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Energia e Meio Ambiente Apresentação A energia é um recurso essencial para o desenvolvimento das atividades do homem. Portanto, caracteriza-se como um recurso estratégico. Nesta Unidade de Aprendizagem vamos distinguir e identificar as principais fontes de energia, que são hidreletricidade, energia solar, eólica, energia dos oceanos, entre outras. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Especificar os tipos de fontes de energia.• Sumarizar as distintas fontes de energia.• Identificar os possíveis impactos causados pela geração de energia.• Desafio Uma cidade gostaria de ser reconhecida como sustentável. Assim, uma das tecnologias que pretende adotar é a de novas fontes de energia. Como a cidade tem elevada incidência solar e ventos favoráveis, é necessário seguir outros critérios para a decisão de qual tecnologia será adotada. Liste os principais impactos positivos e negativos para ajudar a cidade a escolher qual tecnologia implantar. Infográfico O infográfico mostra o quanto as energias renováveis ainda podem ser desenvolvidas, aliando economia e meio ambiente. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Conteúdo do livro Para a realização das atividades diárias, precisamos de energia. Vamos esclarecer esse conceito estudando o capítulo 6 Recursos energéticos e meio ambiente do livro Meio ambiente e sustentabilidade. Boa leitura! André Henrique Rosa Leonardo Fernandes Fraceto Viviane Moschini-Carlos Organizadores M514 Meio ambiente e sustentabilidade [recurso eletrônico] / Organizadores, André Henrique Rosa, Leonardo Fernandes Fraceto, Viviane Moschini-Carlos. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2012. Editado também como livro impresso em 2012. ISBN 978-85-407-0197-7 1. Meio ambiente. 2. Sustentabilidade. I. Rosa, André Henrique. II. Fraceto, Leonardo Fernandes. III. Moschini- Carlos, Viviane. CDU 502-022.316 Catalogação na publicação: Natascha Helena Franz Hoppen CRB10/2150 6 Recursos energéticos e meio ambiente SANDRO DONNINI MANCINI e NILSON CRISTINO DA CRUZ Objetivos do capítulo Este capítulo foi dividido em 18 itens visando facilitar o entendimento da questão dos recursos energéticos e sua relação com o meio ambiente. Na primeira seção é feita uma introdução à questão. Nas seções Conversão de energia e Conversão de outras energias em energia elétrica, é abordado o tema da conversão de energia, sendo que o último é dedicado somente à obtenção de eletricidade. Na seção Transmissão e distribuição de energia elétrica, o tema é abordado introduzindo o importante con- ceito da transformação de tensão. Na seção Unidades usadas em eletricidade e ener- gia, são comentadas algumas unidades básicas utilizadas em energia e eletricidade, como o Watt, o Watt-hora, etc. Em seguida, são abordadas separadamente fontes energéticas específicas como: hidreletricidade, energia solar, energia eólica, energia dos oceanos, energia geotérmica ou geotermal, energia nuclear, petróleo, gás natu- ral, carvão mineral, etanol, biodiesel e lenha, carvão vegetal e outros tipos de bio- massa. O capítulo é encerrado com alguns exercícios de fixação. ENERGIA Energia é um recurso fundamental para o desenvolvimento de qualquer economia e civilização. Hoje ela é vista como estratégica no cenário de poder mundial e regional e estima-se que a demanda energética mun- dial triplique nos próximos 30 anos. Dessa forma, o consumo energético mundial terá crescido 6 vezes em 80 anos. Tipos de fontes de energia: n Fontes renováveis: são abundantes (como o sol e os ventos), podem ser plantadas (biomassa) ou não descaracterizadas durante o uso (como a água em uma hi- drelétrica). n Fontes não renováveis: recursos mine- rais, mais ou menos escassos dependen- do do tipo (petróleo, carvão, urânio, etc.) e da região. A demanda energética atual apresenta uma forte tendência ao uso de fontes reno- váveis, ao contrário do ciclo energético an- terior, que foi baseado essencialmente no petróleo. Tal combustível se mostrou, ao longo dos anos, bastante suscetível a crises, com subidas de preços na maior parte das vezes artificiais. A primeira crise do gênero Meio ambiente e sustentabilidade 127 se deu em 1973 e elevou o preço médio do barril de US$ 2,8 para US$ 12 (valores no- minais médios). A partir de então, o mundo conheceu uma nova sigla, a OPEP – Orga- nização dos Países Exportadores de Petró- leo – da qual fazem parte Irã, Iraque, Kwait, Líbia, Nigéria, Catar, Arábia Saudita, Emi- rados Árabes Unidos, Venezuela, Angola, Argélia e Equador. Cerca de 75% das reser- vas mundiais e 40% da produção do óleo estão nas mãos dos países da OPEP. Como aproximadamente 35% da energia mundial provêm do petróleo (Tabela 6.1), pode-se afirmar que 14% da oferta mundial de ener- gia são controlados por esses países. Segundo o Balanço Energético Nacio- nal, publicado em 2010 pelo Ministério das Minas e Energia, a oferta interna de energia no Brasil e no mundo pode ser distribuída conforme mostrado na Tabela 6.1. Segundo os dados apresentados, 46,8% da energia ofertada no Brasil provêm de recursos re- nováveis (dados de 2009), contrastando fortemente com a média mundial, em que as fontes renováveis representam apenas 12,7% (dados de 2007). Observa-se tam- bém que a oferta energética brasileira, de cerca de 244 milhões de toneladas equiva- lentes de petróleo (tep), representa aproxi- madamente 2% de toda a energia ofertada no mundo. Além de representar um papel impor- tante relacionado à soberania de um país, a energia também pode significar divisas para exportação ou gastos com importação. O Brasil sempre apresentou uma dependência histórica do petróleo internacional, che- gando a importar 90% do necessário na dé- Brasil, 2009 % Lenha e carvão vegetal 10,1 Derivados da cana 18,2 Outras renováveis* 3,8 N ão r en o vá ve l R en o vá ve l TABELA 6.1 Oferta de energia (em milhões de tep) no mundo e no Brasil MUNDO BRASIL FONTE 2007 2009 Petróleo 34,0 37,9 Gás 20,9 8,7 Carvão mineral e coque 26,5 4,7 Nuclear 5,9 1,4 Total 87,3 52,7 Hidráulica 2,2 13,9 Outras renováveis 9,8 32,1 Outras 0,7 0,0 Total 12,7 46,8 Total 100 100 Quantidade de energia ofertada (106 tep) 12.029 244 * Outros tipos de biomassa, eólica, solar, etc. Fonte: Ministério das Minas e Energia, 2010. 128 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) cada de 1970. A alta no preço do barril tor- nou a busca por óleo no mar compensató- ria e fez com que a Petrobrás se desenvol vesse como uma grande empresa do setor, dimi- nuindo paulatinamente a dependência na- cional mesmo com a demanda crescente, até a autossuficiência em 2006. Nesse perío- do, o país desenvolveu tecnologia própria, inclusive exportando o conhecimento ad- quirido. Em outra escala, desenvolvimentos tecnológicos similares ocorreram para os casos do etanol, urânio e biodiesel. CONVERSÃO DE ENERGIA A conversão de um tipo de energia em ou- tro é uma atividade corriqueira. A fonte bá- sica é o sol, cuja energia luminosa é conver- tida por seres autótrofos em alimento, for- necendo a base para a existência de cadeias tróficas. Durante o movimento de um au- tomóvel, a energia química do combustível é convertida em energia cinética pelo motor (chamado de motor de combustão interna, seja Ciclo Otto ou Ciclo Diesel), que movi- menta o eixo e faz as rodas girarem. Dessa forma, motor é o equipamento que trans- forma energia em movimento. O equipa- mento que transforma movimento em energia é o gerador. Outro exemplo bastante prático de conversão energética ocorre em uma usina termelétrica. Seja abastecida de combustí- veis fósseis como gás natural, carvão e óleo diesel ou com urânio (quando recebe o nome de termonuclear), o princípio é se- melhante, conforme ilustra a Figura 6.1. A produção de eletricidade pode se dar em: 1. Motogeradores: em um motorde com- bustão interna, a explosão gerada pela queima do combustível movimenta o pistão, e este movimenta o eixo de um gerador de eletricidade acoplado (a ser tratado posteriormente). 2. Turbina a gás: a queima do combustí- vel se dá próximo a uma turbina (con- junto de pás desenhadas para se movi- mentarem pela passagem de fluidos gerando movimento do eixo a ela aco- plado) e a expansão gerada pela explo- são aciona o gerador. 3. Turbina a vapor: o combustível quei- mado, e/ou o gás proveniente da turbi- na a gás, aquece um fluido (normal- mente a água, cujo aquecimento tam- bém pode ser feito pela fissão do urânio), até formar vapor sob pressão. O alívio da pressão contra as pás de uma turbina gera nestas um movi- mento que pode, por sua vez, ser em- pregado para acionar um gerador aco- plado a essa turbina. O vapor que sai da turbina pode ser lançado para o ambiente ou então reciclado por um condensador, onde novamente como líquido será devolvido ao sistema de geração. Em um sistema de ciclo aberto ou simples (1 ou 2), a eficiência normalmente não passa de 35%, sendo o restante da ener- gia perdido, por exemplo, como som e calor. Em um sistema de ciclos combinados (1+3 ou 2+3 ou como a Figura 6.1, que tem gás como combustível) a eficiência total pode ultrapassar 55%, o que aumenta a competi- tividade do empreendimento. Em um sistema de ciclos combinados, emprega-se o princípio da cogeração, que consiste no aproveitamento de um combus- tível na geração simultânea de trabalho me- cânico (e deste, a eletricidade) e calor. Esse calor pode ser aproveitado ou utilizado para a obtenção de vapor para movimentar uma turbina (3) ou outros equipamentos (máquinas a vapor). Entre os impactos ambientais de um sistema de geração termelétrico, certamente se listam os gases de exaustão, que, no caso de um motor de combustão interna, podem chegar a 550o C, e a água a ser aquecida ou Meio ambiente e sustentabilidade 129 utilizada no sistema de refrigeração. Embo- ra a utilização de sistemas fechados de refri- geração evite a captação constante de água de recursos hídricos, a troca de calor para resfriamento do vapor devolve água aqueci- da para o ambiente. CONVERSÃO DE OUTRAS ENERGIAS EM ENERGIA ELÉTRICA Métodos físicos e químicos podem ser em- pregados para a obtenção de energia elétri- ca. Nos métodos químicos, elétrons gerados em reações químicas são direcionados para um circuito externo onde são ligados os dis- positivos elétricos ou eletrônicos. Um dos exemplos mais comuns de processo quími- co para a produção de energia elétrica é a bateria de chumbo-ácido dos automóveis. Esse tipo de bateria é composto por placas de chumbo, terminal ou polo negativo, e placas de PbO2, polo positivo, mergulhadas em uma solução aquosa de ácido sulfúrico, o eletrólito. As reações principais que ocor- rem em baterias desse tipo são: Pb + H2SO4 Þ PbSO4 + H2 + 2 elétrons (1) PbO2 + H2SO4 + 2 elétrons Þ PbSO4+ H2O + O2 (2) Tanto a formação do sulfato de chum- bo nos eletrodos quanto a de água na solu- ção levam à descarga da bateria. Porém, essas reações são reversíveis, desde que apli- cada uma corrente adequada entre seus ter- minais. Em um automóvel, a corrente elé- trica gerada pela bateria serve para manter dispositivos como relógios, rádios e alarmes funcionando, bem como para dar a partida no motor. Com o carro em funcionamento, o alternador (um pequeno gerador aciona- do pelo próprio motor que movimenta o veículo) começa a funcionar, produzindo a Figura 6.1 Esquema de uma usina termelétrica com ciclos combinados gás/vapor. 130 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) eletricidade que o carro precisa, inclusive para recarregar a bateria. Uma pilha também é uma forma de obtenção de eletricidade a partir de proces- sos químicos. Embora fisicamente sejam tratadas como sinônimos, popularmente pilhas são dispositivos de formato cilíndri- co. e baterias são as de carro (chumbo-áci- do) e as de equipamentos eletrônicos como telefones celulares. No caso de pilhas co- muns, os eletrodos são normalmente um pino central de carvão e um invólucro de zinco, e o eletrólito é uma pasta de cloreto de amônio. Já as pilhas alcalinas possuem geralmente eletrodos à base de aço revesti- do em níquel e zinco, tendo como eletrólito uma solução de hidróxido de potássio. Nos dois casos, podem ainda ser adicionados mercúrio, cádmio, índio e/ou chumbo com o intuito de diminuir a corrosão do zinco e aumentar a eficiência. As baterias de celular ou pilhas recarre- gáveis possuem um princípio de funciona- mento semelhante ao da bateria usada nos carros, o que permite a recarga por várias vezes. Os eletrodos são normalmente de ní- quel e cádmio, e o eletrólito de hidróxido, de potássio. Por apresentarem metais na composi- ção e outros componentes potencialmente tóxicos, bem como destinação final difícil e onerosa, o descarte de pilhas e baterias me- receu legislação específica. A resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) no 401 de 2008 (que substituiu a 257/99) estabelece o descarte seletivo obrigatório por parte dos consumidores e a coleta, disposição e reciclagem, por parte dos fabricantes e/ou importadores. A legis- lação estabelece ainda limites máximos para a utilização de alguns metais, como o mercúrio e cádmio, na composição de pi- lhas e baterias chumbo-ácido. As células a combustível também são formas químicas de obtenção de energia. Essencialmente, elas são compostas de um ânodo, que é seu terminal negativo, um cá- todo, um eletrólito e um catalisador. O combustível dessas células normalmente é o gás hidrogênio, embora outros, como o me- tanol, também possam ser usados. No ele- trólito, é comum o uso de uma membrana de troca de prótons, que é livremente atra- vessada por prótons e bloqueia a passagem dos elétrons. Quando o hidrogênio gasoso entra em contato com o catalisador, sua molécula se dissocia formando dois íons H+ e dois elétrons. Os prótons são conduzidos através da membrana até o cátodo enquan- to os elétrons são forçados a percorrer um circuito externo (gerando a eletricidade) para chegar ao cátodo. Simultaneamente, oxigênio molecular (O2), ou até mesmo ar, é comprimido pelo catalisador sobre o cá- todo, formando dois átomos de oxigênio que atraem íons H+ através da membrana e, com os elétrons que percorreram o circuito externo, formam moléculas de água como gás de escape. Como processos físicos de obtenção de eletricidade, destacam-se os geradores, as células fotovoltáicas e os cristais piezoelé- tricos. As células fotovoltaicas se baseiam no efeito fotoelétrico e são construídas a partir de placas conectadas de materiais semicon- dutores convenientemente dopados, por exemplo, com fósforo e boro, para que uma placa tenha tendência a doar elétrons e a outra tenha tendência a recebê-los, respec- tivamente. A luz, ao ser absorvida pelo se- micondutor, pode fornecer energia aos elé- trons do eletrodo doador em quantidade suficiente para que eles se movam livre- mente pelo material em direção ao receptor, gerando, dessa forma, uma corrente elétri- ca. A luz normalmente utilizada para fazer funcionar as células fotovoltaicas é a do sol e, por essa razão, tais dispositivos também são chamados de células solares. A eficiência da conversão de energia luminosa em elé- trica é baixa, limitando-se atualmente a cerca de 30%. Além disso, o alto custo das placas semicondutoras ainda dificulta a aplicação em grande escala das células sola- Meio ambiente e sustentabilidade 131 res. Atualmente, a fotoeletricidade é larga- mente empregada em dispositivos eletrôni- cos de baixo consumo de energia, como cal- culadoras e relógios. Calcula-se que no mundo inteiro haja uma potência instalada de quase 8 GW em “usinas” fotovoltaicas, sendo metade na Alemanha. Uma das maiores usinas foto- voltáicas em operação no mundo fica em Portugal e tem capacidade de gerar11 MW. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica, no Brasil há uma única central fo- tovoltaica, de 20,5 kW, em Nova Mamoré, Rondônia. Há ainda no país aplicações da fotoeletricidade para bombeamento de água para irrigação, radares em estradas, bem como projetos-piloto de iluminação pública, eletrificação de escolas, postos de saúde e de dessalinização de água. Muitos são sistemas ainda experimentais, adotados em geral em comunidades rurais e/ou iso- ladas, onde o acesso aos meios convencio- nais de geração de energia elétrica é muito difícil. Os cristais piezoelétricos podem tam- bém ser empregados como geradores de eletricidade. Alguns materiais cristalinos, sendo o mais comum deles o quartzo, pos- suem a propriedade de produzirem eletrici- dade quando submetidos à pressão, a piezo- eletricidade. Pelos custos envolvidos e pela dificuldade de se gerarem grandes corren- tes, essa forma de geração encontra aplica- ção limitada, por exemplo, em componen- tes eletrônicos e microfones. A forma mais comum para geração de grandes quantidades de energia elétrica, su- ficientes para abastecer fábricas ou cidades, é, sem dúvida, o gerador elétrico. Esse tipo de gerador é uma aplicação prática do fenô- meno da indução magnética, baseado no princípio de que a variação do campo mag- nético agindo sobre um material condutor resulta no movimento ordenado de seus elétrons livres. Ligando-se as extremidades do condutor a um circuito externo, tem-se uma corrente elétrica percorrendo o circui- to. A variação do campo magnético pode ocorrer quando um ímã é movimentado nas vizinhanças de um fio ou quando o ímã é mantido fixo e o condutor é movimenta- do. A Figura 6.2 ilustra o procedimento Figura 6.2 Esquema básico de um alternador. Fonte externa de rotação Bobina Imã Eletricidade 132 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) mais frequentemente empregado para a ge- ração de eletricidade a partir desse tipo de gerador. Para se aumentar a corrente gera- da, em vez de se usar simplesmente um pe- daço de fio reto, o condutor é enrolado ao redor de um eixo, formando uma bobina. Por meio de uma fonte externa de energia mecânica, uma roda d’água, por exemplo, faz-se a bobina girar no interior de um campo magnético produzido por um ímã permanente ou por um eletroímã (outra bobina percorrida por uma corrente elétri- ca). Dessa forma, a variação do fluxo do campo magnético através da bobina induz nesta uma corrente elétrica. O movimento de rotação da bobina faz o sentido do campo magnético que a atravessa variar com o tempo. Assim, o sen- tido da corrente produzida em dispositivos desse tipo também varia e, por isso, diz-se que a corrente produzida pelos geradores é alternada, e esses dispositivos são também chamados de alternadores. Outra forma de corrente elétrica é a corrente contínua, pro- duzida fazendo-se com que os contatos elé- tricos que levam a corrente ao circuito ex- terno sejam invertidos, acompanhando a rotação da bobina. Também se obtém cor- rente contínua, que é a forma normalmente utilizada nos equipamentos eletrônicos, a partir da retificação da corrente alternada, o que pode ser feito usando-se diodos e capa- citores. A diferença fundamental entre as cen- trais elétricas hidráulicas e térmicas é a fonte da energia mecânica que movimenta a bobina. Nas termelétricas, como já visto, o movimento é gerado por vapor pressuriza- do ou pela expansão de gases. Nas usinas hi- drelétricas, as turbinas são movimentadas pelo fluxo de uma queda d’água, como apresentado na Figura 6.3. Figura 6.3 Esquema de uma usina hidrelétrica Adaptado de Tennessee Valley Authority. Linhas de distribuição de energia Reservatório Casa de força Gerador Canal Duto Rio Turbina Meio ambiente e sustentabilidade 133 TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Embora a maior parte da energia elétrica seja consumida na forma de 110 V ou 220 V, a eletricidade normalmente é gerada em tensões superiores que são, inclusive, au- mentadas, logo após a geração, para cente- nas de milhares de volts em subestações de elevação de tensão. A energia é transmitida até próximo ao local de consumo, por exemplo, uma cidade. A tensão é então di- minuída em subestações de redução de ten- são, e a energia elétrica é então distribuída dessas subestações até os postes (onde a tensão é reduzida para os níveis finais) e destes até o consumidor final. A elevação ou redução de tensão são feitas em equipa- mentos chamados transformadores. A necessidade dessa transformação da tensão pode ser facilmente demonstrada. Considere uma comunidade cuja demanda é de 12.700 W (o suficiente para abastecer mensalmente cerca de 60 residências consu- mindo 150 kWh mensais). Se a tensão usada na transmissão fosse 127 V, a corrente ne- cessária para fornecer essa quantidade de energia seria: I P V = = =12700 127 100 A (3) Supondo que a linha de transmissão apresentasse uma resistência elétrica intrín- seca, R, de 1 ohm, a potência dissipada, per- dida principalmente na forma de calor, seria: P = I2R = 1002.1 = 10.000 W (4) Por outro lado, com a mesma resistên- cia da linha e usando 12.700 V em vez dos 127 V, a corrente conduzida seria de 1 A e a potência dissipada de apenas 1 W. Assim, o aumento da tensão reduz a perda de energia no percurso entre a geração e os consumi- dores finais. Um transformador, esquematizado na Figura 6.4, consiste basicamente de duas bobinas, os enrolamentos primário e secun- dário, isoladas eletricamente uma da outra, porém enroladas sobre um mesmo núcleo, normalmente de ferro. Quando uma fonte de tensão alternada é conectada ao enrola- mento primário, na entrada do transforma- dor, tem-se a geração de um campo magné- tico, que é proporcional ao número de espi- ras (voltas) dessa bobina. Segundo a Lei de Faraday, esse campo magnético induzirá uma corrente na bobina secundária, na saída do transformador, em resposta à va- riação do fluxo magnético através dela. Como a variação do fluxo magnético é também proporcional ao número de es- piras do enrolamento secundário, a corren- te induzida nessa bobina dependerá tanto Figura 6.4 Representação esquemática de um transformador de tensão. N1 V1 V2 N2 134 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) do número de espiras do enrolamento pri- mário quanto do número de espiras da bo- bina secundária. Assim, se V1 for a tensão aplicada no enrolamento primário com N1 espiras e V2 for a tensão induzida na segun- da bobina com N2 espiras, pode-se de- monstrar que: V V N N 2 1 2 1 = (5) Dessa maneira, se o número de espiras no enrolamento secundário for maior que no primário (como na Figura 6.4), a tensão na saída do transformador será maior que a tensão aplicada na entrada. Ao contrário, se N1 for maior que N2, o transformador redu- zirá a tensão. É importante observar que o funcio- namento de um transformador de tensão é baseado na variação do fluxo magnético em uma bobina, que permanece imóvel. Ou seja, a única forma de se obter essa variação de fluxo é variando-se o campo magnético. A maneira mais simples de se conseguir isso é usando corrente alternada. Essa necessidade de transformação da voltagem e do consumo imediato (pois a eletricidade não pode ser armazenada) faz necessária a existência dos chamados li- nhões de alta tensão ligando a produção ao consumo, nem sempre próximos, o que traz seus problemas. Certamente a necessidade de desmatamento ao longo de milhares de quilômetros de distância para a instalação das torres que sustentam os linhões é im- pactante para o ambiente. Alguns pesquisa- dores tentam ainda estabelecer conexões entre a habitação em regiões próximas aos linhões e o desenvolvimento de doenças, mas ainda não há conclusões definitivas. O que se verifica de fato é a ionização do ar ao redor das linhas, o que pode produzir ozô- nio, gerar interferências em equipamentos de comunicação e, eventualmente,doenças ocupacionais. Outro impacto ambiental importante da atividade de transformação de tensão é a possível geração de resíduos perigosos asso- ciados a transformadores inutilizados ou que são submetidos à manutenção. Na ele- vação ou redução de tensão é gerado calor, e este é confinado em uma espécie de caixa metálica com o auxílio de um sistema de isolamento térmico e elétrico composto por papel e óleo (existem também transforma- dores a seco). Os transformadores atual- mente utilizam óleo de silicone, óleos mi- nerais ou ésteres (sintéticos ou naturais), porém, até 1981 era permitido no Brasil o uso do ascarel, baseado em uma bifenila po- liclorada (PCB, na sigla em inglês) tóxica, mas eficiente na função. Acredita-se que procedimentos falhos na substituição do ascarel fazem com que parte do óleo em uso hoje ainda esteja contaminado com PCBs. Durante a desmontagem de um transfor- mador (para fins de descarte adequado ou manutenção), o óleo interno deve ser con- venientemente drenado, recuperado e reu- tilizado, tratado e/ou disposto. Os papéis usados dos transformadores também são considerados resíduos perigosos e um des- tino possível deles é a queima, aproveitan- do-se ou não seu poder combustível para outras finalidades. UNIDADES USADAS EM ELETRICIDADE E ENERGIA Já se comentou sobre potência e energia, em- bora a primeira não tenha sido definida. Po- tência, P, é a energia, E, produzida ou consu- mida por unidade de tempo, t. Ou seja, P E t = (6) A unidade de potência no sistema in- ternacional é o Watt que corresponde a um Joule por segundo. Quando se afirma que Meio ambiente e sustentabilidade 135 Itaipu tem capacidade instalada de 14 GW significa que em uma hora a pleno funcio- namento, a hidrelétrica poderá produzir 14x109 Wh (watt-hora). Note que essa grandeza corresponde à energia, pois, se- gundo a expressão acima, E = P.t. Além do Watt e de seus múltiplos, em eletricidade também se utilizam: n Wp = watts no pico. Essa unidade é muito utilizada associada à conversão de energia luminosa solar em eletricidade e indica o pico de geração de energia. n We = watts elétricos. Indica a energia envolvida especificamente na geração de eletricidade. Esse termo é associado à termeletricidade. Outra unidade bastante comum é a “tonelada equivalente de petróleo” (tep), que indica quantas toneladas de petróleo seriam consumidas para se produzir deter- minada quantidade de energia. Para se pro- duzir 1 MWh exclusivamente a partir da queima do petróleo, seriam consumidas 0,086 toneladas do óleo cru. Assim, 1 MWh corresponde a 0,086 tep. HIDRELETRICIDADE Colocar obstáculos no leito dos rios é uma das formas mais tradicionais de se represar água. O fim do percurso representado pela barragem colocada faz o rio, que estava fluindo, aumentar localmente de profundi- dade. Invariavelmente, ocorre a inundação de áreas anteriormente secas para que se acumule água, formando reservatórios que podem garantir o fornecimento de água bruta e energia em todas as estações do ano. O acúmulo de água chega a uma altu- ra máxima determinada pela barragem e pelo desnível natural da região. Dessa ma- neira, a água acumula uma grande quanti- dade de energia potencial, que será trans- formada em energia cinética quando a água fluir. Esse tipo de represamento era muito comum antes da popularização da eletrici- dade e a energia cinética obtida movimen- tava (e ainda movimenta) equipamentos como rodas d’água, moinhos, etc. Em uma hidrelétrica, normalmente o fluxo da água acontece em tubulações, os dutos forçados, no fim dos quais se encon- tram as turbinas (Figura 6.3). Os rios de planaltos são os preferidos para represa- mento hidrelétrico uma vez que possuem quedas d’água naturais interessantes do ponto de vista energético. Entretanto, vá- rios empreendimentos hidrelétricos são au- torizados em regiões mais planas, como a Amazônia brasileira. Uma agravante desse tipo de construção é que, para acumular água suficiente para fornecer energia seme- lhante à produzida por uma usina em um rio de planalto, a área inundada é conside- ravelmente maior. Segundo o Atlas Nacional de Energia Elétrica, publicado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) em 2008, o Brasil possui um potencial hidrelétrico de 251 GW em seus rios, havendo instalados 74 GW. A bacia hidrográfica do Paraná é a mais aproveitada de todas as bacias brasilei- ras, com 72% de seus quase 58 GW poten- ciais. A Bacia do Amazonas é a menos apro- veitada (1%) e a de maior potencial com 106 GW. A despeito da declividade relativa- mente baixa dos rios da bacia, da grande distância até os principais centros consumi- dores de eletricidade e da necessidade de inundação de áreas florestais, há interesses crescentes em aumentar o aproveitamento hidrelétrico nessa região. Por exemplo, duas hidrelétricas em construção no rio Madei- ra, Santo Antônio e Jirau (RO), com capaci- dade instalada de 6,5 GW no total, devem iniciar a operação até 2012. Em 2015, está previsto o início das operações da Usina de Belo Monte, com 11,2 GW de potência ins- talada, no rio Xingu (PA). 136 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) Embora seja considerada uma fonte limpa de obtenção de energia, a partir de re- cursos renováveis, a hidreletricidade está longe de ser consenso. Alguns problemas ambientais criados ao se represar um corpo d’água podem ser listados: n Perda de áreas: calcula-se que o Brasil já inundou cerca de 45.000 km2 de seu ter- ritório (o que equivale ao estado do Espí- rito Santo) para represamento de água. n O desvio do leito do rio para a constru- ção da barragem. n A intensificação da atividade madeireira exploratória, que pode ser autorizada em razão da eminente inundação das árvores. n A dificuldade de reposição da água, mais comum em rios de pequena vazão, cau- sando a diminuição do teor de oxigênio no fundo do lago. n A decomposição da matéria orgânica inundada causando a emissão de gases como gás sulfídrico (H2S) e o CO2. n O acúmulo de lodo próximo à barragem. n O aparecimento de grandes cardumes próximos à montante (antes da barra- gem) e perda de zonas de pesca à jusante (após a barragem). n O obstáculo à migração de peixes no pe- ríodo reprodutivo, a piracema. n A criação de microclimas, o que pode, entre outros problemas, favorecer a pro- liferação de certos parasitas. n A morte de animais e de vegetais inun- dados e a consequente perda de biodi- versidade. Podem ocorrer, ainda, alguns impac- tos socioambientais, como a “morte” de ci- dades inteiras e a necessidade de construção de novas e a consequente realocação e inde- nização das pessoas afetadas, após um ex- tensivo trabalho que envolve vários profis- sionais. Muitas vezes, por mais que se tente, não é possível evitar insatisfações, proble- mas pessoais, culturais (como os relaciona- dos a cemitérios, perda de pontos turísticos e sítios arqueológicos), econômicos (confli- tos pelo uso da água, realocação de agricul- tores em áreas impróprias) e ambientais. A represa, porém, pode representar uma oportunidade de desenvolvimento econô- mico para suas vizinhanças, pois pode ser- vir para abastecimento público e industrial, recreação, pesca, transporte, irrigação, cul- tivo de peixes, moluscos e crustáceos, mine- ração, turismo, etc. Para a produção de hidreletricidade, não basta somente uma grande quantidade de água. A turbina e o sistema gerador tam- bém devem ser adequados à vazão, queda d’água e à quantidade de energia desejada. Assim, podem ser projetadas hidrelétricas pequenas ou enormes, como a Hidrelétrica de Três Gargantas, na China, com 18,6 GW. A Tabela 6.2 apresenta o panorama, em no- vembro de 2008, de como se obtém eletrici- dade no Brasil, segundo a ANEEL. Os 102 GW de potência instalada significam uma produção máxima de 893 TWh ou 77 x 106 tep. Ou seja, no máximo cerca de 30% da energia ofertada no Brasil (Tabela 6.2) é elé- trica, sendoaproximadamente 23% prove- niente da água (hidráulica) e 7% de outros tipos, incluindo a energia eólica. A relação entre potência instalada e ta- manho do lago não é tão proporcional quan- to parece. A Tabela 6.3 mostra, para algumas hidrelétricas, o tamanho do lago formado pelo represamento do rio e a potência insta- lada. Há relações extremamente favoráveis como a de Itaipu e outras desfavoráveis, como Balbina, criticada por muitos não so- mente por essa relação, mas por outros fa- tores, como a inundação de áreas florestais e indígenas. A Usina Hidrelétrica de Itaipu é um empreendimento feito em consórcio com o Paraguai, e cada país tem direito a 50% da energia produzida, sendo que o Paraguai vende parte de sua cota para o Brasil. Ao todo são 20 turbinas de 700 MW cada, tota- lizando 14 GW. O lugar onde foi construída Itaipu é considerado por especialistas um Meio ambiente e sustentabilidade 137 dos melhores lugares do mundo para se fazer uma hidrelétrica. O rio Paraná, repre- sado no lago de Itaipu, tem vazão média da ordem de 10.000 m3/s. O lago acumula 29 trilhões de litros de água, em um reservató- rio de 1.350 km2 e 120 km de extensão. Nessa extensão, que vai dos municípios de Guaíra à Foz do Iguaçu, ocorre uma queda natural média de 180 m. Nos cerca de 2.000 km que vão do lago até Buenos Aires, onde as águas do Paraná encontram o mar (após receber outros rios e de inclusive mudar de nome), a queda natural é de aproximada- mente 40 metros, o que torna improvável seu aproveitamento. A barragem de Itaipu possui 196 m de altura e 7,7 km de exten- são, o que significa uma parte relativamente estreita do rio na região. Antes de Itaipu, as águas do sistema Tietê/Paraná possuíam outras 46 hidrelétricas (inclusive Ilha Sol- teira e Sérgio Motta, Tabela 6.3), o que faz o rio estar totalmente regulado quando chega a barragem, permitindo o trabalho em “fio d’água”, ou seja, o lago sofre poucas oscila- TABELA 6.2 Situação do Potencial Elétrico Brasileiro em novembro de 2008 NÚMERO DE POTÊNCIA TIPO EMPREENDIMENTOS (KW) % Centrais Geradoras Hidrelétrica (< 1MW) 227 146.922 0,14 Pequenas Centrais Hidrelétricas (> 1MW e 320 2.381.419 2,33 < 30MW) Usinas Hidrelétricas de Energia (> 30MW) 159 74.851.831 73,20 Usinas Termelétricas 1.042 22.585.522 22,09 Usinas Termonucleares 2 2.007.000 1,96 Usinas Eólicas 17 289.150 0,28 Usina Solar 1 20 0 Total 1.768 102.261.864 100,00 Fonte: Adaptado do Atlas de Energia Elétrica do Brasil, 3. ed., 2008. TABELA 6.3 Algumas Hidrelétricas Brasileiras, seus rios, potências e tamanhos de lagos POTÊNCIA INSTALADA LAGO RELAÇÃO USINA REGIÃO RIO (MW) (km2) MW/km2 Itaipu Sul Paraná 14.000 1.350 10,37 Tucuruí Norte Tocantins 8.370 2.785 3,00 Ilha Solteira Sudeste Paraná 3.444 1.195 2,88 Sérgio Motta Sudeste Paraná 1.540 2.250 0,68 Sobradinho Nordeste São Francisco 1.050 3.970 0,26 Balbina Norte Uatumã 250 2.360 0,11 Itupararanga Sudeste Sorocaba 55 33 1,67 138 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) ções de altura e, consequentemente, de vo- lume d’água. Todos esses fatores fazem com que Itaipu seja a maior hidrelétrica em opera- ção do mundo. Perde em potência instalada para a Hidrelétrica das Três Gargantas, que represou o rio Yangtzé na China. Porém, a usina chinesa só produz a plena capacidade (o que para Itaipu é praticamente constan- te, dado o trabalho “a fio d’água”) quando ocorrerem grandes cheias no rio, o que não é um evento frequente. Apesar de considerada uma opção limpa de energia, o racionamento de ener- gia elétrica que ocorreu no Brasil em 2001/2002 evidenciou alguns problemas enfrentados por um país que apostou quase todas as suas fichas na hidreletricidade. Após um período de chuvas fracas, que não encheram os reservatórios para a época de estiagem, ampliaram-se os incentivos para que empresários investissem no setor elétri- co (em especial a partir de fontes renová- veis). Esses incentivos se deram principal- mente na forma de linhas de financiamento e garantia de compra da energia produzida. Vem se fortalecendo também a tendência da repotencialização, ou seja, a partir de es- tudos em cada unidade de geração de ener- gia, é possível verificar pontos que podem ser melhorados (p. ex., troca de equipamen- tos antigos por mais modernos e eficientes) e aumentar a potência de usinas existentes. No caso da repotencialização de unidades hidráulicas, especialistas calculam que é possível acrescentar aproximadamente 8GW ao potencial elétrico brasileiro sem aumentar a área inundada. ENERGIA SOLAR A fonte primária de energia no planeta, o sol, embora tenha um potencial imenso, conforme mostra a Tabela 6.4, ainda é pouco explorada (Tabela 6.1). Apesar da pequena diferença entre os valores máximo e mínimo da insolação no Brasil, o país praticamente não utiliza esse tipo de energia devido a uma série de fatores: n Os atuais alto custo e relativa baixa efici- ência na geração de eletricidade das cé- lulas fotovoltaicas; n A geração de energia não é constante, sendo influenciada negativamente pela presença de nuvens e poluição atmosfé- rica e é obviamente nula durante a noite; n A maior disponibilidade da energia solar é, normalmente, inversamente propor- cional à sua necessidade para aquecimen- to de água e ambientes. Apesar das dificuldades para que a energia solar se torne uma fonte confiável e barata de energia, sua conversão em calor poderia ser mais bem explorada com as tec- nologias e custos atuais. Pátios de secagem à luz solar são extremamente comuns em agroindústrias, onde coberturas de plástico protegem da chuva e funcionam como es- tufas. Fogões solares têm sido bastante di- vulgados, principalmente em regiões caren- tes. Versões rudimentares de dessalinizado- res solares também têm sido utilizadas em áreas onde as águas subterrâneas costumam ter elevada concentração de sais. Na Cali- fórnia (EUA), existe uma central termelétri- ca híbrida solar/gás de 354 MW, onde espe- lhos parabólicos concentram a radiação TABELA 6.4 Dados sobre a energia solar Energia do sol que chega à superfície do planeta = 677 W/m2 Valores mínimo e máximo observados na Terra / m2 = 1,89 kWh/dia e 6,4 kWh/dia Valores mínimo e máximo observados no Brasil / m2 = 4,5 kWh/dia e 6,1 kWh/dia Energia média incidente no Brasil / m2 = 5,2 kWh/dia Meio ambiente e sustentabilidade 139 sobre um tubo de cobre para vaporizar a água que circula por ele. O aquecimento de água com coletores solares pode representar uma grande eco- nomia de eletricidade. Tais coletores são normalmente colocados nos tetos das casas, e placas captam a luz solar e aquecem a água em serpentinas de cobre. Esse sistema pode eliminar, ou pelo menos diminuir, a necessidade de aquecedores a gás e de chu- veiros elétricos, somente com os quais esti- ma-se que o Brasil consuma 20 TWh por ano. Países como Israel, Espanha, Coreia, Índia, China e Alemanha possuem legisla- ções que exigem que parte do aquecimento de água (30 a 70%) seja feito via energia solar. ENERGIA EÓLICA O aproveitamento da energia de massas de ar em movimento é uma prática comum há milhares de anos para o bombeamento de água e a moagem de grãos. Porém, só em 1976 entrou em operação, na Dinamarca, a primeira turbina eólica comercial ligada à rede elétrica. Segundo a World Wind Ener- gy Association, em junho de 2010, havia no planeta 175 GW instalados de geração eóli- co-elétrica, sendo 36,3 GW nos EUA, 33,8 GW na China e 26,4 GW na Alemanha. Assim como a solar e o biodiesel, a energia eólica é um dos tipos de energia cujo apro- veitamento mais cresce no mundo. Os problemas ambientais causados pelos geradores eólicos são mínimos quan- do comparados com os provocados por ou- tras formas de obtenção de eletricidade. Os mais graves são a poluição visual, os aciden- tes com aves e a geração de ruídos e interfe- rências. Uma grande vantagem da energia eó- lica é que, assimcomo a hidráulica e a solar, não há consumo de combustível. A manu- tenção dos equipamentos é considerada ba- rata, porém sua instalação e a produção de eletricidade são caras. A Tabela 6.5 apresen- ta os custos de produção de várias formas de obtenção de energia elétrica segundo a ANEEL. Considera-se que para que uma usina eólica seja técnica e comercialmente viável ela deve ser instalada em regiões de ventos superiores a 7 m/s, o que representa uma potência de 500 W/m2. A 50 m de altura, essas condições de vento só ocorrem em 13% da superfície terrestre, e, ainda assim, esses ventos não são constantes. Em função disso, os que criticam a energia eólica se apoiam no fato de que a usina estará sujeita a ventos viáveis somente em parte do perío- do de operação. Outro problema é que as regiões onde ocorrem os ventos ideais podem ser áreas densamente povoadas, in- dustrializadas, montanhosas, etc. As turbinas eólicas devem ser produ- zidas com desenho aerodinâmico visando à máxima força resultante para empurrar suas pás para cima. São normalmente cons- truídas com um número pequeno de pás TABELA 6.5 Custo de produção de energia elétrica no Brasil (ANEEL, 2008) FONTE R$/MWh Óleo diesel 491,61 Óleo combustível 330,11 Eólica 197,95 Gás natural* 140,60 Nuclear 138,75 Carvão** 135,05 Hidrelétrica*** 118,40 Bagaço de cana 101,75 * o custo cai para R$ 125,80/MWh quando está liquefeito. ** custo quando carvão nacional é usado. Para o importado o custo é de R$ 127,65/MWh. *** custo para centrais hidrelétricas de grande porte. Para PCHs o custo é de R$ 116,65/MWh. 140 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) (geralmente 3), para facilitar o escoamento do vento. Elas devem ainda estar acopladas a sensores de vento e controladores de giro para se adaptarem a eventuais variações. A distância do eixo de rotação à ponta das pás, o raio do rotor, pode chegar a 60 m, e cada turbina em uma usina eólica está em média a 50 m do solo, quando instalada no litoral, e a 70 m, no interior. Essas medidas estão aumentando ao longo do tempo, o que muitas vezes viabiliza a colocação de um ae- rogerador em local anteriormente não indi- cado. O diâmetro do rotor, D, determina a distância em que uma turbina pode ser ins- talada em relação à outra, sem que a pri- meira atrapalhe o rendimento da segunda. Recomenda-se que duas turbinas não sejam instaladas paralelamente e sim que a sepa- ração entre elas seja de, no mínimo, 5 diâ- metros de distância lateral e 10 diâmetros de distância longitudinal. A potência final (em Watts) é dada por: P AV Cpar= 1 2 3r (7) onde ρ é a densidade do ar (1,10 kg/m3), A é a área da circunferência descrita pelas pás, dada por (πD2)/4, V é a velocidade do ar e Cp é a eficiência do rotor, que normalmente vale 0,59. O termo V3 surge da energia ciné- tica, que irá girar o eixo do rotor e o gera- dor, que e é dada por: E mVc = 1 2 2 (8) onde, m é a massa de ar em movimento. Co mo essa massa depende da velocidade do vento, tem-se que EC é proporcional ao cubo da velocidade. Como no mar os ventos são em média 1 m/s mais rápidos que no conti- nente, é cada vez mais comum, principalmen- te no norte da Europa, empreendimentos eó- licos dentro do oceano, as usinas off-shore. No Brasil, aproveitamentos eólicos promissores se situam na região sul do país, além de Minas e Bahia e, principalmente, na faixa litorânea que vai do Amapá ao Rio Grande do Norte. Essa distribuição geográ- fica, bem como o regime de chuvas existen- te no país faz a energia eólica ser usada para complementar a geração hidráulica. Isso porque durante as épocas de estiagem, quan do o nível de água dos reservatórios das hidrelétricas localizadas nas regiões nordeste e sul cai, ocorrem nessas regiões os ventos mais adequados à produção de ele- tricidade. Calcula-se que o Brasil tenha um poten- cial eólico-elétrico de 143 GW, sendo 52% na região nordeste. Segundo o Ministério das Minas e Energia (2010), em 2009 o Brasil pos- suía capacidade instalada de pouco mais 602 MW de energia eólico-elétrica e autorizações para a construção de outros empreendimen- tos que podem somar mais de 2 GW se efeti- vamente construídos. ENERGIA DOS OCEANOS Aproveitar a energia despendida ou gerada pelos oceanos sempre foi um sonho do homem, dada a imensa quantidade de água em movimento que existe. Sua utilização ainda é baixa, pois geralmente não é simples desfrutar dessa energia, pois é pouco apro- veitada, muitas vezes à custa de um grande conjunto de equipamentos e construções civis em uma faixa de mar importante para vários ecossistemas e para a população. No caso de eletricidade produzida no mar, há ainda a necessidade de linhas de transmis- são para trazê-la para a terra firme. A energia dos oceanos pode ser explora- da nas diferentes formas, resumidas a seguir. 1. Diferença de temperatura entre águas profundas e superficiais. Essa diferença pode ser suficiente para gaseificar e condensar um fluido, como a amônia, e assim movimentar uma turbina. Meio ambiente e sustentabilidade 141 2. O movimento das ondas gera corren- tes de ar imediatamente acima da água. Essas correntes, tanto na ida quanto na volta das ondas, podem ser usadas para acionar turbinas. 3. A energia das ondas também pode ser aproveitada com flutuadores que, acom - panhando o movimento vertical das on- das, acionam geradores. 4. Correntes marítimas acionando turbi- nas (“eólicas” embaixo d’água). 5. O movimento das marés, normalmente associado a barragens próximas a estuá- rios. Na maré alta, a água é direcionada a um reservatório movimentando uma turbina. Nas marés baixas, a água ao deixar o reservatório também movi- menta turbinas. Atualmente, existem usinas desse tipo no Canadá (capacida- de instalada de 20 MW), França (240 MW) e Portugal (0,4 MW). ENERGIA GEOTÉRMICA OU GEOTERMAL A energia geotérmica trata-se da energia produzida a partir do calor do interior da Terra, obtida geralmente em lugares do pla- neta (inexistentes no Brasil) onde existem falhas geológicas, ou rachaduras, que podem trazer para a superfície o calor de regiões a 2 ou até 3 km de profundidade. Os locais onde isso acontece são chamados de pontos quen- tes da Terra e normalmente ocorrem em fronteiras entre placas tectônicas. A energia geotérmica pode ser apro- veitada a partir de sistemas hidrotérmicos, onde a água circula por tubulações que che- gam próximas às rochas quentes ou apro- veitando água quente e/ou vapores, às vezes com temperaturas superiores a 150o C, que possam existir em rochas porosas ou len- çóis freáticos. Dessa maneira, essa fonte de energia é considerada renovável, mas pode ser esgotada se a taxa de aproveitamento for superior à recarga natural ou artificial. Esse tipo de energia pode ser utilizado para for- necimento de água quente para residências e/ou aquecer ambientes, como na Hungria e Islândia. Calcula-se que o no mundo in- teiro existam 15,5 GW instalados para ob- tenção de calor via energia geotérmica. Para um aproveitamento termelétrico a partir dos pontos quentes a eficiência do processo é considerada baixa. A principal razão disto é que as temperaturas máximas raramente ultrapassam a 200o C (contra os cerca de 550o C normalmente atingidos em usinas termelétricas de combustíveis fós- seis). Calcula-se que o mundo possua cerca de 9 GWe em unidades geotérmicas de ge- ração de eletricidade. A maior dessas unida- des se encontra na Califórnia (EUA), com 1,2 GWe, aproveitando-se da profusão de gêiseres na região. Os gêiseres ocorrem quando água fica retida em regiões profun- das da terra, mas com ligações com a super- fície. O calor do interior da Terra aquece essa água a temperaturas superiores ao seu ponto de ebulição. O aumento de pressão quando a água ferve faz com que o vapor atinja a superfície, onde podem ser instala- dos conjuntos de turbinas/geradores. Uma limitação para o aproveitamento dos gêise- res é queeles não são contínuos, ou seja, a produção de energia é intermitente. Além da própria construção do siste- ma de aproveitamento, outros problemas ambientais associados à energia geotérmica existem, como os minerais associados aos vapores (o que pode obrigar tratamento es- pecífico para evitar incrustações em tubula- ções) e a eventual emanação de gás sulfídri- co e dióxido de carbono. ENERGIA NUCLEAR Talvez a forma mais polêmica de geração de energia da atualidade seja a energia nuclear, pelos resíduos gerados e pela possibilidade de acidentes, como o que ocorreu em 1986 142 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) em Chernobyl, na Ucrânia, ou o de 2011, em Fukushima, no Japão, (após terremoto e tsunami). Soma-se a isso o fato de que al- guns países que defendem o uso da energia nuclear o fazem com segundas intenções (armas nucleares). A obtenção de eletricidade pela via nu- clear se dá pela energia térmica liberada, por exemplo, a partir da fissão do núcleo de um átomo. Núcleos atômicos pesados, como os de urânio, são instáveis e decaem espontane- amente, ou seja, se quebram (fissionam) em unidades menores e mais estáveis, liberando grandes quantidades de energia. Nos reato- res nucleares, a fissão é acelerada bombarde- ando-se os núcleos com nêutrons. O urânio é o elemento mais comu- mente utilizado em empreendimentos nu- cleares. É normalmente encontrado na forma de óxidos em rochas, tendo sua forma isotópica mais comum o 238U, que constitui 99,283% do urânio existente no planeta. Além deste, existem ainda o 235U e o 234U, que correspondem, respectivamen- te, a 0,711% e 0,006% de todo o urânio en- contrado. Como a fissão do 238U, mais pesa- do, requer nêutrons com altas energias ci- néticas, a tecnologia nuclear foi desenvolvida a partir do 235U. Então, em um reator nuclear, o im- pacto de um nêutron faz o núcleo radioati- vo se fragmentar, por exemplo, em criptô- nio, bário, nêutrons e uma grande quanti- dade de energia, usada para aquecer água em um sistema termelétrico. n + 235U → 236U → 91Kr + 142Ba + 3n + energia Nos sistemas termonucleares mais modernos, como os reatores PWR (abrevia- tura em inglês para reatores de água pressu- rizada), a água é aquecida a cerca de 300o C e mantida líquida graças a uma pressão de cerca de 150 atmosferas. Esse circuito fecha- do, primário, aquece uma segunda massa de água em um circuito secundário. A água no circuito secundário é então transformada em vapor, que é usado para movimentar as turbinas da termelétrica. O vapor é poste- riormente resfriado para voltar à fase líqui- da e reconduzido para o início do circuito secundário. Esse resfriamento é normal- mente feito com o auxílio de cursos d’água. A vantagem desse sistema é que não existe contato da água que gera a energia, do cir- cuito secundário, com elementos radioati- vos, os quais aquecem a água do circuito primário. No Brasil, existem duas usinas nuclea- res em funcionamento, Angra 1 (capacida- de instalada de 657 MW) e Angra 2 (1.350 MW), localizadas em Angra dos Reis, no es- tado do Rio de Janeiro, que produzem o equivalente à metade da eletricidade do es- tado. Ambas utilizam reatores do tipo PWR e juntas necessitam de aproximadamente 108 mil litros de água do mar por segundo para a refrigeração do vapor produzido e de equipamentos. O mar também é o destino da água quente obtida com a troca de calor. Em 2009, iniciou-se a construção de Angra 3, que será uma “cópia” de Angra 2. O Brasil possui a sexta maior reserva de urânio do mundo, com jazidas princi- palmente na Bahia, Ceará, Minas Gerais e Paraná, totalizando, no mínimo, 309 mil to- neladas de U3O8, uma vez que nem todo o território foi investigado. Calcula-se que só o existente na Bahia (cerca de 100 mil tone- ladas) seja suficiente para abastecer Angras 1, 2 e 3 por 100 anos. O U3O8 das rochas é concentrado a partir da lixiviação com ácido sulfúrico, al- cançando 70-90% de U3O8, quando recebe o nome de bolo amarelo. Começa então o processo conhecido como enriquecimento do urânio, que significa aumentar a propor- ção de 0,7% de 235U no óxido para cerca de 2 a 4%, geralmente suficiente para sua utili- zação como combustível em usinas termoe- létricas. Como o 235U é mais leve, ele pode ser separado do 238U por processos físicos Meio ambiente e sustentabilidade 143 baseados na difusão ou na centrifugação dos diferentes isótopos em uma fase gasosa, como o hexafluoreto de urânio (UF6), por exemplo. Posteriormente, o UF6 rico em 235U é convertido em UO2 por meio de uma série de processos químicos. Esse óxido, um pó normalmente prensado na forma de pastilhas com cerca de 7 g, é efetivamente o combustível usado nas usinas nucleares. Em uma configuração típica, cerca de 400 pastilhas são empilhadas em varetas de zir- cônio, com 4 metros de comprimento, sendo que em um reator podem ser coloca- dos 200 feixes com 200 varetas cada. Ou seja, cerca de 1,6 milhão de pastilhas. O Brasil faz parte do seleto grupo de países com tecnologia para enriquecer o urânio e, embora ainda não o faça de forma integral em território nacional atualmente, há planos, estudos e investimentos nesse sentido. O ciclo do urânio brasileiro possui mineração e beneficiamento principalmen- te na Bahia, enriquecimento majoritaria- mente no exterior e fabricação de pastilhas em Resende, RJ. Todo o combustível produ- zido no Brasil é usado nas duas usinas de Angra dos Reis. Embora o desenvolvimento do ciclo do urânio seja considerado estratégico para um país, existem, a exemplo de qualquer outra fonte energética, prós e contras. Danos ambientais decorrentes da atividade de mineração e beneficiamento são soma- dos aos efluentes líquidos (como a água aquecida na troca de calor e água do reator, esta dificilmente descartada) e gasosos (no- tadamente vapor d’água da troca de calor) e, principalmente, aos rejeitos sólidos. Há dois tipos de rejeitos sólidos, os de alta e os de baixa radioatividade. Como exemplos de rejeitos sólidos de baixa radio- atividade, enquadram-se as roupas e equi- pamentos de proteção individual utilizados por funcionários que efetivamente manu- seiam o combustível nuclear. Nas Usinas de Angra dos Reis, esses rejeitos são encapsula- dos em concreto dentro de tambores de aço e deixados em um galpão específico. Já como exemplo de rejeito de alta radioativi- dade está o próprio combustível exaurido. Cada pastilha tem vida útil de cerca de 18 meses e, após esse período, deve ser trocada. Como as pastilhas continuam a emitir ra- diação por milhares de anos e possuem re- ciclagem questionável, devem ser acondi- cionadas e alocadas de modo a não provo- car danos por tempo indeterminado. Após um resfriamento inicial em uma piscina, os rejeitos podem ser encapsulados em con- creto e/ou vidro e enviados a depósitos es- pecíficos ou a sítios geológicos seguros, como geleiras, minas de sal abandonadas ou ao fundo dos oceanos, a mais de 6.000 m de profundidade. No Brasil, todo o rejeito de alta radioatividade está alocado dentro do prédio do reator, chamado contenção. Uma das exigências para a autorização para o início das obras de Angra 3 foi a constru- ção de um depósito permanente de rejeitos de alta radioatividade até 2014. O combustível considerado exaurido ainda contém 235U que não sofreu fissão e que pela pequena quantidade não consegue manter a reação. Porém, sua presença no re- jeito sólido motiva pesquisas e investimen- tos visando à recuperação desse material. As questões sobre a reciclagem do combustível nuclear geralmente não se relacionam a di- ficuldades técnicas e sim à possibilidade de se comercializar o plutônio, gerado tam- bém no reator pelo inevitável bombardea- mento de 238U por nêutrons. Embora seja de manejo mais complexo que o urânio e associado a armas nucleares, o plutônio vem sendo testado em usinas adaptadas para tê-lo como combustível ou projetadas considerando sua utilização. Embora tenhamuitas desvantagens, algumas delas reconhecidas inclusive por seus defensores, a energia nuclear apresenta um grande atrativo, que não pode ser nega- do nem mesmo por aqueles que são contrá- rios a ela: o enorme potencial de produção por quilograma de combustível. Uma com- 144 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) paração pode ser feita a partir dos dados apresentados na Tabela 6.6. Comparando com outras termelétricas, também não há a geração do CO2 característico da queima de combustíveis fósseis e mesmo de biomassa. Os empreendimentos nucleares bus- cam segurança reforçada para evitar aci- dentes e diminuir as oposições popular e técnica. As próprias varetas de combustí- vel, hermeticamente fechadas, são consi- deradas o primeiro dispositivo protetivo. Blindagens adicionais típicas são as pró- prias espessuras do reator (cerca de 20 cm) e de paredes de aço (de aproximadamente 15 cm) e concreto (da ordem de 1 m) do prédio que o cerca e que tornam o local se- guro contra furacões, terremotos e até ata- ques terroristas com aviões. Outra prote- ção para as usinas à beira-mar, existente inclusive em Angra dos Reis e em Fukushi- ma, é uma espécie de paredão de rochas e concreto no mar, visando à proteção con- tra grandes ondas. PETRÓLEO A partir do petróleo, são fabricados mais de 6 mil produtos e, conforme mostrado na Tabela 6.1, dele provém aproximadamente 34% de toda a energia utilizada no mundo. O petróleo pode ser encontrado no subsolo do continente ou dos oceanos em jazidas (depósitos naturais) que variam em quanti- dade e em qualidade. A primeira perfuração de um poço para fins comerciais se deu em 1859, nos Estados Unidos. No Brasil, o petróleo foi descoberto inicialmente na Bahia, em 1939. Em 1953, foi criada a Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobrás), para exercer o monopólio estatal no setor. Esse monopólio foi flexibi- lizado em 1997, quando foi criada a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bio- combustíveis (ANP). Hoje, a Petrobrás pos- sui cerca de 13 mil poços em operação, com aproximadamente 95% deles em terra. En- tretanto, os poços terrestres fornecem me- TABELA 6.6 Poder calorífico de alguns combustíveis COMBUSTÍVEL PODER CALORÍFICO* (kcal/kg) Carvão 3.100-6.000 Lenha 3.300 Bagaço de cana 2.250 Óleo combustível 10.900 Gás natural (seco) 15.900 (1 m3 – 10.000 kcal) Etanol anidro 8.970 (1 L = 7.090 kcal) Etanol hidratado 8.210 (1 L = 6.650 kcal) Gasolina 10.000 (1L = 7.500 kcal) Diesel 12.650 (1L = 10.750kcal) Biodiesel 10.230 (1L = 9.000 kcal) Urânio 1,57x108 Plutônio 1,87x1010 * Quando não especificado em intervalos, diz respeito a valores comumente tabelados para combustíveis da propriedade conhecida como Poder Calorífico Superior. Por Poder Calorífico se define a quantidade de energia liberada na queima completa de uma unidade – kg, m3 ou L. O Poder Calorífico Superior é determinado quando há comburente (normalmente ar) em excesso e os gases de descarga são resfriados até a temperatura de condensação da água. Meio ambiente e sustentabilidade 145 nos de 20% do óleo produzido no país, sendo o restante vindo do mar, especialmen- te na Bacia de Campos, no estado do Rio de Janeiro, onde está quase 80% do petróleo nacional. O Brasil possui reservas comprovadas superiores a 13 bilhões de barris de petróleo (eram inferiores a 2 bilhões de barris em 1980), para um consumo anual de cerca de 700 milhões de barris (1 barril = 159 litros). Em 2006, a Petrobrás anunciou a tão sonha- da autossuficiência em petróleo, ou seja, a produção em quantidades superiores ou iguais às que são consumidas. Recentes des- cobertas de jazidas na Bacia de Santos, e es- pecialmente a possibilidade de reservas ex- pressivas em camadas abaixo de 7 km de profundidade (o pré-sal), trouxeram à Pe- trobrás a expectativa de que as reservas che- guem a 50 bilhões de barris. Dependendo da profundidade em que estiver o óleo, a pressão sobre ele pode ser grande o suficiente para que jorre esponta- neamente pelo orifício aberto na perfura- ção da jazida. Posteriormente, mais petró- leo pode ser obtido com o auxílio de um equipamento conhecido como “cavalo de pau” e/ou com o auxílio de fluidos, que au- mentariam novamente a pressão no poço. É normal um poço ter sua exploração finali- zada ainda contendo grandes quantidades de óleo, pela dificuldade e/ou custos eleva- dos para trazê-las à superfície. Uma vez retirado, o óleo deve ser transportado até a unidade de refino, onde será beneficiado. O transporte do petróleo bruto, ou mesmo de seus derivados, gera grande preocupação, dada a possibilidade de vazamentos e acidentes com oleodutos ou navios petroleiros. Uma tonelada de pe- tróleo pode se espalhar por mais de 112 km2 e, por ser mais leve que a água, o óleo forma uma camada que dificulta a entrada de sol e as trocas gasosas realizadas na su- perfície e ainda contamina animais e vege- tais. Frações do petróleo derramado sobre a água podem ser evaporadas, emulsificadas, dissolvidas, oxidadas, decompostas pela ra- diação ultravioleta, degradadas biologica- mente, decantadas ou misturadas com a areia. Para evitar esses processos após um acidente, o óleo derramado deve ser rapida- mente contido e posteriormente bombeado para tratamento em locais e condições mais adequadas ou no próprio local do acidente. O maior acidente da história do transporte de petróleo ocorreu com o petroleiro Exxon Valdez em 1989, que derramou 44 milhões de litros de óleo no mar próximo ao Alasca (EUA). Vazamentos de poços também po- dem ser extremamente impactantes, como os que ocorreram no México (1979, 500 mi- lhões de litros) ou nos Estados Unidos em 2010 (640 milhões de litros). Neste último, o estouro das tubulações fez com que o óleo vazasse, e a dificuldade de conter foi grande: uma média de 46 mil barris de petróleo por dia durante quase três meses escapou para o mar, atingindo no Golfo do México uma área semelhante à do Estado do Paraná. Água de lastro: um problema ambiental silencioso Como exemplo, em um navio cargueiro de 200.000 toneladas (como grandes petrolei- ros e graneleiros) navegando sem carga, até 60 milhões de litros de água podem ser uti- lizados como lastro para dar estabilidade e equilíbrio. Estima-se que mais de 10 bilhões de litros de água de lastro sejam trocados anualmente no mundo, sendo aproximada- mente 40 milhões de litros descarregados no litoral brasileiro. A água que viaja leva espécies de fauna e flora de uma região do mundo para outra. Calcula-se que cerca de 7 mil espécies diferentes podem ser trans- portadas por um único navio. No novo am- biente, sem predadores, as novas espécies podem desequilibrar relações ecológicas antigas. Muitos estudiosos atribuíram sur- tos de cólera relativamente recentes no Bra- 146 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) sil à água de lastro com o vibrião. O caso mais famoso e comprovado de “importa- ção” de espécies para o Brasil foi o do mexi- lhão dourado. Em legislação de 2005, a Ma- rinha brasileira exige que as águas de lastro sejam trocadas a pelo menos 200 milhas da costa e em regiões com pelo menos 200 me- tros de profundidade. O petróleo consiste em uma mistura de hidrocarbonetos, que tem desde um átomo de carbono (como acontece quando jazidas de gás natural estão associadas às de óleo), até centenas deles como, por exem- plo, no asfalto. O petróleo brasileiro é con- siderado “pesado” por ser rico em hidrocar- bonetos de massas molares elevadas, como os óleos diesel e combustível, que corres- pondem em média, respectivamente, a 35% e 10% do petróleo nacional. De formação geológica recente, considera-se que o petró- leo nacional tem qualidade inferior ao pe- tróleo árabe, chamado de leve, e de forma- ção geológica antiga. No refino do petróleo, ocorre a separa- ção dos hidrocarbonetos em derivados que são mais úteis e valiosos que o óleo cru. Essa etapa gera problemas ambientais, como re- síduos sólidos eefluentes líquidos e gasosos, típicos de empreendimentos industriais. Provavelmente o grande impacto ambiental do refino seja a energia gasta para obter os derivados: 8% do gás natural utilizado no Brasil em 2009 foi destinado ao refino de petróleo. Calcula-se que o refino gere 5% de todas as emissões de CO2 associadas à ca- deia do petróleo (contra 91,7% do consu- mo dos derivados, 1% do transporte dos derivados e 2,3% do transporte do petróleo até as refinarias). O refino do petróleo pode se dividir em dois grandes processos: a destilação e o craqueamento. Na destilação, o petróleo é aquecido e transformado em vapor, o qual é conduzido para a parte inferior de uma torre de cerca de 40 m. Ao subir rumo ao topo, o vapor passa por placas com diferen- tes temperaturas. Quando um determinado derivado entra em contato com uma placa com temperatura semelhante à de seu ponto de condensação, seu vapor se liquefaz e o líquido é recolhido. Com o intuito de aumentar a obtenção de frações mais leves, são normalmente realizadas duas destila- ções, uma em pressão atmosférica e outra em vácuo. A Tabela 6.7 apresenta os principais produtos obtidos na destilação do petróleo e a temperatura na qual eles podem ser nor- malmente extraídos e o número médio de átomos de carbono em cada molécula. Acima da torre, em temperaturas mais pró- ximas à temperatura ambiente, são geral- mente liberados a nafta (base para a indús- tria de polímeros), o propano (C3H8), o bu- TABELA 6.7 Produtos obtidos em diferentes temperaturas a partir da destilação do petróleo ÁTOMOS DE CARBONO TEMPERATURA PRODUTO POR MOLÉCULA* Óleo combustível entre 20 e 70 Óleo lubrificante entre 26 e 38 Material para craqueamento mais de 38 260 < T < 340° C Óleo Diesel entre 12 e 22 (15) 150 < T < 250° C Querosene entre 11 e 12 (11) T~100° C Gasolina Entre 5 e 10 (8) * O número de átomos de carbono presentes na molécula obtida em maior proporção é dado entre parênteses. T > 360° C Meio ambiente e sustentabilidade 147 tano (C4H10) e o metano (CH4). A mistura de propano e butano sob alta pressão é cha- mada de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), vendido inclusive para uso doméstico. No craqueamento, os produtos pesa- dos são convertidos principalmente em as- falto, ceras, graxas, alcatrão, coque, óleo combustível, óleo lubrificante (raro no pe- tróleo brasileiro), diesel e gasolina. No pro- cesso, o aquecimento a cerca de 500o C, e/ou a ação de catalisadores à base de sílica-alu- mina, fragmentam as cadeias grandes dan- do origem aos produtos desejados. Quando a fragmentação origina cadeias menores que as de interesse, o número de átomos de carbono pode ser ajustado, com reações de alquilação, incorporando grupos CH. Após serem produzidos, os derivados de petróleo devem ser distribuídos e consu- midos. No consumo, os principais danos ambientais estão relacionados com a com- bustão, completa ou incompleta, bem como com a ocorrência de chuvas ácidas, provo- cadas principalmente pela combinação de óxidos de nitrogênio e de enxofre com mo- léculas de água, dando origem, respectiva- mente, aos ácidos nítrico e sulfúrico. Para atender às legislações, as companhias de pe- tróleo têm que retirar boa parte do enxofre presente naturalmente nos derivados de pe- tróleo. Para o diesel, porém, os teores máxi- mos de enxofre exigidos pela legislação para 2009 não foram colocados em prática, e os óxidos desse elemento geram, além de chuva ácida, dificuldades no funcionamen- to de conversores catalíticos para os gases de escapamento desses motores. Isso moti- vou ações contra a Petrobrás, culminando na assinatura de um cronograma para o cumprimento dessas metas. É comum ainda a adição de compos- tos à gasolina para estabilizá-la, dificultan- do assim a explosão no interior dos moto- res antes da condição ideal. Esse aconteci- mento, chamado de pré-ignição, além de queda de rendimento, causa uma série de problemas a várias peças do motor. Os compostos que diminuem as possibilidades dessa pré-ignição ocorrer são chamados an- tidetonantes e eram feitos principalmente a partir de metil-terc-butil éter (MTBE) e chumbo tetraetila. Neste último caso, a queima do combustível invariavelmente fazia o chumbo sair pelo escapamento dos carros na forma de uma poeira metálica que, quando inalada, podia causar sérios prejuízos à saúde da população. A partir do início da década de 1990, a utilização como antidetonantes da gasolina tanto do MTBE (cancerígeno e extremamente estável) quan to do chumbo tetraetila estava proibida, sen do esses elementos substituídos pelo álcool anidro (ver “Etanol”). As outras fontes energéticas vistas até aqui (hidráulica, eólica, solar, oceanos, geo- termal e nuclear) não se baseavam na com- bustão de hidrocarbonetos, ou seja, não ge- ravam gases de combustão completa ou não. Embora o tipo de combustível seja im- portante para determinar a poluição ema- nada de um escapamento, o tipo de motor também o é. Nos motores Ciclo Otto, como os alimentados por gasolina, álcool e gás natural, a mistura do combustível com um comburente (normalmente o próprio oxi- gênio do ar) é comprimida por um pistão. Uma centelha elétrica, gerada por uma vela de ignição, explode a mistura, e a explosão causa o movimento dos pistões. Esse movi- mento é transmitido para as rodas de um carro ou para o eixo de um gerador em uma termelétrica. Obviamente, quanto maior a cadeia carbônica do combustível, maiores as chances de emissão de gases re- sultantes de combustão incompleta. Assim, para um mesmo motor, a gasolina tende a poluir mais que o etanol, e este mais que o gás natural. Em um motor que funciona a partir do Ciclo Diesel, a explosão não necessita de faísca, sendo que o ar é admitido anterior- mente sozinho, e a posterior introdução do combustível ocasiona a explosão. As altas pressões nas quais ocorre a explosão do 148 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) óleo diesel exigem a presença de uma gran- de quantidade de ar (e por consequência de nitrogênio) no interior do cilindro onde se encontra o pistão. Nas altas pressões e tem- peraturas do motor, formam-se os óxidos de nitrogênio, envolvidos na chuva ácida. Além de poluentes, os óxidos de nitrogênio podem, com o auxílio da luz solar, ser frag- mentados, favorecendo a formação do ozô- nio. Fundamental em elevadas altitudes, na troposfera o ozônio é altamente poluente e um dos principais agentes poluidores das médias e grandes cidades brasileiras, nor- malmente com altas taxas de insolação e de- pendentes do transporte movido diesel. Gás natural O gás natural é composto principalmente por metano, que é inodoro, o que faz o gás natural comercial ser obrigatoriamente odo- rizado para que eventuais vazamentos se- jam facilmente percebidos. Junto com o gás natural, geralmente são extraídos produtos condensáveis chamados “Líquidos de Gás Natural”, contendo etano, o GLP, propano e outros hidrocarbonetos mais pesados. O fato de o metano ter somente um átomo de carbono favorece a combustão completa e faz o gás natural ser o derivado do petróleo com o menor poder poluente em termos de gases de combustão incom- pleta. Entretanto, esse combustível apresen- ta uma grande desvantagem em relação aos outros: o transporte. A razão para isso é que, como a densidade do gás é muito menor que a dos combustíveis líquidos, a massa de gás transportada por unidade de volume é muito pequena. Enquanto gasoli- na, diesel e álcool podem ser transportados em caminhões tanque, os gases têm de ser engarrafados sob alta pressão (para os dois casos há a opção do transporte por dutos). Por outro lado, vantagens como o preço e a disponibilidade fazem esse combustível re- presentar, conforme dados mostrados na Tabela 6.1, cerca de 21% de toda a energia disponível no mundo e quase 9% da ener- gia brasileira. No Brasil, o gás natural só começou a ser largamente consumido quando o país equacionou aoferta do produto, que pas- sou por um contrato firmado com a Bolívia e a construção de um enorme gasoduto e ramais periféricos para o transporte de 30 milhões de m3/dia até 2019. Contando com o gás importado, em 2009, o consumo diá- rio de gás natural no Brasil foi de cerca de 60 milhões de m3. O Gasoduto Brasil-Bolívia, com 3.150 km de extensão, atravessa os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A partir de 2005, a Bolívia elevou o imposto cobrado sobre o gás e realizou estudos sobre a nacionalização dos empreendimentos da Petrobrás no país, o que fez outras alterna- tivas serem pensadas. Isso incluiu, princi- palmente, a aceleração dos trabalhos para tornar a Bacia de Santos (cujas reservas da ordem de 400 bilhões de m3 só foram des- cobertas em 2003, após a assinatura do con- trato) produtiva. Atualmente, o Brasil pos- sui reservas da ordem de 660 bilhões de me- tros cúbicos de gás natural. Existem vários gasodutos de menor porte no país interligando a produção (por exemplo, próximo às refinarias) ao consu- mo (grandes cidades e termelétricas). Um exemplo é o gasoduto Urucu-Coari-Ma- naus, de cerca de 670 km, no Amazonas, que, após muitos problemas, começou a operar, ainda que experimentalmente, em outubro de 2009, trazendo à capital do esta- do o gás da Bacia do Solimões (reservas es- timadas de 51 bilhões de m3). Nas residências, o gás natural pode ser utilizado na calefação de ambientes, cocção de alimentos e aquecimento de água. Nas indústrias, pode ser empregado como ma- téria-prima, por exemplo, na fabricação de metanol ou mesmo no aquecimento de cal- Meio ambiente e sustentabilidade 149 deiras e torres de destilação. Além disso, ob- serva-se um rápido crescimento na aplica- ção do gás natural como combustível no transporte automotivo e em usinas terme- létricas. Em 2008, o Brasil possuía 85 ter- melétricas à base de gás natural, com capa- cidade instalada total em torno de 11 GW. O gás natural veicular (GNV) ganhou vários adeptos em virtude de sua boa rela- ção custo/benefício. Isso levou muitos a adaptar seus carros para o novo combustí- vel e contribuiu para que o desenvolvimen- to e a fabricação de carros flexíveis, que rodam com mais de um tipo de combustí- vel (no caso, somente para motores tipo Ciclo Otto), fossem acelerados. Nos veícu- los bi (álcool e gasolina) ou mesmo tricom- bustíveis (álcool-gasolina-GNV), a partir da composição dos gases do escapamento, sensores calculam a proporção entre os combustíveis. A partir dessa composição, o sistema de injeção eletrônica ajusta a ad- missão de ar de modo a realizar a reação o mais próximo possível da estequiometria (combustão completa). Carvão mineral Chamado de “raio de sol enterrado”, o carvão mineral sempre foi considerado uma pode- rosa fonte energética fóssil. Além de petróleo, gás natural e carvão, são combustíveis fósseis o xisto betuminoso e a areia oleígena, ambos com produção ainda pequena no Brasil. Por definição, carvão é todo material não cristalino com teor de carbono livre entre 30 e 100%. Entre outras aplicações possíveis, é bastante demandado como com- bustível e redutor do minério de ferro em si- derúrgicas (preferencialmente após ser transformado em coque). É razoavelmente bem distribuído pelo planeta e o mais abun- dante dos combustíveis fósseis, com reservas mundiais de cerca de 1 trilhão de toneladas, o suficiente para 150 anos, mantida a atual taxa de consumo. Essas características con- tribuem para a estabilidade dos preços e fazem provavelmente o carvão ainda vir a desempenhar por muito tempo um impor- tante papel na matriz energética mundial. O Brasil possui reservas relativamente pequenas de carvão mineral, com cerca de 7 bilhões de toneladas, concentradas princi- palmente no Rio Grande do Sul (89%). Isso é particularmente ruim para o setor side- rúrgico nacional, pois o país possui uma das maiores reservas de minério de ferro do planeta e precisa então importar muito car- vão (e/ou coque) para manter funcionando sua siderurgia. Com relação ao consumo energético, segundo a ANEEL, no final de 2008 existiam no país 7 termelétricas fun- cionando à base de carvão mineral nacional (todas na região sul do país), com capacida- de instalada de 1,6 GW. Similar ao petróleo, quanto mais nova a formação geológica, menos tempo ela ficou exposta aos efeitos de pressão e tem- peratura e, consequentemente, menor a subdivisão do material soterrado (predo- minantemente vegetal). Ou seja, um carvão com menor teor de carbono livre. Uma parcela considerável dos pro- blemas ambientais associados ao uso do carvão reside na etapa de mineração. Em grandes minas, a quantidade de terra mo- vimentada pode chegar a 75 mil toneladas por dia. Os modernos mineradores contí- nuos têm capacidade de retirar cerca de 6 mil toneladas de carvão diárias de uma mina subterrânea. As condições de traba- lho nas minerações, embora tenham me- lhorado bastante, ainda oferecem riscos. É relativamente frequente, por exemplo, a ocorrência de explosões (devido a bolsões de metano associados a veios de carvão), desabamentos e inundações em minas subterrâneas. Somente em 2008, mais de 3 mil mineiros de carvão chineses morreram trabalhando. Após a extração, o carvão pode ser pu- rificado e lavado, para a retirada principal- mente de metais pesados e de parte do enxo- 150 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) fre. A seguir o carvão é triturado e submetido à secagem, transportado e queimado. Dessa maneira, entre os problemas ambientais associados ao carvão se desta- cam a utilização de máquinas pesadas e de recursos hídricos, o transporte e a geração de resíduos sólidos e efluentes líquidos, cin- zas, particulados e outros efluentes gasosos (como os óxidos de enxofre) gerados na queima. Biomassa: etanol A biomassa é definida como toda a matéria orgânica, de origem animal ou vegetal, que pode ser utilizada na produção de energia. Assim, as principais fontes de biomassa são os vegetais, lenhosos ou não, os resíduos (agrícolas, urbanos e industriais) e os bio- fluidos, que dão origem ao biodiesel. Na ca- tegoria de vegetais não lenhosos podem ser listados os vegetais sacarídeos, bastante em- pregados para a produção de energia no Brasil. Com a primeira grande crise do petró- leo, em 1973, o governo brasileiro decidiu in- vestir no desenvolvimento de um combustí- vel nacional que diminuísse a dependência do petróleo e de seus derivados importados. O etanol, álcool advindo da cana-de-açúcar, abundante no país desde os tempos do im- pério, foi o combustível escolhido. A primeira etapa do Programa Nacio- nal do Álcool (Proálcool) se baseou na adi- ção de álcool anidro (etanol com pureza mínima de 99,3%) à gasolina, em propor- ções que alcançaram 26% em volume. Com isso, eliminou-se a necessidade de outros antidetonantes (como o chumbo tetraetila e o MTBE) e diminuiu-se a quantidade de gasolina gasta. Isso reforçou a vocação de “ecológico” do álcool, pois, além de possuir menos átomos de carbono na molécula (o que favorece a combustão completa em re- lação à gasolina), apresenta um saldo de emissões de gases de efeito estufa igual a zero. Isso porque o carbono que a planta possui em sua composição foi praticamente todo absorvido do CO2 atmosférico na fo- tossíntese. Concomitantemente ao desenvolvi- mento do álcool anidro, foram dados incen- tivos à produção de motores movidos a ál- cool hidratado (etanol com pureza entre 92,6% e 93,8%, sendo o restante pratica- mente água). Criou-se rapidamente uma extensa rede de distribuição do novo com- bustível, e o governo começou a subsidiar o álcool produzido para esse fim. Isso aconte- ceu porque um litro de álcool era mais caro que um litro de gasolina, e os motores movi- dos à gasolina consomem menos combustí- vel. O Proálcool foi sucesso até o início dos anos de 1990, quando começou
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