Prévia do material em texto
inFOgráFicO Dionísio Dâmocles A espada de dâmocles Os gregos nos legaram contribuições em diversas áreas, como na literatura, no teatro, na Filosofi a, na Medicina, etc. Algumas das histórias tradicionais que conhecemos também deri- vam dessa herança. A lenda da Espada de Dâmocles é uma delas. Entre suas várias versões te- mos a história que reporta a um conto antigo sobre a cidade de Siracusa, fundada por Corinto no século VIII a.C. Em Siracusa, Dionísio, o velho, aproveitou-se das guerras contra Cartago para impor seu poder como tirano local no fi nal do século V a.C. Por alguns anos Dâmocles, amigo de Dionísio, mostrava uma incontrolável inveja diante de seu imenso poder. O tirano, então, resolveu armar uma situação para Dâmocles e ofereceu o seu lugar de poder por uma noite, em um grande banquete. Dionísio Dâmocles Em Siracusa, Dionísio, o velho, aproveitou-se das guerras contra Cartago para impor seu poder como tirano local no fi nal do século V a.C. Por alguns anos Dâmocles, amigo de Dionísio, mostrava uma incontrolável inveja diante de seu imenso poder. O tirano, então, resolveu armar uma situação para Dâmocles e ofereceu o seu lugar de poder por uma noite, em um grande banquete. 136 1 HGB_v1_PNLD2015_116a143_U2_C4.indd 136 3/8/13 9:42 AM Ilustrações: Osnei Roko/Arquivo da editora p A espada de Dâmocles, pintura de Felix Auvray, século XiX. A moral da história grega é a de que existe um preço a ser pago pelo poder. Quanto mais poder alguém possui, maiores são suas vantagens, mas também crescem suas responsabilidades e os riscos relacionados a ela. Ilustrações: Osnei Roko/Arquivo da editora 137 De início, Dâmocles fi cou entusiasmado com o luxo e a fartura da festa e dos serviçais que estavam à sua disposição. Porém quando ele, sentado no trono, viu que havia uma espada que pendia do teto, presa por um fi o de crina de cavalo, podendo cair facilmente sobre a sua cabeça, levantou-se e desistiu de des- frutar do poder recebido. Dâmocles mais que depressa aceitou a oferta de Dionísio e fi cou entusiasmado com a ideia de ser ele o grande poderoso de Siracusa, tendo todos à sua volta para servi-lo. Como prometido, Dionísio montou o banquete e Dâmocles recebeu todas as honrarias. p A espada de Dâmocles, pintura de Dâmocles mais que depressa aceitou a oferta de Dionísio e fi cou entusiasmado com a ideia de ser ele o grande para servi-lo. Como prometido, Dionísio montou o banquete e Dâmocles recebeu todas as honrarias. Fel ix A uvra y/Mu seu de Belas Artes, Valenciennes, França/The Bridgeman/Keystone 2 3 HGB_v1_PNLD2015_116a143_U2_C4.indd 137 3/8/13 9:42 AM 138 civiLizAçõES AntigAS período Helenístico (séculos iv a.c.-ii a.c.) O período iniciado com a conquista da Grécia pela Macedônia, no século IV a.C., tornou-se conheci- do como Período Helenístico e estendeu-se até o sé- culo II a.C. Inicialmente governados por Felipe II, ven- cedor da Batalha de Queroneia, os macedônios não se limitaram à conquista da Grécia, logo partindo para o Oriente. O principal responsável por essas grandiosas conquistas foi Alexandre, o Grande, filho de Felipe II. Educado por Aristóteles, Alexandre assimilou valores da cultura grega e, após sufocar revoltas inter- nas, partiu para a expansão territorial, tomando a Ásia Menor, a Pérsia e chegando até as margens do rio Indo, na Índia. Morreu aos 33 anos (323 a.C.), e o grande im- pério que conquistara não se manteve após sua morte. As divisões políticas e as constantes lutas internas le- varam ao enfraquecimento do Império Macedônico e à sua posterior ocupação pelos romanos. Entretanto, a grande obra de Alexandre da Macedônia, no plano cultural, sobreviveu ao esfa- celamento de seu império territorial. O movimento expansionista promovido por Alexandre foi o respon- sável pela difusão da cultura grega pelo Oriente, fun- dando cidades (várias delas batizadas com o nome de Alexandria) que se tornaram verdadeiros centros de difusão dessa cultura. Elementos gregos acabaram se fundindo com as culturas lo- cais, dando origem à chamada cultura helenística ou hele- nismo. A cultura helenística O grande feito das conquistas de Alexandre foi favorecer o surgimento de uma nova cultura, herdeira da grega, mas diferente dela pela enorme dosagem de elementos orientais. Alexandria (no Egito), Pérgamo (na Ásia Menor) e a ilha de Rodes (no mar Egeu) constituíram alguns dos principais centros de difusão de seus valores. A cultura helenística caracterizou-se por apre- sentar uma arte mais realista, exprimindo violência e dor, componentes constantes dos novos tempos de guerras. Na arquitetura, predominavam o luxo e a grandiosidade – reflexo da imponência do Impé- rio Macedônico. Na escultura, turbulência e agitação eram traços significativos. Nas ciências, vale destacar o avanço da Mate- mática com Euclides, criador da Geometria; da Física com Arquimedes de Siracusa; da Geografia com Era- tóstenes; e da Astronomia com Aristarco, Hiparco e Ptolomeu, este último defensor do geocentrismo, teo- ria aceita até o início dos tempos modernos (séculos XV-XVI). O helenismo originou ainda novas correntes fi- losóficas, como: • estoicismo: fundada por Zenão, defendia a felici- dade como o equilíbrio interior, o qual oferecia ao ser humano a possibilidade de aceitar, com sereni- dade, a dor e o prazer, a sorte e o infortúnio; • epicurismo: fundada em Atenas por Epicuro, pre- gava a obtenção do prazer, base da felicidade hu- mana, e defendia o afastamento dos aspectos ne- gativos da vida; • ceticismo: do grego sképtomai, ‘olhar’, ‘investigar’, fundada por Pirro, esta filosofia caracterizava-se pela negação da possibilidade de conhecer com certeza qualquer verdade. O conhecimento depen- de do sujeito e do objeto estudado, sendo, portan- to, relativo. A felicidade consistiria em não julgar coisa alguma. O helenismo ainda acres- centou à cultura grega uma instituição já presente na cul- tura oriental: o despotismo, segundo o qual a autoridade do governante era inquestio- nável. helenismo: fusão da cultura gre- ga com a oriental. Sendo herdei- ra da cultura grega, a denomina- ção dessa nova cultura decorria da referência à forma como os gregos chamavam a si mesmos – helenos, já que a grécia antiga era conhecida como Hélade. Reprodução/Museu do Vaticano, Cidade do Vaticano, Itália. ∏ A cultura helenística substituiu a concepção clássica de que o “homem é a medida de todas as coisas” pelo monumentalismo, pessimismo, nega- tivismo e relativismo. Observe um dos mais famosos exemplos de escul- tura helenística: Laocoonte e seus filhos (c. 25 a.c.). HGB_v1_PNLD2015_116a143_U2_C4.indd 138 3/8/13 9:42 AM A gréciA AntigA 139 ∏ leis escritas Gregos × Persas ∏ fim da escravidão por dívidas ∏ democracia ostracismo AtenAsesPArtA licurgo dracon sólon clístenes permanece aristocrática Segunda Diáspora transforma-se em pólis democrática hegemonia ateniense • domínio macedônio • cultura helenística auge da cultura grega guerrAs MédicAs ligA de delos Esparta × Atenas guerrA do PeloPoneso • fim das cidades-Estado gregas independentes • desagregação grega: invasão estrangeira (macedônios) Pólis AristocráticAPeríodo ArcAico séculos VIII a.C.-VI a.C. Período clássico séculos VI a.C.-V a.C. Período helenístico séculos IV a.C.-II a.C. pArA recordAr: Grécia – da pólis aristocrática à desagregação ATividAdeS 1. com base no esquema-resumo acima e no texto didático, escreva um texto no qual sejam diferenciados os proces- sos de evolução política de Esparta e de Atenas. 2. na grécia antiga, democracia e imperialismo estiveram associados. Elabore um texto evidenciando essa relação. A divisão do Império Macedônico, que se seguiu à morte de Alexandre, e as sucessivas lu- tas internas resultaram em seu enfraquecimento político, o que possibilitou a conquista romana nos séculosII a.C. e I a.C. Entretanto, mesmo conquistando a Grécia, Roma assimilou muitos de seus valores culturais, especialmente na for- ma helenística. HGB_v1_PNLD2015_116a143_U2_C4.indd 139 3/8/13 9:42 AM 140 civiLizAçõES AntigAS exercÍcioS de HiSTóriA 1 análise de documentos Aristófanes viveu em Atenas no século V a.C. Escreveu muitas comédias, entre elas Lisístrata, na qual as mulheres são as protagonistas. Nessa peça, cansadas de ficarem sem seus maridos, que estão sempre no campo de batalha, as mulheres inventam um interessante e engraçado estratagema para tê-los de volta. Numa passagem da peça, lemos o seguinte diálogo entre a ateniense Lisístrata e a espartana Lampito: a) No Período Clássico, as cidades de Atenas e Esparta defendiam sistemas de governos bastante diferen- tes. Compare-os. b) A peça Lisístrata se passa no contexto de uma guerra que marcou a história de toda a Grécia. Com base no diálogo acima, identifique essa guerra e comente suas consequências para o mundo grego. c) Explique por que o uso de personagens femininas em um debate sobre a situação de guerra contribui para criar o clima de comédia da peça de Aristófanes. Leia com atenção o trecho abaixo. Ele foi escrito pelo pensador grego Xenofonte, discípulo de Sócrates, entre os séculos V a.C. e IV a.C. Lampito: Nós, em Esparta, convenceremos nossos homens a votar por uma paz justa, leal. Mas os atenienses, que são de briga, como vai ser possível aquietá-los? Lisístrata: Não tenha receios quanto a isso. Daremos um jeito neles... Lampito: Enquanto eles tiverem navios de guerra e o Tesouro lá na Acrópole estiver cheio, acho difícil. Lisístrata: Mas nós pensamos nisso também. Vamos assaltar a Acró- pole hoje, minha fi lha. As mulheres mais velhas têm ordem para isso; enquanto estivermos nos concentrando aqui, a pretexto de rezar jun- tas, elas ocuparão a Acrópole. ARISTÓFANES. A greve do sexo (Lisístrata) e a revolução das mulheres. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 23. Eventualmente, quando se demorava junto a algum artista que por motivos de trabalho exercitava a sua arte, era-lhe igualmente útil. Chegando certa vez em visita a Parrásio, o pintor, perguntou-lhe: “A pintura, Parrásio, não é representação daquilo que se vê? E, de fato, os corpos baixos e altos, à sombra e à luz, áspe- ros e macios, rugosos e lisos, jovens e velhos, vocês os imitam retratando-os por meio de cores”. “É verda- de”, disse ele. “E quando representam modelos de Beleza, visto que não é fácil encontrar um homem per- feito em cada parte, vocês, juntando os mais belos detalhes de cada indivíduo, fazem com que pareça belo o corpo inteiro.” “Fazemos justamente isso”, disse. “E então, a atitude da alma extremamente sedutora, doce, amável, agradável, atraente, vocês conseguem reproduzir ou não se pode imitar?” “Como se pode imitar, Sócrates, aquilo que não tem proporção das partes, nem cor, nem nenhuma das coisas que enumeraste, e não é visível de forma alguma?” “E no entanto”, retomou Sócrates, “não pode o homem olhar alguém com simpatia ou inimizade?” “Creio que sim”, disse. “E tudo isso não se pode perceber na expressão dos olhos?” “Sem dúvida.” “E te parece que tenham a mesma expressão no rosto aqueles que se mostram interessados no bem e no mal dos amigos e aqueles que não se interessaram?” “Certamente não, por Zeus! Quem se interessa tem uma expressão contente quando os amigos estão bem e torna-se sombrio se os amigos estão mal.” “Logo, pode-se retratar também isso?” “E como!” “E assim também a magnifi cência, a generosidade, a grosseria, a indignidade, a temperança, a prudência, a arrogância e a vulgaridade transparecem no rosto e no comportamento do homem, tanto parado quanto em movimento.” “É verdade.” “Logo, podem ser imi- tadas?” “E como!” “E pensas que se contempla de melhor grado aquilo que deixa transparecer um caráter belo, bom, amável ou aquilo que o faz parecer feio, mau, odioso?” “Oh, há uma bela diferença, Sócrates!” XENOFONTE. Memórias de Sócrates, III. Apud: ECO, Umberto (Org.). História da beleza. Rio de Janeiro: Record, 2005. p. 48. Y ia n n is P ap ad im it ri o u /A la m y/ O th er Im ag es ∏ réplica atual de máscara de teatro gre- ga antiga. HGB_v1_PNLD2015_116a143_U2_C4.indd 140 3/8/13 9:42 AM