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Multifuncionalidade, organização e desenvolvimento rural nos setores rurais do município de Montes Claros-MG

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS 
Centro de Ciências Humanas 
 Programa de Pós Graduação em Geografia - PPGEO 
 
 
 
 
 
 
LÍLIAN DAMARES DE ALMEIDA SILVA FREITAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MULTIFUNCIONALIDADE, ORGANIZAÇÃO E 
DESENVOLVIMENTO RURAL NOS SETORES RURAIS DO 
MUNICÍPIO DE MONTES CLAROS -MG 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Montes Claros/MG 
Julho/2016
 
 
 
LÍLIAN DAMARES DE ALMEIDA SILVA FREITAS 
 
 
 
 
 
 
 
MULTIFUNCIONALIDADE, ORGANIZAÇÃO E 
DESENVOLVIMENTO RURAL NOS SETORES RURAIS DO 
MUNICÍPIO DE MONTES CLAROS -MG 
 
 
 
 
Dissertação de Mestrado apresentada ao 
Programa de Pós Graduação em Geografia 
da Universidade Estadual de Montes 
Claros como parte dos requisitos para 
obtenção do título de Mestre em 
Geografia. 
 
Área de concentração: Dinâmica e Análise 
Espacial 
 
Linha de Pesquisa: Produção dos espaços 
urbanos e rurais 
 
Orientadora: Prof. Dra. Ana Ivania Alves 
Fonseca 
 
 
 
 
 
 
 
 
Montes Claros/MG 
Julho/2016 
 
 
 
 
 
 
F862m 
 
 
Freitas, Lílian Damares de Almeida Silva. 
 Multifuncionalidade, organização e desenvolvimento rural nos setores rurais do 
município de Montes Claros-MG [manuscrito] / Lílian Damares de Almeida Silva 
Freitas. – Montes Claros, 2016. 
 138 f. : il. 
 
 Bibliografia: f. 132-137. 
 Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Montes Claros -Unimontes, 
Programa de Pós-Graduação em Geografia/PPGEO, 2016. 
 
 
 Orientadora: Profa. Dra. Ana Ivania Alves Fonseca. 
 
 
 1. Multifuncionalidade. 2. Organização rural. 3. Desenvolvimento rural. 4. 
Agricultura familiar. I. Fonseca, Ana Ivania Alves. II. Universidade Estadual de Montes 
Claros. III. Título. 
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge 
 
 
 
 
 LÍLIAN DAMARES DE ALMEIDA SILVA FREITAS 
 
 
 
MULTIFUNCIONALIDADE, ORGANIZAÇÃO E 
DESENVOLVIMENTO RURAL NOS SETORES RURAIS DO 
MUNICÍPIO DE MONTES CLAROS -MG 
 
Dissertação de Mestrado apresentada ao 
Programa de Pós Graduação em Geografia da 
Universidade Estadual de Montes Claros como 
parte dos requisitos para obtenção do título de 
Mestre em Geografia 
 
Área de concentração: Dinâmica e Análise 
Espacial 
 
Linha de Pesquisa: Produção dos espaços 
urbanos e rurais 
 
 
Data de Aprovação:_____15/07/2016______ 
 
 
Banca: 
 
____________________________________________________________ 
Orientadora: Profª. Drª. Ana Ivania Alves Fonseca 
Universidade Estadual de Montes Claros 
 
 
_____________________________________________________________ 
Profª. Drª Maria Augusta Mundim Vargas 
Universidade Federal de Sergipe 
 
 
_____________________________________________________________ 
Profª. Drª Giancarla Salamoni 
Universidade Federal de Pelotas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a Maykon Fredson por seu amor e apoio incondicional, pela ajuda e o 
conhecimento compartilhados, por fazer parte dessa caminhada comigo e por ser 
responsável pela melhor parte de mim, pra você todo meu amor. 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente a Deus por ser meu porto seguro e melhor amigo com quem posso 
contar em todos os momentos da minha vida, agradeço a Ele a oportunidade de concluir este 
Mestrado. 
 
Agradeço a meus pais Dilson e Carmelita e minha irmã Liliane que sempre me apoiam e 
acreditam em mim. 
 
A Maykon Fredson, meu esposo e companheiro que todos os dias me dá um motivo para 
sorrir e que me ajuda em tudo, inclusive na construção deste trabalho. 
 
Aos meus amigos e colegas de curso pelos momentos de alegria e aprendizado que tivemos 
nestes dois anos, sentirei a falta de todos. 
 
Aos meus professores pelos ricos ensinamentos e contribuições para minha formação e para a 
vida. 
 
Em especial a minha orientadora Prof. Drª. Ana Ivânia Alves Fonseca, pela excelente 
orientação, pelas oportunidades que me deu e pelo trabalho que realizamos na pesquisa, 
também pela sua amizade em todos estes anos de convivência, o carinho, compreensão e trato 
de filha que sempre me dedicou. A você Ana, todo o meu carinho e gratidão sempre. 
 
Ao Núcleo de Estudos e Pesquisa em Geografia Rural – NEPGeR, por me proporcionar um 
crescimento acadêmico e pessoal e aos meus companheiros de pesquisa pela amizade que 
construímos e os ensinamentos que levarei sempre comigo. 
 
À todas as Comunidades Rurais do município de Montes Claros que nos receberam, ao 
CMDRS e à Emater agradeço pela hospitalidade e por nos conceder a oportunidade de 
realizar esta pesquisa. 
 
Às professoras Giancarla Salamoni e Maria Augusta Mundim Vargas que cordialmente 
aceitaram nosso convite para participar da banca de defesa da dissertação, suas contribuições 
certamente serão agregadoras para o trabalho e para o meu crescimento pessoal. 
 
À CAPES, agência financiadora da minha bolsa de Mestrado, e à Unimontes pela 
oportunidade de realizar este curso de Mestrado. 
 
Enfim, a todos que de alguma forma participaram comigo desta trajetória. 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O espaço rural é dinâmico e está em constante transformação. As formas de reprodução social 
e do trabalho, a relação campo-cidade, a história, as tecnologias inseridas no campo tanto para 
grandes como pequenos produtores, influenciam no modelar desse meio e traçam os perfis de 
cada região. Atualmente, há uma nova configuração no campo, que por muito tempo foi 
essencialmente agrícola e nas últimas quatro décadas têm-se percebido a incorporação de 
novas atividades, novos elementos e diferentes formas de convivência com a natureza e 
mudanças nas relações sociais, e na relação campo-cidade, traduzidas através da 
multifuncionalidade da agricultura familiar e da pluriatividade, na qual o agricultor diversifica 
suas atividades não se atendo somente ao trabalho no campo e passa a desempenhar muitas 
vezes atividades não agrícolas. Diante dessas reflexões, o objetivo geral deste trabalho é 
compreender o espaço rural do município de Montes Claros a partir do estudo da 
multifuncionalidade e da organização e desenvolvimento rural. A partir deste objetivo 
pretende-se também investigar a multifuncionalidade da agricultura e a pluriatividade nos 
setores rurais do município definidos pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural 
Sustentável - CMDRS; analisar as potencialidades e dificuldades de permanência da 
população no campo e os aspectos da organização rural nos setores. Para tanto, utilizamos 
como metodologia, uma pesquisa bibliográfica sobre a temática, na qual foram 
contextualizados os conceitos de desenvolvimento rural, multifuncionalidade e pluriatividade, 
espaço rural, ruralidade, e agricultura familiar que nortearam o trabalho na perspectiva do 
rural. Pesquisa de campo, coleta de dados em loco, tabulação de dados colhidos na pesquisa 
de campo e também tabulação e tratamento de dados do Sistema IBGE de Recuperação 
Automática - SIDRA, registro iconográfico, consulta a documentos oficiais e entrevistas. Nos 
trabalhos de campo foram realizadas oficinas utilizando a matriz SWOT/FOFA que nos 
possibilitou uma análise diagnóstica dos setores a partir de oito tópicos que contemplaram 
aspectos ambientais, sociais, econômicos e estruturais. A partir da tabulação dos dados foi 
possível obter uma visão abrangente do município, os setores rurais pesquisados mostraram 
um panorama geral com informações detalhadas, o que possibilitou uma compilação de 
importantes informações acerca da organização e o desenvolvimento rural de Montes Claros. 
 
 
Palavras-chave: Multifuncionalidade, Organização Rural, Desenvolvimento Rural, 
Agricultura familiar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The countryside is dynamic and it’s constantly changing. The forms of social reproduction 
and labor, therelation between field and city, the history, the technologies inserted in the 
field, to big producers likewise to small ones, have influence on this environment modeling 
and draw the profiles of each region. Nowadays, there’s a new configuration in the field, 
which has been for a long time essentially agricultural and in the last four decades it is noticed 
the incorporation of new activities, new elements and different ways of living with nature and 
changes in social relation and in the relation field-city, translated through family agriculture 
multifunctionality and pluriactivity, in which the agriculturist diversifies its activities 
concerning not only to the field labor and often begins to perform non-agricultural activities. 
Upon these reflections, the main goal of this study is to understand the countryside of Montes 
Claros from the study of multifunctionality, organization and rural development. From this 
objective it is also intended to investigate the agricultural multifunctionality and the 
pluriactivity of the rural sectors established by the Municipal Council for Sustainable Rural 
Development – CMDRS; to analyze the potentialities e difficulties of the permanency of the 
people in the field and the aspects of rural organization in the sectors Therefore, as 
methodology, is used a bibliographical research about this theme, in which were 
contextualized the concepts of rural development, multifunctionality and pluriactivity, the 
countryside, rurality and family agriculture that orient the work in rural perspective. Field 
research, data collection in place, tabulation of data collected in the field research and also 
tabulation and treatment of the IBGE Automatic Recovery System – SIDRA – data, 
iconographic record, consultation of official documents and interviews. In the fieldwork, 
workshops were held using SWOT matrix that allowed a diagnostic analysis of sectors from 
eight topics that include environment, social, economic and structural aspects. Starting from 
the data tabulation it was possible to obtain a broad view of the city, the researched rural 
sectors showed a general panorama with detailed information, which allowed a compilation of 
important information about the organization and rural development of Montes Claros. 
 
 
Keywords: Multifunctionality, Rural Organization, Rural Development, Family Agriculture 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS 
 
CEANORTE: Centro de Abastecimento do Norte de Minas 
CCZ : Centro de Controle de Zoonozes - 
CODEVASF: Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba 
CONAB: Companhia Nacional de Abastecimento 
CONSEP: Conselho de Segurança Pública 
CMDRS: Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável 
DAP: Declaração de Aptidão ao Pronaf 
DNOCS: Departamento Nacional de Obras de Combate à Seca 
EUA: Estados Unidos da América 
EJA: Educação para Jovens e Adultos 
EMATER: Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural 
ESF: Estratégia Saúde da Família 
FAO: Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação 
FIOCRUZ: Fundação Oswaldo Cruz - 
FNDE: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação 
FOFA: Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas, Ameaças 
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
IEF: Instituto Estadual de Florestas 
IFNMG: Instituto Federal do Norte de Minas Gerais 
MA: Ministério da Agricultura 
MDA: Ministério do Desenvolvimento Agrário 
MST: Movimento dos Trabalhadores Sem Terra 
NEPGeR: Núcleo de Estudos e Pesquisa em Geografia Rural 
OMC: Organização Mundial do Comércio 
ONG: Organização Não Governamental 
ONU Organização das Nações Unidas 
PAA: Programa de Aquisição de Alimentos 
PDRI: Políticas de desenvolvimento rural integrado 
PNAE: Programa Nacional de Alimentação Escolar 
PNATER: Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura 
Familiar e Reforma Agrária 
 
 
 
 
PRONAF: Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar 
PRONATER: Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura 
Familiar e na Reforma Agrária 
RURALMINAS: Fundação Rural Mineira 
SAF: Secretaria de Agricultura Familiar 
SENAR: Serviço Nacional de Aprendizagem Rural 
SIDRA: Sistema IBGE de Recuperação Automática 
SDR: Secretaria de Desenvolvimento Rural 
SUDAM: Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia 
SUDECO: Superintendência de Desenvolvimento da Região Centro-Oeste 
SUDENE: Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste 
SUDESUL: Superintendência do Desenvolvimento da Região Sul 
SUS: Sistema Único de Saúde - 
SWOT: Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats
1
 
UFMG: Universidade Federal de Minas Gerias 
UNIMONTES: Universidade Estadual de Montes Claros 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1
 Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas, Ameaças 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 01: Aplicação da Matriz SWOT/FOFA ........................................................................19 
Figura 02: Participação da Agricultura Familiar na Economia Brasileira................................26 
Figura 03: Elementos que compõem o desenvolvimento sustentável......................................35 
Figura 04: Localização do Norte de Minas Gerais...................................................................39 
Figura 05: População Rural e Urbana do Norte de Minas Gerais.............................................41 
Figura 06: População do Norte de Minas por Número de Habitantes......................................42 
Figura 07: Eixos Produtivos no Norte de Minas a partir da década de 1960...........................43 
Figura 08: Localização do município de Montes Claros no Norte de Minas...........................46 
Figura 09: Praça da Matriz......................................................................................................47 
Figura 10: Mapa dos setores rurais do município de Montes Claros......................................49 
Figura 11: Mapa identificando os setores pesquisados...........................................................58 
Figura 12: Oficinas nas comunidades.....................................................................................59 
Figura 13: Oficina em Panorâmica..........................................................................................60 
Figura 14: Oficina em Tabuas.................................................................................................68 
Figura 15: Vegetação na comunidade Tabuas no Verão e no Inverno....................................69 
Figura 16: Barraginha para contenção de água da chuva em Tabuas......................................73 
Figura 17: Gêneros agrícolas produzidos em Tabuas..............................................................75 
Figura 19: Oficina em Abóboras..............................................................................................78 
Figura 19: Nascente recuperada na Comunidade Planalto Rural.............................................82 
Figura 20: Áreas de cultivo e áreas de reserva - Comunidade Planalto Rural.........................83Figura 21: Localização de areeiras na região da Serra Velha..................................................84 
Figura 22: Associações da Comunidade Abóboras..................................................................87 
Figura 23: Oficina em Marcela I..............................................................................................90 
Figura 24: Oficina em Lagoa dos Freitas..................................................................................97 
Figura 25: Lagoa dos Freitas: Comunidade Lagoa dos Freitas..............................................101 
Figura 26: Assoreamento do Rio Mimoso..............................................................................112 
Figura 27: Irrigação por Microaspersor na Comunidade Lagoinha (Setor 08).......................114 
Figura 28: Áreas de Cultivo....................................................................................................118 
Figura 29: Extração de Pequi na comunidade Tabuas (Setor 07)...........................................119 
Figura 30: Dia de Feira na CEANORTE................................................................................121 
Figura 31: Mercado Central de Montes Claros.......................................................................122 
 
 
 
 
Figura 32: Feira do Bairro Major Prates...............................................................................123 
Figura 33: Importância das Associações nos Setores...........................................................126 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 01: Comunidades Rurais do município por Setor........................................................50 
Quadro 02: Dados Setor 05 - Santa Rosa de Lima e outros......................................................61 
Quadro 03: Dados Setor 07 - Tabuas e outros..........................................................................70 
Quadro 04: Dados do Setor 08 - Abóboras/Planalto Rural e outros.........................................79 
Quadro 05: Dados do Setor 09 - Marcela e outros....................................................................90 
Quadro 06: Dados do Setor 11 - Canto do Engenho e outros...................................................98 
Quadro 07: Dados do Setor 03 - Campos Elízios e outros.....................................................105 
Quadro 08: Dados do Setor 04 - Nova Esperança e outros.....................................................108 
Quadro 09: Dados do Setor 10 - Antônio Olinto e outros......................................................110 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 15 
CAPÍTULO I: O ESPAÇO RURAL: ELEMENTOS, RURALIDADES, CONCEITOS E 
DISCUSSÕES .......................................................................................................................... 21 
1. 1 Agricultura Familiar, Multifuncionalidade e Pluriatividade .......................................... 22 
1.2 Multifuncionalidade da Agricultura ................................................................................ 24 
1.2.1 . Função Econômica ................................................................................................. 25 
1.2.2 Segurança Alimentar ou Soberania Alimentar e Nutricional ................................... 26 
1.2.3. Função Social .......................................................................................................... 27 
1.2.4 Função Ambiental .................................................................................................... 28 
1.3 Pluriatividade .................................................................................................................. 28 
1.4. Desenvolvimento Rural Sustentável e Políticas Públicas Para Agricultura Familiar .... 29 
1.4.1 Desenvolvimento e Desenvolvimento Rural ............................................................ 30 
1.4.2 Desenvolvimento Rural no Brasil ............................................................................ 31 
1.4.3 As Bases do Desenvolvimento Rural Sustentável.................................................... 33 
1.4.4 Políticas Públicas para o Desenvolvimento Rural .................................................... 35 
1.4.5 Desenvolvimento Rural no Norte de Minas ............................................................. 37 
CAPÍTULO II: O MUNICÍPIO DE MONTES CLAROS E O DESENVOLVIMENTO 
RURAL ..................................................................................................................................... 45 
2.1 O Espaço Rural de Montes Claros .................................................................................. 48 
2.2 Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável: Breve histórico no Brasil e 
no município de Montes Claros ............................................................................................ 51 
2.3. Tópicos analisados na Pesquisa ..................................................................................... 53 
2.3.1. Meio Ambiente ........................................................................................................ 53 
2.3.2. Saúde Rural ............................................................................................................ 53 
2.3.3. Educação ................................................................................................................. 54 
2.3.4. Economia Rural ....................................................................................................... 54 
 
 
 
 
2.3.5. Assistência Técnica de qualidade ............................................................................ 54 
2.3.6. Organização Rural ................................................................................................... 55 
2.3.7. Soberania Alimentar e Nutricional .......................................................................... 55 
2.4.8. Segurança Rural ...................................................................................................... 56 
CAPÍTULO III: RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................. 57 
3.1. Setor 05 - Santa Rosa de Lima e outros ......................................................................... 60 
3.2. Setor 07 - Tabuas e outros ............................................................................................. 67 
3.3. Setor 08 - Abóboras/Planalto Rural e outros ................................................................. 77 
3.4. Setor 09 - Marcela e outros ............................................................................................ 89 
3.5. Setor 11 - Canto do Engenho e outros ........................................................................... 97 
3.6. Setores em que não foram realizadas oficinas ............................................................. 104 
3.6.1 Setor 03 - Campos Elízios e outros ........................................................................ 104 
3.6.2. Setor 04 - Nova Esperança e outros ...................................................................... 107 
3.6.3. Setor 10: Antônio Olinto e outros ......................................................................... 109 
3.7. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................................................... 113 
3.7.1 Meio Ambiente ....................................................................................................... 113 
3.7.3. Educação ............................................................................................................... 115 
3.7.4. Economia Rural .....................................................................................................117 
3.7.4.1 A CEANORTE, o Mercado Municipal e as feiras livres ................................ 120 
3.7.4.2 A CEANORTE ................................................................................................ 120 
3.7.4.3 As Feiras Livres e os Mercados Municipais .................................................... 121 
3.7.5. Assistência Técnica ............................................................................................... 124 
3.7.6. Organização Rural ................................................................................................. 125 
3.7.7. Soberania Alimentar e Nutricional ........................................................................ 126 
3.7.8. Segurança Rural .................................................................................................... 127 
3.7.9. Outros .................................................................................................................... 127 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 129 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 131 
APÊNDICE: Matriz SWOT/FOFA Aplicada nas oficinas ..................................................... 137 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
INTRODUÇÃO 
 
O espaço rural é dinâmico e está em constante transformação. As formas de 
reprodução social e do trabalho, a relação campo-cidade, a história, as tecnologias inseridas 
no campo tanto para grandes como pequenos produtores, influenciam no modelar desse meio 
e traçam os perfis de cada região. E diante desse dinamismo existente no campo, Schneider 
(2010) destaca que um paradigma que tem se destacado nos estudos rurais nas últimas 
décadas, é o desenvolvimento rural. 
Kageyama (2004, p. 384) afirma que, 
 
[...] o paradigma da modernização da agricultura, que dominou a teoria, as práticas e 
as políticas, como a principal ferramenta para elevar a renda e o desenvolvimento 
das comunidades rurais, vem sendo substituído, notadamente na Europa, por um 
novo paradigma, o do desenvolvimento rural, no qual se inclui a busca de um novo 
modelo para o setor agrícola, com novos objetivos, como a produção de bens 
públicos (paisagem), a busca de sinergias com os ecossistemas locais, a valorização 
das economias de escopo em detrimento das economias de escala e a pluriatividade 
das famílias rurais.” (KAGEYAMA (2004, p. 384). 
 
 
 Isso implica em uma nova configuração no meio rural, que por muito tempo foi 
essencialmente agrícola e nas últimas quatro décadas têm-se percebido a incorporação de 
novas atividades, novos elementos e diferentes formas de convivência com a natureza e 
mudanças nas relações sociais, e na relação campo-cidade, traduzidas através da 
multifuncionalidade e da pluriatividade, na qual o agricultor diversifica suas atividades não se 
atendo somente ao trabalho no campo e passa a desempenhar outras atividades, inclusive não 
agrícolas. 
A partir de meados do século XX, o desenvolvimento rural foi associado a um 
conjunto de ações do Estado e dos organismos internacionais como a Organização das Nações 
Unidas - ONU e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - FAO. 
Essas ações eram destinadas à intervenções nas regiões rurais consideradas pobres que não se 
integravam ao processo de modernização agrícola pela substituição de fatores de produção 
considerados atrasados (NAVARRO, 2001). 
A agricultura é uma atividade que envolve recursos naturais e processos ecológicos, 
como também, o desenvolvimento da técnica e o trabalho humano. Ao longo da história essa 
atividade se transformou, o homem agregou novas técnicas e novas tecnologias fazendo, 
 
 
16 
 
assim, com que a agricultura chegasse ao estágio atual. O período pós-guerra a partir da 
década de 1950 ensejou diversas mudanças no espaço agrário mundial embalado pela 
Revolução Agrícola e a Revolução Verde com os pacotes tecnológicos, cuja proposta era a 
mecanização do campo associada ao uso de agrotóxicos e insumos químicos para aumentar a 
produtividade em escalas gigantescas, surgem, assim, os grandes cinturões norte americanos e 
os grandes projetos de irrigação, os quais os modelos foram exportados para todo mundo em 
função do desenvolvimento rural baseado no fator econômico (NAVARRO, 2001). 
Dessa forma segundo Shiva (2003), 
 
Também na agricultura a mentalidade reducionista criou a safra de monoculturas. 
[...] Os sistemas agrícolas tradicionais baseiam-se em sistemas de rotação de culturas 
de cereais, de legumes, sementes oleaginosas com diversas variedades em cada 
safra, enquanto o pacote da Revolução Verde baseia-se em monoculturas 
geneticamente uniformes. (SHIVA, 2003 p. 56,57) 
 
Assim, no Brasil os enfoques desenvolvimentistas da segunda metade do século XX, 
seguiram essa lógica destacada por Shiva (2003) baseada em monoculturas, com a inserção 
das máquinas no campo, e importação de modelos de produção dos Estados Unidos como os 
projetos de irrigação. Esses fatores atrelados ao panorama político do país trouxeram uma 
nova configuração para o espaço rural brasileiro, no qual as políticas voltadas para o 
crescimento econômico foram implantadas de norte a sul, delineando um novo modelo de 
produção agrícola voltado para a exportação e a agroindústria. Nesse cenário, a imensa 
concentração fundiária que se destaca historicamente no Brasil, desde o período colonial, 
aumentou ainda mais nesse período (MAZOYER e ROUDART, 2010). 
A população brasileira nesse período era majoritariamente rural, e a economia baseada 
nas atividades da agricultura e pecuária da pequena à grande produção. Após a mecanização 
do campo e a industrialização das grandes cidades a situação se inverteu e o Brasil passou 
pelo processo de êxodo rural. Nesse período, o desenvolvimento rural foi pautado nesses 
moldes onde o fator econômico encabeçou a tomada de decisões em detrimento das questões 
sociais, culturais e ambientais. 
 Diante dessas reflexões, o objetivo geral deste trabalho é compreender o espaço rural 
do município de Montes Claros a partir do estudo da multifuncionalidade e do 
desenvolvimento rural. A partir deste objetivo pretende-se também investigar a 
multifuncionalidade da agricultura e a pluriatividade nos setores rurais do município definidos 
pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável - CMDRS; analisar as 
 
 
17 
 
potencialidades e dificuldades de permanência da população no campo e os aspectos da 
organização rural. 
Para tanto, utilizamos como metodologia, uma pesquisa bibliográfica sobre a temática, 
na qual foram contextualizados os conceitos de desenvolvimento rural, multifuncionalidade e 
pluriatividade espaço rural, ruralidade, e agricultura familiar que nortearam o trabalho na 
perspectiva do rural. Pesquisa de campo, coleta de dados em loco, tabulação de dados 
colhidos na pesquisa de campo e também tabulação e tratamento de dados do Sistema IBGE 
de Recuperação Automática - SIDRA, registro iconográfico, consulta a documentos oficiais e 
entrevistas. 
A pesquisa de campo foi feita através de trabalhos de campo que visam não apenas a 
coleta de dados quantitativos e qualitativos, mas, também uma visão mais ampla da realidade 
pesquisada, como afirmam Gobbi e Pessôa (2009, p, 486), 
 
O trabalho de campo, numa pesquisa em geografia, não pode concentrar-se somente 
na coleta de dados que sejam expressos por meio de percentuais, tabelas e gráficos. 
É preciso ir além, e é necessário extrair dos envolvidos, num determinado processo 
ocorrente, elementos relacionados às suas visões de mundo, seus hábitos, tabus, 
vivências e temores. (GOBBI; PESSÔA, 2009. p, 486). 
 
 Os trabalhos de campo estão sendo feitos juntamente com as oficinas para construção 
do Planode Desenvolvimento Rural Sustentável de Montes Claros nos setores rurais 
delimitados pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável - CMDRS. Os 
setores rurais caracterizam uma regionalização do município feita pelo CMDRS em parceria 
com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais - Emater 
que dividiu o mesmo em 14 setores com uma comunidade ou Distrito referência que é 
chamada de polo. 
 As oficinas fazem parte do Projeto Dinâmicas de Desenvolvimento Rural Sustentável 
para o Município de Montes Claros executado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em 
Geografia - NEPGER da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes que 
juntamente com a Universidade Federal de Minas Gerias - UFMG, o Instituto Federal do 
Norte de Minas Gerais – IFNMG, o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural 
Sustentável – CMDRS e seus conselheiros estão construindo um Plano de Desenvolvimento 
Rural Sustentável município de Montes Claros com a participação da população rural. 
 Dessa forma, são feitas reuniões nas comunidades indicadas pelos conselheiros do 
CMDRS, que articulam e mobilizam as comunidades para contribuir na construção do Plano, 
 
 
18 
 
e, paralelamente a estas reuniões foram feitos os trabalhos de campos e coleta de dados para 
construção deste trabalho. 
Assim, para a metodologia adotada foi a Pesquisa Participante que segundo Carvalho 
e Souza (2009, p. 143), 
 
"tem sido empregada, principalmente, em pesquisas que envolvem formas de 
interpretar e compreender os problemas do coletivo e é indicada para viabilizar 
transformações em comunidades e resolução de problemas. Ou seja, além de um 
levantamento de dados e informações sobre o grupo pesquisado, essa metodologia 
envolve a ação direta sobre a realidade do grupo pesquisado." (CARVALHO e 
SOUZA, 2009, p. 143). 
 
Nesse sentido, nas reuniões articuladas nos setores, são feitas oficinas com a 
população para coleta de dados e para maior compreensão de sua realidade, das 
potencialidades e fragilidades. Assim, são observados alguns elementos, desde os aspectos 
naturais até as características da população pertencente ao setor, isso é feito a partir de 08 
tópicos que foram definidos utilizando como base a matriz SWOT: Strengths, Weaknesses, 
Opportunities and Threats ou FOFA como é denominada aqui no Brasil, cuja sigla significa: 
Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas, e Ameaças, respectivamente, essa metodologia foi 
desenvolvida na Universidade Harvard Business School nos Estados Unidos. Segundo 
Fuscaldi e Marcelino (2008, p. 07), 
 
A SWOT Analysis foi criada por dois professores da Harvard Business School: 
Kenneth Andrews e Roland Christensen e aplicada por inúmeros acadêmicos. É um 
instrumento muito utilizado no planejamento estratégico, no qual se relacionam as 
condições externas e internas relativas à organização. A análise possibilita 
identificar as oportunidades que a organização pode utilizar para melhorar seu 
desempenho e as ameaças que podem afetá-la (ambiente externo), além de suas 
forças e fraquezas (ambiente interno). (FUSCALDI; MARCELINO, 2008, p.07 ). 
 
 Assim, a matriz SWOT/FOFA é uma ferramenta de análise diagnóstica dos aspectos 
internos e externos que compõem e envolvem uma empresa/organização/instituição, e pode 
ser aplicada em diferentes cenários para cruzamentos de dados que facilitem a compreensão 
da influência de fatores internos (Fortalezas e Fraquezas) e externos (Oportunidades e 
Ameaças) no ambiente pesquisado. E são por essas características que essa matriz é utilizada 
como ferramenta metodológica de pesquisa participativa em muitas ciências devido à 
facilidade de obtenção e organização de dados e resultados. 
Nesse sentido, na figura 01 está esquematizada a forma de análise dessa matriz e os 
aspectos que são analisados. 
 
 
19 
 
Figura 01: Aplicação da Matriz SWOT/FOFA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Org: FREITAS, L. D. A. S. 2015 
 
Nesse sentido, lançamos mão desta metodologia para analisar os aspectos internos e 
externos que caracterizam, influenciam e afetam os setores rurais do município de Montes 
Claros, e para a obtenção de dados que permitam uma visão geral do município, definimos 08 
tópicos, para serem analisados nas quatro variáveis da matriz SWOT/FOFA: 
1. Meio Ambiente 
2. Saúde Rural 
3. Educação 
4. Economia Rural 
5. Assistência Técnica de qualidade 
6. Organização Rural 
7. Soberania Alimentar e Nutricional 
8. Segurança Rural 
 
 Esses tópicos são apresentados à população que analisa, discute todos eles e aponta as 
Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas, e Ameaças e acrescenta também o parecer de cada 
comunidade em uma plenária ao final da reunião. 
Para realização do trabalho, nos baseamos na regionalização do município em setores 
rurais, feita pelo Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável - CMDRS, como foi citado 
FORTALEZAS 
Pontos positivos existentes nos 
setores que podem melhorar o 
aproveitamento das oportunidades e 
conter as ameaças. 
OPORTUNIDADES 
Aspectos externos que podem 
trazer benefícios, ou 
potencialidades que podem trazer 
desenvolvimento para os setores,. 
AMEAÇAS 
São aspectos externos que podem 
prejudicar os setores, dificultando o 
aproveitamento das fortalezas e 
oportunidades. 
 
FRAQUEZAS 
Aspectos negativos existentes nos 
setores que podem prejudicar ou 
diminuir o desenvolvimento dentro 
da própria comunidade. 
AMBIENTE EXTERNO 
AMBIENTE INTERNO 
 
 
20 
 
anteriormente. Assim, serão realizados trabalhos de campos/oficinas em todos os setores 
durante a vigência do projeto ao qual se vincula este trabalho, entretanto, até o momento de 
finalização desta dissertação foram pesquisados os seguintes setores: 03; 04; 05; 07; 08; 09; 
10; e 11. Dessa forma, os resultados aqui apresentados se referem a estes 08 setores, que 
representam áreas distintas do município e, assim, possibilitaram uma análise ampliada e rica 
do espaço rural de Montes Claros, de modo que, os resultados obtidos nesta pesquisa refletem 
alguns aspectos dos outros setores não visitados, como nos foi exposto pelos conselheiros nas 
reuniões do CMDRS e também como já observamos em experiências de pesquisas anteriores 
realizadas no município. 
Em cada oficina são reunidos representantes de todas as comunidades pertencentes 
àquele setor pelo conselheiro do CMDRS
2
 e dessa forma colhemos os dados por amostragem. 
 O trabalho está estruturado em três capítulos: no primeiro capítulo, fizemos uma 
abordagem geral dos conceitos que envolvem a temática como o desenvolvimento, 
desenvolvimento rural, agricultura familiar, espaço rural, ruralidades, multifuncionalidade e 
pluriatividade. No segundo capítulo apresentamos o município de Montes Claros e seu espaço 
rural, e no terceiro capítulo os resultados e discussões, seguido das considerações finais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2
 Trataremos sobre o CMDRS, sua instituição, infraestrutura, membros e atividades no Capítulo II. 
 
 
21 
 
CAPÍTULO I: O ESPAÇO RURAL: ELEMENTOS, RURALIDADES, CONCEITOS E 
DISCUSSÕES 
 
 Os estudos rurais no Brasil desde a década de 1980 têm aprofundado as discussões 
sobre o espaço rural, as ruralidades, a relação campo-cidade e tudo que essas temáticas 
abrangem. Segundo Wanderley (2011, p. 106), 
 
[...] os estudos rurais realizam um importante salto qualitativo, que se expressa em 
duas orientações complementares. Em primeiro lugar, a revalorização da dimensão 
espacial, que traz à tona um debate centrado na compreensão do mundo rural e suas 
relações com as cidades, bem como nas relações da vida local com os processos de 
globalização. Essa compreensão alimenta uma profunda reflexão a respeito do 
desenvolvimento rural sustentável como projeto de sociedade. Em segundo lugar, a 
reiteração da centralidadedo conhecimento sobre os sujeitos rurais, em toda sua 
diversidade e complexidade. (WANDERLEY, 2011, p. 106 ) 
 
 Nesse sentido, percebe-se um esforço de análise nos estudos rurais para além do que é 
determinado como rural em relação ao espaço, visto que, a definição oficial de rural 
estabelecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE estabelece como "Área 
Rural: Área de um município externa ao perímetro urbano" (IBGE, 2000). Assim, a tipologia 
técnico-administrativa é vaga e imprecisa, não considerando características como contingente 
populacional, ocupação, ou renda, mas, é instituída a partir da falta de equipamentos e 
serviços urbanos (GIRARDI, 2008). 
 As diferentes abordagens que abarcam as discussões referentes ao mundo rural, 
levaram a diferentes teorias de estudiosos, que, até mesmo afirmaram o fim do rural, outros 
contestaram e propuseram uma outra via que seja mais integradora e demonstra, assim, as 
novas ruralidades associadas ao espaço urbano ou ao modo de vida urbano (GIRARDI, 2008). 
Segundo Wanderley (2011, p. 120), ruralidade "em seu sentido geral, diz respeito às 
particularidades do espaço rural, às relações, às representações e aos sentimentos de 
pertencimento, referidos ao meio rural e aos modernos processos de integração campo-
cidade", nesse sentido, expressa um importante elemento imerso na discussão e nos embates 
teórico-metodológicos diante das transformações do mundo atual e do processo de 
globalização que levaram novas possibilidades ao campo como a inserção de tecnologias na 
produção agrícola e na rotina das pessoas, através dos celulares, a internet, eletrodomésticos, e 
outros mais. 
 Assim, a seguir apresentaremos 05 dimensões que consideramos basilares para o 
entendimento da organização e desenvolvimento no espaço rural, que analisaremos para a 
 
 
22 
 
apreensão da dinâmica do mesmo: agricultura familiar; multifuncionalidade; pluriatividade; 
desenvolvimento sustentável, e políticas públicas para agricultura familiar. 
1. 1 Agricultura Familiar, Multifuncionalidade e Pluriatividade 
 
 Frente às novas ruralidades, as transformações do mundo rural, os debates em torno 
das definições de agricultura familiar e campesinato se inserem a discussão da 
multifuncionalidade e da pluriatividade, que têm se apresentado como importantes elementos 
no meio rural e traçado novas dinâmicas no cotidiano da população do campo. 
 A agricultura familiar é uma categoria que levanta muitas discussões acerca do 
conceito e aplicação, assim, na literatura é possível encontrar muitas definições e tipologias 
do termo, como Wanderley (1996, p. 02) que afirma que a agricultura familiar é "entendida 
como aquela em que a família, ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de 
produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo." Para Guanziroli et al (2001, 
p.113), "é intenso o debate sobre a agricultura familiar, seus elementos caracterizadores, sua 
dinâmica, viabilidade e lógica econômica. [...] o elemento-chave mais importante para definir 
os produtores familiares é produzir com base na mão de obra familiar." Outro fato a ser 
pontuado é a discussão do conceito de agricultura familiar devido à sua utilização no 
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura familiar - Pronaf e na criação da Lei 
11.326/2006 que fixa as bases para a categoria (BRASIL, 2006). Nesse sentido, Wanderley 
(2004, p. 43,44) afirma que, 
para uns, o conceito de agricultura familiar se confunde com a definição operacional 
adotada pelo Pronaf que propõe uma tipologia de beneficiários em função de sua 
capacidade de atendimento. Para outros, agricultura familiar corresponde a uma 
certa camada de agricultores, capazes de se adaptar às modernas exigências do 
mercado em oposição aos demais “pequenos produtores” incapazes de assimilar tais 
modificações. São os chamados agricultores “consolidados” ou os que têm 
condições, em curto prazo, de se consolidar. (WANDERLEY, 2004, p. 43,44) 
 
 Percebe-se, portanto, que os pesquisadores dessa temática têm posições variadas a esse 
respeito, até mesmo pelas dimensões da propriedade, o tipo de trabalho desenvolvido, o 
enquadramento do agricultor ou não no Pronaf, entre outros pontos que permeiam esta 
discussão. Entretanto, todos os autores, assim como a legislação vigente concordam que a 
essência do termo e, não obstante, dessa categoria está na base familiar, onde a 
responsabilidade da gestão e do trabalho na propriedade é da família que ali reside. Dessa 
forma, percebe-se que a discussão gira em torno dos elementos que compõem a estrutura das 
unidades familiares. 
 
 
23 
 
 Para Guanziroli et al (2001, p. 114) o universo dos agricultores é heterogêneo, devido 
às diferentes trajetórias, às relações sociais nas quais se inserem e também aos níveis de 
capitalização. Para esses autores, existem três tipos diferentes de agricultores familiares, 
conforme o nível de capitalização: 
I - agricultores capitalizados: inseridos no processo de acúmulo de capital, dispõem de mais 
recursos para produção, produzem com uso de maquinários, benfeitorias. Gradualmente 
podem tornar-se produtores patronais, conforme aumentam sua área de trabalho e inserem 
modos de produção que necessitam de mais mão de obra. 
II - agricultores em vias de capitalização: em um cenário favorável esses agricultores podem 
acumular algum capital, entretanto, isso não representa uma garantia de sustentabilidade da 
unidade familiar, sendo assim, os produtores dessa categoria podem seguir por dois caminhos: 
completar a implantação de sistemas capitalizados, ou em um cenário contrário seguir rumo à 
descapitalização. 
III - agricultores descapitalizados: encontram-se nesta categoria agricultores tradicionais 
descapitalizados e também outros que recorrem à rendas externas para sobreviver pois a renda 
obtida na propriedade é insuficiente para manter a unidade de produção e manter a família no 
campo. 
 Segundo o autor há um dinamismo que se dá a partir capacidade de crescimento ou 
não dos agricultores, eles podem migrar de uma categoria para outra conforme a situação 
muda, tornando-se mais ou menos capitalizados ou até mesmo descapitalizados, variando de 
região pra região pelas características físicas, econômicas, sociais. E mesmo os agricultores 
descapitalizados como os tradicionais podem integrar-se ao mercado de alguma forma, 
através da pluriatividade e da venda do excedente da produção. 
 Abramovay (1992) aponta que a agricultura familiar é altamente interligada ao 
mercado, capaz de incorporar os principais avanços técnicos e de responder às políticas 
governamentais. Diante desse dinamismo, percebe-se a presença da multifuncionalidade como 
parte integrante deste processo. No município alvo desta pesquisa, percebemos a 
multifuncionalidade como um dos conceitos expressos no modo de vida e produção rural da 
população. 
 
 
 
 
 
 
24 
 
1.2 Multifuncionalidade da Agricultura 
 
 A multifuncionalidade da agricultura é um dos temas que mais se expandiu na 
geografia agrária na década de 1990 segundo Alves (2010). A discussão sobre essa temática 
nos últimos anos tem ganhado espaço no meio acadêmico, por apresentar uma dinâmica que 
favorece a manutenção do homem no campo e que possibilita ao agricultor ser ao mesmo 
tempo trabalhador rural, detentor dos meios de produção e auxiliar na preservação do meio 
ambiente, procurando relacionar a produção e a preservação do solo, gerenciar os recursos 
naturais de modo sustentável e preservar a biodiversidade. 
 A noção de multifuncionalidade foi desenvolvida na Europa, mas ganhou visibilidade 
no Brasil a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e 
Desenvolvimento (Rio-92), em 1992 no Rio de Janeiro (SABOURIN, 2010). Laurent (1999) 
apud Sabourin (2010, p. 152) define a multifuncionalidade como “conjunto das contribuições 
da agricultura para um desenvolvimentoeconômico e social considerado na sua globalidade.” 
Dessa forma, este conceito é de grande relevância no tocante a agricultura familiar no 
contexto brasileiro, visto que a atividade é importante para a economia do país, e para a 
população de uma forma geral. 
 Como afirma Soares (2001), o debate sobre a multifuncionalidade também foi 
destaque nas negociações da Organização Mundial do Comércio – OMC, na Conferência de 
Seattle nos Estados Unidos em 1999, na qual começaram as negociações sobre a reforma de 
importantes temas no comércio internacional, com destaque para a agricultura. De um lado 
ficaram os países exportadores de comóditties, como Argentina, Austrália, Brasil, Chile, Nova 
Zelândia e Uruguai que buscavam a remoção de barreiras comerciais na Europa, Estados 
Unidos e Japão para a entrada dos produtos agrícolas. De outro lado ficaram os países 
europeus que defendiam a manutenção de seus subsídios agrícolas através do argumento da 
multifuncionalidade da agricultura, uma vez que, para eles, as funções múltiplas exercidas 
pela agricultura naquela sociedade exigiam que este setor não tivesse um tratamento 
meramente comercial. 
 Maluf (2003) pontua que na realidade brasileira pode-se destacar quatro funções na 
multifuncionalidade da agricultura: a) reprodução socioeconômica das famílias rurais (Função 
econômica); b) promoção da segurança alimentar das próprias famílias e da sociedade; c) 
manutenção do tecido social e cultural (Função social); d) preservação dos recursos naturais e 
da paisagem rural (Função ambiental). 
 
 
25 
 
 A relevância do tema para o meio rural, se dá pela representatividade de um conjunto 
de ações que reunidas podem contribuir de forma significativa, em nosso entendimento e 
avaliação, para o desenvolvimento rural sustentável, e, cada função abrange dimensões e 
elementos que se complementam, e influenciam nos processos endógenos e exógenos que 
atuam no campo, nesse sentido, apresentaremos a seguir com mais detalhes as quatro funções 
da multifuncionalidade. 
 
1.2.1 . Função Econômica 
 
 Esta função está relacionada aos aspectos econômicos que envolvem a renda 
proporcionada pelas atividades desenvolvidas na unidade familiar sendo capazes de suprir às 
necessidades da família. O ponto chave nesta função é capacidade de geração de emprego e 
renda nas propriedades rurais que permita a manutenção da população em condições dignas 
no campo e favoreça a reprodução dos seus modos de trabalho (MALUF, 2003). 
 Em relação a isso pode-se também enfatizar a importância da agricultura familiar no 
cenário nacional, como provedora de alimentos, segundo Wanderley (2011), a agricultura 
familiar tem um peso considerável na produção de alimentos no Brasil. Os dados Censo 
Agropecuário do IBGE (2006) comprovam que o mercado brasileiro é suprido em grande 
parte pela produção familiar, visto que as grandes lavouras são direcionadas à exportação, 
como mostra a figura 02. Estima-se que no Brasil a agricultura familiar seja responsável por 
75% dos alimentos que compõem a alimentação básica da população. Aproximadamente 
cinco milhões de famílias vivem da agricultura familiar e produzem a maior parte dos 
alimentos consumidos no País, como mandioca (83%), feijão (70%) e leite (58%). A 
agricultura familiar representa 84% dos estabelecimentos agropecuários e corresponde cerca 
de 38% de participação no valor bruto da produção do meio rural. Dessa forma, são 14 
milhões de pessoas trabalhando, em torno de 74% do total das ocupações distribuídas em 
cerca de 80 milhões de hectares (25% da área total) (IBGE, 2006). 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
Figura 02: Participação da Agricultura Familiar na Economia Brasileira 
 
Fonte: Blog do Planalto. Disponível em: http://blog.planalto.gov.br/credito-para-agricultura-familiar-contribui-
para-recorde-de-producao/. Acesso em 21 de setembro de 2015. 
 
 Outro elemento relevante na análise no aspecto econômico é a pluriatividade que tem 
dado uma nova configuração às propriedades agregando novas atividades e modificado as 
relações socioeconômicas da população, sobre isso, trataremos à frente. 
 
1.2.2 Segurança Alimentar ou Soberania Alimentar e Nutricional 
 
 A segurança alimentar/soberania alimentar e nutricional é ainda mais abrangente pois, 
está diretamente ligada a relação campo-cidade. O conceito de segurança alimentar foi 
deliberado na Conferência Mundial de Alimentação na Itália em 1974, como o suprimento 
alimentar adequado a nível mundial a fim de sustentar a expansão do consumo e compensar 
eventuais flutuações na produção e nos preços (SOARES, 2001). Acreditava-se que a 
modernização da agricultura seria capaz de garantir a segurança alimentar, entretanto, ao 
analisar o modelo de produção proposto pela Revolução Verde, fica claro que este foi um 
programa idealizado por outros países e implantado no Brasil, cujo objetivo maior era a 
produtividade, em detrimento da segurança alimentar, bem como, a sustentabilidade. A 
 
 
27 
 
inserção da Revolução Verde no Brasil foi justificada pelo aumento significativo da produção 
de alimentos e do combate à fome no mundo. 
 Entretanto, ao examinar as condições de vida e acesso a alimentos no mundo e no 
Brasil, enxerga-se claramente que não foi garantida a segurança alimentar da população, mas 
houve uma concentração de riquezas que gerou uma crescente pobreza rural, atingindo não só 
o campo, mas, também as cidades devido à saída de muitos agricultores da zona rural em 
direção aos centros urbanos. Dessa forma, as discussões regidas pela Organização das Nações 
Unidas para Agricultura e Alimentação - FAO em 1983 culminaram com a redefinição do 
conceito de segurança alimentar como sendo “a garantia do acesso físico e econômico das 
pessoas à alimentação básica que necessitavam” (SOARES, 2001). O problema é que este 
conceito não abarca a procedência dos alimentos, e esta brecha no conceito levou movimentos 
sociais ligados à Via Campesina a debater junto a FAO sobre a soberania alimentar, cuja 
função iria além do acesso à alimentação básica, mas, visaria também alimentos de boa 
qualidade capazes de garantir também a segurança nutricional do ser humano. 
 Nesse sentido, a promoção da segurança alimentar segundo Maluf (2003), compreende 
a disponibilidade, o acesso e a garantia da qualidade dos alimentos para os agricultores que 
produzem e para os consumidores, de forma, que, também seja garantida a segurança 
nutricional. 
 
1.2.3. Função Social 
 
 Nesta função pode-se destacar a inclusão social dos indivíduos percebida através do 
trabalho que assegura ao agricultor a sua permanência no meio rural, a manutenção da 
propriedade e a reprodução dos saberes adquiridos através de gerações, diminuindo a 
migração para os centros urbanos e, até mesmo, a marginalização e alienação dos 
conhecimentos tradicionais. 
 Esta função também está relacionada às formas de organização social dos agricultores 
através de associativismo e cooperativismo. A funcionalidade social da agricultura familiar 
tem em sua dimensão a capacidade de intensificar essas formas de organização, através da 
busca pelos recursos, o acesso às políticas públicas e o desenvolvimento de novas técnicas de 
produção. A proximidade das famílias e a busca por objetivos comuns pode aumentar o 
sentimento de confiança aliada a topofilia, e dessa forma, contribui para a manutenção das 
famílias no campo. 
 
 
28 
 
1.2.4 Função Ambiental 
 
 A função ambiental diz respeito a todos os aspectos na agricultura familiar que 
envolvem a preservação e conservação ambiental, desde o cuidado com o solo, a água, a mata 
ciliar, evitando a contaminação pelo uso inadequado de agrotóxicos, a erosão do solo e o 
assoreamento dos rios e nascentes pela retirada da cobertura vegetal. 
 Para Soares (2001), a agricultura familiar pode promover um conjunto de serviços 
ambientais como a preservação dossolos e águas, manejo sustentável da biodiversidade e 
produção de biomassa. Tais atividades estão apoiadas nas características próprias a este modo 
de produção, pois têm como prioridade o suprimento das necessidades da família, valoriza o 
policultivo e aperfeiçoa a distribuição espacial e temporal das culturas, o manejo é feito com 
maior atenção, uma vez que quem o faz é o próprio agricultor, que conhece o bioma e o clima 
da região no qual está inserido podendo ser capaz de desenvolver estratégias de convivência 
com os mesmos. Esta função possui um direcionamento agroecológico que busca integrar o 
homem à natureza aproveitando de forma sustentável os recursos disponíveis para a garantia 
das gerações futuras. 
 A análise destas quatro funções mostra a complexidade das relações envolvidas na 
agricultura familiar para além da sua função matricial que é a produção agrícola. 
 Dessa forma, a multifuncionalidade se mostra como uma característica importante na 
agricultura familiar, pois, evidencia a capacidade dos agricultores de repensar e adaptar seus 
modos de vida e de produção, permanecendo no campo e inseridos no mercado. Paralelo à 
multifuncionalidade percebe-se que um novo sujeito vem compondo esse cenário rural: o 
agricultor pluriativo, que vem dar um novo dinamismo a esse modelo de produção. 
 
1.3 Pluriatividade 
 
 Assim como a multifuncionalidade, a pluriatividade é um dos temas que cresceu nos 
estudos referentes à agricultura familiar. 
 Segundo Schneider (2003, p. 100-101), a pluriatividade 
 
 
refere-se a situações sociais em que os indivíduos que compõem uma família com 
domicílio rural passam a se dedicar ao exercício de um conjunto variado de 
atividades econômicas e produtivas, não necessariamente ligadas à agricultura ou ao 
cultivo da terra, e cada vez menos executadas dentro da unidade de produção. 
(SCHNEIDER, 2003, p. 100-101) 
 
 
29 
 
 Devido às transformações do mundo moderno que afetaram a população do campo, 
algumas famílias começaram a diversificar o trabalho para manter a propriedade, inclusive 
exercendo atividades não agrícolas, como demonstra Graziano da Silva et al (2002, p. 41) "os 
produtores estão encontrando novas oportunidades de valorização de bens não tangíveis, antes 
ignorados, como a paisagem, o lazer e os ritos do cotidiano agrícola e pecuário." Nessa 
direção, podemos citar algumas das atividades exploradas pelas famílias no campo como: os 
produtores de hortaliças que passam a trabalhar também com venda mudas de plantas e 
temperos feitos a partir dos produtos da horta; criação de peixes; polpas de suco para melhor 
aproveitar as frutas da estação; artesanato; turismo rural, pessoas no grupo familiar que 
trabalham na cidade, mas residem no campo e utilizam a renda para o benefício da 
propriedade, e outros mais. 
 Esses exemplos caracterizam a pluriatividade e o empreendedorismo levando novas 
perspectivas para os agricultores possibilitando um rural mais dinâmico e configurando novos 
instrumentos para criação de políticas públicas que possam ajudar nessa nova composição. 
 Assim, alguns paradigmas se destacam nas discussões como políticas públicas e 
desenvolvimento sustentável que tem permeado os debates nas análises sobre a agricultura 
familiar na atualidade. 
 
1.4. Desenvolvimento Rural Sustentável e Políticas Públicas Para Agricultura Familiar 
 
 O espaço rural agrega uma importante diversidade na paisagem, nos modos de 
produção e de vida da população, seguindo essa lógica, o trabalho dos movimentos sociais, a 
busca pela reforma agrária, a crescente discussão sobre a sustentabilidade e a criação de 
políticas públicas para a agricultura familiar têm quebrado muitos paradigmas e levantado 
outros em relação ao mundo rural, especialmente no que tange à agricultura familiar e ao 
desenvolvimento rural sustentável. Nesse sentido, discutimos rapidamente, alguns desses 
paradigmas, a fim de aprofundar a discussão, mas, sem esgotar o assunto, evidenciando 
alguns pontos importantes para a compreensão do rural como espaço de transformação 
constante e capaz de se adaptar às diferentes realidades. 
 
 
 
 
 
 
30 
 
1.4.1 Desenvolvimento e Desenvolvimento Rural 
 
 O desenvolvimento está no centro das discussões de diversas ciências que 
compreendem diferentes áreas, mas, não existe consenso quanto ao seu real significado ou 
finalidade. Segundo Guimarães (2013), 
 
“Desenvolvimento” é um termo polissêmico e, como tantos outros, sujeito a 
interpretações controversas e objeto de disputas ideológicas. A Constituição do 
Brasil fala de “desenvolvimento” em seu preâmbulo, mas não o define em nenhum 
outro lugar. Seu entendimento depende de elementos explicativos ou, com mais 
frequência, do sentido que lhe é dado pelo poder que o usa como argumento. 
(GUIMARÃES, 2013, p. 11) 
 
 Dessa forma, percebe-se a complexidade do termo e por este motivo a dificuldade de 
definição epistemológica para o mesmo. Este fato pode ser percebido também pela definição 
encontrada no Dicionário Aurélio Ferreira (1986, p. 561), 
 
de.sen.vol.vi.men.to 
sm (desenvolver+mento
2
) 1 Ato ou efeito de desenvolver. 2 Crescimento ou 
expansão gradual. 3 Passagem gradual de um estádio inferior a um estádio mais 
aperfeiçoado. 4 Adiantamento, progresso. 5 Extensão, prolongamento, 
amplitude. 6 Mús Elaboração de um tema, motivo ou ideia musicais por 
modificações rítmicas, melódicas ou harmônicas. 7 Mús Parte em que tal elaboração 
ocorre. 8 Mat Expressão de uma função qualquer na forma de uma 
série. 9 Mat Transformação de uma expressão em outra equivalente, mais extensa, 
porém mais acessível ao cálculo. D. direito, Biol: desenvolvimento sem 
metamorfose. Sin: desenvolução. (FERREIRA, 1988, p. 561 ). 
 
 Nesse sentido, podemos constatar como diversas ciências se apropriam do termo 
desenvolvimento para os seus devidos fins, o que evidencia a amplitude do tema, sendo 
necessária uma análise diferenciada conforme cada área do conhecimento. Kageyama (2004, 
p. 380) afirma que, "O desenvolvimento - econômico, social, cultural, político - é um conceito 
complexo e só pode ser definido por meio de simplificações, que incluem decomposição de 
alguns de seus aspectos e aproximação por algumas formas de medidas." 
 De forma geral, o desenvolvimento está relacionado a crescimento, e este é o elemento 
que vem movendo os debates relacionados ao tema quando se trata de aspectos econômicos, 
sociais e ambientais. 
 O desenvolvimento atrelado à ideia de crescimento econômico foi a prerrogativa do 
Estado para que o Brasil deixasse de ser um país de terceiro mundo em meados do século XX, 
e para tirar o país do atraso, frentes desenvolvimentistas foram espalhadas por todo país, com 
o objetivo de industrializar as cidades e mecanizar o campo para aumentar a produtividade. 
 
 
31 
 
Dessa maneira, o que se refere ao desenvolvimento tanto nas áreas urbanas como rurais no 
Brasil, foi pautado nesta concepção. E, em relação ao desenvolvimento rural, especificamente, 
as ações e projetos pensados pelo Estado seguiram este modelo até a década de 1990 quando 
políticas públicas começam a ser pensadas de maneira diferenciada, buscando a inclusão da 
agricultura familiar. 
 Sobre isso Navarro (2001, p. 88) argumenta que, 
 
o conceito de desenvolvimento rural, [...] altera-se também ao longo do tempo, 
influenciado por diversas conjunturas e, principalmente, pelos novos condicionantes 
que o desenvolvimento mais geral da economia e da vida social gradualmente 
impõem às famílias e às atividades rurais (NAVARRO, 2001, p. 88). 
 
 Diante disso, Schneider (2010) afirma que os estudos sobre desenvolvimento rural na 
atualidade se voltam para o contexto das discussões da agricultura familiar, da intervenção do 
Estado no meio rural através de políticas para agricultura familiar, as mudanças no cenário 
político e ideológico no Brasil após o fim do regimemilitar e também a emergência da 
sustentabilidade ambiental nos anos 1990 com a Rio-92 e a Agenda 21 que levantaram os 
debates em torno do aquecimento global, a poluição e muitos outros temas relacionados à 
sustentabilidade. 
 
1.4.2 Desenvolvimento Rural no Brasil 
 
 No Brasil o desenvolvimento rural passou por momentos distintos, considerando a 
história recente do país. Após a década de 1950, a concepção de desenvolvimento rural no 
país seguiu o padrão norte americano, seguindo os parâmetros da Revolução Agrícola e da 
Revolução Verde que levou para o campo em várias partes do mundo, conforme Mazoyer e 
Roudart (2010, p. 421) 
 
[...] novos meios de produção agrícola originários da segunda revolução industrial: a 
motorização (motores a explosão ou elétricos, tratores e engenhos automotivos cada 
vez mais potentes), a grande mecanização (máquinas cada vez mais complexas e 
eficientes); e a quimificação (adubos minerais e produtos de tratamento). 
(MAZOYER e ROUDART, 2010. p, 421) 
 
 E assim, se deu no Brasil a implantação dessas formas de produção agrícola voltadas 
para cultivos em larga escala, baseados na concepção progressista do Estado que preconizava 
o crescimento econômico do país naquela época para tirá-lo do "atraso", não levando em 
 
 
32 
 
consideração as particularidades de cada região e os modos de vida da população rural 
brasileira. Segundo Schneider (2010, p. 512), 
 
Esta foi a tônica da intervenção no meio rural do Brasil e de outros países na 
America Latina no período conhecido pela vigência da ideologia da “revolução 
verde”, que preconizava ações de intervenção dirigidas e orientadas, geralmente de 
caráter compensatório, que eram vistas como a solução para os agricultores que não 
conseguiam se modernizar tecnologicamente nem integrar-se ao conjunto da 
economia através da industria, comercio e serviços. No Brasil, as políticas de 
“desenvolvimento rural integrado” (PDRI) eram apontadas como a solução viável 
para as regiões atrasadas, sendo exemplos eloquentes as ações de colonização e 
assentamento humano na Amazônia e as frentes de trabalho de combate à seca no 
Nordeste (SCHNEIDER, 2010 p. 512). 
 
 Nesse sentido, percebe-se que o modo de reprodução dos meios de produção rural no 
país eram considerados insuficientes pra promoção do crescimento econômico do país e, 
assim, a Revolução Verde seria a solução para superar o atraso do espaço rural brasileiro. 
Dessa forma, a ideia era padronizar os modos de produção da agricultura, e dessa forma, a 
agricultura familiar também foi inserida neste processo. 
O período que se estende da década de 1960 até o fim dos anos 1980 foi marcado pela 
gestão dos governos militares, cuja intenção era promover o crescimento econômico do país 
através de várias ações como descreve Navarro (2001, p. 84) 
 
A noção de desenvolvimento rural, naqueles anos, certamente foi moldada pelo 
"espírito da época", com o ímpeto modernizante (e seus significados e trajetórias) 
orientando também as ações realizadas em nome do desenvolvimento rural. No 
Brasil, por exemplo, já nos anos 70, sob a condução dos governos militares, um 
conjunto de programas foi implementado nas regiões mais pobres, o Nordeste em 
particular, sob a égide do desenvolvimento rural (pois em outras regiões o modelo 
era o da "modernização agrícola") (NAVARRO, 2001, p. 84). 
 
 Nesse sentido, a agricultura patronal
3
 foi contemplada em várias partes do país através 
de perímetros de irrigação, projetos agropecuários, reflorestamentos, e dessa forma, muitos 
agricultores familiares tornaram-se assalariados dos grandes empreendimentos rurais ou 
optaram pela aquisição dos pacotes tecnológicos que potencializariam a produção e supririam 
a demanda por emprego no campo, segundo a propaganda veiculada na época. 
 De outro lado, várias agências de fomento foram criadas para promover o crescimento 
econômico e o desenvolvimento no país. A busca pela diminuição das disparidades regionais 
foi materializada na criação de superintendências regionais: Superintendência de 
 
3
 Agricultura patronal é um conceito econômico e jurídico adotado no Brasil, que se contrapõe à agricultura 
familiar, e que conta, em sua produção, com empregados assalariados permanentes ou temporários. A produção 
se baseia em monoculturas, Barros (2010). 
 
 
33 
 
Desenvolvimento da Amazônia - Sudam; Superintendência do Desenvolvimento da Região 
Sul - Sudesul; Superintendência de Desenvolvimento da Região Centro-Oeste - Sudeco; 
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste - Sudene. Como afirma Goularti Filho; 
Almeida; Messias (2011), essas agências tinham por objetivo promover ações de estímulo ao 
crescimento econômico e combate à seca que é um fenômeno recorrente e buscar maior 
integração regional. 
Entretanto, o Brasil possui dimensões continentais, e, por possuir um território tão 
grande, é um país muito heterogêneo. Sendo assim, as particularidades de cada região, sejam 
elas físicas, culturais, sociais e/ou econômicas, contribuíram para que os resultados das 
intervenções que visavam o desenvolvimento rural se dessem de forma muito diferente em 
cada região. E, nesse sentido, muitos agricultores que conseguiram se inserir no modelo 
importado dos países desenvolvidos, modernizaram sua produção e passaram a trabalhar de 
forma diferente, seguindo a lógica da produtividade, no entanto, Fonseca (2012, p. 62), 
argumenta que "a agricultura passa por momentos, às vezes, localizados, às vezes, 
generalizados, de saída do campo, quando as famílias abandonam as atividades agrícolas e 
partem em busca de outra forma de vida nas cidades considerada socialmente mais atrativa." 
Foi o que aconteceu com um grande número de agricultores que não se adaptou ao uso dos 
pacotes tecnológicos e acabaram se endividando, perdendo, em muitos casos, a terra e sendo 
obrigados a migrar para as cidades. 
A partir da década de 1980, os debates sobre a noção de desenvolvimento rural no 
Brasil reacenderam, a partir das discussões e debates de entidades da sociedade civil como 
Organizações Não Governamentais - ONG’s, sindicatos, universidades, políticos e a 
Conferência da Organização das Nações Unidas Para o Meio Ambiente, a Rio-92, conforme 
Schneider (2010), e a partir daí crescem as discussões envolvendo o desenvolvimento rural 
sustentável no país. 
 
1.4.3 As Bases do Desenvolvimento Rural Sustentável 
 
 O desenvolvimento rural sustentável tem suas bases nas discussões acerca da 
sustentabilidade que foi protagonista de relatórios produzidos pela ONU como o Relatório de 
Brundtland - Nosso Futuro Comum (Our Common Future) e a Agenda 21 na Conferência 
Rio-92. Segundo o Relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento 
(1991, p. 46) “o desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades do presente 
 
 
34 
 
sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias 
necessidades”. Este conceito largamente difundido pelo mundo também foi destacado na 
Agenda 21 que prevê ações voltadas para diversas áreas, inclusive para a agricultura que é 
uma atividade impactante para o meio ambiente. 
 Diante do panorama traçado anteriormente, o desenvolvimento rural sustentável 
segundo Navarro (2001, p. 89) 
 
surgiu em meados dos anos 80 a partir da crescente difusão da expressão mais geral, 
“desenvolvimento sustentável” (apoiada em crescente e copiosa literatura). Embora 
muitos autores e instituições pretendam atribuir a esta um sentido politicamente 
mais conseqüente do que a anterior (desenvolvimento rural), incorporando noções, 
por exemplo, de eqüidade social ou, mais ambiciosamente, atribuindo alguma 
suposta relação entre formas de organização social das famílias rurais mais pobres, 
fruto de “conscientização”, e desenvolvimento rural sustentável, o foco central, nestecaso, é bastante claro e mais limitado (NAVARRO, 2001, p. 89) 
 
 
 Para este autor, o elemento "sustentável" está relacionado exclusivamente à questão 
ambiental e direciona as ações de desenvolvimento rural para agrupar as dimensões 
ambientais de modo a cumprir sua função no espaço rural, visto que as questões sociais, 
econômicas e culturais já estão inclusas no conceito de desenvolvimento rural, para a 
construção de um processo que contemple de maneira mais concreta a população rural. 
Assim, o desenvolvimento sustentável deve ser o resultado da combinação do 
desenvolvimento social, econômico e da preservação ambiental (SACHS, 2002). Dessa 
maneira na figura 03, pode-se ver o processo em que se dá a construção do desenvolvimento 
sustentável, cujas bases também corroboram para o desenvolvimento rural sustentável. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
Figura 03: Elementos que compõem o desenvolvimento sustentável 
 
 
Org: Freitas, L. D. A. S. 2015 
 
 Nesse sentido, as ações e estratégias pensadas para o desenvolvimento rural 
sustentável perpassam por este processo, através da implementação de políticas públicas que 
podem fortalecer e possibilitar maior dinamismo à agricultura familiar. As bases da noção de 
desenvolvimento rural sustentável vão de encontro aos conceitos de multifuncionalidade e 
pluriatividade, ambos vem explicar essa agricultura que se insere no mercado, mas, não perde 
sua característica familiar. 
 
1.4.4 Políticas Públicas para o Desenvolvimento Rural 
 
 O paradigma do desenvolvimento rural passa pela construção de políticas públicas 
voltadas para o campo e para a população rural, a fim de promover o fortalecimento da 
agricultura familiar que segundo Grisa e Shneider (2014, p, 126), 
 
Desenvolvimento Sustentável 
Desenvolvimento 
Econômico 
Preservação 
Ambiental 
Desenvolvimento 
Social 
 
 
36 
 
Historicamente, a agricultura familiar ou “os pequenos agricultores” – como eram 
denominados até cerca de duas décadas atrás – sempre estiveram às margens das 
ações do Estado brasileiro, não raro incrementando sua fragilidade diante das opções 
de desenvolvimento perseguidas no País. (GRISA e SHNEIDER. 2014, p, 126) 
 
 Esses autores afirmam que após a Constituição de 1988 possibilitou maior 
participação social e direitos à categoria, e foi reconhecida a necessidade de se pensar o 
desenvolvimento rural de forma diferenciada, nesse sentido, Carneiro (1997) afirma que a 
agricultura familiar foi a categoria escolhida para protagonizar as políticas públicas voltadas 
para o desenvolvimento rural no Brasil. Em 1995 é implantado o Programa Nacional de 
Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf e a partir dele, várias políticas voltadas para 
agricultura familiar são desencadeadas, como a criação do Ministério do Desenvolvimento 
Agrário (MDA) em 1999, a Secretaria de Agricultura Familiar (SAF) em 2001 e a Lei 
11.326/2006 também chamada de Lei da Agricultura Familiar que fixa as bases para a 
categoria e baliza as políticas voltadas para este segmento (GRISA E SHNEIDER, 2014). 
 Nesse sentido, a seguir faremos uma rápida análise da conjuntura de algumas políticas 
implantadas no Brasil com foco na agricultura familiar. 
 A implantação do Pronaf na década de 1990, gerou muitas discussões e divergências a 
respeito do conceito de agricultura familiar. Sobre isso, Wanderley (2004), aponta que para 
uns a agricultura familiar e o Pronaf se confundem a ponto do termo ser entendido como uma 
tipologia de beneficiários em função da capacidade de atendimento do programa, para outros, 
o termo corresponderia a uma categoria de agricultores, capazes de responder as atuais 
exigências do mercado em detrimento dos agricultores que não se encontram nas mesmas 
condições. Entretanto, apesar das muitas discussões a respeito do programa, segundo Mattei 
(2007, p.144) "o Pronaf se transformou rapidamente em uma alternativa concreta para 
diversos segmentos da agricultura familiar brasileira." 
 
O PRONAF é um programa que se propõe a apoiar o desenvolvimento rural, tendo 
por fundamento o fortalecimento da agricultura familiar, como segmento gerador de 
emprego e renda. É um programa de parceira que envolve os governos municipais, 
estaduais e federal e a iniciativa privada, executado de forma descentralizada, tendo 
como protagonistas os agricultores familiares e suas organizações 
(MA/SDR/PRONAF, 1996, p. 6). 
 
 Esta política pública oferece um programa de crédito rural para financiar projetos que 
gerem renda para os agricultores familiares e assentados da Reforma Agrária. Existem várias 
linhas de crédito para serem aplicadas em custeio da safra ou atividade semelhante e 
investimento em equipamentos, máquinas ou infraestrutura de produção e serviços 
 
 
37 
 
agropecuários ou não agropecuários na propriedade familiar. Ao longo dos anos o Pronaf 
sofreu várias modificações e abriu novas linhas de crédito a fim de contemplar uma faixa 
maior de agricultores, como a linha específica para mulheres, outra para agricultores 
agroecológicos, para jovens, e outras mais. 
 Outras políticas públicas foram desenvolvidas para agricultura familiar como o 
Programa de Aquisição de Alimentos - PAA e o Programa Nacional de Alimentação Escolar - 
PNAE que representam oportunidades de crescimento para o produtores, e também um 
desafio pois é necessário planejamento, gestão e organização eficientes, além de assistência 
técnica de qualidade (SANTOS; EVANGELISTA e OLIVEIRA, 2012). O PAA possibilita 
aos agricultores e suas associações/cooperativas o acesso a editais para oferta de seus 
produtos para as compras públicas e através do PNAE que disponibiliza 30% dos recursos do 
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE, os agricultores fornecem 
alimentos para as creches e escolas públicas (LEITE, 2013). Dessa forma, percebe-se a 
existência de políticas voltadas para a agricultura familiar, entretanto, nem todos os 
agricultores têm acesso devido à burocracia e a falta de informação. 
 Regionalmente pode-se perceber novas perspectivas sobre o desenvolvimento rural, o 
Norte de Minas tem passado por uma transição entre o tradicionalismo no modo de produção 
para um formato com base nas políticas públicas e na organização das unidades familiares 
como uma estratégia de permanência no campo e manutenção do seus modos de vida. E nesse 
sentido, as políticas públicas são fundamentais para dar suporte aos agricultores. 
 
1.4.5 Desenvolvimento Rural no Norte de Minas 
 
 O Norte de Minas Gerais é a maior mesorregião do estado, e possui um total de 89 
municípios, é subdividida em 07 microrregiões, como mostra o mapa na figura 04, e se 
caracteriza pela maioria de municípios com cidades pequenas de características rurais, 
polarizados pelo município de Montes Claros que concentra a oferta e distribuição de 
produtos e serviços de diversos tipos, desde comércio (atacado e varejo), indústria, logística, 
saúde e educação. No tocante aos aspectos naturais, é uma área de transição entre o Cerrado e 
a Caatinga, segundo Belém (2008, p. 61), 
 
 
 
 
 
38 
 
O Norte de Minas possui uma rica biodiversidade que se reflete na existência das 
inúmeras fitofisionomias vegetais inseridas dentro dos dois grandes biomas que 
ocorrem no Norte do Estado: o Cerrado e a Caatinga. Entre elas, destacam-se o 
Cerrado Típico, o Cerradão, a Vereda, os Campos, as Matas Ciliares, a Caatinga 
Arbustiva, a Caatinga Arbórea e a Floresta Estacional Decidual (BELÉM, 2008, p. 
61). 
 
Encontramos nessa região, desde solos férteis e propícios a agricultura até solos 
extremamente inférteis que para produzir precisam do aparato de maquinários e correção de 
solo. O clima em grande parte do Norte de Minas de acordo com a classificação de Köppen é 
o Aw com invernos secos e verões chuvosos (Belém, 2008). 
Todos esses aspectos produzem uma região com fatores singulares no

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