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1 KÁTIA REGINA HILLESHEIM FATORES QUE INFLUENCIAM O INGRESSO NA UNIVERSIDADE: CONTRIBUIÇÕES DO CURSO DE PEDAGOGIA NAS FUNÇÕES LABORAIS DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS Itajaí 2014 2 UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura – ProPPEC Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE Curso de Mestrado Acadêmico em Educação KÁTIA REGINA HILLESHEIM FATORES QUE INFLUENCIAM O INGRESSO NA UNIVERSIDADE: CONTRIBUIÇÕES DO CURSO DE PEDAGOGIA NAS FUNÇÕES LABORAIS DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS Itajai (SC) 2014 Dissertação apresentada ao colegiado do Programa de Pós-Graduação em Educação como requisito à obtenção do grau de Mestre em Educação. Área de concentração: Educação. Linha de Pesquisa: Práticas Docentes e Formação Profissional. Grupo de Pesquisa: Educação e Trabalho. Orientadora: Profª. Dra. Tânia Regina Raitz. 3 UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura – ProPPEC Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE Curso de Mestrado Acadêmico em Educação CERTIFICADO DE APROVAÇÃO KÁTIA REGINA HILLESHEIM FATORES QUE INFLUENCIAM O INGRESSO NA UNIVERSIDADE: CONTRIBUIÇÕES DO CURSO DE PEDAGOGIA NAS FUNÇÕES LABORAIS DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS Itajai, 28 de julho de 2014. Dissertação apresentada ao colegiado do Programa de Pós-Graduação em Educação como requisito à obtenção do grau de Mestre em Educação. Área de concentração: Educação. Linha de Pesquisa: Práticas Docentes e Formação Profissional. Grupo de Pesquisa: Educação e Trabalho. Orientadora: Profª. Dra. Tânia Regina Raitz. Membros da Comissão: Orientadora: _______________________________ Profª. Drª. Tânia Regina Raitz Membro Externo: __________________________________ Profª. Drª. Nara Vieira Ramos Membro representante do colegiado: ________________________________ Profª. Drª. Cássia Ferri 4 A minha avó, Dindinha Maria Vargas (in memorian), fonte de inspiração para a vida, sabedoria que não se aprende na escola. Sempre estivesses aqui. Saudade nunca morre. 5 NÃO HÁ NO MUNDO EXAGERO MAIS BELO QUE A GRATIDÃO Jean De La Bruyere Deus... Porque é Pai, entendes perfeitamente porque eu te busquei infinitamente mais vezes nos momentos de aflição do que nos momentos felizes. Porque é Pai, compreendes quão grande é minha gratidão e como me faltam palavras para expressar o sentimento de chegar até aqui. Porque é Pai, Tu sabes... A professora e orientadora Tânia Raitz. Sou fã. Conhecimento, sabedoria, disponibilidade, paciência e força. Com doçura e mão firme, acreditou, apostou, incentivou e corrigiu os rumos de cada etapa do trabalho. Eu não teria conseguido sem tua presença. Quando eu crescer, quero ser como você! Orientadora em meu mestrado e amiga para a vida inteira. “Gosto e preciso de ti, mas quero logo explicar, não gosto porque preciso. Preciso sim, por gostar”. (Mário Lago) Gratidão eterna! Ao meu PAI, sem o qual nada disso existiria. Foi por mim, mas foi por ti. Cada alegria em teus olhos, a satisfação por meu progresso, o orgulho, a determinação e esforço em custear cada centavo que fosse destinado ao estudo sempre. Saber que o prazer que tenho em estudar é reconhecido por ti como uma benção, é uma das minhas maiores riquezas. De todas as coisas materiais que me deste, (e foram muitas) esse Mestrado é, sem dúvida alguma, o presente mais valioso que eu recebi. Presente mais valioso que esse só a tua VIDA e os teus exemplos! Obrigada por existir e ser MEU PAI. A minha MÃE. A Professora! Segui teus passos, Mãe! Na infância, eu te observava pelos corredores da escola, linda, no salto. Sempre me parecia tão feliz junto aos colegas. Sempre elogiada por sua pontualidade, pelo serviço impecável e comprometimento. Eu lembro tanto das pastinhas da secretaria alinhavadas com lã vermelha. Um capricho, uma dedicação. Estava definido, era assim que eu queria ser, igualzinha à minha MÃE! Pedra preciosa, força na caminhada, pilar de sustentação, exemplo de mulher guerreira, mediadora, apoio e amor incondicional. Obrigada por ser Professora, Pedagoga e MINHA MÃE. Aos meus FILHOS. Se em um único dia vocês não estiveram aqui, eu também não estive. Sabemos da ausência física e emocional. Não quero pedir perdão por isso. Seria como dizer que fiz algo de que acredito estar errada e vocês nem acreditariam, porque me conhecem demais. Prefiro a pretensão. Que sirva de inspiração para as buscas de vocês. Não há como conseguir o que se deseja sem abdicar de muitas coisas, ou ao menos algumas por algum tempo. O que vem fácil pode ir à mesma velocidade. Nossas escolhas implicam renúncias. Se http://pensador.uol.com.br/autor/jean_de_la_bruyere/ http://pensador.uol.com.br/autor/mario_lago/ 6 existe amor maior do que eu sinto por vocês, eu desconheço! De todas as facetas das mulheres em que sou a mais feliz delas é a MÃE! Obrigada por isso! Ao Edgar. “[...]É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nas festas agendadas no calendário, de vez em quando.[...] Difícil é permanecer ao seu lado quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez, do nosso faz-de-conta, para caminhar humanamente ao seu encontro.” Tantos pedidos de socorro não verbalizados, mas atendidos. Tanto colo, tantas lágrimas enxugadas, tanto bolo com chá na madrugada fria, tanto fim de semana na clausura científica... Cedeste... inclusive o quarto, quando eu descobri nele meu melhor espaço de rendimento. Eu disse que também agradeceria por isso, lembra? Obrigada!! Às minhas irmãs Fabiana e Karoliny e às sobrinhas que amo sem nem saber como explicar e demais familiares cujo convívio ficou comprometido durante a elaboração da dissertação. Saibam que jamais me afastei em pensamento. Agora presto contas e espero que me desculpem. Amo vocês!!! À Maria Odete, por tantas comidinhas preparadas e enviadas para que eu tivesse os melhores “intervalos” na produção. Uma mulher admirável, incansável e sensacional. À prima Márcia (in memorian), alguns dias antes da minha defesa foi tua partida. Que bom que em vida, quase sempre ainda temos uma segunda oportunidade. Assim, na versão final eu posso deixar o registro. Obrigada por tantas palavras motivadoras em meio a tua dor. Por ter se interessado tanto por minha pesquisa, por perguntar cada detalhe e se alegrar em cada etapa. Não tive dúvida alguma da tua presença ilustre no grande dia! Olha por mim! Professoras Doutoras da banca: Nara Vieira Ramos, por suas contribuições, apontamentos e disponibilidade; e Cássia Ferri, suas contribuições vêm desde o tempo das disciplinas, período no qual, além de aprender muito, passei a admirá-la pela profissional e pessoa ímpar que é. À coordenadora do PPGE Profª. Drª. Valeria Silva Ferreira e a todos os docentes, por fomentar o espírito científico. Às “meninas” da secretaria, Núbia, Mariana e Tânia, que, de maneira competente e carinhosamente, sempre atenderam prontamente. Não tem como esquecer competência e generosidade. Às amigas Ana e Marianna, pela amizade, pela convivência, por compartilhar experiências, pelo apoio, risadas e incentivo que ajudaram a amenizar as dificuldadesdessa jornada. Sei que é para sempre. Aos demais colegas do grupo de Mestrado, pela troca de conhecimentos e convivência. 7 À amiga Marianna Corrêa cabe um agradecimento à parte. Horas dedicadas a mim e a minha produção. Trocou, acompanhou, acolheu, socorreu, mas, acima de tudo, ensinou. Reafirmou em mim a certeza de que existem pessoas que não se cansam de dizer sim. Ao amigo e meu diretor Perci Freitas, por despertar a Docente de Ensino Superiorior que hoje sou. Por me incentivar ao mestrado, mais que isso, me direcionar sem me dar a chance de dizer não. Por me apresentar a minha orientadora. Palavras nunca expressariam minha gratidão. Aos amigos Luca e Léo. Vocês são meus irmãos. Pela presença diária, preocupação, força. Por ouvir, atender, secar lágrimas e dar colo até virtualmente. Nós nos escolhemos. Que benção! Ao amigo Pe. Rogério Groh (in memorian), muitos anos antes de eu começar, tu já havias dito que eu chegaria. Suas palavras foram lembradas em todo esse percurso. Colegas de trabalho da FMP, eu adoraria citar o nome de todos. Como não é possível, vou mencionar alguns que são representativos dos demais por atitudes específicas relacionadas à dissertação: Edinalda, Sueli, Rose, Carolina, Maria Fernanda e Osana. Vocês sabem! Alunos da FMP. Vocês são sempre um dos maiores objetivos pelo aperfeiçoamento. Bem mais que isso, incentivadores diários. Meus motivadores nas “redes sociais” e no ambiente presencial de convívio. Àqueles que gentilmente cederam seus tempos respondendo questionários e concedendo entrevistas, contribuindo para que eu pudesse melhor compreender o tema de pesquisa. E a todos os que de alguma maneira contribuíram para a presente pesquisa, que acompanharam torcendo, incentivando, motivando, de perto, à distância e iluminaram esse percurso. Eu cheguei! 8 "Querer libertar: eis a verdadeira doutrina da vontade e da liberdade. [...] Não-mais-querer e não-mais-estimar e não-mais-criar! Ai, que esse grande cansaço fique sempre longe de mim! Também no conhecer sinto somente o prazer de gerar e de vir-a-ser de minha vontade; se há inocência em meu conhecimento, isso acontece porque há nele vontade de gerar.” (NIETZSCHE, in. Vontade de Potência) 9 RESUMO O presente estudo teve como objetivo analisar os principais fatores que influenciam o ingresso de estudantes universitários no curso de Pedagogia da Faculdade Municipal de Palhoça, localizada em Palhoça/SC, e as percepções deles acerca da formação para suas funções laborais. A realidade encontrada em cada novo semestre frequentado nesta faculdade revela que muitos jovens que buscam Pedagogia não têm como fim a docência. Especificamente das observações, dos depoimentos e das conversas informais observou-se a necessidade de investigar, como um primeiro movimento da pesquisa, o perfil dos estudantes do referido curso, suas aspirações e quais as contribuições encontradas no decorrer da formação para atuar no mercado de trabalho. Portanto, como pesquisadora da linha de Pesquisa Práticas Docentes e Formação Profissional e do Grupo de Pesquisa Educação e Trabalho, do PPGE, da Universidade do Vale do Itajaí, surgiram vários questionamentos, um deles se apresentou como o problema central desta dissertação: quais os principais fatores que influenciam o ingresso de estudantes universitários no curso de Pedagogia da Faculdade Municipal de Palhoça e quais as suas percepções sobre as contribuições do curso para suas funções laborais? O mundo do trabalho está em constantes transformações desde a década de 90, do século XX, com foco na reestruturação produtiva, avanço da tecnologia, mundialização dos mercados, entre outras constatações de grande relevância quando falamos de inserção profissional. A sociedade passa por momentos de profundas mudanças em que as relações de trabalho são vivenciadas diferentemente de outras épocas, logo, afetam sobremaneira a educação. As questões referentes ao trabalho e à educação estão totalmente entrelaçadas, transcorrendo toda a história da humanidade. Desta forma, a presente pesquisa torna-se significativa, pois traz questões importantes sobre o tema da “transição da universidade ao mercado de trabalho” ou da trajetória de estudantes universitários e suas funções laborais. A pesquisa é de abordagem qualitativa, entretanto vale-se de dados quantitativos, sendo que, num primeiro momento, utilizou-se como instrumental um questionário aplicado a 201 (duzentos e um) estudantes do curso de Pedagogia da mencionada Faculdade. Este serviu como uma enquete com a finalidade inicial de caracterizar o perfil de tais estudantes. Num segundo momento, foram entrevistados 08 (oito) sujeitos por meio de entrevistas orais individuais com o uso de gravador, teve o propósito de aprofundamento dos objetivos propostos. Desta maneira, é possível inferir sobre um nível da realidade que não pode ser mensurada, envolvendo os significados, motivos, valores e aspirações desses futuros pedagogos. Na atualidade, novos processos no mundo do trabalho passam a exigir ainda mais novas atitudes e posturas na sociedade e na profissão, uma nova ética que corresponde a ter responsabilidade, buscar informações, ter e produzir conhecimentos, análise crítica e reflexiva. Por conseguinte, o mergulho nesse universo em busca de novas descobertas trouxe alguns resultados, quais sejam: primordialmente, a opção pelo curso se deu por ocasião e não deliberação. A necessidade de um curso superior para melhorar a qualificação em aspectos gerais se configura como o maior objetivo de busca dos sujeitos da pesquisa. Os entrevistados não deixam dúvidas da utilização de conhecimentos construídos e informações adquiridas no curso em suas funções laborais, ainda que estas não estejam relacionadas com a área de formação. Palavras-chave: Estudantes de Pedagogia; Funções laborais; Inserção profissional. 10 ABSTRACT This study analyzes the main factors that influence the enrollment of university students on the Pedagogy course of the Faculdade Municipal de Palhoça, in the town of Palhoça/SC, and their perceptions about the training for their jobs. The reality found in each new semester enrolled in the Faculty reveals that many of the young people who take the Pedagogy course do not intend to work as teachers. Based on observations, interviews and informal conversations, we saw a need to investigate, at the outset of the research, the profile of students on the course in question, their aspirations, and the contributions found during the training to work in the job market. Therefore, as a researcher in the line of research Educational Practice and Vocational Training of the Research Group Education and Labor of the PPGE of the University of Vale do Itajaí, several questions emerged, one of which forms the central problem of this thesis: Which are the main factors that influence university students to enroll in the Pedagogy course of the Faculdade Municipal de Palhoça, and which are their perceptions of the contributions of the course to their job functions? The working world has been undergoing constant change since the 1990s, focusing on productive restructuring, advances in technology, and globalization of markets, among other changes of great importance when it comes to employability. Society is going through a period of profound change in which labor relations are experienced differently from other eras. This, in turn, is having a profound effect on education. Issues surrounding work and education have been closely linked since the beginning of human history. This research is therefore significant, as it brings important issues on the topic of "transition from university to the labor market",the career paths of students, and their work functions. The research uses a qualitative approach, although quantitative data were used. First, a questionnaire was administered to 201 (two hundred and one) Pedagogy students from the Faculdade Municipal de Palhoça. The initial purpose of this survey was to characterize the profile of these students. In the second step, we interviewed eight (08) students through individual oral interviews with a tape recorder, to explore the proposed objectives in greater depth. Thus, it is possible to infer a level of reality that cannot be measured, involving the meanings, motives, values and aspirations of these future educators. Nowadays, new processes in the working world will demand even more new attitudes and positions in society and in the profession, and a new ethic that requires taking responsibility, seeking information, having and producing knowledge, and critical and reflective analysis. Therefore, this dip into this universe in search of new discoveries brought some results, in particular, that the decision to take the course was largely by chance, and not by deliberation. The need for a graduation course to improve the qualification in general aspects is the main objective of this research. The students that took part in the interview left no doubt as to the use of the knowledge built, and information acquired on the course, in their jobs, although those jobs may not be directly related to the area of training. Keywords: Pedagogy Students; Labor functions; Employability. 11 LISTA DE SIGLAS ANFOPE – Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação ANPAE - Associação Nacional de Política e Administração da Educação ANPED - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação CEEP - Comissão de Especialistas de Ensino de Pedagogia. CP - Conselho Pleno. DCN- Diretrizes Curriculares Nacionais DCNP- Diretrizes Curriculares Nacionais Pedagogia EJA – Educação de Jovens e Adultos FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FMP – Faculdade Municipal de Palhoça ForumDir- Fórum Nacional de Diretores de Faculdades IES – Instituição de Ensino Superior INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC – Ministério da Educação e Cultura PMP – Prefeitura Municipal de Palhoça RH – Recursos Humanos TCC- Trabalho de Conclusão de Curso TRALS- Transições acadêmicas e Laborais ONG – Organização Não Governamental UFSC- Universidade Federal de Santa Catarina UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. 12 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Da aplicação do questionário ................................................................................. 62 Gráfico 2 – Tempo de curso ..................................................................................................... 66 Gráfico 3 – Cidade que reside .................................................................................................. 67 Gráfico 4 – Ensino Fundamental .............................................................................................. 67 Gráfico 5 – Ensino Médio ........................................................................................................ 68 Gráfico 6 – Com relação à escolha pelo curso de Pedagogia ................................................... 69 Gráfico 7 – Quanto à satisfação com o conteúdo desenvolvido no curso ................................ 70 Gráfico 8 – Quanto à área de atuação atual. ............................................................................. 71 Gráfico 9 – Quanto às pretensões de atuação profissionais futuras. ........................................ 72 Gráfico 10 – Quanto à idade ..................................................................................................... 73 13 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Quanto à situação de trabalho ................................................................................ 65 Quadro 2 – Sexo dos entrevistados........................................................................................... 66 Quadro 3 – Quanto a ter frequentado um curso de pré-vestibular ............................................ 68 Quadro 4 – Síntese das informações gerais dos participantes da entrevista ............................. 74 14 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Espaços de atuação do pedagogo ............................................................................. 55 15 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 17 1 TRANSFORMAÇÕES NA ÁREA DE ATUAÇÃO DO PEDAGOGO E DO MUNDO DO TRABALHO .................................................................................................................... 21 1.1 Estudos que se aproximam da temática ......................................................................... 21 1.2 Referencial teórico ............................................................................................................ 28 1.2.1 Ensino Superior: características e especificidades ......................................................... 28 1.2.2. Trabalho, educação, emprego e as mudanças no cenário atual .................................... 32 1.2.3 Transições universitárias e o mercado de trabalho: realidade, desafios e perspectivas 37 1.2.4 Contextualização do cenário da pedagogia: breve histórico .......................................... 43 1.2.5 Os campos de atuação do profissional pedagogo e as práticas educativas ................... 49 2 CAMINHO METODOLÓGICO: PERCURSO DA PESQUISA ................................... 59 2.1 Caracterização e cuidados éticos do estudo ................................................................... 59 2.2 Instrumentos de coletas das informações ....................................................................... 61 2.3 Participantes do estudo: caracterização do perfil dos estudantes de pedagogia ........ 64 2.4 Entrevistas: caracterização do perfil dos estudantes pedagogos (as) .......................... 74 2.4.1 Estudante (E1) ................................................................................................................. 75 2.4.2 Estudante (E2) ................................................................................................................. 75 2.4.3 Estudante (E3) ................................................................................................................. 76 2.4.4 Estudante (E4) ................................................................................................................. 76 2.4.5 Estudante (E5) ................................................................................................................. 77 2.4.6 Estudante (E6) ................................................................................................................. 77 2.4.7 Estudante (E7) ................................................................................................................. 78 2.4.8 Estudante (E8) ................................................................................................................. 78 3 FATORES DE INGRESSO, CONTRIBUIÇÕES DO CURSO DE PEDAGOGIA E PERCEPÇÕES DAS FUNÇÕES LABORAIS .................................................................... 79 3.1 A escolha pelo curso de Pedagogia e os fatores que influenciaram o ingresso............ 79 3.2 As contribuições do curso de Pedagogia nas funções laborais ..................................... 83 3.3 As relações estabelecidas entre educação e trabalho ..................................................... 86 3.4 Expectativas futuras em relação ao curso, profissão e campos de atuação dos pedagogos................................................................................................................................ 91 CONSIDERAÇÕES FINAIS: A FORMAÇÃO QUE TRANSFORMA O TRABALHADOR MODIFICA TAMBÉM, COM O TEMPO, O SEU ‘TRABALHAR’. .................................... 95 16 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 99 APÊNDICE A - AUTORIZAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA .............. 107 APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO DE PERFIL DOS ESTUDANTES DE PEDAGOGIA ................................................................................................................................................ 108 APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA ............................................................... 111 APÊNDICE D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ......... 113 17 INTRODUÇÃO Trabalhar e conviver durante anos com jovens em relações de orientação profissional, docência e nas mais diversas atividades conduziu-me a naturalmente desenvolver interesse por seus anseios, dúvidas, aflições, conversas, preferências, particularidades e, inclusive, companhia. Isso por si só me parecia suficiente para discorrer tranquilamente sobre os mais diversificados aspectos que os circundam. No entanto, ao iniciar a construção desta pesquisa, percebi o quão frágil pode ser nossa experiência diante da complexidade de temas que representam a vida. Como professora, tinha e tenho um discurso acerca da minha prática pedagógica, elaborado pela apropriação de conhecimentos adquiridos, relacionando-os às experiências concretas que foram me dando pistas orientadoras para a ação. Mas tendo a reflexão como ferramenta, o processo de desconstrução e reconstrução da ação se dá sobre qualquer atividade. O desenvolvimento pessoal e profissional de um professor é um processo complexo. A estrutura do meu processo delineou-se mais claramente, por vezes, em situações contraditórias e a definição do referente tema de pesquisa não se deu de forma diferente. Trabalho há 19 (dezenove) anos na educação, iniciando minha experiência no Ensino Superior em 2007, sendo professora substituta. Todavia, em 2009, quando ingressei por meio de processo seletivo como docente do Curso de Pedagogia na Faculdade Municipal de Palhoça, é que as mudanças significativas me conduziram à busca pelo Mestrado e por tema de pesquisa que irei apresentar ao leitor. Desde então, observações informais demonstravam que determinados alunos de início não tinham interesse em exercer a docência. A busca para certas inquietações do porquê não pretendiam a docência levou-me a mergulhar neste universo. Esse processo envolveu trabalhar as concepções, muitas vezes ambíguas, expressas em frases cheias de confrontos, em que aparecem incompreensões, descrenças, ao lado de perspectivas e compromissos futuros. Assim, entendo que, ao pesquisar, assumimos um papel em um contexto que não conhecemos. É, portanto, algo singular e plural, dado que toda descoberta é um desdobramento de outras descobertas. Ela possibilita ao sujeito sair de si, perceber-se e produzir uma razão nova, subvertendo o já mencionado. Foi assim que percebi, nesse desenrolar a respeito dos meus conceitos, que meus discursos construídos sobre o curso de Pedagogia ou minha própria prática docente precisavam de desconstrução, ou melhor, de conflito. Talvez e muito honestamente esses tenham sido, senão as principais, as primeiras origens da escolha do presente tema. 18 A relevância desta pesquisa e dos estudos aqui exibidos contribuiu para um debate que se considera importante no que tange aos estudantes universitários, seus anseios, perspectivas e profissionalização, sobretudo os estudantes trabalhadores. Atenta-se igualmente para a discussão sobre a formação do pedagogo e sua profissionalização, elegendo-se a atuação em espaços não escolares como uma prática de grande significado para o suporte e o desenvolvimento de projetos de educação social, como complemento da educação formal. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os Cursos de Pedagogia são exemplo, assim como a tentativa de orientar e propor princípios norteadores em torno da formação, profissionalização docente e área de atuação do Pedagogo. Elas definem a extinção das habilitações, ao mesmo tempo em que dão indicativos sobre o espaço de atuação, dos novos eixos curriculares, atividades e competências que precisam ser trabalhadas no curso de Pedagogia. Sendo assim, fez-se necessário investigar a conexão que se estabelece entre educação e trabalho pelos estudantes universitários e analisar atentamente se as expectativas desses alunos foram correspondidas no curso, estabelecendo as relações necessárias e de direito que o projeto de Resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE), de 15 de maio de 2006, instituiu em suas Diretrizes para o curso de Pedagogia, licenciatura. Criam-se, assim, duas habilitações: a licenciatura em Pedagogia para o exercício da docência em educação Infantil e séries iniciais e define os objetivos de formação dos licenciados, os referenciais curriculares, inclusive o estágio e a duração de no mínimo 3.200 horas, pelo menos 300 horas de estágio supervisionado. Diante dos objetivos propostos pela presente pesquisa e das hipóteses levantadas de que mesmo aqueles estudantes que não pretendem atuar como docentes frequentam o curso de Pedagogia porque este traz contribuições extremamente relevantes em suas funções laborais, houve necessidade de ir além, investigar em quais espaços não escolares um profissional formado em Pedagogia poderia estar atuando, fora a sala de aula, e quais os fatores de escolha de tal curso, já que alguns dos seus alunos estavam atuando em outra situação de trabalho. O mundo está em constante mudança na área da educação e do trabalho, o que nos leva a novos processos de ensino e aprendizagem. Para tanto, como cita Paulo Freire (1996, p. 50), “[...] ensinar exige consciência do inacabamento”. Foi preciso, então, partir de constatações simples, porém de grande importância. A sociedade passa por momentos de profundas transformações em que as relações de trabalho são vivenciadas diferentemente de outras épocas, logo, afetam sobremaneira a educação. As questões referentes ao trabalho e à educação estão totalmente entrelaçadas, transcorrendo toda a história da humanidade. 19 Portanto, na atualidade, novos processos no mundo do trabalho passam a exigir ainda mais novas atitudes e posturas perante a sociedade e a profissão, uma nova ética: de responsabilidade, de conhecimento, de crítica e de criação. Deste modo, na discussão que se insere a formação ou profissionalização do pedagogo, Libâneo (2010, p. 38) diz que “o curso de Pedagogia deve formar o pedagogo stricto sensu, isto é, um profissional qualificado para atuar em vários campos educativos para atender demandas socioeducativas de tipo formal e não formal”. Para além desses aspectos, o autor ainda ressalta que a atuação deve se dar também na “ampliação das formas de lazer, mudanças nos ritmos de vida, presença dos meios de comunicação e informação, mudanças profissionais, desenvolvimento sustentado, preservação ambiental” (p. 38). Portanto, devem- se considerar outros espaços que são recorrentes e desafiantes. Já Lopes, Trindade e Cadinha (2011, p. 20) contribuem para esta discussão salientando: “O pedagogo é um estudioso das ações educativas que ocorrem em todas as vidas sociais, culturais e intelectuais do sujeito inserido em uma sociedade na qual ele contribui para o seu desenvolvimento.” Entretanto, sabemos que há muita polêmica e controvérsias acerca dos campos de atuação do pedagogo. Neste sentido, não se pode ficar demasiadamente preocupado com os campos de atuação e perder de vista a formação. Isto representa que, onde quer queesteja o profissional Pedagogo, ali estará um licenciado, ou seja, um professor ou docente. A função que ocupa não modifica a origem de sua formação. Frente ao que foi exposto e que está de acordo com o objeto do presente estudo, formulamos o problema central desta investigação: quais os principais fatores que influenciam o ingresso de estudantes universitários no curso de Pedagogia da Faculdade Municipal de Palhoça e quais suas percepções sobre as contribuições do curso para suas funções laborais, já que atuam em outras situações de trabalho que não a docência? Nesse sentido, este estudo, que tem como preocupação contribuir para ampliar e produzir conhecimento acerca da transição dos estudantes universitários ao mercado de trabalho, bem como promover reflexões a respeito da atuação profissional do pedagogo, teve como objetivo principal analisar os fatores que influenciam a escolha ou ingresso no curso de Pedagogia e as percepções dos estudantes sobre a sua formação para as funções laborais em situações para além da docência. No primeiro capítulo foram apresentados os pressupostos teóricos sobre o ensino superior e o estudante universitário, as transformações na área de atuação do pedagogo e o cenário atual do curso de Pedagogia. Foi discutido também a respeito das novas exigências no cenário atual do trabalho, educação e emprego, em que a profissionalização vem a ser um norteador no mundo do trabalho com novas atitudes e comportamentos, passando pelo debate 20 das transições. Da mesma forma, exibem-se as investigações que se aproximam do objeto de estudo, percorrendo pesquisas já existentes como uma maneira de sintetizar as contribuições e lacunas na revisão da literatura sobre a temática estudada. No segundo capítulo da dissertação, expõe-se o caminho metodológico e os procedimentos que contribuíram para o percurso do estudo. Estabeleceu-se assim, a partir de tal busca, a perspectiva atual de alguns autores. Esses compreendem que os métodos qualitativos e quantitativos podem ser complementares e a opção por uma ou outra abordagem depende diretamente das necessidades, finalidades e dos objetivos da pesquisa realizada. Neste contexto, optou-se, numa primeira etapa, pelo questionário de perfil por utilizar os dois aspectos, numa segunda etapa, investiu-se na entrevista semiestruturada com 8 (oito) sujeitos, um de cada fase do curso de Pedagogia. No terceiro capítulo emergem os resultados da pesquisa em que categorias eleitas deram visibilidade aos objetivos que se propôs neste estudo, a análise de conteúdo traz acerca da escolha pelo curso de Pedagogia e fatores que influenciaram o ingresso, as percepções dos alunos (as) sobre as contribuições do curso de pedagogia nas funções laborais, as relações estabelecidas entre educação e trabalho e as expectativas futuras quanto ao curso, profissão e campos de atuação dos pedagogos. Nas considerações finais, elabora-se uma síntese dos resultados encontrados, fazem-se inevitáveis retrospectivas e idealizações. Afinal, como já disse o bom poeta Mario Quintana: “Sonhar é acordar-se para dentro”. http://pensador.uol.com.br/autor/mario_quintana/ 21 1 TRANSFORMAÇÕES NA ÁREA DE ATUAÇÃO DO PEDAGOGO E DO MUNDO DO TRABALHO As opções teóricas apresentadas neste capítulo objetivaram integrar alguns aspectos considerados relevantes para contextualizar e problematizar o objeto de estudo, bem como fundamentar o tema escolhido para a presente pesquisa. Desde o início desta investigação foram lidos e analisados artigos, dissertações e teses, que totalizaram 106 (cento e seis) trabalhos produzidos nas últimas duas décadas. Tais estudos apresentam-se subdivididos em temas como: Mercado de Trabalho, Transições Acadêmicas, Ensino Superior no Brasil, Desvio Ocupacional, Curso de Pedagogia – realidade e movimentos. A cada tema necessário ao entendimento da referida pesquisa elege-se para aprofundamento os trabalhos mais específicos por meio de avaliação via resumo. Todas as leituras foram consideradas relevantes para o contexto e construção da revisão e estudos. Contudo, por se tratar de um tema bastante específico de uma realidade em particular, não se encontrou nenhuma obra que tratasse essencialmente dos estudantes do curso de Pedagogia e suas percepções sobre as contribuições do referido curso para suas funções laborais em outras áreas. Cinco pesquisas encontradas apresentaram maior similaridade. Uma tese, duas dissertações, uma comunicação e uma pesquisa realizada pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (SEMESP). Desta maneira, o item 1.1 discorrerá sobre as principais temáticas encontradas na revisão de literatura. No item 1.2 será feito o levantamento dos principais pressupostos teóricos que cercam a temática. Espera-se, com isso, que se tenha mais clareza em relação à problemática do estudo e assim embasar de forma mais consistente a análise dos dados. 1.1 Estudos que se aproximam da temática Estamos vivendo em uma sociedade que nos surpreende por sua evolução ágil, transitória, de progresso e de transformação. A sociedade vem superando barreiras, quebrando antigos padrões de comportamento, estipulando novas regras. Perante esse fenômeno, é imprescindível que o profissional obtenha novas capacitações para enfrentar as ameaças ocasionadas por um mercado muito competitivo e pelo ambiente externo. No Brasil, muitos estudos que investigam o mercado de trabalho trazem como sujeitos os estudantes trabalhadores. Além disso, estão associados aos estudos referentes à formação sua importância e as transições acadêmicas para as atividades laborais. Ainda que com 22 objetivos diferentes se encontrem produções que relacionam os temas anteriormente citados entre si. A dissertação de Régnier (1998) a respeito de “qualificações e competências” é um bom exemplo de produção que investiga os mais variados aspectos do mercado de trabalho. Dentre eles, as oportunidades e os desafios que se estabelecem: o espaço da mulher, avanço tecnológico e as transformações na forma de emprego. Esta pesquisadora comenta que as concepções de emprego, trabalho e segurança social, vistas quase como sinônimas, mudaram muito nos últimos tempos, foram evoluindo simultaneamente às condições de produção e às configurações sociais. Desta forma, mudaram igualmente as realidades que se escondem por trás de tais noções. Diversos são os fatores que, interagindo colaboraram para a construção desta nova realidade do trabalho. A ampliação das inovações tecnológicas e organizacionais, as transformações econômicas, as políticas públicas, o crescimento da participação feminina e um individualismo crescente na busca desenfreada das sociedades contemporâneas. As relações de trabalho caracterizadas por contratos formais, em que fazer “carreira” e não romper com seu vínculo eram os maiores objetivos que assumiram outras configurações. Sistematicamente a atualização do conhecimento torna-se essencial, uma vez que a evolução da tecnologia se deu de maneira muito rápida e, como consequência, os processos produtivos tiveram que se adaptar às transformações. O forte impacto desses elementos pode ser observado na nova estrutura do mercado de trabalho. As relações trabalhistas bem mais informais, mudanças nas exigências e nos requisitos para contratação, novas habilidades e competências, deslocamentos setoriais, assim como a crescente terceirização, fato que fragiliza as garantias trabalhistas e pode desmotivar a busca por formação, visto que trabalhadores com baixa qualificação substituem outros melhores qualificados. Conforme Régnier (2006, p. 67), “entretanto, isso não significa que os benefícios sociais da ‘democratização’ da educação possam ser mitigados.” A autora destaca que reduzir tal vantagem é potencializar suaimportância a serviço único da economia, quando essa está para o exercício da cidadania, da vida social, política, entre outras finalidades. Estudos realizados por Alves e Soares (1997) trouxeram dados de pesquisa sobre o aumento da demanda por trabalhadores mais escolarizados nos processos seletivos. Nesses estudos, outros dados chamam muito a atenção, como o fato de que a procura pelo mencionado perfil de trabalhador possa estar diretamente relacionada ao interesse por indivíduos mais educados e competentes e não necessariamente só produtivos no sentido técnico. Ou seja, as organizações estavam buscando, além de qualificações técnicas, também comportamentais. Assim sendo, as empresas, que antes valorizavam pessoas para a execução 23 de tarefas, com objetivos específicos organizacionais, passam a uma visão mais ampla, valorizando os profissionais com características individuais. Considerando-se que esses estudos se realizaram há cerca de dezessete anos, podemos notar que, entre passos à frente e alguns retornos, muitas mudanças ocorreram no mercado de trabalho em duas décadas. No entanto, Lima (2013) e Zandonade (2013) - na 36ª Reunião Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED) – trazem discussões muito semelhantes sobre a concepção das competências exigidas pelo mercado de trabalho na atualidade. Utilizam-se dos estudos acerca do tema desenvolvidos por Zarifian (2003), em que o autor discorre que competência como construção social só é realizável em empresas nas quais o trabalhador realmente participe no planejamento e na efetivação do seu trabalho. Ou seja, as organizações que conseguem êxito em atenuar a divisão do trabalho, possibilitando que o maior número de pessoas passe a compreender seu trabalho como parte absolutamente necessária à engrenagem de um todo, e não fragmentação ‘faça o seu que eu faço o meu’, estarão trabalhando igualmente sobre a perspectiva de aproximação das relações hierárquicas que tenderão a ser mais horizontalizadas. O que se pode afirmar em análise da pesquisa de Lima (2013) e Zandonade (2013), ainda que não de modo definitivo, é que a aplicação do conceito de perfil do trabalhador, ou melhor dizendo, de desenvolvimento profissional baseado na noção de competências, não é a superação do trabalho alienado, fragmentado, individualizado. Todavia, ainda que mais na ordem do discurso do que na prática, configura-se a expansão do conhecimento gradativo e a perspectiva de implantação de produção integral, onde a consolidação das ações conjuntas e do conhecimento compartilhado estimulam essas possibilidades. Ingressar em um curso superior, concluir, pegar o diploma, encontrar um bom emprego, trabalhar por algumas décadas, se aposentar e curtir a vida. Parecem etapas estanques, ciclo após ciclo que deve ser concluído e, após o êxito de cada um, o prêmio. Por fim, o prêmio maior, uma aposentadoria digna. A realidade não acontece dessa forma para a maioria esmagadora. Para alguns, de modo bem superficial, as etapas se seguem de maneira linear, mas não sem que sejam atingidas por processos de incertezas, ansiedades ou dúvidas. Muitas pesquisas são realizadas sobre as “transições”. O que se sabe é que os estudos efetuados por grupos do mundo inteiro trazem diferentes conceitos para o termo “transição”, dependendo do contexto da pesquisa. A pesquisa de Benoit (2004) busca discutir o conceito de transição de Marx e mostrar como, para ele, tal conceito é incompatível com uma teoria de transição detalhada do futuro. Como afirma o autor, a Marx interessava descobrir a lei dos fenômenos da investigação à qual se ocupava. Por isso, investigou a lei que 24 rege os fenômenos do capital e do capitalismo. Porém, como dizia ainda o mesmo autor: para Marx é importante não só a lei que rege os fenômenos estudados, “[...] para ele, o mais importante é a lei de sua modificação, de seu desenvolvimento, isto é, a transição de uma forma para outra” (BENOIT, 2004, p. 3). Marx fez avaliações com tom irônico acerca das avaliações que recebeu sobre “O Capital 1 ”, a respeito de não prestar receitas para a cozinha do futuro e de que se limitaria à mera análise crítica do dado. Já para o Grup de Recerca sobre Transicions Académiques i Laborals (TRALS, 2002) que desenvolve pioneiramente na Europa estudos e investigações sobre as “Transições Acadêmicas e Laborais”, da Universidade de Barcelona – Espanha, as transições agrupam três outros conceitos: de mudança, de processo e de trajetória. É interessante perceber no estudo que o processo é compreendido como método, procedimento e a trajetória como caminho que permite diferentes saídas ou vias aos que transitam. Dessa maneira, é possível definir o conceito de transição como um processo de transformação descontínua na trajetória de vida. Devido à heterogeneidade de objetivos investigativos que cercam esse tema de pesquisa, principalmente no que concerne às transições, as problemáticas que nortearam a escolha dos trabalhos de referência também apresentaram heterogeneidade. Afinal, transições de toda ordem são aqui consideradas relevantes. Busca-se compreender quais os fatores que levam os estudantes a escolherem o curso de Pedagogia. Não se pode fazer uma análise de tal fenômeno sem estudar os aspectos fundamentais da transição no que se toca à entrada para o Ensino Superior. Faz-se necessário entender igualmente o processo de adaptação desse estudante e seu desenvolvimento, já que se procura investigar como o curso contribui para suas funções laborais. Ou seja, a transição de apenas trabalhador para trabalhador/estudante ou, em algum momento do curso, de estudante para estudante/trabalhador. Ainda que não fosse o foco da pesquisa, uma vez que esta não investiga os egressos do curso, é importante pesquisar a respeito do tema para melhor compreensão sobre perspectivas dos alunos do Ensino Superior. Nesse aspecto, acredita-se oportuno integrar as análises das pesquisas realizadas, devido à longa extensão de estudos encontrados no Brasil sobre o acadêmico na Educação Superior e os temas que os circundam. “As experiências na universidade durante o primeiro ano são de extrema importância para garantir a permanência no Ensino Superior e para o bom resultado acadêmico dos estudantes (PASCARELLA; TERENZINI, 2005; REASON; TERENZINI; DOMINGO, 2006).” A maneira como os estudantes convivem e se integram ao 1 O capital, livro I, p. 18, ed. Abril Cultural; MEW, 23, p. 25. 25 contexto do Ensino Superior interfere no aproveitamento das oportunidades oferecidas pela universidade, tanto para seu desenvolvimento psicossocial, como para sua formação profissional. Os estudantes que logo no início da vida acadêmica conseguem se integrar possuem mais chances de obter sucesso em aproveitamento de seus cursos. Segundo a pesquisa realizada para tese de doutorado por Bardagi (2007), passadas as primeiras sensações, que normalmente estão relacionadas à vitória por passar em um vestibular ou mesmo por estar ingressando em um curso superior por outra forma de processo seletivo, a alegria da entrada (transição) para um novo ciclo, vêm outros sentimentos. A falta de um maior conhecimento a respeito do que é a universidade e o que esperar dela, tanto em termos acadêmicos quanto pessoais, é um fator que pode concorrer para as dificuldades de adaptação. Na perspectiva da permanência no curso, Armbrust (1995), por meio de acompanhamento da trajetória de estudantes de enfermagem durante o período de entrada e conclusão, analisa fatores internos, ou seja, institucionais e extrainstitucionais que influenciam para a continuidade ou a evasão. Cita fatores externos, como a não valorização da profissão, como um dos fatores de desmotivação, e entre os internos, o custo das mensalidades, já quese trata de estudo realizado em universidade privada. A pesquisa de Schleich (2006) aponta uma escala de satisfação com a experiência acadêmica de estudantes do Ensino Superior. É inovador para a área das ciências humanas, por se tratar de uma pesquisa com método estatístico em aplicabilidade de investigação e análise dos dados e resultados. Sendo que as pesquisas qualitativas ainda são mais utilizadas nessa área. Schleich traz dados estatísticos que aqui não serão apresentados, porém sim os fatores na escala que aparecem como relevantes: 1) Satisfação com o Curso; 2) Oportunidade de Desenvolvimento; 3) Satisfação com a Instituição. E em subgrupos ou demais dimensões, dentro dos temas macros, aparecem outros como: a importância da relação entre colegas e oportunidade de desenvolvimento associados ao crescimento pessoal e profissional. Observa- se que os resultados apontam para um olhar positivo dos estudantes para o Ensino Superior. Soares (1987), em pesquisa realizada na Universidade Federal de Santa Catarina, com o objetivo de estudar a questão da re-escolha profissional, mostra dados importantes. A população inicial escolhida para a pesquisa foram os candidatos inscritos no vestibular/ 97 da UFSC, que declararam já ter iniciado algum curso superior anteriormente, num total de 4.424 candidatos. Após tal etapa, foram selecionados apenas os alunos aprovados, dentre esses do primeiro grupo. A pesquisadora constatou que 91,6% abandonaram ou ainda estavam cursando outro curso superior na ocasião do ingresso. Assim, observa a insatisfação e a 26 insegurança com a escolha do primeiro curso. Os elementos levantados serviram de referência para aprofundar a análise sobre fenômenos associados à evasão e para a caracterização de perfil dos universitários. Entretanto, chama a atenção a variedade de fatores que aparecem relacionados aos motivos aos quais os estudantes fazem nova escolha. Soares (1987) afirma que, em sua essência, as razões continuam desconhecidas. Algumas delas podem ser: a troca de universidade particular para pública, ou ainda, de uma cidade para outra; a busca pela 1ª opção não conseguida no primeiro vestibular; decepção com o curso/professor; colisão de horários entre o curso e a atividade profissional; mudança de interesses pessoais; falta de aptidões para a profissão escolhida ou mesmo desejo de experimentar um novo curso. O que fica evidente é a necessidade de grupos de orientação. Não somente de efetivo acompanhamento e esclarecimento durante o Ensino Médio, mas durante o Curso Superior. Alguns deslocamentos que aparecem na pesquisa talvez não fossem necessários, caso o estudante recebesse acompanhamento de equipe multidisciplinar. A insegurança com que a maioria dos estudantes, neste caso não se trata aqui apenas de jovens, entra em um curso superior é bastante grande. Refere-se aos estudantes de maneira geral, pois a abordagem que quer se dar é de insegurança com relação ao significado do curso, ao desconhecimento do currículo, das habilitações, dos campos de atuação, das relações com o mercado de trabalho, das possibilidades, entre tantas outras informações. Existe o curso da moda, o curso necessário, o curso com menor índice e, portanto, mais fácil para o ingresso, há aquele que ‘parece’ ser o que mais o estudante se identifica, que exige menos cálculo, o que exige mais escrita, leitura e por aí vai. São os ‘achismos’ do senso comum que acabam por provocar facilmente estragos nem sempre reversíveis e frustrações profissionais. Gomes (2014) e Palazzo (2014), em estudo intitulado: Professores de menos, licenciados demais?, exploraram dados estatísticos educacionais e populacionais do Brasil, com os objetivos de verificar a atratividade das licenciaturas e comparar com o perfil básico dos professores da educação básica. Entre outros resultados mostrados pela pesquisa, os possíveis desvios ocupacionais de concluintes de vários cursos levam à hipótese de credencialismo. Ou seja, se esses formados não estão ingressando nas profissões do magistério, estariam utilizando os diplomas das licenciaturas apenas como credenciais para ascensão ocupacional ou um possível aumento de remuneração. Libâneo (2010), em seu artigo, resultado de pesquisas e estudos sobre o curso de Pedagogia, as licenciaturas e a LDB, aborda questões instigantes e pertinentes. Fala sobre os vários desacordos existentes entre os educadores em relação a muitos aspectos, em especial a dois mais específicos, que cita o curso como bacharelado ou como licenciatura e a base 27 curricular assentada na docência ou na pedagogia. Salienta que o debate reabre a discussão sobre a conveniência ou não de se formar especialistas para atuar nas escolas. Propõe uma análise ampliada da problemática da formação de pedagogos a partir do projeto de Resolução do CNE para as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Pedagogia. Libâneo afirma que, devido aos problemas com as ambivalências e desalinhos da legislação recente acerca da formação de educadores, a Resolução evolui pouco no clareamento das dúvidas dos educadores das instituições formadoras do país. Esclarece que esta é vaga e pouco explícita justamente no que se refere aos temas mais polêmicos. Mantém a docência como base do curso e a equivalência do curso de Pedagogia ao curso de licenciatura, não se diferenciando, portanto, das propostas da Comissão de Especialistas e do ForumDir, ao mesmo tempo que institui o grau de bacharel e prevê cursos de formação de especialistas, sem especificar o que são tais cursos e de que maneira serão realizados. O autor constata que o projeto de Resolução do CNE é claro num ponto: a pedagogia é entendida como curso de formação de professores e, como tal, uma licenciatura, e o pedagogo é o profissional que ensina na educação infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Quanto aos debates a respeito do curso de Pedagogia e das diretrizes, Soares (2013) elabora um estudo documental valioso chamado: “Projetos De Formação Do Pedagogo Em Disputa No Processo De Construção Das Diretrizes Curriculares Nacionais Para O Curso De Pedagogia”. A pesquisa teve intenção de reconstruir parte do processo histórico de elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia. O Conselho Nacional de Educação (CNE) procurou padronizar o curso de Pedagogia em torno da formação para a docência para a Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, ao publicar o Projeto de Resolução (BRASIL, 2005), em março de 2005. Intelectuais envolvidos no processo resistiram ao movimento do CNE e às entidades representativas da área educacional por meio de publicações e pesquisas com o objetivo de dialogar com o estado e impedir esta restrição. Nesse contexto, Saviani (2008) aponta que as posições podem ser ainda mais variadas, na tentativa de definir o que se entende por pedagogia, mas alerta que todas as definições trazem um ponto em comum, que é a referência explícita à educação. Constata que as variadas interpretações sobre a pedagogia fazem referência à educação, porém nem todos a veem como ciência, aqui já reside um grande descompasso de interesses. Pela instituição de decretos e pareceres, o movimento da reforma educacional dos anos 90 intencionava eliminar o curso de Pedagogia transformando-o em Curso Normal Superior, restringindo-o à formação de professores para atuação na Educação Infantil e Anos Iniciais do 28 Ensino Fundamental. Intelectuais e entidades da área educacional apresentam argumentos e posicionamentos a fim de opor-se a esta proposta do CNE. A análise das propostas de formação do pedagogo apresentadas pelas entidades acabou por revelar que os projetos não mostravam, em sua maioria, posicionamentos claros em relação às atividades profissionais do pedagogo, ao campo epistemológico da pedagogia e sobrea base de formação deste profissional. Tais ambiguidades internas às propostas entre os projetos defendidos dificultaram a elaboração de uma DCNP com coerência. A Resolução CNE/ CP n° 01/2006 (BRASIL, 2006b) é apoiada por alguns e criticada por outros. Existe uma disputa evidente. A docência é hierarquizada pelas DCNP e seu significado autêntico é deturpado: para o CNE a docência é sinônima de gestão e pesquisa. Nesse sentido, o significado das atividades de gestão e pesquisa também fica adulterado. O documento aprovado não é considerado uma conquista por certos pesquisadores, pois é ambíguo, entretanto, possibilita a continuidade de cursos sólidos porque dão conta das adequações. Porém, a amplitude de interesses faz afirmar quão prejudicial é este documento à educação brasileira. Na trajetória dessa investigação, fez-se necessário incorporar a ideia de percurso, para que a aceitação do ‘sempre inconcluso’, de estar faltando algo, transformasse- se em motivação ao esforço da busca. Assim, destaca-se a seguir o referencial teórico com o intuito de embasar essa pesquisa. 1.2 Referencial teórico Os tópicos subsequentes apresentam os pressupostos teóricos os quais estão relacionados com o Ensino Superior, suas características e particularidades. A temática do trabalho, educação e emprego e as mudanças no cenário atual são trazidas, num primeiro momento, como discussão que perpassa a profissionalização do pedagogo. Em seguida, mostra-se um movimento que ocorre na perspectiva das transições universitárias e do trabalho, esse passando por uma breve contextualização do cenário que se insere a Pedagogia atualmente e os contrapontos entre os educadores no que concerne aos dois aspectos mais pontuais: o curso como licenciatura ou como bacharelado, finalizando o capítulo com um esboço de estudos já realizados sobre os campos de atuação do profissional pedagogo e das Práticas Educativas. 1.2.1 Ensino Superior: características e especificidades 29 O Brasil vem passando por um processo de expansão do Ensino Superior desde a década de 80. Desta forma, ampliou-se a oferta de faculdades e universidades e o número de alunos que ingressam em cursos de formação superior aumenta em larga escala. “[...] o crescimento assustador dos estabelecimentos privados de ensino superior ofereceram ao trabalhador a oportunidade de conquistar o diploma de 3º grau” (SAMPAIO; CARDOSO, 2003, p. 08). A percepção do governo e iniciativa privada de que a necessidade por mão de obra qualificada passava por formação impulsionou tal movimento que se deu no âmbito das políticas públicas e institucionais. Na mesma via das transformações econômicas, sociais e tecnológicas que exigem profissionais mais preparados e qualificados ao mercado de trabalho, estão os estudantes universitários. O perfil desses também se modificou muito. Hoje encontramos estudantes de camadas médias que optam por cursos mais concorridos, que exigem não apenas um turno na instituição e se dedicam exclusivamente aos estudos. No entanto, encontramos também outros que, provenientes das classes mais baixas ou de famílias abastadas, dedicam horas de seu dia ao trabalho remunerado e escolhem um curso superior noturno. A realidade das salas de aula dos cursos universitários é, em grande parte, de constituição de um público cada vez mais eclético. Estudantes de várias camadas sociais, de diferentes idades, trabalhadores ou não, interagem e buscam os referidos espaços por variados motivos e com objetivos por vezes semelhantes ou muito diferentes. Neste panorama, alunos e instituições têm novos desafios a cumprir. As instituições de Ensino Superior, no esforço de tentar observar a multiplicidade de fatores que impulsionam o ingresso no curso e as diferentes origens e experiências dos estudantes, atentando para as formas como vivenciam essas experiências, estariam contribuindo sobremaneira para que o período universitário se desse com menor possibilidade de evasão e de conflitos relacionados à adaptação e escolha de tal curso. O aluno, por sua vez, sendo o centro desse processo, deverá responsabilizar-se por interagir nesse ambiente, procurar os recursos que lhe são oferecidos e indagar-se constantemente sobre sua própria participação e contribuições do curso para que alcance seus objetivos. Todavia, a lógica acadêmica tradicional dificulta mais que contribui. A universidade tradicional tem sido caracterizada institucionalmente por uma cultura acadêmica baseada predominantemente na compartimentação disciplinar, na fragmentação feudal do poder, centrada em territórios de base disciplinar e num 30 individualismo competitivo que resiste a uma coordenação docente e obstaculariza posturas solidárias (FORMOSINHO, 2011, p.141) Numa observação mais ampla, percebe-se que essa estrutura atual potencializa conflitos. Com base na especialização disciplinar, o que frequentemente acontece é a promoção do saber individualizado, fragmentando práticas e desfavorecendo o trabalho colaborativo, uma das características tão exigidas pelo mercado de trabalho e que poderia ser privilegiada. A razão de ser da universidade está, em primeira instância, no aprofundamento do saber. É necessário então que se fomente a pesquisa para autonomia profissional e coletiva, para resolução de problemas que se traduzam em competências e em comportamentos relevantes para a vida dos estudantes e para suas atividades laborais. Desse modo, Formosinho (2011, p. 141) corrobora, “[...] a universidade pode contribuir também para promover as profissões e não apenas os profissionais [...]”. Esse reflexo se daria em contextos coletivos em larga escala, sendo que dois objetos passariam a ser alvo de preocupação equivalente, o curso e os estudantes desse curso, profissionais em questão. Considerando então, [...] qualquer atividade universitária deveria estar atingindo três aspectos sobre os quais se projeta o sentido da formação: o desenvolvimento pessoal, o desenvolvimento de conhecimentos e competências específicas e uma visão mais ampla do mercado de trabalho a fim de agir nele com mais autonomia. (ZABALZA, 2004, p.45). Em sua obra a respeito do ensino universitário, Zabalza (2004) ressalta a dificuldade de trabalhar o tema em questão. Cita fatores como a falta de tempo para a realização de tais debates, já que hoje o perfil dos estudantes é, em grande escala, de trabalhadores e dos docentes, profissionais com atividades em duas ou mais instituições. O desencontro dispersa possibilidades. As opções para recuperar a distância que separa a formação para o desenvolvimento pessoal, para o conhecimento e para competências específicas serão cada vez maiores se não for planejada uma forte recuperação do compromisso ético que implica o trabalho docente. Zabalza (2004) caracteriza o trabalho realizado dentro das universidades como ‘trabalho formativo’ 2 . Nessa linha de reflexão, entende-se que o compromisso das instituições 2 Para Zabalza (2004, p. 52-53), é necessário que o trabalho formativo esteja vinculado a todo “o ciclo vital das pessoas. Reforça-se, assim, a ideia de que a formação transcende a etapa universitária e os conteúdos convencionais da formação acadêmica, constituindo um processo intimamente ligado à realização pessoal e profissional dos indivíduos”. 31 perante seus estudantes está em utilizar o conhecimento e a informação para aguçar nos sujeitos a criticidade, a curiosidade, a sensibilidade diante da realidade social e a necessidade de pesquisa e de envolvimento coletivo. Tal prática será tão mais eficaz quanto for o envolvimento dos estudantes. Estes, conscientes de que a mudança ocorre em função da qualidade e do esforço em buscar aperfeiçoamento, aliado ao envolvimento com o grupo e aproveitamento máximodos recursos disponibilizados pela instituição, estarão tirando maior proveito de seu processo de formação. As relações que se estabelecem nas universidades são de extrema importância para o fortalecimento ou mudança de posturas, considerando o que se encontra em bibliografias, de que o Ensino Superior ocupa um dos níveis de ensino mais importantes para a vida do jovem e para a sua inserção no mercado de trabalho. Eis mais um excelente motivo para que as universidades se comprometam com os processos formativos, com o envolvimento de todos e o desenvolvimento voltado para a ética e a responsabilidade social e profissional. As mudanças das configurações do Ensino Superior podem ser observadas em várias partes do mundo. Isso modifica a estrutura do ensino universitário, exigindo que este esteja mais articulado com as exigências do mercado de trabalho e da produção, preocupado com o relacionamento com a sociedade em seu entorno. Esse processo é dinâmico. A alteração no perfil dos estudantes pressiona as instituições para mudanças e tais práticas têm atraído cada vez mais jovens trabalhadores, mesmo aqueles que já atingiram a maturidade e que depositam no curso superior a expectativa do caminho para a estabilidade no emprego. O mercado de trabalho, cada vez mais seletivo e exigente, pressiona a juventude e mesmo os que já passaram desta etapa a buscar especialização. Compreende-se, contudo, que as instituições de Ensino Superior podem fazer alterações internas que venham a colaborar com a nova configuração social. Mas sua autonomia é limitada por diversos fatores 3 . Enfim, não adianta teorizar ou prescrever o que a universidade deve fazer ou nível de qualidade que deve alcançar. A consideração não se completa caso não seja introduzida, ao mesmo tempo, a ideia de que a universidade é uma instância limitada e dependente. Além disso, no melhor dos caos, ela é ‘capaz’ de fazer somente o que está a seu alcance, partindo dos conhecimentos reais em que se articula (ZABALZA, 2004, p. 11). 3 Conforme o autor, é importante sinalizar que “[...] a influência é, na maioria das vezes, indireta, por meio da própria legislação e da orientação normativa (que presumivelmente visa adaptar a estrutura dos cursos ao desenvolvimento atual da ciência e da cultura, assim como as demandas da sociedade e do mercado de trabalho)” (ZABALZA, 2004, p. 11). 32 As limitações a que Zabalza (2004) menciona não devem servir para que em nome disso não se façam movimentos diferenciados. As articulações internas podem e devem ser realizadas dentro de cada perfil institucional, desde que as leis sejam sempre cumpridas. Percebe-se que a nova configuração do Ensino Superior, seja com relação ao público- alvo ou às novas exigências impostas pela sociedade, constitui desafio para educadores e alunos. Postura alguma dará conta de resolver todos os problemas educacionais que se instalam nesse nível de ensino, mas que é consequência da precariedade do sistema nacional de ensino desde a base. No entanto, o desafio está posto e só existem duas alternativas, ignorá-lo ou enfrentá-lo. 1.2.2. Trabalho, educação, emprego e as mudanças no cenário atual Nesse tópico pretende-se abordar alguns dos significados atribuídos ao trabalho, educação e emprego e as mudanças socioeconômicas influenciam diretamente sobre os mesmos. Segundo Teixeira (2000, p. 185), “o experiente percebeu que muito se aprende na universidade da vida, com seus currículos personalizados, onde a gente se matricula ao nascer e se diploma ao morrer. O problema, admite, é que a experiência é o pior professor: ela aplica o teste antes da lição”. Ainda nos tempos atuais (referindo-se ao trabalho), é bastante corriqueiro ouvir como resposta para a pergunta feita às crianças, jovens e até adultos: - O que sua mãe faz? - Nada. Ela fica em casa !!! Nessa perspectiva, uma dona de casa que realiza muitas atividades durante um dia não trabalha; uma pessoa que realiza tarefas informais para sobreviver, como artesanato, prestação de serviços, não trabalha. Esse é um olhar bastante comum acerca do trabalho. Todavia, o conceito de trabalho, em sua essência, não se resume à questão produtiva, por isso: No senso comum e nos próprios meios de comunicação, observa-se que os termos ‘emprego e trabalho’ são empregados, muitas vezes, de maneira associada, mas essa ligação pressupõe também significados diferentes. Pensando na história da humanidade, o trabalho é mais antigo que o emprego, o trabalho por si só existe desde o momento em que o homem começou a transformar a natureza e o ambiente em seu entorno, desde a fabricação de ferramentas e utensílios. (RAITZ, 2003, p.56) Como explica Raitz (2003), atribuir o mesmo significado às palavras trabalho e emprego é bastante comum. O trabalho surge no momento em que o homem começa a 33 transformar a natureza e o ambiente ao redor com o auxílio da forma artesanal. Com a Revolução Industrial, apresenta-se a relação capitalista com a necessidade de organizar grupos de pessoas, processos, instrumentos, que estabelece a relação de venda e compra da força de trabalho, criando-se, a partir daí, a ideia do emprego, o qual sempre sugeriu relação estável, e mais ou menos duradoura, entre a empresa e o empregado. Desde então, as noções de trabalho e de emprego foram se confundindo e tornando-se cada vez mais complexas. O emprego se configurou, ao longo do tempo, como relação estável, porque existe um contrato com vínculo, carteira assinada e, sendo assim, uma condição aparentemente mais confortável pelos benefícios do FGTS, 13º salário, férias e outros tantos. Mas o significado do emprego atualmente vai além da estabilidade financeira e econômica: [...] o emprego assegura [...] o estabelecimento de relações sociais, uma organização do tempo e do espaço e uma identidade. A importância que lhe é conferida decorre, assim, da sua função integradora. Ele permite a integração econômica e a participação na esfera do consumo; ele permite a integração social e cívica pelas relações sociais que potencia, pelo estatuto que confere e pelo acesso que assegura aos direitos e às garantias sociais. (ALVES, 2007, p.3) Porém, outras reflexões se apresentam, de um lado, as novas gerações, que preferem regras menos rígidas, horários mais flexíveis, maior liberdade para expressão e criação, maior possibilidade de interação e menos subordinação. De outro, que vêm de encontro a alguns anseios dessa geração, estão os interesses das organizações. Atualmente, muitas não estão mais dispostas a manter o custo de um corpo permanente de empregados para realizar grande parte dos serviços de que necessitam, pois não têm condições de fazer isso, trabalhos nem precisam ser realizados continuamente ou no interior das empresas, precisam sim é de prestadores eventuais de tais tarefas. Com o passar dos tempos, o confortável emprego sofreu fortes alterações, em que as condições de estabilidade até então oferecidas perderam forças, resultado da globalização e das renovações tecnológicas, as quais acirraram a competitividade, eliminaram postos de trabalho, níveis hierárquicos e deixaram milhões de pessoas desempregadas. A mudança não é a novidade no mundo. A novidade do cenário atual é a velocidade da mudança. Uma das mudanças que se pode observar é que, até alguns anos, grande parte das pessoas que se formava em um curso de graduação, por exemplo, entrava no mercado de trabalho e não retornava ao mundo acadêmico. Não sentia necessidade de fazer outro tipo de formação, especialização. 34 A formação recebida, ou titulação, era suficiente para a garantia da estabilidade desde que esse profissional atendesse às exigências do empregador que normalmente estavam relacionadas ao cumprimento de horas,de tarefas específicas a sua função, de produtividade, de bom relacionamento e de idoneidade. Uma das principais características do mercado de trabalho é que este é volátil, mutante, dinâmico e não mais estático. Uma das maneiras de sobreviver nesse mercado passou a ser então a atualização. Estudar, voltar a pesquisar, retomar a carreira acadêmica, buscar conhecimento em áreas relacionadas para ampliar qualificação constituiu uma opção aos que haviam se afastado por anos. Dentre as transformações relacionadas ao cenário atual de trabalho e emprego, está a da ressignificação da formação. A consciência incorporada de que a graduação é apenas a primeira formação, que um profissional deverá estudar durante todo o tempo de sua atuação no mercado e de que trabalho e estudo são indissociáveis. Frigotto (1988) denuncia o discurso da qualificação como um ajuste global do campo educativo conduzido para uma concepção produtivista, com o intuito de desenvolver em cada pessoa um “banco ou reserva de competências” que garanta, de tal modo, a empregabilidade. Dessa forma, o papel econômico atribuído à educação passa a ser a empregabilidade ou a formação para o desemprego. O que existe de comprometedor nessa questão da “empregabilidade” é também o fato de que o desemprego acaba por ficar como responsabilidade apenas individual. Ou seja, os sujeitos buscam desenfreadamente ampliar seus currículos para acrescentar qualificações na tentativa de atender às exigências ditadas pelo mercado de trabalho. Difunde-se o entendimento de que é preciso voltar-se para o "faça você mesmo". O Estado não pode se eximir por meio do discurso de que existe oferta, tanto de trabalho quanto de formação, e que cada cidadão precisa buscar por aperfeiçoamento, simplificando discussões políticas, econômicas e sociais mais complexas e abrangentes. A empregabilidade passa pela construção social: não bastam habilidades, se não houver oportunidade. Importante lembrar igualmente a importância de as organizações formais criarem as oportunidades de formação e qualificação no local de trabalho, para desenvolverem, também, o emprego de seus trabalhadores. Entretanto, às transformações no mundo do trabalho, discussões sobre formação, currículo, competência, atualização, entre outras, continuam pertinentes independentemente de quem seja a responsabilidade de se manter no mercado competitivo. Um tema bem discutido, e com mais ênfase no decorrer da última década, é o aprofundamento de estudos em uma área específica como diferencial. No entanto, é então que consiste um dos grandes 35 desafios contemporâneos, é essencial que se estabeleça conexão, relação dessa área de conhecimento com as demais áreas. Portanto, entende-se que é muito importante que um profissional de qualquer área adquira forte base de cultura geral, nenhum conhecimento é isolado. Durante algum tempo, a discussão que permeou o mercado de trabalho oscilava entre a formação especialista 4 ou generalista 5 . Tal questão, influenciada pela velocidade das mudanças, não tem mais propósito. Atualmente surgem novos termos no mercado de trabalho, sobretudo utilizados por gestores do mundo corporativo, como o profissional “multiespecialista” 6 , que não é aquele capaz de fazer tudo, mas o que está disposto e com a atitude de aprender. Isso nos conduz ao pensamento da necessidade de preparar pessoas para ter autonomia, aptas em criar alternativas. É como se os profissionais da atualidade tivessem que estar sempre preparados, com toda a disposição e disponibilidade para fazer “a viagem”. E essa viagem é, claro, exige alguns pré-requisitos, como falar a língua local, capacidade de adaptação ao clima, alimentação, costumes, conhecimento sobre a localização, e, principalmente, atitude para aprender aquilo que não sabe. Na visão corporativa, a formação permanente é uma atitude, não um lugar. A tese do surgimento de competências também se destaca, na última década, nas análises acerca das mudanças no mundo do trabalho. Nas discussões internacionais a respeito das novas qualificações requeridas no mundo do trabalho, tem-se a orientação no conceito de “competências”, o qual está articulado à definição do relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. (UNESCO), Delors (1996) 7 . Zarifian (2001, apud CARLETTO, 2006, p. 28) propõe uma “definição que integre várias dimensões, assim a competência é o tomar iniciativa e o assumir responsabilidade do indivíduo diante de situações profissionais com as quais se depara”. Necessário, portanto, que o profissional desenvolva competências técnicas e humanas, visando crescimento, aperfeiçoamento e eficácia nos resultados, tendo como premissa que o ser humano tem um poderoso potencial. 4. Significado do termo Especialista no Dicionário Aurélio : Que ou quem se dedica exclusivamente ao estudo ou à prática de uma ciência, uma arte, uma profissão. http://www.dicionariodoaurelio.com/Especialista.html acesso em: 03/07/2013. 5 Significado do termo Generalista no Dicionário on-line de Português: generalista s m+f (lat generale) 1 Pessoa não especializada, que só tem conhecimentos gerais. http://www.dicio.com.br/generalista/ acesso em: 03/07/2013. 6 Para o professor titular do departamento de filosofia e ciências da religião da PUC-SP, Mario Sergio Cortella, multiespecialista é um profissional que possui formações diferentes, sempre atualizadas e que aprendeu a casar o conhecimento com as competências necessárias em seu cotidiano. 7 No relatório da UNESCO intitulado, Educação – um tesouro a descobrir, Jacques Delors relata sobre Educação para o século XXI “educar para o desenvolvimento humano” relaciona-se aos “quatro pilares da Educação:” “aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver juntos e aprender a ser” (DELORS, 1996, p. 77). http://www.dicionariodoaurelio.com/Especialista.html http://www.dicio.com.br/generalista/ 36 Um pensamento de Marx8 sobre as escolas politécnicas colabora com essa reflexão e se torna inspiradora no resgate das características da noção de politecnia de um indivíduo mais integral, A indústria moderna, com as catástrofes que lhe são próprias, torna questão de vida e morte reconhecer como lei geral e social da produção a variação dos trabalhos e em consequência a maior versatilidade possível do trabalhador [...]: substituir o indivíduo parcial, mero fragmento humano que repete sempre uma operação parcial, pelo indivíduo integralmente desenvolvido para o qual as diferentes funções sociais não passariam de formas diferentes sucessivas de sua atividade. As escolas politécnicas e agronômicas são fatores desse processo de transformação que se desenvolvem espontaneamente na base da indústria moderna; [...] (MARX, 1983, p.69). Para além do pensamento marxista, a noção de competência na atualidade está realmente forte e instituída. O que parece ser absolutamente necessário é a recuperação dos critérios e perspectivas dos conceitos que a solidificam. O fatalismo da noção competitiva parece tomar todo o espaço de outros aspectos essenciais do conceito. A aprendizagem vivencial e espontânea, pela qual se aprende na prática e nas relações e trocas com o outro, perde um pouco o sentido e a importância na medida em que toda formação visa ao desenvolvimento de uma competência intencional e comprovada por titulações. É de conhecimento amplo que a educação, em qualquer instância, no mundo corporativo ou não, precisa ser organizada de acordo com a intenção que se tem. Nos tempos atuais, a velocidade das mudanças é tão grande que aprender apenas na escola da vida não basta. Tal como não basta aprender apenas nos cursos. Mas o que se ressalta é a necessidade de que haja uma convergência entre a aprendizagem intencional e a vivencial, de maneira que se possam propulsionar
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