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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC/SP FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS E DA SAÚDE PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EDUCAÇÃO NAS PROFISSÕES DA SAÚDE Luciana Canabarro CONHECIMENTOS E PERCEPÇÕES DO JOVEM ESTUDANTE DO ENSINO MÉDIO SOBRE A HIPERTENSÃO ARTERIAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS. MESTRADO PROFISSIONAL SOROCABA 2013 LUCIANA CANABARRO CONHECIMENTOS E PERCEPÇÕES DO JOVEM ESTUDANTE DO ENSINO MÉDIO SOBRE A HIPERTENSÃO ARTERIAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS. PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EDUCAÇÃO NAS PROFISSÕES DA SAÚDE MESTRADO PROFISSIONAL SOROCABA 2013 Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência para obtenção do título de Mestre em Educação nas Profissões de Saúde sob a orientação do Prof. Dr. Fernando Antônio de Almeida e co-orientadora a Profª Drª Raquel Aparecida de Oliveira. Banca Examinadora __________________________________ __________________________________ __________________________________ Dedico esta dissertação a Deus, por fortalecer-me a fé, o equilíbrio e sabedoria, sempre guiando-me nesta caminhada. Ao meu marido querido, pela compreensão e companheirismo no momento crucial da dissertação, por seu amor e força, valorizando meus potenciais . AGRADECIMENTOS São muitas as pessoas a quem cabe algum tipo de agradecimento por contribuições e críticas feitas a esta pesquisa. Assim, mesmo correndo o risco de não conseguir mencionar todos, sinto que devo agradecer nominalmente: À Pontifícia Universidade Católica de São Paulo por apoiar mais este passo da minha formação, pela concessão de bolsa de estudos e pela flexibilização do meu horário de trabalho para participar das atividades do Programa de Pós- Graduação e do Projeto de Pesquisa; Ao meu querido orientador, Fernando Antônio Almeida, por concordar em ensinar e aprender novos desafios ao me orientar. Obrigada por se ter feito tão presente e dedicado, pelo companheirismo e profissionalismo, pela dedicação e competência, fundamentais para a construção deste trabalho... Obrigada!! A minha co-orientadora Raquel Aparecida de Oliveira, agradeço imensamente pelo carinho, pela paciência em ensinar-me novas ferramentas. Obrigada pela amizade, pela cumplicidade do meu esforço e dedicação a esse sonho do mestrado; A todos os professores que ministraram as disciplinas do mestrado, pela seriedade e comprometimento empenhados nesta etapa da minha formação continuada; À Heloisa Helena Armênio, secretária do Programa de Estudos Pós- Graduados Educação nas profissões da Saúde, pelo acolhimento, atenção e paciência com que me orientou para que meu trabalho tivesse êxito; À Turma de mestrandos do primeiro semestre de 2011, especial, pelos períodos de estudos que contribuíram para a ampliação do meu aprendizado; pelos encontros e momentos de alegria que compartilhamos, pelas amizades que se fizeram e pelo carinho; Ao Colégio Uirapuru e à coordenadora do Ensino Médio, Suzana Higa, por nos receber de forma tão solícita; 7 À Escola Técnica Estadual Rubens de Faria e Souza (ETEC), à Diretora Srª. Sonia Maria Bellini Pedrassolli, à coordenadora do Ensino Médio, Wanir Pereira da Silva Betanho e ao Professor de Educação Física Alexandre Vieira Gibim pelo apoio prestado; À Escola Estadual Wanda Costa Daher, ao Diretor, Sr. Renato Moreira de Lima, à coordenadora do Ensino Médio, Evelise Evangelista dos Santos pelo apoio, carinho e atenção; A todos os alunos participantes, razão desta pesquisa; Ao colega Antônio Pedro de Melo Maricato, Bibliotecário da PUC Sorocaba, por prestar constante apoio profissional; À colega Isabel Cristina Campos Feitosa, Analista da Biblioteca PUC Sorocaba, pelo carinho, atenção, paciência e dedicação em ensinar novas ferramentas úteis para minha pesquisa; Ao colega Adilson Peron, pelo apoio e atenção como ”observador”, durante as atividades de Grupos Focais; Aos colegas do Laboratório de Informática PUC/SP, campus Sorocaba, em especial a Sueli Aparecida Falsarella pela contribuição para que minha pesquisa fosse completada; A todas as pessoas amigas que muito me incentivaram que, de alguma forma, participaram, contribuíram e estiveram presentes nessa jornada no Mestrado em Educação nas Profissões da Saúde. 8 “A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria” Paulo Freire1 RESUMO Introdução: A hipertensão arterial (HA) é uma doença muito prevalente, com graves consequências pessoais, sociais e para o sistema de saúde. Os fatores predisponentes para a doença já estão presentes na adolescência e, nesta idade, os mais frequentes são os antecedentes familiares e o excesso de peso. Vários estudos evidenciam que aproximadamente 15% dos jovens já apresentam valores elevados da pressão arterial (PA) e os valores pressóricos estão associados ao índice de massa corporal. Objetivos: Identificar o conhecimento que os jovens que frequentam o ensino médio têm sobre a HA e que estratégias propõem para motivar seus pares a terem atitudes saudáveis reduzindo o risco de desenvolver a doença no futuro. Métodos: Participaram 48 alunos do segundo ano do ensino médio oriundos de três escolas de Sorocaba-SP. Uma estadual localizada na periferia, uma estadual técnica no centro e uma particular localizada em área nobre da cidade. Foram realizados dois Grupos Focais em cada escola. Os depoimentos e discussões foram gravadas, transcritas e submetidas à Análise Temática segundo Minayo. Resultados: Nas três escolas observamos que os alunos têm conhecimentos básicos de fisiologia, dos fatores de risco, das consequências e medidas de prevenção da HA. As sugestões para motivar o comportamento saudável e prevenir a doença variaram de acordo com as escolas e o nível social dos alunos, porém, todas apontaram para estratégias criativas e participativas. Na escola da periferia foram sugeridos jogos motivadores para serem realizados nas salas de aula e concurso de rap tendo a prevenção da HA como tema central. Na escola técnica predominaram as sugestões desenvolvidas nas redes sociais via internet, interatividade, reflexão sobre o tema e a participação ativa da escola e instituições governamentais e não governamentais. Na escola particular, os alunos sugerem utilizar os meios eletrônicos com jogos e desafios que tenham como tema a HA e os cuidados que envolvem a doença. Conclusões: Os alunos do ensino médio compõem um rico território para se trabalhar a promoção de saúde e a prevenção primária de doenças prevalentes. Os estudantes estão muito motivados a participar deste processo educativo. Palavras-chave: Hipertensão; adolescente; educação em saúde; promoção da saúde; estudantes. ABSTRACT Introduction: hypertension is a highly prevalent disease with serious personal consequences and for social and health care system. Risk factors for the disease are already present in adolescence and, at this age, the most commons are family history of hypertension and overweight. Many studies show that approximately 15% of young people already have high levels of blood pressure (BP) and BP values are associated with body mass index. Objectives: to identify the knowledge that young people who attend High School have on hypertension and to propose strategies to motivate their peers to have healthy attitudes reducing the risk of developing the diseasein the future and, thus, leading to primary prevention of hypertension and health promotion. Methods: Forty-eight students participated in the study. We conducted two focus group sessions with second year High School students of three schools in Sorocaba-SP. A public school in the periphery, one technical public school located at down town and a private school located at city prime area, whose social indicators increased in that order. The interviews and discussions were recorded, transcribed and submitted to thematic analysis of Minayo. Results: In the three schools we found that students have a reasonably good knowledge of the disease, its risk factors and consequences. Many of them have relatives with hypertension. Students suggestions to motivate healthy behavior and prevent the disease varied according to the social level of the students and schools, however, all pointed to creative and participatory strategies. At the periphery school students suggested motivators games to be played at classrooms and rap contest with the prevention of hypertension as a central theme. At the technical school predominated suggestions developed in the social networks via the Internet, interactivity, reflection on the subject and the active participation of school and governmental and non- governmental organizations. Students from the private school suggested to use electronic games and challenges that have as subject hypertension and care involving the disease. Conclusions: The high school students make up a rich territory to work on health promotion and primary prevention of prevalent diseases. Students are highly motivated to participate in this educational process. Key-words: Hypertension; adolescent; health education; health promotion; students. LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Classificação dos níveis pressóricos ........................................................ 20 Tabela 2 - Classificação da pressão arterial para crianças e adolescentes menores de 18 anos de idade. ................................................................................................. 23 Tabela 3 - Distribuição das Variáveis Demográficas e Sociais de acordo com as Escolas Pesquisadas ................................................................................................ 44 Tabela 4 - Conceito e percepções sobre hipertensão arterial. Estudantes do Ensino Médio. Sorocaba, 2012. ............................................................................................ 46 Tabela 5 - Sintomas da hipertensão arterial. Estudantes do Ensino Médio. Sorocaba, 2012. ......................................................................................................................... 48 Tabela 6 - Causas da hipertensão arterial. Estudantes do Ensino Médio. Sorocaba, 2012............................................................................................................................49 Tabela 7 - Consequências da hipertensão arterial. Estudantes do Ensino Médio. Sorocaba, 2012 ......................................................................................................... 50 Tabela 8 - prevenção da hipertensão arterial. Estudantes do Ensino Médio. Sorocaba, 2012. ........................................................................................................ 51 Tabela 9 - Medidas promotoras de saúde. Estudantes do Ensino Médio. Sorocaba, 2012. ......................................................................................................................... 52 Tabela 10 - Comportamentos prejudiciais à saúde. Estudantes do Ensino Médio. Sorocaba, 2012. ........................................................................................................ 53 Tabela 11 - Sugestões e estratégias para levar estas informações aos jovens de uma maneira que interesse e que desperte nos adolescentes medidas promotoras de saúde. Estudantes do Ensino Médio. Sorocaba, 2012. ........................................ 55 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Variação da pressão arterial durante o ciclo cardíaco .............................. 19 Figura 2 - Texto motivador ........................................................................................ 41 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AVC - Acidente Vascular Cerebral DCNT - Doenças Crônicas Não Transmissíveis DM - Diabetes Mellitus DRC - Doença Renal Crônica ELSA - Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto HA - Hipertensão Arterial HiperDia - Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICC - Insuficiência Cardíaca Congestiva IMC - índice de Massa Corporal IQVU - índice de Qualidade de Vida Urbana LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC - Ministério da Educação MS - Ministério da Saúde OMS - Organização Mundial da Saúde OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde PA - Pressão Arterial PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais PNE - Plano Nacional de Educação PSE - Perfil Sócio Econômico PSE - Programa Saúde na Escola SBC - Sociedade Brasileira de Cardiologia SUS - Sistema Único de Saúde TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TRS - Teoria das Representações Sociais SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 15 1.1 Apresentação .............................................................................................................................. 15 1.2 Contextualização e Justificativa ............................................................................................ 17 1.3 Definições de Pressão Arterial e Hipertensão Arterial .......................................................... 18 1.4 Adolescência e Hipertensão Arterial ..................................................................................... 22 1.5 Educação para Saúde .......................................................................................................... 25 1.6 Iniciativas Governamentais .................................................................................................. 26 1.7 O Ensino Médio – programas educativos e de promoção à saúde. ..................................... 29 2 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 32 3 - REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................... 33 4 MÉTODO .............................................................................................................................. 34 4.1 Características da pesquisa realizada ........................................................................................ 34 4.2 Local e período do estudo. ......................................................................................................... 34 4.3. Sujeitos / Atores da Pesquisa .................................................................................................... 35 4.4 Aspectos Éticos........................................................................................................................... 35 4.5. Identificação e caracterização dos alunos ................................................................................. 36 4.6. Locais de realização do estudo ................................................................................................. 36 4.7 Procedimentos de Coleta de Dados ........................................................................................... 39 4.8 Procedimentos de Análises ....................................................................................................... 42 4.9 Apresentação das análises do material obtido nos grupos focais. ............................................43 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................................... 44 6. CONCLUSÕES .................................................................................................................... 57 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 58 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 59 APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................................................ 64 APÊNDICE B – Questionário Sócio-Demográfico ........................................................................... 65 APÊNDICE C – Carta convite encaminhada às Escolas.................................................................. 67 APÊNDICE D – Pacto da Participação e Comprometimento ........................................................... 68 APÊNDICE E – Roteiro de debate – Grupos Focais ........................................................................ 69 APÊNDICE F – Conceito da Hipertensão Arterial ............................................................................ 70 APÊNDICE G – Sintoma da Hipertensão Arterial ............................................................................. 73 APÊNDICE H – Conceito De Causas da Hipertensão Arterial ......................................................... 77 APÊNDICE I – Consequências da Hipertensão Arterial ................................................................... 83 APÊNDICE J – Prevenção da Hipertensão Arterial .......................................................................... 87 APÊNDICE K – Medidas Promotoras de Práticas Saudáveis ......................................................... 96 APÊNDICE L – Medidas Não Promotoras de Práticas Saudáveis ................................................... 99 APÊNDICE M – Organização dos discursos das Propostas Sugeridas Pelos Alunos grupo focal 01 e 02 ................................................................................................................................................. 108 APÊNDICE N – Organização dos discursos: Objetivo 2 Propostas Sugeridas Pelos Alunos grupo focal 03 e 04 .................................................................................................................................... 120 14 APÊNDICE O - Organização dos discursos: Objetivo 2 Propostas Sugeridas Pelos Alunos grupo focal 05 e 06 .................................................................................................................................... 132 ANEXO .................................................................................................................................. 139 15 1 INTRODUÇÃO 1.1 Apresentação Para narrar a minha trajetória acadêmico-profissional, busquei nas lembranças elementos que foram tomando corpo e dando vida à temática desenvolvida por esta pesquisa. Tomo como ponto de partida o meu ingresso no Curso de Ciências Biológicas da PUC-SP em 2005. Durante os quatro anos da minha graduação desenvolvi três trabalhos de iniciação científica e um trabalho de conclusão de curso (TCC). No último ano do curso de Ciências Biológicas era obrigatória a realização de estágio em escolas públicas e particulares. Foi esse contato inicial que me atraiu de modo significativo, pois possibilitou a minha vivência na área pedagógica. Ao desenvolver o estágio em uma escola pública de nível médio, fui convidada a dar aulas de metodologia científica, pois os alunos precisavam desenvolver um projeto de pesquisa / trabalho de conclusão do terceiro ano, que seria entregue ao final do terceiro ano do ensino médio. Neste período do estágio, deparei-me com as dificuldades enfrentadas pelo professor em transmitir conhecimentos principalmente na área da saúde. Questionei e fui questionada por alunos e professores quanto à maneira de “dar aula”, pois tentava transmitir o conteúdo e o conhecimento sempre de forma dinâmica e atrativa, despertando o interesse e a motivação dos alunos. Nessa escola o tema “saúde” era obrigatório no currículo, mas muitos alunos reclamavam da maneira como era abordado. Temas de saúde sempre eram sugeridos aos alunos para a construção de seus projetos. Foi aí que sugerimos uma forma diferente para a sua realização. Depois de discutir com os alunos e com a professora, resolvemos empregar uma estratégia diferente de trabalho. Como os projetos de conclusão, eram realizados em grupo de três a cinco alunos, sugerimos que nas aulas cada grupo apresentasse sua proposta para a construção do projeto, utilizando seus conhecimentos prévios e todos contribuiriam para a elaboração e formatação final do trabalho. Ao final de três meses ficaram claros, para mim e para a professora que acompanhava a realização do meu estágio, os resultados positivos determinados pela motivação, interesse e o desempenho dos alunos. Essa foi minha primeira experiência educacional como professora pela qual pude aplicar os conhecimentos adquiridos na Faculdade. 16 Na escola particular, o modelo pedagógico era tradicional, com a utilização de apostilas. Entretanto, como estratégia de motivação, sugeri junto ao professor supervisor do estágio, que fizéssemos uma saída a campo com os alunos. A sugestão foi aceita pela diretora da escola e pelos pais dos alunos, que sugeriram o Zoológico Quinzinho de Barros em Sorocaba, SP. Na aula seguinte os alunos deveriam entregar ao professor uma redação com o tema abordado em campo. Antes, fui ao zoológico para programar a visita. Os alunos mostraram-se muito entusiasmados e envolvidos com o material e jogos educacionais disponíveis na biblioteca local. Pudemos observar o interesse em novas descobertas e maneiras motivadoras de aprendizagem. Desde então, quando sou convidada a dar aulas, me questiono: “Existe uma maneira certa de ensinar”? A partir do conceito de que o professor tem o dever de ser o facilitador da aprendizagem, o desafio é motivar utilizando estratégias dinâmicas e dialogadas para que ocorra a participação e interesse dos alunos na construção do conhecimento. A abertura do Programa de Estudos Pós-Graduados Educação nas Profissões da Saúde na Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC/SP veio ao encontro dos meus interesses, pois este mestrado tem como foco a prática e o desenvolvimento profissional possibilitando mudanças, reflexões e ações no âmbito da educação em saúde. No meu caso, o foco de interesse é a forma como pode ser construído o conhecimento de maneira atrativa e dinâmica, particularmente com os adolescentes, estudando assuntos relacionados à saúde. Foi com essa perspectiva e a ajuda do meu orientador, que já havia desenvolvido trabalhos de iniciação científica com acadêmicos de medicina trabalhando o tema da hipertensão arterial na adolescência com alunos do ensino médio, que definimos o problema de pesquisa a ser investigado: apontar o problema, bem como o público alvo com o qual desenvolveríamos este trabalho e também as perguntas que orientariam a nossa investigação. Entendemos que este estudo só teria sentido se pudesse contribuir para qualificar a prática pedagógica e promover possíveis mudanças ao trabalhar assuntos referentes à educação em saúde, explorando o conhecimento sobre o tema hipertensão arterial e a representação que o tema tem entre os adolescentes e a partir deste conhecimento propor ações e estratégias que pudessem reduzir o risco e promover a prevenção da doença e a promoção à saúde. 17 É importante dizer que o presente trabalho não pretende encerrar a discussão acerca do tema, pois as propostas pedagógicas sugeridas pelos alunos são importantes e estimuladoras para a atuação do professor e promoção da saúde.1.2 Contextualização e Justificativa A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS)2 ressalta que as Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) são consideradas como a principal causa de mortalidade da população mundial, responsáveis por 58,5% de todas as mortes ocorridas no mundo e por 45,9% da carga global de doença, constituindo um sério problema de saúde pública. Segundo o documento do Ministério da Saúde (MS) que acompanha a apresentação do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto - (ELSABrasil), a Organização Mundial de Saúde (OMS) informa que HA 600 milhões de hipertensos no mundo.3 De acordo com o documento, no Brasil, cerca de 30 milhões de pessoas sofrem com a doença (equivalente a 35% da população acima de 40 anos). 3 Apesar disso, quase metade destas pessoas acometidas ainda não tem conhecimento do diagnóstico, por se tratar de uma doença assintomática. 3 “A hipertensão é um mal silencioso. A ausência de sintomas retarda o diagnóstico que, muitas vezes, é feito quando as complicações já estão instaladas”.4 Cerca de 75% dessas pessoas recorrem ao Sistema Único de Saúde (SUS) para receber atendimento na Atenção Básica. 5,6 A hipertensão arterial é a doença cardiovascular mais comum, considerada o maior desafio de saúde pública para sociedades em transição socioeconômica e um dos mais importantes fatores de risco de mortalidade cardiovascular, sendo responsável por 34% das causas de morte no país. 5,6 A maior parte destas mortes e incapacitações é provocada por acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca congestiva (ICC), infarto do miocárdio e doença renal crônica (DRC). 5,7,8 Esta elevação anormal da PA está associada à predisposição genética, ao gênero (menos comum em mulheres até a menopausa), à idade e à raça (mais comum e mais grave em pretos e pardos); todos estes fatores de risco são importantes e não modificáveis. 5,7,8 18 Além disso, o excesso de peso e a obesidade, o sedentarismo, a ingestão de alimentos com alto teor de sal, o excesso de álcool, o fumo e o estresse, também contribuem para a aparição da hipertensão arterial. 5,7,8 Estes últimos, são particularmente importantes, pois são passíveis de intervenção e, por isso, conhecidos como fatores de risco modificáveis. 5,7,8 Muitos estudos têm observado que a hipertensão arterial embora tenha prevalência ascendente com o passar dos anos, atingindo seu pico de comprometimento nos indivíduos idosos, já começa a se manifestar na infância. 5,7,8 Hábitos de vida pouco saudáveis adquiridos na infância e adolescência irão perdurar e se acentuar na idade adulta e são os principais fatores de risco modificáveis para a hipertensão arterial e as doenças cardiovasculares. 5,7,8 Diante desta realidade é necessário aumentar o grau de conhecimento da população sobre a importância da prevenção e controle da hipertensão arterial e suas consequências. Nessa perspectiva, entendemos que a educação em saúde iniciada na escola poderá estimular o processo de criação de Hábitos de vida mais saudáveis e uma melhor qualidade de vida no futuro. 2,9,10 É neste contexto que este estudo se apresenta. 1.3 Definições de Pressão Arterial e Hipertensão Arterial A pressão arterial (PA) corresponde à força que o sangue exerce sobre as paredes das artérias quando impulsionado pelo coração. Apresenta valores “máximos” (pressão sistólica), atingidos no final da contração do ventrículo esquerdo bombeando o sangue para as grandes artérias em direção aos diferentes órgãos, e o valor “mínimo” (pressão diastólica), quando o sangue se "acomoda" nos vasos sanguíneos no final da diástole.5,7,8 (figura1). 19 Figura 1 - Variação da pressão arterial durante o ciclo cardíaco Desta forma, durante a sístole a pressão arterial é máxima - e durante a diástole, mínima. A medida da PA é realizada em milímetros de mercúrio (mmHg), sendo que os valores considerados limites superiores da normalidade são de 120 mmHg para a pressão máxima (ou sistólica) e 80 mmHg para a pressão mínima (ou diastólica).5,7,8 A hipertensão arterial ou "pressão alta" é uma doença definida pela elevação da PA acima dos valores considerados normais (140/90mHg). No entanto, para ser considerado hipertenso, é preciso que o indivíduo apresente PA elevada de forma permanente.5,7,8 Assim, o diagnóstico da hipertensão arterial é estabelecido pelo encontro de níveis tensionais acima dos limites superiores da normalidade (140/90 mmHg) quando a pressão arterial é determinada através de metodologia adequada e em condições apropriadas. 5,7,8 20 Tabela 1 - Classificação dos níveis pressóricos Classificação Pressão sistólica (mmHg) Pressão diastólica (mmHg) Ótima < 120 < 80 Normal < 130 < 85 Limítrofe* 130-139 85-89 Hipertensão estágio 1 140-159 90-99 Hipertensão estágio 2 160- 179 100-109 Hipertensão estágio 3 ≥ 180 ≥ 110 Hipertensão sistólica ≥ 140 < 90 Isolada Quando as pressões sistólicas e diastólicas situam-se em categorias diferentes, a maior deve ser utilizada para classificação da pressão arterial. Fonte: Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial VI - 2010 (2) Se considerarmos que a PA depende do débito cardíaco (DC) e da resistência periférica (RP) ao fluxo sanguíneo imposta pelas pequenas arteríolas, os valores da PA serão regidos pela fórmula: PA=DC x RP. HA muito se sabe que a elevação da PA é consequência da vasoconstrição arteriolar sistêmica (aumentado a RP). Esta vasoconstrição excessiva é decorrente do excesso de sal, de um predomínio das ações de hormônios e substâncias locais vasoconstritoras sobre as vasodilatadoras e do aumento da atividade do sistema nervoso simpático (vasoconstritor). Com o passar do tempo estas alterações funcionais induzem à proliferação celular e acúmulo de substâncias na matriz extracelular que espessam a parede arteriolar amplificando os efeitos funcionais anteriormente citados. 5,7,8 Independentemente dos valores pressóricos, a hipertensão arterial é, na maioria dos indivíduos, assintomática. Os sintomas relacionados à doença só irão ocorrer quando apresentar complicações cardíacas, vasculares e renais. 7,8 A hipertensão arterial provoca lesões no sistema cardiovascular e renal. As principais alterações encontradas no coração são a hipertrofia ventricular esquerda que predispõe à ICC, às arritmias e morte súbita e à cardiopatia isquêmica, em particular, o infarto do miocárdio. 5,7,8 O processo de aterosclerose é acelerado pela hipertensão arterial e as principais consequências são o AVC isquêmico, o infarto do miocárdio e a obstrução arterial de extremidades, particularmente de membros inferiores. 5,7,8 21 Já, a lesão de pequenos vasos é a responsável pelo comprometimento renal levando à DRC com necessidade de diálise e transplante renal e de retinopatia hipertensiva, uma causa possível de cegueira no adulto. 5,7,8 O tratamento da hipertensão arterial é extremamente importante, pois quando realizado de forma adequada promove redução de todas as conhecidas complicações da doença. 5,7,8 O tratamento é fundamentalmente multiprofissional e inclui mudanças no estilo de vida (retirando os fatores de risco) e, quando necessário, o uso de medicamentos. 5–8 Nos últimos anos, ocorreu uma importante expansão da Atenção Básica em Saúde, que, hoje, cobre cerca de 60% da população brasileira. 5–8 Em 2001, o MS lançou o Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes, materializado no Programa de Hipertensão Arterial e Diabetes (HiperDia), que constituiu um sistema de cadastro que permitia o monitoramento gerando in- formações para aquisição e distribuição de medicamentos de forma regular e organizada.11 O programa era uma ferramenta essencial para instrumentalizar a prática de atendimento aos usuários hipertensos e/ou diabéticos, gerando informaçõesque possibilitavam o conhecimento da situação e mapeamento dos riscos favorecendo a atenção aos usuários do SUS e minimizando os fatores condicionantes de complicações da doença.11 Entretanto, infelizmente o programa foi interrompido unilateralmente pelo Governo Federal. 11 Por outro lado, atendendo a essa política, o Governo Federal criou em 2011, vários programas que atendem às necessidades dos indivíduos com hipertensão arterial, a saber: O Programa Academia da Saúde, que visa à promoção de atividade física e tem meta de expansão para 4 mil municípios até 2015; no campo da alimentação saudável, o incentivo ao aleitamento materno tem sido uma importante iniciativa do MS, ao lado do Guia Alimentar para a População Brasileira, da rotulagem dos alimentos e dos acordos com a indústria para a eliminação das gorduras trans e, recentemente, para a redução de sal nos alimentos; programa Farmácia Popular/Saúde Não Tem Preço, que foi a expansão da atenção farmacêutica e a distribuição gratuita de mais de 15 medicamentos para hipertensão e diabetes (anti-hipertensivos, insulinas, hipoglicemiante, estatina, entre outros). 12 Entretanto, boa parte destes programas ainda está em fase de implantação ou atingem pequena parte da população. 22 1.4 Adolescência e Hipertensão Arterial Para a OMS e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) a adolescência é um processo biológico, de vivências orgânicas no qual se aceleram o desenvolvimento cognitivo e a estruturação da personalidade. Pode ser dividida em pré-adolescência (entre 10 e 14 anos) e a adolescência (dos 15 aos 19 anos). 13–15 É um período de intensas mudanças, quando ocorre a transição da puberdade para o estado adulto. Neste período acontece a perda do papel infantil gerando inquietação, ansiedade e insegurança frente à descoberta de um novo mundo. É um momento confuso, de contradições, de formação da identidade e da autoestima. 13–15 O mundo adulto repleto de responsabilidades e cobranças é desejado pela possibilidade de alcançar a tão sonhada liberdade, mas também muito temido. 14,15 A adolescência é também um período de vulnerabilidade física, psicológica e social. 15 A experiência da adolescência exige da família, dos profissionais de saúde e da educação uma atenção especial para esse indivíduo, ajudando-o a lidar com situações e dificuldades que podem gerar agravos à saúde. 13 As transformações da adolescência alteram o comportamento alimentar, influenciado por fatores internos (autoimagem, necessidades fisiológicas, valores, preferências e desenvolvimento psicossocial) e externos (Hábitos familiares, amigos, valores e regras sociais e culturais, mídia e modismos).13,15 Hábitos alimentares inadequados na infância e adolescência podem ser fatores de risco para doenças crônicas. Os adolescentes vivem o presente, não tomam cuidado com possíveis consequências de seus Hábitos alimentares, contribuindo para a aparição de fatores de risco e agravantes para sua saúde e, em particular, para a hipertensão arterial, cuja prevalência vem sendo crescente nesta faixa etária.16–19 Em relação à classificação dos valores pressóricos na infância e adolescência difere dos valores dos adultos e são apresentados na Tabela 2. 23 Tabela 2 - Classificação da pressão arterial para crianças e adolescentes menores de 18 anos de idade. Fonte: Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial VI – 2010. 5 A aferição da PA em crianças e adolescentes deve obedecer às regras adequadas e às medidas da bolsa de borracha devem ser ajustadas ao tamanho e circunferência do braço. Utilizando a metodologia apropriada para a determinação da PA, tem-se observado que a prevalência de hipertensão nesta faixa etária está nitidamente associada ao sobrepeso e à obesidade.20–23 A possibilidade de que a hipertensão arterial tivesse início na infância fez com que muitos pesquisadores realizassem estudos nessa faixa etária, de modo que, atualmente, evidências científicas confirmam esta hipótese. 16,17 Em lactentes e pré-escolares a hipertensão é incomum e, quando presente, geralmente indica doença subjacente. 16,17 Por outro lado, o excesso de peso e os antecedentes familiares de hipertensão arterial são os fatores que mais se associam à elevação da pressão arterial em crianças e adolescentes em vários estudos em todo o mundo.16–23 Dois estudos recentes realizados em escolas do ensino médio em Sorocaba- SP reforçam esta observação e indicam que aproximadamente 16% dos jovens com idade média de 16 anos, já apresentam medidas da pressão arterial elevada. 22,23 Classificação da Pressão Arterial para Crianças e Adolescentes (Modificado do The Fourth Report on the Diagnosis, Evaluation and Treatment of High Blood Pressure in Children and Adolescents). Classificação Percentil para PAS e PAD Frequência de medida da pressão arterial Normal PA< Percentil 90 Reavaliar na próxima consulta Limítrofe PA entre percentis 90 a 95 ou se PA exceder 120/80 mmHg sempre <percentil 90 até < percentil 95 Paciente assintomático: reavaliar em 1 a 2 semanas; se hipertensão confirmada encaminhar para avaliação diagnóstica. Paciente sintomático: encaminhar para avaliação diagnóstica. Hipertensão estágio 2 PA> percentil 99 mais mmHg Encaminhar para avaliação diagnóstica. Hipertensão do avental branco PA> percentil 95 em ambulatório ou consultório e PA normal em ambientes não relacionados à prática clínica 24 O estudo de Moura et al. 21 avaliou a prevalência de PA elevada em escolares e adolescentes na faixa etária de 7 a 17 na cidade de Maceió em amostra de 1.253 crianças e adolescentes. Também foram coletados dados de peso, altura e a verificação da PA em duas medidas com intervalo de 2 minutos. 21 Foi detectada a elevação da PA em 9,4% dos alunos quando avaliadas as medidas isoladas e esta prevalência diminuiu para 7,7% quando a média das duas medidas foi considerada.21 A avaliação do estado nutricional pelo IMC detectou sobrepeso e obesidade em 9,3% e 4,5% das crianças estudadas. Nesse estudo, a prevalência de PA elevada foi 28,6% no grupo de crianças com sobrepeso.21 O estudo realizado por Garcia 24 avaliou a PA de 672 crianças escolares (idade variando de 2 anos a 10 anos e 11 meses) de Belo Horizonte de duas instituições de ensino. Uma escola era pública, situada em região de baixo índice de qualidade de vida urbana (IQVU), e a segunda era uma escola privada, situada em região de alto IQVU. 24 Os seguintes fatores de risco foram associados com a hipertensão arterial: estatura, IQVU e índice de massa corporal (IMC).24 Almeida23 realizou um estudo, comparando a prevalência de valores pressóricos elevados em adolescentes do segundo ano do ensino médio de escolas públicas e privadas em Sorocaba\SP, os resultados demonstraram que, embora nas escolas públicas os estudantes tivessem menor renda familiar e tivessem trabalho fora do lar com maior frequência, os valores da PA não diferiam com relação às escolas privadas.23 Entretanto, o estudo confirmou a relação entre a elevação da PA e o aumento do IMC em ambos os grupos de estudantes.23 Por se tratar de doença assintomática e de caráter progressivo, acredita-se que o período mais favorável para se realizar a prevenção primária seja na fase escolar educando o adolescente e os pais sobre a importância de alterações no estilo de vida desde a infância e adolescência, evitando desta forma as complicações decorrentes da PA elevada. 25 25 1.5 Educação para Saúde A educação desenvolve conhecimentos, atitudes, aptidões, estilo de vida, comportamentos e práticas pessoais que podem ser aplicados e compartilhados com a sociedade em geral. 26 Nessa perspectiva, as ações educativas favorecem o desenvolvimento da autonomia ao mesmo tempo em que atendea objetivos sociais.26 Educação para saúde é definida como sendo um conjunto de atividades que sofrem influência e modificação de conhecimentos, atitudes e condutas, sempre em prol da melhoria da qualidade de vida e de saúde do indivíduo. Educação em saúde é também entendida como uma forma de abordagem que proporciona a construção de um espaço importante na veiculação de novos conhecimentos e práticas relacionadas a Hábitos de vida saudáveis. Promove a mudança de Hábitos, atitudes e comportamentos individuais, mas também em grupos e no coletivo. Tais mudanças de conduta estão atreladas à aquisição de novos conhecimentos, ações e atitudes favoráveis à saúde. 27,28 Segundo a OMS, a educação em saúde é entendida como sendo uma combinação de ações e experiências de aprendizado planejado com o intuito de habilitar as pessoas a obterem controle sobre fatores determinantes e comportamentos de saúde. 29 “O ensino de saúde tem sido um desafio para a educação formal no que se refere à possibilidade de garantir uma aprendizagem ativa e transformadora de atitudes e Hábitos de vida”.27 As experiências evidenciam que transmitir conhecimento a respeito do funcionamento do corpo e das características das enfermidades, não é satisfatório para que os adolescentes desenvolvam um estilo de vida mais saudável. É necessário educar para a saúde levando em conta todos os aspectos envolvidos no desenvolvimento de Hábitos e atitudes que acontecem no dia-a-dia da escola. 27 São imprescindíveis métodos que contemplem as necessidades essenciais dos jovens, da busca pelo conhecimento motivando-os para que incorporem às suas vidas estilos que contribuam para mudança de conduta, aumentando as chances do controle das doenças mais comuns.27 26 Esta é a concepção de saúde que fundamenta os Parâmetros Curriculares Nacionais. Temas Transversais - Saúde. 30 Para pensar e atuar sobre a saúde é preciso romper com enfoques que dividem a questão, ou seja, todo o peso da conquista da saúde no indivíduo, em sua herança genética e empenho pessoal é tão limitado quanto considerar que a saúde é determinada apenas pela realidade social ou pela ação do poder público. Interferir sobre o processo saúde/doença está ao alcance de todos e não é uma tarefa a ser delegada, deixando ao cidadão ou à sociedade o papel de objeto da intervenção da natureza, do poder público, dos profissionais de saúde. Acreditar que cidadania é exercício de sujeitos do processo saúde/doença é a motivação essencial da educação para a saúde. 30 O uso crescente de material educativo como recurso na educação em saúde tem assumido um papel importante no processo de ensino-aprendizagem, nas intervenções terapêuticas e preventivas, principalmente nas doenças crônicas, pois melhora o conhecimento, mudando as atitudes e Hábitos das pessoas, facilitando- lhes a autonomia, tornando-as capazes a perceber como suas ações influenciam seus padrões de saúde. Mas para isso, as medidas educacionais devem ser contínuas e elaboradas de forma que as mensagens tenham vocabulário e conteúdo coerentes com o público-alvo. Devem ser convidativas, de fácil leitura e entendimento. 31 A educação pode ser feita de várias formas, desde as instruções individuais, onde se constrói a motivação e se faz o feedback daquilo que já foi orientado, ou educação em grupo, dando oportunidade de aprendizagem através da experiência interativa de vários indivíduos, facilitando também a atuação do educador no sentido de atingir um número maior de pessoas. 32 1.6 Iniciativas Governamentais O Governo Federal através dos Ministérios da Saúde e do Ministério da Educação Instituiu em 2007 as políticas de saúde e educação voltadas às crianças, adolescentes, jovens e adultos da educação brasileira.33 Entre as políticas governamentais algumas se destacam pelo seu potencial educativo e preventivo. O Programa Saúde na Escola (PSE) que promove e monitora ações no âmbito da avaliação nutricional e antropométrica, detecção precoce de hipertensão 27 arterial, promoção de atividades físicas, promoção da alimentação saudável e de segurança alimentar no ambiente escolar de todos os municípios brasileiros. 34 Foi realizada em 2009 a I Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), inquérito com cerca de 63 mil alunos do 9º ano das escolas públicas e privadas das capitais do Brasil e do Distrito Federal, feito como parceria entre o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e os Ministérios da Saúde e da Educação. 33 Em 2012 a pesquisa foi repetida e deverá acontecer a cada três anos.33 Os resultados dessa pesquisa quanto à avaliação nutricional mostraram que 43,3% dos escolares adolescentes consomem alimentos não saudáveis, 35% consomem salgados e 32,2% refrigerantes. 33 Com relação à atividade física, 30,1% são ativos (realizam 300 minutos ou mais de atividade física por semana), 63,1% são insuficientemente ativos e 6,8% são inativos. 33 Curiosamente 79,4% ficam sentados 2 horas ou mais por dia diante da TV e 6% são fumantes. 33 As PeNSE de 2009 e 2012 resultaram na Semana Saúde na Escola 2012. O contexto de enfrentamento do aumento epidêmico da obesidade na infância e na adolescência e a repercussão da temática da obesidade na mídia nacional, fez com que o tema fosse retomado em 2013, acompanhado da temática da saúde ocular e do Projeto Olhar Brasil, ambos como temas centrais da Semana. 34 Outros temas importantes com ações previstas para a Semana para o público das séries finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio são: prevenção ao uso do álcool, tabaco, crack e outras drogas, educação para a saúde sexual, saúde reprodutiva e prevenção das DST/AIDS, promoção de direitos humanos, das práticas corporais, atividade física e lazer nas escolas”. 34 Em 2013, o Ministério da Saúde junto com Ministério da Educação criou um guia de sugestões de atividades para ser trabalhada durante a “semana saúde na escola”, cujo principal objetivo é fornecer um conjunto de atividades capazes de estimular e enriquecer o trabalho educativo dos profissionais de saúde e educação, sendo seus princípios a promoção e prevenção de agravos à saúde de escolares, dando início a uma mobilização temática prioritária de saúde, que deverá ser trabalhada ao longo de todo ano letivo nas escolas. 33 A ideia é investir na formação de bons Hábitos desde a infância, pois se uma criança cresce em um ambiente de vida saudável, a tendência é que se torne um adulto saudável. Cerca de 12 milhões de estudantes em 56 mil escolas de 2.495 municípios já participaram do programa. 28 28 A Gestão do Programa Saúde na Escola é centrada em ações compartilhadas, desenvolvidas por meio dos Grupos de Trabalho, sendo realizadas coletivamente de forma a atender às necessidades, aproveitando o espaço privilegiado da escola para práticas de promoção e prevenção da saúde. 28 “A articulação entre Escola e Rede Básica de Saúde é fundamental para o Programa Saúde na Escola, pois é uma estratégia de integração da saúde e educação, pois desenvolve vários programas nas mais diversas áreas da educação, privilegiando a escola como espaço para a articulação das políticas voltadas aos adolescentes e jovens, garantindo educação para todos e promoção de saúde". 28 Estes programas abordam vários temas motivadores para os adolescentes, sendo usado pelo educador como estratégia para disseminar o conhecimento gerando articulações para a prática proporcionando assim, oportunidades impar para o exercício da cidadania. 28 Nesse mesmo sentido, o Governo do Estado de São Paulo vem implementando ações nas escolas, através do Programa Alimentação Saudável com o objetivo de ensinar e incentivar mudança no perfil nutricional estimulando Hábitos saudáveis aos alunos da rede estadual de educação. Essas ações são promovidas pela Secretaria Estadual da Educação,em parceria com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). 35 Além de pesar e medir os estudantes, o programa inclui o questionário sobre os Hábitos alimentares e a prática de atividade física. Os alunos serão acompanhados e passarão por novo controle após seis meses do início da intervenção para a verificação dos resultados obtidos. 35 Em entrevista ao Diário Oficial do Estado de São Paulo, Carlos Alberto Machado, diretor de saúde cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia, salienta que 55% dos brasileiros estão com sobrepeso ou são obesos, de acordo com pesquisa do MS. Essa alteração indica a possibilidade de aumento de doenças como diabetes, hipertensão e excesso de colesterol. O cardiologista ressalta que metade das 320.000 mortes por ano, resultantes de doenças cardiovasculares, poderiam ser evitadas com trabalho preventivo e tratamento adequado. “Prevenir custa pouco; caros são os tratamentos complexos, as cirurgias, as sequelas, as aposentadorias. A saúde na infância evita a doença do adulto. Por isso, é importante manter estilo de vida saudável”.35 29 1.7 O Ensino Médio – programas educativos e de promoção à saúde. O ensino médio é um sistema de ensino com características distintas conforme o país. No Brasil, o ensino médio tem se constituído, ao longo da história da educação, como o nível de maior complexidade na estruturação de políticas públicas, enfrentando desafios estabelecidos pela sociedade, em decorrência de sua própria natureza, pois se trata de etapa intermediária. 27 O ensino médio corresponde à última etapa da educação básica, normalmente com idades entre os 14 e os 17 anos e cuja intenção é o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, assim como a formação do cidadão para a vida social e para o mercado de trabalho, proporcionando conhecimentos básicos e necessários para o educando ingressar no ensino superior. 27 A Lei n.º 9394, de 20 de dezembro de 1996, denominada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), estabelece sua regulamentação específica de acordo com o currículo, podendo ser realizado em paralelo com a educação profissional de nível técnico. No Brasil é chamado de ensino secundário o que hoje corresponde à segunda parte do ensino fundamental, a partir do sexto ano, e o ensino médio. A LDB deixa cada sistema livre para constituir os conteúdos do ensino médio. “Na maior parte dos sistemas de ensino, o ensino médio é composto pelo ensino de português junto com literatura brasileira e portuguesa, de uma língua estrangeira moderna (tradicionalmente o Inglês ou o Francês e, mais recentemente, o Espanhol), das ciências naturais (Física, Química e Biologia), da Matemática, das Ciências Humanas (História e Geografia primariamente, Sociologia, Psicologia e Filosofia), Artes, de Informática e de Educação “Física”.27,36 “Em suas práticas pedagógicas, a escola adotou sistematicamente uma visão reducionista de saúde, enfatizando os seus aspectos biológicos”. 27 Desde o século passado, ainda que não se tivesse destinado um espaço específico para abordar a questão, os conteúdos relativos à saúde e doenças foram sendo incorporados ao currículo escolar brasileiro de uma maneira que refletia as mesmas mudanças e perspectivas com as quais esses temas eram socialmente abordados. Assim, disciplinas como Higiene, Puericultura, Nutrição e Dietética ou Educação Física, e, mais recentemente, Ciências Naturais e Biologia, divulgaram conhecimentos http://pt.wikipedia.org/wiki/Ensino 30 referente aos mecanismos pelos quais os sujeitos adoecem ou asseguram sua saúde.27 As diretrizes curriculares do ensino médio são regulamentadas pela Resolução 2 de 30 de janeiro de 2012.37 Nesta resolução estão previstos que a prática de educação física deve integrar o currículo, mas é facultada “nos casos previstos por lei”. 37 Em seu artigo 10 item II, a resolução também prevê o “tratamento transversal e integradamente, permeando todo o currículo, no âmbito dos demais componentes curriculares, a educação alimentar e nutricional, o processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria. A educação ambiental e a educação para o trânsito”.37 Assim, introduzir e estimular a discussão, a prática e a educação de hábitos higienodietéticos saudáveis no ensino médio está perfeitamente dentro do espírito das normas curriculares. Contudo, pouco é feito neste sentido na maioria das escolas, pois elas não priorizam esta área curricular e os profissionais e os docentes da área que trabalham na saúde, mantêm-se distantes deste cenário de atuação educacional. 37 A escola precisa enfrentar o desafio de permitir que seus alunos reelaborem conhecimentos de maneira a construir valores, desenvolver habilidades e práticas favoráveis à saúde. Nesse processo, espera-se que possam estruturar e fortalecer comportamentos e hábitos saudáveis, tornando-se sujeitos capazes de influenciar mudanças que tenham repercussão em sua vida pessoal e na qualidade de vida da família e da coletividade. 38 Nesta perspectiva de contribuir com a promoção da saúde e prevenção primária da hipertensão arterial é que o presente estudo foi idealizado. Entretanto, para entendermos qual a melhor abordagem para conseguirmos estas metas precisávamos inicialmente conhecer os conceitos, percepções e representações que o problema "hipertensão arterial - hábitos de vida e risco futuro" tem para os alunos do ensino médio. Conhecendo estas premissas e partindo-se do pressuposto de que as escolas devem oferecer programas de educação em saúde, deveríamos propor atividades educativas que motivassem estes jovens a terem ações preventivas e de promoção à saúde. A linha de pesquisa escolhida do Programa de Estudos Pós-Graduados Educação nas Profissões da Saúde foi "educação em saúde, ambiente e qualidade 31 de vida" que se relaciona com o papel da educação no controle de futuras doenças e na qualidade de vida das pessoas. 32 2 OBJETIVOS Analisar o conhecimento e as percepções que o jovem estudante do ensino médio tem sobre a hipertensão arterial e suas complicações futuras; Identificar a partir das sugestões dos alunos as estratégias educativas motivadoras para a prevenção da doença diminuindo o risco cardiovascular futuro e promovendo saúde; Compreender como o cenário escolar pode contribuir para a educação e promoção da saúde. 33 3 - REFERENCIAL TEÓRICO No século XX Serge Moscovici foi o primeiro cientista a utilizar o conceito de representação social, renovando e confirmando a especificidade da Psicologia Social a partir da mediação entre o individual e o social, que para o autor desempenham a função específica, seja em qualquer sociedade, contribuindo para os processos de formação de condutas e de orientação das comunicações sociais. As representações sociais (RS) manifestam-se em palavras, sentimentos e condutas que se institucionalizam, despontando como uma nova maneira de interpretar o comportamento dos indivíduos e dos grupos sociais. Portanto, podem e devem ser analisadas a partir da compreensão das estruturas de comportamentos sociais. 39 A representação não é um simples reflexo da realidade, carrega em sua construção o contexto social e ideológico, lugar do indivíduo na organização social, história do indivíduo e do grupo, determinantes sociais, sistemas e valores.40 Na área da saúde e educação a Teoria das Representações Sociais (TRS) tem sido um valioso referencial para a construção de intervenções, pois permite compreender e explicar a realidade que se revela nos grupos sociais para os quais a intervenção está voltada e ainda confrontar diferentes representações em relação a um objeto social. A hipertensão arterial por ser uma doença muito prevalenteno adulto é um tema que faz parte das relações interpessoais do dia a dia, prende a atenção, o interesse, a curiosidade das pessoas e a necessidade de saúde demanda a sua compreensão. A hipertensão na adolescência, na atualidade, é um tema em evidência, a medida que os comportamentos e os perfis epidemiológicos denunciam um risco crescente para essa faixa etária que também é um foco para o estímulo às condutas preventivas de doenças cardiovasculares. Nesse sentido, neste estudo, buscou-se o conhecimento dos adolescentes sobre hipertensão arterial, levando, dessa forma, a compreensão e a contribuição destes atores na direção de propostas de intervenções mais específicas, como descrito a seguir no método. 34 4 MÉTODO 4.1 Características da pesquisa realizada Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e de abordagem qualitativa. Os métodos de pesquisas qualitativas são menos estruturados, proporcionam um relacionamento mais longo e flexível entre o pesquisador e os entrevistados, e lidam com informações mais subjetivas, amplas e com maior riqueza de detalhes.41 A escolha dessa abordagem permite compreender processos de construção da realidade por determinados grupos sociais, entendendo melhor as práticas cotidianas, ações e reações a fatos e eventos, percepções, crenças, hábitos, vivências, valores, restrições, preconceitos, linguagens, comportamentos e atitudes de pessoas que partilham traços comuns e relevantes para o estudo do problema em foco. A pesquisa qualitativa trabalha com características bem definidas, pois se preocupa em responder as questões particulares que não podem ser quantificadas, remete ao significado das ações e relações humanas, buscando resultados os mais fidedignos possíveis. 39 4.2 Local e período do estudo. A pesquisa foi realizada no período de novembro de 2011 a novembro de 2012, no município de Sorocaba-SP. A cidade está localizada na região sudoeste do Estado de São Paulo, a 87 quilômetros de distância da capital do Estado, com 586 mil habitantes. 42 Sorocaba conta atualmente com um total de 206 escolas públicas, divididas em 125 escolas municipais, das quais somente 44 oferecem o ensino médio. 43 Oitenta e uma escolas estaduais sendo que 43 destas oferecem o ensino médio. 44 Participaram deste estudo três escolas, sendo duas estaduais e uma particular localizadas em diferentes áreas do município, que serão descritas posteriormente. 35 4.3. Sujeitos / Atores da Pesquisa A escolha dos atores foi baseada no contato prévio com as escolas, questionando-se o interesse de participação no estudo, sem qualquer seleção adicional, exceto ser aluno do segundo ano do ensino médio. O universo dos participantes foi composto por estudantes matriculados na segunda série do ensino médio das escolas escolhidas, distribuídos em quatro grupos focais formados por 19 meninos e 29 meninas. As discussões em grupo tinham a finalidade de diagnosticar as diferentes visões e percepções que o estudante do ensino médio tem sobre a hipertensão arterial e suas complicações futuras, identificar a partir das sugestões dos alunos as estratégias educativas motivadoras para a prevenção da doença diminuindo o risco cardiovascular futuro e promovendo saúde. Pretendíamos também compreender como o cenário escolar pode contribuir para a educação e promoção da saúde. Os grupo foram formados com o número mínimo de seis e o máximo de 15 participantes, em conformidade com o que é recomendado por Nogueira-Martins e Bogus. 45 A amostragem foi baseada nas características homogêneas dos participantes, mas com suficiente variação entre eles para que pudessem existir opiniões divergentes. 46 4.4 Aspectos Éticos Após apresentação da proposta da pesquisa e autorização das escolas a coordenação da escola encaminhou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),(APÊNDICE A), aos alunos interessados em participar da pesquisa. Se estivessem de acordo, deveriam assinar e levar a seus pais ou responsáveis para que também o assinassem, obedecendo aos aspectos éticos e legais da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde – MS, referente à pesquisa envolvendo seres humanos, ficando garantidos o sigilo, a liberdade de recusa ou a desistência de participação em qualquer fase da pesquisa. 47 O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (CEP-FCMS-PUC/SP) (ANEXO A). 36 4.5. Identificação e caracterização dos alunos A caracterização socioeconômica dos alunos participantes foi realizada com o auxílio de um questionário com questões fechadas sobre os dados de identificação e sóciodemográficos, necessários para caracterização dos participantes e foram preenchidos no início dos encontros (APÊNDICE B). 4.6. Locais de realização do estudo O estudo foi desenvolvido em três escolas do Município de Sorocaba-SP, sendo duas escolas estaduais e uma particular, frequentadas por alunos de classes sociais distintas. Todos os participantes eram alunos do 2º ano do ensino médio. Em cada escola foram realizados dois encontros, com os grupos. Uma das escolas (ETEC) houve a inclusão de dois grupos, sendo um grupo piloto. Colégio Uirapuru A formação desse grupo se deu através de uma carta convite (APÊNDICE C), dirigido à coordenadora do Colégio Uirapuru, sendo esta uma escola particular, localizada na Av. Professor Arthur Fonseca, 633. Jd. Panorama - Sorocaba -SP. O colégio Uirapuru é composto pelos educadores do Berçário, Pré-Escola, Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II e Ensino Médio. Essa escola possui uma boa infraestrutura física e o ensino estende-se do Berçário ao Ensino Médio. Como espaços pedagógicos, dispõe de laboratórios de ciências, midiateca, ginásio poliesportivo, piscina coberta, recursos tecnológicos como computadores, lousas eletrônicas e outros ambientes especiais à estimulação e vivências práticas na educação. Nessa escola, os alunos do Ensino Médio têm aulas no período matutino e, em três dias da semana, também no período vespertino. A escola considera que esta última etapa da Educação Básica apresenta características bastante específicas, pois se configura como um período para a estruturação das raízes dos projetos de vida – pessoal e profissional – dos alunos, marcando o início da vida adulta e a preparação para o vestibular. 37 O Ensino Médio do Uirapuru, com a duração de 3 anos, tem como finalidades: “A consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina”. A descrição da proposta pedagógica, do colégio, propõe ser “formadora, onde o aluno é estimulado a participar, a perguntar, a raciocinar, a resolver problemas, conciliando teoria e prática, transpondo conhecimentos entre diferentes áreas, percebendo que valores e conhecimentos andam juntos”.48 Escola Técnica Estadual Rubens de Faria e Souza (ETEC) Da mesma forma foi encaminhado um convite para a direção da escola, pedindo a autorização para que os alunos do segundo ano do ensino médio participassem da pesquisa. A escola está situada na região central da cidade de Sorocaba à Av. Comendador Pereira Inácio número 190. Funciona em três turnos e apresenta uma grande diversidade social. No períodomatutino, período no qual foi realizada a pesquisa, é oferecido o ensino médio “regular” e nos períodos vespertino e noturno o ensino médio profissionalizante (técnico). Esse colégio dispõe de uma biblioteca com aproximadamente 9.000 volumes, entre livros técnicos, livros de literatura (brasileira e estrangeira), livros didáticos; revistas de assuntos gerais; divulgação de material através de redes sociais; serviço de internet; disponibilidade de três jornais (Cruzeiro do Sul, Bom Dia e Folha de São Paulo) por assinatura; aproximadamente 200 títulos em DVD, entre filmes e material técnico. A biblioteca possui dez computadores disponíveis aos alunos e um bom acervo virtual. “A política pedagógica vigente na ETEC é a formação integral do aluno, garantindo a formação de competências necessárias para o pleno exercício da cidadania e do trabalho” e, para a realização desta proposta, os professores da ETEC estão ininterruptamente modernizando suas propostas de trabalho, 38 aprofundando as experiências positivas e ajustando as que proporcionam respostas abaixo das esperadas. “Sempre atenta à legislação educacional e às políticas educacionais vigentes, a ETEC procura desenvolver um trabalho de vanguarda educacional, implementando inovações educacionais de gestão escolar, que tragam como objetivo o efeito da aplicação dos recursos públicos, tanto na educação básica (Ensino Médio), como na profissional (educação técnica de nível médio) e segurança de um excelente serviços educacional proporcionados à sociedade”. 49 O Projeto Pedagógico é a identidade da escola. Nele estabelecem as diretrizes referentes ao método de ensino-aprendizagem, atento à aplicação das diretrizes educacionais. “Hoje todos os cursos trabalham orientando os projetos de ensino usando metodologias ativas, que premiam a formação do aluno e o atendimento à comunidade, à interdisciplinaridade, da formação do estudante, despertando no aluno novos conhecimentos e habilidades de participar eticamente da vida em comunidade, colaborando com a melhoria das condições de vida da comunidade. A escola proporciona ainda atividades produtivas (agrícolas), em que a proposta pedagógica e a participação / relevância da Cooperativa- Escola e/ou Empresa Jovem como instrumento metodológico”. 49 No Ensino Médio, além das disciplinas comuns ao currículo de outras instituições de ensino, a escola possui disciplinas e projetos em várias áreas de conhecimento como: 49 “Ações de cidadania, que possibilitam ao aluno desenvolver trabalhos de ações comunitárias; educação; divulgação e defesa de direitos; campanhas; prestação de serviços à comunidade; trabalhos voluntários em associações e organizações sociais e outros”, “Ações de defesa e proteção ao ambiente, realizando pesquisas e ações diagnosticando problemas causados ao ambiente, apresentando possíveis formas de solucioná-los e estimular a comunidade a se mobilizar em sua defesa.” “Projetos Técnicos-Científicos que envolvem análise, discussão e promoção de ações em relação ao combate ao desperdício (de água, energia, alimentos, materiais de consumo e outros); aproveitamento do lixo; uso de tecnologias; inovações tecnológicas e a prevenção de doenças”. A escola possui ainda serviço de informação e comunicação em diferentes mídias e códigos de linguagem, produção de jornais, revistas, quadrinhos, cartilhas, CD-Rom, programas de rádio e vídeos. A finalidade é formar técnicos cada vez mais capacitados a atuarem de forma inovadora nas diversas atividades industriais e de serviços. 49 39 Escola Estadual Wanda Costa Daher Para a participação dos alunos desta escola foi encaminhada uma carta convite ao Diretor da Escola Estadual Wanda Costa Daher, localizada na Av. Chico Xavier, 240 – bairro Ana Paula Eleutério (Habiteto), Sorocaba–SP, um bairro da Zona Norte que teve origem em um conjunto habitacional criado no município. A escola é frequentada por alunos oriundos de uma população de baixa renda 50 e a escola funciona em três turnos oferecendo Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação de Jovens e Adultos. Essa escola oferece a seus alunos um laboratório de informática com computadores, internet, laboratório de ciências e sala de leitura. O portal da escola na internet não apresenta proposta pedagógica, mas entendemos que deva seguir as orientações presentes nas diretrizes curriculares elaboradas pelo Conselho Nacional da Educação e nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCN), ou seja, “o currículo organiza o espaço e o tempo de acordo com as necessidades de ensino, considerando as orientações contidas”. 50 51 4.7 Procedimentos de Coleta de Dados Levando-se em conta que pode haver diferenças de opiniões e comportamentos determinados pela classe social dos participantes da pesquisa, com a finalidade de extrair de cada um deles as diferentes percepções sobre o tema assim como a discussão coletiva, 39 decidimos que o estudo deveria ser conduzido através da Técnica de Grupo Focal, pois esta estratégia metodológica permite agrupar diferentes atores num mesmo espaço de investigação, promovendo a reflexão crítica sobre o cotidiano de ensino e aprendizagem. 52 O grupo focal é composto por um pequeno número de sujeitos (de seis a quinze), selecionados com base em suas características, homogêneas ou heterogêneas, em relação ao assunto a ser discutido, cujas vivências sejam pertinentes ao objeto de estudo na pesquisa, isto é, neste tipo de pesquisa a amostra é sempre intencional. 53 Para realização da Técnica de Grupo Focal é necessário a presença de um coordenador, que deve garantir um ambiente que possibilite a expressão de todas as 40 opiniões dos participantes sem que isso leve a um clima de disputa. O coordenador atua como facilitador do processo e mantendo a discussão sobre o tema central, fazendo sumarizações da discussão, sempre que necessário, auxiliando o grupo a fazer uma reflexão conjunta, ou a trazer novas questões para aprofundamento. 54 Há também a presença de um observador, que assume a tarefa de registrar todos os acontecimentos no grupo, incluindo os aspectos não verbais presentes na comunicação dos participantes, do inicio ao final do encontro. Enquanto estratégia, a Técnica de Grupo Focal gera resultados com maior diversidade e profundidade das respostas, produzindo informações com maior riqueza de detalhes, permitindo aos pesquisadores que observem pontos consensuais e as divergências do discurso opinativo presente no processo, revelando as percepções que o aluno tem sobre o tema hipertensão arterial. 39,53,54 Os encontros dos grupos focais foram realizados entre novembro de 2011 a novembro de 2012 em uma sala de aula disponibilizada pelas escolas. Os participantes tiveram permissão da direção para se ausentar das suas atividades rotineiras para a participação na pesquisa, sem prejuízo de seus afazeres. Em cada escola foram realizados dois encontros com duração de 90 minutos cada um. As atividades desenvolvidas com os grupos foram gravadas em áudio para permitir o registro fiel de todas as discussões ocorridas entre os participantes. O orientador da pesquisa desempenhou a função de coordenador em todos os grupos, a pesquisadora participou como observadora sempre acompanhada da presença de outro observador colaborador. Seguindo os pressupostos do Grupo Focal, 55 por ocasião dos primeiros encontros, foram realizados inicialmente o contato grupal, momento em que foram informados e esclarecidos sobre a pesquisa e sua participação e o recolhimento dos TCLE assinados pelos pais/e ou responsáveis, bem como as regras pactuadas para a participação do grupo (APÊNDICE D). Em seguida os alunos preencheram o instrumento com os dados demográficos (APÊNDICE B) seguido da leitura um texto disparador, uma notícia divulgada na mídia, que naépoca foi bastante significativa, pois tratava-se de uma situação real vivenciada por um técnico de futebol, com o objetivo de “provocar” discussões, que pode ser visto na página seguinte. 41 Figura 2- Texto disparador Fonte: Entrevista 56 . Com certeza você já ouviu falar de pessoas que estando “muito bem”, de repente, sofreram um “ataque cardíaco”, tiveram um “derrame cerebral” ou precisaram realizar hemodiálise como um tratamento preparatório para o transplante renal. HA muitos exemplos de pessoas famosas, mas isto não vem ao caso, pois o comum é isto ocorrer com pessoas próximas a nós. Embora estas complicações ocorram com maior frequência em idosos, muitas vezes surpreendem-nos na plenitude de nossas vidas. http://globoesporte.globo.com/futebol/times/vasco/noticia/2011/08/ricardo-gomes-sera-reavaliado-na-manha-desta-terca.html O AVC de Ricardo Gomes Ricardo Gomes passou mal por volta de 20 minutos do segundo tempo do clássico entre Flamengo e Vasco. O treinador, inicialmente, foi atendido pelo médico do Vasco Fernando Mattar no próprio banco de reservas. Em seguida, ele não consegui se levantar e teve de ser carregado até a ambulância, que o levou para o centro médico do estádio. Após passar por vários exames o técnico foi encaminhado para o Hospital Pasteur, que fica no Méier, bairro nas proximidades do Engenhão. Segundo o primeiro boletim médico, Ricardo Gomes, cuja pressão chegou a 19 por 12, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) com hemorragia. Ele está na UTI e passa por operação prevista para durar três horas. A causa de acidente vascular cerebral hemorrágico mais comum é a hipertensão arterial (pressão alta). Os homens entre 50 e 60 anos estão entre 42 Em seguida, o coordenador do grupo seguiu um roteiro com perguntas disparadoras pré-estabelecidas, considerando as recomendações de Minayo, de que estas devem fazer parte do delineamento do estudo, ampliando e aprofundando a comunicação entre o grupo a respeito dos fatos, relações e ponto de vista dos sujeitos. 39 (APÊNDICE E). 4.8 Procedimentos de Análises Os dados sócio demográficos foram analisados estatisticamente considerando a frequência . O material obtido nos grupos foi transcrito e analisado segundo a "Análise de Conteúdo", na perspectiva da Análise Temática51. Bardin define a Análise de Conteúdo como: Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos à condições de produção/recepção destas mensagens 51 Na busca de atingir os significados manifestos e latentes no material qualitativo, têm se desenvolvido várias técnicas como análise de expressão, análise das relações, análise temática e análise da enunciação.51 A análise de conteúdo permitiu atender às inúmeras necessidades da pesquisa, pois ultrapassa as incertezas e enriquece a leitura dos dados coletados, sendo sempre realizadas por categorias, funcionando através de desmembramento do texto em unidades seguindo reagrupamentos. 54 A escolha pela Análise Temática deu-se por ser a forma que melhor se ajusta aos objetivos da pesquisa. Segundo Mynaio39 a Análise Temática busca entender o conhecimento, impressões, crenças que os estudantes do ensino médio tinham sobre a hipertensão arterial, com a finalidade de compreender o pensar, o sentir e o agir, que norteiam os alunos na construção do seu cotidiano. 39 O processo de análise dos dados foi realizado em etapas: Na primeira, uma pré-análise, pautada na "leitura flutuante" do material, repetidas vezes, até atingir uma "impregnação" do conteúdo.54 Na segunda etapa os dados foram sistematizados segundo os temas discutidos nos grupos focais de acordo com a análise temática proposta por Minayo.39 Na etapa seguinte realizamos a exploração do material, transferindo os discursos, dividindo-os de acordo com os temas, a partir 43 das unidades de significados (categorias e subcategorias). A seguir elaboramos quadros individuais por categoria e posteriormente, um quadro geral, para cada uma das questões disparadoras. 4.9 Apresentação das análises do material obtido nos grupos focais. Realizamos inicialmente a transcrição de cada grupo focal. Em seguida foi feita a leitura e a releitura do material. Para a organização e apresentação dos resultados, foram construídas categorias, de acordo com os temas, e levando em conta as respostas dos participantes. Para apresentação dos resultados, escolhemos seguir o padrão decrescente, ou seja, da escola com maior poder aquisitivo para a de menor concentração de renda. Para apresentação do detalhamento da análise de conteúdo de cada grupo focal, seguimos os temas/categorias de acordo com os objetivos da pesquisa, que foram desmembrados em subtemas/categorias.(APÊNDICES de F a O.). 44 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Como esperado, o questionário sócio demográfico apontou algumas diferenças marcantes entre as escolas estudadas, entre elas, a presença de afrodescendentes (pardos) somente nas escolas públicas; a renda familiar e a escolaridade dos pais foram crescentes à medida que partimos da escola pública da periferia, para a escola pública central e para a escola particular. Outro aspecto em que os alunos das escolas públicas diferem dos demais é a maneira eles vão à escola, pois utilizam o transporte público ou vão à pé. Os fatores socioeconômicos desempenham papel essencial no desenvolvimento físico, psicológico e social das crianças e adolescentes. As desigualdades socioeconômicas são determinantes das condições econômicas, culturais, biológicas e ambientais nas quais os indivíduos e grupos familiares estão inseridos, podendo constituir fatores diferenciais da situação de saúde. 33 Tabela 3 - Distribuição das Variáveis Demográficas e Sociais de acordo com as Escolas Pesquisadas Variável Escola Pública Estadual Escola Técnica Estadual Escola Particular Número de Participantes Masculinos ( n= 19) 3 11 5 Femininos (n=29) 9 11 9 Total (n=48) 12 22 14 Autodefinição da raça Brancos 7 19 14 Pardos 5 3 0 Religião Sem religião 0 2 3 Católicos 6 17 7 Evangélicos 5 3 0 Espíritas 1 0 4 Renda Familiar 1 a 3 salários mínimos 10 6 0 3 a 5 salários mínimos 2 11 3 5 a 10 salários mínimos 0 5 9 + 10 salários mínimos 0 0 2 Nº de Pessoas que Contribuem para Renda Familiar. Uma 3 4 5 Duas 6 13 7 45 Três 2 5 2 Quatro 1 0 0 Meio de Informação que mais usa. a)Jornal 2 2 0 b)TV 3 8 3 c)Rádio 2 0 0 d)Revistas 1 0 0 e)Internet 4 12 11 f)Outros 0 0 0 Escolaridade dos Pais Sem escolaridade 3 0 0 Ensino Fundamental 4 7 0 Ensino Médio 5 10 3 Ensino Superior 0 5 6 Mestrado ou Doutorado 0 0 5 Não sei informar 0 0 0 Meio de Transporte utilizado para ir a escola. A pé 8 2 2 Família/ carona 0 3 9 Bicicleta 0 2 0 Transporte coletivo 4 11 0 Transporte escolar 0 4 3 Atividades no tempo livre a)TV 3 3 1 b)Religião 2 1 0 c)Cinema 0 2 2 d)Música 3 3 2 e)Leitura 0 0 1 f)Internet/Comutador/Celular 4 11 8 g)Esportes 0 1 0 h)Outras 0 1 0 Pratica atividade física na escola? Sim 0 13 3 Não 12 9 11 Pratica atividade física fora da Escola? Não pratica 12 14 11 Pratica 2 8 3 Pratica Atividade Física para: Manter a forma física 0 5 2 Evitar doenças 2 2 0 Recuperar a saúde 0 0 0 Por prazer 0 1 1 Recebe Orientação para prática de Atividade Física. Sim 0 5 0 46 Não 0 3 0 Prof. ED. Física 2 5 3 Agente de saúde 0 0 0 Médico. 0 0 0 Cuidados especiais com
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