uma má ideia está ausente entre aqueles com lesões no lobo frontal. As expressões faciais comunicam emoções Em seu livro de 1872, A expressão das emoções no homem e nos animais, Charles Darwin argumentou que aspectos expressivos da emoção são adaptativos porque comunicam sentimentos. As pessoas interpretam as expressões faciais de emoção para prever o comportamento dos outros. As expressões faciais fornecem muitas pistas sobre se o nosso comportamento é agradável aos outros ou se provavelmen- te fará com que sejamos rejeitados, atacados ou enganados. Assim, as expressões faciais, como as emoções em si, fornecem informações adaptativas. Os olhos e a boca transmitem informações emocionais. Os olhos são extre- mamente importantes em comunicar emoções. Por exemplo, quando as pessoas estão com medo, elas arregalam os olhos, mostrando uma porção maior de suas partes brancas. Basta mostrar às pessoas olhos arregalados com uma porção maior da parte branca à vista para aumentar a atividade na amígdala, mesmo que os espectadores não saibam que as partes brancas são maiores (Whalen et al., 2004). Se forem apresentadas às pessoas imagens só de olhos ou só de bocas e se solicite a elas que identifiquem a emoção expressa, elas são mais pre- cisas quando analisam olhos (Baron-Cohen, Wheelwright, & Jolliffe, 1997). No entanto, em um estudo clássico, Knight Dunlap (1927) demonstrou que a boca transmite melhor do que os olhos a emoção para informar sobre afetos positi- vos do que sobre afetos negativos. O sorriso ou a carranca é tão perceptível que substitui qualquer informação fornecida pelos olhos (Kontsevich & Tyler, 2004). Grande parte das pesquisas sobre a expressão facial foi realizada mostran- do às pessoas rostos isolados. No entanto, no mundo real os rostos aparecem em contextos que fornecem pistas quanto à emoção que uma pessoa está expe- rimentando. Em um intrigante estudo, os pesquisadores mostraram expressões faciais idênticas em diferentes contextos e descobriram que o contexto alterou profundamente a maneira como as pessoas interpretaram a emoção (Aviezer et al., 2008; FIG. 10.15). (a) (b) FIGURA 10.15 Efeitos do con- texto sobre a categorização da expressão emocional. Mostra- ram-se aos participantes da pesquisa imagens como estas. Solicitou-se que determinassem se as imagens descreviam raiva, medo, orgulho, tristeza, nojo, surpresa ou felicidade. (a) Esta foto mostra tanto um rosto tris- te quanto uma postura triste. Quando o rosto apareceu nesse contexto, a maior parte dos parti- cipantes categorizou a expressão como triste. (b) Esta foto mostra a mesma cara triste com uma postura temerosa. Quando o rosto apareceu nesse contexto, a maior parte dos participantes categorizou a expressão incorre- tamente como medo. Capítulo 10 Emoção e motivação 419 EXPRESSÕES FACIAIS ENTRE AS DIFERENTES CULTURAS Darwin argumentou que o rosto comunica de modo inato as emoções aos outros e que essas comunicações são compreensíveis por todas as pessoas, independentemente da cultura. Sua hipó- tese permaneceu sem ser testada até que Paul Ekman entrou em cena e partiu para refutá-la. Ekman acreditava que as emoções variam em uma escala de agradável a de- sagradável e que a expressão facial e o que ela significa são aprendidos socialmente. Em outras palavras, propôs que o significado de cada expressão facial varia de uma cultura para outra. Ekman e colaboradores (1969) testaram essa hipótese na Argenti- na, no Brasil, no Chile, no Japão e nos Estados Unidos. Descobriram que a hipótese de Ekman estava errada e que Darwin estava certo. Em cada país, os participantes viram fotografias de expressões emocionais e, em seguida, foram convidados a identificar as respostas emocionais. Em todos os cinco países, os indivíduos reconheceram expressões como raiva, medo, nojo, feli- cidade, tristeza e surpresa. Contudo, como as pessoas nesses países tinham ampla exposição à cultura um do outro, a aprendizagem, e não a biologia, poderia ter sido responsável pela concordância intercultural. Para controlar esses potenciais fatores de confusão, os pesquisadores viajaram a uma área remota da Nova Guiné. Os nati- vos tinham pouca exposição a culturas de fora e receberam apenas educação formal Pensamento científico Estudo de Ekman das expressões faciais entre as culturas HIPÓTESE: Ekman propôs que o significado das expressões faciais é socialmente aprendido e, portanto, deve variar entre as culturas. MÉTODO DE PESQUISA: Na segunda parte do estudo, participantes da Nova Guiné foram fotografados exibindo determinadas expressões faciais. Por exemplo, foram convidados a demonstrar como se sentiriam ao se deparar com um porco podre ou se um dos seus filhos tivesse morrido. Participantes de outros países foram convidados a identificar as emoções expressas pelos participantes da Nova Guiné. (a) (b) (c) (d) 1 2 RESULTADOS: As pessoas das diferentes culturas em grande parte concordam com o significado das diferentes expressões faciais. Os exemplos aqui são (a) felicidade, (b) tristeza, (c) raiva e (d) nojo. CONCLUSÃO: A hipótese de Ekman estava errada. O reconhecimento das expressões faciais pode ser universal e, portanto, de base biológica. FONTE: Ekman, P., & Friesen, W. V. (1971). Constants across cultures in the face and emotion. Journal of Personality and Social Psychology, 17, 124–129. 420 Ciência psicológica mínima. No entanto, os participantes do estudo foram capazes de identificar ra- zoavelmente bem as emoções vistas nas fotos, embora a concordância não tenha sido tão grande quanto em outras culturas. Os pesquisadores também pediram aos participantes da Nova Guiné que exibissem certas expressões faciais e des- cobriram que os avaliadores de outros países identificaram as expressões em um nível melhor que o acaso (Ekman & Friesen, 1971; ver “Pensamento cien- tífico: Estudo de Ekman das expressões faciais entre as culturas”, na p. 419). Pesquisas posteriores encontraram apoio geral para uma concordância in- tercultural na identificação de algumas expressões faciais; o apoio é mais forte para a felicidade e mais fraco para o medo e o nojo (Elfenbein & Ambady, 2002). Alguns estudiosos acreditam que os resultados desses estudos interculturais podem ter sido influenciados por diferenças culturais nas palavras usadas para descrever a emoção e pela maneira como as pessoas são convidadas a identi- ficar as emoções (Russell, 1994). Em geral, porém, as evidências indicam que algumas expressões faciais são universais. Portanto, elas provavelmente têm uma base biológica. Você esperaria que a expressão física do orgulho tivesse uma base bio- lógica ou fosse específica de uma determinada cultura? A psicóloga Jessica Tracy descobriu que as crianças podem reconhecer quando uma pessoa sen- te orgulho e que populações isoladas com contato mínimo com o Ocidente também identificam com precisão os sinais físicos, que incluem o rosto sor- ridente, os braços levantados, o peito estufado e o tronco expandido (Tracy & Robins, 2008). Tracy e David Matsumoto (2008) examinaramas respostas de orgulho entre aqueles que competiram em partidas de judô nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2004, em que competiram atletas não cegos e cegos de 37 nações. Após a vitória, os comportamentos exibidos pelos atletas não cegos e cegos eram muito semelhantes. Essa descoberta sugere que as respostas de orgulho são inatas, e não aprendidas pela observação dos outros (FIG. 10.16). As normas de expressão diferem entre as culturas e entre os gêneros Como vimos, as emoções básicas, como o orgulho, parecem ser expressas de maneira similar entre as culturas. Contudo, as situações em que as pessoas exibem emoções são substancialmente diferentes. As normas de expressão go- vernam como e quando as pessoas exibem emoções. Essas regras são aprendi- das por meio da socialização e ditam quais emoções são adequadas em situa- ções específicas. As diferenças nas normas de expressão ajudam a explicar os estereótipos culturais, como os ruidosos e desagradáveis norte-americanos e australianos, os frios e sem graça britânicos e os sangue-quente e emocionais italianos. As normas de expressão também podem explicar por que a identi- ficação de expressões faciais é muito melhor intracultura do que intercultura (Elfenbein & Ambady, 2002). De uma cultura para outra, as normas de expressão tendem a ser diferen- tes para mulheres e homens. Em particular, as normas para sorrir e chorar di- ferem entre os gêneros. Em geral, acredita-se que as mulheres exibam emoções mais prontamente, mais frequentemente, mais facilmente e mais intensamente (Plant, Hyde, Keltner, & Devine, 2000). As evidências sugerem que essa crença é verdadeira – exceto talvez por emoções relacionadas com o domínio, como a raiva (LaFrance & Banaji, 1992). Assim, os homens e as mulheres podem variar na sua expressividade emocional por razões evolutivas: as emoções mais estrei- tamente associadas às mulheres estão relacionadas com a prestação de cuidados, maternidade e relações interpessoais. As emoções associadas aos homens estão rela- cionadas com o domínio, a defesa e a competitividade. Enquanto as mulheres podem ser mais propensas a exibir muitas emoções, elas não necessariamente as experimentam mais intensamente. Embora haja fortes indí- cios de que as mulheres relatem emoções mais intensas, esse achado pode refletir as normas sociais sobre como as mulheres devem se sentir (Grossman & Wood, 1993). Talvez por causa das diferenças na educação da sociedade ocidental moderna, as mu- lheres tendem a ser melhores do que os homens em articular suas emoções (Feldman Barrett, Lane, Sechrest, & Schwartz, 2000). Normas de expressão Normas aprendidas por meio da socialização que ditam quais emoções são adequadas em determinadas situações. (a) (b) FIGURA 10.16 Expressões de orgulho. Em resposta à vitória em partidas distintas de judô, (a) uma atleta não cega e (b) um atleta cego congênito expressam seu orgulho por meio de compor- tamentos semelhantes. Como essas semelhanças ocorrem en- tre as culturas, a expressão física do orgulho parece ser de base biológica. Capítulo 10 Emoção e motivação 421 Por fim, as diferenças entre os gêneros na expressão emocional refletem pa- drões aprendidos de comportamento ou diferenças de base biológica? A natureza e a criação atuam juntas nesse caso, de modo que é difícil – e muitas vezes impossível – distinguir os seus efeitos. As emoções fortalecem as relações interpessoais Como os seres humanos são animais sociais, muitas emoções envol- vem dinâmicas interpessoais. As pessoas se sentem feridas quando importunadas, com raiva quando insultadas, felizes quando amadas e orgulhosas quando elogiadas. Ao interagir com outras pessoas, os indivíduos usam expressões emocionais como um poderoso meio de comunicação não verbal (FIG. 10.17). Embora isoladamente a língua inglesa inclua mais de 550 palavras que se referem a emoções (Ave- rill, 1980), as pessoas podem comunicar suas emoções muito bem sem a linguagem verbal. Por exemplo, como as crianças não podem falar, elas precisam comunicar suas necessidades em grande parte por meio de ações não verbais e expressões emocionais. Os recém-nascidos são capazes de expressar alegria, interesse, nojo e dor. As expressões não verbais das emoções sinalizam estados interiores, humores e necessi- dades. Pode-se até argumentar que os seres humanos são uma espécie social porque as emoções possibilitam que as pessoas vivam juntas. Como Steven Pinker (2011) observou, “Simpatizamos, confiamos e nos sentimos gratos àqueles que são suscetíveis de cooperar com a gente, recompensando-os com nossa própria cooperação. E ficamos com raiva ou desprezamos aqueles que são suscetíveis de nos chatear, retirando nossa cooperação ou aplicando punições” (p. 490). Contudo, na maior parte do século XX, os psicólogos deram pouca atenção às emoções interpessoais. A culpa, a vergonha e o gostar fo- ram associados ao raciocínio freudiano e, portanto, não estudados na vertente prin- cipal da ciência psicológica. Desde então, os teóricos vêm considerando as emoções interpessoais em vista da necessidade evolutiva dos seres humanos de pertencer a grupos sociais. Dado que a sobrevivência foi maior entre aqueles que viviam em gru- pos, aqueles que foram expulsos teriam menor probabilidade de sobreviver e passar adiante seus genes. De acordo com esse ponto de vista, os indivíduos foram rejeita- dos principalmente porque drenaram recursos do grupo ou ameaçaram sua estabi- lidade. A necessidade fundamental de pertencimento (conforme discutido mais deta- lhadamente na próxima seção) indica que as pessoas são sensíveis a qualquer coisa que possa levá-las a serem expulsas do grupo, e as emoções sociais podem refletir reações a essa possibilidade. Assim, as emoções sociais podem ser importantes para a manutenção de laços sociais. A CULPA FORTALECE LAÇOS SOCIAIS A culpa é um estado emocional negativo associada à ansiedade, tensão e agitação. A experiência de culpa raramente faz sen- tido fora do contexto da interação interpessoal. Por exemplo, a experiência típica de culpa ocorre quando alguém se sente responsável pelo estado afetivo negativo de outra pessoa. Assim, quando acreditamos que algo que fizemos prejudicou direta ou indiretamente outra pessoa, experimentamos sentimentos de ansiedade, tensão e remorso – sentimentos que podem ser rotulados como culpa. A culpa ocasional- mente pode surgir mesmo quando não sejamos pessoalmente responsáveis por situações negativas dos outros (p. ex., culpa do sobrevivente, sentida pelas pessoas que sobrevivem a incidentes – acidentes ou catástrofes – em que outros morreram). Embora os sentimentos excessivos de culpa possam ter consequências negati- vas, ela não é totalmente negativa. Um modelo teórico da culpa descreve os seus bene- fícios em estreitar relacionamentos. Roy Baumeister e colaboradores (1994) afirmam que ela protege e fortalece as relações interpessoais de três maneiras. Primeiro, os sentimentos de culpa desencorajam as pessoas a fazerem coisas que prejudicariam seus relacionamentos, como trair seus parceiros, e incentivam comportamentos que fortalecem relacionamentos, como telefonar para os pais regularmente. Em segundo lugar, exibições de culpa demonstram que as pessoas se preocupam com seus par- ceiros de relacionamento, reafirmando, assim, os laços sociais. Em terceiro lugar, a FIGURA 10.17 Emoção como comunica- ção. Expressões não verbais de emoção, como essas exibições de amor e alegria, podem comunicar tão poderosamente quanto as palavras. 422 Ciência psicológica culpa é uma tática que pode ser utilizada para manipular os outros. Ela é especial- mente eficaz quando usada contra pessoas que detêm o poder sobre os outros. Por exemplo, uma pessoa pode tentar fazer seu chefe sentir-se culpado, para que ela não precise trabalhar horas extras. As crianças podem usar a culpa para que os adultos lhes comprem presentes ou lhes concedam privilégios. As evidências indicam que asocialização é mais importante do que a biologia para determinar especificamente como as crianças experimentam culpa. Um estudo longitudinal envolvendo gêmeos idênticos e fraternos examinou o impacto da socia- lização sobre o desenvolvimento de várias emoções negativas (Zahn-Waxler & Ro- binson, 1995). Ele descobriu que todas as emoções negativas mostraram influência genética considerável, mas a culpa foi a única a ser altamente influenciada pelo am- biente social. Com a idade, a influência de um ambiente que compartilhava culpa se tornou mais forte, enquanto as evidências de influências genéticas desapareceram. Talvez surpreendentemente, o aconchego dos pais está associado a maior culpa nas crianças. Essa descoberta sugere que os sentimentos de culpa surgem em relaciona- mentos saudáveis e felizes. Conforme as crianças se tornam cidadãs em um mundo social, desenvolvem a capacidade de sentir empatia e, posteriormente, experimentam sentimentos de culpa quando cometem transgressões contra os outros. O CONSTRANGIMENTO E O RUBOR FACIAL DEMONSTRAM O EMBARAÇO SOCIAL Uma pessoa é suscetível de se sentir constrangida depois de violar uma norma cultu- ral, perder o equilíbrio físico, ser provocado ou experimentar uma ameaça à sua au- toimagem (Miller, 1996). Algumas teorias do constrangimento sugerem que ele retifi- ca o embaraço interpessoal e restaura os laços sociais. O constrangimento representa submissão e afiliação ao grupo social. Também repre- senta o reconhecimento do erro social não intencio- nal. Pesquisas apoiam essas proposições ao mostrar que os indivíduos que parecem constrangidos depois de um delito obtêm mais simpatia, mais perdão, mais diversão e mais risadas dos espectadores (Cupach & Metts, 1990; FIG. 10.18). Como a culpa, a vergonha pode reafirmar relações estreitas após transgressões. O escritor Mark Twain disse uma vez: “O homem é o único animal que enrubesce. Ou precisa enrubes- cer”. Darwin, em seu livro de 1872, chama o rubor facial de “a mais peculiar e mais humana de todas as expressões”, separando-a assim das respostas emo- cionais que ele considera necessárias para a sobrevi- vência. Teorias e pesquisas recentes sugerem que o rubor facial ocorre quando as pessoas acreditam que os outros os veem de maneira negativa e que o rubor facial comunica a realização de erros interpessoais. Esse pedido de desculpas não verbal é um apazigua- mento que elicia o perdão em outros, desse modo re- parando e mantendo relacionamentos (Keltner & An- derson, 2000). A cabeça é movida para baixo e para o lado. Os lábios são pressionados um contra o outro, e os cantos da boca são ligeiramente elevados. FIGURA 10.18 Constrangimento. Nesta foto, o psicólogo Dacher Keltner está demonstrando os sinais faciais clássi- cos de constrangimento. Resumindo Quão adaptativas são as emoções? � As emoções são adaptativas porque levam a estados de prontidão comportamental. � As emoções influenciam a tomada de decisão, servindo como guias heurísticos para decisões rápidas. Elas também dão origem a marcadores somáticos, reações corporais, que facilitam a autorregulação. � A base evolutiva para as emoções é apoiada pela pesquisa sobre a concordância intercul- tural da demonstração e do reconhecimento de algumas expressões emocionais. Capítulo 10 Emoção e motivação 423 10.3 O que motiva as pessoas? O que te inspira a se levantar de manhã? Por que você escolhe comer determinados alimentos? Envolver-se em um relacionamento sexual lhe interessa? Perguntas como essas estão relacionadas a por que as pessoas fazem o que fazem. Como discutido na abertura deste capítulo, a história de Gabby Douglas ilustra que o comportamento é fortemente influenciado pela motivação e pela emoção. Na verdade, as palavras emo- ção e motivação provêm da mesma palavra latina: movere, “mover-se”. A maior parte das teorias gerais da motivação enfatiza quatro qualidades es- senciais dos estados motivacionais. Em primeiro lugar, os estados motivacionais são energizantes, ou estimulantes. Eles ativam comportamentos – isto é, fazem com que animais façam alguma coisa. Por exemplo, o desejo de ter condicionamento físico pode motivá-lo a levantar-se e ir correr em uma manhã fria. Em segundo lugar, os estados motivacionais são diretivos. Orientam os comportamentos em direção a aten- der objetivos ou necessidades específicas. A fome motiva a comer; a sede motiva a beber; o orgulho (ou o medo ou outro sentimento) motiva a estudar para os exames. Em terceiro lugar, estados motivacionais ajudam os animais a persistir em seu com- portamento até que alcancem seus objetivos ou satisfaçam suas necessidades. A fome o corrói até que você encontre algo para comer; um desejo de vencer o leva a praticar lances livres até conseguir acertar. Em quarto lugar, a maior parte das teorias con- corda que os motivos diferem em força, dependendo de forças internas e externas. Assim, para os psicólogos, a motivação é um processo que dá energia, direciona e sustenta o comportamento em direção a um objetivo. Esta seção examina uma ampla gama de fatores que, em diferentes graus, motivam o comportamento das pessoas. Impulsos motivam a satisfação das necessidades O que realmente precisamos fazer para nos manter vivos? Por um lado, temos que sa- tisfazer nossas necessidades biológicas. Todos precisamos de ar, comida e água para so- breviver. Mas satisfazer nossas necessidades biológicas básicas não é suficiente para vi- � As normas de expressão são aprendidas por meio da socialização e ditam quais emoções são adequadas a situações específicas. � Entre as diferentes culturas, as normas de expressão diferem para mulheres e homens. � A emoções que são de natureza interpessoal – por exemplo, a culpa e o constrangimento – são particularmente importantes para a manutenção e reparação das relações interpes- soais próximas. Avaliando 1. Uma norma de expressão é a. um termo que se refere a demonstrações de agressão entre os animais em estado selvagem. b. uma norma que especifica quando e como determinadas pessoas podem expressar uma emoção. c. uma maneira de medir a extensão das emoções das pessoas. d. um interativo sistema de diretrizes para a interpretação de motivações diversas. 2. Qual é a provável explicação para o rubor facial? a. É uma forma não verbal de admitir um erro. b. Não tem função adaptativa, embora em épocas anteriores provavelmente sinalizasse um status social inferior. c. Mostra desrespeito para com os outros e, portanto, pode manter o status social da pessoa que enrubesce. d. É um sinal de fraqueza, o que é importante na evolução humana. RESPOSTAS: (1) b. uma norma que especifica quando e como determinadas pessoas podem expressar uma emoção. (2) a. É uma forma não verbal de admitir um erro. Objetivos de aprendizagem � Distinguir entre um motivo, uma necessidade e um impulso. � Descrever a hierarquia de necessidades de Maslow. � Descrever a lei de Yerkes- -Dodson. � Distinguir entre motivação extrínseca e motivação intrínseca. � Discutir as relações entre autoeficácia, motivo para a realização, gratificação tardia e realização do objetivo. � Descrever a teoria da necessidade de pertencimento. 424 Ciência psicológica ver uma vida plenamente satisfatória. Temos também necessidades sociais, incluindo a necessidade de realização e a necessidade de estar com os outros. As pessoas precisam das outras, embora as preferências quanto a ser solitário ou social variem. A necessidade é, então, um estado de deficiência, que pode tanto ser biológica (p. ex., água) quanto social (p. ex., estar com outras pessoas). De qualquer maneira, as necessida- des levam a comportamentos guiados por objetivos. A falha em satisfazer uma necessidade específica leva a um comprometimento psicossocial ou físico. HIERARQUIA DE NECESSIDADES DE MASLOW Na década de 1940, Abraham Maslow propôs uma influente “teoria de necessidades” da motivação. Maslow acreditavaque as pessoas são movidas por muitas necessidades, as quais estão organizadas em uma hierarquia de necessidades (FIG. 10.19). Ele colocou as necessidades de sobrevivência (como fome e sede) na base da hierarquia, acreditando que precisavam ser atendidas em primeiro lugar, e as necessidades de crescimento pes- soal foram colocadas no topo. O autor acreditava que para experimentar crescimento pessoal, as pessoas devem atender às suas necessidades biológicas, sentir-se seguras e protegidas, sentir-se amadas e ter uma boa opinião sobre si mesmas. O auge da teoria de Maslow era a realização pessoal. Esse estado ocorre quando alguém alcança seus sonhos e aspirações pessoais. Uma pessoa autorrealizada está vivendo plenamente no seu potencial máximo e, portanto, é verdadeiramente feliz. Maslow escreve: “Um músico deve fazer música, um artista deve pintar, um poeta deve escrever, se ele por fim quiser estar em paz consigo mesmo. O que um homem pode ser, ele deve ser” (Maslow, 1968, p. 46). A hierarquia das necessidades de Maslow tem sido abraçada na educação e nos negócios, mas carece de apoio empírico. A realização pessoal pode ou não ser um requisito para a felicidade, mas o ranking de necessidades não é tão simples quanto Maslow sugere. Por exemplo, algumas pessoas passam fome ao jejuar para demons- trar a importância de suas crenças pessoais. Outras, que tenham atendidas as suas Motivação Processo que dá energia, direciona e sustenta o comportamento em direção a um objetivo. Necessidade Estado de deficiência biológica ou social. Hierarquia de necessidades Disposição de necessidades de Maslow em que as necessidades básicas de sobrevivência devem ser satisfeitas antes que as pessoas possam satisfazer necessidades mais elevadas. Realização pessoal Estado que é alcançado quando os sonhos e as aspirações pessoais são realizadas. FIGURA 10.19 Hierarquia das necessidades. Se- gundo a classificação das necessidades de Maslow, as necessidades básicas (como comida e água) de- vem ser satisfeitas antes que as pessoas possam atender às necessidades mais elevadas (como a realização). Viver em seu pleno potencial, realizar sonhos e aspirações pessoaisRealização pessoal Estima Pertencimento e amor Segurança Fisiológica Boa opinião sobre si mesmo, realizações, reputação Ordem de prioridade Aceitação, amizade Segurança, proteção, ausência de ameaças Fome, sede, aquecimento, ar, sono Capítulo 10 Emoção e motivação 425 necessidades fisiológicas e de segurança, preferem ficar sozinhas. A hierarquia de Maslow, portanto, é mais útil como um indicador do que pode ser verdade sobre o comportamento das pessoas do que o que é realmente verdade sobre elas. REDUÇÃO DO IMPULSO E HOMEOSTASE O que motiva as pessoas a atender às suas necessidades? O impulso é um estado psicológico que, por meio da criação de alerta fisiológico, motiva um organismo a atender uma necessidade. Um dado impul- so incentiva comportamentos que irão satisfazer uma necessidade específica. Para experimentar uma de suas próprias necessidades e um impulso em resposta a ela, veja a FIGURA 10.20. Para estados biológicos como a sede ou a fome, impulsos básicos ajudam os animais a manter a estabilidade ou o equilíbrio. Na década de 1920, Walter Can- non cunhou o termo homeostase, que significa a tendência das funções corporais de manter o equilíbrio. Uma boa analogia é um sistema de aquecimento doméstico e de arrefecimento controlado por termostato. O termostato está definido em um ní- vel ideal, ou nível preestabelecido (set point). Esse estado hipotético indica a homeostase. Se a temperatura real estiver diferente do ní- vel preestabelecido, o aquecedor ou condicio- nador de ar ligam para ajustar a temperatura. Do mesmo modo, o corpo humano regu- lamenta um nível preestabelecido de tempe- ratura de cerca de 37° C. Quando as pessoas estão muito quentes ou muito frias, mecanis- mos cerebrais (particularmente o hipotála- mo) iniciam respostas como a sudorese (para resfriar o corpo) ou tremores (para aquecer o corpo). Ao mesmo tempo, as pessoas ficam motivadas a realizar comportamentos como tirar ou colocar roupas (FIG. 10.21). Mode- los como esse, no qual o corpo responde ao feedback negativo, são úteis para descrever vários processos biológicos básicos, entre eles a alimentação, a regulação hídrica e o sono. Com base no trabalho de Cannon, Cla- rk Hull (1943) propôs que, quando um ani- mal é privado de alguma necessidade (como água, sono ou sexo), um impulso aumenta em proporção à quantidade de privação bio- lógica. Quando mais fome você tem, mais im- pulso terá para encontrar comida. O estado de impulso cria alerta, o qual incentiva você a fazer algo para reduzir esse impulso, como fazer um lanche no final da noite. Embora os FIGURA 10.20 Necessida- des, impulsos e comporta- mentos de acordo com a redução do impulso. Uma necessidade é uma defi- ciência em alguma área que cria um impulso – um estado psicológico interno. O impulso motiva a pessoa a se comportar de maneiras que satisfaçam uma ne- cessidade. Por exemplo, se você prende a respiração, vai começar a sentir um forte senso de urgência, até mesmo de ansiedade. Esse estado de alerta é um impulso. Esse impulso irá forçá-lo a respirar, satisfa- zendo a sua necessidade de oxigênio. Oxigênio Sensação de asfixia Respiração Necessidade Impulso Comportamento Água Sede Beber Comida Fome Alimentação Impulso Estado psicológico que, por meio da criação de alerta fisiológico, motiva um organismo a atender a uma necessidade. Homeostase Tendência das funções corporais a manter o equilíbrio. Seu corpo é aquecido ou resfriado até que ele retorne ao nível preestabelecido. 3 O nível preestabelecido da temperatura do corpo humano é de cerca de 37°C. 1 Se a temperatura corporal está muito baixa (cai abaixo do nível preestabelecido)... 2a ... isso leva à sensação de frio, assim você começa a tremer. 2b Se a temperatura corporal está muito alta (se eleva acima do nível preestabelecido)... 2c ...isso leva à sensação de calor, então você começa a suar. 2d FIGURA 10.21 Modelo de feedback negativo da homeostase. 426 Ciência psicológica comportamentos iniciais em que o animal se envolve sejam arbitrários, qualquer comportamento que atenda a uma necessidade é reforçado e, portanto, tem maior probabilidade de voltar a ocorrer. Ao longo do tempo, se um comportamento reduz consistentemente um impulso, torna-se um hábito e, portanto, a resposta dominante produzida pelo alerta. A probabilidade de que um comportamento ocorra se deve ao impulso e ao hábito. Suponha que você sente necessidade de esquecer seus proble- mas. Para satisfazer essa necessidade, você se sente impulsionado a distrair-se, então entra no YouTube e assiste a vídeos de animais fofos. Assistir aos vídeos faz você esquecer seus problemas, e esse desfecho reforça ainda mais a visualização de vídeos. Com o tempo, você pode desenvolver o hábito de assistir a vídeos de animais fofos, especial- mente quando está estressado. ALERTA FISIOLÓGICO E IMPULSO Como os impulsos motivam o comportamento por meio da produção de alerta fisiológico, você pode imaginar que mais alerta fisiológico levará a um maior impulso e, as- sim, a um melhor desempenho. Considere, no entanto, a lei Yerkes- -Dodson (assim nomeada por causa de dois pesquisadores que a formularam, em 1908). Esse princípio psicológico determina que o desempenho em tarefas desafiadoras aumenta com o alerta fisiológico até um ponto moderado. Depois disso, o desempenho é prejudicado por qualquer alerta fisiológico adicional. O gráfico dessa relação tem a forma de um U invertido (FIG. 10.22). Como a lei de Yerkes-Dodson prevê, os alunos têm melhor desempenho nos exames ao sentir ansiedade moderada. Pouca ansiedade pode torná- -los desatentos ou desmotivados, enquanto a ansiedade demasiada pode interferir na sua capacidade de raciocínio. Domesmo modo, os atletas precisam estimular-se para suas competições, mas podem desmoronar sob muito estresse. Todas as pessoas funcionam melhor com algum alerta fisiológico. Em outras pa- lavras, a motivação nem sempre reduz a tensão e o alerta fisiológico. Em vez disso, as pessoas são motivadas a buscar um nível ideal de alerta fisiológico – o nível preferido por eles. Muito pouco, e elas ficam entediadas; demais, e elas se sentem sobrecarre- gadas. As pessoas escolhem atividades estimulantes, excitantes ou até mesmo assus- tadoras – aquelas que as despertam e absorvem sua atenção. Conforme discutido no Capítulo 13, no entanto, as pessoas diferem em quão estimulantes, emocionantes, assustadoras ou prazerosas elas querem que essas atividades sejam. As pessoas são motivadas por incentivos Os estados de impulso nos impelem a reduzir o alerta fisiológico, mas também somos arrastados por certas coisas em nossos ambientes. Os incentivos são objetos exter- nos ou objetivos externos, em vez de impulsos internos, que motivam comportamen- tos. Por exemplo, conseguir uma boa nota em um exame é um incentivo para estudar intensivamente. Segundo a teoria do incentivo, as pessoas nem sempre esperam que necessidades deficientes guiem seu comportamento na vida diária. Em vez disso, são motivadas por seus desejos de alcançar objetivos externos. Por exemplo, Gabby Dou- glas pode ter sido impulsionada pelo incentivo de conseguir mais uma medalha de ouro, não por um estado de necessidade que precisava ser satisfeita. Mesmo forças externas à consciência podem fornecer incentivos para agir de uma determinada maneira. Por exemplo, os fumantes às vezes desenvolvem fissura por cigarros depois de assistir a pessoas fumando em um filme. Em alguns casos, os espectadores sequer registraram conscientemente que os personagens do filme estavam fumando (Wagner, Dal Cin, Sargent, Kelly, & Heatherton, 2011). Como dis- cutido no Capítulo 4, pistas subliminares influenciam o comportamento, mesmo que apareçam tão rapidamente que as pessoas não sejam capazes de relatar o que viram. Pesquisadores da França e da Inglaterra descobriram que os participantes do estudo trabalharam arduamente por uma recompensa financeira maior – nesse caso, uma moeda de £ 1 apresentada subliminarmente versus uma moeda real de £ 0,01 – mesmo quando eles não foram capazes de informar quanto dinheiro estava em jogo (Pessiglione et al., 2007). Do mesmo modo, relacionar uma palavra positiva, como bom, a uma pista subliminar, como a palavra exercer, levou as pessoas a pressionar Alerta fisiológico Baixa Alta Baixa Qualidade do desempenho Alta Ideal Moderada FIGURA 10.22 Gráfico da lei de Yerkes- -Dodson. De acordo com essa lei, o desempenho em tarefas desafiadoras au- menta com o alerta fisiológico até um nível moderado. Após esse ponto, o alerta fisio- lógico adicional interfere negativamente no desempenho. Lei de Yerkes-Dodson Princípio psicológico em que o desempenho em tarefas desafiadoras aumenta com o alerta fisiológico até um nível moderado. Depois disso, o alerta fisiológico adicional prejudica o desempenho. Incentivos Objetos externos ou objetivos externos, em vez de impulsos internos, que motivam comportamentos. Capítulo 10 Emoção e motivação 427 uma alavanca mais difícil do que quando a pista foi apresentada sem a palavra po- sitiva (Aarts, Custers, & Marien, 2008). Crianças pré-escolares que foram expostas à propaganda de alimentos comeram 45% mais lanches do que as que não viram a propaganda (Harris, Bargh, & Brownell, 2009). MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA E EXTRÍNSECA Teóricos do incentivo diferenciam entre dois tipos de motivação (FIG. 10.23). A motivação extrínseca é direcionada a um objetivo externo, normalmente uma recompensa. Por exemplo, as pessoas trabalham para receber salários. Gabby Douglas treina para ganhar medalhas. Muitas das ati- vidades que as pessoas acham mais satisfatórias, no entanto – como ler um bom romance, resolver palavras cruzadas ou ouvir música – parecem não atender a um propósito óbvio que não a fruição. Essas atividades são dirigidas à motivação intrín- seca: valor ou prazer associado a uma atividade em vez de a algum objetivo exter- no. Comportamentos motivados intrinsecamente são realizados para seu benefício próprio. Eles simplesmente são agradáveis. Alguns estudantes estudam para tirar boas notas (motivação extrínseca), enquanto outros estudam porque são curiosos e querem saber mais sobre o assunto (motivação intrínseca). Os incentivos podem ser diferentes, mas os comportamentos que provocam podem ser os mesmos. Algumas atividades intrinsecamente motivadas podem satisfazer a curiosida- de e criatividade natural. Depois de brincar com um brinquedo novo por um longo período, as crianças começam a perder o interesse e vão procurar algo novo. A explo- ração lúdica é característica de todos os mamíferos e, especialmente, dos primatas. Por exemplo, como Harry Harlow e colaboradores mostraram, os macacos têm um forte impulso exploratório. Eles podem trabalhar arduamente, sem uma recompensa externa, para resolver quebra-cabeças relativamente complexos (Harlow, Harlow, & Meyer, 1950). Uma das funções do jogo é que ele ajuda as pessoas a aprender sobre os objetos em um ambiente. Esse desfecho claramente tem valor para a sobrevivên- cia, uma vez que saber como as coisas funcionam possibilita sua utilização para ta- refas mais sérias. Do mesmo modo, muitos de nós somos movidos em direção a atividades cria- tivas. Se estamos visitando um museu de arte ou fazendo arte, podemos fazê-lo sim- plesmente porque desfrutamos de atividades que possibilitam a expressão da nossa criatividade. A criatividade é a tendência a produzir ideias ou alternativas que podem ser úteis para solucionar problemas, comunicar e entreter a nós mesmos e aos outros (Franken, 2007). Embora muitas atividades criativas não sejam soluções adaptativas, a criatividade é um fator importante na resolução de problemas adaptativos. TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO E TEORIA DA AUTOPERCEPÇÃO Como discuti- do no Capítulo 6, um princípio básico da teoria de aprendizagem é que os comporta- mentos recompensados aumentam em frequência. É de se esperar que recompensar comportamentos intrinsecamente motivados iria reforçá-los. Surpreendentemente, evidências consistentes sugerem que as recompensas extrínsecas podem minar a motivação intrínseca. Em um estudo clássico, Mark Lepper e colaboradores permiti- ram que crianças desenhassem com canetas de marcação coloridas (Lepper, Greene, & Nisbett, 1973). A maior parte delas achou essa atividade intrinsecamente motiva- dora. Um grupo de crianças se sentiu extrinsecamente motivada a desenhar por ser levado a esperar um “prêmio de melhor jogador”. Outro grupo foi recompensado de maneira inesperada após a tarefa. Um terceiro grupo não foi nem recompensa- do nem levado a esperar uma recompensa. Durante um período subsequente de brincadeira livre, as crianças que estavam esperando uma recompensa extrínseca passaram muito menos tempo brincando com as canetas do que as que nunca foram recompensadas ou aquelas que receberam uma recompensa inesperada. O primeiro grupo de crianças respondeu como se fosse o seu trabalho desenhar com as canetas coloridas. Em outras palavras, por que elas brincariam com as canetas de graça quando estavam acostumadas a serem “pagas”? Há duas explicações teóricas: De acordo com a teoria da autodeterminação, as pessoas são motivadas a sa- tisfazer as necessidades por competência, relacionamento com os outros e autono- mia, que é um senso de controle pessoal. A teoria da autodeterminação argumenta que as recompensas extrínsecas podem reduzir o valor intrínseco, porque minam a sensação das pessoas de que estão optando por fazer algo para si próprias. Em contraste, os sentimentos de autonomia e competência fazem com que as pessoas se (b) (a) FIGURA 10.23 Motivação extrínseca e intrínseca. (a) A motivação extrínseca é um fatorexterno que leva as pessoas a se comporta- rem de uma determinada maneira. Esse fator é uma recompensa. Um exemplo importante é o dinheiro. (b) A motivação intrínseca leva as pessoas a se com- portarem de uma determi- nada maneira simplesmen- te porque a atividade, ou o seu resultado, é agradável. Motivação extrínseca Motivação para realizar uma atividade devido a objetivos externos ao que ela é direcionada. Motivação intrínseca Motivação para realizar uma atividade devido ao valor ou prazer associados a ela, em vez de para uma aparente meta ou finalidade externa. 428 Ciência psicológica sintam bem consigo mesmas e as inspiram a fazer o seu trabalho mais criativo (Deci & Ryan, 1987). De acordo com a teoria da autopercepção, as pessoas raramente são conscien- tes de seus motivos específicos. Elas fazem inferências sobre seus motivos, de acordo com o que parece fazer mais sentido (Bem, 1967). Suponha que alguém lhe dê um grande copo de água. Depois de beber tudo, você exclama: “Uau, acho que eu estava com sede!”. Você acredita que estava com sede porque bebeu o copo todo, mesmo que não estivesse ciente de todas as sensações físicas da sede. Quando as pessoas não dão explicações externas óbvias para seus comportamentos – por exemplo, que agiram com a expectativa de serem recompensados ou para satisfazer um impulso biológico –, elas concluem que simplesmente gostam dos comportamentos. Contudo, recompensar as pessoas por exercer uma atividade intrínseca lhes dá uma explicação alternativa para se envolver nessa atividade. Manifestaram o comportamento não ape- nas por diversão, mas por causa da recompensa. Portanto, sem a recompensa, elas não têm nenhuma razão para se engajar no comportamento. A recompensa substituiu o objetivo do puro prazer. PRAZER/DOR E MOTIVAÇÃO DE ABORDAGEM/EVITAÇÃO Sigmund Freud propôs que as pessoas agem de acordo com o princípio do prazer, que as encoraja a buscar o prazer e evitar a dor. Essa ideia de buscar o prazer é central às teorias de incentivo da motivação (Higgins, 1997). Originário dos gregos antigos, o conceito de hedonismo se refere ao desejo de prazer dos seres humanos. Fazemos coisas que parecem boas. Se algo parece bom, fazemos novamente. A atividade sexual é um bom exemplo de hedonismo. Ainda que o sexo seja crucial para a sobrevivência da espécie, as pessoas se envolvem em uma variedade de comportamentos sexuais mesmo quando não que- rem se reproduzir. A ideia de que o prazer motiva o comportamento ajuda a compreender os críticos das teorias de impulso biológico (como Clark Hull). Se os impulsos biológicos expli- cam todos os comportamentos, por que os animais se envolvem em comportamentos que não necessariamente satisfazem a necessidades biológicas? Esses comportamentos, como comer a sobremesa quando você não está com fome, comumente ocorrem porque são agradáveis (Cabanac, 1992). Ou seja, o incentivo para apreciar o sabor motiva a in- gestão de determinados alimentos, independentemente do seu estado de fome. De uma perspectiva evolucionista, os incentivos positivos e negativos são adap- tativos. Somos motivados a abordar determinadas coisas e evitar outras. Por exem- plo, as pessoas experimentam motivação de abordagem para procurar por comida, sexo e companheirismo porque geralmente estão associados ao prazer. Por sua vez, a motivação de evitação encoraja as pessoas a evitar desfechos negativos, como ani- mais perigosos, por causa da sua associação à dor (Watson, Wiese, Vaidya, & Tellegen, 1999). Um bom exemplo desse princípio é a constatação de que a maior parte dos animais prefere comer doces. As crianças que receberam bebidas doces pareceram achá-las agradáveis, como foi revelado por suas expressões faciais (Steiner, 1977; FIG. 10.24). A doçura geralmente indica que os alimentos são seguros de se comer. Em contraste, a maior parte dos venenos e toxinas tem sabor amargo, por isso não é surpreendente que os animais evitem tais sabores. As pessoas definem objetivos a serem alcançados O que você gostaria de estar fazendo daqui a 10 anos? Que coisas mudaria em si mesmo? Até agora, focamos na motivação para atender objetivos a curto prazo, como satisfazer nossa fome ou passar uma tarde agradável. Mas as pessoas também têm aspirações a longo prazo. Essas aspirações podem não ser tão interessantes quanto os sonhos olímpicos de Gabby Douglas, mas importam muito para o indivíduo. O que motiva as pessoas a cumprir esses objetivos? Na década de 1930, o psicólogo da personalidade Henry Murray propôs 27 ne- cessidades psicossociais básicas, incluindo as necessidades de poder, autonomia, realização e recreação. O estudo das necessidades psicossociais tem rendido impor- tantes insights sobre o que motiva o comportamento humano. Um aspecto-chave é que as pessoas são especialmente motivadas a alcançar objetivos pessoais. A autorre- gulação do comportamento é o processo pelo qual as pessoas mudam seu comporta- mento para alcançar objetivos pessoais. Capítulo 10 Emoção e motivação 429 Bons objetivos motivam as pessoas a trabalhar duro. Mas o que é um bom objetivo? Os psicólogos organizacionais Edwin Locke e Gary Latham (1990) desen- volveram uma influente teoria. De acordo com eles, objetivos desafiadores e especí- ficos são os melhores, contanto que não sejam muito difíceis. Objetivos desafiadores incentivam o esforço, a persistência e a concentração. Em contraste, objetivos que são muito fáceis ou muito difíceis podem minar a motivação e, portanto, levar ao fra- casso. Dividir objetivos específicos em passos concretos também leva ao sucesso. Se você está interessado em correr a Maratona de Boston, por exemplo, o seu primeiro objetivo pode ser ganhar resistência para correr 1,6 km. Quando puder correr essa distância, você pode definir outro objetivo e, assim, fortalecer-se até correr a marato- na de 42 km. Concentrar-se em objetivos concretos a curto prazo facilita o alcance de objetivos a longo prazo. AUTOEFICÁCIA E MOTIVO PARA A REALIZAÇÃO Albert Bandura (1977) argumentou que as expectativas pessoais das pessoas para o sucesso desempenham um papel im- portante na motivação. Por exemplo, se você acredita que estudar muito vai levar a uma boa nota em um exame, será motivado a estudar. A autoeficácia é a expectativa de que seus esforços vão levar ao sucesso. Essa expectativa ajuda a mobilizar suas energias. Se você tem baixa autoeficácia – isto é, se você não acredita que seus esforços serão re- compensados – pode se sentir muito desanimado até mesmo para estudar. As pessoas com alta autoeficácia muitas vezes estabelecem objetivos desafiadores que levam ao sucesso. Outras vezes, porém, as pessoas cujas ideias sobre si mesmas são infladas estabelecem objetivos que não podem alcançar. Mais uma vez, objetivos que sejam de- safiadores, mas não opressivos, geralmente são mais propícios ao sucesso. As pessoas diferem em quão insistentemente perseguem objetivos desafiadores. O motivo para a realização é o desejo de fazer bem em relação a padrões de excelên- cia. Em comparação àqueles com baixa motivação para a realização, os alunos ricos em motivação para a realização se sentam mais na frente da sala de aula, têm maior pontuação nos exames e obtêm melhores notas em cursos relevantes para seus obje- tivos de carreira (McClelland, 1987). Os alunos com alta motivação para a realização são mais realistas em suas aspirações de carreira do que aqueles com baixa. Estabe- lecem objetivos pessoais ambiciosos, mas alcançáveis, enquanto aqueles pobres em motivação para a realização definem objetivos extremamente fáceis ou impossivel- mente altos. ADIAR A GRATIFICAÇÃO Um desafio comum na autorregulação é adiar a gratificação imediata em busca de objetivos a longo prazo. Por exemplo, os estudantes que querem FIGURA 10.24 Motivação precoce. Como estas fotos revelam, até mesmo recém- -nascidos preferem sabores doces a amargos. Face em repouso 1 2 Reação à água destilada 3 Reação a estímulosdoces 4 Reação a estímulos azedos 5 Reação a estímulos amargos 430 Ciência psicológica ser aceitos na faculdade muitas vezes precisam ficar em casa e estudar enquanto seus amigos estão se divertindo. Em uma série de estudos, o psicólogo do desenvolvimento Wal- ter Mischel deu a crianças as escolhas de esperar para receber um brinquedo ou alimento favorito ou ter de imediato um brinquedo ou alimento menos preferido (Mischel, 1961). Mischel descobriu que al- gumas crianças são melhores em adiar a gratificação do que outras. Além disso, a capacidade de adiar a gratificação é preditiva de sucesso na vida. As crianças capazes de adiar a gratificação aos 4 anos foram classificadas 10 anos mais tarde como socialmente mais competentes e mais capazes de lidar com a frustração. Encontrou-se que a capacidade de adiar a gratificação na infância prediz maiores escores no SAT e me- lhores notas na escola (Mischel, Shoda, & Rodriguez, 1989). Um estudo de seguimento de 40 anos descobriu que a capacidade de adiar a grati- ficação manteve-se estável até a idade adulta (Casey et al., 2011). Esses pesquisadores também realizaram um estudo com imagens cerebrais em que os participantes tiveram que inibir a resposta a um estímulo gratificante. Aqueles com uma baixa capacidade de adiar a gratificação quando crianças apresentaram maior atividade em regiões de recom- pensa do encéfalo quando adultos ao tentar não responder a um estí- mulo gratificante. Esses achados indicam que a incapacidade de adiar a gratificação e controlar o comportamento na infância pode ter impli- cações ao longo da vida. De fato, um estudo da Nova Zelândia descobriu que o autocontrole na infância predisse uma melhor saúde física e fi- nanças pessoais, menos abuso de substâncias e menos infrações penais aos 32 anos (Moffitt et al., 2011). Nos já clássicos estudos de Mischel, como algumas crianças con- seguem adiar a gratificação? Dada a escolha entre comer um marsh- mallow de imediato ou comer dois após alguns minutos, algumas crianças esperaram e utilizaram estratégias para ajudá-las a não comer o marshmallow enquanto esperavam. Uma estratégia foi simplesmente ignorar o item tentador, em vez de olhar para ele. Algumas crianças taparam seus olhos ou desviaram o olhar. As muito pequenas tendem a olhar diretamente para o item a que estão tentando resistir, tornando o adiar especialmente difícil. A estratégia relacionada era a autodistração, cantando, brincando ou fingindo dormir. A estratégia mais bem-sucedida envolveu o que Mischel e seu cole- ga Janet Metcalfe (1999) chamaram de transformar cognições quentes em cognições frias. Essa estratégia envolve transformar mentalmente o objeto desejado em algo indesejado. Em um estudo, crianças relataram imaginar um pretzel tentador como um tronco marrom ou imaginar marshmallows como nuvens (FIG. 10.25). As cognições quentes focam nos aspectos gratificantes e agradáveis dos objetos. As cognições frias focam nos significados conceituais ou simbólicos. Metcalfe e Mischel (1999) propuseram que essa distinção quente/frio é baseada em como o cérebro processa a informação. Como discutido no Capítulo 3, as regiões subcorticais do encéfalo, como a amígdala e o nucleus accumbens, são importantes para motivar o comportamento. O córtex pré-frontal executa processos cognitivos frios, como o controle do raciocínio e do comportamento. As pessoas têm necessidade de pertencimento Durante o curso da evolução humana, nossos antepassados que viveram com outras pessoas eram mais propensos a sobreviver e passar adiante seus genes. As crianças que ficavam com adultos (e não eram deixadas sozinhas) tinham maior propensão a sobreviver até seus anos reprodutivos porque os adultos as protegiam e alimentavam. Do mesmo modo, os adultos capazes de desenvolver relacionamentos comprometi- dos de longo prazo tinham maior probabilidade de se reproduzir e ter descendentes que sobreviveriam para se reproduzir. Grupos eficazes compartilham alimentos, for- necem companheiros e ajudam a cuidar dos filhos, incluindo órfãos. Algumas tarefas de sobrevivência (como caçar grandes mamíferos ou vigiar contra inimigos preda- dores) foram mais bem realizadas pela cooperação em grupo. Por isso, faz todo o 1 Transformar cognições quentes em cognições frias 2 Ignorar 3 Autodistração Cognição fria: nuvens neutras Cognição quente: marshmallows saborosos Cognição quente: marshmallows saborosos Cognição quente: marshmallows saborosos FIGURA 10.25 Adiar a gratificação. Estas três técnicas ajudam uma pessoa a adiar uma gratificação. Capítulo 10 Emoção e motivação 431 sentido que, ao longo dos milênios, os humanos tenham se comprometido a viver em grupos. Roy Baumeister e Mark Leary (1995) formularam a teoria da necessidade de pertencimento, que afirma que a necessidade de apego interpessoal é um motivo fundamental que evoluiu para fins adaptativos. FAZER E MANTER AMIGOS A teoria da necessidade de pertencimento explica a facili- dade com que a maior parte das pessoas faz amigos (FIG. 10.26). As sociedades dife- rem em seus tipos de grupos, mas todas as sociedades têm alguma maneira de forma- ção de grupos (Brewer & Caporael, 1990). Não pertencer a um grupo aumenta o risco da pessoa de ter várias consequências adversas, como doenças e morte prematura (Cacioppo, Hughs, Waite, Hawkley, & Thisted, 2006). Esses efeitos negativos sugerem que a necessidade de pertencimento é um motivo básico a impulsionar um comporta- mento, assim como a fome leva as pessoas a procurar comida e evitar morrer de fome. Se os seres humanos têm uma necessidade fundamental de pertencimento, eles precisam ter alguma maneira de saber se estão incluídos em grupos específi- cos (MacDonald & Leary, 2005). Em outras palavras, dada a importância de ser um membro do grupo, as pessoas precisam ser sensíveis a sinais de que o grupo poderia expulsá-las. De fato, as evidências indicam que os indivíduos ficam ansiosos quando confrontados com a exclusão de seus grupos sociais. Além disso, as pessoas que são tímidas e solitárias tendem a se preocupar mais com a avaliação social e prestam muito mais atenção às informações sociais (Gardner, Pickett, Jefferis, & Knowles, 2005). A mensagem a se levar para casa é que, assim como a falta de comida traz fome, a falta de contato social provoca vazio e desespero. No filme Náufrago, o per- sonagem de Tom Hanks fica preso em uma ilha deserta e tem uma forte necessidade de companhia; assim, ele começa uma amizade com uma bola de voleibol que chama de Wilson (por causa do fabricante, cujo nome está na bola). Como observado pela crítica de cinema Susan Stark (2000), essa bola nos convence de que “a companhia humana, tanto quanto o abrigo, a água, os alimentos e o fogo, são essenciais para a vida como a maior parte de nós a entende”. ANSIEDADE E AFILIAÇÃO Você gosta de estar perto de outras pessoas quando está ansioso ou prefere evitá-las? Em um estudo clássico, o psicólogo social Stanley Scha- chter (1959) manipulou os níveis de ansiedade e, em seguida, mediu a quantidade de participantes, todas do sexo feminino, que preferiam estar perto de outras pessoas. As participantes desses estudos acreditavam que faziam parte de um estudo psico- lógico de rotina. “Dr. Zilstein”, um homem de aparência fria e séria, com um sotaque vagamente europeu, as cumprimentava no laboratório. Depois de explicar que era da escola de neurologia e psiquiatria, o médico dizia que o estudo envolvia medir “os efeitos fisiológicos de choque elétrico”; Zilstein dizia às participantes que iria conectá- -las a alguns equipamentos elétricos e, em seguida, administrar corrente elétrica em sua pele. Àquelas na condição de baixa ansiedade foi dito que os choques seriam indolores, não produzindo mais do que cócegas. Àquelas na condição de alta an- siedade foi dito: “Esses choques vão doer; serão bastante dolorosos. Como você pode imaginar, se estamos querendo aprender alguma coisa que vai realmenteajudar a humanidade, é necessário que nossos cho- ques sejam intensos. Esses choques serão muito dolorosos mas, é claro, não trarão nenhum dano permanente”. Como você pode imaginar, as participantes que ouvi- ram esse discurso ficaram bastante teme- rosas e ansiosas. Zilstein depois disse que precisava de um tempo para configurar seu equipamen- to, de modo que haveria um período de 10 minutos antes de os choques começarem. Nesse momento, ofereceu-se às participan- tes uma escolha: elas poderiam passar o Teoria da necessidade de pertencimento Teoria de que a necessidade de vínculos interpessoais é um motivo fundamental que evoluiu para fins adaptativos. FIGURA 10.26 Fazendo amigos. A faculdade oferece muitas oportu- nidades para fazer amigos. Os alunos do primeiro ano costumam fa- zer amizades duradouras dentro de dias depois de entrar no campus. 432 Ciência psicológica tempo de espera sozinhas ou com outras pessoas. Essa escolha foi a principal medi- da dependente. Após feita a escolha, o experimento havia acabado. Ninguém recebeu choque. Schachter descobriu que o aumento na ansiedade levou a um aumento nas motivações por parceria: aquelas na condição de alta ansiedade eram muito mais propensas a querer esperar com outras pessoas (ver “Pensamento científico: Estudo de Schachter sobre a ansiedade e a parceria”). Assim, o sofrimento parece amar companhia. Mas será que o sofrimento ama qualquer companhia? Outro estudo revelou que os participantes com alta ansieda- de queriam esperar apenas com outros participantes com alta ansiedade, não com pessoas que supostamente estavam esperando apenas para ver seus supervisores de pesquisa. Assim, o sofrimento adora companhia que sofre, não qualquer uma. Por que as pessoas em uma situação estressante preferem estar perto de outras na mesma situação? De acordo com Schachter, outras pessoas fornecem informa- ções que ajudam a avaliar se estamos agindo de maneira adequada. De acordo com a teoria da comparação social, de Leon Festinger (1954), somos motivados a ter informações precisas sobre nós mesmos e os outros. Comparamo-nos àqueles que nos rodeiam para testar e validar crenças pessoais e respostas emocionais. O efeito ocorre especialmente quando a situação é ambígua e podemos nos comparar com pessoas relativamente semelhantes a nós. Pensamento científico Estudo de Schachter sobre a ansiedade e a parceria HIPÓTESE: A sensação de ansiedade leva as pessoas a desejar a companhia de outras pessoas. MÉTODO DE PESQUISA: As participantes, todas do sexo feminino, foram informadas de que seriam conectadas a equipamentos que administrariam corrente elétrica em sua pele. Algumas participantes foram informadas de que os choques seriam indolores. A outras foi dito que os choques seriam muito dolorosos. Todas as participantes foram então questionadas se queriam esperar sozinhas ou junto com outras pessoas enquanto o aparelho estava sendo preparado. RESULTADOS: As participantes que foram informadas de que os choques seriam dolorosos (a condição de alta ansiedade) tinham uma propensão muito maior a querer esperar junto com outras pessoas. Porcentagem de participantes que escolheu esperar com outros Baixa ansiedade Alta ansiedade Condição 0 20 40 60 80 CONCLUSÃO: O aumento na ansiedade leva a um aumento da motivação em estar com outras pessoas, ao menos em mulheres. FONTE: Schachter, S. (1959). The psychology of affiliation. Stanford, CA: Stanford University Press. Capítulo 10 Emoção e motivação 433 Resumindo O que motiva as pessoas? � A motivação dá energia, direciona e sustenta o comportamento. � Maslow descreveu uma hierarquia de necessidades: as pessoas em primeiro lugar devem sa- tisfazer necessidades inferiores, como a fome e a sede, antes de satisfazer as necessidades de segurança, sociais, de estima e de realização pessoal. � As necessidades surgem de estados de deficiência biológica ou social. Os impulsos são esta- dos psicológicos que criam alerta e motivam comportamentos voltados a satisfazer necessida- des. � Os impulsos ajudam a manter a homeostase – isto é, o equilíbrio das funções corporais. � A lei de Yerkes-Dodson sugere que se as pessoas estão pouco alertas ou muito alertas, seu desempenho irá cair. � As pessoas também são motivadas por incentivos, que são objetos ou objetivos externos. � Alguns incentivos são motivados extrinsecamente (direcionados a uma recompensa externa). Outros são motivados intrinsecamente (são direcionados a uma recompensa interna ou sim- plesmente são agradáveis). � Fornecer às pessoas recompensas extrínsecas pode minar a motivação intrínseca. � Segundo pesquisas, a motivação mais bem-sucedida vem de objetivos que são desafiadores e específicos, mas não excessivamente difíceis. � As pessoas que são ricas em autoeficácia e têm uma alta motivação para a realização apresen- tam maior propensão a estabelecer para si próprias objetivos ambiciosos, mas alcançáveis. � As pessoas que são capazes de adiar a gratificação têm maior propensão a relatar desfechos de sucesso mais tarde na vida. � A teoria da necessidade de pertencimento sugere que as pessoas têm uma necessidade fundamental de estabelecer vínculos interpessoais. A necessidade de pertencimento explica a facilidade com que as pessoas fazem amigos, sua sensibilidade à exclusão social, os senti- mentos negativos causados na ausência de contato social e os esforços para se aproximar de outras pessoas quando estão ansiosas. Avaliando 1. Organize os níveis da hierarquia de necessidades de Maslow na ordem correta, com as neces- sidades inferiores na parte mais baixa; em seguida, combine cada exemplo com o nível correto. Necessidades: a. pertencimento e amor b. realização pessoal c. necessidades psicológicas d. estima e. segurança Exemplos: 1. Você é privado de sono. 2. Você está sendo ameaçado fisicamente por um valentão. 3. Você está prestes a fazer um exame de uma matéria em que está quase sendo reprovado. 4. Você acabou de se mudar para uma cidade nova, onde conhece poucas pessoas. 5. Você é um poeta realizado empenhado em escrever um novo livro de poemas. 2. Indique se a motivação em cada um dos cenários a seguir é intrínseca ou extrínseca. a. Mary gosta tanto de ler seu livro de psicologia que está lendo até mesmo os capítulos que a professora não pediu. b. Natasha está lendo seu livro de psicologia para conseguir uma boa nota no exame e nunca leria um capítulo sequer se a professora não tivesse pedido. c. A maior parte das crianças gosta de ler e vai fazê-lo pelo simples prazer da leitura. d. Como parte de um plano para aumentar a leitura em crianças, uma bibliotecária premiará a criança que ler a maior parte dos livros durante o verão. RESPOSTAS: (1) Níveis do mais baixo ao mais alto: c, e, a, d, b. Os exemplos são 1. necessidades psicoló- gicas; 2. segurança; 3. estima; 4. pertencimento e amor e 5. realização pessoal. (2) a. intrínseca; b. extrínseca; c. intrínseca; d. extrínseca. 434 Ciência psicológica 10.4 O que motiva alguém a comer? Um dos maiores prazeres da vida é comer, e nós o fazemos bastante. A maior parte das pessoas nos países industrializados consome entre 80 mil e 90 mil refeições durante suas vidas, mais de 40 toneladas de alimentos! Todo mundo precisa comer para sobreviver, mas comer envolve muito mais do que simplesmente a sobrevivên- cia. Em todo o mundo, ocasiões especiais muitas vezes envolvem festas elaboradas, e grande parte do mundo social gira em torno do comer. O senso comum assume que a maior parte do comer é fortemente influenciada por um impulso de fome biológica e saciedade. Ou seja, as pessoas comem quando sentem fome e param quando estão saciadas. Algumas, no entanto, comem muito, mesmo quando não estão com fome, ou não param de comer quando estão sacia- das. Outras evitam comer mesmo que não estejam saciadas. Em outras palavras, comer envolve tanto impulsos quanto incentivos. A fome impulsiona a comer, maso que as pessoas comem muitas vezes é determinado por aquilo de que gostam. Quais interações complexas entre biologia, influências culturais e cognição determinam o comportamento alimentar? Muitos fatores fisiológicos influenciam a alimentação Os animais precisam comer para manter as funções vitais do corpo. Assim, talvez não seja surpreendente que muitos mecanismos biológicos diferentes incentivem a alimentação. O hipotálamo (ver a Fig. 3.24) é a estrutura do encéfalo que mais in- fluencia a alimentação. Apesar de não agir sozinho, ele integra as várias mensagens inibitórias e excitatórias que regulam a alimentação e organiza os comportamentos envolvidos na alimentação. Na primeira metade do século XX, pes- quisas revelaram que, dependendo da área específica danificada, danos ao hipotálamo mudam drasticamente o comportamento ali- mentar e o peso corporal. Uma das primeiras observações ocorreu em 1939, quando pesquisadores descobriram que pacientes com tumores do hipotálamo se tornaram obesos (Greene, 1939). Para examinar se a obesidade pode ser induzida em animais de peso normal, os pesquisadores danificaram seletivamente re- giões específicas do hipotálamo de camundongos (Graff & Stellar, 1962). Quando o meio, ou região ventromedial do hipotálamo (VMH), era danificado, os camundongos comiam grandes quanti- dades de alimentos. Essa condição, a hiperfagia, fazia com que os camundongos com lesões no VMH se tornassem extremamente obesos. Às vezes, os danos ao VMH podem causar obesidade em seres humanos (FIG. 10.27). Em contraste, quando a região exterior, ou lateral, do hipotála- mo (LH) é danificada, os camundongos comem muito menos do que o normal. Essa condição, a afagia, leva a perda de peso e morte a menos que o camundongo seja alimentado à força. Porém, a ideia de que o VMH sinaliza plenitude e o LH sinaliza fome é demasiadamen- te simplista. Em vez disso, o hipotálamo monitora vários hormônios e nutrientes e opera de modo a manter um estado de homeostase. Também, outras estruturas cerebrais além do hipotálamo estão envolvidas no comportamento alimentar. Por exemplo, uma região do córtex pré-frontal processa sinais gustativos, como a do- çura e a salinidade (Rolls, 2007). Esses sinais indicam o potencial valor de recompensa de alimentos específicos. O desejo desenca- deado por ver uma comida saborosa está associado à atividade do sistema límbico (Volkow, 2007). Como discutido anteriormente neste capítulo, o sistema límbico é a principal região do encéfalo envolvida na emoção e na recompensa (FIG. 10.28). Danos ao sistema límbico ou ao lobo frontal direito às vezes produzem a síndrome de gourmand, em que as pessoas se tornam obcecadas pela qualidade e variedade de alimentos e pelo modo como o alimento é preparado. Um homem de 48 anos que tinha sofrido um acidente vascular cerebral cresceu preocupado com a Objetivos de aprendizagem � Identificar as estruturas neurais associadas à alimentação. � Descrever as teorias glicostática e lipostática da alimentação. � Discutir o papel desempenhado pelos hormônios na regulação do comportamento alimentar. � Discutir o impacto do horário, do gosto e da aprendizagem cultural no comportamento alimentar. (b) (a) FIGURA 10.27 Hiperfagia em humanos. (a) Em 2012, Alexis Shapiro passou por uma cirurgia cerebral que acidentalmente danificou seu hipotálamo. (b) Esse dano fez com que ela sentisse fome extrema o tempo todo, mesmo tendo se tornado obesa. Capítulo 10 Emoção e motivação 435 comida e, por fim, deixou seu trabalho como correspondente político para se tornar um crítico gastronômico (Regard & Landis, 1997). Apesar de seu fascínio pela boa comida e sua preparação, aqueles com síndrome de gourmand não são obcecados com a alimentação. Eles não necessariamente se tornam obesos. Sua obsessão pare- ce centrar-se nas propriedades de recompensa dos alimentos. SENSAÇÕES INTERNAS Durante muito tempo, os cientistas acreditaram que comer era um sistema homeostático clássico. Em outras palavras, como discutido anterior- mente, algum tipo de detector no hipotálamo notaria desvios em relação ao ponto definido e sinalizaria que o animal deveria começar ou parar de comer. Mas de onde vêm os sinais de fome? A busca por detectores de depleção de energia levou cientistas do estômago para o fluxo sanguíneo do cérebro. As contrações e distensões do estômago podem fazer o órgão roncar. Ao longo do século passado, no entanto, pesquisas demonstraram que esses movimentos são de- terminantes relativamente menores da fome e da alimentação. Na verdade, as pessoas que tiveram seus estômagos removidos continuaram relatando estar com fome. Outra pesquisa apontou para a existência de receptores no sangue que monitoram os níveis de nutrientes vitais. A teoria glicostática propõe que a corrente sanguínea é monito- rizada analisando seus níveis de glicose (Mayer, 1953). Como a glicose é o principal combustível para o metabolismo e é especialmente crucial para a atividade neuronal, faz sentido que os animais fiquem com fome quando estão com déficit de glicose. Do mesmo modo, a teoria lipostática propõe um nível preestabelecido para a gordura corporal. Nesse cenário, quando um animal perde gordura corporal, sinais de fome motivam a alimentação e um retorno ao nível preestabelecido (Mayer 1955). ATIVIDADE HORMONAL O hormônio leptina está envolvido na regulação da gordu- ra. A leptina é liberada pelas células adiposas conforme mais gordura é armazenada. A leptina viaja para o hipotálamo, onde atua inibindo o comportamento alimentar. Algumas evidências indicam que a leptina pode afetar as propriedades de recompen- sa dos alimentos e torná-los menos apetitosos (Farooqi et al., 2007). Contudo, uma vez que ela atua lentamente, existe um atraso significativo depois da alimentação até que que haja alteração nos níveis de leptina no corpo. Portanto, ela pode ser mais im- portante para a regulação da gordura corporal a longo prazo do que para o controle alimentar a curto prazo. Animais sem os genes necessários para produzir leptina se tornam obesos, e a injeção do hormônio nesses animais leva a uma rápida perda de gordura corporal (Friedman & Halaas, 1998). O hormônio grelina origina-se no estômago. Ele surge antes das refeições e diminui após as pessoas comerem; por isso, pode desempenhar um papel importan- te em desencadear a alimentação (Abizaid, 2009; Higgins, Gueorguiev, & Korbonits, 2007). Quando as pessoas perdem peso, o aumento na grelina as motiva a comer mais de uma maneira homeostática (Zorrilla et al., 2006). A quantidade em que algum hormônio contribui para a obesidade humana não é clara. Consideráveis pesquisas estão em andamento para descobrir se a manipulação hormonal pode ajudar a prevenir ou tratar a obesidade. Como você verá no Capítulo 11, muitos fatores – de genes a cultura e a maus hábitos alimentares – contribuem para a obesidade. Você também vai entender por que a maior parte das pessoas que faz dieta tem problemas para perder peso e manter-se magras. O comer é influenciado pelo horário e pelo sabor A alimentação é muito afetada pela aprendizagem. Considere que a maior parte das pessoas almoça aproximadamente no mesmo horário, em algum momento entre meio-dia e 14 horas. Fisiologicamente, essa prática faz pouco sentido, porque os indivíduos são muito diferentes em suas taxas metabólicas, quantidade de alimentos ingeridos no café da manhã e quantidades de gordura que tem armazenada para as necessidades de energia a longo prazo. No entanto, as pessoas geralmente não se ali- mentam porque estão com déficit nos estoques de energia. Elas comem porque foram classicamente condicionadas a associar a alimentação com refeições regulares. O relógio indicando o horário das refeições é muito parecido com o metrônomo de Pavlov. Ou seja, as refeições levam a várias respostas antecipatórias que motivam o comportamento alimentar e preparam o corpo para a digestão. Por exemplo,um au- mento na insulina promove o uso da glicose e aumenta os sinais de fome a curto prazo. FIGURA 10.28 As proprie- dades de recompensa dos alimentos. Essas refeições “de aparência refinada” parecem saborosas ou elas apenas parecem estranhas? A maneira como você responde a determinados tipos de alimentos está, naturalmente, relacionada com o tipo de alimento com o qual está acostuma- do. É também parcialmente biológico. Se você está sen- tindo desejo ao ver estas imagens, a sua reação está relacionada com a atividade em seu sistema límbico, a principal região do cérebro envolvida na recompensa. 436 Ciência psicológica A visão e o cheiro de alimentos saborosos podem ter o mesmo efeito. O simples de pensar em deleites – pão recém-saído do forno, pizza, uma sobremesa irresistível – pode desencadear reações corporais que induzem à fome. O principal fator que motiva a alimentação é o sabor – não apenas a comida de bom sabor, mas a variedade de sabores. Os animais, incluindo os seres humanos, irão parar de comer de maneira relativamente rápida se tiverem ape- nas um tipo de alimento, mas continuarão comendo se forem apresentados a um tipo diferente de alimento. Assim, ten- dem a comer mais quando vários alimentos estão disponí- veis do que quando há apenas um ou dois tipos (FIG. 10.29). Uma razão pela qual os animais comem mais quando apresentados a uma variedade de alimentos é que eles rapi- damente se cansam de um sabor. Esse fenômeno é chamado de saciedade sensorial específica. A região dos lobos frontais que está envolvida na avaliação do valor da recompensa dos alimentos exibe diminui- ção na atividade quando o mesmo alimento é ingerido mais e mais, mas mostra maior atividade quando um novo alimento é apresentado (Rolls, 2007). Esse aumento na ati- vidade que incentiva a continuar comendo pode explicar o comportamento das pessoas durante a celebração de festas ou em buffets. Por exemplo, no feriado de Ação de Graças, os norte-americanos notoriamente se empanturram. Eles estão a ponto de não conseguir nem imaginar dar outra mordida no peru; no entanto, quando a sobremesa chega, muitas vezes encontram espaço para uma fatia – ou duas – de torta de abóbora ou de nozes para terminar a refeição. De uma perspectiva evolucionária, a saciedade sensorial específica pode ser vantajosa porque os animais que comem muitos tipos de alimentos têm maior propensão a satisfazer os requisitos nutricionais e, assim, sobre- viver do que os animais que dependem de uma pequena variedade de alimentos. Além disso, fazer grandes refeições pode ter sido adaptativo quando o suprimento de comida era escasso ou imprevisível. A cultura influencia O que as pessoas comem tem pouco a ver com a lógica e tudo a ver com o que elas acreditam que é comida. Alimentos nu- tritivos como cupins fritos são os prediletos no Zaire e tem mais proteína do que a carne, mas os norte-americanos os acham nojentos. Aranhas e outros insetos são nutritivos e em muitos países são comidos como iguarias (FIG. 10.30). Mesmo quando as pessoas estão morrendo de fome, elas vão se recusar a comer substâncias perfeitamente nutritivas. Em Nápoles, em 1770, as pessoas morreram porque suspeita- ram das batatas enviadas para aliviar sua fome. Na Irlan- da, durante a fome da batata (1845-1852), muitas pessoas morreram porque se recusaram a comer o milho enviado da América. Em Bengala, em 1943, três milhões de pessoas morreram apesar de terem recebido trigo, que eles rejeita- ram porque esse não era um alimento com o qual estavam familiarizados. O que as pessoas vão comer é determinado por uma combinação de experiên- cias pessoais e crenças culturais. Os bebês têm uma preferência inata por doces, mas podem aprender a gostar de qualquer coisa. Geralmente, a familiaridade deter- mina as preferências alimentares (FIG. 10.31). A evitação de alimentos desconheci- dos faz grande sentido evolutivamente, porque alimentos desconhecidos podem ser perigosos ou venenosos. Assim, evitá-los é adaptativo para a sobrevivência (Galef & Whiskin, 2000). Fazer com que as crianças gostem de alimentos novos muitas vezes envolve expô-las a pequenas quantidades de cada vez, até que se acostumem com o sabor. Lactentes e crianças também aprendem a experimentar alimentos observando seus pais e irmãos. As crianças são muito mais propensas a comer um novo alimento oferecido por suas mães do que a mesma comida oferecida por um estranho amigá- vel. Esse comportamento, também, faz todo o sentido do ponto de vista evolutivo. Afinal, se a mãe come algo, deve ser seguro comê-lo. FIGURA 10.29 Impacto da variedade no comporta- mento alimentar. Quando as pessoas são apresen- tadas a uma variedade de alimentos, elas tendem a comer mais do que quando são apresentadas a apenas alguns alimentos. FIGURA 10.30 Quitutes saborosos. Grilos são um petisco popular entre os cambojanos. Quais fatores poderiam influenciar você a comer ou recusar o grilo frito sendo oferecido por esse vendedor em Phnom Penh? Capítulo 10 Emoção e motivação 437 Obviamente, o que uma mãe ou um pai prefere co- mer é determinado pela sua própria educação e expe- riências. Portanto, as famílias tendem a gostar de tipos específicos de alimentos. As diferenças étnicas na prefe- rência alimentar muitas vezes persistem quando a famí- lia se muda para um novo país. Embora muitas vezes as pessoas desfrutem de alimentos de novas etnias, em suas dietas regulares a maior parte das pessoas prefere os ali- mentos de sua própria cultura. Como Paul Rozin (1996) aponta, as regras culturais governam quais alimentos são apropriados em diferentes contextos. Por exemplo, a maior parte das pessoas da América do Norte gosta de chocolate e batatas fritas, mas poucas pessoas os comem juntos. As normas locais para o que comer e como prepa- rar os alimentos – diretrizes que Rozin chama de cuisine – reforçam muitas preferências alimentares. Além disso, os valores religiosos e culturais muitas vezes dizem às pessoas quais alimentos evitar. Por exemplo, aqueles que seguem a lei dietética judaica comem carne de vaca, mas não de porco nem mariscos. Alguns hindus comem car- ne de porco, mas não de vaca, e outros são vegetarianos. Tabus sobre determinados tipos de alimentos podem ter sido adaptativos no passado, porque esses alimentos podiam conter bactérias nocivas. Contudo, muitos tabus e preferências alimentares são idiossincráticos e não têm nada a ver com evitar danos. Simplesmente refletem uma preferência do grupo evoluída para alimentos específicos, preparados e consumidos de determinadas maneiras. A preferência por alimentos é determinada pela familiaridade. Resposta Evitação Ingestão Quantidade de vezes exposto a um alimento Poucas Muitas FIGURA 10.31 Impacto da cultura no comportamento alimentar. Como este gráfico ilustra, os animais, incluin- do seres humanos, tendem a gostar da comida que eles conhecem e a evitar o alimento desconhecido. Resumindo O que motiva alguém a comer? � Diversas estruturas neurais estão associadas ao comportamento alimentar, incluindo os lobos frontais, o hipotálamo, o córtex pré-frontal e o sistema límbico. � Foram propostas duas teorias para explicar o comportamento alimentar: a teoria glicostá- tica e a teoria lipostática. A teoria glicostática sustenta que a alimentação é controlada por receptores na corrente sanguínea que monitoram os níveis de glicose – o principal com- bustível metabólico do corpo. A teoria lipostática afirma que a alimentação é regulada de modo a manter um nível preestabelecido de gordura corporal. � Encontrou-se que dois hormônios são de importância crucial para o comportamento ali- mentar: a leptina e a grelina. A leptina está associada à regulação da gordura corporal a longo prazo. A grelina motiva o comportamento alimentar. � A alimentação é fortemente afetada pela aprendizagem. Por meio do condicionamento clássico, as pessoas associam a alimentação a refeições regulares. �A saciedade sensorial específica evoluiu em animais para incentivar o consumo de alimen- tos que contêm diversos nutrientes. Em razão desse mecanismo, as pessoas rapidamente se cansam de um único sabor. � O que as pessoas comem é grandemente influenciado por regras culturais sobre quais alimentos são apropriados para comer em diferentes contextos. Avaliando Imagine que você é convidado a projetar um programa para pessoas que precisam perder peso. Com base nas informações deste capítulo sobre os processos que regulam a alimen- tação, que sugestões você daria em cada uma das áreas a seguir? 1. Efeitos do horário sobre a alimentação a. Incentivar as pessoas a comer quando sentirem fome, não olhando para o relógio. b. Incentivar as pessoas a comer em horários fixos, independentemente dos níveis de fome. 438 Ciência psicológica 10.5 O que motiva o comportamento sexual? O desejo sexual tem sido reconhecido como um dos motivadores mais duráveis e po- derosos da humanidade. A maior parte dos seres humanos tem um desejo significa- tivo por sexo, mas os impulsos sexuais variam substancialmente entre os indivíduos e as circunstâncias. A variação na frequência sexual pode ser explicada pelas dife- renças individuais e pela influência dominante da sociedade sobre como e quando os indivíduos se envolvem na atividade sexual. Esta seção examina o que a ciência psicológica tem aprendido sobre a motivação para o sexo. A biologia influencia o comportamento sexual Como discutido no Capítulo 3, os hormônios estão envolvidos na produção e cessa- ção de comportamentos sexuais. Em animais, os hormônios influenciam profunda- mente a atividade sexual. Em muitas espécies, as fêmeas são sexualmente receptivas apenas quando estão férteis, e acredita-se que o estrogênio controle os comportamen- tos reprodutivos. O estrogênio parece desempenhar um papel apenas modesto na sexualidade feminina humana, no entanto, os hormônios afetam o comportamento sexual humano de duas maneiras. Em primeiro lugar, como discutido no Capítulo 9, influenciam o desenvolvimento físico do cérebro e do corpo durante a puberdade. Em segundo lugar, influenciam o comportamento sexual por meio da motivação. Isto é, ativam o comportamento reprodutivo. Dado o importante papel do hipotálamo em controlar a liberação de hormônios na corrente sanguínea, não é nenhuma surpresa que ele seja a região do encéfalo considerada mais importante para estimular o comportamento sexual (FIG. 10.32). Estudos têm mostrado que danificar o hipotálamo de camundongos interrompe o comportamento sexual. No entanto, a área do cérebro danificada que tem maior efeito difere ligeiramente entre machos e fêmeas. Os hormônios sexuais são liberados das gônadas (testículos e ovários), e os homens e as mulheres têm uma determinada quantidade de todos os hormônios sexuais. Mas os homens têm maior atividade de andrógenos do que as mulheres, e estas têm maior atividade de estrogênios e progesterona. Os andrógenos são aparen- temente muito mais importantes para o comportamento reprodutivo do que os estro- gênios, pelo menos para os seres humanos. Em homens e mulheres, a testosterona – um tipo de andrógeno – está envolvida no funcionamento sexual (Sherwin, 2008). Os homens precisam de uma determinada quantidade de testosterona para serem capazes de se envolver no sexo, mas não têm um melhor desempenho se tiverem mais do hormônio. A disponibilidade de testosterona, e não grandes quantidades dela, aparentemente impulsiona o comportamento sexual masculino. Quanto mais testosterona as mulheres têm, maior é a probabilidade de que tenham pensamentos 2. Efeitos culturais sobre a alimentação a. Ensinar grupos culturais e étnicos a preparar versões de baixa caloria de seus alimen- tos habituais. b. Ensinar grupos culturais e étnicos a preparar alimentos de baixa caloria de uma varie- dade de cozinhas. 3. Saciedade sensorial específica a. Não apresentar muita variedade nos alimentos servidos. b. Certificar-se de que cada refeição inclua diversos tipos de alimentos. 4. Qual pesquisa você recomendaria com base nos achados com a leptina? a. Estudar maneiras de induzir o organismo a produzir mais leptina. b. Estudar maneiras de induzir o organismo a produzir menos leptina. RESPOSTAS: (1) a. (2) a. (3) a. (4) a. Objetivos de aprendizagem � Discutir o papel desempenhado pelos hormônios no comportamento sexual. � Identificar os principais neurotransmissores envolvidos no comportamento sexual. � Revisar as quatro fases do ciclo de resposta sexual humana. � Discutir as diferenças sexuais no comportamento sexual e nas preferências por parceiros. � Revisar as teorias contemporâneas de orientação sexual. Capítulo 10 Emoção e motivação 439 e desejos sexuais, embora elas normalmente tenham níveis relativamente baixos do hormônio (Meston & Frohlich, 2000). As adolescentes do sexo feminino com elevação nos níveis de testosterona em relação à média para a sua idade têm maior propensão a se envolver em relações sexuais (Halpern, Udry, & Suchindran, 1997). Outro hormônio importante em homens e mulheres é a oxitocina, que é liberada durante a excitação sexual e orgasmo. Alguns pesquisadores acreditam que a oxitocina pode promover sentimentos de amor e apego entre os parceiros; também parece estar envolvida no comportamento social em termos mais gerais (Bartels & Zeki, 2004). NEUROTRANSMISSORES Os neurotransmissores podem afetar vários aspectos da resposta sexual. Por exemplo, os receptores dopaminérgicos do sistema límbico estão envolvidos na experiência física do prazer, e os receptores dopaminérgicos do hipo- tálamo estimulam a atividade sexual (Pfaus, 2009). A serotonina também está impli- cada no comportamento sexual. Os tratamentos farmacológicos mais comuns para a depressão melhoram a função serotoninérgica, mas reduzem seriamente o interesse sexual, especialmente nas mulheres. Pequenas doses de fármacos que aumentam a serotonina também são úteis para o tratamento da ejaculação precoce. Os pesquisa- dores atualmente não sabem por que esses efeitos ocorrem. Um produto químico que atua como um neurotransmissor no encéfalo e é es- sencial para o comportamento sexual é o óxido nítrico. A estimulação sexual leva à FIGURA 10.32 O hipotála- mo e os hormônios que influenciam o comporta- mento sexual. O hipotála- mo regula o comportamen- to sexual, influenciando a produção dos hormônios sexuais – estrogênios e andrógenos – nos órgãos reprodutivos. Hipotálamo Feedback para o cérebro Para órgãos reprodutivos Testículos Ovários Secretam principalmente estrogênios (como o estradiol) Secretam principalmente andrógenos (como a testosterona) 440 Ciência psicológica sua produção. O aumento no óxido nítrico promove o fluxo sanguíneo para o pênis e clitóris e, subsequentemente, desempenha um importante papel na excitação sexual, especialmente na ereção peniana. Quando esse sistema falha, os homens não são capazes de manter uma ereção. Vários fármacos que melhoram esse sistema, como o Viagra, foram desenvolvidos para o tratamento de disfunções eréteis. Não está cla- ro se esses medicamentos podem ser usados para tratar transtornos sexuais nas mulheres, mas eles parecem melhorar a experiência sexual em mulheres saudáveis (Caruso, Intelisano, Farina, Di Mari, & Agnello, 2003). VARIAÇÕES AO LONGO DO CICLO MENSTRUAL As mulheres diferem dos homens em como o hipotálamo controla a liberação de hormônios sexuais. Nos homens, os hormônios são liberados em um ciclo circadiano, com níveis mais elevados de tes- tosterona na parte da manhã. Nas mulheres, a liberação de hormônios varia de acor- do com um ciclo que se repete aproximadamente a cada 28 dias: o ciclo menstrual. Pesquisas descobriram apenas evidências mínimas de que o comportamento sexual delas varia ao longo do ciclo menstrual. Evidências recentes indicam, no entanto, que as mulheres podem processar a informação social de modo diferente,depen- dendo se estão em uma fase fértil do ciclo. Por exemplo, os pesquisadores usaram um programa de computador para alterar a masculinidade e feminilidade em rostos masculinos (Penton-Voak et al., 1999). Descobriram que, em comparação às prefe- rências expressas em outras fases do ciclo menstrual, durante a ovulação as mulhe- res heterossexuais preferiram os rostos mais másculos. Em outro estudo, mulheres heterossexuais que estavam ovulando avaliaram homens autoconfiantes em vídeos como potenciais parceiros sexuais mais desejáveis, mas as que não estavam ovulan- do não mostraram uma preferência pela autoconfiança (Gangestad, Simpson, Cou- sins, Garver-Apgar, & Christensen, 2004). As consequências cotidianas dessas dife- renças entre as mulheres, e nos homens com quem interagem, são desconhecidas. CICLO DE RESPOSTA SEXUAL Começando na década de 1960, William Masters e Vir- ginia Johnson (1966) realizaram testes laboratoriais sobre o comportamento sexual. Essa pesquisa lhes possibilitou identificar o ciclo de resposta sexual. Esse padrão previsível de respostas físicas e psicológicas consiste em quatro fases (FIG. 10.33). A fase de excitação ocorre quando as pessoas contemplam a atividade sexual ou começam a se engajar em comportamentos como o beijo e o toque sensual. Duran- te essa fase, o sangue flui para os órgãos genitais, e as pessoas relatam sensações de excitação. Nos homens, o pênis começa a ficar ereto. Nas mulheres, o clitóris torna-se inchado, a vagina se expande e secreta fluidos, e os mamilos se ampliam. Conforme a excitação continua na fase de platô, a frequência cardíaca, a fre- quência respiratória e a pressão arterial aumentam, assim como os outros sinais de excitação. Para mui- tas pessoas, essa fase é a fase frenética da atividade sexual. As inibições são perdidas, e a paixão assume o controle. A fase de platô leva à fase do orgasmo. Esta con- siste em contrações involuntárias de músculos do cor- po todo, um aumento drástico na frequência cardíaca e respiratória, contrações rítmicas da vagina nas mu- lheres e ejaculação de sêmen nos homens. Em homens saudáveis, o orgasmo quase sempre ocorre. Entre as mulheres, o orgasmo é mais variável. Quando ocorre, no entanto, as mulheres e os homens relatam sensa- ções de prazer quase idênticas. Após o orgasmo, há um drástico alívio na tensão sexual e um lento retorno a um estado normal de exci- tação. Nesta fase, a fase de resolução, o homem entra em um período refratário, durante o qual ele fica tem- porariamente incapaz de manter uma ereção ou ter um orgasmo. A mulher não tem um período refratário e pode experimentar orgasmos múltiplos com curtas fases de resolução entre eles. Mais uma vez, a resposta feminina é mais variável do que a resposta masculina. Ciclo de resposta sexual Padrão de quatro estágios de respostas fisiológicas e psicológicas durante a atividade sexual. Nas fases de orgasmo e de resolução, a resposta no sexo feminino é mais variável do que no sexo masculino. • Aumento no fluxo sanguíneo para os órgãos genitais • Sensações de excitação Fase de excitação Fase de platô Fase do orgasmo • Aumento na frequência cardíaca, frequência respiratória e pressão arterial • Contrações musculares involuntárias • Aumento nas frequências respiratória e cardíaca • Contrações da vagina e ejaculação de sêmen Fase de resolução FIGURA 10.33 Diagrama do ciclo de resposta sexual. Capítulo 10 Emoção e motivação 441 Roteiros e normas culturais moldam as interações sexuais Nos filmes, as relações sexuais muitas vezes começam quando uma pessoa jo- vem e atraente encontra outra por acaso. Eles passam algum excitante tempo juntos, uma atração se desenvolve e o comportamento sexual ocorre, muitas vezes dentro de 1 ou 2 dias. Na vida real, no entanto, os indivíduos geralmente não têm relações sexuais tão rapidamente quanto nos filmes. A maior parte das pessoas conhece alguém há um longo período de tempo antes de ter relações sexuais com ela/ele. No entanto, a representação do comportamento sexual em filmes e em outros meios de comunicação molda as crenças e expectativas sobre quais comportamentos sexuais são apropriados e quando são adequados. Os roteiros sexuais são crenças cognitivas sobre como um episódio se- xual deve ser posto em prática (para uma discussão sobre roteiros, consulte o Cap. 8, “Raciocínio, linguagem e inteligência”). Por exemplo, o roteiro sexual indica quem deve agir primeiro, se a outra pessoa deve resistir, a sequência de atos sexuais e até mesmo como os parceiros devem agir depois (FIG. 10.34). Nas sociedades ocidentalizadas, o roteiro sexual envolve o flerte inicial por meio de ações não verbais, o homem iniciar o contato físico, a mulher controlar se a atividade sexual ocorre e as recusas geralmente sendo verbais e diretas (Bers- cheid & Regan, 2005). Os roteiros são diferentes em muitos lugares do mundo, como em países em que os casamentos arranjados são comuns. REGULAÇÃO DO COMPORTAMENTO SEXUAL A revolução sexual do final do século XX mudou significativamente os comportamentos sexuais em muitos países. A maior parte das mudanças nos comportamentos sexuais deve ser atri- buída a mudanças nas pressões e expectativas culturais. Embora os costumes e as normas sexuais variem entre as culturas, todas as culturas conhecidas têm alguma forma de moralidade sexual. Essa universalidade indica a importância para a sociedade da regulação do comportamento sexual. Por exemplo, um pa- drão bem conhecido dessa regulação é o padrão duplo. Essa lei não escrita es- tipula que determinadas atividades (como o sexo antes do casamento ou casual) são moralmente e socialmente aceitáveis para os homens, mas não para as mu- lheres. As culturas podem tentar restringir e controlar o sexo por várias razões, incluindo manter o controle sobre a taxa de natalidade, ajudar a estabelecer a paternidade e reduzir os conflitos. DIFERENÇAS ENTRE OS GÊNEROS NO COMPORTAMENTO SEXUAL Um acha- do notável e consistente em quase todas as medidas de desejo sexual é que os homens, em média, têm um maior nível de desejo sexual do que as mulheres. Há, claro, muitas exceções individuais. Estudos de pesquisa descobriram que, em geral, os homens se masturbam com mais frequência do que as mulheres, querem sexo em um momento mais precoce do relacionamento, pensam e fantasiam sobre o sexo com maior frequência, gastam mais tempo e dinheiro (e outros recursos) nos esforços para consegui-lo, desejam mais atividades sexuais diferentes, iniciam mais e recusam menos o sexo e avaliam seus próprios impulsos sexuais como mais fortes do que o das mulheres (Baumeister, Catanese, & Vohs, 2001). Em um estudo, pesquisadores perguntaram a homens e mulheres em ida- de universitária quantos parceiros sexuais eles idealmente gostariam de ter em suas vidas, se não limitados por temores sobre doenças, pressões sociais, e as- sim por diante (Miller & Fishkin, 1997). A maior parte das mulheres queria ter um ou dois parceiros. A resposta média dos homens foi de várias dezenas. Um estudo com mais de 16 mil pessoas de 10 grandes regiões do mundo descobriu que há uma maior motivação no sexo masculino para a atividade e variedade sexual em todas as culturas (Schmitt et al., 2003). A influência relativa da natureza e da cultura na motivação sexual pode variar com o gênero. O termo plasticidade erótica, cunhado por Roy Baumeis- ter (2000), se refere à extensão em que o desejo sexual pode ser moldado por fatores sociais, culturais e situacionais. As evidências sugerem que as mulheres têm maior plasticidade erótica do que os homens. A sexualidade de uma mu- lher pode evoluir e mudar ao longo de sua vida adulta, enquanto o desejo de um homem permanece relativamente constante (exceto pelo declínio gradual com a idade). O desejo e os comportamentos sexuais das mulheres dependem (a) (b) (c) FIGURA 10.34 Roteiros sexuais. Os roteiros sexuais influenciam comportamentos como (a) pa- querar,(b) desenvolver interesse romântico e (c) namorar. 442 Ciência psicológica significativamente de fatores sociais como a escolaridade e a religião, ao passo que a sexualidade masculina mostra relações mínimas com tais influências. Para considerar essas diferenças, o psicólogo evolucionista David Buss propôs a teoria das estratégias sexuais (Buss & Schmitt, 1993). A partir dessa perspecti- va, ao longo da história humana os homens e as mulheres enfrentaram diversos problemas adaptativos. Um dos resultados é que os gêneros diferem em como ma- ximizar a propagação dos genes às gerações futuras. A estratégia básica da mulher envolve cuidar de uma quantidade relativamente pequena de crianças. Seu compro- misso é cuidar da prole, em vez de simplesmente maximizar a produção. Quando a mulher está grávida, acasalamentos adicionais não são de finalidade reprodutiva. Quando ela tem um filho pequeno, uma gravidez adicional pode colocar em risco a sua prole atual. Assim, os mecanismos biológicos asseguram o espaçamento entre as crianças. Por exemplo, a amamentação frequente normalmente diminui a proba- bilidade de ocorrência de ovulação. Considerando razões puramente reprodutivas, os homens não têm essas barreiras sexuais. Para eles, todas as relações sexuais po- dem ter uma recompensa reprodutiva. Recai sobre eles apenas alguns poucos cus- tos p essoais da gravidez, e sua fertilidade não é afetada por ter uma mulher grávida. De acordo com a teoria das estratégias sexuais, as mulheres têm uma maior propensão a serem mais cautelosas em relação a fazer sexo porque ter filhos é um compromisso muito mais intensivo para elas do que para os homens. De fato, há evidências de que elas têm uma disposição muito menor do que eles a ter relações sexuais com alguém que não conhece bem. Em um estudo com 96 estudantes uni- versitários, um estranho se aproximava de uma pessoa do sexo oposto e dizia: “Te- nho observado você pelo campus. Eu te achei atraente. Quer ir para a cama comigo esta noite?”. Cada estranho era entre levemente atraente e moderadamente atraente. Nenhuma mulher disse sim ao pedido do estranho, mas três quartos dos homens concordaram com o pedido da mulher desconhecida (FIG. 10.35). Demonstraram menor propensão a concordar em sair com a estranha do que a ter relações sexuais com ela (Clark & Hatfield, 1989). Em outro estudo, perguntou-se às pessoas quanto tempo o casal deve estar junto antes que seja aceitável ter relações sexuais, dado o desejo mútuo. As mulheres tendem a pensar que os casais devem estar juntos por pelo menos um mês ou mais antes que o sexo seja apropria- do. Os homens tendem a crer que, mesmo depois de períodos relativa- mente curtos de convivência, como no primeiro ou segundo dia, o sexo é aceitável (Buss & Schmitt, 1993). PREFERÊNCIAS POR PARCEIROS O que os homens e as mulheres querem em seus parceiros? Talvez seja mais fácil dizer o que eles não querem. Na busca por parceiros, ambos os sexos evitam deter- minadas características, como a insensibilidade, os maus modos, a voz alta ou estridente e a tendência a se gabar de conquistas sexuais (Cunningham, Barbee, & Druen, 1996). Contudo, segundo a teoria das estratégias sexuais, os homens e as mulheres devem diferir no que eles desejam nos parceiros. Ambos devem procurar por parceiros atraentes, porque a juventude e bele- za relativas implicam um potencial de fertilidade. Como a quantidade de filhos que as mulheres podem produzir é limitada, elas devem ser seletivas ao escolher seus parceiros. Portanto, devem procurar por ho- mens que possam fornecer recursos que irão ajudá-las a criar seus filhos com sucesso. Em essência, os homens devem alertar principal- mente para a aparência da mulher, porque ela parece implicar fertili- dade, enquanto as mulheres devem também se preocupar com os indi- cativos de que seus companheiros serão bons pais. Existe algum apoio científico a essas ideias? De acordo com um estudo com 92 casais de 37 culturas, as mu- lheres em geral preferem que os homens sejam atenciosos, honestos, confiáveis, gentis, compreensivos, apaixonados por crianças, benquis- tos pelos outros, bem remunerados, ambiciosos, dedicados à carreira, de uma boa família e um pouco altos. Em contraste, os homens ten- dem a valorizar a boa aparência, as habilidades na cozinha e a fidelida- de sexual. Acima de tudo, as mulheres valorizam uma boa perspectiva Teoria das estratégias sexuais Teoria que afirma que as mulheres e os homens desenvolveram estratégias de acasalamento distintas porque enfrentaram diferentes problemas de adaptação ao longo da história humana. As estratégias utilizadas por cada gênero maximizam a probabilidade de passar adiante seus genes às gerações futuras. Mulheres Homens Nenhuma mulher concordou em ter relações sexuais com um estranho. Condição “Saia comigo” “Vamos ao meu apartamento” “Vá para a cama comigo” 0 20 40 60 Porcentagem que diz sim 80 FIGURA 10.35 Comportamentos e res- postas sexuais. Homens e mulheres foram abordados por um estranho do sexo opos- to. Ambos os gêneros são igualmente pro- pensos a aceitar um encontro. Os homens tinham propensão muito maior do que as mulheres a concordar em ir à casa da estra- nha ou ter relações sexuais com ela. Capítulo 10 Emoção e motivação 443 financeira mais do que os homens. Em todas as 37 cul- turas, as mulheres tendem a se casar com homens mais velhos, que muitas vezes estão mais bem estabelecidos e financeiramente mais estáveis (Buss, 1989). Em suma, os homens e as mulheres diferem nas ênfases relativas que colocam no status social e aparência física, pelo menos para relacionamentos de longo prazo. Em um estudo, homens e mulheres relataram que a bondade e a inteligência eram necessários ao selecionar seus parceiros, mas seus pontos de vista de status e atra- tividade diferiam. Para a mulher média à procura de um companheiro a longo prazo, o status era uma necessidade e a boa aparência era um luxo. Em contraste, os homens viam a atratividade física como uma necessidade e não como um luxo na escolha da parceira (Li, Bailey, Kenrick, & Linsenmeier, 2002). Isso não quer dizer que as mulheres não se preo- cupam com a atratividade. As preferências delas para o status em detrimento da atratividade dependem de vá- rios fatores. Por exemplo, a relação é a curto ou longo prazo? A aparência é mais importante a curto prazo. A mulher se acha atraente? As mulheres que se veem como muito atraentes parecem querer ambos – status e boa aparência (Buss & Shackelford, 2008). Em geral, tanto os homens quanto as mu- lheres valorizam muito a atratividade física, mas suas ênfases relativas concordam com previsões evolucionistas. A explicação evolucionista para o acasalamento humano é controversa. Alguns pesquisadores acreditam que os comportamentos moldados pela evolução têm pouco impacto sobre os relacionamentos contemporâneos. Devemos considerar dois fatores importantes. Em primeiro lugar, a era moderna é uma pequena fração da história evolutiva humana. A mente moderna reside em um encéfalo da idade da pedra, re- solvendo problemas de adaptação que são enfrentados pela nossa espécie há milha- res de anos. Assim, os remanescentes de comportamento que eram adaptativos em tempos pré-históricos podem permanecer mesmo que já não sejam adaptativos na sociedade contemporânea. Em segundo lugar, no entanto, é a seleção natural que dá impulsos biológicos, bem como uma forte sensibilidade às normas culturais e de grupo. Em outras palavras, comportamentos instintivos são limitados pelo contexto social. Os lobos frontais trabalham para inibir as pessoas de quebrar regras sociais, que são determinadas em grande parte pela cultura. O contexto social atual é muito diferente daquele de milhões de anos atrás, e estratégias de acasalamento humano são influenciadas por essas normas contempo- râneas. Por exemplo, de um ponto de vista biológico, pode parecer vantajoso para os seres humanosse reproduzir logo que eles forem capazes. Mas muitas culturas con- temporâneas desencorajam o comportamento sexual até que as pessoas sejam mais velhas e mais capazes de cuidar de sua prole. O ponto crítico é que o comportamento humano surge para resolver problemas adaptativos. Até certo ponto, a era moderna introduz novos desafios adaptativos baseados em normas sociais de conduta. Essas normas moldam o contexto em que os homens e as mulheres veem o comportamento sexual como desejável e apropriado. As pessoas diferem em suas orientações sexuais Por que algumas pessoas são gays e outras são heterossexuais? O comportamento homossexual tem sido observado em várias formas ao longo da história registrada. De uma perspectiva evolutiva, a homossexualidade parece fazer pouco sentido. A ho- mossexualidade exclusiva não levaria à reprodução e, portanto, não sobreviveria no aglomerado genético. Surgiram muitas teorias sobre a orientação sexual, mas nenhu- ma delas recebeu apoio conclusivo. Uma teoria evolutiva é que as lésbicas e os gays muitas vezes agem como pais “sobressalentes” à descendência de seus irmãos. Dessa maneira, podem garantir a continuação dos genes da família. Obviamente muitos gays e lésbicas são pais, às vezes de casamentos anteriores e às vezes por meio da inseminação artificial ou de adoção. 444 Ciência psicológica No século XIX e em grande parte do século XX, pelo menos nas culturas ociden- tais, a homossexualidade era considerada desviante e anormal, um transtorno psi- cológico. Até 1973, os psiquiatras oficialmente viam a homossexualidade como uma doença mental. As teorias psicanalíticas clássicas de orientação sexual enfatizavam a importância das práticas dos pais. Acreditava-se que famílias com uma mãe domina- dora e um pai submisso faziam com que as crianças se identificassem com o pai do sexo oposto (p. ex., um menino com sua mãe). Essa identificação traduzia-se em uma atração sexual pelo sexo oposto de sua identificação – ou seja, a atração pelo mesmo sexo. A esmagadora maioria dos estudos, no entanto, encontrou pouca ou nenhuma evidência de que a maneira como os pais tratam seus filhos tem alguma coisa a ver com a orientação sexual. Do mesmo modo, não foi encontrado nenhum outro fator ambien- tal para explicar a homossexualidade. Então a biologia determina a orientação sexual? FATORES BIOLÓGICOS Lembre-se de que, quando perguntamos se algo é biológico, estamos efetivamente falando sobre as contribuições relativas de fatores biológicos em comparação a fatores ambientais. Cada comportamento resulta de processos bio- lógicos, como a expressão do gene. Esses processos são influenciados por eventos no ambiente da pessoa. Uma abordagem para examinar a extensão em que os fatores biológicos contri- buem para a orientação sexual explora o efeito dos hormônios. Os primeiros teóricos especularam que as mulheres homossexuais tinham níveis mais elevados de testos- terona e os homens homossexuais tinham níveis mais altos de estrogênio, mas essas especulações estavam erradas. Os níveis de hormônios circulantes não diferem entre indivíduos do mesmo sexo heterossexuais e homossexuais. Em vez disso, a melhor evidência disponível sugere que a exposição a hormônios, especialmente a andró- genos, no ambiente pré-natal pode desempenhar algum papel na orientação sexual (Mustanski, Chivers, & Bailey, 2002). Por exemplo, por causa de uma condição mé- dica da mãe, algumas meninas são expostas a níveis de andrógenos acima do normal durante o desenvolvimento pré-natal. Essas garotas geralmente têm características masculinas ao nascimento e ao longo da vida. Mais tarde, elas têm maior propensão a relatar que são homossexuais. Um achado intrigante é que, em comparação aos homens heterossexuais, os ho- mens homossexuais têm maior propensão a ter irmãos mais velhos do sexo masculi- no. Uma explicação é que o corpo da genitora desenvolve uma reação imune durante a gravidez de um menino e que respostas imunes subsequentes alteram o nível de hor- mônios no ambiente pré-natal quando a mãe fica grávida de outro menino (Blanchard & Ellis, 2001; Bogaert, 2006). Mas a maior parte dos homens com irmãos mais velhos não são homossexuais, então por que essa resposta afeta apenas alguns homens? A segunda abordagem à compreensão da contribuição biológica para a orienta- ção sexual é da genética. A ideia de que a expressão genética pode estar envolvida na orientação sexual é apoiada por um estudo utilizando a mosca-da-fruta. Pesquisado- res encontraram que a alteração na expressão de um gene “mestre” único invertia a orientação sexual de moscas macho e fêmea (Demir & Dickson, 2005). Mas o que di- zer em seres humanos? Em 1993, o biólogo Dean Hamer e seus colaboradores relata- ram a descoberta de uma ligação entre um marcador no cromossomo X e a orientação sexual no sexo masculino (Hamer, HU, Magnuson, HU, & Pattatucci, 1993); os meios de comunicação rapidamente apelidaram o marcador de “gene gay”. Outros pesqui- sadores não conseguiram encontrar quaisquer genes específicos à orientação sexual. A orientação sexual é herdada? Estudos com gêmeos forneceram algum apoio à ideia de que há um componente genético na orientação sexual, especialmente entre os homens. Como discutido no Capítulo 3, os gêmeos idênticos são mais similares em composição genética, mas também são suscetíveis de terem vivido em ambientes similares, e é difícil separar esses dois tipos de contribuição. Em uma revisão de es- tudos anteriores, Mustanski e colaboradores (2002) relataram que a herdabilidade da orientação sexual era maior para os homens do que para as mulheres, mas com um componente genético significativo para ambos. Ainda não está claro como a orien- tação sexual humana pode estar codificada nos genes. Algumas pesquisas sugerem que o hipotálamo pode estar relacionado com a orientação sexual. Em exames post-mortem, o neurocientista Simon LeVay (1991) constatou que uma área do hipotálamo que normalmente difere entre homens e mulheres tinha apenas metade do tamanho em homens homossexuais do que em Capítulo 10 Emoção e motivação 445 homens heterossexuais – o tamanho dessa área em homens homossexuais foi comparável ao seu tamanho em mulheres he- terossexuais. Do mesmo modo, em um estudo de imagem cere- bral recente, homens heterossexuais mostraram maior ativação do hipotálamo quando inalaram um feromônio do sexo femini- no (uma secreção hormonal que viaja pelo ar, ver discussão no Cap. 5) do que quando inalaram um feromônio do sexo mas- culino; as mulheres heterossexuais mostraram maior ativação quando inalaram um feromônio do sexo masculino em vez de um do sexo feminino (Savic, Berglund, & Lindström, 2005). Os homens homossexuais mostraram um padrão mais semelhante ao das mulheres do que ao dos homens heterossexuais: uma maior ativação do hipotálamo em resposta ao feromônio do sexo masculino. Obviamente, ambos os estudos podem ser criticados com o argumento de que a correlação não é igual à causalidade. Ou seja, uma diferença de tamanho ou de ativação em alguma parte do cérebro não é capaz de determinar se essa área determina a orientação sexual, se ser heterossexual ou homossexual resulta em alterações na estrutura ou função cerebral ou se uma tercei- ra variável é responsável por todos esses efeitos. Por exemplo, alguns pesquisadores acreditam que o tamanho do hipotálamo é determinado pela exposição pré-natal a andrógenos. Assim, em- bora os achados desses estudos sejam sugestivos, as evidências atualmente são insuficientes para estabelecer uma conexão causal entre regiões do cérebro e orientação sexual. Consideradas em conjunto, as evidências de que os processos biológicos desempe- nham algum papel na orientação sexual são consistentes. A ques- tão é como e quando a biologia contribui, bem como em que grau. A ESTABILIDADE DA ORIENTAÇÃO SEXUAL Embora existam relatos na internet de terapias eficazes para a conversão de homossexuais, há pouca evidência empíri- cade que esses programas fazem mais do que o comportamento de supressão. Não há boas evidências de que a orientação sexual possa ser alterada com terapia. Um grupo proeminente que tentou por quase 40 anos converter homossexuais se desfez em 2013, com seu líder tendo concluído que a atração sexual não pode ser alterada (Lovett, 2013). Além disso, estar com pessoas cuja orientação sexual difere da sua não muda sua orientação sexual. Em algumas culturas e subculturas, as pessoas podem se envolver em comportamentos homossexuais por um período e, em seguida, reverter para comportamentos heterossexuais. Na cadeia, por exemplo, homens e mulheres muitas vezes se envolvem em relações do mesmo sexo, mas não se consideram ho- mossexuais. Por razões como essas, alguns psicólogos ou médicos acreditam que a orientação sexual – em oposição simplesmente à atividade sexual – é uma escolha ou que pode ser alterada. A sociedade moderna também está cada vez mais reconhecendo os direitos dos homossexuais em expressar a sua sexualidade: Canadá, Espanha, Noruega, Suécia, África do Sul, Portugal e uma parte crescente dos Estados Unidos permitem que gays e lésbicas se casem, e outros lugares ao redor do mundo reconhecem as relações entre pessoas do mesmo sexo de maneiras variadas. O mundo contemporâneo está alcançando a história humana. Os homossexuais sempre existiram, estivessem eles livres ou não para serem eles mesmos (FIG. 10.36). FIGURA 10.36 Orientação sexual. Quando John Mace e Richard Dorr se tornaram um casal, em 1950, a homossexualidade era ilegal em todos os estados dos Estados Unidos. Em 2011, os casais homossexuais foram legalmente autorizados a se casar no estado de Nova York. O Sr. Mace, 91, e o Sr. Dorr, 84, finalmente se casaram. Resumindo O que motiva o comportamento sexual? � Os hormônios influenciam o desenvolvimento de características sexuais secundárias du- rante a puberdade e motivam o comportamento sexual. � O hipotálamo organiza o comportamento sexual e influencia a produção de hormônios. 446 Ciência psicológica � Os hormônios testosterona e ocitocina são determinantes particularmente importantes do comportamento sexual. Encontrou-se que os neurotransmissores, incluindo a dopamina, a serotonina e o óxido nítrico, também influenciam no funcionamento sexual. � Masters e Johnson identificaram quatro fases do ciclo de resposta sexual humana que são muito semelhantes em homens e mulheres: excitação, platô, orgasmo e resolução. � O comportamento sexual é limitado por roteiros sexuais: crenças determinadas social- mente em relação aos comportamentos adequados a serem utilizados por homens e mu- lheres durante as interações sexuais. � Em média, os homens têm um maior nível de motivação sexual e se envolvem em mais atividade sexual do que as mulheres. � Os homens e as mulheres procuram qualidades semelhantes em potenciais parceiros, mas eles estão mais preocupados com a atratividade de uma parceira em potencial, e elas estão mais preocupadas com o status do parceiro. � As diferenças entre os gêneros na preferência pelas qualidades do parceiro podem ser decorrentes de diferentes problemas de adaptação que os gêneros enfrentaram ao longo da história evolutiva humana. � Os pesquisadores teorizaram que a exposição hormonal pré-natal, os genes e as diferen- ças funcionais no hipotálamo podem influenciar a orientação sexual. No entanto, os dados que apoiam essas teorias são correlacionais e não podem ser usados para inferências causais. Muitos psicólogos acreditam que diversos fatores biológicos e ambientais deter- minam a orientação sexual. Avaliando 1. Organize em ordem as fases do ciclo de resposta sexual humana e combine cada está- gio com sua descrição. Estágios: platô, excitação, resolução, orgasmo a. sinais crescentes de excitação, incluindo aumento na pressão arterial e na frequência respiratória b. contrações da vagina nas mulheres e ejaculação de sêmen nos homens c. inchaço dos órgãos genitais em resposta ao fluxo sanguíneo d. retorno ao estado pré-estimulação 2. Identifique qual das afirmações a seguir sobre o comportamento sexual humano me- lhor descreve uma perspectiva biológica, cultural ou evolutiva. Algumas declarações podem descrever mais de uma perspectiva. a. Os pesquisadores descobriram que as mulheres preferem mais rostos de aparência máscula durante a ovulação do que em outras fases do ciclo menstrual. b. Entre 37 culturas, as mulheres preferiram homens que poderiam ter uma boa vida, e os homens classificaram a atratividade física de uma futura parceira como mais importan- te em comparação às mulheres. c. Entre grupos religiosos e em diferentes países, existem diferenças na disposição das mulheres em se envolver no sexo antes do casamento. d. As mulheres tendem a preferir parceiros eróticos que sejam mais voltados a relaciona- mentos em comparação aos homens. e. Muitos dos medicamentos utilizados para a depressão também reduzem o desejo sexual, especialmente na mulher. f. A função sexual masculina requer um nível mínimo de andrógenos. g. Em geral, os homens têm níveis mais elevados de motivação sexual do que as mulheres. 3. Identifique cada uma das afirmações a seguir sobre a orientação sexual como verda- deira ou falsa. a. A atração pelo mesmo sexo é causada por uma mãe dominadora e um pai fraco. b. A exposição pré-natal a andrógenos pode influenciar na orientação sexual. c. Há um “gene gay”. d. A orientação sexual pode ser alterada com terapia. RESPOSTAS: (1) excitação, c; platô, a; orgasmo, b; resolução, d. (2) a. biológica e evolucionária; b. evolucionária; c. cultural; d. cultural e evolucionária; e. biológica; f. biológi- ca; g. biológica e evolucionária. (3) a. falsa; b. verdadeira; c. falsa; d. falsa. Capítulo 10 Emoção e motivação 447 Sua revisão do capítulo Resumo do capítulo 10.1 O que são emoções? � As emoções variam em valência e alerta fisiológico: As emo- ções muitas vezes são classificadas como primárias ou se- cundárias. As emoções primárias são inatas, evolutivamente adaptativas e universais (compartilhadas entre as culturas). Essas emoções incluem a raiva, o medo, a tristeza, o asco, a alegria, a surpresa e o desprezo. As emoções secundárias são misturas de emoções primárias. Elas incluem o remorso, a culpa, a submissão, a vergonha, o amor, o rancor e a inveja. As emoções têm uma valência (positiva ou negativa) e um nível de ativação (alerta fisiológico, baixo ou alto). � As emoções têm um componente fisiológico: A ínsula e a amígdala desempenham papéis importantes na experiência da emoção. A ínsula recebe e integra sinais somato-sensoriais, ajudando-nos a experimentar a emoção, especialmente o nojo, a raiva, a culpa e a ansiedade. A amígdala processa o signi- ficado emocional dos estímulos e produz reações imediatas. Também está associada à aprendizagem emocional, à memó- ria de eventos emocionais e à interpretação de expressões fa- ciais de emoção. � Existem três teorias principais da emoção: As três principais teorias para a emoção diferem em suas ênfases relativas na experiência subjetiva, alterações fisiológicas e interpretação cognitiva. A teoria de James-Lange afirma que padrões es- pecíficos de mudanças físicas dão lugar à percepção de emo- ções associadas. A teoria de Cannon-Bard propõe que duas vias separadas – mudanças físicas e experiências subjetivas – são ativadas ao mesmo tempo. A teoria dos dois fatores de Schachter-Singer enfatiza a combinação entre alerta fisiológi- co generalizado e avaliações cognitivas para determinar emo- ções específicas. Consistente com a teoria de dois fatores de Schachter-Singer, pesquisas mostram que as pessoas podem atribuir erroneamente as causas de suas emoções, buscando explicações no ambiente para o que estão sentindo. 10.2 Quão adaptativas são as emoções? � As emoções atendem a funções cognitivas: As emoções são adaptativas porque levam a estados de prontidão comporta- mental. As emoçõesinfluenciam a tomada de decisão, servin- do como guias heurísticos para decisões rápidas. Também dão origem a marcadores somáticos, reações corporais, que facili- tam a autorregulação. � As expressões faciais comunicam emoções: As expressões fa- ciais de emoção são adaptativas porque comunicam como nos sentimos. Entre as diferentes culturas, algumas expressões de emoção são universalmente reconhecidas, como a felicidade, a tristeza, a raiva e o orgulho. � As normas de expressão diferem entre as culturas e entre os gêneros: A base evolutiva para as emoções é apoiada por pes- quisas sobre a concordância intercultural da demonstração e do reconhecimento de algumas expressões emocionais. As normas de expressão são aprendidas por meio da socialização e ditam quais emoções são adequadas a situações específicas. Entre as diferentes culturas, essas normas diferem para mu- lheres e homens. � As emoções fortalecem as relações interpessoais: As emoções facilitam a manutenção e o reparo de laços sociais. As emo- ções interpessoais – como a culpa e o constrangimento – são particularmente importantes para a manutenção e reparação das relações interpessoais próximas. 10.3 O que motiva as pessoas? � Impulsos motivam a satisfação das necessidades: A motiva- ção dá energia, direciona e sustenta o comportamento. Maslow descreveu uma hierarquia de necessidades: As pessoas em primeiro lugar devem satisfazer necessidades inferiores, como a fome e a sede, antes de satisfazer as necessidades de segu- rança, necessidades sociais, necessidades de estima e necessi- dades de realização pessoal. Esse modelo não é apoiado pelas pesquisas. As necessidades surgem de estados de deficiência biológica ou social. Os impulsos são estados psicológicos que criam alerta e motivam comportamentos voltados a satisfazer necessidades. Ajudam a manter a homeostase – isto é, o equi- líbrio das funções corporais. A lei de Yerkes-Dodson sugere que se as pessoas estão subexcitadas ou superexcitadas, seu desempenho irá cair. � As pessoas são motivadas por incentivos: Alguns incentivos são motivados extrinsecamente (direcionados a uma recom- pensa externa). Outros incentivos são motivados intrinseca- mente (são direcionados a uma recompensa interna ou sim- plesmente são agradáveis). Fornecer às pessoas recompensas extrínsecas pode minar a motivação intrínseca. � As pessoas definem objetivos a serem alcançados: Segundo pesquisas, a motivação mais bem-sucedida vem de objetivos que são desafiadores e específicos, mas não excessivamente difíceis. As pessoas que são ricas em autoeficácia e têm uma alta motivação para a realização têm maior propensão a esta- belecer para si próprias objetivos ambiciosos, mas alcançá- veis. As pessoas que são capazes de adiar a gratificação têm maior propensão a relatar desfechos de sucesso mais tarde na vida. � As pessoas têm uma necessidade de pertencimento: A teoria da necessidade de pertencimento sugere que as pessoas têm uma necessidade fundamental de estabelecer vínculos inter- pessoais. A necessidade de pertencimento explica a facilidade com que as pessoas fazem amigos, sua sensibilidade à exclu- são social, os sentimentos negativos causados na ausência de contato social e os esforços para se aproximar de outras pessoas quando estão ansiosas. 10.4 O que motiva alguém a comer? � Muitos fatores fisiológicos influenciam a alimentação: Diver- sas estruturas neurais estão associadas ao comportamento alimentar, incluindo os lobos frontais, o hipotálamo, o córtex pré-frontal e o sistema límbico. Foram propostas duas teorias para explicar o comportamento alimentar: a teoria glicostática e a teoria lipostática. A teoria glicostática sustenta que a ali- mentação é controlada por receptores na corrente sanguínea que monitoram os níveis de glicose – o principal combustível metabólico do corpo. A teoria lipostática afirma que a alimen- 448 Ciência psicológica tação é regulada de modo a manter um nível preestabelecido de gordura corporal. Encontrou-se que dois hormônios são de im- portância crucial para o comportamento alimentar: a leptina e a grelina. A leptina está associada à regulação da gordura corpo- ral a longo prazo. A grelina motiva o comportamento alimentar. � O comer é influenciado pelo horário e pelo sabor: A alimen- tação é fortemente afetada pela aprendizagem. Por meio do condicionamento clássico, as pessoas associam a alimentação a refeições regulares. A saciedade sensorial específica evoluiu em animais para incentivar o consumo de alimentos que con- têm diversos nutrientes. Em razão desse mecanismo, as pes- soas rapidamente se cansam de um único sabor. � A cultura influencia: O que as pessoas comem é grandemente influenciado por regras culturais sobre quais alimentos são apropriados para comer em diferentes contextos. Os bebês têm uma preferência inata pelo sabor doce, mas as crianças podem aprender a gostar da maior parte dos alimentos – espe- cialmente os oferecidos por familiares. 10.5 O que motiva o comportamento sexual? � A biologia influencia o comportamento sexual: Os hormônios influenciam o desenvolvimento de características sexuais se- cundárias durante a puberdade e motivam o comportamento sexual. O hipotálamo organiza o comportamento sexual e in- fluencia a produção de hormônios. Encontrou-se que os hor- mônios testosterona e ocitocina são determinantes particular- mente importantes do comportamento sexual. Encontrou-se que os neurotransmissores, incluindo a dopamina, a seroto- nina e o óxido nítrico, também influenciam no funcionamento sexual. Masters e Johnson identificaram quatro fases do ciclo de resposta sexual humana que são muito semelhantes em ho- mens e mulheres: excitação, platô, orgasmo e resolução. � Roteiros e normas culturais moldam as interações sexuais: O comportamento sexual é limitado por roteiros sexuais: Crenças determinadas socialmente em relação aos comporta- mentos adequados para homens e mulheres durante as inte- rações sexuais. Em média, os homens têm um maior nível de motivação sexual e se envolvem em mais atividade sexual do que as mulheres. Os homens e as mulheres procuram qualida- des semelhantes em potenciais parceiros, mas eles estão mais preocupados com a atratividade de uma parceira em poten- cial, e elas estão mais preocupadas com o status do parceiro. As diferenças entre os gêneros na preferência pelas qualidades do parceiro podem ser decorrentes de diferentes problemas de adaptação que os gêneros enfrentaram ao longo da história evolutiva humana. � As pessoas diferem em suas orientações sexuais: Muitas teorias têm sido propostas para explicar a orientação sexual. Os pesquisadores teorizaram que a exposição hormonal pré- -natal, os genes e as diferenças funcionais no hipotálamo po- dem influenciar a orientação sexual. Embora tenham surgido evidências para apoiar cada uma dessas ideias, os dados são correlacionais e não podem ser usados para fazer inferências causais. Termos-chave ciclo de resposta sexual, p. 440 emoção, p. 405 emoções primárias, p. 405 emoções secundárias, p. 405 hierarquia de necessidades, p. 424 homeostase, p. 425 impulso, p. 425 incentivos, p. 426 lei de Yerkes-Dodson, p. 426 marcadores somáticos, p. 417 motivação, p. 424 motivação extrínseca, p. 427 motivação intrínseca, p. 427 necessidade, p. 424 normas de expressão, p. 420 realização pessoal, p. 424 teoria da necessidade de pertencimento, p. 431 teoria das estratégias sexuais, p. 442 teoria da emoção de Cannon-Bard, p. 410 teoria da emoção de James-Lange, p. 410 teoria dos dois fatores da emoção, p. 410 Teste 1. Os alunos matriculados em uma matéria difícil estão se preparando para apresentar seu seminário de final de se- mestre, que responderá por 50% de suas notas finais. Que estudante abaixo tem maior propensão a ter um melhor desempenho? a. Ahn não está estressado com a apresentação. Ele se saiu bem o semestre todo e está confiante de que irá muito bem dessa veztambém. Monta seus slides uma semana antes da data da apresentação e, então, revisa o que vai falar algumas horas antes da apresentação. b. Sonya está um pouco ansiosa com essa apresentação. Ela sabe a matéria, mas reconhece o quanto está se em- penhando para melhorar a qualidade da apresentação. Essa energia ansiosa a motiva a polir seus slides e pra- ticar sua apresentação. c. Marcus está muito estressado com essa apresentação. Uma má avaliação na apresentação arruinará seu de- sempenho na disciplina e prejudicará sua nota geral. Ele decide passar todo o tempo disponível preparando a apresentação, trabalhando até tarde da noite e, às vezes, sonha com a apresentação. 2. Qual neurotransmissor não está implicado na resposta sexual? a. dopamina b. GABA c. óxido nítrico d. serotonina Capítulo 10 Emoção e motivação 449 3. Identifique cada uma das emoções a seguir como primária ou secundária. a. medo b. felicidade c. ciúmes d. culpa e. nojo f. amor romântico g. raiva h. remorso 4. Verdadeiro ou falso: Pesquisas sugerem que algumas emoções e expressões emocionais são culturalmente universais. 5. Identifique cada um dos fenômenos a seguir como uma ne- cessidade ou um impulso. a. comida b. fome c. sede d. água e. oxigênio f. dinheiro g. sucesso h. pertencimento 6. De acordo com as pesquisas, qual das pessoas a seguir tem maior probabilidade de estabelecer para si objetivos ambi- ciosos, mas alcançáveis? a. uma pessoa com baixa autoeficácia, mas rica em moti- vação para a realização b. uma pessoa com alta autoeficácia, mas pobre em moti- vação para a realização c. uma pessoa com baixa autoeficácia e baixa motivação para a realização d. uma pessoa com alta autoeficácia e alta motivação para a realização 7. O hormônio __________________ motiva o comportamento alimentar. O hormônio __________________ está envolvido na regulação de gordura corporal a longo prazo. a. leptina; grelina b. grelina; leptina c. grelina; ocitocina d. oxitocina; grelina A chave de respostas para os testes pode ser encontrada no final do livro. Capítulo 10 - Emoção e motivação