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Revista_terrinha_2011out

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No. 4
Dezembro de 2011
Revista das crianças
Olá Sem Terrinha!
 
 A quarta edição da Revista das crianças Sem Terrinha 
veio recheada de novidades para nós! 
A nossa revista, desde sua primeira edição, vem 
ficando cada vez mais bonita e colorida, nos detalhes que 
os desenhos mostram, na nossa organização coletiva, 
nas brincadeiras, nos jogos que todo mundo gosta! As 
historinhas têm contado sobre nossa vida, a realidade do 
nosso país, a organização dos nossos assentamentos e 
acampamentos... 
Nesta edição vamos fazer um passeio com Flora e Vital, conhecendo a 
Agroecologia e sua importância para a nossa agricultura. No nosso 
assentamento quais são os tipos de produção que existem? E como 
plantamos e cuidamos das nossas produções? Vamos conhecer 
também a cartinha que o Nonno (é como chamam avô, nos estados do 
sul) enviou para nós sobre o perigo dos venenos para nossa vida e para 
o planeta. 
E sabe o que tem mais? Um jogo de cartas! Vamos aproveitar o momento 
de leitura da Revista para marcar um encontro! Também tem ditos populares, 
quadrinhas, adivinhas, que também podemos criar brincando e enviar para o Jornal e a 
Revista Sem Terrinha - que são nosso espaço nacional de comunicação no MST. 
Sabia que esse ano o nosso movimento organizou muitas atividades culturais 
com as crianças Sem Terrinha? Você participou de alguma atividade de teatro, 
de musica, de arte e brincadeiras? As meninas e meninos Sem Terrinha cantam e 
encantam nos assentamentos e acampamentos, temos nossas músicas, brincadeiras 
e poesias que as outras crianças do Brasil precisam conhecer! Escrevam pra gente 
contando o que anda acontecendo.
 
Boa leitura... e até a próxima!
“Caranguejo 
não é peixe, 
caranguejo peixe é...”
AGRO + 
ECOLOGIA 
Editorial
índice
MST
“A c
anoa
 viro
u, po
r 
deix
ar e
la vi
rar..
.”
O PERIGO 
dos venenos
pg. 4
Balaiopg. 8
pg. 18
CANTINHO DA 
LEITURA
pg. 12
Jogo 
do Micopg. 13
MST
Amiguinhos e amiguinhas,
Cada um de nós, nas nossas casas ou na escola, já viu alguma formiguinha e 
teve vontade de matá-la, não é? Uma mosca ou um mosquito que nos azucrina, 
logo queremos dar um tapa. Uma barata, então, deus me livre! Claro, sempre 
que, em um ambiente, tem muitos insetos, eles podem ser prejudiciais e até 
afetar a higiene de nossos alimentos. Mas, a existência deles faz parte do 
grande mundo dos seres vivos que habitam, nossa casa comum: a Terra.
Cada ser vivo, uma plantinha, uma flor, uma abelha, uma mosca, uma 
formiguinha, tem sua função. Um ajuda ao outro. Mesmo quando um come 
o outro, está contribuindo para o equilíbrio entre todas as espécies. Mas, 
o danado do ser humano, em muitas regiões, resolveu viver sozinho. Não 
quer companhia de mais ninguém... E por isso inventou o veneno agrícola, 
que também é chamado de agrotóxico, que mata a vida na agricultura. 
No início, usávamos o veneno apenas para acabar com alguns insetos 
mais chatos. Mas, de uns tempos para cá, estamos usando veneno 
para matar muita coisa; tudo o que não queremos perto: matamos 
ervinhas, matamos bactérias e outros seres vivos que não 
enxergamos, mas que vivem na Terra. Matamos até as 
abelhas! Tudo isso para que só fiquem vivos o homem 
e alguma planta com a qual queira ganhar dinheiro, 
como por exemplo, 
a soja, o milho etc.
O PERIGO 
dos venenos
Acontece que esse veneno é feito numa fábrica, e é um produto que não 
desaparece na natureza. E, mesmo depois de matar algum inseto ou alguma 
plantinha, ele fica lá. Os venenos ficam dentro dos
alimentos, escondidos: no óleo de soja, na polenta, no mingau 
do milho... Até no leite das vacas! Se no pasto tinha 
veneno, a vaca come o pasto, leva o veneno pra 
dentro de si, e depois despeja junto com o leite. 
Quando vamos tomar o leite, tem lá um 
pouquinho de veneno. Nas frutas, então... 
Cada vez que colocam veneno para 
espantar mosca, o veneno mata 
a mosca, mas fica lá dentro da 
maçã, da uva, do pêssego, do 
tomate. Tudo isso vai pra 
dentro do nosso estômago, 
lá dentro de nosso 
organismo mata nossas 
células e provoca doenças, 
que podem até matar as 
pessoas também! Algumas 
doenças aparecem logo; o 
sujeito começa a ter dor 
de cabeça, se sentir tonto. 
Mas, as piores doenças são 
aquelas que vão se acumulando 
na pessoa e, depois, viram 
um câncer. Você conhece algum 
parente, vizinho que já teve câncer? 
Pergunte a eles. No fundo, podem 
crer que isso pode ter ligação com o uso de 
veneno na plantação, ou com o consumo de comida
tratada com veneno.
4 5
Cartinha do Nonno:
MST
Imaginem que as fábricas de veneno só querem ganhar dinheiro, vendendo 
cada vez mais veneno. O fazendeiro ou agricultor desavisado quer usar mais 
veneno para salvar a lavoura. E assim, o Brasil virou o país que mais consome 
veneno no mundo. Em média, daria 5 litros de venenos por pessoa num ano. 
Já viu que desgraça? Então, vocês que são sabidos, que sabem ler, que estudam 
bastante na escola, que querem ter uma vida saudável, sem doença, precisam 
ajudar na campanha contra o uso de venenos! Cada um de vocês pode se 
transformar num vigilante contra o uso de veneno. 
Ficar atento se, em casa, os pais estão usando veneno agrícola e avisálos do 
perigo. Nós sobrevivemos mais de 10 mil de anos nesse planeta sem venenos. 
Apenas de 50 anos para cá as empresas, para ganhar dinheiro, inventaram 
o veneno. Mas a gente pode e deve produzir alimentos sem isso! Mesmo que 
a fruta não fique tão grande, nem tão lisinha, será muito melhor para nossa 
saúde.
Nosso movimento está fazendo uma Campanha Permanente Contra os 
Agrotóxicos e Pela Vida. Vamos fazer uma brigada das crianças, contra 
o veneno e por uma vida saudável. Cada vez que vocês descobrirem que 
alguém esta usando veneno na agricultura falem para a professora, comentem 
em casa. Vão visitar o agricultor que está usando e contar para ele sobre a 
nossa campanha. Vamos salvar a vida de muitas plantas e animais. Vamos 
ajudar a salvar a vida de muita gente.
VENENO, NUNCA MAIS!
Balaio é duro, gordo e carecaé branquinho, sim senhor
sua mãe é desdentada
e seu pai é cantador? 
é o ovo!
o que é o que é:
Você conhece a Mafalda?
o que é o que é:
que coisa, que coisa é passa a vida na janela e mesmo 
dentro de casa está sempre fora dela?
é o botão!
não há tinta nessa ruanem papel nessa cidade
nem caneta que dê conta 
de escrever minha saudade
O mosquito escreve 
(Ceília Meireles)
O mosquito pernilongo
trança as pernas, faz um M,
depois, treme, treme, treme,
faz um O bastante oblongo,
faz um S.
O mosquito sobe e desce.
Com artes que ninguém vê,
faz um Q,
faz um U, e faz um I.
Este mosquito
esquisito
cruza as patas, faz um T.
E aí,
se arredonda e faz outro O,
mais bonito.
Oh!
Já não é analfabeto,
esse inseto,
pois sabe escrever seu nome.
Mas depois vai procurar
alguém que possa picar,
pois escrever cansa,
não é, criança?
não tem boca e sempre morde
não engole , nem tem peito
só na corda entra na água
sendo torto está direito?
o que é o que é:
Anzol
eu vou dar a d
espedida
como deu o qu
ero-quero
depois da fest
a acabada
pernas pra qu
e te quero
Já dizia o ditado...
a ro
seira
 qua
ndo
 nas
ce
tom
a co
nta 
do j
ardi
m
eu t
amb
ém 
and
o bu
scan
do 
que
m to
me 
con
ta d
e m
im
A Mafalda é uma garotinha muito esperta 
e curiosa, que sempre está pensando sobre 
como o mundo funciona! Ela foi criada por 
um desenhista argentino, chamado Quino.
 
Que tal procurar saber mais sobre ela?
você me mandou cantar
pensando que eu não sabia
pois eu sou que nem cigarra
canto sempre todo dia
LARANJA MADURA, NA BEIRA DA ESTRADA, OU TÁ BICHADA OU 
 TEM MARIMBONDO NO PÉ!
MST
MST
Este livrinho traz poesias lindas, para 
gente pequena e gente grande. Falam das 
sementes, das plantas, dos bichos, da vida 
ao nosso redor. Foi um presente do nosso 
amigo, o escritor Carlos Rodrigues Bran-
dão, para as crianças Sem Terrinha.
“Você já pensou
(e pensou por que)
Que uma semente
Algum dia
Já foi...você?”
CANTINHO DA 
LEITURA
SEMENTE
(MST – Fazendohistória nº 6)
MST
Vamos JOGAR?
Uma pessoa começa embaralhando 
e distribuindo as cartas, uma por 
uma, da direita para a esquerda 
até acabar. Inicia o jogo quem 
está do lado esquerdo de quem 
distribuiu as cartas. Ela vê se 
tem algum par. Se tiver, 
põe na sua frente, 
e passa uma carta 
para a esquerda. A próxima 
pessoa faz a mesma coisa, e 
assim por diante. Quando 
alguém tiver abaixado todas as 
suas cartas, termina a partida. 
Quem estiver com a carta do 
agrotóxico na mão terá que 
pagar uma prenda!
Jogo do Mico
12 13
Cole esta página 
numa cartolina ou 
outro papel mais 
resistente, para 
durar mais. 
Recorte as 
cartinhas e leia as 
 instruções para 
jogar!
MST
MST
Nesta cartilha vamos entender através 
dos versos de Fabio de Carvalho e dos 
desenhos de Wilsom Gomes como foi que 
algumas tecnologias, que foram avançando 
com a promessa de melhorar a produção 
dos alimentos e a vida das pessoas, acaba-
ram contribuindo para a destruição da na-
tureza e o envenenamento dos alimentos. 
“Preservar espécies nativas,
Não devastar o terreno,
Manter a água limpa
E cultivar sem veneno!”
AGROECOLOGIA COMO 
ALTERNATIVA
(ANCA/AIN) 
Dona Irene observava Flora e Vital, que olhavam pela janela do ônibus, com a ansiedade 
estampada nos rostos. Era grande a expectativa das crianças, pois já fazia algum tempo que 
não visitavam seus tios. Assim como eles, tio Zeca e tia Clara moravam num assentamento, mas 
em outro estado; por isso não iam visitá-los mais vezes, como 
gostariam.
Como já não se lembravam da última viagem que haviam feito para lá, eram muitas as no-
vidades que percebiam na paisagem, no jeito das pessoas, nas cidades pequenas e grandes 
pelas quais passavam. Quando chegaram ao assentamento em que viviam seus tios, repararam 
no entorno da agrovila, com árvores frutíferas nas entradas.
Ao chegar na casa de seus tios, parecia tudo muito bonito e organizado: tinha muitas árvores, 
sombra, clima agradável; pássaros e insetos que vinham buscar a doçura das frutas e flores. 
Se escutava ao longe o barulhinho das águas de um pequeno rio, que não se podia ver dali, 
porque tinha suas margens protegidas por uma bonita floresta. 
Tio Zeca e tia Clara os esperavam na frente da casa.
- Nossa! Como vocês cresceram! - comentou a tia.
- Sejam bem vindos! - falou Zeca, abraçando sua irmã 
e depois seus sobrinhos. Estávamos com saudades.
Apenas acomodaram sua bagagem e já foram recebi-
dos com um belo café da manhã, com muitas frutas.
- Tudo está muito gostoso, obrigada! - comentou 
Flora. Vital concordou balançando a cabeça, sem 
parar de se deliciar com tudo aquilo.
- Vocês podem comer sossegados, disse a tia. Os 
alimentos que produzimos aqui são agroecológicos. 
Os que comemos e também os que trocamos ou 
vendemos, porque todos merecem comer bem e ter 
saúde. Temos muito orgulho disto. Infelizmente, sa-
bemos que a maioria das pessoas, em muitos países 
do mundo, compra nos supermercados comida cada 
vez mais contaminada com agrotóxicos. Por isso 
também o número de doenças e pessoas doentes é 
cada vez maior...
- Mas o que é mesmo “agroecológico”? - perguntou 
Vital.
- Bem, posso tentar te responder, disse tio Zeca, 
mas acho mais fácil fazer isso enquanto caminhamos 
pela área da produção. Pode ser?
- Siiiiiiim! Vamos!!! - concordaram as 
crianças.
ECOLOGIA AGRO
MST
1918
Descobrindo 
a agroecologia
Saíram então para conhecer o assentamento. Zeca levou-os até pertinho da floresta, e começou 
a comentar:
- De modo bem simples, a própria palavra nos ajuda a responder tua pergunta, Vital. Agroe-
cologia vem de AGRO + ECO + LOGIA
As duas crianças franziram as sobrancelhas, com aquela expressão de “entendi... mas não com-
preendi”.
- Agro ou agri, continuou o tio, vem da palavra agricultura ou agropecuária, que quer dizer 
cultivo dos campos, isto é, trabalho humano para cultivar a terra e produzir aquilo que as pes-
soas necessitam. Eco + logia significa o estudo dos seres vivos e as relações deles com o am-
biente. Então juntando isto, podemos dizer que seria o estudo das formas de como organizamos 
as relações entre as pessoas e a natureza, para produzir aquilo que necessitamos. Ou de forma 
mais simples, Agroecologia é um jeito de pensar e de produzir alimentos e o que mais precisa-
mos para viver, mas respeitando a natureza, sem destrui-la.
- Acho que compreendi, disse Flora. É sermos companheiros e companheiras da natureza...
- Isso mesmo, concordou tio Zeca. E só conseguimos 
isso quando conhecemos melhor a natureza, ou seja, 
sabemos como ela se comporta, seus tempos... Por 
isso uma floresta, que é um ambiente natural, 
pode nos ensinar várias lições sobre a natu-
reza. Essa lições nós chamamos de “princípios”, 
que precisamos buscar quando cultivamos 
a terra e criamos animais. E quanto mais 
parecido com o jeito de ser da natureza 
for nosso jeito de produzir, de comer, 
de viver, menos nós vamos agredir 
a Mãe Natureza e teremos mais 
equilíbrio e menos dificuldades 
com a agricultura.
As crianças ficaram ca-
ladas, pensativas. Conti-
nuaram a caminhada, e 
encontraram a mãe e tia 
Clara na horta, conversan-
do sobre como plantavam e 
o que gostavam de cultivar.
- Esta horta serve mais para o nosso consumo, plantamos aqui muitos tipos de verduras e legu-
mes que gostamos, para termos diversidade o ano todo. - contou tia Clara.
- Mas parece que está tudo meio misturado! - se admirou Vital, vendo que nos canteiros haviam 
também flores e outras ervas para temperos e chás.
- Na natureza, meu querido, não tem cultivos separados como nós costumamos fazer; pelo con-
trário, quanto maior a diversidade de vida (que chamamos biodiversidade) mais tem interação 
entre as espécies das plantas, animais e microorganismos. Aí estão os seres vivos que se alimen-
tam das plantas, mas também outros que se alimentam deles, então tem condições de haver um 
maior equilíbrio.
- Este é um bom exemplo, interveio tio Zeca, daquilo que nós falávamos antes. A biodiversidade 
que existe nos ambientes naturais é uma lição que podemos aprender da natureza, e deve ser 
um princípio para utilizarmos na horta e em qualquer cultivo.
- Bacana! E fica mesmo até mais bonito. Pelo menos eu acho! - comentou Flora.
MST
20
Seguiram para ver a lavoura, que o tio mostrava com entusiasmo. 
- Aqui temos plantado feijão, mandioca e abóbora... - continuava tio Zeca.
- Tio, eu não me lembrava destas coisas aqui... Vocês já faziam agroecologia antes? - Flora, 
curiosa, perguntou.
- Nós podemos dizer que começamos já faz uns quatro anos. Mas de certo modo, muitas práti-
cas já fazíamos antes, desde o tempo dos seus avós e bisavós, quando se vivia sem achar que 
havia necessidade de venenos químicos. Aliás, nem sabíamos o que era isso! Também ajudaram 
muito o incentivo da nossa coordenação do MST, e dos companheiros e companheiras que já 
faziam produção agroecológica no assentamento.
- Ah...Mas o que são esses tais venenos químicos, tio? - quis saber Vital.
- São os produtos químicos industrializados que se usa na agricultura, como os agrotóxicos 
e adubos químicos. Esses produtos contaminam e matam a vida da terra, as águas, os 
animais e as pessoas. Além do mais, são caros para comprar, fazendo com que se preci-
se pegar financiamento no banco, e depois é difícil sair das dívidas. 
- Mas se são tão ruins, porque as empresas usam tanto veneno químico para produzir? - 
perguntou Flora.
- Quando se faz monocultura, ou seja, se cultiva em uma grande área uma única espécie, 
se destrói todo equilíbrio que a biodiversidade oferecia. Geralmente, 
quem faz isso não é um pequeno produtor, mas uma ou mais em-
presas que só vêem na terra a chance de ganhar muito dinheiro, 
o que chamamos de agronegócio. O agronegócio precisa de gran-
des extensões de monocultura, e um campo vazio de gente, para 
ter lucro.
Vital lembrou da grande plantação de cana no caminho de vinda 
e da sensação ruim que sentira.... Tinha ouvido falar de “deserto 
verde”, e foi exatamente o que lhepareceu; uma sensação de va-
zio... Nem as plantas que estavam ali pareciam realmente vivas.
- Então, prosseguiu tio Zeca, não resta outra alternativa para 
os insetos e microorganismos a não ser se alimentar da única 
coisa que existe ali. Por isso passam a ser vistos como “pra-
gas”, como nossos inimigos, que têm que morrer. A mesma coisa 
acontece com outras plantas que aparecerem.
- Mas eles não vão mesmo prejudicar? Tem algum outro jei-
to? - Vital quis saber. 
- Sim, claro que tem! O princípio é valorizar a vida, então 
buscamos primeiro conviver: apenas espantar, fazer arma-
dilhas ou outras formas de controlar somente os seres que 
mais prejudicarão os cultivos e as criações. Mas principal-
mente, temos que reconstruir a biodiversidade, porque ela 
ajudará no equilíbrio. 
- Zeca, a prosa está boa mas a caminhada foi longa, 
essas crianças precisam comer! - alertou dona Irene.
MST
23
Fome de 
aprender
Depois do almoço, as crianças descansaram um 
pouquinho nas redes da varanda. Estavam encan-
tados com o que tinham visto até ali. Sua mãe os 
observava da soleira da porta, com a certeza de 
que tinha feito certo em trazê-los. A viagem longa 
e as passagens caras eram dificuldades que esta-
vam valendo a pena; seus filhos estavam finalmente 
conhecendo de perto as possibilidades de um futuro 
digno no campo. Quando Zeca e Clara vieram para 
fora, comentou:
- Gente, vocês sabem que eu não vim antes não é 
porque não tive saudade. Mas enquanto a gente não 
conquistou a terra, não dava para deixar o acam-
pamento... Além disso, eu precisava trazer esses dois 
comigo. Quanta alegria, quanta curiosidade! Nem sei 
como agradecer, viu...
- Ora, mana, o que é isso... Nós também passamos 
por toda essa luta, sabemos das dificuldades. Ficamos 
muito felizes quando saiu o assentamento de vocês, e 
mais felizes ainda de poder ter vocês aqui conosco! - 
disse Zeca, de pronto.
Logo as crianças se espreguiçaram, e quiseram con-
tinuar a conversa de onde haviam parado. 
- Tio, o que precisa para começar? - pergun-
tou Flora.
- Começar o que, menina? Já acorda matu-
tando! - Zeca deu risada.
- Começar a agroecologia num lugar, 
né! - respondeu Vital, num pulo.
- Entendi, meus sobrinhos estão 
querendo levar logo a agroeco-
logia para o assentamento novo... 
Por isso que eu acredito que a 
Agroecologia vai ganhar força junto com Reforma Agrária! Bom, o principal vocês já têm, que é 
a terra e a capacidade de trabalhar. Mas tem outra coisa fundamental. A agente faz agroeco-
logia quando tem conhecimento. Por isso é preciso aprender (ou reaprender) a observar a natu-
reza e tirar aprendizados, resgatar os conhecimentos tradicionais, das gerações passadas, porque 
elas também aprenderam muito com a natureza e já fizeram muitos testes de coisas que deram 
certo e outras não.
- Puxa, a gente tem que conversar com as pes-
soas mais antigas lá do assentamento, antes 
que elas fiquem velhinhas e não consigam lem-
brar pra contar pra gente! - concluiu Vital.
- Isso mesmo, vocês devem aproveitar cada 
chance que tiverem de aprender com os mais 
velhos sobre as formas mais antigas de lidar 
com a natureza. Mas também é preciso buscar 
novos conhecimentos, estudar, conhecer outras 
experiências. Dizem que a agroecologia é isto 
mesmo, o resultado do diálogo da sabedoria po-
pular e o conhecimento das escolas e universida-
des, que ajuda a conhecer melhor onde vivemos, 
para viver melhor, e por muitas gerações. Por 
isso a cultura popular e camponesa é tão impor-
tante.
Tia Clara convidou todos para ver a criação de 
gado para produção de leite. Ela explicou que 
parte do leite era para o consumo, mas a maior 
parte da produção era vendida através da pró-
pria cooperativa do MST da região. E que traba-
lhar com cooperação e não depender do mercado 
do agronegócio faz parte da Agroecologia.
- Ah, eu já tava achando que era só não usar os 
venenos e ter diversidade...- reclamou Flora.
- Isso também, querida. Aliás não há agroecologia 
sem essas condições. Mas não é só isso. - disse 
Tia Clara. Nós temos outra proposta da forma 
de organizar a produção e a vida como um 
todo. Os camponeses e camponesas são 
muito importantes, porque somos nós que 
podemos produzir alimentos saudáveis e 
sem veneno para toda a população, 
com diversidade, aproveitando sem 
abusar dos recursos que a na-
tureza mais o trabalho humano 
oferecem. Mas não adianta a 
gente produzir sem destruir o 
ambiente, se for viver da ex-
MST
24
ploração do trabalho dos outros!
- Como assim, exploração do trabalho dos 
outros? - Vital quis saber.
- Quer dizer que agroecologia de verdade 
também não tem patrão? - Flora se espan-
tava cada vez mais.
- Isso mesmo. Vocês estão ligeiros, hein? 
Nós seres humanos às vezes nos es-
quecemos que também somos parte da 
natureza. Você por acaso já viram 
por acaso um animal mandando o 
outro trabalhar para ele? Claro que 
não. O equilíbrio também vem da 
gente viver e trabalhar em co-
letivo. Cada pessoa fazendo uma 
parte, ensinando aquilo que sabe, 
aprendendo com o outro, todo 
mundo ajudando na construção: 
de uma horta, de uma casa, uma 
escola, uma festa... e assim por 
diante. Ninguém é mais do que 
ninguém; todo mundo tem sua 
função. - tia Clara explicou.
- Que nem era lá no acam-
pamento... - lembrou Flora.
- Então a gente não vai co-
meçar do zero! - comemorou 
Vital.
- Claro que não, crianças. - 
emendou tia Clara. - Vocês 
estão aprendendo a planejar e rea-
lizar as coisas coletivamente desde pequeninos, na 
Ciranda Infantil...
- Isso é mesmo... são Sem Terrinha muito organizados, esses daí - brincou, orgulhosa, dona Ire-
ne. Mas digam, vocês estão já conseguindo viver dessa produção? 
- Veja, a gente teve muita dificuldade no começo. Porque vocês sabem, tem muito mais recurso 
que vai para os grandes produtores do que para os pequenos, e além disso não tem apoio para 
quem produz sem veneno... os próprios técnicos às vezes duvidam que é possível! Esse ano o que 
nós conseguimos, que foi muito bom, foi firmar a venda da produção para as escolas aqui da 
região. - contou tio Zeca.
- Nossa! Que legal! - comemorou Vital.
- Já pensou, a gente almoçar na escola e poder dizer assim “esse alimento é sem veneno, vem 
lá do assentamento onde eu moro”? - Flora começava a imaginar. 
- É, além de trabalhar junto, também necessita organi-
zação... - começava a falar tio Zeca, quando viram 
chegar alguém. 
Era Joel, o coordenador do Núcleo de Base de 
que tia Clara e tio Zeca faziam parte. Ele veio 
chamar as famílias para uma reunião 
no dia seguinte: o fazendeiro vizi-
nho estava pulverizando agro-
tóxicos de avião sobre 
suas lavouras, atingin-
do as plantações no 
assentamento. 
- É, como vocês po-
dem ver, a luta não 
para nunca! Essa 
construção precisa, 
além de tudo, de 
persistência. - 
comentou Irene. 
- Vamos entrar, Joel, 
vamos tomar um café? 
- convidou Clara.
Todos ficaram conver-
sando até o anoitecer, 
contanto histórias daquele 
assentamento, do assen-
tamento onde viviam Flora 
e Vital, e muitas outras histórias. Não 
demorou muito, foram chegando outras pessoas. Seu Joca puxou uma viola, ele e 
a sobrinha Matilde começaram uma cantoria de dar gosto. 
Naquela noite, Vital e Flora foram se deitar, mas demoraram um pouco para dormir. Pensavam 
no dia seguinte, em como seria gostoso tomar banho de rio e brincar com as outras crianças 
que iriam com suas famílias para a reunião. Pensavam também em como fazer Agroecologia 
quando voltassem para casa...
A Revista Sem Terrinha foi elaborada coletivamente
pelos Setores de Educação, Comunicação e Cultura. 
Os desenhos foram feitos por crianças 
Sem Terrinha de todo o Brasil.
Agradecemos a todas as pessoas que de alguma forma con-
tribuíram para este trabalho!
Endereço: Alameda Barão de Limeira, 1232 - Campos 
Elíseos - São Paulo /SP
CEP: 012020-002 - Tel/Fax: 11 3362.3866
Correio eletrônico: revistasemterra@mst.org.br
2011
MST
MST

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