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3 criminalistica

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Disciplina | 
Introdução 
www.cenes.com.br | 1 
 
 
 
 
 
DISCIPLINA 
CRIMINALÍSTICA 
Criminalística | 
Sumário 
www.cenes.com.br | 2 
Sumário 
Sumário ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 2 
1 Introdução --------------------------------------------------------------------------------------------- 3 
2 Local do Crime e a Preservação das Evidências -------------------------------------------- 14 
3 Análise de Evidências Biológicas --------------------------------------------------------------- 21 
3.1 Datiloscopia ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 22 
3.2 Hematologia Forense ------------------------------------------------------------------------------------------ 28 
3.3 Exame Perinecroscópico -------------------------------------------------------------------------------------- 29 
3.4 Análise do DNA e Perfil Genético --------------------------------------------------------------------------- 32 
4 Balística Forense ------------------------------------------------------------------------------------ 38 
5 Química Forense ------------------------------------------------------------------------------------ 45 
6 Ciência Forenses Digitais e a Criminalística no Mundo Pós-Moderno --------------- 55 
7 Referências ------------------------------------------------------------------------------------------- 61 
 
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Criminalística | 
Introdução 
www.cenes.com.br | 3 
1 Introdução 
O termo Criminalística foi introduzido por Hans Gross para descrever o "sistema 
de métodos científicos utilizados pela polícia e investigações policiais" (CODEÇO, 
1991). De acordo com a definição do 1º Congresso Nacional de Polícia Técnica, 
realizado em São Paulo em 1947, a Criminalística é a "disciplina que tem como objetivo 
o reconhecimento e a interpretação de evidências materiais externas relacionadas ao 
crime ou à identidade do criminoso". Pode-se também definir a Criminalística não 
como uma ciência em si, mas como a aplicação do conhecimento de diversas ciências 
e artes (DOREA; STUMVOLL; QUINTELA, 2006). Em geral, ela utiliza métodos 
desenvolvidos e próprios de diversas áreas para auxiliar e fornecer informações às 
atividades de investigação criminal da polícia e do judiciário (RABELLO, 1996). 
Em uma análise atual, a Criminalística é uma ciência aplicada que utiliza conceitos 
de outras ciências fundamentadas nos princípios da física, química e biologia, 
embasada em métodos e leis específicas estabelecidas na legislação, principalmente 
no processo penal (FRANÇA, 2001; INMAN; RUDIN, 2002). É importante não confundir 
o campo da Criminalística com o da Medicina Legal. Embora ambas sejam 
responsáveis pelos exames de corpo de delito e tenham interseções em vários 
momentos, a Medicina Legal tem como objetivo os exames de vestígios intrínsecos 
(no corpo da pessoa) relacionados ao crime (DOREA; STUMVOLL; QUINTELA, 2006). 
Durante sua evolução, a Criminalística recebeu várias denominações 
doutrinariamente inadequadas (O'HARA, 1964; PORTO, 1969). Essa ciência foi 
chamada de Criminologia Científica, Ciência Policial, Investigação Criminal Científica, 
Policiologia, que também se aplicam à administração policial e aos métodos de 
elucidação em geral. O termo Criminalística é originário da escola alemã e foi utilizado 
em toda a Europa, com os termos "Kriminalistik e Criminalistique". O próprio termo 
Ciência Forense não é sinônimo de Criminalística em todos os lugares do mundo. Para 
Gialamas (2000), Ciência Forense deve ser definida como a aplicação das ciências a 
assuntos ou problemas legais civis, penais ou mesmo administrativos. Portanto, a 
Criminalística seria apenas uma das áreas da Ciência Forense. 
 
O Processo Evolutivo da Ciência Criminalística 
Apesar dos avanços tecnológicos que acompanham a Ciência Forense na 
atualidade, a utilização de técnicas específicas voltadas para a elucidação de crimes e 
indiciamento de criminosos remonta a épocas pré-científicas. Um exemplo do uso da 
Criminalística | 
Introdução 
www.cenes.com.br | 4 
habilidade e imaginação individual relacionado à resolução de crimes pode ser 
vislumbrado em Daniel: no século VI a.C., Daniel com grande perícia foi capaz de 
provar ao rei da Babilônia, Ciro, o Persa, que as oferendas prestadas ao ídolo Bel eram, 
na verdade, consumidas pelos sacerdotes e seus familiares. Para tanto, Daniel fez com 
que espalhassem cinzas por todo o piso do templo, onde eram colocadas diariamente 
oferendas. No dia seguinte, verificaram que, apesar da porta continuar lacrada, 
pegadas compatíveis com as dos sacerdotes eram observadas no chão e que as 
oferendas haviam sido consumidas (BAZAGLIA; BORTOLINI, 2004). 
No século III a.C., há a clássica história do "Princípio de Arquimedes". Segundo 
Vitrúvio, o rei Hierão de Siracusa mandou fazer uma coroa de ouro. Entretanto, 
quando a coroa foi entregue, o rei suspeitou que o ouro havia sido trocado por prata. 
Para solucionar tal dúvida, o rei pediu que Arquimedes investigasse o fato. 
Arquimedes pegou uma vasilha com água e, mergulhando pedaços de ouro e prata, 
do mesmo peso da coroa, verificou que o ouro não fazia a água subir tanto quanto a 
prata. Por fim, ele inseriu a coroa, que elevou o nível da água até a altura intermediária, 
constatando então que a coroa havia sido feita com uma mistura de ouro e prata. 
Assim, a fraude foi desvendada e o artesão desmascarado (BARBOSA; BREITSCHAFT, 
2006). 
A fase pré-científica da Criminalística também pode ser observada em relatos da 
antiga Roma descritos por Tácito: Plantius Silvanus, sob suspeita de ter jogado sua 
mulher, Aprônia, de uma janela, foi levado à presença de César. Este, por sua vez, foi 
examinar o quarto onde supostamente ocorreu o evento e encontrou sinais claros de 
violência (DOREA; STUMVOLL; QUINTELA, 2006). Isso mostra que, desde a 
antiguidade, foram desenvolvidas técnicas e exames com o intuito de solucionar 
crimes. 
Na verdade, a necessidade de utilizar conhecimentos técnicos na elucidação de 
crimes já era observada desde o século XVIII a.C., nos artigos do Código de 
Hammurabi (BOUZON, 2003). No entanto, a polícia de investigação se originou em 
Roma com a lei Valéria (82 a.C.), que instituía dois questores (quoestores parricidii) 
para presidirem os trabalhos criminais (CODEÇO, 1991). No entanto, eles não eram 
orientados por métodos técnicos-científicos sistematizados, o que persistiu por quase 
1.500 anos (PORTO, 1969). 
Somente no século XVI observou-se uma sistematização de dados de maneira a 
formar um corpo de conhecimento estruturado. Isso ocorreu inicialmente com os 
trabalhos de Ambroise Paré sobre ferimento por arma de fogo em 1560, seguidos 
Criminalística | 
Introdução 
www.cenes.com.br | 5 
pelos estudos de Paolo Zachias em 1651, sendo este último considerado o Pai da 
Medicina Legal (CODEÇO, 1991; DOREA; STUMVOLL; QUINTELA, 2006). Na realidade, 
as diferentes disciplinas que atualmente compõem a Ciência Forense tiveram origem, 
na maioria das vezes, de forma independente e, em alguns casos, até incidental, como 
podemos observar nos exemplos da Papiloscopia e da Balística forense. 
Em 1563, João de Barros publicou em Portugal suas observações sobre a 
obtenção de impressões palmares e plantares nos contratos na China. No entanto, as 
primeiras referências sobre as papilas epidérmicas foram descritas no século XVII por 
Malpighi, na Itália, e por Nehemidr Crew, na Inglaterra. As impressões papilares e 
datilares também foram objetos de estudo de Purkinje, na Alemanha (CODEÇO, 1991; 
DOREA; STUMVOLL; QUINTELA, 2006). A sistematização real do campo da 
identificação humanasurgiu com Bertillon e seu método antropométrico, que 
dominou o século XIX (CODEÇO, 1991). 
É importante destacar que, no início da Revolução Científica, a pesquisa, busca e 
interpretação de elementos relacionados à materialidade do fato penal cabiam à 
Medicina Legal, não se restringindo apenas ao exame do corpo humano 
(CAVALCANTI, 1995). Posteriormente, com o surgimento de várias disciplinas 
científicas, a Criminalística foi ganhando terreno, desenvolvendo seus próprios 
métodos e formas de correlacionar esses conhecimentos em prol da investigação 
criminal (GARRIDO, 2002). 
Segundo Codeço (1991), a Criminalística é filha da Medicina Legal. No entanto, 
para Dorea (1995), não seria possível distinguir a precedência da Medicina Legal, uma 
vez que suas origens se confundem. Isso se deve à indeterminação temporal do desejo 
humano de conhecer a verdade dos fatos quando um semelhante é vítima de uma 
morte violenta. Apesar de alguns afirmarem que a Criminalística faz parte da Medicina 
Legal, segundo Porto (1969), a própria Medicina Legal faz parte da Criminalística, que 
é um sistema que reúne conhecimentos de várias ciências e algumas artes. 
Um dos primeiros registros da origem de um ramo da Medicina Legal 
preocupado com o exame dos Locais de Crimes data de 1248, quando surgiu na China 
o livro intitulado "Hsi Yuan Lu - Registro Oficial da Causa de Morte" (DOREA, 1995). 
Segundo Fávero (1975), o início da era científica da Medicina Legal ocorreu em 1575, 
na França, com Ambrósio Paré. Embora Paré tenha reunido vários trechos dessa 
disciplina, não representavam um corpo doutrinário, metódico e sistemático desta 
ciência. Em 1601, surgiram as "Questões Médico-Legais" de Paulo Zacchia, 
considerado o fundador desta ciência. No século XVIII, a Medicina Legal se constituiu 
Criminalística | 
Introdução 
www.cenes.com.br | 6 
como disciplina científica de forma definitiva. 
Em resumo, foi a partir de 1844, quando uma bula do Papa Inocêncio VIII 
recomendou a intervenção médica nas investigações criminais, que os trabalhos nessa 
área ganharam impulso real. A origem do uso das impressões papilares para a 
identificação de criminosos surgiu em 1877, quando William Herschel, funcionário 
administrativo britânico na Índia, sugeriu um método de identificação de pessoas para 
o Inspetor Geral da Prisão de Bengala. No entanto, seus estudos de mais de 20 anos 
não foram considerados na época, pois eram considerados delírios de Herschel, que 
estava com a saúde debilitada (CAVALCANTI, 1995). 
Paralelamente e de forma independente, o médico escocês Henry Faulds, 
trabalhando em Tóquio, observou marcas de dedos em cerâmica japonesa pré-
histórica, o que o levou a propor um possível sistema de classificação baseado nas 
impressões digitais. Esse trabalho foi enviado a Charles Darwin para análise, mas, 
devido ao estado precário de saúde, Darwin passou o material para seu primo Francis 
Galton, um antropologista britânico. Alguns anos depois, Francis Galton, após 
examinar e sistematizar os trabalhos de Faulds e Herschel, publicou o livro 
"Fingerprints", estabelecendo os princípios de individualidade e permanência das 
impressões digitais. Os resultados permitiram o desenvolvimento de um sistema de 
classificação que deu origem ao Sistema Galton-Henry. Esse sistema foi introduzido 
na Índia em 1897 e na Inglaterra e nos Estados Unidos em 1901 (CAVALCANTI, 1995). 
Na Argentina, Juan Vucetich elaborou seu próprio sistema de classificação de 
desenhos papilares, com base no trabalho dos ingleses, e foi prontamente utilizado 
pela Polícia Argentina a partir de 1891, com o nome "icnofalangometria" 
(CAVALCANTI, 1995). O trabalho de Vucetich possibilitou que a justiça de Necochea, 
província de La Plata, condenasse Teresa Rojas pelo homicídio brutal de seus dois 
filhos ao identificar as impressões digitais dos dedos dela, que estavam cobertas de 
sangue, na arma (RABELLO, 1996). 
Quanto à Balística Forense, de acordo com Dorea, Stumvoll e Quintela (2006), os 
estudos iniciaram com Boucher em 1753, na França. Em 1835, na Inglaterra, Henry 
Goddard notou um defeito em um projétil retirado do cadáver de uma vítima. Ao 
investigar a casa de um dos suspeitos, ele encontrou um molde para projéteis que 
produzia um defeito semelhante aos padrões nele moldados. Esse achado levou à 
condenação do assassino, tornando Goddard o precursor da Balística Forense. 
Somente na década de 1910, Calvin Goddard publicou seu trabalho sobre 
comparação de armas de fogo (GIALAMAS, 2000). No entanto, foi Alexandre 
Criminalística | 
Introdução 
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Lacassangne (1844-1921) quem primeiro percebeu a importância do estriamento 
deixado nos projéteis após os disparos. Esse perito relacionou os estriamentos com o 
cano raiado de uma arma de fogo (CARVALHO, 2006). Somente após a criação do 
microscópio de comparação, na década de 1920, a Balística Forense ganhou 
notoriedade e passou a ser aceita irrestritamente nos tribunais (CARVALHO, 2006). 
Segundo Carvalho (2006), a Criminalística, como a conhecemos, teve seu início 
no final do século XIX, quando Hans Gross, professor e magistrado, percebeu que os 
métodos utilizados pela polícia, baseados em tortura e castigos corporais, não eram 
mais eficazes. Ele propôs que os métodos da ciência moderna fossem utilizados para 
solucionar crimes. Com base no estudo de diversas ciências, produziu a obra 
"Handbuch fur Untersuchungsrichter als System der Kriminalistik" ou simplesmente 
"System der Kriminalistik", que pode ser traduzido como "Manual para Juízes de 
Instrução". A data da primeira edição deste trabalho não é claramente estabelecida na 
literatura: 1870, 1883 ou após 1890 (RABELLO, 1996; GIALAMAS, 2000; CARVALHO, 
2006). 
Em continuação, Edmond Locard, médico e advogado, aluno de Lacassagne e 
Bertillon, passou a estudar os indícios deixados pelos criminosos nos locais do crime. 
Em 1910, Locard criou o Laboratório de Polícia Técnica de Lyon (CARVALHO, 2006). 
Apesar de contraditório, a origem da Criminalística pode ser vislumbrada até 
mesmo na ficção dos romances policiais (DOREA, 1995). Antes de o juiz Hans Gross 
publicar seu trabalho, Edgar Allan Poe publicou "Os Crimes da Rua Morgue", "A Carta 
Roubada" e "O Mistério de Marie Roget", nos quais apresentava pela primeira vez a 
figura do detetive técnico-científico. No entanto, foi após Conan Doyle publicar em 
1887 "Um Estudo em Vermelho" com Sherlock Holmes que a história policial ganhou 
caráter sistemático e científico. No livro de 1883 do autor Mark Twain, "Life on the 
Mississippi", um assassinato era identificado pelo uso das impressões digitais. 
Quanto às instituições criminalísticas, em 1908, foi criado o "Instituto de Polícia 
Científica" na Universidade de Lausanne, na França. Essa instituição teve origem na 
anexação do laboratório do Dr. Archibald Rudolf Reiss, um dos mais eminentes peritos 
criminais da história, pela universidade. O Dr. Reiss publicou várias obras 
criminológicas, entre elas destaca-se o "Manual de Polícia Científica", que contribuiu 
significativamente para o avanço da Criminalística (ABC, 2006). 
Fora da Europa, especialmente da França, as instituições voltadas para as 
atividades criminalísticas surgiram mais tarde. Apesar de a prova material adquirir um 
novo significado à luz da ciência moderna, a criação de laboratórios policiais nos 
Criminalística | 
Introdução 
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Estados Unidos só ocorreu entre 1920 e 1930 (MONAGHAN, 1964; GIALAMAS, 2000). 
Essa ciência alcançou a academia no final da década de 1930, e o primeiro curso de 
Criminologia surgiu apenas no final da década de 1940, na Universidade da Califórnia 
em Berkeley (GIALAMAS, 2000). 
Assim, já na década de 1950, a solicitação do trabalho pericial científico tornou-
se uma rotina aceita pelas autoridades judiciais e policiais. Até mesmo o local do crime 
deixou de ser apenas um lugar parainquirir testemunhas e se tornou um laboratório 
externo na busca por provas (MONAGHAN, 1964). A íntima associação entre o perito 
de laboratório e o homem de serviço externo mostrou-se de importância inestimável 
durante as operações militares da Segunda Guerra Mundial (WALLANDER, 1964). 
No entanto, segundo Wallander (1964), embora vários órgãos policiais tenham 
crescido significativamente desde o início do século XX, o laboratório policial foi o 
último desses setores a se desenvolver. Por ser uma área recente e de rápido 
desenvolvimento, até a década de 1950, o laboratório policial ainda não havia 
assumido uma forma bem definida, apresentando uma capacidade científica bastante 
heterogênea entre cidades e estados. 
De acordo com O'Hara (1964), com exceção de algumas grandes cidades e 
capitais de estados, a investigação criminal nos Estados Unidos, nos anos 1950, não 
estava adequada às necessidades mais básicas. Isso se devia principalmente à 
incapacidade dos serviços policiais de atrair pessoas competentes e à falta de 
literatura sistematizada, que era fortemente influenciada pela literatura médico-legal 
relacionada a crimes contra a vida. Assim, as técnicas utilizadas nos exames da prova 
material não apresentavam novidades, e o número de laboratórios policiais não 
apresentava um crescimento significativo. 
No Brasil, a origem da Criminalística também está relacionada à Medicina Legal, 
que teve uma forte influência da escola francesa (GOMES, 1944). De acordo com 
Fávero (1975), durante o período colonial, houve poucos trabalhos científicos de 
Medicina Legal. O primeiro trabalho nacional de Medicina Legal foi publicado em 1814 
por Gonçalves Gomide, médico e senador do Império, intitulado "Impugnação 
analítica ao exame feito pelos clínicos Antônio Pedro de Sousa e Manuel Quintão da 
Silva". 
A partir de 1832, as Faculdades de Medicina foram criadas, exigindo teses como 
requisito para obtenção do grau de doutor. Isso resultou em um aumento significativo 
dos trabalhos na área de medicina no Brasil, e em 1839 surgiram as primeiras teses de 
Medicina Legal. No entanto, segundo Fávero (1975), de 1839 a 1877, não houve 
Criminalística | 
Introdução 
www.cenes.com.br | 9 
nenhum trabalho realmente original, com exceção da Toxicologia, que teve trabalhos 
inovadores, principalmente de Francisco Ferreira de Abreu, o Barão de Teresópolis. 
A partir de 1877, a Medicina Legal brasileira entrou em uma nova fase com a 
entrada de Agostinho José de Sousa Lima na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. 
Entre suas várias contribuições, destacam-se a criação do ensino prático de Medicina 
Legal, o desenvolvimento da parte de laboratório, a inauguração do primeiro curso 
prático de tanatologia forense no necrotério da Polícia da Capital Federal em 1881, e 
uma ampla produção em revistas científicas da época (FÁVERO, 1975). 
Posteriormente, com Raimundo Nina Rodrigues, ocorreu uma grande evolução 
científica e a nacionalização da Medicina Legal. Nina Rodrigues considerava que os 
problemas médico-legais e de criminologia no Brasil diferiam dos europeus, devido 
às diferentes condições físicas, psíquicas e sociais do país. Diversos discípulos surgiram 
da escola baiana de Nina Rodrigues, destacando-se Afrânio Peixoto, Oscar Freire, 
Leonídio Ribeiro e Flamínio Fávero (GOMES, 1987). 
Durante esse período, a Medicina Legal das academias estava estreitamente 
ligada ao serviço médico-legal do Estado realizado pelos Peritos oficiais. Por exemplo, 
Oscar Freire conseguiu estabelecer um acordo entre a Faculdade de Medicina e o 
Governo do Estado da Bahia em 1913. Em 1914, ele fundou a Polícia Científica em 
Salvador ao trazer o Perito Criminal Reiss, da Suíça, para dar palestras na cidade 
(GALVÃO, 1996). Em seguida, Freire foi para São Paulo, onde iniciou a pesquisa 
Médico-Legal no estado, contribuindo para o estabelecimento do Instituto de 
Medicina Legal da Faculdade de Medicina (atual Instituto Oscar Freire) a partir de 
1922. 
No Rio de Janeiro, a Medicina Legal oficial foi transferida da autoridade judiciária 
para a Polícia em 1856, e foi criada uma assessoria médica junto à Secretaria de Polícia 
da Corte. Essa assessoria era composta por dois médicos efetivos ligados à Polícia e 
dois consultores, professores universitários de Medicina Legal, responsáveis 
principalmente pelos exames toxicológicos (ALDÉ, 2003). Em 1900, a assessoria 
médica foi transformada em Gabinete Médico-Legal, e dois anos depois, Afrânio 
Peixoto apresentou um plano de reformulação do Gabinete Médico-Legal da Polícia 
para implementar as práticas mais avançadas de Medicina Legal utilizadas na 
Alemanha. Posteriormente, o Gabinete foi transformado em Serviço Médico-Legal por 
decreto de 1907. 
No início do século XX, as funções do Perito Legista e do Perito Criminal se 
confundiam. Por exemplo, Gomes (1944) dava instruções sobre o exame do local para 
Criminalística | 
Introdução 
www.cenes.com.br | 10 
legistas, incluindo a coleta de vestígios como manchas, objetos, pegadas e impressões 
digitais, além de fotografias e custódia de evidências. Os primeiros estudos de 
vestígios de disparos de armas de fogo foram realizados no Brasil por Peritos Legistas, 
como Oscar Freire, Moisés Marx e Gastão Fleury da Silveira, sob orientação de Flamínio 
Fávero (FERREIRA, 1962). 
No entanto, a Criminalística e a Medicina Legal no Brasil enfrentaram desafios ao 
longo do tempo. Após o golpe militar de 1964, houve uma crescente deterioração das 
condições de trabalho, desvalorização salarial e falta de investimento em pesquisa e 
tecnologia. Isso resultou na estagnação das atividades periciais em relação ao avanço 
científico produzido pelas universidades. Atualmente, a Criminalística brasileira 
aguarda por profundas alterações em suas estruturas para alcançar a excelência 
científica necessária para a justiça (MISSE et al., 2005; ABC, 2006). 
É evidente a carência de materiais e equipamentos, o atraso tecnológico e 
teórico, e a falta de valorização profissional, o que faz com que os institutos periciais 
estejam estagnados há cerca de 40 anos (MISSE et al., 2005). Há um movimento em 
direção à autonomia administrativa, orçamentária e técnico-científica dos órgãos 
periciais, com o objetivo de melhorar a Criminalística no Brasil (MISSE et al., 2005; ABC, 
2006). São necessárias mudanças profundas nas estruturas e investimentos para que 
a Criminalística brasileira possa alcançar a excelência científica indispensável para a 
busca da justiça. 
 
Tipos de Criminalística 
No âmbito da criminalística podemos dividi-la em Perícias Externas, Perícias 
Internas e Perícias de Laboratório. Nas Perícias externas o Perito Criminal se desloca 
até o local do crime para realizar o exame de corpo de delito, a fim de realizar todos 
os levantamentos periciais necessários para o esclarecimento do fato, materialização 
do crime e coleta de vestígios que possam contribuir para elucidação do ocorrido. Nas 
Perícias Internas, temos as áreas da criminalística que irão analisar vestígios 
encaminhados pelos Peritos Criminais ou autoridades policias/judiciárias com o 
objetivo de comprovar a infração penal e, quando possível, auxiliar na identificação da 
autoria. Nas Perícias de Laboratório, os Peritos Criminais analisam tanto vestígios 
extrínsecos, encontrados nas cenas de crime, como vestígios intrínsecos coletados do 
corpo das vítimas ou suspeitos (MARINHO, 2019). 
Criminalística | 
Introdução 
www.cenes.com.br | 11 
A criminalística pode ser diferenciada entre diversos ramos, sendo uma das mais 
importantes à criminalística de campo. Esta é a responsável de realizar a pesquisa 
dentro do seu próprio campo. Os criminalistas de campo devem investigar o local do 
crime ou então o lugar onde se encontram os indícios relacionados ao mesmo. Trata-
se, portanto, de uma intervenção ao pé da letra para conhecer detalhadamente tudo 
o que se passou.A criminalística de campo é aquela que possibilita a maior fonte de informações 
e que se pode obter a partir dos indícios encontrados. No entanto, curiosamente, não 
há um procedimento padrão para recolher dados do local. Existem diversos métodos 
que os criminalistas usam dependendo das características do local e de cada caso, por 
exemplo, a proteção dos fatos, a coleta de indícios ou a fixação do local. 
Entre seus diversos objetivos, este ramo da criminalística é responsável por 
preservar o local dos fatos de forma adequada, realizar uma observação minuciosa do 
espaço e fornecer ao laboratório as evidências encontradas para um estudo mais 
detalhado do caso. 
Existe outro grande ramo da ciência criminalística que realiza seu trabalho dentro 
das paredes de um laboratório. É a criminalística de laboratório que usa instrumentos 
científicos para o estudo dos indícios, seja para sua quantificação como para sua 
identificação. 
Opera na parte final da investigação e permite passar das previsões para as 
precisões, confirmando a natureza dos indícios, estabelecendo a forma exata dos fatos 
e as consequências físicas do seu desenvolvimento. Esta parte do processo é chave 
para delimitar a inocência ou a culpa do sujeito envolvido e assim tirar as devidas 
conclusões. 
A nomenclatura de cada laboratório pode variar de acordo com o estado, porém 
o escopo deles geralmente guarda semelhanças. Embora todos os Peritos Criminais 
possam atuar no âmbito dos laboratórios, na prática são selecionados aqueles com 
formação acadêmica compatível com as atividades a serem desenvolvidas. 
Entre os laboratórios responsáveis por analisar estes vestígios podemos citar os 
setores de química, genética, papiloscopia, balística, toxicologia e entomologia nos 
Institutos de Criminalística e os setores de patologia, antropologia e odontologia na 
Medicina Legal. Neste contexto, os laboratórios possuem equipamentos sofisticados, 
de alto custo e manutenção para processarem os diferentes tipos de vestígios, visando 
o adequado exame e um resultado laboratorial que auxilie de forma categórica a 
Criminalística | 
Introdução 
www.cenes.com.br | 12 
Polícia e o Judiciário a comprovar a infração penal e identificar vítimas e autores 
relacionados ao crime. (MARINHO, 2019). 
O principal objetivo da Criminalística é buscar a verdade real dos fatos através da 
prova técnico científica, estabelecendo vínculos entre pessoas, circunstâncias e o fato 
delituoso. Atua na área jurídica, na segurança publica e privada: 
• Estabelecendo a materialidade da infração penal; 
• Estabelecendo nexo causal entre conduta e resultado; 
• Fornecendo elementos à justiça para iniciar a ação penal ou 
determinar o arquivamento do inquérito policial. 
A Criminalística busca, identifica e interpreta os indícios materiais encontrados 
em locais de crime, tendo seu papel executado pelo Perito Criminal, que materializa 
seu trabalho através de uma peça técnica denominada laudo pericial. 
Ela busca a verdade através da prova técnico-científica, estabelecendo vínculos 
entre pessoas, circunstâncias e o fato delituoso. 
Também constata e descreve o local físico, geográfico no qual ocorreu o fato 
criminoso; classificando e analisando os elementos materiais sensíveis encontrados e 
coletados do local de crime. 
Por fim, principais áreas de atuação da Criminalística são: 
• Identificação Criminal; 
• Crimes contra a vida; 
• Crimes contra o patrimônio; 
• Informática Forense; 
• Químicos Forenses; 
• Biologia e bioquímica Forense; 
• DNA Forense; 
• Balística Forense; 
 
Os Princípios da Ciência Criminalística 
A Criminalística, como disciplina científica, fundamentou-se em princípios que 
moldaram sua evolução ao longo do tempo. Esses princípios científicos estabelecem 
as bases para a investigação e análise dos vestígios materiais em contextos criminais. 
Um dos princípios fundamentais é o Princípio do Uso, que afirma que os fatos 
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Introdução 
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apurados pela Criminalística são resultantes da ação de agentes físicos, químicos ou 
biológicos. Esses agentes agem produzindo vestígios que podem ter diferentes 
naturezas, morfologias e estruturas, conforme o Princípio da Produção. Além disso, o 
Princípio do Intercâmbio destaca que, quando objetos ou materiais interagem, ocorre 
uma permuta de características, mesmo que microscópicas. 
A correspondência de características entre vestígios e ação dos agentes é 
abordada pelo Princípio da Correspondência de Características. Isso significa que a 
ação de agentes mecânicos reproduz morfologias características, relacionadas às suas 
naturezas e modos de atuação. A aplicação de leis, teorias científicas e conhecimentos 
tecnológicos sobre vestígios remanescentes de uma ocorrência é essencial para 
estabelecer os nexos causais, culminando na reconstrução do evento, princípio 
conhecido como Princípio da Reconstrução. 
Os princípios técnicos e científicos que embasam os fatos criminalísticos são 
inalteráveis e suficientemente comprovados, atestando a certeza das conclusões 
periciais, conforme o Princípio da Certeza. Da mesma forma, o Princípio da 
Probabilidade destaca que, nos estudos da prova pericial, prevalece a descoberta de 
características comuns entre o conhecido e o desconhecido, indicando uma origem 
comum desses elementos, o que impossibilita ocorrências independentes. 
Além dos princípios científicos, há também os princípios fundamentais da Perícia 
Criminalística, que se referem à observação, análise, interpretação, descrição e 
documentação da prova. O Princípio da Observação destaca que todo contato deixa 
uma marca, como afirmava Edmond Locard. Já o Princípio da Análise estabelece que 
a análise pericial deve seguir sempre o método científico. Por sua vez, o Princípio da 
Interpretação ressalta que dois objetos podem ser indistinguíveis, mas nunca 
idênticos. 
A descrição dos resultados de um exame pericial deve ser constante ao longo do 
tempo e apresentada em linguagem ética e juridicamente precisa, segundo o Princípio 
da Descrição. Por fim, o Princípio da Documentação destaca a importância de 
documentar todas as amostras desde o momento em que são coletadas na cena do 
crime até a análise e descrição final, garantindo um histórico completo e fiel de sua 
origem. Esse princípio está intimamente ligado à Cadeia de Custódia, visando a 
proteção da integridade da prova material e evitando a inclusão de provas forjadas. 
Esses princípios, juntamente com os postulados da Criminalística, como a 
invariância do conteúdo de um laudo pericial em relação ao perito que o produziu, a 
independência das conclusões da perícia em relação aos meios utilizados para 
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alcançá-las e a independência da perícia em relação ao tempo, são fundamentais para 
assegurar a solidez e a confiabilidade da ciência criminalística. 
 
2 Local do Crime e a Preservação das Evidências 
A cadeia de custódia desempenha um papel crucial no processo de investigação 
criminal, garantindo a autenticidade, integridade e rastreabilidade das evidências 
coletadas. Trata-se de um conjunto de procedimentos que abrange desde a 
preservação do local do crime até o descarte dos vestígios, passando pela coleta, 
transporte, armazenamento e processamento dos materiais em questão (Art. 158-A, 
CPP). 
A implementação adequada da cadeia de custódia enfrenta diversos desafios, 
como a necessidade de preservação e isolamento adequados do local do crime, o 
cumprimento rigoroso dos procedimentos estabelecidos, a disponibilidade de centros 
de custódia adequados e a conscientização dos profissionais envolvidos sobre a 
importância dessas práticas (SCRAMIN apud BORRI). Falhas nessa cadeia podem 
comprometer a validade das provas periciais, colocando em risco a investigação 
criminal (Negrini Neto). 
Vestígiossão elementos materiais relacionados ao crime ou ao criminoso que 
podem auxiliar na resolução do caso e na determinação da autoria. Após a análise dos 
peritos, aqueles que se mostram relevantes para a investigação se tornam evidências 
ou indícios (Zarzuela, 1999). A coleta dessas evidências deve seguir princípios e 
procedimentos estabelecidos, incluindo anotações e descrições detalhadas, além da 
identificação do local de coleta (Art. 158, CPP). 
A documentação minuciosa na cena do crime é o ponto de partida para a cadeia 
de custódia, e deve ser preservada para comprovar cada etapa do processo, desde o 
local do crime até o tribunal. Essa documentação pode incluir anotações, fotografias, 
vídeos, medições, entre outros registros (Negrini Neto). A cadeia de custódia é uma 
forma de assegurar a conformidade com o devido processo legal, o contraditório, a 
ampla defesa e a inadmissibilidade das provas obtidas de maneira ilícita, garantindo 
a validade e a confiabilidade da prova pericial (BORRI apud SCRAMIN). 
A prova pericial, também conhecida como prova material, é realizada pela perícia 
oficial de natureza criminal e é obrigatória nos casos em que há vestígios passíveis de 
constatação e registro. O exame de corpo de delito é indispensável sempre que a 
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infração deixar vestígios, e sua não produção pode acarretar nulidade no processo 
(Art. 159, CPP; Art. 564, III, b, CPP). 
A cadeia de custódia inicia-se no local do crime ou incidente, exigindo cuidado 
no manuseio dos objetos para que as evidências coletadas não percam seu valor 
probatório. O artigo 158-B descreve as etapas da cadeia de custódia, incluindo o 
reconhecimento dos elementos relevantes, isolamento do ambiente, fixação, coleta, 
acondicionamento, transporte, recebimento, processamento, armazenamento e 
descarte dos vestígios (Art. 158-B, CPP). 
A coleta dos vestígios deve ser preferencialmente realizada por perito oficial, 
mesmo quando são necessários exames complementares. O órgão central de perícia 
oficial é responsável por estabelecer os procedimentos para o cumprimento 
adequado da cadeia de custódia (Art. 158-C, CPP). 
Para garantir a inviolabilidade e a idoneidade dos vestígios durante o transporte, 
é necessário utilizar recipientes adequados, selados com lacres numerados 
individualmente. A abertura desses recipientes deve ser realizada apenas pelo perito 
responsável ou por pessoa autorizada, e cada rompimento de lacre deve ser 
registrado. Os lacres rompidos devem ser acondicionados no interior de um novo 
recipiente (Art. 158-D, CPP). 
No contexto da cadeia de custódia, o transporte adequado dos vestígios é de 
extrema importância para garantir a preservação de sua integridade e a manutenção 
de sua idoneidade como evidência no processo criminal. Para atender a esses 
requisitos, é necessário o uso de recipientes apropriados e a aplicação de medidas de 
segurança. 
Os recipientes utilizados no transporte dos vestígios devem ser selecionados 
levando em consideração a natureza dos materiais envolvidos. Eles devem oferecer 
proteção contra danos físicos, contaminação, vazamento e qualquer outra forma de 
deterioração ou alteração que possa comprometer a integridade da evidência. Além 
disso, os recipientes devem ser de resistência adequada para suportar condições de 
transporte e armazenamento. 
Um aspecto fundamental na garantia da inviolabilidade dos vestígios durante o 
transporte é o uso de lacres numerados individualmente. Esses lacres são aplicados 
nos recipientes de forma a selá-los de maneira segura e impedir qualquer acesso não 
autorizado ao seu conteúdo. Cada lacre possui um número único de identificação, o 
que permite rastrear e registrar qualquer violação ou rompimento. 
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A abertura dos recipientes lacrados deve ser restrita ao perito responsável pela 
análise dos vestígios ou a pessoas devidamente autorizadas e designadas para esse 
fim. Essa restrição garante a manutenção da cadeia de custódia e evita qualquer 
manipulação indevida das evidências. É essencial que cada rompimento de lacre seja 
registrado de forma precisa e documentado em um registro apropriado, como a ficha 
de acompanhamento do vestígio. 
Os lacres rompidos devem ser cuidadosamente acondicionados no interior de 
um novo recipiente, garantindo a preservação da evidência e evitando qualquer perda 
ou contaminação. Esse procedimento visa manter a integridade do material original e 
garantir que os lacres violados estejam vinculados à evidência correspondente. 
A aplicação rigorosa dessas medidas, de acordo com o artigo 158-D do Código 
de Processo Penal, contribui para a manutenção da cadeia de custódia dos vestígios, 
assegurando que não haja violação, adulteração ou contaminação dos materiais 
durante o transporte. Isso proporciona maior confiabilidade e segurança às evidências 
coletadas, bem como fortalece sua validade e aceitação no processo judicial. 
Os artigos 158-A até 158-F do Código de Processo Penal, introduzidos pelo 
Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019), estabelecem diretrizes claras para a cadeia de 
custódia, visando à preservação, integridade e rastreabilidade das evidências, bem 
como à transparência e confiabilidade da prova pericial. O cumprimento adequado 
desses procedimentos é essencial para a admissibilidade das evidências em juízo e 
para garantir um processo justo e equitativo. 
A cadeia de custódia é fundamental para assegurar a validade das provas periciais 
e garantir a integridade do processo de investigação criminal. A ausência de uma 
cadeia de custódia documentada, que inclua a documentação, identificação, 
catalogação e o registro do manuseio das evidências, pode levar ao questionamento 
de sua integridade e confiabilidade perante o juiz, tornando-as passíveis de nulidade. 
Portanto, é imprescindível que se sigam os procedimentos descritos no Código de 
Processo Penal para garantir uma cadeia de custódia adequada e, assim, preservar a 
admissibilidade das evidências no processo judicial. 
Nesse diapasão, a notitia criminis é um termo utilizado no âmbito do Direito 
Penal para se referir à notícia ou informação de um crime. Ela desempenha um papel 
crucial no processo de investigação criminal, uma vez que é a partir dela que as 
autoridades policiais têm conhecimento da ocorrência de um delito e podem tomar 
as providências necessárias para apurar os fatos e buscar a responsabilização dos 
autores. 
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Quando uma notitia criminis chega ao conhecimento das autoridades policiais, 
seja por meio de uma denúncia formal, uma comunicação espontânea ou até mesmo 
uma abordagem policial, inicia-se o processo de apuração dos fatos. Nesse momento, 
é fundamental que a notícia do crime seja analisada criteriosamente para que se possa 
avaliar sua veracidade, a gravidade do delito e a necessidade de intervenção imediata. 
A chegada dos policiais ao local do crime é um momento crucial na investigação, 
pois é nesse momento que se inicia a coleta de informações, evidências e 
depoimentos que serão essenciais para o esclarecimento dos fatos. Essa primeira 
resposta policial ao local do crime é conhecida como "primeira resposta" ou "primeiro 
atendimento" e tem como objetivo principal garantir a preservação do local e a 
segurança dos envolvidos. 
A preservação do local do crime é de extrema importância, pois é nele que se 
encontram vestígios, evidências e informações que podem ser cruciais para a 
investigação. Os policiais devem isolar a área, impedir a entrada de pessoas não 
autorizadas e adotar medidas para evitar a contaminação ou destruição dos vestígios. 
A preservação do local é essencial para garantir a integridade das provas e possibilitarsua análise posterior pelos peritos criminais. 
Além da preservação do local, os policiais também devem realizar uma série de 
procedimentos no momento da chegada ao local do crime. Entre eles, destacam-se a 
identificação das partes envolvidas, a realização de entrevistas e o registro de 
informações relevantes. A coleta de depoimentos das testemunhas e envolvidos é uma 
etapa fundamental, pois são essas informações que irão auxiliar na reconstrução dos 
eventos e na identificação dos possíveis autores do crime. 
A chegada dos policiais ao local do crime também envolve a avaliação das 
condições de segurança e a adoção de medidas para garantir a integridade física de 
todos os envolvidos. Em alguns casos, especialmente quando há risco iminente de 
violência, é necessário acionar reforços ou equipes especializadas, como a tropa de 
choque ou a equipe de negociação, para lidar com a situação de forma adequada. 
É importante ressaltar que a atuação dos policiais no local do crime deve pautar-
se pelos princípios da legalidade, imparcialidade, proporcionalidade e respeito aos 
direitos fundamentais. Eles devem agir dentro dos limites legais, seguindo os 
protocolos e diretrizes estabelecidos, a fim de garantir uma investigação justa e 
eficiente. 
Nesse contexto, a chegada dos policiais ao local do crime marca o início de uma 
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série de procedimentos investigativos que têm como objetivo principal a elucidação 
dos fatos e a busca pela verdade processual. A atuação diligente e profissional dos 
policiais nesse momento inicial é fundamental para o sucesso da investigação e para 
a garantia da segurança e da justiça no sistema de justiça criminal. 
Em suma, a notitia criminis e a chegada dos policiais ao local do crime são etapas 
fundamentais no processo de investigação criminal. A análise cuidadosa da notícia do 
crime e a resposta adequada dos policiais no local do fato são essenciais para a coleta 
de informações e evidências que permitirão a apuração dos fatos e a 
responsabilização dos envolvidos. O trabalho diligente e respeitoso dos policiais nessa 
fase inicial da investigação é essencial para garantir a integridade das provas e a busca 
pela verdade no sistema de justiça criminal. 
Durante a chegada dos policiais ao local do crime, um dos principais objetivos é 
identificar, preservar e coletar vestígios que possam fornecer evidências e informações 
relevantes para a investigação. Os vestígios são elementos deixados no local do crime 
que podem fornecer indícios sobre a autoria, a dinâmica dos eventos e outras 
circunstâncias relacionadas ao delito. 
Os exames periciais em locais de crimes têm nos vestígios sua matéria-prima 
essencial. Os vestígios são fontes de informações das quais os peritos extraem dados 
cruciais para a investigação, utilizando metodologia científica em suas interpretações. 
Ao longo do tempo, vários autores se manifestaram sobre a definição de vestígios, 
inicialmente associando-os à natureza material desses elementos. 
Para Anuschat (1933), vestígios são tudo que pode ser percebido como matéria, 
corpo, objeto, etc., com conexão ao crime ou ao criminoso, e que contribui para a 
elucidação do crime e determinação da autoria. Zbinden (1957) afirma que vestígios 
são as modificações físicas ou psíquicas causadas por ação ou omissão humana, que 
permitem inferir o evento que os causou, ou seja, o ato criminoso. 
De acordo com os dicionários da língua portuguesa, "vestígio" significa um sinal 
deixado por um ser humano ou animal ao passar por um lugar, como uma pegada ou 
rastro, além de indicar indício ou pista. Por sua vez, "material" refere-se a algo que 
pertence ou se refere à matéria. 
No entanto, a junção desses termos, conforme defende Mallmith (2007), deveria 
proporcionar uma compreensão precisa do sentido de "vestígio material" com a 
adição dos significados individuais. Contudo, no âmbito técnico-científico, a dimensão 
de "vestígio material" extrapola significativamente a mera combinação dessas 
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palavras, referindo-se a qualquer corpo, objeto, marca ou sinal que envolve uma 
sequência de procedimentos para sua produção ou disposição em uma determinada 
configuração ou estado. 
Costa Filho (2010) amplia essa definição, afirmando que vestígios são alterações 
materiais no ambiente ou na pessoa que têm ou podem ter relação com o delito ou a 
autoria, contribuindo para sua elucidação ou identificação. 
É importante ressaltar que os vestígios estão presentes na maioria dos locais de 
crime, representando qualquer marca, objeto ou sinal relevante para a investigação 
do fato. É fundamental diferenciar os conceitos de corpo de delito e vestígio: no caso 
de um homicídio, por exemplo, o cadáver é considerado corpo de delito, enquanto 
marcas no chão ou objetos nas proximidades são preliminarmente tratados como 
vestígios. Essa distinção é relevante para hierarquizar a importância dos elementos 
investigados. 
Dessa forma, os vestígios são classificados como verdadeiros, ilusórios ou 
forjados. Os verdadeiros são aqueles diretamente relacionados às ações dos 
envolvidos no crime, enquanto os ilusórios não possuem relação com essas ações, 
apesar de serem encontrados no local do crime. Já os forjados são produzidos 
intencionalmente com o objetivo de alterar a configuração original dos vestígios. 
Os vestígios podem ser classificados de acordo com sua relação com o fato 
(verdadeiros ou ilusórios), sua relação com o autor (absolutos ou relativos), sua 
percepção (latentes ou ostensivos), sua origem (humanos ou não humanos), sua 
duração (transitórios ou permanentes) e sua dimensão (macrovestígios ou 
microvestígios). 
No contexto forense, os vestígios biológicos são aqueles derivados de 
organismos vivos e podem conter DNA, fornecendo informações valiosas para a 
identificação do autor, enquanto os vestígios entomológicos envolvem o estudo dos 
insetos e outros artrópodes associados a questões criminais, auxiliando na 
determinação do intervalo pós-morte. 
Outros tipos de vestígios incluem os morfológicos, como impressões digitais e 
marcas de ferramentas; os químicos, presentes em locais relacionados à adulteração 
de combustíveis ou produção de drogas; e os físicos, que podem ser suportes de 
vestígios biológicos ou objetos utilizados no crime. Além disso, existem os 
microvestígios, pequenos elementos preservados nos locais de crime que podem se 
tornar indícios criminais, como pólen, cabelos, fibras e minerais. 
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Em suma, os vestígios desempenham um papel crucial nos exames periciais em 
locais de crimes, fornecendo informações valiosas para a investigação. Sua correta 
identificação, preservação e análise são fundamentais para a busca da verdade 
processual e a elucidação dos fatos. 
Na prática forense, os vestígios encontrados em um local de crime podem evoluir 
em termos de sua relevância e valor probatório ao longo do processo investigativo e 
judicial. Entretanto, é importante destacar que essa evolução não ocorre de forma 
automática ou linear, e sim com base na análise criteriosa e avaliação conjunta de 
todas as evidências e elementos probatórios disponíveis. 
Um vestígio, por si só, é uma informação objetiva ou material encontrada no local 
de crime. Esse vestígio pode se tornar um indício quando há uma circunstância 
conhecida e provada que, mediante raciocínio lógico, permite concluir a existência de 
outras circunstâncias relacionadas ao fato. O indício é uma inferência ou um sinal que 
pode apontar para a ocorrência do crime ou a participação de determinada pessoa. 
No âmbito do direito processual penal, a noção de indício é essencial para a 
formação da convicção judicial e a buscapela verdade dos fatos. O artigo 239 do 
Código de Processo Penal estabelece que um indício é uma circunstância conhecida 
e provada, que, por meio da indução, permite concluir a existência de outras 
circunstâncias relacionadas ao fato em questão. Essa definição é respaldada por 
autores como Capez (2016), que conceituam indício como uma circunstância 
conhecida e provada que, por meio de raciocínio lógico e método indutivo, leva à 
conclusão sobre um outro fato, partindo do particular para chegar ao geral. Portanto, 
os indícios são sinais demonstrativos do crime, evidenciando sua ocorrência. 
Posteriormente, com base na análise mais aprofundada dos indícios e sua relação 
com os demais elementos de prova, alguns indícios podem se transformar em 
evidências. As evidências são informações que, após análises e exames periciais, 
estabelecem uma relação clara e manifesta com o crime em estudo. Elas corroboram 
a existência do fato delituoso e são consideradas verdadeiras, claras e incontestáveis. 
Embora o Código de Processo Penal não aborde o conceito de evidência, alguns 
estudiosos consideram que as evidências correspondem aos vestígios que, após 
análises e exames periciais, permitem estabelecer uma relação com o crime em 
estudo. Melo (2017) define evidência como uma verdade clara e manifesta por si 
mesma, que não pode ser negada, refutada ou contestada, sendo algo visível e 
verificável por todos. Dessa forma, enquanto os vestígios representam a informação 
objetiva ou material encontrada em um local de crime, o indício é a circunstância 
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Análise de Evidências Biológicas 
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conhecida e provada relacionada ao fato, permitindo inferir a existência de outras 
circunstâncias. 
No entanto, é importante ressaltar que a evolução de um vestígio para indício, 
evidência e, por fim, prova no tribunal não é um processo automático. A análise e 
avaliação das evidências é de responsabilidade do sistema judicial, e é por meio desse 
processo que se determina o valor probatório de cada elemento apresentado. É 
necessário que as evidências sejam examinadas em conjunto, considerando sua 
consistência, coerência e a solidez dos argumentos que as sustentam. 
É importante destacar que, embora relacionados, esses conceitos apresentam 
diferenças e podem gerar interpretações equivocadas. Enquanto os vestígios 
englobam elementos objetivos de prova, as evidências restringem-se a informações 
que comprovam de maneira clara a ocorrência do fato delituoso. Já os indícios 
abarcam tanto elementos objetivos quanto subjetivos de prova, permitindo 
inferências e conclusões por meio do raciocínio lógico. 
No tribunal, cabe aos juízes, com base nas regras de avaliação da prova, decidir 
qual é o peso probatório de cada elemento apresentado, incluindo os vestígios, 
indícios e evidências. A prova, por sua vez, é o conjunto de elementos que, avaliados 
em conjunto, levam à formação da convicção judicial sobre a existência ou não do 
crime e a responsabilidade do acusado. 
Portanto, a transformação de um vestígio em indício, evidência e prova no 
tribunal depende da admissibilidade legal, relevância probatória e persuasão exercida 
pelas partes durante o processo judicial. É um processo complexo que envolve a 
análise crítica das evidências, garantindo assim a justa aplicação da lei e a busca pela 
verdade dos fatos. 
 
3 Análise de Evidências Biológicas 
A análise de evidências biológicas desempenha um papel fundamental no campo 
da investigação forense, permitindo a obtenção de informações valiosas para a 
identificação de suspeitos e a elucidação de crimes. Por meio do exame de vestígios 
biológicos deixados em locais de crime, como sangue, saliva, cabelo, tecidos e fluidos 
corporais, os peritos forenses são capazes de extrair dados cruciais que podem 
contribuir significativamente para a reconstrução dos eventos e a busca pela verdade 
processual. A análise de evidências biológicas envolve a utilização de métodos 
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Análise de Evidências Biológicas 
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científicos sofisticados, como o DNA forense, que permite a identificação individual 
com um alto grau de precisão. Nesta era moderna da investigação criminal, a análise 
de evidências biológicas desempenha um papel cada vez mais importante na busca 
pela justiça, fornecendo informações confiáveis e objetivas que auxiliam na tomada 
de decisões judiciais. 
Nesta introdução, exploraremos os principais aspectos da análise de evidências 
biológicas, incluindo suas técnicas, aplicações e desafios enfrentados pelos 
profissionais forenses. 
 
3.1 Datiloscopia 
Há várias evidências de que o interesse humano pelas impressões digitais 
remonta à pré-história. Em um penhasco na Nova Escócia, há um desenho que mostra 
uma mão com uma impressão digital em espiral, presumivelmente feito por nativos 
pré-históricos. Existem registros de placas de cerâmica antigas encontradas em uma 
cidade soterrada no Turquestão, com a seguinte inscrição: "Ambas as partes 
concordam com estes termos que são justos e claros e fornecem as impressões 
digitais, que são marcas inconfundíveis". 
Na China do século VII, nos casos de divórcio, era exigido que o marido 
fornecesse um documento à esposa, autenticado com suas impressões digitais. No 
século IX, na Índia, os analfabetos tinham seus documentos legalizados por meio de 
suas impressões digitais. Apesar do uso difundido das impressões digitais como 
ferramenta de identificação, ainda não havia uma aplicação científica para sua 
utilização na identificação humana. 
Em 1686, Marcello Malpighi, professor de anatomia na Universidade de Bolonha, 
na Itália, usando um microscópio recém-inventado, estudou a superfície da pele e 
observou as cristas elevadas na região dos dedos. Em 1823, o checo Johannes 
Evangelista Purkinje, professor de anatomia na Universidade de Breslau, publicou sua 
tese descrevendo nove padrões de impressões digitais. Francis Galton, antropólogo 
britânico, começou seu trabalho com impressões digitais em 1880. Em 1892, publicou 
seu livro "Impressões Digitais", estabelecendo a individualidade e a perenidade das 
impressões. 
O primeiro método científico amplamente aceito para identificação foi 
desenvolvido pelo francês Alphonse Bertillon em 1879. A antropometria, também 
conhecida como Bertillonagem em homenagem a seu criador, consistia na coleta de 
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Análise de Evidências Biológicas 
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medidas físicas por meio de procedimentos prescritos. Era um sistema complexo e 
abrangente de identificação humana, que incluía além das medidas antropométricas, 
descrição física, sinais particulares, fotografias frontal e de perfil reduzidas a um sétimo 
e as impressões digitais, que foram introduzidas por Bertillon em 1894, seguindo uma 
classificação original. 
Ademais, Juan Vucetich Kovacevich, nascido em 20 de julho de 1858 na cidade 
de Dalmácia, atual Iugoslávia, naturalizou-se argentino e ingressou na polícia de La 
Plata, Buenos Aires, aos 24 anos de idade. Vucetich foi encarregado de trabalhar no 
setor de identificação de La Plata, ainda utilizando o sistema de Bertillonagem. Ele 
inventou seu próprio sistema de arquivamento e identificação por meio das 
impressões digitais, chamado de icnofalangometria. 
Em 1º de setembro de 1891, seu sistema foi implantado na Polícia de La Plata, 
onde 23 prisioneiros foram identificados. A ele também é atribuído o primeiro caso 
autêntico de identificação de um autor de crime por meio das impressões digitais, 
ocorrido em 1892, quando uma mulher chamada Francisca Rojas matou dois filhos, 
cortou a própria garganta e acusou um vizinho como sendo o criminoso. A polícia 
encontrou na porta da casa marcas de vários dedos ensanguentados. As impressões 
encontradas coincidiam exatamente com as de Francisca, que foi considerada a 
verdadeira culpada. Em 1894, o argentino FranciscoLatzina publicou um artigo no 
jornal "La Nacion", de Buenos Aires, elogiando o sistema de Vucetich, sugerindo, no 
entanto, que o nome icnofalangometria fosse substituído por dactiloscopia. 
 
A Estrutura da Pele Humana 
A pele é uma membrana que cobre a parte externa do corpo. Ela é constituída 
principalmente por duas camadas: a derme e a epiderme. A derme é a camada mais 
profunda da pele e contém as papilas, pequenos relevos com vasos sanguíneos e 
corpúsculos do tato. A epiderme é uma fina membrana transparente que cobre a 
derme. 
Outros elementos presentes na pele são as cristas papilares e os sulcos entre elas, 
conhecidos como estrias e vales, respectivamente. Também existem glândulas 
sebáceas e sudoríparas, responsáveis pela produção de gordura e suor no corpo 
humano. Vale ressaltar os poros, que são canais pelos quais o suor é eliminado e estão 
localizados acima das estrias. As papilas podem ser encontradas nas superfícies 
palmares e plantares. 
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Topografia Digital 
Os dedos são extensões da mão, dispostos em fileira, um ao lado do outro, na 
ordem convencional de polegar, indicador, médio, anular e mínimo. O número normal 
de dedos em cada mão humana é igual a 5. O polegar, em oposição aos outros dedos, 
possui apenas falange e falangeta. Os dedos têm espaçamento entre si e apresentam 
duas faces: dorsal e palmar. Na face dorsal, existem alguns pelos e, na extremidade, a 
unha. Na face palmar, encontra-se a epiderme, que forma as cristas papilares e os 
sulcos interpapilares, que constituem os desenhos digitais. O delta é um "triângulo" 
formado pelas cristas papilares e tem como principal função determinar o tipo de 
impressão digital. 
 
Datilograma 
Datilograma é o termo técnico para o desenho digital, que se divide em 3 linhas 
diretrizes: 
a) Região marginal: formada pelo conjunto de linhas do ápice e das 
laterais do datilograma até a linha imediata que acompanha a diretriz 
superior do delta. 
b) Região nuclear: formada pelo conjunto de linhas que 
circunscrevem o centro do datilograma, seguindo a diretriz superior até 
o ramo ascendente do delta. 
c) Região basilar: formada pelo conjunto de linhas existentes entre a 
prega interfalangeana e a terceira linha abaixo do ramo descendente e 
ascendente do delta. 
 
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Postulados da Datiloscopia 
Os postulados são os princípios fundamentais que servem de base para a ciência 
datiloscópica: 
• Perenidade: As impressões digitais em cada ser humano estão 
definitivamente formadas a partir do sexto mês de vida fetal e 
permanecem ao longo de toda a vida do indivíduo. 
• Imutabilidade: O desenho digital não se modifica ao longo da 
vida, exceto por alterações decorrentes de queimaduras, cicatrizes e 
doenças de pele, como a lepra. No entanto, a estrutura anatômica dos 
desenhos digitais permanece inalterada. 
• Variabilidade: Os desenhos digitais são variáveis de dedo para 
dedo e de pessoa para pessoa. Não há possibilidade de encontrar dois 
dedos com desenhos digitais idênticos, nem mesmo em uma mesma 
pessoa. 
• Classificabilidade: Embora não haja dois dedos com desenhos 
digitais idênticos, levando em consideração a existência de um número 
limitado de tipos fundamentais de impressões digitais nos quais cada 
desenho se enquadra, é possível classificar o desenho digital em um tipo 
fundamental determinado. 
 
Tipos Fundamentais de Juan Vucetich 
Juan Vucetich, com base em vários estudos na área de identificação, desenvolveu 
e implementou um sistema de identificação humana por meio de impressões digitais, 
conhecido como sistema dactiloscópico. Ele enfocou principalmente a classificação e 
o arquivamento das impressões digitais dos dez dedos das mãos. Os tipos 
fundamentais de impressões digitais, segundo a conceituação de Vucetich, são os 
seguintes: 
• Arco: Datilograma que não possui delta. As linhas que formam a 
impressão digital atravessam de um lado ao outro, assumindo uma forma 
abaulada. 
• Presilha Interna: Apresenta um delta à direita do observador, e as 
linhas da região do núcleo da impressão digital direcionam-se para a 
esquerda do observador. 
• Presilha Externa: Apresenta um delta à esquerda do observador, e 
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as linhas da região do núcleo direcionam-se para a direita do observador. 
• Vertícilo: Tipo dactiloscópico que normalmente apresenta dois 
deltas, um à esquerda e outro à direita do observador. Além disso, as 
linhas da região do núcleo da impressão digital ficam entre as linhas que 
se estendem a partir dos deltas. 
 
Para facilitar o arquivamento das impressões digitais, Vucetich atribuiu símbolos 
a cada tipo dactiloscópico. Assim, os símbolos literais A, I, E e V foram designados, 
respectivamente, para indicar o tipo fundamental das impressões dos polegares. Os 
símbolos numéricos 1, 2, 3 e 4 foram usados para designar o tipo fundamental das 
impressões dos demais dedos da mão. Na figura a seguir, estão os quatro tipos 
fundamentais, juntamente com suas nomenclaturas e símbolos atribuídos por 
Vucetich. 
 
 
Revelação química de impressão digital 
Existem várias técnicas físico-químicas para revelar impressões digitais, incluindo 
a deposição de filmes metálicos a vácuo, uso de éster de cianoacrilato, pós metálicos, 
pós formados a partir de corantes, além de técnicas a laser com emissões de argônio 
de 470 nm a 550 nm, reagentes químicos fluorogênicos como DFO (diazafluorenona) 
para reagir com proteínas, iodo que reage com gorduras não saturadas e nitrato de 
prata que reage com cloretos. 
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A Técnica do Pó 
O princípio da técnica do pó é a aderência mecânica entre as partículas do pó 
utilizado e os diversos compostos presentes na impressão digital (FIGINI, 2003). 
Quando as impressões digitais são recentes, a água é o principal composto ao qual o 
pó adere. Caso contrário, os compostos oleosos, gordurosos ou sebáceos são os mais 
relevantes. Essa aderência ocorre devido a forças de interação eletromagnética, como 
as forças de Van der Waals e as pontes de hidrogênio. Em geral, existem quatro tipos 
de pó: regular, metálico, luminescente e termoplástico. 
Os pós regulares tradicionais consistem em um polímero resinoso para aderência 
e um corante para contraste. Existem diversas formulações, como as apresentadas por 
Lee & Gaensslen (2001): 
 
 
Os pós utilizados na técnica de revelação de impressões digitais podem ser 
classificados em quatro tipos principais: pó regular, pó metálico, pó luminescente e 
pó termoplástico. Cada tipo de pó possui características específicas que permitem sua 
aplicação em diferentes situações e condições. 
• Pó Regular: O pó regular é o tipo mais comumente utilizado na 
revelação de impressões digitais. Consiste em um polímero resinoso, 
como a resina de zinco ou resina de estireno, misturado com um corante 
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contrastante, geralmente preto ou cinza. O pó regular adere a resíduos 
de umidade presentes nas cristas papilares, permitindo que as linhas e 
detalhes das impressões digitais se tornem visíveis. É amplamente 
utilizado em superfícies como papel, papelão, madeira e plástico. 
• Pó Metálico: O pó metálico é composto por partículas finas de 
metal, como pó de alumínio, bronze ou chumbo. Esse tipo de pó é 
particularmente eficaz na revelação de impressões digitais em superfícies 
não porosas, como vidro, metal ou plástico liso. As partículas metálicas 
aderem às gorduras e oleosidades presentes nas cristas papilares, 
produzindo um contraste visual que revela as impressões digitais. 
• Pó Luminescente: O pó luminescente é um tipo especial de pó que 
brilhasob iluminação ultravioleta. Geralmente, esses pós contêm 
fosforescentes ou agentes químicos que emitem luz visível quando 
expostos à radiação UV. Esse tipo de pó é útil em situações em que a 
revelação de impressões digitais deve ser feita em ambientes escuros ou 
com pouca iluminação. A luz emitida pelo pó luminescente destaca as 
cristas papilares, tornando-as claramente visíveis. 
• Pó Termoplástico: O pó termoplástico é composto por partículas 
de plástico que são ativadas pelo calor. Esse tipo de pó é aplicado em 
superfícies com a ajuda de um soprador térmico ou outra fonte de calor. 
Quando o pó é aquecido, as partículas aderem às cristas papilares, 
formando uma impressão visível. O pó termoplástico é especialmente útil 
em superfícies porosas, como papel, onde outros tipos de pó podem não 
ser eficazes. 
 
Cada tipo de pó tem suas vantagens e limitações, e a escolha do pó adequado 
depende do tipo de superfície, das condições ambientais e das características 
específicas da cena do crime. Os peritos em datiloscopia devem selecionar o tipo de 
pó mais apropriado para obter as melhores chances de revelar e coletar impressões 
digitais de forma precisa e confiável. 
 
3.2 Hematologia Forense 
O sangue é uma substância vital no corpo humano, representando 
aproximadamente 8% da massa corporal. É composto por uma variedade de 
componentes, incluindo células, proteínas, substâncias inorgânicas (sais) e água. Cerca 
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de 55% do volume total de sangue é composto por plasma, uma solução aquosa 
contendo sais dissolvidos. As células sanguíneas, como os glóbulos vermelhos 
(eritrócitos) e brancos (leucócitos), constituem a parte sólida do sangue e 
desempenham funções vitais em nosso organismo. 
No contexto forense, o sangue é uma das manchas mais relevantes e comumente 
encontradas em locais de crimes contra pessoas. O aspecto das manchas de sangue 
varia dependendo da antiguidade da mancha e do tipo de superfície em que foram 
produzidas. Desde o século I, com o trabalho do romano Quintiliano, que descobriu o 
uso de vestígios de sangue nas mãos de um culpado para resolver um assassinato, a 
investigação científica tem desempenhado um papel crucial na análise de evidências 
de sangue e outros materiais forenses. 
As manchas de sangue podem ser classificadas em cinco aspectos morfológicos 
nos locais do crime: projeção, escorrimento, contato, impregnação e lavagem. Essas 
características fornecem informações valiosas para os investigadores e ajudam na 
reconstrução dos eventos que ocorreram durante o crime. 
Quando uma mancha de sangue é coletada e enviada ao laboratório forense, ela 
passa por testes de presunção, também conhecidos como ensaios genéricos de 
probabilidade, para determinar se é realmente sangue. Esses testes são sensíveis, 
porém pouco específicos, e têm o objetivo de detectar a presença de hemoglobina, a 
proteína responsável pela cor vermelha do sangue. Os exames presuntivos geralmente 
envolvem o uso de um agente oxidante, como o peróxido de hidrogênio, juntamente 
com um indicador que muda de cor ou se torna luminescente em resposta à reação 
catalisada pela hemoglobina. 
A capacidade da hemoglobina de atuar como uma enzima peroxidase, 
catalisando reações de oxidação, foi descoberta pelo cientista alemão Schönbein em 
1863. Desde então, foram desenvolvidos diversos testes presuntivos. No entanto, 
apenas alguns reagentes são amplamente utilizados na ciência forense devido à sua 
eficácia e praticidade, como o Reagente de Kastle-Meyer, reagente de benzidina e 
luminol. Esses reagentes fornecem resultados indicativos da presença de sangue, 
permitindo que os investigadores realizem análises mais específicas e conclusivas 
posteriormente. 
 
3.3 Exame Perinecroscópico 
O exame perinecroscópico refere-se ao exame realizado pelo perito na superfície 
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corporal da vítima, com o objetivo de identificar o número e a localização das lesões 
produzidas pelos instrumentos utilizados. 
De acordo com Couto, R. C., o estudo das lesões no cadáver é fundamental para 
determinar o instrumento utilizado, compreender a dinâmica do ocorrido e até 
mesmo identificar características físicas do agressor. 
Durante o exame perinecroscópico, podem ser estudados os seguintes 
elementos: 
• Tipos de ferimentos: escoriações, fraturas, luxações, equimoses, 
contusões, perfurações, incisões, hematomas, entre outros. 
• Número de ferimentos: determinar o número de ferimentos 
apresentados pela vítima permite ao perito verificar quantos golpes 
foram desferidos ou, no caso de arma de fogo, o número de disparos 
efetuados. Vale ressaltar que, em casos de feridas transfixantes, é 
necessário considerar que um único disparo pode produzir até quatro 
ferimentos (entrada-saída-entrada-saída), caso o projétil retorne ao 
corpo após sair. 
• Localização dos ferimentos: fornecer uma descrição detalhada da 
região do corpo onde os ferimentos foram encontrados permite ao perito 
determinar a posição do agressor em relação à vítima. Isso pode indicar 
se o agressor estava de frente, por trás ou em outras posições, 
dependendo da localização da lesão. Também é importante fazer a 
distinção entre ferimentos de entrada e saída, especialmente em casos de 
projéteis de arma de fogo, para determinar a posição do agente. 
 
Determinar o tempo de morte é de suma importância em locais de crimes contra 
a pessoa, onde há presença de cadáveres. Os responsáveis pelo levantamento devem 
procurar determinar o tempo de morte o mais precisamente possível, também 
conhecido como cronotanatognose. 
A morte pode ser interpretada como a cessação das atividades metabólicas e 
bioquímicas que mantinham a organização orgânica. Sinais bióticos (transformativos) 
e abióticos indicam a realidade da morte. 
• Sinais abióticos imediatos: perda de consciência, parada cardíaca 
irreversível, perda de reflexos, ausência de pulsos, parada respiratória, 
parada da atividade encefálica. 
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• Sinais abióticos consecutivos: perda de temperatura, rigidez 
cadavérica, hipóstase ou livores, espasmo cadavérico. 
• Sinais transformativos: autólise, putrefação, maceração, 
mumificação, saponificação. 
 
A perda de temperatura do cadáver pode ser utilizada para determinar o tempo 
de morte. Geralmente, considera-se uma perda de 0,5°C a 1,0°C por hora, com base 
na temperatura corporal viva de 36,5°C. Por exemplo, se um cadáver for encontrado 
às 19 horas com uma temperatura de 33,5°C, a diferença de 3,0°C em relação à 
temperatura corporal viva indica que a morte ocorreu entre 13 e 16 horas. Quando a 
temperatura do cadáver e do ambiente estão iguais, considera-se que a morte ocorreu 
antes das 16 horas. 
A rigidez cadavérica é percebida cerca de 2 a 3 horas após a morte e atinge o 
ápice aproximadamente 18 horas após a morte, seguido pelo desaparecimento 
gradual da rigidez. A rigidez se desenvolve e desaparece de cima para baixo. 
As manchas de hipóstase ocorrem devido à sedimentação do sangue pela ação 
da gravidade. Essas manchas vermelhas, que se tornam vinho com o tempo, aparecem 
nas partes mais baixas do corpo e permitem verificar se o cadáver foi movido da 
posição original. Elas começam a se formar cerca de 2 a 3 horas após a morte e 
tornam-se fixas na pele e nos órgãos internos após 8 horas. 
Os espasmos cadavéricos são rigidezes raras, abruptas, generalizadas e violentas. 
Diferem da rigidez cadavérica, que se instala progressivamente. A fisiopatologia dos 
espasmos cadavéricos ainda é desconhecida. 
A autólise é uma fase em que as enzimas celulares promovem a quebra das 
células devido à interrupção da circulação, resultando na diminuição do pH do meio. 
A putrefação ocorre após a autólise, devidoà ação de germes anaeróbicos, aeróbicos 
e facultativos. Ela se inicia no intestino, onde há uma grande quantidade de bactérias 
e gases, resultando em uma mancha verde abdominal, que é o primeiro sinal de 
putrefação. 
A putrefação ocorre em quatro fases: período de coloração, período gasoso, 
período coliquativo e período de esqueletização. 
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 1 2 3 4 
A maceração ocorre de forma séptica quando o corpo está submerso em meio 
líquido, como no caso de afogamentos, ou de forma asséptica em fetos que 
permanecem dentro do útero por algum tempo. A maceração resulta na quebra das 
células e embebição da pele, causando amolecimento da epiderme e formação de 
bolhas. 
A mumificação pode ser natural ou artificial. Nos casos naturais, são necessárias 
condições climáticas e do solo, como locais quentes, secos, ventilados e com solo 
arenoso. Ocorre uma rápida desidratação, e a pele fica dura, seca e enrugada. Os 
tendões se transformam em fibras quebradiças. 
A saponificação (adipocera) é um processo gradativo que ocorre durante a 
putrefação, iniciando-se rapidamente antes da putrefação. O cadáver é transformado 
em uma substância de consistência untuosa, mole e quebradiça, semelhante ao sabão. 
Esse processo está relacionado a locais com solo argiloso, úmido e pouco aerado. Os 
ácidos graxos, como palmítico, esteárico, oléico e sabões, estão presentes nesse 
processo químico. 
 
3.4 Análise do DNA e Perfil Genético 
O primeiro caso de identificação criminal através de exames de DNA ocorreu em 
1985, na Inglaterra. Em um pequeno condado, rodeado de montanhas e com uma 
única estrada de acesso, uma mulher foi estuprada e assassinada. "Lá havia um 
geneticista, Alec Jeffreys, que coletou o esperma encontrado na vítima e fez o exame 
de DNA. Mais tarde houve outro crime similar. Novamente Jeffreys analisou o sêmen 
encontrado na vítima. Era do mesmo homem que cometera o primeiro crime", conta 
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José Maria Marlet, professor de medicina legal da USP. As autoridades locais forjaram 
uma campanha de doação de sangue cuja finalidade era identificar o agressor. Todos 
os habitantes foram doar sangue, mas nenhum deles possuía DNA igual ao do 
estuprador. "A polícia prosseguiu com as investigações e descobriu que havia um 
viajante no condado. Quando o sujeito voltou, foi convidado a doar sangue. Feito o 
teste de DNA no sangue colhido, Jeffreys concluiu que o código genético do viajante 
era o mesmo do estuprador", conta Marlet (AMABTS & MARTHO, 1995). 
A identificação humana por DNA é uma ferramenta poderosa para casos de 
paternidade, assim como investigação criminal pela tipagem de O perfil de DNA ou 
Perfil genético tem sido considerado um método importante na identificação 
individual, pois a informação contida no DNA é determinada pela sequência como as 
letras do alfabeto genético estão dispostas nos cromossomos. No caso do homem, 
existem três bilhões dessas letras escritas nos cromossomos de cada célula do corpo 
humano, sempre na mesma ordem em todas as células do indivíduo. É a ordem como 
essas letras estão escritas nos cromossomos que faz com que cada indivíduo seja 
diferente dos demais. Quanto mais diferentes são os indivíduos, mais distinta é a 
ordem das letras no genoma. Indivíduos aparentados, irmãos, pais e filhos, etc, 
apresentam proporcionalmente maior similaridade na sequência gênica. Somente 
gêmeos idênticos, que são clones humanos naturais, apresentam a mesma ordem ou 
sequência gênica (BORÉM et al., 2001). 
No perfil de DNA, somente algumas regiões do DNA são analisadas. As regiões 
escolhidas são aquelas que apresentam maior variação individual e facilidade de 
estudo. Essas regiões são denominadas de marcadores genéticos ou moleculares. Os 
marcadores moleculares podem ser utilizados para caracterizar o DNA de um 
indivíduo em um padrão ou perfil de fragmentos que lhe é particular. Neste caso, são 
utilizados marcadores polimórficos, ou seja, regiões que apresentam mais de um alelo 
por locus; em loci forenses, o alelo mais comum tem a frequência menor que 0,6 
(DUARTE et al., 2001). 
O método de STR (Short Tandem Repeats) é mais usado hoje em dia e estuda 
regiões repetitivas de DNA chamadas de minissatélites (VNTRs) e microssatélites 
(STRs). Na identificação humana, utiliza-se quase que exclusivamente marcadores 
microssatélites STR. O estudo dos marcadores STR é feito utilizando a técnica de 
reação em cadeia de polimerase (PCR, do inglês Polymerase Chain Reaction). Com 
essa técnica, é possível fazer a tipagem do DNA utilizando quantidades mínimas de 
amostras, como fio de cabelo, células coletadas na borda de um copo usado pelo 
suspeito ou manchas de sangue em uma arma. Esse processo é feito in vitro (em vidro) 
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para fazer muitas cópias de um fragmento de DNA. 
A tipagem do DNA Forense se baseia nos mesmos princípios fundamentais e usa 
as mesmas técnicas empregadas nas áreas médica e genética, tais como o diagnóstico 
e mapeamento genético, que analisam o próprio DNA. 
O sucesso da tipagem de DNA depende basicamente da qualidade e quantidade 
de DNA extraído das diversas fontes. Nos exames de paternidade, o DNA é geralmente 
extraído de amostras colhidas em condições ideais: sem contaminação e com material 
genético íntegro. Já na determinação de identidade, o material obtido nem sempre 
está em boas condições: às vezes há pouco DNA, ou este está contaminado ou 
degradado. Nesses casos, a extração de DNA adequado para a análise talvez seja a 
etapa mais importante do processo. 
São também analisados polimorfismos presentes no DNA mitocondrial e no 
cromossomo Y, que são usadas em algumas ocasiões. Mais recentemente, os 
abundantes polimorfismos de nucleotídeo único (SNP, do inglês Single Nucleotide 
Polymorphisms) e os polimorfismos de inserção/deleção (indels) têm emergido como 
possíveis alternativas (LTMA, 2006). 
 
Uso Forense do DNA 
O DNA Forense é usado hoje na esfera criminal, para a investigação criminal e na 
esfera civil, para investigação de paternidade. 
O DNA Forense é aplicado na identificação de suspeito em casos de crimes 
sexuais (estupro, atentado violento ao pudor, ato libidinoso diverso da conjugação 
carnal); identificação de cadáveres carbonizados, em decomposição, mutilados, etc.; 
relação entre instrumento lesivo e vítima; identificação de cadáveres abandonados; 
aborto provocado; infanticídio; falta de assistência durante o estado puerperal; 
investigação de paternidade em caso de gravidez resultante de estupro; estudo de 
vínculo genético: raptos, sequestros e tráfico de menores; e anulação de registro civil 
de nascimento (LETTE et al., 2005). 
Além dos cuidados que devem ser tomados com todas as evidências criminais e 
civis, nos casos que envolvem a análise de DNA, deve-se ter atenção em relação à 
contaminação das evidências criminais que contenham material genético. Por isso, é 
importante o uso de luvas descartáveis, máscaras e gorros cirúrgicos quando for fazer 
a coleta, manuseio e processamento das evidências. 
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Qualquer tipo de tecido ou fluido biológico pode ser utilizado como fonte de 
DNA, uma vez que são formados por células. Nas células, o DNA de interesse forense 
encontra-se tanto no núcleo como nas mitocôndrias (BEZERRA, 2004). Os tipos de 
amostras mais comuns são sangue, sêmen, cabelo, saliva, urina, pele, unha, ossos, 
líquidos amnióticos, vilosidade coriônica, fígado, músculo, suor, fezes. 
Podem ocorrer degradação e contaminação de DNA nos laboratórios e nos locais 
de crime. A degradação biológica do

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