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Literatura I -37

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula) 
 
 
 
 
 
179 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
 
 
morais e política para as despesas da conversação. Tratei-os como 
tratei a história e a jurisprudência. Colhi de todas as coisas a 
fraseologia, a casca, a ornamentação (...)" - Memórias Póstumas 
de Brás Cubas 
 
- Análise psicológica profunda das contradições humanas, 
revelando dramas e conflitos internos. 
 
“Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. 
Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à 
janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava 
aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que 
pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que 
era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, 
para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente 
amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a 
enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas 
até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade. 
— Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, 
pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, 
apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos 
morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia 
uma desgraça...” – 
Quincas Borba 
 
“Só me falara na doença, como negócio simples; mas o 
chamado, o silêncio, os suspiros podiam dizer alguma coisa mais. 
O coração batia-me com força, as pernas bambeavam-me, mais de 
uma vez cuidei cair... 
O anseio de escutar a verdade complicava-se em mim 
com o temor de a saber. Era a primeira vez que a morte me 
aparecia assim perto, me envolvia, me encarava com os olhos 
furados e escuros. Quanto mais andava aquela Rua dos Barbonos, 
mais me aterrava a ideia de chegar a casa, de entrar, de ouvir os 
prantos, de ver um corpo defunto... Oh! eu não poderia nunca 
expor aqui tudo o que senti naqueles terríveis minutos. A rua, por 
mais que José Dias andasse superlativamente devagar, parecia 
fugir-me debaixo dos pés, as casas voavam de um e outro lado, e 
uma corneta que nessa ocasião tocava no quartel dos Municipais 
Permanentes ressoava aos meus ouvidos como a trombeta do 
juízo final. 
Fui, cheguei aos Arcos, entrei na Rua de Mata-cavalos. A 
casa não era logo ali, mas muito além da dos Inválidos, perto da do 
Senado. Três ou quatro vezes, quisera interrogar o meu 
companheiro, sem ousar abrir a boca; mas agora, já nem tinha tal 
desejo. Ia só andando, aceitando o pior, como um gesto do 
destino, como uma necessidade da obra humana, e foi então que a 
Esperança, para combater o Terror, me segredou ao coração, não 
estas palavras, pois nada articulou parecido com palavras, mas 
uma ideia que poderia ser traduzida por elas: "Mamãe defunta, 
acaba o seminário". 
Leitor, foi um relâmpago. Tão depressa alumiou a noite, como se 
esvaiu, e a escuridão fez-se mais cerrada, pelo efeito do remorso 
que me ficou. Foi uma sugestão da luxúria e do egoísmo. A 
piedade filial desmaiou um instante, com a perspectiva da 
liberdade certa, pelo desaparecimento da dívida e do devedor; foi 
um instante, menos que um instante, o centésimo de um instante, 
ainda assim o suficiente para complicar a minha aflição com um 
remorso.” – Dom Casmurro 
 
- Na obra de Machado, as mulheres são dissimuladas, 
ambíguas, sensuais e, principalmente, astuciosas. 
“Em vez de ir ao espelho, que pensais que fez Capitu? 
Não vos esqueçais que estava sentada, de costas para mim. 
Capitu derreou a cabeça, a tal ponto que me foi preciso acudir com 
as mãos e ampará-la; o espaldar da cadeira era baixo. 
Inclinei-me depois sobre ela, rosto a rosto, mas trocados, 
os olhos de uma na linha da boca do outro. Pedi-lhe que 
levantasse a cabeça, podia ficar tonta, machucar o pescoço. 
Cheguei a dizer-lhe que estava feia; mas nem esta razão a moveu. 
— Levanta, Capitu! 
Não quis, não levantou a cabeça, e ficamos assim a olhar 
um para o outro, até que ela abrochou os lábios, eu desci os meus, 
e... 
Grande foi a sensação do beijo; Capitu ergueu-se, rápida, 
eu recuei até à parede com uma espécie de vertigem, sem fala, os 
olhos escuros. Quando eles me clarearam, vi que Capitu tinha os 
seus no chão. Não me atrevi a dizer nada; ainda que quisesse, 
faltava-me língua. Preso, atordoado, não achava gesto nem ímpeto 
que me descolasse da parede e me atirasse a ela com mil palavras 
cálidas e mimosas... Não mofes dos meus quinze anos, leitor 
precoce. Com dezessete, Des Grieux (e mais era Des Grieux) não 
pensava ainda na diferença dos sexos. 
Ouvimos passos no corredor; era D. Fortunata. Capitu 
compôs-se depressa, tão depressa que, quando a mãe apontou à 
porta, ela abanava a cabeça e ria. Nenhum laivo amarelo, 
nenhuma contração de acanhamento, um riso espontâneo e claro, 
que ela explicou por estas palavras alegres: 
— Mamãe, olhe como este senhor cabeleireiro me 
penteou; pediu-me para acabar o penteado, e fez isto. Veja que 
tranças! 
— Que tem? acudiu a mãe, transbordando de 
benevolência. Está muito bem, ninguém dirá que é de pessoa que 
não sabe pentear. 
— O que, mamãe? Isto? redarguiu Capitu, desfazendo as 
tranças. Ora, mamãe! 
E com um enfadamento gracioso e voluntário que às 
vezes tinha, pegou do pente e alisou os cabelos para renovar o 
penteado. D. Fortunata chamou-lhe tonta, e disse-me que não 
fizesse caso, não era nada, maluquices da filha. Olhava com 
ternura para mim e para ela. Depois, parece-me que desconfiou. 
Vendo-me calado, enfiado, cosido à parede, achou talvez que 
houvera entre nós algo mais que penteado, e sorriu por 
dissimulação... 
Como eu quisesse falar também para disfarçar o meu 
estado, chamei algumas palavras cá de dentro, e elas acudiram de 
pronto, mas de atropelo, e encheram-me a boca sem poder sair 
nenhuma. O beijo de Capitu fechava-me os lábios. Uma 
exclamação, um simples artigo, por mais que investissem com 
força, não logravam romper de dentro. E todas as palavras 
recolheram-se ao coração, murmurando: "Eis aqui um que não fará 
grande carreira no mundo, por menos que as emoções o 
dominem..." 
Assim, apanhados pela mãe, éramos dois e contrários, 
ela encobrindo com a palavra o que eu publicava pelo silêncio. D. 
Fortunata tirou-me daquela hesitação, dizendo que minha mãe me 
mandara chamar para a lição de latim; o Padre Cabral estava à 
minha espera. Era uma saída; despedi-me e enfiei pelo corredor. 
Andando, ouvi que a mãe censurava as maneira da filha, mas a 
filha não dizia nada.” – Dom Casmurro 
 
 
 
 
 
 180 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
Aula 18 – Realismo – Machado De Assis 
 
- Ceticismo, questiona todos os dogmas: religiosos, 
científicos, morais... 
“— Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a 
expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma 
delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a 
supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a 
destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter 
conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas 
e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar 
uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a 
montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; 
mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não 
chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz 
nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das 
tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da 
vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os 
demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais 
demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o 
homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e 
pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação 
que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao 
vencedor, as batatas.”- Quincas Borba 
 
“Taiseram as reflexões que eu vinha fazendo, por aquele Valongo 
fora, logo depois de ver e ajustar a casa. Interrompeu-mas um 
ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça. O outro 
não se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras: — 
“Não, perdão, meu senhor; meu senhor, perdão!” Mas o primeiro 
não fazia caso, e, a cada súplica, respondia com uma vergalhada 
nova. 
— Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, bêbado! 
— Meu senhor! gemia o outro. 
— Cala a boca, besta! replicava o vergalho. 
Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do vergalho? Nada 
menos que o meu moleque Prudêncio, — o que meu pai libertara 
alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediu-me a 
bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele. 
— É, sim, nhonhô. 
— Fez-te alguma coisa? 
— É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na 
quitanda, enquanto eu ia lá embaixo na cidade, e ele deixou a 
quitanda para ir na venda beber. 
— Está bom, perdoa-lhe, disse eu. 
— Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para casa, 
bêbado!” - Memórias Póstumas de Brás Cubas 
 
- Enredo não segue uma ordem cronológica: o narrador dá 
saltos temporais e interrompe várias vezes a narrativa para 
refletir e comentar sobre assuntos diversos (digressão). 
 
“Antes de concluir este capítulo, fui à janela indagar da 
noite por que razão os sonhos hão de ser assim tão tênues que se 
esgarçam ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo, e não 
continuam mais. A noite não me respondeu logo. Estava 
deliciosamente bela, os morros palejavam de luar e o espaço 
morria de silêncio. Como eu insistisse, declarou-me que os sonhos 
já não pertencem à sua jurisdição. Quando eles moravam na ilha 
que Luciano lhes deu, onde ela tinha o seu palácio, e donde os 
fazia sair com as suas caras de vária feição, dar-me-ia explicações 
possíveis. Mas os tempos mudaram tudo. Os sonhos antigos foram 
aposentados, e os modernos moram no cérebro da pessoa. Estes, 
ainda que quisessem imitar os outros, não poderiam fazê-lo; a ilha 
dos sonhos, como a dos amores, como todas as ilhas de todos os 
mares, são agora objeto da ambição e da rivalidade da Europa e 
dos Estados Unidos.” – Dom Casmurro 
 
- Metalinguagem, conversa com o leitor. 
“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu 
não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos 
para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da 
eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa 
contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior 
defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o 
livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo 
regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, 
guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, 
urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...” – 
Memórias Póstumas de Brás Cubas 
 
- Citação de autores clássicos e da bíblia (cultura e 
intertextualidade). 
 
- Machado de Assis inova na temática, na estrutura e na 
linguagem. 
 
Capítulo CXXXIX / De como não Fui Ministro D’estado 
............................................................................................................
............................................................................................................
............................................................................................................
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Capítulo CXL / Que Explica Anterior 
Há coisas que melhor se dizem calando; tal é a matéria do capítulo 
anterior. Podem entendê-lo os ambiciosos malogrados. Se a 
paixão do poder é a mais forte de todas, como alguns inculcam, 
imaginem o desespero, a dor, o abatimento do dia em que perdi a 
cadeira da Câmara dos Deputados. Iam-se-me as esperanças 
todas; terminava a carreira política.” 
 
Capítulo LV - O Velho Diálogo de Adão e Eva 
Brás Cubas 
. . . . . ? 
Virgília 
. . . . . . 
Brás Cubas 
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
. 
Virgília 
. . . . . . ! 
Brás Cubas 
. . . . . . . 
Virgília 
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
. . . . . . . . . . . ? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
Brás Cubas . . . . . . . . . . . . . 
Virgília . . . . . . . 
Brás Cubas 
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula) 
 
 
 
 
 
181 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
 
 
. . . . . . . . . . ! . . . . . . . . ! . . . . . . . . . . . . . . . . 
. . . . . . . . . . . . . . . . ! 
Virgília 
. . . . . . . . . . . . . . . . . ? 
Brás Cubas 
. . . . . . . ! 
Virgília 
. . . . . . . ! 
 
Raul Pompéia 
Raul Pompéia, com O Ateneu, produziu um romance híbrido, 
incapaz de ser classificado em uma determinada escola, mas que 
o colocou como um nome de destaque em nossas Letras. 
O livro é narrado em primeira pessoa por Sérgio, que, por meio da 
narrativa, vai recompor sua vida de estudante de colégio interno. 
Sérgio chama a sua narrativa de “crônica de saudades”, mas o 
passado resgatado pela memória, apesar trazer alguns momentos 
alegres, é marcado por tristezas, decepções e indignação contra a 
rotina escolar, tediosa e burocrática, e contra as experiências de 
brigas e discórdias entre os alunos. 
Em O Ateneu, Raul Pompeia, apresenta características que o 
aproximam do Realismo, como a análise psicológica; que o 
aproximam no Naturalismo, como a presença do cientificismo; que 
o aproximam do Expressionismo, pelas descrições extremamente 
plásticas e caricaturais; e até do Impressionismo, pelo registro da 
subjetividade, pela realidade pintada a partir das impressões do 
narrador-personagem. No entanto, não há um consenso quanto a 
predominância de uma dessas correntes em sua obra. 
 
Trecho 
"Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. 
Coragem para a luta." Bastante experimentei depois a verdade 
deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança 
educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do 
amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, 
que parece o poema dos cuidados maternos um artifício 
sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a 
criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera 
brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. 
Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes 
tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, 
não nos houvesse perseguido outrora e não viesse de longe a 
enfiada das decepções que nos ultrajam. 
Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual aos outros 
que nos alimentam, a saudade dos dias que correram como 
melhores. Bem considerando, a atualidade é a mesma em todas as 
datas. Feita a compensação dos desejos que variam, das 
aspirações que se transformam, alentadas perpetuamente do 
mesmo ardor, sobre a mesma base fantástica de esperanças, a 
atualidade é uma. Sob a coloração cambiante das horas, um pouco 
de ouro mais pela manhã,um pouco mais de púrpura ao 
crepúsculo -- a paisagem é a mesma de cada lado beirando a 
estrada da vida. 
Eu tinha onze anos. 
Frequentara como externo, durante alguns meses, uma escola 
familiar do Caminho Novo, onde algumas senhoras inglesas, sob a 
direção do pai, distribuíam educação à infância como melhor lhes 
parecia. Entrava às nove horas, timidamente, ignorando as lições 
com a maior regularidade, e bocejava até às duas, torcendo-me de 
insipidez sobre os carcomidos bancos que o colégio comprara, de 
pinho e usados, lustrosos do contato da malandragem de não sei 
quantas gerações de pequenos. Ao meio-dia, davam-nos pão com 
manteiga. Esta recordação gulosa é o que mais pronunciadamente 
me ficou dos meses de externato; com a lembrança de alguns 
companheiros -- um que gostava de fazer rir à aula, espécie 
interessante de mono louro, arrepiado, vivendo a morder, nas 
costas da mão esquerda, uma protuberância calosa que tinha; 
outro adamado, elegante, sempre retirado, que vinha à escola de 
branco, engomadinho e radioso, fechada a blusa em diagonal do 
ombro à cinta por botões de madrepérola. Mais ainda: a primeira 
vez que ouvi certa injúria crespa, um palavrão cercado de terror no 
estabelecimento, que os partistas denunciavam às mestras por 
duas iniciais como em monograma. 
Lecionou-me depois um professor em domicílio. 
Apesar deste ensaio da vida escolar a que me sujeitou a família, 
antes da verdadeira provação, eu estava perfeitamente virgem 
para as sensações novas da nova fase. O internato! Destacada do 
conchego placentário da dieta caseira, vinha próximo o momento 
de se definir a minha individualidade. Amarguei por antecipação o 
adeus às primeiras alegrias; olhei triste os meus brinquedos, 
antigos já! os meus queridos pelotões de chumbo! espécie de 
museu militar de todas as fardas, de todas as bandeiras, escolhida 
amostra da força dos estados, em proporções de microscópio, que 
eu fazia formar a combate como uma ameaça tenebrosa ao 
equilíbrio do mundo; que eu fazia guerrear em desordenado aperto, 
-- massa tempestuosa das antipatias geográficas, encontro 
definitivo e ebulição dos seculares ódios de fronteira e de raça, que 
eu pacificava por fim, com uma facilidade de Providência Divina, 
intervindo sabiamente, resolvendo as pendências pela concórdia 
promíscua das caixas de pau. Força era deixar à ferrugem do 
abandono o elegante vapor da linha circular do lago, no jardim, 
onde talvez não mais tornasse a perturbar com a palpitação das 
rodas a sonolência morosa dos peixinhos rubros, dourados, 
argentados, pensativos à sombra dos tinhorões, na transparência 
adamantina da água... 
(Raul Pompéia. O Ateneu, cap I.) 
 
 
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM 
 
Questão 01 (UFRGS 2015) 
Assinale a alternativa correta sobre a obra de Machado de Assis. 
a) O primeiro romance publicado por Machado de Assis foi Dom 
Casmurro (1899), totalmente integrado à estética romântica, ao pôr 
em evidência a história de amor entre Bentinho e Capitu. 
b) Brás Cubas, o protagonista do romance Memórias Póstumas de 
Brás Cubas, é um humanista oriundo da classe trabalhadora, 
defensor dos direitos dos escravos. 
c) Quincas Borba, único romance de Machado de Assis que 
apresenta narrador em primeira pessoa, é narrado pelo próprio 
Quincas. 
d) Várias histórias reúne alguns dos principais contos de Machado 
de Assis, entre eles A causa secreta, que narra o prazer mórbido 
que sente Fotunato ao presenciar o sofrimento alheio. 
e) Helena é um romance da última fase de Machado de Assis, já 
integrado ao realismo, na qual se destaca a ironia que consagrou o 
autor. 
 
 
 
 
 
 182 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
Aula 18 – Realismo – Machado De Assis 
 
Questão 02 (Fac. Albert Einstein - Medicina 2017) 
Uma Reflexão imoral 
Ocorre-me uma reflexão imoral, que é ao mesmo tempo uma 
correção de estilo. Cuido haver dito, no capítulo XIV, que Marcela 
morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia. Viver não é a 
mesma coisa que morrer; assim o afirmam todos os joalheiros 
desse mundo, gente muito vista na gramática. Bons joalheiros, que 
seria do amor se não fossem os vossos dixes e fiados? Um terço 
ou um quinto do universal comércio dos corações. Esta é a 
reflexão imoral que eu pretendia fazer, a qual é ainda mais obscura 
do que imoral, porque não se entende bem o que eu quero dizer. O 
que eu quero dizer й que a mais bela testa do mundo não fica 
menos bela, se a cingir um diadema de pedras finas; nem menos 
bela, nem menos amada. Marcela, por exemplo, que era bem 
bonita, Marcela amou-me... (...) Marcela amou-me durante quinze 
meses e onze contos de réis; nada menos. 
Do texto em pauta, integrante do romance Memórias Póstumas de 
Brás Cubas, de Machado de Assis, é ERRADO entender que 
a) há nele um segundo sentido em relação ao que parece ser que 
se esconde atrás da linguagem e das atitudes. 
b) há uma ironia que perpassa o texto, e que faz dos joalheiros os 
garantidores do universal comércio dos corações. 
c) exemplifica, no amor de Marcela pelo narrador, a veracidade da 
reflexão imoral apresentada. 
d) chama de reflexão imoral e obscura porque não se faz entender 
nem no âmbito da linguagem nem no da interpretação dos 
sentimentos de Marcela. 
 
Questão 03 (Unicamp 2017) 
O romance Memórias póstumas de Brás Cubas é considerado um 
divisor de águas tanto na obra de Machado de Assis quanto na 
literatura brasileira do século XIX. Indique a alternativa em que 
todas as características mencionadas podem ser adequadamente 
atribuídas ao romance em questão. 
a) Rejeição dos valores românticos, narrativa linear e fluente de um 
defunto autor, visão pessimista em relação aos problemas sociais. 
b) Distanciamento do determinismo científico, cultivo do humor e 
digressões sobre banalidades, visão reformadora das mazelas 
sociais. 
c) Abandono das idealizações românticas, uso de técnicas pouco 
usuais de narrativa, sugestão implícita de contradições sociais. 
d) Crítica do realismo literário, narração iniciada com a morte do 
narrador-personagem, tematização de conflitos sociais. 
 
Questão 04 (Udesc 2015) 
Machado de Assis é autor de mais de uma centena de contos, o 
que o situa – pela qualidade do que escreveu – entre os melhores 
contistas. Foi sem dúvida um contista extraordinário porque 
trabalhou as regras do conto com excepcionalidade. Em relação ao 
gênero conto e a Machado de Assis, analise as proposições, e 
assinale (V) para verdadeira e (F) para falsa. 
( ) O conto é uma narrativa curta, deve prender a atenção do 
leitor e manter um perfeito equilíbrio narrativo, apresenta poucas 
personagens, tempo exíguo e pequenos ou poucos ambientes. 
( ) As personagens femininas também asseguram lugar de 
destaque nos contos machadianos. Preservam – como nos 
romances – as ambiguidades típicas do universo feminino. 
( ) Os contos machadianos são relatos que recriam, às vezes, a 
vida real, principalmente o ambiente carioca do final do século XIX, 
revelam, também, em uma versão em miniatura, a forma como o 
autor interpreta a sociedade. 
( ) Em muitos contos machadianos o tema adultério é explorado, 
seja de maneira implícita, apenas sugerindo, seja de maneira 
explícita. 
( ) A visão de mundo de Machado de Assis é a mesma em seus 
romances e contos, procura, de uma forma geral, explicar a alma 
humana. 
 
Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para 
baixo. 
a) F – V – F – V – F 
b) V – V – V – F – V 
c) V – V – V – V – V 
d) V – F – V – V – V 
e) F – F – V – V – F 
 
Questão 05 (Ufrn 2012) 
A passagem transcrita abaixo faz parte do capítulo IX (“Transição”), 
de Memórias Póstumas de Brás Cubas: 
 
E vejam agora com que destreza, com que arte faço eu a maior 
transição deste livro. Vejam: o meu delírio começou em presença 
de Virgília; Virgília foi meu grão pecado da juventude; não há 
juventude sem meninice; meninice supõe nascimento;e eis aqui 
como chegamos nós, sem esforço, ao dia 20 de outubro de 1805, 
em que nasci. Viram? Nenhuma juntura aparente, nada que divirta 
a atenção pausada do leitor: nada. 
 (ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São 
Paulo: Ática, 2000.) 
 
Este fragmento ilustra bem o estilo narrativo da obra, que é 
marcada pela 
a) liberdade técnica com que se encadeiam os eventos da história. 
b) rigidez da técnica narrativa, indispensável à Escola Realista. 
c) fidelidade à ordem cronológica linear dos acontecimentos. 
d) negação da cientificidade narrativa típica da Escola Romântica. 
 
Questão 06 (Fac. Pequeno Príncipe - Medicina 2016) 
A construção narrativa da obra Dom Casmurro, de Machado de 
Assis, atesta 
a) sua relação com o Realismo, considerando-se que o narrador-
personagem, sem utilizar digressões e de forma objetiva, elabora 
seus argumentos, mas expressa seu arrependimento pela 
acusação feita. 
b) sua circunscrição em um discurso persuasivo, elaborado com 
objetividade, com evidências que comprovam o adultério cometido. 
c) a formulação de um enigma, apresentado pela voz do narrador-
personagem, em uma narrativa permeada de ambiguidades. 
d) a credibilidade do narrador por sua isenção, imparcialidade e 
equilibrado distanciamento emocional dos acontecimentos 
narrados. 
e) a competência narrativa de Bentinho, advogado, que utiliza 
termos jurídicos para argumentar e comprovar a traição de Capitu. 
 
Questão 07 (Fuvest 2010) 
[José Dias] Teve um pequeno legado no testamento, uma apólice e 
quatro palavras de louvor. Copiou as palavras, encaixilhou-as e 
pendurou-as no quarto, por cima da cama. “Esta é a melhor 
apólice”, dizia ele muita vez. Com o tempo, adquiriu certa 
autoridade na família, certa audiência, ao menos; não abusava, e 
sabia opinar obedecendo. Ao cabo, era amigo, não direi ótimo, mas 
nem tudo é ótimo neste mundo. E não lhe suponhas alma 
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula) 
 
 
 
 
 
183 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
 
 
subalterna; as cortesias que fizesse vinham antes do cálculo que 
da índole. A roupa durava-lhe muito; ao contrário das pessoas que 
enxovalham depressa o vestido novo, ele trazia o velho escovado e 
liso, cerzido, abotoado, de uma elegância pobre e modesta. Era 
lido, posto que de atropelo, o bastante para divertir ao serão e à 
sobremesa, ou explicar algum fenômeno, falar dos efeitos do calor 
e do frio, dos polos e de Robespierre. Contava muita vez uma 
viagem que fizera à Europa, e confessava que a não sermos nós, 
já teria voltado para lá; tinha amigos em Lisboa, mas a nossa 
família, dizia ele, abaixo de Deus, era tudo. 
 
Machado de Assis, Dom Casmurro. 
 
No texto, o narrador diz que José Dias “sabia opinar obedecendo”. 
Considerada no contexto da obra, essa característica da 
personagem é motivada, principalmente, pelo fato de José Dias ser 
a) um homem culto, porém autodidata. 
b) homeopata, mas usuário da alopatia. 
c) pessoa de opiniões inflexíveis, mas também um homem 
naturalmente cortês. 
d) um homem livre, mas dependente da família proprietária. 
e) católico praticante e devoto, porém perverso. 
 
Questão 08 (Mackenzie 2012) 
Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, 
dir-me-ia, como no seu cap.IX, vers. 1: “Não tenhas ciúmes de tua 
mulher, para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que 
aprender de ti”. Mas eu creio que não, 1e tu concordarás comigo; 
se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma 
estava dentro da outra, 2como a fruta dentro da casca. 
Machado de Assis, D.Casmurro 
 
Considerado o fragmento no contexto do romance, assinale a 
alternativa correta. 
a) O narrador onisciente, ao confirmar sua insegurança afetiva, dá 
pistas ao leitor de que Capitu, mesmo adulta, manteve o 
comportamento ingênuo da infância, tendo na verdade sido vítima 
da malícia do amigo Escobar. 
b) O narrador protagonista, buscando a cumplicidade do leitor (e tu 
concordarás comigo, ref. 1), afirma sua convicção de que a 
esposa, já falecida, desde muito jovem já manifestara indícios de 
um comportamento suspeito. 
c) A ambiguidade do discurso de Bento Santiago converge para a 
expressão como a fruta dentro da casca (ref. 2) que pode ser lida 
tanto como prova da inocência da esposa como, ao contrário, 
prova de sua culpa. 
d) Valendo-se de um discurso tendencioso, o advogado Bento 
Santiago evita ressalvas e modalizações na fala, expondo ao leitor 
inquestionáveis indícios da traição de sua mulher Capitu. 
e) O discurso bíblico citado no início do fragmento revela que o 
narrador, preocupado em caracterizar o comportamento da esposa 
infiel, omite informações importantes acerca de si próprio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 
 
Questão 01 (Espm 2013) 
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES 
 
 
Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de 
duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, 
rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma 
é a condição da sobrevivência da outra e a destruição não atinge o 
princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico 
da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. 
As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que 
assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra 
vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos 
dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se 
suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a 
destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a 
outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, 
aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das 
ações bélicas. (...) Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as 
batatas. 
(Machado de Assis, Quincas Borba) 
 
Entende-se do trecho que: 
a) a paz é destruidora porque não produz alimentos em 
abundância para os povos. 
b) a paz é destruidora porque sempre provoca a inanição da 
sociedade mais fraca. 
c) a guerra é benéfica porque assegura a sobrevivência da espécie 
mais forte. 
d) a guerra é benéfica porque permite a eliminação dos fracos e 
incompetentes. 
e) a guerra é benéfica porque corrompe o princípio universal e 
comum. 
 
Questão 02 (Insper 2013) 
As imagens abaixo fazem parte do game “Filosofighters”. Inspirado 
em jogos de lutas, ele propõe uma batalha verbal entre importantes 
filósofos. Nele os argumentos dos pensadores valem como golpes, 
conforme se verifica na ilustração abaixo.

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