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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL Curso de Arquitetura e Urbanismo NOTAS DE AULA DA DISCIPLINA Abril/ 2014 APRESENTAÇÃO Este material tem por objetivo auxiliar o aluno que cursa a disciplina ESTRUTURAS DE CONCRETO (GAU048), obrigatória para o Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Uberlândia. Estas notas de aula resultam principalmente da reunião de textos da literatura e do curso de engenharia civil da UFU, não constituindo, portanto, trabalho original. O objetivo aqui é de reunir em um único documento a descrição dos diversos assuntos correlacionados com estruturas de concreto, de maneira pedagógica e atualizada, facilitando a consulta por parte dos alunos. O texto busca dar ao aluno noções básicas de concepção e análise estrutural, montagem do carregamento, identificação e compreensão da forma de atuação dos esforços solicitantes, pré-dimensionamento e detalhamento dos elementos estruturais. As formulações e análises apresentadas são enfocadas principalmente para edificações comuns, onde o material da estrutura portante é o concreto. São explorados os seguintes temas: • Concepção e análise de projetos estruturais; • Ações e segurança nas estruturas de concreto; • Constituição e comportamento do material; • Solicitações normais e tangenciais no estado limite último; • Estados limites de utilização; • Lajes, vigas e pilares de edifícios: comportamento, armaduras e pré-dimensionamento. São abordados igualmente seis temas complementares, com noções básicas de: • Escadas de edifícios; • Elementos estruturais de fundação; • Estruturas em concreto protendido; • Estruturas em concreto pré-moldado; • Alvenaria estrutural; • Estruturas do tipo casca. Deve-se salientar que as análises e pré-dimensionamentos aqui apresentados servem como orientação ao aluno, não devendo ser considerados como abordagens únicas e completas. É importante que o aluno aprofunde e atualize seus conhecimentos nos temas expostos, buscando outras fontes de informação. Uberlândia, abril de 2014. Prof. Jesiel Cunha SUMÁRIO 1 Histórico e aplicações......................................................................................... 1 2 Projeto estrutural................................................................................................ 4 2.1 Elementos estruturais...................................................................................... 4 2.2 Projeto estrutural............................................................................................ 6 3 Ações e segurança nas estruturas...................................................................... 31 3.1 Ações nas estruturas....................................................................................... 31 3.2 Segurança nas estruturas................................................................................ 32 3.3 Verificação da segurança................................................................................. 35 3.4 Combinações das ações................................................................................... 36 3.5 Valores de cálculo das resistências................................................................... 37 3.6 Valores aproximados dos coeficientes de segurança........................................... 37 3.7 Valores de cargas permanentes e variáveis....................................................... 38 3.8 Ação do vento................................................................................................. 40 3.9 Outros tipos de carregamento.......................................................................... 42 3.10 Verificação dos Estados Limites de Utilização................................................... 43 3.11 Carregamento aproximado dos elementos estruturais...................................... 45 4 Constituição e comportamento do material...................................................... 48 4.1 Elementos estruturais...................................................................................... 50 4.2 Concreto simples............................................................................................. 50 4.3 Armaduras...................................................................................................... 51 4.4 Aderência....................................................................................................... 52 4.5 Deformações do concreto armado.................................................................... 53 4.6 Efeitos da variação de temperatura.................................................................. 53 4.7 Propriedades elásticas do concreto................................................................... 54 4.8 Cobrimento das armaduras.............................................................................. 54 4.9 Ancoragem das armaduras.............................................................................. 56 4.10 Emendas das armaduras................................................................................ 57 4.11 Outros temas tratados pela norma.................................................................. 58 5 Solicitações normais no estado limite último.................................................... 59 5.1 Estádios de cálculo.......................................................................................... 59 5.2 Diagrama geral das deformações..................................................................... 62 5.3 Tipos de ruptura............................................................................................. 63 5.4 Formas de ruptura.......................................................................................... 63 5.5 Flexão normal simples no estado limite último em seções retangulares............... 64 6 Solicitações tangenciais (cisalhamento)........................................................... 66 6.1 Diagramas das tensões.................................................................................... 67 6.2 Analogia à treliça de Mörsch............................................................................ 67 6.3 Dimensionamento ao cisalhamento................................................................... 68 6.4 Torção em seções retangulares........................................................................ 70 7 Lajes de edifícios................................................................................................. 72 7.1 Escolha do tipo de laje..................................................................................... 74 7.2 Classificação das lajes..................................................................................... 76 7.3 Geometria da seção transversal das lajes.......................................................... 79 7.4 Restrições normativas para a geometria............................................................ 80 7.5 Condições de apoio das lajes............................................................................ 81 7.6 Carregamento das lajes de edifícios.................................................................. 83 7.7 Cálculo dos esforços em lajes maciças.............................................................. 87 7.8 Armaduras em lajes maciças............................................................................ 89 7.9 Armaduras em lajes nervuradas....................................................................... 95 7.10 Deslocamentos limites................................................................................... 96 7.11 Pré-dimensionamento de lajes........................................................................ 98 8 Vigas de edifícios................................................................................................ 102 8.1 Carregamento de uma viga..............................................................................102 8.2 Geometria da viga........................................................................................... 103 8.3 Esforços solicitantes........................................................................................ 104 8.4 Detalhamento das armaduras longitudinais....................................................... 105 8.5 Detalhamento das armaduras transversais........................................................ 108 8.6 Exemplo de detalhamento das armaduras......................................................... 108 8.7 Pré-dimensionamento...................................................................................... 109 9 Pilares de edifícios.............................................................................................. 111 9.1 Carregamento de um pilar em múltiplos pavimentos.......................................... 112 9.2 Considerações de cálculo................................................................................. 113 9.3 Cálculo das armaduras longitudinais................................................................. 115 9.4 Disposições construtivas.................................................................................. 115 9.5 Detalhamento das armaduras.......................................................................... 118 9.6 Pré-dimensionamento..................................................................................... 119 10 Escadas de edifícios.......................................................................................... 121 10.1 Cálculo estrutural de escadas......................................................................... 123 10.2 Detalhamento das armaduras......................................................................... 129 10.3 Pré-dimensionamento.................................................................................... 130 11 Elementos estruturais de fundação................................................................. 132 11.1 Fundações profundas..................................................................................... 135 11.2 Fundações rasas............................................................................................ 140 11.3 Muros de arrimo............................................................................................ 143 12 Concreto protendido......................................................................................... 147 12.1 Conceitos relativos à protensão...................................................................... 150 12.2 Materiais empregados.................................................................................... 157 12.3 Sistemas de ancoragem................................................................................. 158 13 Estruturas de concreto pré-moldado............................................................... 160 13.1 Generalidades............................................................................................... 160 13.2 Projeto de estruturas em concreto pré-moldado.............................................. 162 13.3 Pré-dimensionamento.................................................................................... 165 14 Alvenaria estrutural.......................................................................................... 168 15 Estruturas do tipo casca................................................................................... 177 15.1 Definição e aplicações.................................................................................... 177 15.2 Comportamento estrutural............................................................................. 180 15.3 Pré-dimensionamento.................................................................................... 185 16 Pré-dimensionamento de estruturas complexas............................................. 186 Tabelas para concreto armado.............................................................................. 189 Bibliografia............................................................................................................. 191 1 1 Histórico e aplicações O concreto armado é o composto resultante da associação do concreto simples com barras de aço imersas. O concreto simples por sua vez é o aglomerado constituído de agregados e cimento como aglutinante. O concreto surgiu com o intuito de se criar uma rocha artificial, resistente, econômica e durável, que apresentasse a possibilidade de ser moldada em dimensões e formas variadas. A associação do concreto a uma armadura foi motivada pela necessidade de aumentar sua resistência, principalmente à tração. A utilização do concreto armado tal qual o conhecemos atualmente só foi possível efetivamente com o desenvolvimento do cimento Portland em 1824. A partir do final do século XIX, ocorreu um grande desenvolvimento do material, com a execução de obras com grandes vãos. Atualmente o Brasil é reconhecido internacionalmente pelo avanço no cálculo e na utilização do concreto armado, com obras arrojadas e criativas. As aplicações do concreto armado na construção civil são bastante amplas: edifícios residenciais, comercias e industriais, pontes, muros, reservatórios, barragens, etc. As figuras a seguir ilustram alguns exemplos. 2 Fonte: www.concretecontractor.com Fonte: www.belobrasil.ch Fonte: http://fr.structurae.de Fonte: www.abcic.com Fonte: www.geocities.com Fonte: www.radford.edu 3 As principais vantagens e desvantagens do concreto armado em relação a outros tipos de materiais utilizados nas estruturas da construção civil são: ���� Principais vantagens � baixo custo (material e mão-de-obra) quando comparado a outros materiais estruturais; � técnicas construtivas bem difundidas, não exigindo profissionais com alto nível de qualificação; � facilidade e rapidez de execução; � estruturas monolíticas, sem necessidade de execução de ligações, formando estruturas hiperestáticas, que distribuem melhor os esforços; � durabilidade; � adaptabilidade a qualquer forma de peça; � gastos com manutenção reduzidos; � seguro contra o fogo; � boa resistência a choques, vibrações, efeitos térmicos, atmosféricos e desgastes mecânicos. ���� Principais desvantagens � peso próprio elevado; � reformas e adaptações de difícil execução; � baixa resistência à tração, ocorrência de fissuração e comportamento frágil; � execução (custo) das formas; � corrosão das armaduras; � transmissão de calor e sons. 4 2 Projeto estrutural 2.1 Elementos estruturais A estrutura de uma construção consiste no conjunto das partes resistentes, dispostas de maneira planejada. Uma estrutura deve suportar todas as ações (cargas), com as intensidades e combinações mais desfavoráveis, sem atingir um estado limite. Uma estrutura deve garantir a segurança contra os estados limites último (ruptura, flambagem etc.) e de utilização (deformação excessiva, fissuração etc.). Em virtude da complexidade das construções, uma estrutura requer o emprego de diferentes tipos de elementos estruturais, adequadamente combinados para a formação do conjunto resistente [1]. Elementos com função de vedação (paredes e divisórias, não estruturais) devem ter capacidade de transmitir à estrutura seu peso próprio e os esforços externos que sobre eles atuam. O ponto de partida do projeto estrutural de uma construção consiste na elaboração de um arranjo estrutural, que é a definição da geometria, do posicionamento e da interligação dos diversos elementos estruturais. Os elementos que compõem uma estrutura devem ter geometria de acordo com o projeto arquitetônico e com a função estrutural, que é definida pelos esforços solicitantes. Pode-se classificar os elementos estruturais de acordo com suas dimensões características:5 a) Lineares de seção delgada b (espessura) << h (altura) << L (comprimento) b) Lineares de seção não-delgada b (espessura) ≅≅≅≅ h (altura) << L (comprimento) c) Bidimensionais: apresentam duas dimensões da mesma ordem de grandeza (maior dimensão ≤ 10 vezes a menor dimensão) e bem maiores que a terceira dimensão (espessura). d) Tridimensionais: apresentam três dimensões da mesma ordem de grandeza. Segundo a Mecânica das Estruturas, os elementos estruturais são classificados em barras, elementos laminares (placas, chapas ou cascas) e blocos. Observando os exemplos da figura, tem-se: a) e b) Barras: possuem uma dimensão predominante (ex: pilares, vigas etc.). Estruturas formadas por barras são comumente chamadas de estruturas reticuladas. c) Laminares planas placas: ações perpendiculares ao plano (ex: lajes) chapas: ações contidas no seu plano (ex: vigas-parede) curvas: cascas (ex: coberturas e reservatórios) d) Blocos: 3 dimensões com mesma ordem de grandeza (ex: blocos de fundação, sapatas etc.) Os critérios de classificação decorrem igualmente do fato de que a cada um dos tipos fundamentais de elementos estruturais corresponde um método de cálculo específico. a) d) c) b) 6 2.2 Projeto estrutural 2.2.1 Concepção do projeto estrutural A concepção estrutural de uma edificação deve considerar não apenas fatores técnicos, mas também fatores econômicos e arquitetônicos. Na elaboração de um projeto estrutural será exigido do calculista visão espacial, criatividade, capacidade de produzir um projeto seguro, econômico e exeqüível. As etapas seguintes à elaboração do projeto estrutural são de caráter essencialmente matemático, sendo feitas atualmente com muita eficiência por programas computacionais comerciais. Para a concepção de um projeto estrutural é necessária uma análise de vários fatores que correlacionam estrutura e construção. Os principais são [2]: � Tipo da construção - quanto à utilização da edificação (habitacional, industrial, comercial, hospitalar etc.) e quanto ao padrão da construção (popular, médio, luxo etc.); � Meio externo - influi no tipo de estrutura, através da existência de agentes atmosféricos, agentes agressivos etc. O tipo de estrutura das construções vizinhas deve também ser levado em conta; � Materiais a serem utilizados - os materiais utilizados na obra influem no carregamento da estrutura. Por exemplo, as alvenarias podem ser de tijolos maciços ou de tijolos vazados; � Elementos estruturais - é necessário definir quais são os elementos participantes da estrutura portante, ou seja, quais são as partes resistentes e as partes não resistentes da construção; � Método construtivo e custo - a técnica construtiva a ser utilizada tem relação com a mão-de-obra disponível na região, com o tempo de construção etc. O custo da estrutura tem relação com a padronização e reaproveitamento das fôrmas, por exemplo. A estrutura pode representar mais de 20% do custo total da construção; � Aspectos arquitetônicos e estéticos - o projeto arquitetônico é determinante na escolha da geometria da estrutura. Existem, por exemplo, peças estruturais revestidas e aparentes; peças que não podem ultrapassar determinadas dimensões etc. Dada a complexidade do comportamento da estrutura tridimensional, usualmente são feitas simplificações que facilitem os cálculos. Assim, o complexo problema tridimensional é dividido em subproblemas de solução mais simples. A definição das partes resistentes deve considerar que, em geral, as paredes funcionam apenas como elementos de vedação, mesmo que minimamente colaborem com a resistência e a estabilidade da estrutura. Paredes estruturais (denominadas “Alvenaria Estrutural”) constituem um caso específico onde as paredes têm função estrutural. 7 Se a construção for composta de blocos independentes, uma primeira simplificação consiste em se adotar estruturas independentes para cada bloco. A separação em blocos ocorre pelo projeto arquitetônico (em planta e em nível) e por juntas de dilatação, que também configuram descontinuidade da estrutura [2]. De maneira geral, a técnica mais simples de chegar à concepção estrutural de uma construção é de analisar as cargas que nela atuarão. Mais precisamente, deve-se observar o fluxo (caminho) das cargas na edificação. As cargas distribuídas em superfície são suportadas por elementos laminares (placas, cascas etc.). As cargas distribuídas em linha ou cargas concentradas são suportadas geralmente por peças lineares (barras). Primeiramente, são criadas as lajes (placas) para receber as cargas atuantes nos ambientes da edificação. Pode-se imaginar como um passo inicial, que cada cômodo corresponde a uma laje a ser criada. A continuidade entre as lajes gera o painel de lajes do pavimento. Na seqüência, são criadas as barras (normalmente horizontais) denominadas vigas, que recebem cargas provenientes das lajes (apoio das bordas), cargas distribuídas em linha (paredes), e cargas concentradas quando servem de apoio para outras vigas ou para barras verticais (pilares). As vigas por sua vez se apóiam em barras verticais (pilares ou colunas), cujo carregamento é concentrado e paralelo ao eixo longitudinal. Finalmente, os pilares têm a função básica de transferir as cargas aos elementos estruturais de fundação, que por sua vez as transmitem ao solo. C Q Q Laje: carga distribuída em área (Q) principalmente, em linha (P) ou concentrado (C), perpendiculares ao plano Viga: carga distribuída em linha ou concentrada, perpendicular ao eixo Pilar: carga concentrada na extremidade, paralela ao eixo Fundação: recebe carga concentrada ou distribuída em linha e descarrega no solo carga distribuída C P carga horizontal pilar viga carga vertical laje fundação solo C P C Fonte: Adaptado de [22]. 8 Na figura a seguir está representada em perspectiva parte de um edifício, da qual se podem observar os diversos elementos estruturais que constituem a estrutura portante. Além da consideração das cargas atuantes para definição da concepção estrutural (projetar pela ordem: lajes → vigas → pilares), pode-se observar alguns aspectos de ordem prática que auxiliam no chamado “lançamento da estrutura”, ou seja, a escolha do arranjo estrutural, do tipo e do posicionamento dos elementos estruturais [2, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29]: a) Na definição dos elementos estruturais (lajes, vigas e pilares) deve-se atentar para os vãos adotados, pois quanto maior o vão, maiores serão os esforços atuantes, e por conseqüência, maiores serão as dimensões necessárias do elemento; b) Em um edifício, inicia-se a estrutura pelo pavimento tipo. Caso não exista o pavimento-tipo, a estrutura deve partir dos pavimentos superiores em direção aos inferiores, para que sejam observadas interferências no posicionamento dos elementos; c) A partir do projeto arquitetônico, suponha como ponto de partida, que cada cômodo da edificação corresponderá a uma laje; d) Pode-se considerar (aproximadamente) os seguintes limites para as dimensões das lajes maciças de edifícios: laje armada em uma direção → menor vão entre 2 e 5 m. Lajes armadas em duas direções → 3 a 7 m. Os vãos considerados econômicos estão entre 3,5 e 5 m. Para lajes nervuradas comuns os vãos podem chegar a 12 m; alvenaria Fonte: adaptado de Mac Gregor (1988) apud [1]. laje nervurada sapata corrida viga verga viga pilar laje de piso muro de arrimo vigas baldrame e cintas de amarração bloco de fundação pilar patamar térreo nervura vigas escada reservatório9 e) Idealmente, as lajes devem ter vigas de apoio em todo o seu contorno. No entanto, uma laje pode-se apoiar em três, duas ou até uma viga (laje em balanço). Vigas podem ser necessárias também para dividir uma laje com grandes dimensões; f) Posicionar as vigas preferencialmente onde existam paredes, adotando a largura em função da alvenaria (questão estética). Uma parede pode também apoiar-se diretamente sobre a laje. Uma viga pode ser posicionada em relação à laje de forma normal, semi-invertida ou invertida; g) Posicionar as vigas de tal forma que estas formem, juntamente com os pilares, pórticos que garantam a estabilidade da estrutura. Para edificações comuns, os vãos das vigas devem estar entre 3 e 7 m, sendo 4,5 m o valor considerado o mais econômico; h) Vigas podem também ser necessárias para subdividir uma laje com grandes dimensões em lajes menores; i) Caso seja necessário, podem ser criadas vigas embutidas, com altura igual à espessura da laje, sendo denominadas vigas-faixa; j) Opcionalmente, podem ser concebidas lajes sem vigas, apoiadas diretamente sobre os pilares, com ou sem capitéis (lajes cogumelo); k) A locação dos pilares se inicia no pavimento-tipo, seguindo a seguinte ordem: pilares de canto, pilares nas áreas comuns a todos os pavimentos (região da escada e dos elevadores, região do reservatório de água), pilares de extremidade (situados no contorno do pavimento) e finalmente pilares internos; l) Posicionar os pilares preferencialmente nos cantos das repartições e nos encontros das vigas. A distância entre pilares deve estar entre 3 e 7 m. Como já citado para as vigas, a distância de 4,5 m entre pilares de concreto é a mais econômica. Distâncias grandes entre os pilares geram vigas e pilares com seções elevadas, aumentando os custos. Por outro lado, pilares muito próximos dificultam a execução da fundação; m) Sempre que possível, manter o alinhamento dos pilares em todos os níveis de uma edificação com múltiplos andares. Quando isto não for possível, utilizam-se vigas de transição para mudar as posições dos pilares de um pavimento para outro. No entanto, este procedimento deve ser evitado, pois resulta em vigas com seções elevadas, aumentando os custos e podendo gerar dificuldades para a solução arquitetônica; n) Escolher posições para os pilares que não comprometam o aspecto estético da edificação. Quando necessário, pode-se apoiar uma viga diretamente em outra; o) Se possível, deve-se dispor os pilares com a maior dimensão da seção paralela à menor dimensão em planta da edificação, propiciando assim maior rigidez às ações horizontais (vento); 10 p) Após o posicionamento dos pilares no pavimento-tipo, deve ser verificado se há interferência nos demais pavimentos, como por exemplo, em locais destinados a estacionamento e manobra de veículos, salões de festa etc. Caso não seja possível manter o posicionamento inicial dos pilares, deve-se reajustar a estrutura do pavimento tipo até a compatibilização definitiva destes elementos em todos os pavimentos; q) Se possível, uniformize (em tamanho e forma) e alinhe os elementos estruturais, pois isto facilita o aspecto construtivo (economia de material e de mão-de-obra); r) Embora a padronização dos elementos estruturais facilite a execução, vigas e lajes podem ter geometria irregular (curva, por exemplo), fugindo aos padrões lineares e retangulares; s) Paredes são elementos de vedação, não tendo função estrutural. Exceção para o caso especial de alvenarias estruturais, que são concebidas com esta finalidade; t) Lembrar que um projeto estrutural deve considerar, além do projeto arquitetônico, os demais projetos de engenharia da edificação, como os projetos hidráulico, elétrico e de ar condicionado. No processo de criação do arranjo estrutural, além da ordem de lançamento das peças sugerida até aqui (lajes → vigas → pilares), é possível também iniciar a concepção da estrutura pelos pilares, criando-se em seguida as vigas e as lajes. Seja qual for a ordem adotada para criação da estrutura, será necessário o reajuste do posicionamento dos elementos estruturais, para compatibilização completa com o projeto arquitetônico (e outros projetos) e para que se regularize/otimize o arranjo estrutural. * Os vãos citados valem para estruturas de concreto armado. Embora seja difícil estabelecer valores fixos que sejam gerais, podem ser considerados vãos econômicos: - Estruturas de concreto armado: vãos entre 3,5 e 5 m; - Estruturas de aço: vãos entre 5 e 10 m; - Estruturas de madeira: vãos entre 3 e 4 m. A partir destes procedimentos, o arquiteto pode conceber a estrutura da edificação. Espera-se que esta estrutura não esteja distanciada da estrutura definitiva, a ser projetada pelo engenheiro. Na sequência, a estrutura gerada pelo arquiteto será pré-dimensionada e incorporada à criação do projeto arquitetônico [29]. A figura a seguir exemplifica o projeto estrutural em concreto armado do pavimento-tipo de um edifício residencial. Evidentemente, pode-se obter outras variações do arranjo estrutural. 11 PLANTA BAIXA ESTRUTURA DO PAVIMENTO-TIPO Em um projeto estrutural, a superestrutura é composta de lajes, vigas e pilares, nos casos comuns de edificações, podendo-se acrescentar também os reservatórios elevados, as escadas etc. Para o apoio da superestrutura (apoio dos pilares, principalmente), são utilizados elementos estruturais que formam a infra-estrutura (fundação). Estes elementos são principalmente os blocos de coroamento (juntamente com as estacas) e as sapatas. carregamento horizontal carregamento vertical Superestrutura Infra-estrutura 12 2.2.2 Variação das seções dos elementos estruturais Para definição das seções dos elementos estruturais (vigas, pilares, pórticos, treliças, lajes etc.), procede-se ao dimensionamento, com base nas prescrições das normas. O dimensionamento consiste basicamente em determinar as dimensões da seção que resista aos esforços atuantes máximos (tensões, momentos, cortantes etc.) e que também limite as deformações e deslocamentos que irão ocorrer. Os esforços atuantes e a resistência da seção dependem da geometria, do material, das condições de apoio e do carregamento da peça. Ao longo de cada elemento estrutural os esforços atuantes variam. Onde o esforço é maior, há necessidade de uma seção resistente maior. Do ponto de vista prático, se uma peça (viga, por exemplo) possui seção constante ao longo do vão, a execução é facilitada, o que implica em redução dos custos. No entanto, quando há necessidade de variar a seção de uma peça (por razão arquitetônica, por exemplo), isto pode ser feito (do ponto de vista estrutural) com base na variação do esforço aplicado. Pode-se, por exemplo, tomar a variação do diagrama de momento fletor como parâmetro para determinar a variação da seção de uma viga ao longo do vão. A idéia é de que a variação da seção “acompanhe” ou “reflita” a variação do esforço, conforme ilustram as figuras a seguir. Deve-se lembrar, no entanto, que a maneira de variar a seção ao longo do vão pode ser definida simplesmente pela escolha estética feita pelo arquiteto, o que não leva em conta necessariamente a variação dos esforços. A tabela a seguir exemplifica o conceito de variação da seção das peças para alguns casos básicos. 13 13 14 14 15 Como os esforços de natureza diferente (momento fletor e esforço cortante, por exemplo) variam de maneira distinta ao longo do vão da peça, a seção em cada ponto deverá satisfazer simultaneamente a todos os esforços atuantes. Na maioria dos casos, há predominância de um tipo de esforço na determinação da seção final da peça, ouseja, a seção determinada em função de um esforço é suficiente para resistir aos demais esforços. A figura a seguir ilustra este aspecto. 2.2.3 Estruturas de contraventamento No cálculo da estrutura de um edifício, deve-se dimensionar as peças constituintes para suportar, além das cargas verticais, as cargas horizontais advindas da ação do vento, de desaprumos, efeito sísmico, equipamentos especiais etc. Cargas horizontais provocam a instabilidade global da estrutura (deslocamento lateral). As ações verticais geram esforços (momentos fletores) de primeira ordem na estrutura. Quando o edifício é esbelto, os deslocamentos laterais são significativos, o que gera esforços de segunda ordem (ocorre não-linearidade geométrica, correspondente a um equilíbrio na posição deslocada, conforme figura a seguir), levando a uma situação de instabilidade da edificação. A análise da estabilidade global da estrutura de um edifício avalia a “sensibilidade” do mesmo em relação aos efeitos de segunda ordem geométrica. e P M = P x e (momento de 2a ordem) vento Diagrama de momento fletor Diagrama de esforço cortante Seções idealizadas Seção final 16 Para garantir a estabilidade global (deslocamento lateral limitado), utiliza-se as chamadas subestruturas de contraventamento. Estas subestruturas devem apresentar grande rigidez, sendo responsáveis pela absorção dos esforços horizontais. Os elementos que não participam da subestrutura de contraventamento são chamados elementos contraventados. Pórticos planos sob ação horizontal do vento, não enrijecidos e enrijecidos pela estrutura de contraventamento. Fonte: adaptado de www.vitruvius.com.br Os sistemas de contraventamento mais utilizados são os pilares-parede (ou paredes de cisalhamento), os núcleos rígidos, os pórticos associados (ou pórticos rígidos), as treliças metálicas e as estruturas tubulares: • Pórticos rígidos: deve-se obter um conjunto de pórticos verticais rígidos através da ligação de vigas e pilares; • Treliças: a estabilidade estrutural é obtida através de contraventamentos verticais, associados aos pilares e vigas; • Paredes de cisalhamento: a rigidez vertical é conseguida através de paredes de concreto armado construídas nos vãos entre vigas e pilares; • Núcleo estrutural: as torres de escadas e poços de elevadores formam núcleos rígidos que absorvem os esforços horizontais; • Estrutura tubular: os pórticos de contraventamento são trazidos para as faces externas do edifício, obtendo-se na forma final um grande tubo reticulado altamente resistente aos esforços de flexão e de torção. As figuras a seguir ilustram estes sistemas de contraventamento. 17 Pórticos rígidos Treliças (vigas e pilares com ligações rígidas, (uso de barras de contraventamento vertical, formando pórticos planos rígidos) vigas e pilares com ligações rotuladas) Paredes de cisalhamento (paredes maciças de concreto armado com grande rigidez em uma direção) Núcleo estrutural (maciço de concreto armado de grande rigidez, posicionado na região de escadas e elevadores) Estrutura tubular (treliças formadas no contorno da estrutura) Pode-se associar dois ou mais destes sistemas de contraventamento em uma mesma estrutura. Os modelos de cálculo da estrutura com relação às ações horizontais consideram que as lajes desempenham a função de transferir os esforços horizontais (no plano: efeito diafragma) entre os elementos verticais que compõem o sistema de contraventamento, sejam pórticos, núcleos, paredes de cisalhamento etc. 18 � Exercício 1: concepção de projeto estrutural Elabore o arranjo estrutural básico do edifício residencial da figura. 19 2.2.4 Análise da estrutura O cálculo/análise de uma estrutura exige que se crie uma versão idealizada (modelo simplificado) da estrutura real. Isto é necessário, pois a modelagem da estrutura real é complexa, envolvendo teorias sofisticadas, o que exige tempo e esforço computacional. Um modelo analítico ou numérico de uma estrutura possui basicamente as seguintes partes a serem definidas: (a) Arranjo estrutural e geometria das peças; (b) Características mecânicas do material da estrutura (propriedades elásticas, limites de resistência etc.); (c) Carregamentos aplicados; (d) Condições de apoio da estrutura e de ligação entre as peças; (e) Modelo teórico de análise (desenvolvido pela Resistência dos Materiais). Estas cinco partes serão idealizadas para obtenção do modelo simplificado, sendo feita uma série de aproximações. O modelo mais representativo da estrutura real é constituído por um arranjo espacial de peças tridimensionais interligadas (lajes, vigas, pilares, incluindo até os elementos de fundação e o próprio solo). Uma primeira simplificação deste modelo é de considerar que as peças podem ser representadas por linhas passando pelos seus eixos, constituindo o modelo de pórtico tridimensional. Em seguida, uma outra simplificação é de utilizar-se modelos de pórticos planos, formados pelas vigas e pilares, interligados pelas lajes, representadas por barras rígidas. Finalmente, o modelo mais simplificado implica em isolar-se e calcular cada peça do conjunto (modelo de vigas contínuas). Modelo “real” Modelo de pórtico tridimensional: lajes + pórtico espacial + fundações (interação solo-estrutura) Modelo de pórticos planos: lajes + pórticos planos + fundações Modelo de vigas contínuas: lajes + vigas contínuas + pilares + fundações 20 Embora as simplificações possam ser feitas, deve-se ter em mente que, quanto mais elaborado o modelo, mais representativo ele será do comportamento real da estrutura. Isto leva a análises mais detalhadas e precisas, gerando maior confiabilidade nas interpretações, além de soluções mais econômicas, pois os coeficientes de segurança usados no dimensionamento podem ser minorados. Atualmente as normas de cálculo estrutural adotam basicamente o modelo de vigas contínuas, onde o dimensionamento da estrutura é obtido a partir do dimensionamento de cada uma das peças, obtidas pela subdivisão da estrutura tridimensional. A seqüência de um cálculo estrutural é a seguinte: (1) Separação das peças (lajes, vigas, pilares etc.); (2) Carregamento (cargas que atuam na peça); (3) Cálculo dos esforços (através da Teoria das Estruturas); (4) Dimensionamento (determinação das dimensões das seções transversais); (5) Detalhamento (desenho detalhado de cada peça para execução na obra). Simplificadamente, as principais etapas do cálculo estrutural são: a) 1 o passo: identificação/separação das peças e/ou subestruturas Concebida a estrutura, o passo seguinte consiste em se identificar e isolaras peças que a compõem. A decomposição da estrutura em partes simples facilita o cálculo, pois cada elemento pode ser assimilado a uma subestrutura ou esquema estrutural com solução conhecida, mais simples e direta. Embora os modelos resultantes da simplificação não representem a rigor a estrutura real, que é tridimensional e/ou monolítica, eles são em geral admitidos, diminuindo sobremaneira a complexidade dos cálculos. Inicia-se o processo isolando-se e calculando-se as lajes. Uma vez eliminadas as lajes da estrutura, resta o esqueleto composto por vigas e pilares. Na seqüência calcula-se as vigas e finalmente os pilares. Esta seqüência é necessária, pois as reações de apoio das lajes fazem parte do carregamento das vigas assim como as reações de apoio das vigas compõem o carregamento dos pilares. As figuras a seguir ilustram como as peças são isoladas da estrutura. 21 Estrutura real (tridimensional) pilar viga laje Separação em subestruturas Modelos simples de cálculo Placa Viga Barra comprimida L1 P12 V03 P07 P08 P09 V08 V11 22 Um elemento pode desempenhar várias funções estruturais ao mesmo tempo. Sob ação das cargas verticais, a viga tem um comportamento tradicional de viga (caso a) da figura). Em virtude da ação do vento, a viga pode participar do pórtico plano resistente aos esforços horizontais (caso b). Devido à ação da laje em balanço, surgem esforços de torção na viga, configurando uma terceira função estrutural (caso c). Na figura estão caracterizados os três comportamentos estruturais admitidos para a viga. Para o dimensionamento da viga são superpostos os esforços decorrentes de cada um dos comportamentos considerados [2]. P04 P05 P06 V02 RV10 DMF DEC RV07 23 Cada peça faz parte do conjunto da estrutura, sendo interligada monoliticamente ou através de um sistema de ligação. Assim, quando a peça for isolada da estrutura, devem ser considerados os seus aspectos de continuidade, de carregamento e as suas condições de apoio: (1) Continuidade da peça: a continuidade de uma peça é quebrada quando há interrupção da seção e/ou mudança de seção e/ou de nível; (2) Carregamento da peça: além das cargas atuantes nas peças (pessoas, móveis, paredes etc.), devem ser consideradas as cargas geradas pelo apoio que uma peça dá à outra. As lajes se apóiam nas vigas, descarregando as reações de apoio contínuas de suas bordas; as vigas se apóiam nos pilares (ou em outras vigas), descarregando suas reações de apoio concentradas; e assim sucessivamente; (3) Condições de apoio da peça: uma viga poderá ter suas extremidades simplesmente apoiadas, engastadas ou possuir uma ligação semi-rígida, dependendo da forma que se dá a ligação (contato) entre esta viga e as outras peças (vigas e pilares). O mesmo raciocínio se aplica às bordas das lajes e às extremidades dos pilares. A consideração de articulações ou de engastamentos para uma peça está vinculada às condições de projeto, podendo ser impostas pelo projetista. Assim, tem-se: Carga horizontal (vento) Carga vertical Viga Laje em balanço Pilar B A A B A B A B (a) (b) (c) 24 • Articulações: a condição de articulação pode ser admitida, de modo mais ou menos perfeito, quando há uma diferença considerável de rigidez entre as partes interligadas, ou com a interposição de dispositivos de ligação que permitam a rotação relativa das partes interligadas. Na figura a seguir tem-se algumas situações onde as barras AB podem ser consideradas como articuladas em ambas as extremidades. Fonte: adaptado de [2]. As figuras abaixo ilustram a forma de concepção de apoios articulados móveis e fixos. • Engastamentos: a condição de engastamento perfeito depende exclusivamente da imobilidade da seção que se pretende admitir como engastada. Em estruturas de concreto, a imobilidade é garantida quando há diferença significativa de rigidez das peças interligadas. Por exemplo, na figura a seguir a laje 1 está engastada na laje 2, não ocorrendo o comportamento inverso, pois a laje 1 não tem rigidez suficiente para imobilizar a seção da borda da laje 2. apoio fixo placa de neoprene ou chumbo teflon neoprene apoio móvel apoio móvel apoio móvel apoio móvel apoio fixo A B A B A B A B Laje 1 Laje 2 - Vista em corte - 25 As figuras a seguir mostram como obter ligações viga-pilar consideradas como rígidas (engastadas) e articulada em estruturas de aço, madeira e concreto pré-moldado. A rigor as ligações não são totalmente rígidas (engastadas) ou totalmente flexíveis (articuladas). As ligações são em geral semi-rígidas, ou seja, apresentam um certo grau de flexibilidade. Esta consideração leva a um cálculo mais preciso do comportamento das peças individualmente e da estrutura globalmente. A figura a seguir ilustra a influência do comportamento das ligações no cálculo dos esforços e deslocamentos em um pórtico. Ligação rígida (sistema de pórtico) Ligação rotulada (sistema viga-pilar) As estruturas com ligações articuladas geram maiores solicitações na flexão, maiores deslocamentos e estruturas com menor capacidade de distribuição dos esforços. As ligações rígidas proporcionam uma melhor distribuição dos esforços e deslocamentos. b) 2 o passo: cálculo dos esforços/deslocamentos Isoladas as peças (ou conjunto de peças) da estrutura global, com os devidos carregamentos e condições de apoio, passa-se à etapa seguinte, que é o cálculo dos deslocamentos/esforços atuantes. Para facilitar o cálculo dos esforços nas peças isoladas, assimila-se estas a esquemas estruturais conhecidos da Teoria das Estruturas. Estes esquemas possuem soluções conhecidas, relativamente simples. As figuras a seguir ilustram alguns esquemas estruturais correntes de estruturas planas. DMF DMF Deslocamentos Deslocamentos Ligação flexível (rótula) Ligação rígida (engaste) 26 Viga biapoiada Viga em balanço Viga biengastada Viga Gerber Viga contínua Viga balcão Viga armada Viga coluna Viga Vierendeel Treliça Treliça Grelha Pórticos planos Placa Viga de alma cheia Viga de alma vazada escora tirante 27 No caso de edifícios, um modelo melhor elaborado é aquele em que se associam à estrutura vários pórticos planos, formados pelos pilares e vigas dos pavimentos. No entanto, o modelo que reproduz com maior fidelidade a estrutura real é aquele que considera as barras da estrutura fazendo parte de um pórtico tridimensional, onde atuam as cargas verticais e horizontais. A técnica de cálculo dos esforços e deslocamentos nos vários esquemas estruturais depende da condição estática (estrutura isostática ou hiperestática), da complexidade da geometria, das condições de apoio e de carregamento. Alguns métodos conhecidos são: uso direto das equações de equilíbrio, Método dos Deslocamentos, Método dos Esforços, Processo de Cross, solução por Séries de Fourier, Método dos ElementosFinitos. c) 3 o passo: dimensionamento Calculados os esforços e os deslocamentos que ocorrem nas peças, a etapa seguinte é o dimensionamento das seções resistentes. São feitas nesta fase as verificações de segurança, considerando os estados limites últimos (ruína) e de utilização (deformação excessiva, fissuração etc.). É feito nesta etapa o projeto de detalhamento das peças, indicando-se as seções, o esquema das armaduras, os detalhes das ligações, o posicionamento das peças, o tipo e o consumo de material etc. Este projeto irá para a obra, sendo a referência para a execução da estrutura. Para o dimensionamento considera-se em geral os esforços e deslocamentos máximos que ocorrem. Existe uma série de normas da ABNT que regulamenta e instrui o procedimento de dimensionamento e detalhamento. As normas são específicas para cada tipo de elemento estrutural e de material. O organograma a seguir resume as principais etapas de um projeto estrutural. 28 2.2.5 Pré-dimensionamento no contexto da concepção de projetos arquitetônicos Considerando o contexto da atuação do arquiteto, a figura a seguir mostra as etapas da concepção do projeto arquitetônico e sua interação com o projeto estrutural e o pré-dimensionamento. IDENTIFICAÇÃO/SEPARAÇÃO DOS ELEMENTOS E SUBSISTEMAS ESTRUTURAIS (MODELOS DE CÁLCULO) ELABORAÇÃO DO PROJETO (ARRANJO) ESTRUTURAL DIMENSIONAMENTO DAS SEÇÕES: VERIFICAÇÃO SEGUNDO AS NORMAS CÁLCULO DOS ESFORÇOS/DESLOCAMENTOS DETALHAMENTO DO DIMENSIONAMENTO EXECUÇÃO NA OBRA CARREGAMENTO DOS ELEMENTOS E SUBSISTEMAS ESTRUTURAIS DEFINIÇÃO DO PROJETO: TIPO DE ESTRUTURA, MATERIAIS, TÉCNICA CONSTRUTIVA, INTERAÇÃO COM OUTROS PROJETOS, ETC. PRÉ-DIMENSIONAMENTO DIMENSIONAMENTO REDIMENSIONAR FIM ATENDE AOS CRITÉRIOS ? DIMENSIONAMENTO ÓTIMO ? NÃO SIM 29 Etapas da concepção do projeto arquitetônico, interação com o projeto estrutural e o seu pré-dimensionamento. Fonte: [29]. Como será visto à frente, a obtenção da seção das peças no pré-dimensionamento é feita a partir do arranjo estrutural concebido, do comportamento estrutural de cada peça e das exigências normativas. Neste contexto, diversos parâmetros influenciam o resultado: material utilizado, vãos das peças, carregamento, condições de apoio, atendimento às condições de resistência, de estabilidade e de deformação/deslocamentos (estados limites últimos e de utilização). 2.2.6 Escolha do material e do sistema estrutural A escolha precisa do melhor (mais adequado) sistema estrutural e do material da estrutura portante de uma edificação é uma tarefa que envolve uma análise relativamente complexa, pois além de aspectos de natureza puramente técnica (projeto arquitetônico e outros, com destaque dos vãos a serem vencidos), depende também da técnica construtiva, dos custos, da mão-de-obra, da estética, da logística, das condições e impactos ambientais etc. Os pesos atribuídos a cada uma destas características podem variar de uma obra para outra. A experiência de obras anteriores também deve ser levada em conta. Embora os três principais materiais estruturais (aço, madeira e concreto) tenham suas especificidades, podendo ser melhor adaptados para determinada obra, em geral as três soluções são possíveis do ponto de vista estrutural e tecnológico (construtivo). Assim, a escolha por um ou outro material leva em conta outros fatores, conforme descrito a seguir. Deve-se lembrar que estruturas mistas, com utilização de diferentes materiais 30 em diferentes partes da estrutura ou a associação de dois ou mais materiais em uma mesma peça, são soluções também utilizadas. De maneira resumida, as principais características que devem ser levadas em conta na escolha do sistema e do material da estrutura são [3]: • Fundações; • Tempo de construção; • Tipo de ocupação; • Disponibilidade e custo dos materiais; • Recursos do construtor; • Local da obra e acessos; • Possibilidade de adaptações e ampliações; • Compatibilidade com sistemas complementares; • Manutenção e reparos; • Vãos livres e altura da edificação; • Proteção; • Durabilidade; • Estética; • Desperdício de materiais e mão-de-obra; • Segurança do trabalhador (EPI’s); • Custos financeiros; • Adequação ambiental; • Qualidade; • Desempenho; • Incômodos para as áreas próximas. 31 3 Ações e segurança nas estruturas Este assunto é regulamentado pelas normas brasileiras NBR 8681 - Ações e segurança nas estruturas - procedimento (2003) e NBR 6120 - Cargas para o cálculo de estruturas de edificações (1980). 3.1 Ações nas estruturas Ações são causas que provocam esforços ou deformações nas estruturas. As forças são designadas por ações diretas e as deformações impostas, por ações indiretas. As ações são classificadas segundo sua variabilidade no tempo em 3 categorias. a) Ações permanentes São as que ocorrem com valores constantes ou de pequena variação em torno de sua média, durante praticamente toda a vida da construção. São de dois tipos: � diretas: peso próprio da estrutura, dos elementos construtivos permanentes, dos equipamentos fixos e empuxos. Entre as ações permanentes diretas, no caso de estruturas de edifícios, podem ser incluídos os pesos próprios dos elementos estruturais, os pesos próprios dos pisos e revestimentos e das alvenarias; � indiretas: protensão, recalques de apoio e retração dos materiais. As ações permanentes indiretas são as forças de protensão em peças de concreto protendido, os recalques de apoio devidos a deslocamentos dos elementos estruturais ou devidos à deformabilidade do solo, e também à retração dos materiais. 32 b) Ações variáveis São as que ocorrem com valores que apresentam variações significativas em torno de sua média, durante a vida da construção. Consideram-se ações variáveis as cargas acidentais do uso das construções (pessoas, móveis, materiais diversos), bem como seus efeitos (forças de frenação, de impacto e centrífugas), efeitos do vento, das variações de temperatura, do atrito nos aparelhos de apoio e das pressões hidrostáticas e hidrodinâmicas. Em função de sua probabilidade de ocorrência durante a vida da construção, as ações variáveis são classificadas em: � normais: também denominadas cargas acidentais, as ações variáveis normais têm a probabilidade de ocorrência suficientemente grande para que sejam obrigatoriamente consideradas no projeto das estruturas de um dado tipo de construção. Nas estruturas de edifícios, tais ações atuam principalmente nas lajes dos pavimentos, e são devidas a carga de pessoas, mobiliário, veículos, bibliotecas etc; � especiais: ações de natureza ou de intensidade especiais, ou ações sísmicas. Exemplo: caminhões que transportam componentes de turbinas de usinas hidrelétricas. Nos casos deste tipo de transporte, os projetos das pontes devem ser observados, antes de se autorizar a passagem do veículo e, se for o caso, as estruturas devem ser reforçadas. c) Ações excepcionais São de duração extremamente curta e de muito baixa probabilidade de ocorrência durante a vida da construção, mas que devem ser consideradas nos projetos de determinadas estruturas. São as ações decorrentes de causas como: explosões, choques de veículos, incêndios, enchentes ou sismos excepcionais. Tais ações devem ser definidas pelos responsáveis da obra. Nas estruturas de edifícios os choques de veículos podem ocorrer nas áreas de manobras das garagens e os incêndios devem ser considerados com probabilidade compatível com o tipo de utilização da obra. 3.2 Segurança nas estruturas Os conceitos básicos sobre segurançaabrangem estudos sobre as ações, a vida útil, os estados de desempenho e a segurança propriamente dita. Uma estrutura pode ser considerada segura quando ela possui condições de suportar todas as ações, com as intensidades e combinações mais desfavoráveis, ao longo da vida útil para a qual foi projetada, sem atingir um estado limite, imediato ou a longo prazo, e em condições satisfatórias de funcionalidade. 33 • Vida útil A vida útil das estruturas é estabelecida em função das características da construção de que elas fazem parte. Para as edificações correntes, de caráter residencial, admite-se uma vida útil de 50 anos. • Condições de segurança As estruturas devem apresentar os seguintes requisitos intuitivos de segurança: � durante a vida útil, a estrutura deve manter suas características construtivas, a um custo razoável de manutenção; � em condições normais de utilização, a estrutura e a construção de um modo geral, não devem apresentar falsos sinais de alarme que lancem suspeitas sobre sua segurança, e não devem apresentar uma aparência que cause inquietação aos usuários ou ao público em geral; � em situações não previstas de utilização ou de manutenção, a estrutura deve apresentar sinais visíveis de advertência de eventuais estados perigosos. • Estados de ruína Os estados de ruína são estados de desempenho nos quais a estrutura apresenta danos que caracterizam superação do limite da capacidade de suporte. Os estados de ruína são aqueles em que a estrutura deixa de ser útil aos fins para que foi construída, por ter rompido ou ter se tornado hipostática, por ter flambado ou por ter sofrido deformação exagerada, ou ainda por ter fissurado além de um limite previamente determinado. • Método dos estados limites É um critério usado para definir um limite acima do qual um elemento da estrutura não poderá mais ser utilizado (estado limite de utilização), ou acima do qual será considerado inseguro (estado limite último). (a) Estados limites últimos (ruína) Correspondem ao esgotamento da capacidade portante da estrutura. Sua ocorrência determina a paralização no todo ou em parte do uso da construção. No projeto, usualmente devem ser considerados os seguintes estados limites últimos para estruturas de concreto: 34 � perda de equilíbrio global ou parcial, admitida a estrutura como um corpo rígido (tombamento, escorregamento etc.); � ruptura ou deformação plástica excessiva dos materiais; � escorregamento da barra de aço por falta de aderência; � transformação da estrutura, no todo ou em parte, em sistema hipostático (mecanismo); � instabilidade por deformação (flambagem); � instabilidade dinâmica (ressonância); � fadiga. Um estado limite último pode ser também decorrente de causas específicas, tais como sensibilidade da estrutura aos efeitos de repetição das ações, ação do fogo, explosões etc. Essas causas devem ser consideradas por ocasião da concepção do projeto estrutural. No estado limite último, admite-se que há segurança se os valores de cálculo das solicitações, na sua combinação mais desfavorável, não ultrapassem a solicitação limite correspondente aos valores de cálculo da resistência dos materiais. (b) Estados limites de utilização (serviço) Correspondem às exigências funcionais e de durabilidade da estrutura. Sua ocorrência, repetição ou duração causam efeitos estruturais que são indícios de comprometimento da durabilidade da estrutura. Não há, neste caso, danos estruturais que de imediato comprometam a integridade da estrutura, mas apenas desempenhos não aceitáveis para a manutenção da própria estrutura ou para a utilização normal da construção. No período de vida da estrutura, usualmente são considerados os seguintes estados limites de utilização: � danos ligeiros ou localizados, que comprometam o aspecto estético da construção ou a durabilidade da estrutura (fissuração); � deformações excessivas, que afetem a utilização normal da construção ou seu aspecto estético (flechas); � vibração excessiva ou desconfortável. Para os estados limites de utilização, admite-se que há segurança quando não são ultrapassados os limites além dos quais as condições da estrutura não são aceitáveis. 35 3.3 Verificação da segurança A verificação da segurança das estruturas deve abranger tanto os estados limites últimos quanto os estados limites de utilização, mantendo a probabilidade de atingi-los abaixo de um valor previamente estabelecido. Nesta verificação existem incertezas em relação à intensidade e aos efeitos das ações, incertezas das resistências reais dos materiais da estrutura, incertezas em relação aos métodos de cálculo utilizados, incertezas em relação às dimensões e ao desaprumo das peças que compõem a estrutura, alterações do uso da edificação etc. Desta forma, para estabelecer a condição de não violação de um estado limite qualquer, é necessário utilizar os chamados valores de cálculo das ações e das resistências, que são iguais aos valores característicos, corrigidos por coeficientes de segurança. • Método semi-probabilístico Este método de verificação de segurança das estruturas consiste no seguinte conjunto de procedimentos: 1º. Majoram-se as ações e os esforços solicitantes, de modo que seja pequena a probabilidade destes valores serem ultrapassados; 2º. Reduzem-se os valores das resistências, de modo que seja pequena a probabilidade de que os valores reais sejam atingidos; 3º. Equaciona-se a situação de ruína, igualando-se o esforço solicitante de cálculo com o esforço resistente de cálculo: Sd (esforço solicitante de cálculo) ≤≤≤≤ Rd (esforço resistente de cálculo) Na prática, as principais verificações de dimensionamento de estruturas de concreto feitas segundo as normas técnicas para os estados limites último e de utilização dos elementos estruturais/estruturas são: - ruptura do concreto; - deformação plástica da armadura; - flecha; - flambagem global; - estabilidade global; - fissuração. 36 3.4 Combinações das ações Um tipo de carregamento é especificado pelo conjunto das ações que têm probabilidade não desprezível de atuarem simultaneamente sobre uma estrutura, durante um período de tempo pré-estabelecido. Em cada tipo de carregamento as ações devem ser combinadas de diferentes maneiras, a fim de que possam ser determinados os efeitos mais desfavoráveis nas seções críticas da estrutura. Devem ser estabelecidas tantas combinações de ações quantas forem necessárias, para que a segurança seja verificada em relação a todos os possíveis estados limites da estrutura. Estas combinações devem ser feitas com os valores de cálculo das solicitações. As ações permanentes são consideradas em sua totalidade. Das ações variáveis, são consideradas apenas as parcelas que produzam efeitos desfavoráveis para a segurança. As ações variáveis móveis devem ser consideradas em suas posições mais desfavoráveis para a segurança. A NBR 8681:2003 classifica as combinações para estados limites últimos e estados limites de utilização. Exemplo: Combinações últimas normais São as combinações referentes às ações provenientes do uso da estrutura, ou seja, ações permanentes e variáveis comuns da edificação. ∑∑ == ++= n j kQjjqjkQqkGi m i gid FFFF 2 ,0,11, 1 ψγγγ onde: Fd = valor de cálculo da ação; FGi,k = valor característico da ação permanente; γγγγg e γγγγq = coeficientes de ponderação das ações permanentes e variáveis respectivamente; FQ1,k = valor característico da ação variável tomada como ação principal para a combinação; ψψψψ0j = coeficiente de redução de combinação; FQj,k = valor característico da ação variável secundária. Além desta, existem as seguintes combinações últimas e de utilização previstas pela norma: • Combinações últimas especiais ou de construção; • Combinações últimasexcepcionais; • Combinações quase-permanentes de utilização; • Combinações freqüentes de utilização; • Combinações raras de utilização. 37 3.5 Valores de cálculo das resistências A resistência característica inferior é admitida como sendo o valor que tem apenas 5% de probabilidade de não ser atingido pelos elementos de um dado lote de material. A resistência de cálculo fd é dada por: mkd ff γ/= onde fk é a resistência característica inferior e γm é o coeficiente de ponderação das resistências, sendo 321 mmmm γγγγ = , onde γm1 leva em conta a variabilidade da resistência efetiva, γm2 considera as diferenças entre a resistência efetiva do material da estrutura e a resistência medida convencionalmente em corpos-de-prova padronizados e γm3 considera as incertezas existentes na determinação das solicitações resistentes, seja em decorrência dos métodos construtivos, seja em virtude do método de cálculo empregado. 3.6 Valores aproximados dos coeficientes de segurança Conforme já discutido, o dimensionamento implica em diminuir os valores das resistências e aumentar os valores das ações. Assim os valores de cálculo, obtidos dos valores característicos (nominais) valem: - Resistência: mkd ff γ/= - Ação: akd FF γ.= onde os valores nominais das resistências (fk) são escolhidos pelo projetista, em função do material a ser utilizado. Em geral os fabricantes dos materiais fornecem esses valores. Já as ações Fk resultam do cálculo dos esforços através dos métodos das Teorias de Estruturas e Resistência dos Materiais. Elas podem ser momentos fletores, esforços cortantes, esforços normais de tração e de compressão, tensões normais e tangenciais etc. Na falta de valores precisos, pode-se usar os coeficientes de segurança da tabela a seguir. Estes valores podem ser utilizados para fins de pré-dimensionamento. Eles não levam em conta diversos aspectos normativos do dimensionamento formal. Obs.: estes valores são usados para pré-dimensionamento considerando estado limite último. Para estado limite de utilização os valores das ações e resistências não são alterados, ou seja, γm= γa=1,0. Concreto armado Ações γa = 1,4 Resistências γm = 1,4 (concreto) γm = 1,15 (aço) 38 3.7 Valores de cargas permanentes e variáveis As tabelas a seguir fornecem os valores das cargas permanentes e variáveis para o cálculo de estruturas de edificações comuns, de acordo com a NBR 6120:1980. - Peso específico dos materiais de construção (cargas permanentes) - Fonte: NBR 6120:1980. - Cargas permanentes por unidade de área - Fonte: [1]. * Acrescentar a estes valores, a carga de vento, de aproximadamente 20 kgf/m2. * 39 Valores mínimos das cargas variáveis verticais - Fonte: NBR 6120:1980. 40 3.8 Ação do vento Segundo a norma brasileira NBR 6118:2003, a consideração da ação estática do vento nas estruturas de concreto armado e protendido é obrigatória para todas as edificações, independente de forma ou de altura. Nas estruturas de aço e madeira, devido à utilização freqüente de ligações flexíveis e por apresentarem peças esbeltas, o efeito do vento é sempre significativo. A norma brasileira que trata da ação do vento em edificações é a NBR 6123:1988. A ação do vento em uma estrutura depende de diversos fatores: • geometria da estrutura (dimensões em planta e em altura, aberturas etc.); • locação da estrutura (topografia, obstruções, vizinhança etc.); • localização geográfica; • intensidade e direção do vento; • fatores estatísticos; • etc. - Isopletas da velocidade básica V0 (m/s) - Fonte: NBR 6123:1988. Conforme mostra a figura a seguir, a ação do vento na superfície de uma edificação pode ocorrer por pressão direta (sobrepressão) ou por pressão negativa (sucção). O vento atua perpendicularmente à superfície que obstrui sua passagem. 41 Fonte: adaptado de [4]. A figura a seguir mostra as forças devidas ao vento ao longo da altura de um edifício de planta retangular. Fonte: adaptado de [4]. Os esforços gerados pela ação do vento ocorrem primeiramente nas fachadas (paredes ou elementos de fachada) dos edifícios, sendo distribuídos destas para as vigas e pilares de extremidade, e destes para as vigas e pilares internos. Neste fluxo de transferência das cargas horizontais as lajes trabalham como diafragmas (por possuir grande rigidez no plano), transferindo os esforços entre os pórticos formados pelas vigas e pilares. Conforme já explicado, o combate às ações horizontais do vento é função das estruturas de contraventamento, que devem ser previstas para cada tipo de estrutura (Seção 2.2.3). Existem diversos modelos para o cálculo da ação do vento nas estruturas, como por exemplo: modelo de pórtico com forças horizontais aplicadas nos nós; modelo com cargas distribuídas linearmente ao nível dos pavimentos; modelo com cargas distribuídas ao longo dos elementos de contraventamento. 42 3.9 Outros tipos de carregamento Além das cargas permanentes e variáveis (normais, especiais e excepcionais), existem outras cargas que agem nas estruturas. Estas cargas dependem da forma e da finalidade da estrutura, das condições climáticas, das características do solo, entre outros fatores. Alguns exemplos de carregamentos desta natureza são: (a) Cargas térmicas As estruturas estão sujeitas a variações de temperatura, que podem depender de ciclos curtos (dia e noite) ou prolongados (inverno e verão). Nestes casos, as mudanças de temperatura na estrutura são em geral uniformes. Por outro lado, a posição e a interação da estrutura com a edificação podem levar a gradientes térmicos locais (variações não-uniformes de temperatura). As variações uniformes de temperatura produzem alongamentos ou encurtamentos das peças da estrutura, enquanto que as variações não-uniformes podem produzir curvaturas. Dependendo do material e da forma da peça, das condições de apoio e da intensidade das variações de temperatura, os efeitos da ação térmica podem ser importantes. Além das deformações (encurtamentos e alongamentos), podem surgir esforços significativos. O combate/atenuação dos efeitos da temperatura é feito geralmente através de artifícios que permitem a estrutura dilatar/contrair livremente. Assim, podem ser criados apoios móveis, ligações flexíveis, juntas de dilatação etc. As normas de cálculo estrutural de cada material fornecem as instruções para consideração dos efeitos da temperatura. (b) Recalques de apoio Os recalques são deslocamentos diferenciais da fundação de uma edificação, devido à não-uniformidade da resistência do solo (deslocamentos maiores acontecem onde o solo é menos resistente). Quando isto ocorre, esforços suplementares podem aparecer na parte da edificação corretamente apoiada, onde não há movimentos do solo. Em geral, as estruturas absorvem pequenos recalques diferenciais. Estruturas mais flexíveis absorvem melhor este efeito. Quando os deslocamentos são significativos (da ordem de alguns centímetros), uma análise criteriosa dos esforços gerados é necessária [5]. (c) Empuxos Os empuxos provocados por terra e líquidos (em muros de arrimo, reservatórios etc.) geram pressões laterais normais às paredes, com distribuição aproximadamente triangular. 43 (d) Cargas dinâmicas Ventos, terremotos, impactos e equipamentos em movimento são exemplos de fenômenos que provocam solicitações dinâmicas nas estruturas. Na maioria dos casos, as cargas dinâmicas são transformadas em cargas estáticas equivalentes, sendo desta maneira consideradas nos cálculos estruturais convencionais. Em alguns casos porém, dada a intensidade e a freqüência das vibrações, o problema deve ter um tratamento do ponto de vista da dinâmica dos movimentos. Por exemplo,através da mudança da massa e da rigidez da estrutura, altera-se as freqüências naturais de vibração, evitando-se o fenômeno de ressonância, que pode inclusive, levar a estrutura ao colapso. 3.10 Verificação dos Estados Limites de Utilização Conforme já foi dito, além de resistir aos esforços, sem romper ou se tornar instável (Estados Limites Últimos), as estruturas devem apresentar rigidez suficiente para evitar grandes deformações, além de outros efeitos que comprometam seu uso (Estados Limites de Utilização). Na verificação dos Estados Limites de Utilização deve-se garantir que os deslocamentos da estrutura não ocasionem desconforto aos usuários, que a fissuração do material não seja excessiva, que não ocorram danos a materiais não estruturais e que não haja vibração excessiva. A condição para verificação da segurança nos Estados Limites de Utilização é dada genericamente por: lim, SS utid ≤ onde ,S utid representa a quantidade do efeito que está ocorrendo na estrutura (deslocamento, fissuração etc.) e limS representa os limites máximos permitidos por norma, para que o efeito não comprometa a utilização da estrutura e/ou edificação. Caso o efeito seja maior do que o permitido, a estrutura deve ser redimensionada para atender à exigência. Com relação aos deslocamentos (flechas) que ocorrem nas estruturas, verifica-se este efeito em peças sob flexão, usualmente em vigas (madeira, aço e concreto), lajes e treliças. De forma simplificada, para estruturas de concreto será considerado o seguinte limite de deslocamento (flecha máxima) para lajes e vigas: flim = L / 250 , onde L é o vão. 44 Quanto aos deslocamentos que ocorrem nas vigas, estes dependem do material, do vão, da carga e da inércia da seção. A seguir são dados os valores máximos das flechas para algumas situações básicas de cálculo. Valores de fmáx (flechas máximas que ocorrem nas vigas) 45 3.11 Carregamento aproximado dos elementos estruturais (a) Lajes, vigas e pilares Conforme já descrito anteriormente, o fluxo das cargas em um determinado arranjo estrutural de uma edificação ocorre segundo mostra a figura a seguir. Embora os carregamentos reais não sejam precisamente uniformemente distribuídos em área, ou distribuídos em linha ou concentrados em um ponto, este tipo de simplificação é adotado para carregar as lajes, vigas e pilares. De uma forma geral, o carregamento dos elementos estruturais é obtido com as seguintes composições: • Lajes: cargas permanentes (peso próprio da laje + peso das pavimentações + peso do revestimento do teto + peso de enchimentos + peso das paredes) + cargas variáveis (depende do tipo de uso da edificação). Unidades: [F/A], [F/L] e [F]. Por exemplo: kgf/m2 (distribuído por área), kgf/m (distribuído em linha) e kgf (concentrado) • Vigas: peso próprio + reações de apoio das lajes + peso de alvenarias + ação concentrada de viga apoiada em viga. Unidades: [F/L] e [F]. Por exemplo: kgf/m (distribuído em linha) e kgf (concentrado) • Pilares: peso próprio + reações de apoio das vigas. Unidade: [F]. Por exemplo: kgf Os detalhes de cálculo dos componentes dos carregamentos serão dados mais adiante. estrutura real pilar viga laje subdivisão idealizada: segundo o fluxo das cargas 46 Na ausência de cálculo preciso para obtenção do carregamento de vigas e pilares, pode-se utilizar o conceito das áreas de influência, conforme procedimentos descritos a seguir. Notações: p: carga uniformemente distribuída em área, atuando na laje, em kgf/m2, por exemplo. Cargas concentradas ou distribuídas em linha (paredes) atuando nas lajes devem ser transformadas em cargas por área, compondo o carregamento uniforme p. Para isto, basta obter a carga concentrada resultante e dividi-la pela área da laje; A: área de influência da viga ou pilar, em m2, por exemplo; R: reação de apoio atuante na viga, em kgf/m, por exemplo; F: carregamento concentrado atuante no pilar, em kgf, por exemplo. • Vigas 47 • Pilares � Exercício 2: cálculo aproximado do carregamento de elementos estruturais Obter os carregamentos das vigas V1, V3 e V5 e dos pilares P1, P2 e P5 conforme projeto estrutural da figura. Os carregamentos das lajes são: L1: 1000 kgf/m2; L2: 1200 kgf/m2; L3: 600 kgf/m2. 48 4 Constituição e comportamento do material O concreto estrutural é obtido pela associação do concreto simples com uma armadura, ambos resistindo solidariamente aos esforços solicitantes. A solidariedade entre os dois materiais é garantida pela aderência aço-concreto. A armadura pode ser passiva ou ativa (quando introduz esforços nas peças). As misturas dos elementos constituintes do concreto com outros materiais podem ser assim designadas: � CIMENTO + ÁGUA = PASTA � PASTA + AGREGADO MIÚDO (AREIA) = ARGAMASSA � ARGAMASSA + AGREGADO GRAÚDO (BRITA) = CONCRETO SIMPLES � CIMENTO + SÍLICA ATIVA + ÁGUA + ADITIVOS REDUTORES DE ÁGUA + AGREGADO MIÚDO + AGREGADO GRAÚDO = CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO � CONCRETO SIMPLES + ARMADURA PASSIVA = CONCRETO ARMADO � CONCRETO SIMPLES + ARMADURA ATIVA = CONCRETO PROTENDIDO � PASTA + AGREGADO MIÚDO + ARMADURA PASSIVA = ARGAMASSA ARMADA � CONCRETO + FIBRAS (AÇO, SINTÉTICAS) + ARMADURA = CONCRETO COM FIBRAS 49 Do ponto de vista tecnológico, existe uma grande variedade de concretos: - Concreto auto-adensável: não há necessidade de adensamento (vibração); - Micro-concreto (graute): concreto com reduzida granulometria; - Concreto projetado: aplicado com equipamentos especiais de projeção; - Concreto leve e pesado: agregados leves (argila expandida) e pesados (minerais de ferro, como magnetita); - Concreto rolado: baixo consumo de cimento e baixa trabalhabilidade, usados em pavimentos e barragens; - Concretos com aditivos: retardadores e aceleradores de pega, superplastificantes, controladores de viscosidade, corantes, etc. O concreto possui uma boa resistência à compressão. A presença de armaduras é justificada pela baixa resistência do material à tração. Devido à aderência concreto- armadura, a deformação dos dois materiais em uma peça é a mesma. Ocorre que o concreto fissura-se na região de tração, deixando a responsabilidade de absorver os estes esforços ao aço. Esta é a idéia fundamental do concreto armado: nas partes tracionadas das peças utiliza-se o aço como material resistente e nas partes comprimidas emprega-se o concreto. Tem-se assim um binário (momento) resistente na flexão das peças, formado por resultantes à compressão (concreto) e à tração (aço). A figura a seguir mostra esquematicamente este princípio. q A A barras de aço compressão tração momento fletor LN concreto simples: zona comprimida zona tracionada momento resistente Seção A-A momento atuante barras de aço Tensões Deformações 50 De um modo geral, as armaduras das peças de concreto armado devem ser dispostas de forma a absorver eficientemente os esforços de tração atuantes. No entanto, as armaduras podem também ser utilizadas para resistir à compressão, em auxílio ao concreto. Isto diminui a área de concreto, tornando as estruturas mais esbeltas. Em qualquer caso, a armadura deve estar mergulhada na massa de concreto, garantindo a aderência e o cobrimento protetor que impede a corrosão do aço. 4.1 Elementos estruturais Os principais elementos que compõem uma estrutura já foram descritos na Seção 2.2.1. A figura a seguir ilustra alguns elementos para uma estrutura em concreto armado. 4.2 Concreto simples O concreto simples é um material estrutural constituído pela mistura, convenientemente
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