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História geral e do Brasil - Vol 2 Claudio Vicentino-77

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Manual do Professor 95
e) identificar o tema de um texto expositivo ou informati-
vo: essa competência envolve também perceber as mar-
cas que o autor e seus editores vão deixando nos títulos e 
subtítulos e na repetição de palavras, a fim de indicar que 
uma informação é mais importante do que outras, que 
é o tema ao qual as demais estão relacionadas. Chamar 
a atenção para o título e pedir hipóteses sobre o tema 
com base nele ou em uma ilustração são estratégias que 
podem ajudar o aluno nessa percepção. Por exemplo: há 
na primeira página do jornal uma chamada para o texto 
de opinião já mencionado, que se intitula “Autêntico, funk 
expõe vitória do capitalismo”. Logo em seguida, repete-se 
a frase sobre a vitória do capitalismo, citando – e portan-
to destacando – um trecho do texto de opinião: “Mas Ž 
mister observar que o endeusamento de r—tulos representa 
extraordinária vit—ria ideol—gica do capitalismo”. Quando 
finalmente se lê o trecho no texto original, escondido no 
penúltimo parágrafo, parte do tema já foi repetida três 
vezes. 
Munidos desses conhecimentos, os alunos podem, de 
fato, ser orientados para a leitura de textos mais complexos 
das Ciências Humanas. Entretanto, para além desse saber, é 
importante destacar três princípios de caráter metodológico 
e didático, que devem ser levados em conta em relação à 
leitura:
 f 1. Facilitação do texto
Todos nós evitamos fazer aquilo que é desagradável e 
procuramos fazer aquilo que nos dá prazer. Isso não é dife-
rente quando se trata da leitura. Quando o aluno tem dificul-
dade para compreender a língua escrita, a atividade de leitu-
ra se torna desagradável. Dessa forma, se não existe alguém 
para orientá-lo, são poucos os que insistem nessa atividade, 
principalmente se não conhecem as vantagens e satisfações 
que a aprendizagem trará no futuro. 
Acontece que, como em toda prática, quanto mais se lê, 
mas fácil vai ficando a atividade. O aluno que lê muito pouco 
desiste assim que encontra as primeiras dificuldades. Ou seja, 
quem mais precisa praticar é quem menos o faz; no entanto, 
o único meio de melhorar é pela prática. Mas, se os alunos 
não leem bem aquilo de que não gostam, leem bem o que 
gostam. A chave consiste, portanto, em fazer com que a leitu-
ra exigida pela escola se torne uma atividade menos penosa 
e mais prazerosa. 
Tornar o contato com a leitura prazeroso exige a convi-
vência contínua com professores que contagiem com seu 
entusiasmo por ela e com bibliotecários prestativos e gene-
rosos trabalhando em bibliotecas bem aparelhadas. Requer 
também acesso a um grande acervo: livros, revistas, jornais, 
hipertextos, inclusive os gêneros menos valorizados, como 
resumos ou versões condensadas, divulgações em revistas 
para adolescentes, histórias em quadrinhos, revistas noticio-
sas; enfim, textos mais acessíveis, que despertem uma curio-
sidade inicial e o desejo de ler. 
Embora os conteúdos a serem ensinados sejam impor-
tantes, o professor pode levar para a aula textos literários 
ou jornalísticos que têm ou tiveram papel importante no 
seu letramento e na sua formação. Pode levar textos dos 
quais ele mesmo gosta, para mostrar aos alunos seu gosto 
pela leitura, e deve demonstrar suas próprias estratégias de 
leitor, fazendo perguntas que requeiram pensar, modelan-
do aquelas que ele próprio se faz antes de começar a ler e 
explicando para seus alunos o que foi que lhe agradou ou 
chamou a atenção. 
 f 2. Flexibilização do currículo
Em áreas que se caracterizam pela presença forte de con-
teúdos estruturadores e pelo objetivo de engajamento social 
e atuante no mundo globalizado atual, a flexibilização do cur-
rículo é viável. 
Numa disciplina como a Geografia, por exemplo, se um 
determinado conceito, como o aprofundamento da noção 
de território brasileiro, esteja previsto para o terceiro bimes-
tre da 2ª série do Ensino Médio3, um acontecimento ampla-
mente noticiado no primeiro bimestre que tem a ver com 
o território nacional deveria ser motivo para a alteração da 
ordem dos conteúdos ou para a substituição de um contex-
to de exemplificação por outro. Fatos que já são conhecidos 
dos alunos – seja qual for a mídia – tornam a aprendizagem 
dos conceitos abstratos mais fácil, porque o conhecimento 
prévio permite ancorar e estruturar o novo. Isso sem contar 
com as possibilidades de leituras interdisciplinares desses 
assuntos, o que também se constitui num elemento faci-
litador. 
Quase diariamente há acontecimentos notáveis que re-
querem simplesmente que o professor passe a acreditar que 
os conceitos de sua matéria (densidade demográfica, por 
exemplo) e as práticas relevantes (como a leitura de mapas) 
possam ser ensinados – e, portanto, atingidos os objetivos do 
currículo – mesmo quando o foco no conteúdo determinado 
para esse período é momentaneamente mudado. 
No início de 2013, por exemplo, a presença francesa no 
Mali e a queda de um meteoro na Rússia foram eventos que 
ocuparam as manchetes dos jornais: os textos jornalísticos 
poderiam servir tanto para a introdução de conceitos abs-
tratos quanto para o exercício de habilidades consideradas 
importantes na disciplina, como desenvolver “a capacidade 
de associar padrões de desenvolvimento econ™mico e social ˆs 
maneiras de realizar o controle preventivo de situações de risco 
naturais” ou “identificar elementos hist—rico-geográficos que 
expliquem o desencadeamento de conflitos Žtnico-culturais no 
mundo contempor‰neo; ou a expans‹o do islamismo na çfrica”.4 
Isso tudo é possível desde que a flexibilização do currículo 
passe a se constituir em um princípio didático valorizado. 
3 SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Currículo do Estado 
de S‹o Paulo: Ciências Humanas e suas tecnologias. Secretaria da Educação; 
coordenação geral: Maria Inês Fini; coordenação de área: Paulo Miceli. São 
Paulo: SEE, 2010. p. 102. (3º bimestre, 1ª série do Ensino Médio).
4 Op. cit., p. 110 ( 2º bimestre, 3ª série do Ensino Médio).
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96 Manual do Professor
Quando um acontecimento noticiado na m’dia passa a 
ter um lugar central na aula, o aluno entra em contato, via 
leitura, com outras hist—rias que provavelmente ter‹o muito 
mais chance de mudar sua forma de pensar sobre o pr—prio 
mundo e que ilustram muito melhor do que qualquer texto 
cient’fico os conceitos de globaliza•‹o e de transforma•‹o 
do espa•o geogr‡fico decorrentes das novas tecnologias de 
comunica•‹o. Isso porque na grande maioria das vezes, os 
alunos s— t•m contato com esses textos cient’ficos na escola, 
enquanto que um acontecimento noticiado mundialmente 
est‡ mais pr—ximo de sua realidade. Caberia portanto ao pro-
fessor, nesse caso, mostrar aos alunos a rela•‹o entre o con-
ceito abstrato encontrado no texto do livro e os fatos vividos 
pela sociedade, estejam eles apresentados em jornais, mœsi-
cas, novelas, filmes. Trata-se simplesmente de n‹o descartar 
aquilo que o aluno j‡ conhece e que pertence a uma cultura 
de massa n‹o valorizada pela escola. 
 f 3. (Re)contextualização situada
Esse princ’pio est‡ ligado ao de flexibilidade, uma vez que 
somente um curr’culo mais flex’vel permite a (re)contextua-
liza•‹o situada de conceitos e princ’pios b‡sicos de uma 
determinada disciplina. O princ’pio envolve a abordagem 
de conceitos que s‹o diretamente relevantes para a situa•‹o 
social do aluno, o que envolve, necessariamente, uma recon-
textualiza•‹o de conceitos abstratos para a vida social.
Em rela•‹o a uma disciplina como a Sociologia, por 
exemplo, cujo princ’pio estruturador Ž uma atitude metodo-
l—gica Ð de estranhamento e desnaturaliza•‹o do fato social 
Ð mais do que um conjunto de conteœdos5, o car‡ter especial 
do olhar sociol—gico, seletivo, distante, que refrata a realidade 
observada6, pode ser desenvolvido se o aluno, mesmo aquele 
com dificuldades de leitura, puder construirum olhar compa-
rativo tomando como um dos pontos de compara•‹o fatos 
vivenciados, relevantes para seu pr—prio contexto e situa•‹o. 
Tais fatos, novamente, s‹o recorrentemente encontrados em 
matŽrias jornal’sticas sobre fen™menos sociais conhecidos 
dos alunos, mas que ele ainda n‹o observou pelo prisma do 
olhar sociol—gico. 
5 Op. cit., p. 135.
6 Caracteriza•‹o do antrop—logo Roberto Cardoso de Oliveira, segundo SA-
RANDY, Fl‡vio M, Silva. Reflex›es acerca do sentido da sociologia no Ensino 
MŽdio. Revista Espa•o Acad•mico, ano I, n. 5, out. 2001. Dispon’vel em: 
<www.espacoacademico.com.br/005/05sofia.htm>. Acesso em: 24 fev. 
2013.
Um exemplo disso Ž o texto de opini‹o j‡ citado, sobre 
o funk ÒOstenta•‹oÓ, um canto falado que, em lugar de fa-
zer denœncia social (como o rap), Òexalta o poder de consumo 
que chegou ˆs camadas de menor renda nos œltimos anosÓ7. 
Conteœdos como Òcultura, consumo, consumismo e comuni-
ca•‹o de massaÓ ou Òconstru•‹o da identidade pelos jovensÓ8, 
que t•m por finalidade levar o adolescente a compreender 
as formas em que Òos jovens se relacionam com a sociedade 
de consumo e a produ•‹o de culturaÓ9, podem partir do pro-
cesso de desnaturaliza•‹o da pr‡tica de consumo que o re-
ferido texto de opini‹o (ou qualquer outro sobre a cultura 
juvenil local) promove, e a rela•‹o cr’tica do jovem pode ser 
desenvolvida tanto em rela•‹o a esse fen™meno cultural da 
periferia quanto ˆ atitude da elite brasileira ao lamentar a 
perda de valores que outros grupos sociais jamais demons-
traram. O estranhamento advindo da reflex‹o cr’tica ser‡ o 
prisma usado na leitura, qualquer que seja a opini‹o do alu-
no, e o instrumento pelo qual ser‡ atingido ser‡ um texto 
jornal’stico, atual, contextualizado e que permite o reposi-
cionamento do pr—prio aluno. 
Com base nos tr•s princ’pios discutidos Ð facilita•‹o do 
texto, flexibiliza•‹o do curr’culo e (re)contextualiza•‹o situada 
Ð o professor das disciplinas de Ci•ncias Humanas pode fazer 
uso dos enormes acervos ˆ nossa disposi•‹o, gra•as ˆs novas 
m’dias e tecnologias, atŽ encontrar o texto e o tema que te-
r‹o grande apelo com o aluno e o motivar‡ a fazer mais leitu-
ras, aumentando suas chances de se tornar mais um leitor ˆ 
vontade com as mœltiplas pr‡ticas letradas. 
Pelo fato de ser leitor proficiente, muitas habilidades leito-
ras parecem —bvias para o professor, como se fossem naturais 
a qualquer ser humano. Entender o sum‡rio, o ’ndice remissi-
vo e o funcionamento do livro did‡tico, por exemplo, ou falar 
sobre a import‰ncia da leitura das imagens para a constru•‹o 
do sentido do texto n‹o s‹o estratŽgias —bvias para o aluno 
que ainda tem dificuldades para compreender o que l•, mas 
podem, mesmo que tardiamente, ser aprendidas e exercita-
das, especialmente com textos relevantes para a ‡rea e para 
a vida social do aluno.
7 SINGER, AndrŽ. Ostenta•‹o. Folha de S.Paulo, 16 fev. 2013. p. 2.
8 SECRETARIA DA EDUCA‚ÌO DO ESTADO DE SÌO PAULO. Curr’culo do Esta-
do de S‹o Paulo: Ci•ncias Humanas e suas tecnologias. Secretaria da Educa-
•‹o; coordena•‹o geral: Maria In•s Fini; coordena•‹o de ‡rea: Paulo Miceli. 
S‹o Paulo: SEE, 2010. p. 144. (2¼ bimestre, 2» sŽrie do Ensino MŽdio).
9 Op. cit., p. 144 (2¼ bimestre, 2» sŽrie do Ensino MŽdio).
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HINO NACIONAL
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
 Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
 Em teu seio, ó liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!
 Ó Pátria amada,
 Idolatrada,
 Salve! Salve!
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.
Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.
 Terra adorada,
 Entre outras mil,
 És tu, Brasil,
 Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
 Pátria amada, 
 Brasil!
Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!
 Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
 “Nossos bosques têm mais vida”,
“Nossa vida” no teu seio “mais amores”.
 Ó Pátria amada,
 Idolatrada,
 Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro desta flâmula
– Paz no futuro e glória no passado.
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
 Terra adorada,
 Entre outras mil,
 És tu, Brasil,
 Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
 Pátria amada, 
 Brasil!
Letra: Joaquim Osório Duque Estrada
Música: Francisco Manuel da Silva

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