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História da Grécia (2008, Vozes) Mario Curtis Giordani

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Mário Curtis Giordani
8a EDIÇÃO
História da Grécia é o 2o 
volume da história universal 
publicado pela Vozes. Com ela, 
o autor inicia o estudo da 
Antigüidade Clássica, seguido 
também pelo estudo da História 
de Roma.
Merecem destaque neste 
História da Grécia os seguintes 
temas, cujo conhecimento é 
indispensável para a formação 
de uma boa e sólida cultura 
geral:
1) Introdução ao estudo do 
gênio grego.
2) A civilização cretense.
3) As idéias políticas dos 
pensadores gregos (no capítulo 
sobre a estrutura político- 
social).
4) A educação (capítulo XIII).
5) A literatura (com um estudo 
sobre a língua grega, capítulo 
XIV).
6) Filosofia (quase noventa 
páginas dedicadas às origens da 
filosofia grega e a um 
minucioso exame do 
pensamento de seus maiores 
expoentes).
7) As artes (com uma breve 
introdução sobre a estética e os 
pensadores gregos e sobre as 
características da arte grega, 
capítulo XVII).
O último capítulo é dedicado a 
um minucioso estudo sobre o 
legado da Grécia Antiga à 
formação de nossa civilização.
HISTÓRIA DA GRÉCIA
ANTIGUIDADE CLÁSSICA
I
HISTÓRIA DA GRÉCIA
por
MÁRIO CURTIS GIORDANI
Professor de História da Filosofia da Faculdade de Filosofia, 
Ciências e Letras da Universidade Federal Fluminense; 
Direito Romano na Faculdade de Direito Cândido Mendes, 
do Estado da Guanabara.
4 EDITORAVOZES
Petrópolis
© Editora Vozes Ltda.
Rua Erei Luís, 100 
25689-900 Petrópolis, RJ 
Internet: http://wwv.vozes.com.br 
Brasil
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida 
ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, 
incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados 
sem permissão escrita da Editora.
O desenho da capa deste livro c uma reprodução 
da decoração usada cm ânforas entre os anos 
1000 e 700 a.C.
As fotografias desta obra são cortesia da 
Embaixada Real da Grécia.
ISBN 85.326.0817-5
Este livro foi composto c impresso pela Editora Vozes Ltda.
http://wwv.vozes.com.br
DEDICATÓRIA
À querida tia
Rosária Andrade de Curtis, exemplo de bondade e ternura.
À memória de minha primeira professora, tia Carmelita de Curtis 
Guterres, que, com zelo inexcedível, consagrou os melhores 
anos de sua vida à causa da educação.
O AUTOR.
ÍNDICE
Introdução ...................................................................................................... 7
Capítulo I: >ls Fontes ............................................................................. 13
1. Epigrafia ............................................................................................................... 13
2. Numismática ....................................................................................................... 13
3. Papirologia .......................................................................................................... 14
4. Literatura ............................................................................................................. 14
5. Arqueologia ......................................................................................................... 15
Capítulo II: O Quadro Geográfico .................................................... 27
Introdução ................................................................................................................... 27
1. A Grécia Antiga ........................................................................................... 27
2. Terras Distantes ............................................................................................ 35
Capítulo III: Creta .................................................................................. 38
Introdução .................................................................................................................. 38
1. O País ................................................................................................................ 38
2. O Povo .............................................................................................................. 40
3. A escrita cretense e sua decifração ........................................................ 41
4. O Problema da Cronologia Minoana ...................................................... 46
5. As Etapas da Evolução da Civilização em Creta ............................ 49
6. Estrutura Político-Social ............................................................................. 53
7. Vida Financeira e Econômica ........................................................... — 57
8. Vida Cotidiana ................................................................................................... 62
9. Vida Artística ................................................................................................... 63
10. Vida Religiosa ................................................................................................... 71
11. O Legado .......................................................................................................... 80
Capítulo IV: Micenas ............................................................................... 86
Introdução ................................................................................................................. 86
1. O Quadro Geográfico .................................................................................... 87
2. Os Períodos Heládicos ................................................................................... 87
3. Estrutura Político-Social ............................................................................... 90
4. Vida Privada e Social ...................................................................................... 94
5. Vida Econômica ................................................................................ „........... 95
6. Vida Artística ..................................................................................................... 97
7. Vida Religiosa .................................................................................................. 98
8. O Legado ............................................................................................................... 100
História da Grécia
Capítulo V: Grécia Arcaica e Clássica ................................................. 102
Introdução................................................................................................................... 102
1. As Migrações Helênicas .................................................................................. 102
a) Os Dorios ................................................................................................... 102
b) A primeira expansão helênica ............................................................ 103
c) A segunda expansão helênica ............................................................ 104
Conseqüências ..................................................................................................107
2. Os Tempos Homéricos .................................................................................... 108
3. História Política dos Gregos até a morte de Alexandre ......................... 110
a) Observação inicial .................................................................................. 110
b) História de Esparta e de Atenas até a guerra com os persas 111
c) Gregos do Oriente e do Ocidente .................................................... 113
d) As guerras entre Gregos e Persas ................................................... 118
e) Hegemonia de Atenas .............................................................................. 123
f) A guerra do Peloponeso ....................................................................... 125
g) Hegemonia de Esparta ........................................................................ 128
h) Hegemonia de Tebas .............................................................................. 129
i) Filipe da Macedonia ..............................................................................130
j) Alexandre e seu Império ........................................................................ 131
k) Considerações em tomo das conquistas de Alexandre ............. 132
Capítulo VI: Época Helenista .................................................................... 138
Introdução.....................................................................................................................138
1. Visão geral ........................................................................................................ 139
2. Os Antigônidas ................................................................................................... 143
3. Os Selêucidas ....................................................................................................... 144
4. Os Lágidas ............................................................................................................ 146
Capítulo VII: Estrutura Politico-Social ................................................ 148
Introdução ....................................................................................................................148
1. A Liberdade Política ......................................................................................... 148
2. As Idéias Políticas dos Pensadores Gregos ........................................... 151
3. Estrutura Social-Política de Esparta e de Atenas ................................ 164
4. Estrutura Social-Política na Época Helenística ....................................... 176
Capítulo VIII: A Escravidão ...................................................................184
Introdução ................................................................................................................. 184
1. A Escravidão e os Pensadores Gregos .................................................. 184
2. Causas Gerais da Escravidão .................................................................... 187
3. O Escravo perante o Direito ....................................................................... 188
4. O Escravo na Família e na Sociedade ...................................................... 192
Capítulo IX: O Direito e a Justiça em Atenas ...................................197
1. O Direito em Atenas ..................................................................................... 197
2. As Instituições Judiciárias em Atenas ...................................................... 201
Índice
Capítulo X: As Forças Armadas ............................................................. 207
Introdução................................................................................................................... 207
1. Generalidades ................................................................................................****** 207
2. Organização Militar em Esparta ..................................................... ....... 210
3. Organização Militar em Atenas ........................................................... 211
4. A Marinha de Guerra ............................................................................ ....... 213
Capítulo XI: As Finanças e a Economia ........................................... 216
1. Finanças ............................................................................................................... 216
Introdução.................................................................................................................... ....
a) Receita ..............................................................................................................
b) Despesas ............................................................................................................
c) Administração financeira ...........................................................................
2) Economia ............................................................................................................. ....
Introdução ................................................................................................................... ....
a) Vida Rural ......................................................................................................
b) Comércio ............................................................................................................
c) Indústria ....................................................................................................... ....
d) Medidas, moedas e bancos .........................................................................240
Capítulo XII: Aspectos da Vida Cotidiana
1. A Família ...........................................................................................................245
2. Toilette, Vestuário e Alimentação ...............................................................250
3. Outros Divertimentos ......................................................................................... 255
4. Teatro e Jogos .....................................................................................................256
5. Os Funerais ...........................................................................................................260
Capítulo XIII: A Educação ................................................................... 262
Introdução.................................................................................................................... 262
1. Alguns Traços Característicos da Educação Grega ...........................262
2. Os Pensadores Gregos e a Educação ................................................... 264
3. A Educação em Esparta ............................................................................... 271
4. A Educação em Atenas .................................................................................274
5. A Educação na Época Helenística ..............................................................277
Capítulo XIV: A Literatura
Introdução....................................................................................................................284
1. Características .....................................................................................................284
2. A Língua ........................................................................................................... 287
3. A Língua Grega como Instrumento de Literatura ................................. 291
4. A Escrita ........................................................................................................... 292
5. Os Períodos da Literatura Grega ............................................................... 294
Período Jônico: Homero 295; Hesíodo 298; Líricos: Calino de Éfeso 299
Tirteu 299; Mimnermo 299; Sôlon 299; Teógnis 300; Focílides 300 
Arquíloco de Paros ...; Alceu Safo...; Anacreonte ....
História da Grécia
Lirismo Coral (I Época): Taletas, Álcman e Árion 301; (II Época): 
Estesícoro 301; (III Época): Simonides de Ceos 302; Baquílides 302; 
Píndaro.
Período Atico (Tragédia): Êsquilo 304; Sófocles 306; Euripides 307. — 
A Comedia: Aristófanes 310; Menandro 311. — A História: Heró- 
doto 312; Tucídides 314; Ctésias de Cnido 315; Filisto 316; Teo- 
pompo 316; Xenofonte 316. — A Eloqüência: Antifonte 318; Andó- 
cides 318; Lísias 318; Isócrates 319; Demóstenes 319; Ésquincs 321; 
Hipérides 321; Licurgo 321.
Período Helcnístico — Poesia: Calímaco 321; Apolônio de Rodes 321; 
Arato 322; Teócrito 322; Herondas 322. — Prosa: Zenódoto de Êfeso 
323; Aristófanes de Bizâncio 323; Aristarco de Samotrácia 323; Mã- 
neton 323; Timeu 323; Jerônimo de Cárdia 323; Polibio de Megalo­
polis 323; Dionísio de Halicarnasso 324; Diodero Sículo 324; Estra- 
bão 324; Flávio José 324; Arriano 324; Plutarco 324; Apiano 325; 
Pausânias 325; Díon Cássio 325; Herodiano 325; Diógenes Laércio 325.
Capítulo XV: A Filosofia .............................................................................327
Introdução......................................................................................................................3271. Origens .................................................................................................................... 327
2. Características ...................................................................................................... 331
3. Fontes ..................................................................................................................... 333
4. Predomínio do Problema Cosmológico 334; Tales de Mileto 335; Ana-
ximandro 336; Anaximenes 336 s; Pitágoras 337; Xenófanes de Có- 
lofon 339; Heráclito de Éfeso 340; Parménides de Eléia 341; Empé- 
docles de Agrigento 342; Anaxagoras 344; Zenão de Eléia 345; Me- 
lissos de Samos 347; Leucipo de Mileto 347; Demócrito de Abdera 347.
5. Predomínio do Problema Antropológico — Sofistas — 348; Pr-otágoras
de Abdera 351; Górgias 351; Hípias de Élis 352; Pródico de Keos 352. 
— Sócrates, o mais sábio dos homens: Fontes 353; Traços biográ­
ficos 354; Gênese do Pensamento socrático 356; Método socrático 
357; Doutrinas socráticas 358; Conclusão 359; As Escolas socráticas 
menores: Fédon de Élis, Menodemo de Erétria, Euclides de Mé- 
gara 360; Estilpon, Antístenes de Atenas, Diógenes de Sinope 361; 
Aristipo de Cirene 361.
6. Os Grandes Sistemas 362. — Platão: Introdução — Traços biográficos
362; Obras 364; Gênese do pensamento de Platão 366; O pensa­
mento de Platão 368; Dialética 369; Teoria das Idéias 369; Física 
platônica 371; Ética 373. Aristóteles: Introdução, Traços biográficos 
375; Obras 376; O Pensamento de Aristóteles 380; Características 380; 
Idéias fundamentais do pensamento de Aristóteles: Lógica 381; Si­
logismo 384; Teoria do Conhecimento 385; — das Causas; — do Ato 
e da Potência 386; — da Matéria e da Forma 387; — da Substância e 
do Acidente 388; — da Alma 388; — Deus 389; Moral 390; — Con­
clusão 392.
7. Predomínio do Problema Ético 393. — Academia e Liceu: Platão, Es-
peusipo, Xenócrates, Polêmon, Crates-de Atenas, Teof rasto de Êfe­
so 394; Lícon de Troas 395.
Estoicismo: Generalidades 395; Zenon de Cicio 396; doutrina es- 
tóica (lógica 396, física 397, ética 398).
Índice
Epicurismo: Epicuro de Samos 399; lógica, física, ética de 399.
Ceticismo: Pirrônico. — Pirro 402; Tímon de FBunte 402; neopir- 
rônico: Enesidemo, Sexto Empírico 402; acadêmico: Arcesilau e Car- 
néades 402.
Ecletismo: Adeptos romanos — Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio 402.
8. Predomínio do Problema Religioso: Neopitagóricos. — Fílon de Ale­
xandria, Nigídio Figulo, Apolônio de Tiana 403; platônicos pitago- 
rizantes: Plutarco, Aristobulo 404; filonismo 405.
Neoplatonísmo: Amônio Sacas, Plotino 405; plotinísmo 406; Porfí- 
rio 408.
Conclusões sobre a Filosofia Grega ......................................................... 408
Capítulo XVI: /Is Ciências .......................................................................411
Introdução...................................................................................................................... 411
1. Ciência Grega e Oriente .............................................................................. 412
2. Visão Geral ........................................................................................................ 412
3. Matemática e Astronomia ............................................................................415
Matemáticos e Geômetras: Tales de Mileto, Pitágoras 415; Hipocrates 
de Quios 416; Arquitas de Tarento, Teodoro de Cirene, Teéteto, Eu- 
dóxio, Euclides, Arquimedes de Siracusa 417; Apolônio de Perga 
418; Nicomedes. Perseu, Teodoro, Hipsides, Possidônio 418.
Astrônomos: Homero e as Pleiades; Hesíodo e os trabalhos rurais. Ta­
les 418; Pitágoras, Filolau, Heráclito, o Põntico, Eudóxio de Cnido. 
Aristarco de Samos, Hiparco 419; Ptolomeu 420; Hecateu, Heródoto. 
Estrabão 421.
4. Geografia: Tales 421; Eratóstenes de Cime, Hiparco, Possidônio 422;
Ptolomeu 423.
5. Ciências Naturais: Aristóteles 423 ss; Teofrasto 425.
6. Física: Aristóteles, Euclides, Heron, Teon, Diodoro da Sicilia, Dion
Cássio, Arquimedes, Arquitas 427.
7. Química: Aristóteles 429.
8. Medicina: Prática da, segundo Homero 429; Empédocles. Tucidides
430; Alcméon de Crotona 431; Hipocrates 432; Herófilo, Erasístrato, 
Aristóteles, Celso 434; Escola Empírica: Filino de Cós, Heráclito de 
Tarento 435; Escola Metódica: Têmison de Laodicéia, Asclepiades de 
Prusa 435;Escola Eclética, Episintética: Galeno de Pérgamo 435; 
juramento hipocrático 436; medicina em Platão 435.
Capítulo XVII: As Artes ......................................................................... 438
Introdução.................................................................................................................... 438
Espírito apolineo, dionisíaco .............................................................................433
1. A Estética e os Pensadores Gregos 439. — Poetas: Pindaro. Safo.
Tirteu, Homero 439; Filósofos: Sócrates (em Xenofonte, Platão 439 ss).
2. Características da Arte Grega: originalidade 442. Sentimento de for­
ma, ritmo, precisão, proporção e ordem 444; liberdade 443; huma­
nismo, equilíbrio, medida, naturalismo, idealismo 445; paciência, ale­
gria, companheirismo 446.
3. Visão Geral da Evolução da Arte Grega .............................................. 446
Período Arcaico ou Geométrico: Cerâmica 447 ss; ordens: jônica, dóri- 
ca. coríntia 447, 454; escultura 447 s; pintura 448.
Período Clássico 449; templos: de Selinote. Apoio, Artemis, Hereon 447. 
etc.; escultores: Miron, Policleto 451; Fidias 450, 465; Scopas, Pra­
xiteles, Leucipo 465.
História da Grécia
Período Helenístico: Notícias sobre arquitetura 452; escultura helenistica 
e tendências da época 453; os retratos dos Lágidas e Selêucidas 
453; pintura: técnica e inspiração 453.
4. Arquitetura — características 455; templos dóricos e jônicos 456; 
as acrópolcs 457; teatros 457; casa grega: o que nos cVz Xenofonte 
457 ss, Esquines, urbanismo: Hipodamo de Mileto 459; a Acrópole; 
o Areópago, Pnice e a Agora 460; Escola Americana 460; o Cerâ­
mico, ruas de Atenas 461; Portos: do Pireu, de Falero 461; De- 
mócrito de Rodes 461; Sóstrato de Cnido 461 s; Estrabão 461.
5. Escultura 463; o que refletem as estátuas gregas 463; a inspiração:
motivos religiosos, mitologia, esteias funerárias; duas concepções tra­
dicionais: dórica e jônica 463; mentalidade dórica e jônica 464; 
material: terracota, madeira e bronze 464.
6. Pintura 467; pintores: Polignoto de Tasos 467; Zêuxis de Hercléia,
Parrásio e Apeles 468.
Capítulo XVIII: A Religião .................................................................. 470
Introdução 470. — Homero, Hesíodo 470.
1. Origens — elementos religiosos indo-europeus, pré-helénicos, creto-
micenianos, orientais 470 s; gramática comparada, linguística, ar­
queologia 471, invasores indo-europeus e culto a pedras, árvores, 
animais (cavalo, touro), mitos gregos 471.
2. Intelectuais Gregos e a Religião: Homero, Hesíodo. Platão, Pindaro,
Heródoto, Esquilo 471; Sófocles, Euripides, Aristófanes, etc... Sólon 
e sua profissão de fé 472. — Filósofos pré-socráticos: Xenófanes, Par­
menides 472; Empedocles 472; orfismo e naturalismo 472; pitago- 
rismo 473; Sócrates e espírito religioso 473 s; Platão: espírito re­
ligioso e religião astral 474.
3. Visão Geral da Evolução da Religião Grega; Homero e as lendas
sobre os deuses 475; os deuses humanizados 475; culto homérico; 
vida de além-túmulo; antropomorfismo 475. — Hesíodo: deuses,
justiça e virtude moral e interesseira 476; culto dos heróis 476. 
Do século VII ao século V 476; antropomorfismo, doutrinário, to­
lerância e intransigência nos cultos 476.
A Religião na Grécia Clássica 477; mitologia e culto dos deuses 477; 
réus de impiedade 477; unidade religiosa 477; os livre-pensadores 477. 
Epoca Helenistica 477; fatalismo e deuses salvadores 478.
4. Deuses e Heróis: deuses olímpicos 478; Zeus, hino a 478, 479; Hera
479;. Atena, Apoio, Artemis 479; Hermes, Hefestos, Héstia, Ares, 
Afrodite 480; Poídon, Deméter, Diôniso481. Heróis (em Homero 
e Tucídides): Hércules 482.
5. Santuários e Festas 482; santuários de Delos — Delfos — Olímpia - -
Epidauro — Eléusis 484; festas: pan-helênicas — jogos olímpicos 
(Olímpia); pícticos (Delfos); nemeus (Neméia); festas particula­
res: as Panatenéias e as Dionisíacas 485.
6. O Culto 485 ss.
7. Vida de Além-Túmulo 487
Conclusão 487.
Capítulo XIX; O Legado ...................................................................... 489
1. A Grécia e o Mundo Antigo 489; Civilização Grega intermediária en­
tre a Cultura grega e romana 490; Civilização Greco-Romana 490. 
O legado: língua, escrita, literatura, filosofia 491; ciências, artes, 
política, educação 492; religião 493.
Bibliografia 495
Introdução.
Nenhuma Civilização da Antiguidade se apresenta de modo tão 
fascinante e atraente como a Civilização Grega.1 O povo que a pro­
duziu, conquista, irresistivelmente, nossa simpatia por seus excepcio­
nais dotes físicos e intelectuais impressos eternamente nas suas ma­
nifestações literárias, filosóficas, artísticas e políticas.
Cultor da razão, apreciador da beleza, amante da liberdade, eis 
alguns traços apontados como característicos do povo helênico. Em 
poucos séculos, esse povo sadio, jovial, empreendedor e inteligente as­
similou o legado de civilizações milenares, deu-lhe um cunho próprio 
c original, realizando o que se convencionou chamar o «milagre grego».
Ao salientarmos as qualidades do povo helênico, temos presen­
te a observação de Croiset2 em seu magnífico estudo «As democra­
cias antigas»: «Às vezes pergunto a mim mesmo se os historiadores 
não têm hoje uma tendência excessiva em seguir a escola da sociologia. 
Na investigação das causas, eles se limitam voluntariamente às cau­
sas a que chamei exteriores; não dão valor à psicologia dos povos 
ou dos indivíduos. A idéia de raça, a da índole própria de um povo 
são atualmente idéias muito depreciadas. Um historiador que atribui 
grande importância aos indivíduos na trama dos acontecimentos é, 
por isso mesmo, suspeito de ser atrasado. E’ certo que, muitas vezes, 
se tem exagerado o papel dos grandes homens, reduzindo a história 
inteira à narração dos seus altos feitos. Não é menos manifesto que 
se tem, por vezes, abusado da raça, considerada como uma entidade 
misteriosa e onipotente, aliás mal definida, e que, nesse ponto de 
vista, o «materialismo histórico» pôde ser útil. Creio, no entanto, que 
cumpre voltar a uma visão mais completa das coisas e restituir à 
idéia de raça, devidamente compreendida, o lugar que lhe cabe. Não 
me quero referir, bem entendido, a raças biologicamente puras e dis­
tintas, que provavelmente não existem em parte alguma, e que, em 
todo caso, não podemos ver na realidade. Refiro-me simplesmente a 
raças históricas, de povos reais, tão mesclados quanto se quiser nas 
suas origens, porém que apresentam, de fato, caracteres específicos 
gerais, pelos quais nitidamente se distinguem uns dos outros».
O mesmo autor3 assim retrata o grego: «Um grego não se asse­
melha a um romano e ainda menos a um asiático. O grego médio 
é incontestavelmente um homem de inteligência viva, delicada, sutil, 
essencialmente racional e dialética: vê claramente e tem necessidade 
de explicar a si mesmo o que vê. E’ capaz de analisar e de possuir 
idéias gerais; formula rapidamente induções e deduções. Tem menos 
sensibilidade do que imaginação. Esta é nítida, mais precisa do que 
8 História da Grécia
colorida, suscetível de compreender os conjuntos tanto quanto os por­
menores. O que ele possui de sensibilidade deriva, em parte, da sua 
imaginação: as emoções procedem-lhe tanto da cabeça quanto do co­
ração. Essa imaginação de artista faz que ele aprecie em todas as 
coisas o belo e, por vezes, o especioso. Essa mesma imaginação go­
verna a sua vontade, que é forte, porém sobretudo viva e pronta, e 
às vezes mutável. Fala rapidamente e bem, e a sua própria palavra 
o encanta. Muito sociável, em virtude do prazer que encontra no jo­
go da palavra e da dialética, ele é, ao mesmo tempo, muito pessoal, 
muito atento ao seu próprio interesse (mesmo nas suas idéias mo­
rais), ávido de glória, de sucesso de toda a sorte, por vezes com 
heroísmo, freqüentemente com uma vaidade um pouco frívola. Pro­
fundamente humano, ele se pode mostrar cruel, quando a imaginação 
lhe exalta as paixões. Possui todas as qualidades que suscitam as 
iniciativas ousadas e brilhantes, na arte, no pensamento puro, nos 
negócios, na política, mais do que as qualidades ponderadas e dis­
ciplinadas que fazem a força da ação coletiva».
Van Loon4 em «As Artes», depois de acentuar que «os gregos 
se nos revelam, indubitavelmente, como a raça mais dotada de todos 
os tempos», observa com muita oportunidade: «guardemo-nos, contu­
do, do erro banal de apresentar a antiga Hélada como um paraíso 
terrestre. Assim também o grego vulgar não era um modelo de vir­
tudes, um nobre herói a percorrer, com dignidade homérica, o ta­
blado da História; não passava os dias a lutar em prol da liber­
dade e da democracia nem esgotava o azeite da lamparina, a dis­
cutir com meia dúzia de amigos os parágrafos mais sublimes das 
últimas disquisições filosóficas de Platão». Mais adiante, o mesmo au­
tor continua: «Os filhos da Hélada tinham, contudo, uma qualidade 
eminentemente apreciável: eram muito sensíveis, capazes das máximas 
expressões de entusiasmo e de abnegação. Animados duma arrogân­
cia quase divina, chegavam-se ousadamente à natureza, intimavam-na 
a revelar os seus segredos e se atribuíam serenamente a importância 
de princípio e fim da criação. Desconheciam o meio-têrmo. Quando 
eram heróis, pertenciam à categoria de semideuses que os poetas can­
tarão, enquanto o nosso planêta mesquinho não mergulhar no gelo do 
sono final. Se, pelo contrário, se entregavam à prática do mal, a 
personificar a perfídia, granjeavam fama como os biltres mais consu­
mados que já pisaram o palco da História. Eram ao mesmo tempo 
tão volúveis e sagazes, de tal modo isentos de escrúpulos e de con­
vicções que, escolhida uma orientação, mudavam de atitude, sem re­
morsos aparentes e sem alterações perceptíveis no seu feito moral».
Das citações supramencionadas, o leitor poderá fazer uma idéia 
do caráter do povo grego e do conseqüente interesse que este povo 
desperta ao investigador dos fatos históricos. Terá notado, desde logo, 
que, no assunto, convém ser prudente e evitar generalizações que im­
plicariam numa idealização abstrata do gênio helênico.
A tradição classicista* (afirmada por Lessing, Winckelmann e 
reafirmada por Goethe, Schiller e Hegel) dominante em todo o sé­
Introdução 9
culo XIX salientou sempre como traços fundamentais do gênio da 
estirpe helênica: a «liberdade e clareza de espírito; a harmônica uni­
dade de conteúdo e forma, de elemento sensível e intelectual, de na­
tureza e espírito; plástica serenidade e sentimento da medida e da 
proporção; sadio e puro objetivismo».*
Temos aí uma concepção de harmonia e de eurritmia do espírito 
grego à qual se opôs, entre outros, o discutido Nietzsche que encon­
trou na genialidade grega qualidades características opostas à3 defen­
didas pelo classicismo. Para o filósofo do super-homem o gênio gre­
go se revela e se afirma essencialmente pelo contraste, pela luta, 
pela inumanidade. «A História do espírito grego é para ele a antí­
tese entre o momento apolíneo — princípio de medida e de indivi- 
duação, criador, por instinto de beleza, das serenas figuras olímpicas 
extraídas das divindades espantosas e caóticas das lutas titánicas, — 
e o momento dionisíaco — pessimismo e embriaguez; dor da indivi- 
duação e esperança de renascimento da unidade em Dioniso renascido*.'
— De tudo isso o leitor já terá concluído que o gênio grego em 
seus traços fundamentais não pode ser delineado em uma visão uni­
forme e, muito menos, ser reduzido a um tipo único. Rodolfo Mon- 
dolfo® salienta: «A redução do gênio grego à forma serena, equili­
brada e perfeita do ideal clássico é, portanto, um erro nãosomente 
enquanto converte em tipo universal e constante o que na realidade 
histórica foi somente manifestação parcial e temporâneo produto his­
tórico, mas também enquanto obstaculiza a possibilidade de compreen­
der e explicar historicamente a formação das mais altas e perfeitas 
expressões daquele gênio, impulsionado para criar as formas ideais 
não unicamente como reverberação de uma luminosa e bela realidade 
já atuante, mas como reação ante imperfeições e obscuridades e feal­
dades existentes».
— Passemos, agora, das considerações sobre os traços caracte­
rísticos do gênio grego a algumas observações sobre as realizações desse 
mesmo gênio, as quais ficaram conhecidas pela já citada expressão: 
«milagre grego». Que devemos, na realidade, entender por milagre grego? 
Esta fórmula, consagrada pela pena de Renan, não pode, entretanto, 
ser entendida no sentido que lhe emprestavam, outrora, os helenistas 
quando não podiam explicar satisfatoriamente o rápido desabrochar 
da Civilização Helênica.
Houve um período em que os historiadores gostavam de afirmar 
a originalidade absoluta dessa civilização «negando que a cultura he­
lênica tivesse dívidas para com outras civilizações anteriores nos múl­
tiplos campos de sua poliédrica criação: literatura e arte, religião e 
mitologia, ciência e filosofia. Reação natural e, em certa medida, ne­
cessária contra os fantásticos relatos de certos orientalistas românti­
cos do começo do século XIX, tipo Creuzer, Gladisch, Rõth, etc., con­
vencidos de uma sabedoria divina dos orientais, fonte única de toda 
posterior civilização ocidental. Porém, como sói ocorrer em toda rea­
ção, se havia ultrapassado o justo limite e chegado a exageros opos­
tos; e a nova crítica histórica teve, por tal razão, que estabelecer, 
10 História da Grécia
sobre a sólida base da documentação oferecida pelas investigações, 
um juízo mais equilibrado e sereno». *
Com efeito, as escavações arqueológicas iniciadas no século pas­
sado e mui especialmente a partir dos trabalhos realizados por 
Schliemann foram, aos poucos, desvendando o véu que, até então, 
encobrira as civilizações pré-helênicas.
O árduo trabalho dos arqueólogos revelaram que a Egeida fora 
um importante centro irradiador de cultura muitos séculos antes que 
se levantasse o Partenon sobre a Acrópole de Atenas. Mais ainda: 
ficou demonstrada a existência de vinculações diretas ou indiretas, 
mas importantíssimas, entre as origens da Civilização Grega e o le­
gado de antiqüíssimas civilizações orientais. Tais vinculações serão de­
vidamente apreciadas no decorrer da presente obra.
— Diante de tudo isso, perguntamos: pode-se, ainda, falar em 
milagre grego? Julgamos que sim, contanto que, como observa Henri 
Berr,10 se mantenha o sentido próprio e etimológico da palavra mi­
lagre: objeto digno de admiração. Com efeito, os gregos foram cria­
dores de um «objeto digno de admiração», isto é, de uma civilização 
que, através dos séculos, inspirou poetas, fez surgirem artistas, orien­
tou filósofos, incentivou cientistas e entusiasmou políticos.
A criação grega, entretanto, não é uma criação do nada.11 «O 
milagre grego aprofunda suas raízes em um humus histórico espesso 
e rico no qual o gênio helênico pôde alimentar suas energias nascen­
tes e aumentá-las para o impulso de seu rápido caminho progressivo 
e para o desenvolvimento de suas criações maravilhosas».
«Por muito que estimemos a importância artística, religiosa e po­
lítica dos povos anteriores, escreve W. Jaeger na Introdução de sua 
clássica Paideia, — a, História do que podemos chamar cultura em 
nosso sentido consciente, não tem seu começo a não ser com os gre­
gos... Este é o motivo de nosso encontro espiritual com o helênico, 
sempre renovado no curso de nossa História...»
Como observa Rey,12 «o milagre grego é um milagre unicamente 
por suas consequências prodigiosas» e não porque represente uma cria­
ção do nada, sem antecedentes ou vinculações com as culturas que o 
haviam precedido entre os povos orientais.
Essas conseqüências prodigiosas estão bem vivas ainda hoje. Com 
efeito, o espírito da Civilização Helênica impregna os mais diferen­
tes setores de nossa vida moderna: sentimo-lo quando assistimos às 
competições atléticas, quando apreciamos obras de arte, quando nos 
distraímos com os melhores autores da Literatura Universal, quando 
tentamos penetrar na profundeza do pensamento filosófico contempo­
râneo e até mesmo quando aprendemos as últimas conquistas da ciên­
cia que busca no inexaurível tesouro da língua grega as palavras ade­
quadas para formar sua nomenclatura.
Encerremos aqui essa breve Introdução. Julgamos, com a mes­
ma, haver apresentado razões suficientes para que o amável c pa­
ciente leitor compreenda o porquê das páginas que seguem.
Introdução 11
NOTAS
BIBLIOGRÁFICAS
1 Usamos a tradicional e consagrada ex­
pressão “Civilização Grega” num sentido am­
plo, quanto ao espaço c ao tempo. Toynbcc 
prcíerc a denominação de civilização hclè- 
nica ou, ainda, hclenlsmo. E’ apenas um 
ponto de vista do conhecido historiador in­
glês... Na realidade, o vocábulo helcnismo 
possui, como veremos adiante, um sentido 
peculiar. Na presente obra consideramos as 
expressões "civilização grega” e "civilização 
hclênica” sinônimas.
(Toynbcc, Helcnismo, p. 8 c ss).
a Croiset, As democracias. pp. XH-XIH
3 Idem, ibidem. P- XVI.
4 Van Loon, As Arles, PP. 80 ss.
í Atondolfo, El genio. PP- 14-15.
4 Idem, ibidem.
1 Idem, ibidem, p. 16.
í Idem, ibidem. p. 24.
• idem, ibidem, p. 8.
N Berr, En maree, PP- 155-156.
31 Mondolfo, El genio. P* 12.
13 Idem, ibidem, P- 8.
Coroa (oxécpavoç)
Sócrates
CAPÍTULO I
AS FONTES
Podemos classificar os meios que nos levam ao conhecimento do 
passado helênico em fontes epigráficas, numismáticas, papirológicas, 
literárias e arqueológicas. Não existe, evidentemente, uma separação 
rígida entre essas espécies de fontes. Assim, por exemplo, há estreita 
relação entre as fontes epigráficas e as arqueológicas.
Sobre estas e as literárias teceremos maiores considerações. Quan­
to às demais, limitar-nos-emos a algumas linhas esclarecedoras.
1. Epigrafia1
As numerosíssimas inscrições gregas referem-se a atos públicos 
(tratados de paz, de aliança, de comércio, leis, listas de magistrados, de 
despesas, etc...), atos privados (compra e venda, manumissões, loca­
ções, doações, testamentos), a assuntos religiosos (listas de sacerdo­
tes, rituais, administração de templos, etc...), à homenagem a mor­
tos (existem epitáfios longos escritos em estilo declamatório), à homena­
gem a vivos (são testemunhos de reconhecimento de cidades ou associa­
ções a determinado personagem a quem se conferem honras e privilégios).
Todas essas inscrições constituem inesgotável fonte de conheci­
mento da Antiguidade Clássica. Requerem porém estudo cuidadoso e 
interpretação lúcida, o que é tarefa de especialistas. Já na Antigui­
dade historiadores como Heródoto e Tucídides reconheceram a impor­
tância do material epigráfico, reproduzindo em suas obras inscrições 
antigas.
No século XV, Ciríaco de Ancona reuniu um apreciável número de 
inscrições gregas. Somente no século XIX é que vieram à luz impor­
tantíssimas coleções de inscrições helênicas. Uma das mais famosas co­
leções é o Corpus Inscriptionum graecarum, elaborado durante o sé­
culo passado e substituído em 1904 por uma admirável obra da Aca­
demia prussiana, intitulada Inscriptiones Graecae. A Academia de Vie­
na promoveu, no início do século XX, a publicação das inscrições gre­
gas encontradas na Ásia Menor, sob o título geral de Tituli Asiae 
Minoris. Desde então sucederam-se as publicações e para uma atua­
lização com a epigrafia grega (como para qualquer ramo de ciência) 
torna-se indispensável a consulta a revistas especializadas.
2. Numismática3
As coleções de moedas gregas se encontram espalhadas entre parti­
culares e museus. A consulta paciente a catálogos especializados consti­
tui o principal meio ao alcance dos interessados em aprofundar o
História da Gréciaestudo da História Grega através da contribuição da Numismática. 
Observemos, de passagem, que, sob o ponto de vista artístico, as moe­
das gregas mais perfeitas foram produzidas entre os anos 415 e 280 
A.C.
3. Papirologia’
Em nosso estudo sobre a Antiguidade Oriental já salientamos a 
importância da difusão do papiro egípcio como material de escrita.
A papirologia adquiriu importância como ciência auxiliar da His­
tória no decorrer do século XIX. Os gregos conheciam e usavam o 
papiro muito antes da conquista do Egito por Alexandre. O primeiro 
papiro literário grego que se encontrou foi uma parte manuscrita da 
Ilíada.
Em 1847 encontraram-se fragmentos de seis discursos do orador 
Hipereides.
A grande abundância4 de papiros gregos descobertos no Egito ex­
plica-se facilmente pelo desenvolvimento vigoroso da civilização hele- 
nística na terra dos faraós após a conquista de Alexandre Magno. 
Os papiros passaram a constituir fonte de grande importância para o 
estudo da Literatura Grega. Lembremos também a importância da pa­
pirologia jurídica que fornece informações preciosíssimas para o es­
tudo do direito grego, egípcio e do próprio direito romano.
4. Literatura
De um modo geral, podemos afirmar que o imenso acervo da Li­
teratura Grega constitui fonte para o conhecimento da História An­
tiga da Grécia.
Poetas, dramaturgos, comediógrafos, filósofos, oradores e sobretu­
do historiadores deixaram maior ou menor contribuição para a recons­
tituição científica do passado helênico. Claro está que os historiadores 
figuram em primeiro plano entre as fontes literárias. Remetemos o 
leitor para o capítulo referente à Literatura, especialmente nos itens 
dedicados à História, a fim de que tome conhecimento do valor do 
testemunho histórico de cada autor. Limitar-nos-emos, por ora, a fa­
lar de um modo geral sobre a validade dos clássicos como fonte his­
tórica. Convém, desde logo, observar que nessa questão é indispensá­
vel manter-se um meio-termo: não exagerar nem depreciar o valor 
das exposições dos antigos.
Não devemos esquecer que os historiadores conscienciosos da An­
tiguidade Clássica usaram de farto material de consulta, hoje desa­
parecido. Se é verdade que as escavações arqueológicas e a decifra- 
ção das escritas orientais rasgaram novos horizontes no estudo da 
História Antiga, corrigindo, por vezes, as informações clássicas (um 
exemplo: a retificação da Cronologia de Heródoto, referente ao Egito 
Antigo), não é menos verdade que as pesquisas modernas confirma­
ram, muitas vezes, a narrativa dos antigos.
Capítulo I: As Fontes 15
Citemos,’ a título de curiosidade, alguns exemplos interessantes: 
A Talassocracia cretense mencionada por Tucídides (1,4), há mais de 
dois milênios, foi, até as escavações realizadas em Creta, considerada 
pura lenda. O mesmo Tucídides partilhava da opinião dos antigos se­
gundo a qual a guerra de Tróia cantada por Homero correspondia, 
sem os floreios da poesia, a um fato real.
As escavações de Schliemann vieram demonstrar que tal crença 
não era de todo infundada.
Uma inscrição grega repete o pacto realizado entre atenienses e 
outras cidades gregas, transcrito integralmente por Tucídides (V,47).
Com relação à Anábase de Xenofonte lembremos que o coronel 
(depois, general) Artur Boucher, após minucioso estudo topográfico, 
chegou a identificar os lugares (inclusive uma fonte de água quen­
te) descritos há vinte e três séculos pelo participante e historiador 
da famosa retirada dos dez mil (cf. L’Anabase de Xenophon, avec 
un commentaire historique et militaire, Paris, Berger Levrault 1913).
— Concluamos essas breves observações sobre as fontes literárias, 
chamando a atenção para o fato de que os autores clássicos devem 
ser lidos, de preferência, em edições críticas que restabeleçam, quanto 
possível, o texto autêntico, que apresentem uma tradução fidedigna 
c, finalmente, que contenham observações esclarecedoras sobre os tex­
tos publicados.
5. Arqueologia
O historiador George Grote’ escreveu no prefácio de sua monu­
mental History of Greece publicada em 1846, as seguintes palavras: 
«Inicio a verdadeira História da Grécia com a primeira Olim­
píada de que se tem conhecimento, ou seja, no ano 776 a.C.... Pois 
a verdade é que os anais históricos propriamente ditos não começam 
senão depois dessa data. Ao comprovar a extrema escassez de dados 
fidedignos correspondentes aos dois séculos que começam no ano 776 
a.C., a ninguém surpreenderá que falte informação válida com a qual 
se possa reconstruir o meio grego em 900, 1000, 1200, 1300, 1400 a.C. 
ou em qualquer outro século anterior que os cronistas tenham que­
rido incluir em suas genealogias... As épocas que considero fora da 
órbita da História só podem ser adivinhadas através de um ambien­
te diferente: o da poesia épica e da lenda».
Dois estudiosos das antiguidades helênicas, Henrique Schliemann 
e Arthur Evans, haveríam de, muitos anos mais tarde, provar que a 
órbita da História Grega era muito mais extensa do que o imagina­
ra Grote.
Antes de estudarmos as realizações desses dois personagens, ten-* 
temos resumir, em poucas linhas, algumas notíciasT sobre o desen­
volvimento da Arqueologia Grega. Acentuemos desde logo que os ves­
tígios do passado são bastante numerosos tanto na península helê- 
nica como nas demais regiões habitadas outrora pelos gregos.
16 História da Grécia
A exploração metódica do material arqueológico só começou real­
mente no século passado. A fundação da Escola Francesa de Ate­
nas em 1846 assinala um marco decisivo na revalorização dos teste­
munhos deixados pela Civilização Grega. Ã Escola Francesa seguiram- 
se, mais tarde, os institutos alemão, inglês, americano e italiano.
Finalmente, os próprios gregos passaram a ocupar o primeiro pla­
no no desbravamento das riquezas arqueológicas de sua pátria.
Eis, a seguir, algumas datas8 importantes da Arqueologia Grega: 
1870 — Escavações de Schliemann;
1875 — Escavações alemãs em Olímpia;
1877 — Escavações francesas em Delos, no Egeu;
1878 — Escavações alemãs em Pérgamo;
1881 — Escavações gregas em Epidauro, em Elêusis e sobre a Acró- 
pole de Atenas;
1891 — Escavações francesas em Creta;
1892 — Escavações francesas em Delfos;
1895 — Escavações austríacas em Éfeso, alemãs em Priene e ameri­
canas em Corinto;
1900 — Escavações de Evans em Creta; 
1907 — Escavações inglesas em Esparta; 
1931 — Escavações americanas na Ãgora de Atenas.
Observe-se que as datas citadas assinalam o início de pesquisas 
que, em geral, se prolongaram por mais anos.
Passemos, agora, a um breve relato da contribuição de Schliemann 
e de Evans para o conhecimento da História Helênica e Pré-Helênica.
O conhecido biógrafo Emil Ludwig traça-nos de maneira atraen­
te a vida agitada e aventurosa de Henrique Schliemann. Evans,9 que 
escreveu o prólogo da biografia, observa: «E’ uma história singular, e 
Ludwig, que para conhecê-la teve de compulsar uma enorme massa 
de papéis — mais de 20.000 documentos — seguiu com clarividência 
o fio que guiou aquele homem, e outra coisa não foi que a atração 
do ouro, patenteando-se primeiro na prática e depois historicamente. 
E’ impossível acompanhar passo a passo as descobertas de Schliemann 
em ambas as margens do mar Egeu, que começam em Itaca e ter­
minam em Tróia, Micenas, Tirinto e Orcômeno. Suas escavações 
foram a consequência da absoluta fé que ele tinha em Homero e em 
outros autores antigos. Era uma fé «como na Bíblia», verdadeiramen­
te comovedora. Vemo-lo, assim, no começo de sua carreira explorar, 
em Itaca, o Monte Aetos, escalando-o para escavar na parte nordeste 
do cume «onde, segundo minha crença, deve encontrar-se a oliveira 
de que Ulisses fez seu leito nupcial e em cujo sítio instalou seu dormi­
tório. E’ este, talvez, o lugar onde o herói da Odisséia derramou lágri­
mas ao rever seu cão favorito, Argos, que morreu de alegria». 
Foi ali que Schliemann encontrou cinco urnas pequenas que lhe arran­
caram esta exclamação: «E’ possível que nas minhas cinco urnas es­Capítulo I: A« Fontes 17
tejam as cinzas de Ulisses e Penelope, ou as de seus descendentes*. 
A narrativa de Ludwig a respeito das largas campanhas de Schliemann, 
em Tróia, dá-nos daqueles sucessos uma visão crítica de conjunto mui­
to fiel».
Henrique Schliemann (1822-1890) era um alemão de origem hu­
milde, natural de Mecklenburg. Depois de uma carreira acidentada 
de viajante e negociante em que conseguiu enorme fortuna, consagrou- 
se à Antiguidade Grega com a idéia fixa de reencontrar os vestígios 
de Tróia e, na península helênica, os rastros dos príncipes homérico3. 
«A grande ilusão de sua infância nunca o abandonou. Continuava decidido 
a fazer escavações em Tróia e estava convencido de que ali encontraria 
a cidade de Homero. Com este propósito decorou os grandes poemas 
épicos que ele lia como se tratasse de História e não de poesia^. * 
Um dos traços característicos da personalidade de Schliemann era sua 
espantosa capacidade para aprender novos idiomas. Já ao3 trinta e 
três anos dominava quinze idiomas.11
— Em 1868 Schliemann pisou, pela primeira vez, o solo homérico 
na ilha de ítaca, onde, segundo suas próprias palavras, dedicou-se 
«a estudar os arredores lendo, de quando em vez, na Odisséia, 33 
emocionantes cenas ali narradas...»
De ítaca Schliemann partiu para o Peloponeso, fez uma breve vi­
sita a Micenas, atravessou os Dardanelos e percorreu a cavalo a 
planície de Tróia. O general inspecionava o futuro campo de batalha.
De 1871 a 1873 Schliemann ia, de certo modo, realizar seu ve­
lho sonho: ressuscitar a Tróia de Homero. Note-se que o Mecklen- 
burguense não foi o primeiro a tentar localizar a Tróia homérica. 
Desde o século XVIII os habitantes da região em que se situa a 
famosa planície (na Turquia) estavam acostumados a verem sábios 
europeus submergindo termômetros em fontes ali existentes à pro­
cura dos mananciais de água térmica e de água fria a que aludem 
os versos da Ilíada no Livro XXII. As opiniões dos entendidos so­
bre a localização da Ilíon de Homero variavam: uns indicavam a al­
deia de Bunarbaschi situada no extremo meridional da planície, ou­
tros preferiam a colina de Hissarlik que se levantava mais próxima 
do mar. Quando em 1868 Schliemann visitara o lugar com a Ilíada 
nas mãos, declarara-se pela segunda opinião baseado na descrição da 
perseguição de Heitor por Aquiles ao redor da muralha de Tróia. 
A façanha teria sido irrealizável na de Bunarbaschi devido à proxi­
midade da rochosa colina de Bali Dagh situada atrás da aldeia. A 
tradição histórica estava a favor de Schliemann. Nas cercanias de 
Hissarlik existira outrora a cidade helênica (mais tarde romana) de 
Novum Ilium (Nova Tróia), cujas ruínas podiam ser examinadas. Ale­
xandre Magno, antes de conquistar o Oriente, visitara o templo da ci­
dade considerada como sucessora daquela cantada por Homero. De 
setembro a novembro de 1871 estendeu-se a primeira etapa das esca­
vações. «Deve-se levar em conta que, quando Schliemann iniciou esse
18 História da Grécia
trabalho monumental, carecia de toda experiência, nem podia orien- 
tar-se pela experiência de outros arqueólogos de campo porque nunca 
se havia tentado nada em semelhante escala. Naquele tempo não exis­
tia nenhuma técnica especial de escavação».12 A impaciência e inex­
periência de Schliemann impediam-no de examinar importantes restos 
de épocas mais recentes. A colossal trincheira aberta na colina de 
Hissarlik ia direto aos níveis mais baixos. O que impedisse essa mar­
cha era demolido sem maiores cerimônias. Schliemann distinguiu na 
colina vestígio de sete «cidades», mas se encontrou em dificuldades 
para determinar qual teria sido a mencionada na Ilíada. Finalmente 
decidiu-se pela Tróia n9 II (contando de baixo para cima). Schliemann 
amava o sensacionalismo: «A criança impaciente que existia em Schlie­
mann se sobrepôs sempre ao arqueólogo sensato. Esforçara-se por en­
contrar o que desejava achar, e, agora, depois de três anos de labo­
riosos trabalhos, parecia que sua fé fora justificada. Sem deter-se 
a comprovar suas deduções nem a consultar as opiniões de outros sá­
bios, anunciou ao mundo que havia descoberto a Porta Escea e o Pa­
lácio de Príamo». ”
— Abramos um parêntesis. Na colina de Hissarlick foram identi­
ficadas nove camadas de ruínas sobrepostas indicando nove períodos 
distintos de História.
Posteriormente esses nove períodos foram subdivididos em nume­
rosos subperíodos (contam-se cêrca de quarenta e seis’* camadas de 
habitações sucessivas). A primeira instalação, ao contrário do que se 
pensava, não remonta à época neolítica e nem mesmo à idade do co­
bre; data, mais ou menos, do III milênio a.C. O incêndio da Tróia 
n9 I deu-se por volta de 2300 a.C. A Tróia n9 II possuía um recinto 
mais imponente que a anterior e deve ter sido destruída pelo ano 
2250, talvez por um terremoto. Essa Tróia n9 II não foi evidentemen­
te a famosa cidade de Príamo. Sobre a identificação desta surgiu 
uma Questão de Tróia. Alguns, entre os quais Dõrpfeld, identificaram 
as ruínas n9 VI como sendo a Tróia Homérica. Ao que parece, entre­
tanto, a Tróia n9 VI, cercada de possantes fortificações, foi destruída 
por um terremoto em 1350 a.C. Admite-se, hoje, após as escavações 
de Blegen que a Tróia Homérica correspondería às ruínas n9 VII, si­
tuadas entre os anos 1350-1200. Sob essas ruínas encontram-se sig­
nificativos vestígios de incêndio, o que parece confirmar a tese de que 
aí, outrora, lutaram gregos e troianos. Esta luta — a guerra de Tróia 
— teria acontecido no início do século XIII a.C.
Voltemos a Schliemann. O dia 14 de junho de 1873 constitui um 
ponto alto nos trabalhos do escavador alemão: a descoberta de ri­
quíssimos objetos de ouro nas ruínas da Tróia n9 II. A imaginação 
de Schliemann viu nas jóias o tesouro de Príamo, abandonado preci­
pitadamente nas derradeiras horas de Tróia. Não cabe aqui narrar 
os aborrecimentos trazidos ao arqueólogo improvisado pela inespera­
da descoberta. As artimanhas com que o mesmo conseguiu despistar 
a «Sublime Porta» seriam dignas do esperto Ulisses.
Capítulo I: As Fontes 19
No ano de 1876 encontramos Schliemann num vale solitário do 
Peloponeso fazendo uma descoberta cujas consequências seriam bem 
mais importantes que os resultados das escavações de Hissarlik: a re­
velação da antiga civilização miceniana. Desde então «em todo o mun­
do civilizado, nas aulas das universidades, nas revistas culturais, nos 
periódicos mais famosos, outro nome homérico se havia convertido em 
centro de interesse: Micenas» (Cottrell, p. 66).
Como acontecera com a planície de Tróia, Schliemann tivera, em 
Micenas, precursores. Lord Elgin, Lorde Sligo e um turco de nome 
Veli Pasha tinham estado na região sem que obtivessem maiores êxi­
tos. Schliemann porém cultivava uma fé especial nas tradições clás­
sicas como, v.g., de Ésquilo e de Pausânias.
Agamenon, tragédia clássica de Ésquilo, inspirada na lenda do 
retorno de Agamenon, «rei dos homens» e «senhor de Micenas», versa 
sobre o assassínio do herói por sua esposa Clitemnestra.
Pausânias, no séc. II a.C., esteve em Micenas e deixou uma in­
teressante descrição das ruínas, mencionando a Porta dos Leões e os 
túmulos daqueles que haviam sido assassinados ao regressarem da 
guerra de Tróia. Clitemnestra e seu amante Egisto «foram enterra­
dos fora das muralhas porque não mereciam ser enterrados dentro, 
onde jaziam Agamenon e os que com ele haviam sido assassinados». 
Dando uma interpretação particular ao escrito de Pausânias, Schlie­
mann resolveu fazer escavações num local em que ninguém esperava 
encontrar algo importante. «Possivelmente foi a decisão de Schliemann 
de explorar um lugar tão pouco prometedor na aparência que le­
vou o governo grego a permitir o início, ali, das escavações. Sabia- 
se que a Sociedade Arqueológica Grega, que assessorava o governo, 
tinha ciúmes de Schliemann, temerosa de que lhe roubasse a glória 
que deveria ser dela».15 Os trabalhos do incansável explorador tive­
ram um êxito surpreendente: esqueletosde homens, mulheres e crian­
ças repletos de jóias de ouro; sabres com cabos de ouro ricamente 
cinzelados, facas, lanças, bolas de âmbar, folhas circulares de ouro, 
placas do mesmo metal, taças de prata e de ouro, vasos de alabas- 
tro, diademas, etc., etc... um tesouro imenso sepulto havia milênios vi­
nha à luz do dia testemunhar a existência de uma civilização muito 
anterior à época clássica da Grécia. Como no caso do tesouro encon­
trado em Hissarlik, Schliemann não atinou que as descobertas de Mi­
cenas remontavam a vários séculos antes da época em que teriam 
vivido Agamenon e seus companheiros. «Ao fazer o descobrimento. 
Schliemann não se deu conta da verdadeira antiguidade desses objetos. 
Para ele, eram indiscutivelmente homéricos, a justificação triunfante 
de sua fé. Foi um momento de emoção suprema que lhe proporcionou 
uma indizível satisfação».”
Dõrpfeld, jovem professor e arquiteto que se associara a Schlie­
mann como seu ajudante e que muito influira para que seu amigo uti­
lizasse métodos mais científicos, já notara o erro de Schliemann. Es­
20 História da Grécia
te erro ficou comprovado mais tarde quando descobertas posteriores 
revelaram grande número de antigos centros «micênicos» cuja cerâmi­
ca permitiu o estabelecimento de uma escala cronológica por meio do 
método comparativo.
Não pretendemos continuar a narração da vida aventurosa de 
Henrique Schliemann. Depois de Micenas, o incansável Mecklenburguen- 
se voltou mais de uma vez à planície de Tróia e efetuou, ainda, es­
cavações em Orcômeno e em Tirinto.
Remetemos o leitor curioso aos livros citados na Bibliografia e, 
de modo especial, à obra de Ludwig. «O comerciante de anil, conver­
tido em investigador, havia aberto um mundo novo à arqueologia. 
Os historiadores, acostumados ao prudente ceticismo de Grote, sou­
beram de repente que havia existido em solo europeu uma civilização 
altamente desenvolvida, mil anos mais antiga que a grega e que, 
ademais, não se limitava a Micenas.
Os arqueólogos que investigaram outras zonas no continente e nas 
ilhas «fizeram um importante descobrimento. Na maior parte dos lugares 
que, segundo Homero, enviaram contingentes à Guerra Troiana, e que, por­
tanto, foram centros politicamente importantes, lugares tais como Ti­
rinto, Orcômeno, Lacedemônia, Amyclae, havia restos de povoados mi­
cênicos. O catálogo de barcos na Ilíada apresenta um quadro bastante 
fiel da estrutura política e militar da Grécia nos tempos micênicos».17
As descobertas de Schliemann em Micenas e Tirinto despertaram 
em todos os estudiosos da Antiguidade uma pergunta: que povo teria 
criado a civilização cujos restos surgiam de maneira tão inesperada? 
Apareceram diversas teorias entre as quais uma se impunha: a civili­
zação em tela era bem mais antiga que Homero e que a guerra de 
Tróia. Entre os que defendiam essa tese figurava Arthur Evans que 
iria estabelecer uma ligação entre o resultado das escavações no so­
lo grego e o segredo escondido nas abundantes ruínas cretenses.
Em 1886 Schliemann estivera em Creta, impressionado certamente 
com as alusões de Tucídides e de Homero.
Este cantara o valente Idomeneu, chefe do contingente enviado 
por Creta ao sítio de Tróia.
A Odisséia também menciona inúmeras histórias cretenses e 
Schliemann estava sempre propenso a acreditar nas velhas tradições. ..
Mas desta vez, por uma questão de negócios, o velho pesquisador 
desistira das escavações. Evans ia tomar-lhe o lugar e abrir um novo 
capítulo na História Pré-helênica.
Anotemos, preliminarmente, algumas datas.18
1877 — Um negociante de Cândia, Minos Kalokairinos, arqueólo­
go amador, fixa o lugar de Cnossos e revela as fundações 
de um edifício.
Camponeses descobrem fortuitamente túmulos na planície 
de Messara e na região de Mirabello.
Capítulo I: As Fontes 21
1884 — Khatsidakis e Halbherr exploram as grutas do Ida e de 
Eileithya.
1886 — Viagem de Schliemann a Creta em companhia de Dõrpfeld.
Em 1883 Evans visitara a Grécia, estivera com Schliemann, admi­
rara as descobertas deste e suspeitara da relação entre as mesmas 
e a ilha de Creta.
Arthur Evans (1851-1941) fez sua primeira visita a Creta na pri­
mavera de 1894. Antes de expormos as escavações de Evans, diga­
mos algumas palavras sobre sua biografia. O descobridor da civiliza­
ção cretense nasceu em Nash-Mills de uma família de homens de ne­
gócios e de estudos. Lewis Evans, seu bisavô, fora membro da Real 
Sociedade e John Evans, seu pai, era geólogo, antiquârio, colecio­
nador e membro da Real Sociedade. O futuro arqueólogo cresceu, pois, 
numa atmosfera de erudição típica da era vitoriana.” Viajado, culto 
(estudara em Harrow, Oxford e Gottingen), amigo de aventuras, pa­
ciente, espírito de cientista intuitivo, dotado de imaginação e sen­
sibilidade de poeta, eis alguns traços característicos de nosso arqueó­
logo. Como Schliemann, Evans não teve problemas de ordem econô­
mica. Suas escavações foram, a princípio, financiadas pelo «Fundo de 
Exploração Cretense»; posteriormente, coube ao pai de Arthur Evans 
arcar com as despesas do «monumental trabalho de escavação, re­
construção e publicação do Palácio de Cnossos, obra que continuou in- 
terminantemente durante mais de trinta anos»... 20 Mais tarde Arthur 
contribuía com sua fortuna particular para a continuação dos traba­
lhos cujo custo total teria ascendido a cerca de um quarto de milhão 
de libras.
Vejamos, agora, as principais realizações de Evans na ilha de 
Creta.
Em 1899, em companhia de Hogarth e de Duncan Mackenzie, 
Evans iniciou as escavações numa colina de Kefala em Cnossos. Sur­
giu imediatamente um verdadeiro labirinto de edifícios.
A partir de 1900, Evans «ressuscitou» o Grande Palácio, o Pe­
queno Palácio, a Vila Real, as necrópoles de Zafer-Papura e de Iso- 
pata, o Túmulo Real, a casa do Grão-Sacerdote, o porto de Komo 
(donde partiam os navios cretenses para o Egito e para a Líbia) e 
a estrada de Komo a Katsabas. Mas as descobertas de Evans não se 
limitaram a monumentos arquitetônicos. Tabletes de argila com sinais 
de escrita misteriosa (mais adiante abordaremos o problema da de- 
cifração dessa escrita), objetos de cerâmica e, sobretudo, pinturas re­
presentando homens e mulheres cretenses, constituíam o acervo colos­
sal que despertava a atenção não só do mundo erudito e especiali­
zado mas também dos curiosos e diletantes em matéria de História. 
Com relação às figuras, note-se um fato curioso: egiptólogos estabele­
ceram, desde logo, uma comparação com certas representações de 
ilhéus encontradas nos túmulos egípcios. Os ilhéus durante séculos 
mantinham relações com os faraós.
22 História da Grécia
Essas figuras representadas nos murais dos palácios cretenses cha­
mavam a atenção sobretudo porque revelavam tipos humanos bem di­
ferentes dos que integravam os povos conhecidos da Antiguidade Orien­
tal e Clássica, «pois eram totalmente diferentes dos clássicos gregos, 
diferentes dos egípcios, diferentes dos babilônicos, diferentes de to­
das as representações, em pintura ou escultura, dos povos antigos 
que sobreviveram do remoto passado. No que se refere às mulheres mi- 
nóicas, em seus trajes, atitudes e estilos de penteados, a comparação 
mais aproximada que os assombrados eruditos puderam fazer foi com 
as belezas em moda de sua própria época: 1900! Um sábio francês, 
ao contemplá-las, exclamou incrédulo: «Mais, ce sont des parisiennes». 
(Cottrell, p. 176).
— Até aqui salientamos a obra e a figura de dois desbravadores 
do Mundo Pré-Helênico: Schliemann e Evans. Ambos tiveram conti- 
nuadores.
Vamos, a seguir, dedicar algumas linhas a estes.
Em Tróia, conforme já lembramos, o Prof. Blegen fez escava­
ções pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, tendo iden­
tificado nove estratos. Foi assinalado o de número 7A como correspon­
dendo a ílion da guerra de Tróia.
Em Micenas, depois da partida de Schliemann, o grego Stamatakis 
(que fôra designado pela Sociedade Arqueológica de Atenas para vi­
giar os trabalhos do primeiro) encontroumais um túmulo de fossa 
vertical «que contribuiu algo para restabelecer o amor-próprio da So­
ciedade Arqueológica da Grécia». *
Seguiram-se os arqueólogos Tsountas, Keramopoullos e Rodenwaldt 
que deixaram contribuições para o esclarecimento da civilização Mi- 
cênica. Desde 1920, pesquisadores ingleses da Escola Britânica de Ate­
nas ampliaram muito os trabalhos arqueológicos relativos a Micenas.
Em 1951 o Dr. John Papadimitriou do Serviço Arqueológico Gre­
go descobriu um novo círculo de túmulos.
Em 1952 os britânicos sob a direção, do Dr. Wace começaram 
novas escavações no cemitério Pré-histórico situado fora da Porta dos 
Leões. Desde então, o solo de Micenas vem revelando surpresas: obras 
de arquitetura, armas, objetos homéricos, inscrições e tesouros quase 
iguais aos descobertos por Schliemann.
Concluamos sobre Micenas: «Aquele escritor viajante do século 
II, Pausânias, cujas observações não foram aceitas como verdadeiras 
pelos eruditos do século XIX, cada dia merece mais crédito, à me­
dida que as escavações realizadas em Micenas vão confirmando sua 
exatidão». ”
Em Creta não foi somente Evans que desenterrou os vestígios 
da civilização minoana. Já em 1900, enquanto Evans e Mackenzie tra­
balhavam em Kefala, D. G. Hogarth, diretor da Escola Britânica de 
Arqueologia de Atenas e com bastante experiência de escavações no 
Oriente, trabalhava na famosa gruta de Dicte onde, segundo a lenda, 
nascera Zeus. Aliás, antes de Hogarth, Frederico Halbherr, grande 
Capítulo I: As Fontes 23
arqueólogo, e o Dr. Joseph Khatsidakis, diretor da Sociedade Arqueo­
lógica Cretense, já haviam tentado em vão penetrar na gruta. Nas 
profundezas desta Hogarth encontrou centenas de oferendas votivas 
ali colocadas, havia milênios, pelos devotos da divindade cultuada.
Halbherr escavou um palácio ao sul, em Faestos, e desenterrou 
uma Vila Real com notáveis afrescos.
Na parte leste da ilha, em Gurnia, arqueólogos americanos, a 
Srta. Boyd e o Sr. R. B. Seager trabalhavam em vestígios de uma 
cidade minóica. «Graças aos americanos, a antiga cidade de Gurnia 
ressuscitara com suas ruas, suas casas de terraços, sua ágora e seu 
palácio». *
— Desde 1891,34 a Escola Francesa de Atenas havia empreen­
dido escavações em Creta. Em Mallia, a quarenta e cinco quilômetros 
de Cnossos, foram iniciadas em 1922 pesquisas metódicas dirigidas su­
cessivamente por Ch. Picard e P. Roussel. Como resultado desses tra­
balhos, foi exumado o palácio de Mallia que lembra o de Cnossos. P. 
Demargne desenterra os quarteirões residenciais de Mallia e Van Effen- 
terre revela as necrópoles de Mirabello. Pendlebury e Hutchinson con­
tinuam a obra de Evans trabalhando em Palaikastro, no santuário 
de Petsofa e na gruta de Tarpeza. Seager e Hall fazem importantes 
descobertas em Vassiliki.
Entre os arqueólogos gregos, anotemos Xanthoudides, Khatsidakis 
e N. Platon, este último diretor do Museu de Cândia.
E’ curioso notar que mesmo durante a ocupação alemã, na Se­
gunda Guerra Mundial, o arqueólogo Kirsten escavou em Amari, des­
cobrindo aí vestígios do Minoano Médio.
Uma nova civilização aparece agora aos olhos dos arqueólogos; 
as origens do mundo grego se tornam mais nítidas. As escavações 
apenas atingiram a metade de Creta e já surgem mais de cem lugares 
de valor maior ou menor mas sempre interessantes. «Minos não pode 
mais ser considerado como um simples mito; a ilha de cem cidades 
de que falava Homero não é produto da imaginação de um poeta, tor­
nou-se realidade histórica».35
Ao lado da Arqueologia grega propriamente dita, desenvolveu-se 
um ramo especial: a arqueologia pré-helênica. As ricas coleções de 
antiguidades encontradas especialmente nos museus da Grécia e de 
Creta proporcionam não só aos especialistas mas aos curiosos turis­
tas uma idéia da grandeza de um passado que remonta a vários mi­
lênios a.C.
Em Atenas, o Museu Nacional, além de numerosas coleções, con­
tém o produto das escavações feitas pelo Estado, pela Sociedade Ar­
queológica e pelas Escolas estrangeiras. Anexo ao Museu Nacional 
encontra-se o Museu epigrâfico (que só interessa aos eruditos e pos­
sui sobretudo inscrições áticas) e o Museu numismático.
O Museu de Antiguidades de Iráklion (Càndia) é único no gê­
nero, pois guarda quase a totalidade dos achados feitos em Creta por 
arqueólogos de todas as nacionalidades.
H N Dxa
. .............Oz/T/Q
locai* íí^a/pí /a/Ww **<*<'toc<>G/ca
9
26 História da Grécia
517.
NOTAS
BIBLIOGRÁFICAS
1 Consultar Laurand, Manuel, III, p. 829 
ss e Cohen, Histoire pp. X e ss.
3 Cohen, Histoire p. XXV e Laurand, Ma­
nuel HI, p. 841.
3 Giordani, História da Antiguidade Orien­
tal, p. 119.
4 O leitor encontrará um excelente estudo 
sobre os papiros gregos no Cap. X da 
obra El legado de Egipto, da Universidade 
de Oxford.
c Consultar Laurand, Manuel IV, p. 359 ss 
e Bcssclaar, Introdução, p. 11.
• Cottrell, El Toro..., p. 27.
• Cohen, Histoire, p. XVII XVIJ ss.
8 Daux, Lcs étapes, pp. 43-44.
9 Ludwig. Schliemann, pp. 5-6.
>0 Cottrell, El Toro, p. 49
11 Idem, ibidem, P- 48.
33 Idem, ibidem. P* 55.
23 Idem, ibidem. P- 59.
14 Béquignon, La Grèce, p.
15 Cottrell, El Toro, p. 73.
14 Idem, ibidem, p. 79.
K Idem, ibidem, p. 101.
,s Tulard, Histoire, p. 10.
18 Cottrell, El Toro, p. 122.
20 Idem, ibidem, p. 164.
21 Idem, ibidem, p. 98.
23 Idem, ibidem, p. 268.
23 Tulard. Histoire, p. 12.
24 Idem, ibidem.
28 Idem, ibidem.
Toseu lutando com Amazonan
CAPITULO II
O QUADRO GEOGRÁFICO
Introdução
No presente capítulo vamos apresentar, primeiramente, um estu­
do especial da geografia da Grécia Antiga com seus recursos naturais, 
salientando as influências que o ambiente físico determinou no desen­
rolar-se dos eventos históricos do povo helênico. A seguir daremos uma 
visão geral das diferentes regiões em que, em épocas distintas, os 
gregos se estabeleceram e lançaram as sementes de sua civilização. 
Os detalhes geográficos dessas regiões serão sublinhados quando tra­
tarmos, em outros capítulos, da História Política das mesmas.
1. A Grécia Antiga
a) Descrição — Limitada ao noroeste pela Albânia, ao norte pe­
la Iugoslávia e Bulgária, ao nordeste pela Turquia, a leste pelo Mar 
Egeu, ao sul pelo Mediterrâneo, e a oeste pelo Mar Jônio, a Grécia 
continental moderna, extremidade sul da península balcânica, possui 
uma superfície bem mais extensa que a dos tempos clássicos. Na rea­
lidade nem mesmo os antigos estavam de acordo em estabelecer os li­
mites precisos de sua pátria. Excluíam,1 habitualmente, o Epiro; sem­
pre, a Macedonia e a Trácia. Podemos considerar a Grécia Clássica 
propriamente dita como o conjunto das regiões situadas ao sul de uma 
linha imaginária que se estendería desde o golfo de Ambracia (a 
oeste) até a foz do Peneu (a leste).
Para facilitar uma descrição sumária da Grécia Continental An­
tiga vamos dividi-la3 em três partes:
Grécia Setentrional, Grécia Central e Peloponeso.
Na Grécia Setentrional encontramos a Tessália, vasta e fértil pla­
nície banhada pelo Peneu e seus afluentes. A Tessália era famosa pe­
la criação de cavalos. Situada na fronteira da Grécia Clássica, essa 
região foi, através da História, um contínuo campo de batalha. En­
tre as cidades mais importantes, anotemos Larissa e Farsália.
Na Grécia Central estavam a Acamânia, a Etólia (cuja extensão 
territorial foi aumentada no curso da História), a Dorida, a Fócida 
(com Elatéia e Delfos), a Beócia (com Tebas, Queronéia, Leuctra, 
Platéia) cujos habitantes passavam, na Antiguidade, por pouco inte­
ligentes. A leste da Beócia está a ilha de Eubéia. A Ática termina, 
a sudeste, a Grécia Continental. Na planície de Atenas sobressai a 
Acrópole, elevação cujo cimo situa-se a cerca de 150 m sobre o nível 
do mar, famosa por seus monumentos arquitetônicos. Outras planí­
cies da Ática são Maratona e Elêusis. Em face de Atenas se estende 
o golfo de Elêusis com a ilha de Salamina. O istmo de Corinto liga 
28 História da Grécia
a Grécia Central ao Peloponeso. Entre o território de Corinto (impor­
tante cidadecomercial por sua situação privilegiada entre dois ma­
res) e a Ática, localiza-se Megárida com a cidade de Mégara, rival 
de Atenas.
O Peloponeso (ilha de Pelops) é uma península cuja forma, já 
o notara o geógrafo Estrabão, ’ lembra uma folha de plátano.
Nessa penínula encontra-se a Acaia (ao norte), a Élida (ao no­
roeste) com Élis e Olímpia (sede dos celebrados jogos), a Arcádia 
(no Centro), a Messênia (a sudoeste) com a cidade de Messena, a 
Lacônia (sudeste) banhada pelo Eurotas e com a cidade de Espar- 
ta orgulhosamente desprovida de fortificações, a Argólida (a nordes­
te) com as ruínas de Micenas e Tirinto.
A Grécia insular compreende um grande número de ilhas cujos 
nomes se tornaram conhecidos na História. Assim, por exemplo, no 
Mar Jônio encontramos Corcira (atual Corfu), Leucádia (em face da 
Acarnânia), ítaca (celebrada de modo especial na Odisséia), Cefa- 
lônia e Zacintos (fornecedora de betume já nos tempos de Heródoto).
No mar Egeu encontramos a ilha de Creta e as Cícladas. Estas 
constituem uma verdadeira ponte entre a Grécia Continental e a Ásia 
Menor.
Entre as Cícladas mais famosas figuram Paros (com seu mármo­
re branco), Naxos (a maior e a mais fértil das Cícladas) e Delos 
(com o santuário de Apoio).
b) Paisagens, Clima e Recursos Naturais. — Após a sumária des­
crição (baseada em Laurand) das principais regiões da Grécia Anti­
ga, vamos apresentar, em linhas gerais, alguns dados sobre a paisa­
gem grega, sobre o clima e sobre os recursos naturais da região.
Maciços montanhosos, pequenas planícies cortadas por cursos 
d’água de menor importância, profunda penetração do mar nas reen­
trâncias litorâneas, eis, em poucas palavras, o aspecto que nos ofe­
rece uma carta geográfica da Grécia. Entre as montanhas, muitas das 
quais tornaram-se famosas na Mitologia, avulta o Olimpo, na Tes- 
sália. E’ a mais alta montanha (2.985 m) e foi considerado, outrora, 
como a morada dos deuses. Entre o Olimpo e o maciço do Ossa 
(1.980 m.) corre o rio Peneu (Peneios) através do vale de Tempe. 
O Parnaso (2.459 m) na Fócida, consagrado a Apoio e às Musas, 
o Cíteron, na Beócia, o Pentélico (1.100 m), célebre pelo mármore, 
o Himeto (onde se obtinha abundante mel) e o Laurium (com suas 
minas de prata), na Ática, são outras dentre as muitas montanhas 
que compõem a paisagem característica da península helênica.
Os rios da Grécia são antes torrentes que cursos de água regu­
lares. * Em geral possuem pequena extensão; não são navegáveis mas, 
em compensação, depositam aluvião em suas fozes, aumentando, as­
sim, a área de terras cultiváveis.
O clima5 reinante desde o litoral da Ásia Menor até às costas 
da Sicilia e da Itália, da ilha de Creta ao Helesponto, excetuadas cer­
tas anomalias locais, apresenta uma notável unidade.
Capítulo II: O Quadro Geográfico 29
Um outono de trovoadas e aguaceiros anuncia três meses de in­
verno em que há mais chuva que propriamente frio. A primavera e 
o verão duram seis meses6 «de luz brilhante e pura, de grande calor, 
de turbilhões de poeira...»
Glotz7 resume de maneira admirável o suceder das estações na 
Grécia:
«Contudo a Grécia não goza de uma eterna primavera. As va­
riações do clima são muito acentuadas: de estação a estação muda 
a temperatura, mas, mais ainda, o regime de ventos e de chuvas. 
A umidade e a secura determinam para as plantas e para os homens 
períodos desiguais de trabalho e de repouso. O fim de setembro as­
sinala tanto para o camponês como para o marinheiro o declínio 
do ano: o outono chega, as nuvens se acumulam sobre as montanhas 
e, em breve, se abrem em fortes aguaceiros.
Em janeiro tem início um aborrecido inverno. Os aguaceiros se 
transformam em rajadas torrenciais. Noto acorre impetuosamente do 
sul e traz sombrios furacões; o claro bóreas, vindo do norte por ci­
ma dos cumes nevados, varre as planícies com um sopro glacial. So­
bre o litoral o frio é moderado; mas acontece que mesmo na Ática 
a neve tomba em tão grande abundância a ponto de obstruir os pas­
sos e tornar as comunicações impossíveis. Nesta «estação morta», é 
preciso renunciar à vida em pleno ar, à guerra e à navegação; a 
praça pública é deserta e o desocupado não tem outro recurso que 
a conversa familiar na oficina vizinha. Após as últimas chuvas, abril 
traz a primavera precoce, breve, encantadora. A atividade renasce; 
a erva e as flores se apressam; o céu torna-se sempre mais azul 
e a atmosfera mais límpida.
Por meados de junho, o tempo se firma, o calor aumenta, o 
verão se instala soberano. Uma luz brilhante banha todas as coisas. 
O ar se toma transparente. Nenhuma névoa, nenhum vapor flutua 
no horizonte.
Durante meses, o azul é sem nuvens. Atenas conhece em julho 
médias de 279 com extremos de 399 à sombra e observa-se aí um pe­
ríodo de dois meses e meio sem uma nuvem no céu. Na atmosfera 
abafadiça, o solo desseca-se, a vegetação cresta-se e estiola-se, as 
águas esgotam-se, a poeira turbilhona e tudo cobre.
Entretanto, graças aos ventos etésios, os habitantes do país su­
portam facilmente esses dias tórridos.
Os Antigos exaltaram apaixonadamente este éter leve, esta cla­
ridade diáfana, esta luz de uma pureza divina (cpáoç àyvóv) e não viam 
nada de pior na morte que a privação do sol».
— Após esse trecho magistral, passemos aos recursos naturais.
A Grécia Antiga, como de resto a atual, era uma região pobre em 
recursos naturais. As montanhas ocupam oitenta por cento da superfície. 
A área cultivável é constituída principalmente pelas planícies de alu- 
vião formadas às margens dos rios. Mas a superfície de terras impro­
dutivas é bem maior que a da zona cultivável. Predomina o calcário 
duro. Muita rocha, pouca água. A umidade trazida pelas chuvas é 
30 História da Grccia
levada pelos ventos ou absorvida avidamente pelo subsolo. A leve ca­
mada de húmus é, não raro, carregada pela impetuosidade das torrentes. 
De meados de maio a meados de setembro, os ventos do Norte 
absorvem progressivamente a umidade: as fontes secam, regatos se 
reduzem a leitos pedregosos, as plantas tornam-se mirradas e sucum­
bem, muitos animais morrem e o próprio homem se vê ameaçado por 
epidemias. Poucos rios, entre os quais o Peneios, conservam um nível 
baixo porém constante. Só as chuvas de inverno vão revitalizar a na­
tureza. «O inverno é a estação em que a natureza inteira faz provi­
são de seiva e de vitalidade».8
Por tudo isso, compreende-se a pouca produtividade da agricultu­
ra grega: poucos cereais, legumes, oliveiras, figueiras e parreiras, eis 
alguns dos principais produtos da terra.
Quando os gregos chegaram à península, encontraram-na recoberta 
de verdejante e espessa vegetação, ainda existente nos tempos homéricos.
No século V, entretanto, a madeira já era rara em Atenas. «No 
século IV é somente no Pindo, sobre o Eta, sobre o Parnaso, sobre 
o Taígeto que subsistem as florestas sombrias e misteriosas, últimos 
covis de ursos e de outros animais selvagens».9
Além de ursos, podemos enumerar entre as feras, existentes na 
Grécia Antiga, a pantera (citada na Ilíada) e os lobos (numerosos 
ainda na época de Sólon).
As matas foram recuando para o alto das montanhas onde a 
devastação sistemática prosseguia provocada pelos lenhadores, pelos pas­
tores que incendiavam os arbustos para prepararem novas pastagens 
e pelas cabras que destruíam impiedosamente os novos rebentos.
Os recursos minerais eram diminutos. Entre as minas de metais 
preciosos citemos o Laurium que durante muito tempo supriu Atenas 
com prata. O material de construção, sobretudo o mármore, era abun­
dante de Paros ao Pentélico. Ainda hoje, a Grécia é rica em már­
more de toda a espécie: mármore azul do Himeto, multicor de Ésqui- 
ros, verde da Tessália, branco do Pentélico e de Paros.
c) Influência do meio geográfico. — Estudemos, agora, resumi­
damente, as influências que o meio geográfico determinou na elabora­
ção e evolução da Civilização Helênica. Essas influências se fizeram 
sentir principalmente na vida particular, social, política, econômica,

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