Prévia do material em texto
181O poder da Igreja Capítulo 23 Cruzada (1095-1099), composta principalmente de cavaleiros, foi a única que teve êxito, pois con- quistou Jerusalém em 1099. Os muçulmanos, po- rém, reconquistaram a cidade, sob a liderança do sultão Saladino, em 1187. Com exceção da primeira expedição, as Cru- zadas não alcançaram o objetivo inicial – recupe- rar a Terra Santa definitivamente para os cristãos –, mas contribuíram para estimular o comércio entre o Oriente e o Ocidente, trazendo riqueza para muitas cidades da península Itálica, como Veneza e Gênova. Outra consequência foi o fortalecimento da figura do cavaleiro (veja o boxe As ordens de cavalaria, na pá- gina 182). Entre o céu e a Terra As Cruzadas não só aumentaram a autoridade do papa, mas também enriqueceram ainda mais a Santa Sé. No século XII, durante o pontificado de Ino- cêncio III (1198-1216), a Igreja atingiu o apogeu de sua autoridade política e religiosa. Alguns anos de- pois, era criado um tribunal especialmente destinado a reprimir o que a Igreja chamava de heresias: a In- quisicão (veja o item O Tribunal do Santo Ofício, na página 182). Entretanto, esse foi um dos últimos momentos de força do papado. Como veremos no capítulo 24, o renascimento do comércio e das cidades europeias verificado a partir do século XI favoreceria a centrali- zação do poder político nas mãos dos reis, provocan- do o enfraquecimento da autoridade religiosa e do poder temporal do papa. Para esse declínio contribuiriam também as de- núncias cada vez mais frequentes contra o luxo e a corrupção do alto clero*. A crise chegaria a tal ponto que, no iní- cio do século XV, a Igreja seria co- mandada por três papas ao mesmo tempo. A reação a tudo isso viria no início do sécu- lo XVI com a Reforma protestante, como veremos no capítulo 27. * Veja o filme O nome da rosa, de Jean-Jacques Annaud, 1986. Fonte: WORld History Atlas: Mapping the Human Journey. london: dorling Kindersley, 2005. Mar Negro 15º L OCEANO ATLÂNTICO Mar do Norte 45º N M a r M e d i t e r r â n e o Colônia Metz Rouen Paris Bourges Toulouse Lyon Milão Aquileia Veneza Zara Spalato Roma Cagliari Túnis Reggio Durazo Constantinopla Sófia Dorileia Cesareia Antioquia Damasco Jerusalém DamietaAlexandria SelêuciaAdáliaÉfeso Cândia Limassol Bari PisaMarselha Gênova Lisboa Córdoba Á F R I C A Lagos Tânger Clermond Ferrand Londres Bamberg Ratisbona Esztergom Belgrado Estados cristãos do Oriente Igreja ortodoxa Igreja católica romana Islamismo Primeira Cruzada (1096-1099) Segunda Cruzada (1147-1149) Terceira Cruzada (1189-1192) Quarta Cruzada (1201-1204) Quinta Cruzada (1217-1221) Sexta Cruzada (1228-1229) Sétima Cruzada (1248-1254) Oitava Cruzada (1270) aS cruzadaS 0 300 QUILÔMETROS ESCALA 600 HMOV_v1_PNLD2015_177a185_U04_C23.indd 181 3/6/13 11:02 AM 182 Unidade 4 Diversidade religiosa A participação dos cavaleiros* nas Cruzadas fez com que a cavalaria assumisse um caráter qua- se sagrado na sociedade medieval. Conscientes da importância con- quistada, os cavaleiros passaram a se organi- zar em torno de confra- rias chamadas ordens. Para ingressar nessas ordens era necessá- rio se submeter a um longo ritual. Aos 7 anos, o menino ia servir como pajem em um castelo, onde um senhor lhe ensinava as artes da guer- ra. Aos 16, tornava-se escudeiro, devendo car- regar as armas de um cavaleiro. Entre os 18 e os 20 anos, era finalmente armado cavaleiro em uma cerimônia solene. A partir de então, deveria cuidar de sua pró- pria vida. Alguns tinham seus séquitos; outros, ligavam-se a um senhor feudal. Havia ainda aqueles cavaleiros solitários que vagavam de um lugar para outro em busca de fama e fortuna. O cavaleiro tinha de obedecer fielmente às regras da cavalaria: devia proteger a Igreja, os órfãos, as viúvas; não podia matar um adversá- rio indefeso nem mentir. Essas regras e a obri- gação de seguir valores como fidelidade, leal- dade e dedicação contribuíram para mitificar a cavalaria e deram origem a narrativas em prosa, os chamados romances de cavalaria, e a poemas (os poemas de gesta, cujos personagens princi- pais eram cavaleiros). Diálogos Uma das obras literárias mais publicadas da lite- ratura mundial é Dom Quixote de La Mancha, do escritor espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616). Trata-se de uma narrativa que satiriza os romances de cavalaria e a própria cavalaria medieval. Reúna-se com seus colegas de grupo e, sob a orientação do professor de Língua Portuguesa ou Literatura, selecionem um trecho da obra que ex- presse o tratamento satírico dado ao tema da ca- valaria. Preparem uma leitura em voz alta do trecho para apresentar à classe, acrescentando seus pró- prios comentários sobre o trecho selecionado. As ordens de cavalaria * Veja o filme O incrível exército de Brancaleone, de Mário Monicelli, 1965, e leia o livro A demanda do santo Graal. São Paulo: Edusp, 1988. O Tribunal do Santo Ofício A Igreja católica precisou de vários anos para consolidar sua doutrina religiosa, de modo a tor- ná-la um credo único e universal. Não foi tare- fa simples. Antes disso, ideias divergentes sobre questões dogmáticas suscitaram diversas polêmi- cas entre os fiéis. A partir de certo momento, porém, pessoas que divergiam ou levantavam dúvidas sobre os dogmas passaram a ser consideradas hereges e, a partir do século XII, começaram a sofrer forte repressão. Em 3 1184, uma bula papal determinava que os bispos ex-comungassem não apenas as pessoas consideradas heréticas, mas também as autoridades que não agis- sem contra elas. A opressão tornou-se maior a partir de 1233, ano em que o papa Gregório IX criou o Tri- bunal do Santo Ofício, também conhecido como In- quisição, para perseguir e punir os dissidentes consi- derados hereges. Durante sua existência, a Inquisição espalhou o terror pela Europa, pois qualquer pessoa podia ser acusada de heresia e condenada à morte na foguei- ra. Em 1252, o papa Inocêncio IV autorizou o uso da tortura como método para se obter confissões. Iluminura Justiniani em Fortiatum, do século XIV, retrata um cavaleiro atacando outro com uma espada e um cavaleiro escrevendo seu testamento com uma espada manchada de sangue. B ib lio te ca d o M o n as té ri o f az er E sc o ri al , M ad ri d , E sp an h a/ T h e B ri d g em an /K ey st o n e HMOV_v1_PNLD2015_177a185_U04_C23.indd 182 3/6/13 11:02 AM 183O poder da Igreja Capítulo 23 Os judeus e a Igreja católica durante a Idade Média, a atitude da Igre- ja católica em relação à comunidade judaica da Europa foi marcada pela intolerância. En- quanto tentava retomar Jerusalém por meio das Cruzadas, a Santa Sé promovia sistemá- ticas perseguições aos judeus, obrigando-os a se afastarem de suas profissões e confiscando seus bens. Em 1096, cerca de mil judeus foram mortos por cruzados na atual região da Alema- nha. Em 1215, o papa Inocêncio III determinou que, para distinguir-se dos cristãos, os judeus deveriam exibir uma insígnia sobre as roupas. As razões para isso eram tanto doutrinárias quanto de ordem econômica. A Igreja alega- va que os judeus não só negavam a divinda- de de Jesus Cristo, mas também haviam sido responsáveis por sua crucificação. Além dis- so, como muitos judeus eram comerciantes e banqueiros, a Santa Sé os condenava pela prática de usura (empréstimo de dinheiro com cobrança de juros), condenada pela doutrina da Igreja. De olho no mundo A intolerância dos católicos em relação aos judeus na Idade Média tinha, como vimos, ori- gens religiosas e econômicas. Faça uma pesqui- sa sobre situações atuais de intolerância religio- sa, identificando também os motivos políticos ou econômicos nas origens desse tipo de atitude. Prepare uma apresentação oral e exponha seu trabalho à classe. ¡sso...Enquanto B ib lio te ca R ea l A lb er to I, B ru xe la s/ A rq u iv o d a ed it o ra Nesta iluminura de fins da IdadeMédia alguns judeus são queimados vivos durante o período em que a peste negra assolou Tournai, na Bélgica atual. Alvo da intolerância religiosa, os judeus foram responsabilizados por muitos cristãos pela disseminação da doença, que matou boa parte da população europeia no século XIV. HMOV_v1_PNLD2015_177a185_U04_C23.indd 183 3/6/13 11:02 AM 184 Unidade 4 Diversidade religiosa A Terceira Cruzada Publicado em 2001, o romance Baudoli- no, do escritor italiano Umberto Eco, relata de forma bem-humorada as aventuras de um jovem camponês nascido no século XII, ado- tado pelo imperador do Sacro Império Ro- mano-Germânico, Frederico I, o Barba Ruiva. A passagem a seguir mostra os prepara- tivos de Frederico para a Terceira Cruzada (1189-1192), conhecida como Cruzada dos Reis, pois dela participaram também os reis da Inglaterra, Ricardo Coração de Leão, e da França, Filipe Augusto. Os três monarcas chefi aram seus exércitos para enfrentar as tropas do sultão muçulmano Saladino, que tomara Jerusalém em 1187. Leia o trecho se- lecionado e responda ao que se pede. Naquele tempo – e estamos em 1187 –, Saladino defl agrou seu último ataque à Je- rusalém cristã. Venceu. Comportou-se gene- rosamente, deixando sair ilesos todos aque- les que podiam pagar uma taxa [...]. Por mais que Saladino se mostrasse magnânimo, todo o mundo cristão fi cou abalado pelo fi m da- quele reino franco d’além-mar, que resistiu No mundo DAS LETRAS Umberto Eco, autor dos romances Baudolino e O nome da rosa, em foto de outubro de 1997. G ia n n i G ia n sa n ti /S yg m a/ C o rb is /L at in st o ck 1. Na Idade Média, a Igreja católica detinha simul- taneamente poderes espirituais e poderes ma- teriais. De que modo esses dois poderes trans- formaram a Igreja na instituição mais poderosa daquele período? 2. Como estava organizada a estrutura hierárquica da Igreja e de que modo essa estrutura reprodu- zia a divisão da sociedade feudal? 3. No século X, em reação à grave crise moral que atingiu a Igreja, alguns clérigos fundaram um mosteiro beneditino na cidade de Cluny (atual França). Seu objetivo principal era reformar a Igre- ja internamente. Qual foi a importância da refor- ma promovida por esses monges? 4. No século XI, a relação entre a Igreja e os imperadores foi marcada pela tensão e por disputas religiosas e militares. Descreva as tensões entre o papa Gregório VII e o impe- rador Henrique IV a propósito da Questão das Investiduras. 5. Explique as relações entre o Sacro Império Ro- mano-Germânico e a Igreja católica. 6. Com que fi nalidade a Igreja católica instaurou a Inquisição, no século XII? 7. A partir do século XI o poder da Igreja católica começou a declinar. Aponte dois fatores que contribuíram para esse processo. Organizando AS IDEIAS HMOV_v1_PNLD2015_177a185_U04_C23.indd 184 3/6/13 11:02 AM 185O poder da Igreja Capítulo 23 durante quase cem anos. O papa recorreu a todos os monarcas da Europa para uma terceira expedi- ção de crucíferos que libertasse de novo aquela Je- rusalém reconquistada pelos infiéis. [...] Enquanto os reis da Inglaterra e da França de- cidiam partir por mar, em maio de 1189, Frederico partiu por terra de Ratisbona com quinze mil cava- leiros e quinze mil escudeiros. Alguns diziam que nas planícies da Hungria ele houvesse passado em revista sessenta mil cavaleiros e cem mil soldados. Outros chegaram a falar até de seiscentos mil pere- grinos, mas deviam exagerar todos. [...] Para evitar os saques e massacres das expedi- ções anteriores, o imperador não quis que seguis- sem aqueles bandos de deserdados que cem anos antes haviam espalhado tanto sangue em Jerusa- lém. Devia ser uma coisa bem-feita, por gente que sabia como fazer uma guerra, não por desgraça- dos que partiam com a desculpa de conquistar o Paraíso e voltavam para casa com os espólios de alguns hebreus, de quem haviam cortado a gar- ganta pelo caminho. ECO, Umberto. Baudolino. Rio de Janeiro: Record, 2002. p. 246-249. 1. No trecho citado de Baudolino encontramos al- gumas motivações que levaram os cruzados a lutarem contra os muçulmanos em Jerusalém. Aponte algumas dessas motivações e indique as passagens em que elas aparecem. Em segui- da, com base na leitura do capítulo, cite outros fatores que estimularam a ação dos cruzados nesse período. 2. A passagem do romance que você acabou de ler mostra a articulação existente entre inte- grantes do alto clero com os monarcas eu- ropeus. Detendo-se nas informações do ca- pítulo e nessa passagem, descreva as carac- terísticas e o sentido da relação entre esses dois poderes. Hora DE REFLETIR Em setembro de 2005, um jornal da Dinamarca publicou doze charges tendo como tema principal o profeta Maomé. Em uma delas, Maomé aparecia com um turbante em formato de bomba-relógio. A publicação provocou revolta no mundo muçul- mano. Países como Arábia Saudita, Líbia e Kuwait fecharam suas representações diplomáticas na Di- namarca. No Líbano, muçulmanos atearam fogo no consulado dinamarquês e, em diversos lugares do mundo, os muçulmanos fizeram boicote a pro- dutos importados da Dinamarca. Esses e outros protestos baseavam-se na ale- gação de que as charges ofendiam o profeta e incitavam o ódio contra os seguidores do islã. Na ocasião, o primeiro-ministro da Dinamarca defen- deu o direito à liberdade de imprensa. Reúna-se com seu grupo de colegas e, juntos, debatam a seguinte questão: como garantir a li- berdade de expressão e, ao mesmo tempo, res- peitar as crenças religiosas? Em uma folha de car- tolina, formulem coletivamente um artigo de lei que expresse a opinião do grupo. Depois, fixem a cartolina na parede da classe, para que todos possam refletir sobre o artigo proposto por vocês, sob a orientação do professor. Atenção: não escreva no livro. Responda sempre no caderno. Mundo virtual n Museu do Vaticano – Exposições virtuais existentes no site (site em inglês). Disponível em: <http://mv.vatican.va/3_EN/pages/MV_Visite.html>. Acesso em: 17 out. 2012. HMOV_v1_PNLD2015_177a185_U04_C23.indd 185 3/6/13 11:02 AM 186 Atualmente, com um computador e uma conexão com a internet, qualquer pessoa pode adquirir uma imensa variedade de mercadorias, oriundas de qualquer lugar do mundo sem sair de casa. É o chamado comércio virtual, uma atividade que em 2011 movimentou mais de 450 bilhões de dólares em todo o mundo. O Brasil representou cerca de 2,2% desse montante. Porém, nem sempre existiu essa facilidade em se obter coisas de lugares distantes de onde se mora. Cerca de mil anos atrás, na Europa ocidental, as coisas eram muito diferentes. Um dos principais lugares para se encontrar artigos de regiões mais distantes eram as feiras surgidas nos cruzamentos das principais estradas do continente. Nesses locais, as pessoas compravam tecidos Clientes observam produtos em loja de eletrônicos na Inglaterra, em 2009. B ri ti sh R et ai l P h o to g ra p hy /A la m y/ O th er Im ag es Ira Block/National Geographic/Getty Images Renascimento urbano e comercial Capítulo 24 Objetivos do capítulo Analisar os processos que levaram ao revigoramento do comércio e das cidades, entre os séculos XI e XIII, na Europa. Compreender as mudanças sociais e culturais que ocorreram nesse período. Perceber que com a ascensão da burguesia, surge uma nova mentalidade que se contrapõe muitas vezes aos valores religiosos. de seda, porcelana, joias e especiarias, vindas principalmente do Oriente. O sucesso dessas feiras foi tão grande que, em torno delas, acabaram se formando diversas cidades, como Sevilha e Champagne, nas atuais Espanha e França. Neste capítulo estudaremos como ocorreu esse processo e o impacto dessas mudanças na sociedade europeia da Idade Média. HMOV_v1_PNLD2015_186a199_U04_C24.indd 186 3/6/13 11:08 AM 187Renascimento urbano e comercial Capítulo 24 O ano 1000 Os últimos anos do século X foram de crescen-te terror para a população europeia. Com frequência cada vez maior, previsões catastróficas, alimentadas pelo misticismo e pela ignorância, circulavam pelo continente, anunciando o apocalipse: para muitas pessoas o mundo acabaria com a chegada do ano 1000, quando se completaria o primeiro milênio de- pois de Cristo. Entretanto, como sabemos hoje, o mundo não acabou naquele momento. Pelo contrário, em fins do século X ocorreu uma sensível diminuição das inva- sões por povos como os vikings. Ao mesmo tempo, caiu momentaneamente a mortandade por epide- mias, pois a população vivia disseminada nos feudos, o que dificultava a propagação de doenças infecto- contagiosas. Tudo isso gerou estabilidade e cresci- mento demográfico. Assim, a Europa chegou ao sé- culo XI revigorada e em crescimento. Ao longo dos três séculos seguintes, o continente experimentaria profundas transformações. Novidades tecnológicas Diversas inovações tecnológicas facilitaram a vida do camponês. Uma delas foi a invenção da char- rua, arado de ferro que, por seu peso, revolvia me- lhor a terra e fazia nela sulcos mais profundos do que o antigo arado de madeira. Para puxar a charrua, os camponeses passaram a utilizar a força do cavalo, bem mais veloz do que o boi. Outro avanço tecnológico significativo ocorreu com o surgimento dos moinhos de água, utilizados para moer cereais. Como um único moinho substi- tuía, em um dia, a força de quarenta trabalhadores, esses engenhos se espalharam rapidamente pela Eu- ropa a partir do século XI. Entre os séculos XII e XIII, os árabes introduziram na península Ibérica os moinhos de vento. Rapida- mente adotados no resto do continente, esses enge- nhos se revelaram indispensáveis para a manutenção dos sistemas de diques e canais. Graças a eles, uma quantidade muito grande de pântanos foi drenada e transformada em área para plantio. O próprio modo de cultivar a terra passou por mudanças. A rotação bienal foi substituída pela rota- ção trienal de culturas: o terreno era dividido em três P h o to S ca la , F lo re n ce /Im ag ep lu s Afresco do século XV encontrado em uma das dependências do Castelo do Bom Conselho, em Trento, na península Itálica. No primeiro plano, pode-se ver um camponês lavrando a terra com uma charrua. partes e, a cada ano, uma delas descansava, enquanto nas outras revezava-se o plantio de legumes e cereais, evitando assim o rápido empobrecimento do solo. Dinheiro no campo Esses avanços tecnológicos elevaram de forma expressiva a qualidade e a quantidade da produção agrícola (veja a seção Eu também posso participar, na página seguinte). Comendo melhor e momenta- neamente livre das epidemias e das invasões, a po- pulação aumentou substancialmente. Calcula-se que entre os anos 1000 e 1300 o número de habitantes da Europa tenha saltado de 42 milhões para 73 mi- lhões de pessoas. Ao mesmo tempo, o excedente agrícola pas- sou a ser vendido em quantidades cada vez maio- res, reaquecendo o comércio, que decaíra nos sécu- los anteriores. Esse processo fez com que o dinheiro voltasse a circular, permitindo a alguns camponeses reunir renda suficiente para comprar a liberdade jun- to ao senhor feudal. Livres, muitos se mudavam para as cidades, enquanto outros continuavam no campo, agora como assalariados. HMOV_v1_PNLD2015_186a199_U04_C24.indd 187 3/6/13 11:08 AM