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Microeconomia I

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Microeconomia I – 2024.1
Prof. Thomaz Gemignani
Aula 1
Introdução
A Microeconomia pode ser descrita como o estudo das maneiras pelas quais os
indiv́ıduos procuram fazer o melhor posśıvel para si mesmos em um mundo de
escassez; isto é, em um mundo em que nada, na prática, é infinito, de modo que
nem todos os desejos podem ser plenamente atendidos, o que faz com que todos
tenham que abrir mão de certas coisas para ter outras.
Nesse sentido, a análise microeconômica é capaz de lidar com questões bastante
diversas: quais bens e serviços você acaba adquirindo, com quem escolhe se relacio-
nar, quão intensamente decide trabalhar, por quanto tempo dorme, se deve adquirir
seguro-saúde etc.
O objetivo de se esclarecer esses e diversos outros fenômenos econômicos é perse-
guido, pela Teoria Microeconômica, através da construção de uma série de modelos
de comportamento individual que permitam explicar o máximo posśıvel com um
mı́nimo de pressupostos (de modo que não se tornem excessivamente complexos); e,
de fato, tais modelos são capazes de explicar uma enorme variedade de fenômenos
sem se distanciar muito da realidade.
Primordialmente, o foco desses modelos se dá sobre dois grupos: o de consumidores
e o de produtores de um (ou mais) bem(s).1 Com esse foco, a Microeconomia pro-
cura responder três questões fundamentais da Ciência Econômica: (i) o que é (ou
o que deveria ser) produzido na sociedade; (ii) por meio de qual processo produ-
tivo se produzem (ou se deveria produzir) tais bens e serviços; e (iii) quem acaba
recebendo (e quem deveria receber) os bens e serviços produzidos. Em particular,
a resolução de tais questões, como veremos, conta fundamentalmente com a con-
sideração do funcionamento, nos diversos mercados, de sistemas de preços capazes
de efetivamente sinalizar as escassezes existentes.
Antes de darmos ińıcio à exploração dos tópicos sobre os quais um primeiro curso
de Microeconomia se concentra (o que será feito na próxima aula), vamos fazer
uma breve retomada de certos conceitos fundamentais apresentados no curso de
Introdução à Economia: os de demanda e oferta de mercado, e o de equiĺıbrio. Aqui,
no entanto, colocaremos a exposição desses conceitos não apenas graficamente, mas
também em termos mais algébricos (e mais precisos) do que costumeiramente se faz
em cursos mais introdutórios.
1Como ficará mais claro com o tempo, no entanto, a noção do que é consumo e do que é produção
pode ser bastante generalizável a diversos contextos.
1
Mercados: demanda, oferta, equiĺıbrio e eficiência
Cada bem ou serviço existente em uma economia conta com um correspondente
mercado, formado pelos indiv́ıduos (consumidores e firmas) que desejam, ao menos
potencialmente, comprá-lo ou vendê-lo.2 Naturalmente, a intensidade de tal de-
sejo de comprar/vender um certo bem tende a depender fundamentalmente de seu
preço. Ao longo deste curso, suporemos que todos os mercados que analisarmos são
(perfeitamente) competitivos ; entre outras coisas, isso significa que os indiv́ıduos
em tais mercados são tomadores de preços, isto é, nenhum consumidor e nenhum
produtor pode, unilateralmente, através de suas decisões de consumo/produção, in-
fluenciar os preços dos bens. Tal hipótese é intuitivamente mais razoável quando
aplicada a mercados em que existe um número expressivo tanto de consumidores
quanto de produtores: em um tal cenário, por exemplo, qualquer produtor que, por
algum motivo, tente cobrar um preço mais alto por seu produto não atrairá ne-
nhum comprador (supondo que não haja diferenças relevantes entre o produto dos
diversos vendedores no mercado), e o preço dos bens de fato vendidos continuará
inalterado. Em cursos posteriores de Microeconomia, em que a atenção ocasional-
mente se volta à análise de mercados com poucos produtores ou consumidores, esta
hipótese é oportunamente descartada.
Funções Demanda
Consideremos um certo mercado (o de aço, por exemplo) em que a quantidade total
demandada pelos consumidores (Qd) se relaciona com o preço (p) do correspondente
bem segundo a seguinte relação:
Qd = 120− 2p, (1)
sendo Qd medida em milhares de toneladas, e p medido em reais por tonelada. Ou
seja, se o preço for p = 10, os consumidores nesse mercado demandam, no total,
Qd = 100 milhares de toneladas, se o preço for p = 30, os consumidores demandam
Qd = 60 milhares de toneladas, e assim por diante
3. A expressão (1) acima é um
exemplo de função demanda de mercado, ou seja, uma função que indica quanto é
demandado (no agregado) a cada posśıvel preço do bem em questão; de modo geral,
uma função demanda de mercado corresponde a uma relação da forma Qd = D(p),
para alguma função D(·) do preço. Um ponto importante a se destacar, de modo a
se evitar confusões futuras, é a diferença entre os termos “demanda” e “quantidade
demandada”: os valores Qd = 100 e Qd = 60 acima, por corresponderem, cada um,
a um preço espećıfico, constituem quantidades demandadas (aos correspondentes
preços); já o termo demanda se refere a uma relação (como aquela em (1)) que
vincule todos os posśıveis preços às correspondentes quantidades demandadas.
2Geralmente, o termo “bem” será usado para nos referirmos tanto a um bem quanto para um serviço,
e o termo “indiv́ıduo” deve ser entendido como se referindo a um consumidor ou a uma firma.
3A expressão (1) acima, quando encarada literalmente, indica que para certos valores de p (aqueles
maiores do que 60), a quantidade demandada é negativa, o que naturalmente não pode acontecer. Nesses
casos, deve-se entender (ainda que isso não seja comunicado de forma expĺıcita pela expressão) que a
efetiva quantidade demandada é, na verdade, igual a zero.
2
O fato de a derivada dQd/dp ser (sempre) negativa para a demanda de mercado
em (1) indica que, mantendo-se todo o resto constante, à medida que o preço do
bem aumenta, a quantidade demandada diminui (um fenômeno bastante comum na
prática, que, apesar de não ocorrer sempre, carrega o nome de “Lei da Demanda”4).
A mesma conclusão poderia ser obtida de modo gráfico, ao se perceber que o gráfico
da função demanda em questão é uma reta de inclinação negativa, como ilustrado
na Figura 1.
Figura 1: Demanda de mercado
Fonte: Banerjee (2014)
Note que apesar de, na demanda de mercado (1), a quantidade demandada Qd ser
a variável dependente, e p ser a variável independente (ou seja, apesar de a relação
colocar Qd como decorrente de p, e não o oposto), a Figura 1 ilustra o gráfico
correspondente a tal demanda colocando p no eixo vertical e Qd no eixo horizontal.
Por uma questão de tradição (iniciada por Alfred Marshall, que tratava o preço5
como decorrente da quantidade demandada), este é o modo pelo qual os economistas
costumeiramente representam demandas graficamente. Ao se fazer isso, no entanto,
o que de fato se está representando graficamente é a correspondente demanda de
mercado inversa, que em nosso exemplo pode ser obtida algebricamente de modo
bastante simples ao se rearranjar a equação (1) de modo a se colocar p como função
de Qd (ou seja, de modo a se isolar p na correspondente equação), obtendo-se
p = 60− Qd
2
. (2)
Agregação de Funções Demanda
Uma vez que a representação gráfica de uma função demanda requer a construção
algébrica da correspondente função demanda inversa, o leitor pode estar se pergun-
tando “então por que a questão a ser explorada não é colocada desde o ińıcio em
4Futuramente, veremos com algum detalhe de onde vem essa Lei, sob que condições ela é válida, e
quando podem surgir exceções.
5No contexto de Marshall, o preço ilustrado no eixo vertical das representações gráficas de demandas
tinha a interpretação de disposição a pagar por cada posśıvel quantidade do bem.
3
termos da função de demanda inversa, em vez da função demanda?”. De fato, fre-
quentemente não há nenhuma perda em se consideraruma no lugar da outra. Acon-
tece, no entanto, que a consideração simultânea da função de demanda e da curva
de demanda inversa é bastante conveniente para certos fins, como o de agregação
de demandas.
Suponhamos, por exemplo, que a demanda de mercado por aço nos Estados Unidos
seja descrita por
QUSd = 100−
5
3
p, (3)
que a demanda por aço no resto do mundo seja dada por
QROWd = 150−
10
3
p, (4)
e que desejemos, de alguma forma, representar a demanda mundial por aço (su-
pondo que o preço do aço seja o mesmo nos Estados Unidos e no resto do mundo).
Uma intuição natural é que a quantidade de aço demandada mundialmente (Q),
por corresponder à soma entre a quantidade demandada nos Estados Unidos e a
quantidade demandada no resto do mundo, se relacione com o preço de tal produto
simplesmente de acordo com Q = (100− 5
3
p)+(150− 10
3
p) = 250−5p. No entanto,
ao utilizarmos as correspondentes funções de demanda inversas (p = 60 − 0,6QUSd
e p = 45 − 0,3QROWd , respectivamente) para ilustrar as demandas graficamente,
como na Figura 2 abaixo, é posśıvel ver que, para certos valores de p (aqueles entre
45 e 60), a quantidade demandada no resto do mundo seria igual a zero (e não o
valor negativo decorrente da expressão (4)). A tais preços, portanto, a quantidade
demandada mundialmente equivaleria simplesmente à quantidade demandada nos
Estados Unidos.
Figura 2: Demanda agregada
Fonte: Banerjee (2014)
4
Por outro lado, para preços menores do que 45, áı sim a demanda mundial cor-
responderia a Q = 250 − 5p, já que para esses preços nem a expressão (3) nem
a expressão (4) levariam a valores negativos para as correspondentes quantidades
demandadas. Ou seja, a função demanda mundial na verdade é dada por
Q =
 250− 5p, se 0 ≤ p < 45100− 5
3
p, se 45 ≤ p ≤ 60
.
O conceito de agregação de demandas não se limita, no entanto, ao caso de dois
ou mais mercados. De modo mais pertinente à essência da Teoria Microeconômica,
veremos, ao longo do curso, como uma demanda de mercado pode ser constrúıda
a partir da agregação de demandas individuais e, mais fundamentalmente, o que
determina (e como se constrói) a demanda de cada consumidor.
Funções Oferta
De modo análogo ao caso das funções demanda, uma relação da forma Qs = S(p)
(sendo S(·) uma função do preço, p) que indique, para cada posśıvel preço do bem
em questão, a quantidade total ofertada (Qs) pelos vendedores no correspondente
mercado é denominada função oferta de mercado.
Continuando nosso exemplo anterior, suponhamos que a oferta mundial de aço seja
descrita por
Qs = 5p (5)
ou, equivalentemente, por
p =
Qs
5
(6)
(também analogamente ao contexto de funções demanda, a expressão (6) é um
exemplo de função oferta de mercado inversa).
Futuramente, veremos também como se constrói uma oferta de mercado a partir da
agregação de ofertas individuais das firmas, bem como os fatores que determinam
e afetam a oferta de cada firma.
Ao combinarmos, como na Figura 3, o gráfico da função oferta (inversa) com o
gráfico da função demanda (inversa) da Figura 2 podemos perceber que as duas
curvas correspondentes se cruzam, e isso acontece em um único ponto.
Equiĺıbrio de Mercado
Com o conhecimento das expressões algébricas para tais funções, é posśıvel dizer
ainda mais. No ponto onde as duas curvas se cruzam, as quantidades demandada
e ofertada têm o mesmo valor, que chamaremos de Q∗. Além disso, supondo que
o cruzamento entre as duas curvas se dê a um preço p∗ menor do que 45, temos
que a demanda mundial é dada por Q∗ = 250− 5p∗, e a oferta mundial é dada por
Q∗ = 5p∗. Resolvendo o sistema formado por essas duas equações, é fácil perceber
5
Figura 3: Equiĺıbrio de mercado
Fonte: Banerjee (2014)
que o ponto de encontro das curvas corresponde a p∗ = 25 (confirmando a suposição
de que p∗ < 45) e a Q∗ = 125.
Quando, como no exemplo que acabamos de ver, existe um certo preço p∗ ao qual
a quantidade demandada se iguala à quantidade ofertada, diz-se que a tal preço o
correspondente mercado se encontra em equiĺıbrio. Nesse caso, o preço p∗ é chamado
de preço de equiĺıbrio, e a quantidade Q∗ = D(p∗) = S(p∗) é chamada de quantidade
de equiĺıbrio. É importante notar que tal noção de Equiĺıbrio de Mercado tem uma
natureza estática; isto é, ela apenas caracteriza uma situação como correspondendo
ou não a um equiĺıbrio, não se preocupando em descrever como ou se um determi-
nado equiĺıbrio tende a ser alcançado com o passar do tempo (caso já não o tenha
sido). Apesar disso, a intuição sugere que as interações entre os indiv́ıduos em um
mercado (ou, de modo mais mı́stico, as “forças de mercado”) fazem com que um
mercado que não esteja em equiĺıbrio tenda a caminhar para um equiĺıbrio.
Em nosso exemplo anterior, caso o preço em vigor do bem fosse p = 30, as quanti-
dades ofertada e demandada seriam de Qs = 150 e de Qd = 100, respectivamente.
Ou seja, o preço, por ser maior do que o preço de equiĺıbrio, faria com que houvesse
um excesso de oferta. Mas faz sentido pensar que um tal excesso de oferta pressio-
naria o preço para baixo (de modo a se aproximar do preço de equiĺıbrio) uma vez
que muitos dos vendedores que não estivessem conseguindo vender o seu produto
prefeririam baixar o seu preço para passar a fazê-lo. Alternativamente, se o preço
em vigor fosse p = 15, as quantidades ofertada e demandada seriam de Qs = 75 e
de Qd = 175, respectivamente. Nesse caso, o preço, por ser menor do que o preço de
equiĺıbrio, levaria a um excesso de demanda, que, por sua vez, tenderia a pressionar
o preço para cima (por quê?).
Excedente dos Consumidores e dos Produtores
Em qualquer transação voluntária entre um comprador e um vendedor, a troca se
dará a um preço menor do que (ou igual a) o maior valor que o comprador estaria
6
disposto a pagar, e maior do que (ou igual a) o menor valor que o vendedor estaria
disposto a aceitar. Com base nessa noção, tem-se que a diferença entre o preço
de reserva (isto é, a disposição a pagar) de um consumidor e o valor efetivamente
pago representa uma medida do bem-estar de tal consumidor, de modo que a soma
dessas quantidades (o chamado “Excedente dos Consumidores”) corresponderia a
uma medida agregada do bem-estar de todos os consumidores em um certo mer-
cado. Analogamente, a diferença entre o valor recebido por um produtor e o preço
mı́nimo que este estaria disposto a receber por sua mercadoria corresponde a uma
medida de bem-estar para tal produtor, e a soma dessas diferenças entre os vários
produtores (o chamado “Excedente dos Produtores”) corresponderia a uma medida
agregada de bem-estar de todos os produtores em um certo mercado. Conforme dis-
cutido nos cursos de Introdução à Economia, tais noções podem ser combinadas às
representações gráfica e algébrica que fizemos das demandas e ofertas de mercado.
Figura 4: Excedente dos consumidores e dos produtores
Fonte: Banerjee (2014)
Como ilustrado na Figura 4, vale lembrar, por exemplo, que, para um mercado em
equiĺıbrio, o Excedente dos Consumidores corresponde à área abaixo da curva de
demanda de mercado, acima de p = p∗, e à esquerda de Q = Q∗. Analogamente,
para um mercado em equiĺıbrio, o Excedente dos Produtores corresponde à área
acima da curva de oferta de mercado, abaixo de p = p∗, e à esquerda de Q =
Q∗. Por fim, o Excedente Total (a soma entre o Excedente dos Consumidores e o
Excedente dos Produtores, representando os ganhos agregados das trocas) equivale
graficamente à área entre as curvas de demanda e de oferta agregadas (e à esquerda
da quantidade de equiĺıbrio).
Intervenções de Mercado
Boa parte da elevada importância exibida pelas ferramentas anaĺıticas que revisa-
mos brevemente acima é que, com o conhecimento sobre o funcionamento de um
mercado na forma de funções (e correspondentes curvas) de demanda e de oferta
agregada, é posśıvel se analisar não só obem-estar desfrutado pelos participantes
por conta das trocas realizadas, mas também os impactos, sobre diversas variáveis
econômicas, decorrentes de intervenções governamentais nos diversos mercados (ou,
7
mais simplesmente, de “intervenções de mercado”). Entre as intervenções mais co-
muns desse tipo, pode-se citar, por exemplo, o controle de preços e/ou quantidades,
e a introdução de impostos ou subśıdios.
Consideremos, por exemplo, o mercado de um certo produto em que a demanda
inversa e a oferta inversa sejam dadas, respectivamente, por
p = 24−Qd e p = 3 + 0,5Qs. (7)
Do mesmo modo como foi feito anteriormente, é posśıvel utilizar tais expressões para
se concluir que o equiĺıbrio em um tal mercado (se não houver nenhuma interferência
do governo) é caracterizado pela quantidade de equiĺıbrio Q∗ = 14 e pelo preço
de equiĺıbrio p∗ = 10. Além disso, é posśıvel se concluir também que, em um tal
equiĺıbrio, o Excedente dos Consumidores seria de $98 e o Excedente dos Produtores
seria de $49 (exerćıcio!).
Suponhamos agora que o governo estabeleça um teto de preço nesse mercado, de
modo que o correspondente bem não possa ser comercializado a um preço maior do
que p̂ = 8.
Figura 5: Teto de preço
Fonte: Banerjee (2014)
Nessa situação, passaria a haver excesso de demanda; ou seja, a quantidade de-
mandada pelos consumidores (Qd = 16) seria maior do que a quantidade que os
produtores estariam dispostos a ofertar (Qs = 10), de modo que apenas 10 unida-
des seriam vendidas (já que supostamente não se poderia obrigar os produtores a
vender). Em consequência, haveria racionamento: os ofertantes teriam que esta-
belecer um método de decidir para quais dos compradores vender o seu produto.
No caso extremamente otimista em que os vendedores consegúıssem estabelecer
um meio de vender para os compradores que mais valorizassem o correspondente
produto, o Excedente dos Consumidores e o Excedente dos Produtores correspon-
deriam, respectivamente, às áreas A e B na Figura 5. A área C nessa figura, por sua
vez, corresponde a uma quantidade que compunha o Excedente Total da economia
8
antes da intervenção governamental, mas deixa de fazê-lo após tal interferência. Um
tal decréscimo no bem-estar dos indiv́ıduos devido a uma intervenção de mercado
recebe o nome de perda de peso-morto (deadweight loss) e constitui uma indicação
de ineficiência na operação do correspondente mercado.
Alternativamente, consideremos agora que o governo, em vez de impor o teto de
preço citado acima, introduz um imposto por unidade sobre os vendedores, no valor
de t = $6. Ou seja, para cada unidade vendida, cada vendedor passa a ter que pagar
$6 de imposto para o governo (independentemente do preço que tenha cobrado por
seu produto). Nessa situação, cada vendedor aumentaria o menor preço que estaria
disposto a receber (por unidade de seu produto) nesse mesmo valor. Graficamente,
isso corresponde a um deslocamento vertical da curva de oferta de mercado inversa,
como ilustrado na Figura 6.
Figura 6: Imposto por unidade sobre os vendedores
Fonte: Banerjee (2014)
Algebricamente, por outro lado, a introdução de tal imposto faz com que a expressão
para a curva de oferta inversa passe a ser dada por p = 9 + 0,5Qs (por quê?).
Combinando essa nova oferta inversa com a função de demanda inversa, é posśıvel
concluir que o novo equiĺıbrio decorrente da introdução de tal imposto corresponde
a um preço de equiĺıbrio p̃ = 14 e a uma quantidade de equiĺıbrio Q̃ = 10. Um ponto
importante a se notar é que, no cenário analisado, o imposto faz com que o preço
de equiĺıbrio passe de 10 para 14, e não de 10 para 16. Ou seja, os vendedores não
conseguem repassar todo o ônus do imposto para os consumidores na forma de um
preço mais alto. A diferença de $14−$10 = $4 é chamada de incidência do imposto
sobre os compradores. Por sua vez, com a introdução do imposto os vendedores
passam a ganhar $14 − $6 = $8 (ĺıquidos de impostos) por unidade vendida, $2
a menos do que antes; estes $2 correspondem à incidência do imposto sobre os
vendedores (note que a soma das incidências sobre vendedores e compradores deve
se igualar ao valor do imposto).
Por fim, vale notar que, com a introdução de tal imposto, o Excedente dos Consu-
midores e o Excedente dos Produtores passam a corresponder, respectivamente, às
áreas A e B na Figura 6. A área do retângulo T nessa figura corresponde à quan-
9
tia arrecadada pelo governo com o imposto, e equivale ao produto entre o valor
do imposto ($6) e o número de unidades vendidas (10). Mais fundamentalmente,
observa-se também que, como na situação da imposição do teto de preço, há uma
área (C) que deixa de fazer parte do Excedente Total da economia, correspondendo
a uma perda de peso-morto do imposto, e indicando a existência de uma ineficiência
de mercado (na situação em que o imposto vigora).
Considerações Finais
Com as observações feitas até aqui, não se pretende meramente apresentar uma
revisão dos conceitos de Introdução à Economia, mas também argumentar que um
profundo entendimento dos determinantes mais fundamentais das variáveis agrega-
das de uma economia (algo que perseguiremos ao longo deste curso) se constitui
essencial para a atuação dos economistas e para a formulação de poĺıticas públicas
adequadas. Em outras palavras, para que se tenha uma noção razoável sobre os
impactos da implementação de uma determinada poĺıtica pública, não é suficiente
que se conheçam os agregados de uma economia; é necessário que se saiba por
que tais agregados são o que são, e como se reconfigurariam mediante alterações
das decisões individuais dos agentes nos mercados relevantes. A partir da próxima
semana, passaremos a analisar como tais decisões são tomadas.
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Referências
Banerjee, S. (2014). Intermediate microeconomics: a tool-building approach. Routledge.
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