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Pa la vr a da R ei to ra “É a educação que faz o futuro parecer um lugar de esperança e transformação”. (Marianna Moreno) “Sejam todos e todas bem-vindos ao EaD do Centro Universitário Fametro” O Centro Universitário Fametro acredita que o papel de uma instituição de ensino é formar não apenas profissionais, mas também formar profissionais no Ensino Superior, com valores éticos, humanísticos e com respeito ao meio ambiente capazes de contribuir para o desenvolvimento da nossa Amazônia. A Fametro, portanto, tem premissas claras a cumprir como instituição de ensino de qualidade. Praticar o ensino, pesquisa e extensão é a sua principal bandeira. A Fametro, ao longo das últimas duas décadas, vem se consolidando como a melhor instituição de ensino do Norte, um espaço democrático e docentes com variadas visões de mundo. Somos uma instituição de ensino plural que avança a cada ano em busca sempre de desenvolver a economia da Amazônia. Nossa estrutura é moderna, estamos em diversos municípios levando uma educação inclusiva e de qualidade. Conheça o Centro Universitário Fametro e viva a experiência em estudar numa instituição com o corpo docente com mestres e doutores e de qualidade de ensino comprovada pelo MEC. Maria do Carmo Seffair Reitora UNIDADE I Criança, pré-escola e creche Os pensadores da Educação Infantil Su m ár io 17 20 UNIDADE II Mudança no contexto das creches Educação Infantil e as Políticas Educacionais UNIDADE III Orientações legais para a Educação Infantil O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil de 1996 35 38 45 53 UNIDADE IV Base Comum Curricular BNCC na Educação Infantil Tendências presentes nas escolas de Educação Infantil A formação do profissional da Educação Infantil Referências Caderno de Exercícios 59 66 79 85 97 107 U ni da de 1 Videoaula 1 Videoaula 2 13 INFÂNCIA COMO ARTEFATO HISTÓRICO Inicialmente, vamos nos ques- tionar: o que é ser criança? O que é in- fância? Se formos refletir sobre essas indagações, parecem-nos conceitos óbvios. Porém, sabemos que, depen- dendo do que respondemos a elas, certamente teremos diversos con- ceitos, talvez antagônicos daqueles que imaginávamos que iriam ser res- pondidos. 14 Anotações: No entanto, se pensarmos em lançar essa ideia ou indagação em uma sala de aula no curso de Licenciatura em Pedagogia, é provável que te- nhamos respostas diversas. Vamos focar em alunos do primeiro período do curso e que, para os quais, serão cogitadas diversas respostas que talvez lem- brem o que vem a ser criança, mas que de fato não seja o que esperamos como resposta quando inda- gamos sobre o assunto. Certamente, teremos respostas como: é um ser frágil, um ser inocente, curioso, ingênuo, um danado, um ser livre, um fofo, dentre outras. Essas poderão ser algumas visões que encontraremos no contexto em que se procura retratar o que vem a ser criança e infância. Mas o que leva as pessoas a definirem dessa maneira essa fase da vida humana? A criança sem- pre se apresentou como um ser frágil? A infância e o ser criança se posicionavam de forma diferente do que pensamos hoje? Ou a infância sempre foi igual? O contexto cultural sempre foi o mesmo? O ser crian- ça sempre foi visto no passado como é visto hoje? Na realidade, podemos afirmar que “infância” e “criança” são conceitos distintos e, para defini- -los, apoiaremo-nos na chamada Sociologia da In- fância, que considera importante fazer essa distin- ção. Entenderemos melhor esses conceitos a partir das ideias de Sarmento (2004). Sarmento (2004) salienta que, se formos ana- lisar a infância, ela seria concebida como uma ca- tegoria social, do tipo geracional, enquanto que criança seria o sujeito concreto, integrante dessa categoria, mas que também integra uma determi- nada classe social, um grupo cultural, vivendo em um determinado tempo histórico. 15 Anotações:A partir do pensamento do autor, pode-se dizer que sempre existiram crianças ou seres hu- manos de pouca idade, com diferenças nos aspec- tos físicos e fisiológicos, quando comparadas com adultos. Ao se pensar na palavra infância, ainda em consonância com o autor supracitado, podemos di- zer que esta se configura como: (...) uma construção histórica, resul- tado de um processo complexo de produção de representações sobre as crianças, de estruturação dos seus cotidianos e mundos de vida e, espe- cialmente, de constituição de organi- zações sociais para as crianças (SAR- MENTO, 2004, p. 11). Segundo o Estatuto da Criança e do Adoles- cente (ECA), considera-se como criança a pessoa com até doze anos incompletos, enquanto que entre os doze e dezoito anos se encontra a adolescência. Nesse sentido, além do conceituado por Sarmento (2004), podemos também compreender a infância como o período de crescimento que vai do nasci- mento até a puberdade, ou seja, de zero aos doze anos de idade, conforme estabelecido pelo ECA. Etimologicamente, a palavra “infância” é originária do latim infantia, do verbo fari = falar, onde fan= falante e in constitui a negação do ver- bo. Portanto, infans se refere ao indivíduo que ainda não é capaz de falar. Sendo assim, é considerado que há, na verdade, uma condição infantil, sendo esta vivenciada, de alguma forma, desde que a so- ciedade inventou a infância. 16 Anotações: No entanto, a criança nem sempre foi vista de forma diferente dos adultos, sendo antes categori- zada apenas como um adulto em miniatura e con- siderada, conforme a dimensão biológica, “pessoi- nhas” que estavam na primeira etapa de suas vidas e do seu desenvolvimento físico. Por esse motivo de serem igualadas a adultos, nem sempre houve a pos- sibilidade das crianças vivenciarem sua infância. De certa forma, elas faziam as mesmas coisas que seus pais, sendo, muitas vezes, negligenciadas ou colocadas em segundo plano, diferentemente do que acontece atualmente, com a evolução da so- ciedade e do pensamento, em que a criança pode desfrutar de sua infância e viver o seu momento de criança, a depender da realidade socioeconômica que estão inseridas. Assim, durante muito tempo, as crianças não vivenciavam e nem pensavam que de fato havia uma infância. Foi somente a partir do final do sécu- lo XVII e início do século XVIII que começou a mudar a forma de enxergar esses seres e, assim, separá- -los dos adultos. Foram surgindo também, aos poucos, as ma- nifestações de afeto, já que não era algo comum entre famílias demonstrarem amor para com suas crianças. Estas começaram, então, a ser reconhe- cidas em suas particularidades e valorizadas não só pelos seus familiares, como também pela socieda- de. Esse fato se deve principalmete ao surgimento da escolarização. 17 CRIANÇA, PRÉ-ESCOLA E CRECHE Apesar do avanço no tratamento da criança, a preocupação sobre a infância só se encontra pre- sente historicamente a partir do século XIX, tanto no Brasil como em outros lugares do mundo.Mes- mo a infância sendo um problema no século XIX, não se tornou algo a ser pesquisado ou pensado. Em vista disso, podemos dizer que a infância e a história da educação, apesar de parecerem dois campos distintos, são duas áreas complementares de pesquisa, já que foi a partir da história da educa- ção que os estudos sobre a infância começaram a se desenvolver (ARIÈS, 1973). Foi a partir dos estudos de Ariès (1973), com a publicação da ‘’História social da infância e da famí- lia’’, que a realidade sobre a escassez de pesquisas e estudos sobre essa temática começou a mudar. Na década seguinte à publicação do livro, em 1974, considera-se que hou- ve uma evolução no pensamento sobre o contexto da evolução da infância e os his- toriadores da educação, principalmente os norte-americanos, que se encontravam no processo de reconstruir a definição precisa de seu campo do que viria a ser a infância. Para Ariès (1973), a história da in- fância e as discussões sobre aprendi- zagem se encontravam relacionados tanto socialmente quanto concei- tualmente. Salientamos, também, que a infância é um fenômeno his- tórico e não meramente natural e as suas características no ociden- 18 Anotações: te moderno podem ser esquematicamente delinea- das a partir da heteronômica, da dependência e da obediência ao adulto. Ainda segundo o autor supracitado, é preci- so aceitar que a infância que vemos hoje é com- pletamente diferente daquela do passado, quando as crianças não eram respeitadas como crianças e não tinham nenhum direito. Atualmente, estas são vistas de forma diferente pelos adultos e possuem seus direitos garantidos em lei, embora muitas ain- da estejam sujeitas a certo tipos de violência, devi- do ao contexto em que vivem (ARIÈS, 1973). Antigamente, as crianças possuíam um dé- ficit de poder. Inversamente, algumas pouquíssi- mas crianças podiam ter um poder imenso, como Luís XVI, rei da França, que era visto e tratado como adulto por seus criados e cortesãos. Tam- bém havia o caso de pessoas que não conseguiam, durante a vida toda, sair da infância, como o caso dos escravos. Ariès (1973) demonstra a existência da in- fância como categoria autônoma diferenciada so- mente depois de um longo processo, que pode ser caracterizado como a devolução nos sentimentos, ocorridos entre os séculos XVI e XVIII. Na Idade Média, crianças e adultos, antes do advento da es- colarização, compartilhavam os mesmos lugares, situações e as vivências eram as mesmas. Inde- pendentemente do que estivesse acontecendo, a criança estava presente, não havendo divisões de vida ou de indivíduos. Na verdade, não havia o senti- mento de infância, nem mesmo uma representação referente a essa fase. A infância, no século XVI e final da Idade Mé- dia, tomou um novo direcionamento. A partir da 19 Anotações:Idade Moderna, as concepções e ideias sobre o ato de educar as crianças vieram depois da mudança econômica e do surgimento do capitalismo, sofren- do transformações significativas. Isso aconteceu durante o Renascimento e o Iluminismo, dado que o cenário econômico, político e social na época mu- dou de uma sociedade agrária para uma sociedade capitalista. Na Idade Moderna, podemos retratar, ainda, que houve uma profunda transformação, assim como no Renascimento, em que ocorreram gran- des mudanças no âmbito cultural, social, econômi- co, político e religioso na sociedade da época. Essas transformações aconteceram princi- palmente devido a uma mudança de ideal, a qual passou a centrar na valorização do homem (Huma- nismo) e da natureza, em oposição ao divino e ao sobrenatural — conceitos estes impregnados na cultura da Idade Média (RENASCIMENTO, 2010). Com a Revolução Industrial, a sociedade tam- bém se transformou e se estabeleceu um conflito, cujo centro eram as crianças com idade entre 0 e 6 anos. Nesse período, as fábricas precisavam de trabalhadores — pais e mães trabalhando nas in- dústrias. Estes, sem opção, já que precisavam de sustento, tinham que deixar seus filhos pequenos aos cuidados de terceiros ou até mesmo largados à própria sorte. Com isso, começou-se a repensar que desti- no dariam aos filhos dos operários que trabalhavam nas fábricas, pois os pais, percebendo que seus filhos estavam sofrendo maus tratos e sendo leva- dos, muitas vezes, à penúria, começaram a se re- voltar, visto que, enquanto suas crianças estavam 20 Anotações: abandonadas, os filhos de pais burgueses frequen- tavam a escola. Em consequência desse fato, foram criadas, para abrigar essas crianças, instituições formais, que a princípio não tinham propostas pedagógi- cas, sendo a maioria das atividades realizadas nes- ses estabelecimentos voltadas para a obtenção de bons hábitos de comportamento, tais como a inter- nalização de regras morais e de valores religiosos. Portanto, não havia nenhuma atividade ou intenção de desenvolver o aspecto intelectual, cognitivo, motor e psicomotor da criança. OS PENSADORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL Jan Amos Komenský (Comenius) O primeiro teórico que iremos conhecer é Co- menius (1592-1670). O pai da Didática Magna com- bateu os métodos medievais usados em sua época. Ressaltamos que Comenius foi o único que levou em consideração os sentimentos da criança, pois sua concepção era a de que a educação não poderia ser autoritária, sempre se fazendo a pergunta: Por que não se pode aprender brincando? Ele acreditava que a brincadeira era a me- lhor forma de aprender. Buscava, então, esboçar uma educação voltada para as crianças pequenas, quando estas sequer eram pensadas pela socie- dade. Comenius defendia, ainda, que todos têm o direito de aprender e conhecer sobre o mundo em que estão inseridos. 21 Anotações:O educador também já destacava a importân- cia e a necessidade de o professor adaptar sua meto- dologia ao que chamava de “arte de ensinar”, focando na ideia de educar crianças menores de seis anos e de diferentes condições sociais. Ele propunha que o acesso à educação dessas crianças fosse feito em um nível inicial de ensino que era como o “colo da mãe” (mother’s lap), pois considerava a infância um período importante para o homem. Para Comenius, a aprendizagem se inicia pelas sensações e, por isso, as crianças deveriam experimentar o manuseio dos objetos para interna- lizá-los, o que futuramente viria a ser considerado atividades de racionalização, defesa de ideias e trabalho a partir da razão. O pensador defendia que para educarmos crianças pequenas, deveríamos utilizar materiais diversificados, de acordo com cada idade. Gadotti (2004) defende o pensamento de Co- menius ao afirmar que a educação de crianças pe- quenas deveria ser pautada no uso de materiais e práticas de atividades diversificadas de acordo com suas idades, como passeios, quadros, mode- los e objetos reais, auxiliando-as, no futuro, a reali- zar aprendizagens abstratas. A visão trazida pelo autor no ato de educar está em consonância com a BNCC- Base Nacional Comum Curricular, ao estabelecer que há a neces- sidade de se levar em consideração a vivência, a experiência e a bagagem que a criança traz, para que assim possamos fazer um planejamento que se relacione com a realidade desse sujeito. 22 Anotações: Jean Jacques Rousseau De acordo com Rousseau (1712-1778), as crian- ças devem ter uma educação própria para a sua idade, devendo ser incentivadas desde muito cedo a experimentar, a pesquisar e a enxergar o mundo de forma diferente, com a possibilidade de terem experiências variáveis. Outro ponto defendido pelo teórico é que devemos dar muita atenção às neces- sidades das crianças, de acordo com os estágios de desenvolvimento em que elas se encontram. Em cada um desses estágios, torna-se necessário in- troduzir um novo conhecimento de acordo com sua maturação. Rousseau defendia, então, que a criança tem que ser criança e rompe com a premissa de que esta seria um adulto em miniatura, como se propagava durante a IdadeMédia. Seu pensamento foi o ponto de partida para se pensar na criança como um ser com características próprias, entendendo que ela precisava de uma educação que respeitasse as fa- ses de desenvolvimento pelas quais passa. Assim, todos os que lidavam com crianças deveriam estar preparados, inclusive os professores. Gadotti (2004) afirma que Rousseau propôs trabalhar com a criança alguns elementos, como: brinquedo, esporte, agricultura, uso de instrumen- tos variados, ofícios, linguagem, canto, aritmética e geometria. Em suma, uma educação completa- mente diferente daquela preconizada no período medieval. 23 Anotações: Johann Heinrich Pestalozzi Pestalozzi (1746-1827) tinha como premissa que o objetivo do ensino é levar a criança a desen- volver todas as suas habilidades naturais, pois, para ele, o ser infantil possui habilidades inatas. Defen- dia, ainda, que a criança tinha direito à educação, já que esta era uma dádiva divina. Ressalta-se que as ideias de Pestalozzi eram contrárias àquelas que estavam sendo defendidas na época, na qual a igreja possuía uma poderosa in- fluência e não se preocupava com a qualidade do ensino nem com o aprendizado. Por não haver essa preocupação, os professores não atendiam às ne- cessidades das crianças e o número de escolas não era o suficiente. Nesse sentido, Pestalozzi trouxe inovação para o ambiente escolar da época, com sua pro- posta pedagógica propondo um método de ensino diferente daqueles que eram praticados. O método proposto por ele se centrava no contexto da tran- quilidade, amor, segurança, do afeto, buscando, as- sim, assemelhar ao berço de um lar, como se fosse a casa da criança, proporcionando um ambiente familiar. O ambiente escolar, para o educador, seria um lugar ideal para a aprendizagem, de modo que pu- desse levar a criança a se sentir segura e acolhida. As ideias de Pestalozzi alcançavam a necessidade da formação dos professores, visto que, segundo sua visão, os mestres deveriam ser treinados e nes- se treinamento deveria ser levado em conta pre- ocupações relativas ao ensino, tais como: a edu- cação pelo sentido e as atividades diversificadas, 24 Anotações: como artes, música, soletração, geografia, aritmé- tica, linguagem oral e contato com a natureza (GA- DOTTI, 2004). Percebemos, portanto, que, segundo a teo- ria defendida por Pestalozzi, o afeto, o respeito e o aconchego familiar, bem como um ambiente de se- gurança, seriam o universo ideal para a aprendiza- gem do aluno. Friedrich Fröbel Fröbel (1782-1852) é um dos teóricos mais co- nhecidos, considerado o pai da pré-escola. Ele de- senvolveu uma teoria que volta o olhar para a criança pequena e, apesar de ter se espelhado nas ideias de Pestalozzi, suas ideias se diferem no que tange à di- visão da infância, pois, para o pedagogo, as crianças eram como plantinhas que deveriam ser regadas, plantinhas essas em desenvolvimento, enquanto que o professor seria o jardineiro que as regariam, a fim de transformá-las em plantas viçosas. De acordo com Fröbel, as crianças deveriam ter um lugar especial, um espaço próprio, por isso criou um espaço especial para a criança: a primei- ra instituição educacional voltada exclusivamente para a educação infantil, a qual denominou de JAR- DIM DA INFÂNCIA. Por esse motivo, é considerado o pai da pré-escola. Na escola criada por Fröbel em 1837, as crian- ças eram atendidas do primeiro ao sexto ano de idade. O princípio pedagógico de sua teoria é a de que a criança se desenvolvia por meio da imagina- ção e da ação. Nesse sentido, seria necessário o conhecimento sobre as crianças, como uma forma 25 Anotações:de detectar suas características e necessidades, para assim adequar seu modo de educação a essa realidade infantil. Fröbel sempre priorizou o conhe- cimento sobre a criança, já que, para ele, esta tem suas próprias necessidades. Desse modo, muitas técnicas utilizadas atu- almente nas salas de aula da educação infantil se devem às ideias de Fröbel. Além disso, o teórico defendia que devemos respeitar dois pontos fortes da criança: as atividades de cooperação e os jogos livres. É devido a essas contribuições que Fröbel carrega o título de pedagogo do Jardim da Infância, em que práticas da educação infantil atual, como posto anteriormente, são ainda as preconizadas por ele. Maria Montessori Maria Montessori foi a primeira médica a se formar na Itália. Depois de sua formação, teve con- tato com crianças que na época eram chamadas erroneamente de “retardados mentais”, ou seja, crianças com transtornos psicológicos. Para elas, Montessori criou vários materiais coloridos e de fácil manipulação, já que a médica defendia a ideia de construir aprendizagens considerando o próprio ambiente. Com o sucesso desses materiais, a médica começou a pensar em fazer esses recursos tam- bém para crianças comuns, consideradas, na épo- ca, “normais” e também obteve grande êxito. Até os dias atuais, Maria Montessori contribui para a educação infantil, visto que seus brinquedos e re- cursos buscam trabalhar a percepção das crianças 26 Anotações: com materiais adequados e interessantes, respon- dendo a estímulos com primazia e estimulando, as- sim, o desenvolvimento. Seus métodos contrariam as práticas educa- cionais que privilegiavam a repetição e a memoriza- ção, em detrimento do desafio e da construção de conceitos. Sua teoria é baseada em três princípios, sendo eles a individualidade, atividade e liberda- de do aluno, de forma que, em cada estágio de seu desenvolvimento, o estudante possa receber um atendimento especializado, que venha ao encontro de suas possibilidades e interesses. Em suma, Montessori priorizava em seus estu- dos o desenvolvimento infantil, sendo assim funda- mental para a educação, uma vez que o processo de desenvolvimento da criança era respeitado. Ela foi, ainda, a criadora da creche-escola Casa dei Bambi- ni, sendo um sucesso na época, suscitando o sur- gimento de outras escolas da educação infantil que passaram a utilizar o método montessoriano, o qual se popularizou e até hoje é usado por muitas escolas. Henri Wallon Henri Wallon (1879-1962) é considerado o pen- sador antiautoritário. Para o teórico, o contexto e o meio social têm enorme relevância no desenvol- vimento da criança. Segundo ele, o meio é o prin- cipal responsável pelo desenvolvimento da criança e esta não poderia ficar fora dele, já que, sem ele, seria impossível o seu desenvolvimento. Suas con- tribuições para a educação infantil são essenciais até os dias atuais, principalmente porque se preo- cupou em estudar crianças pequenas de 0 a 2 anos. 27 Anotações:Ele defendia, ainda, que cada criança tem uma vi- vência de acordo com as suas experiências sociais e seu grupo cultural. Wallon dividiu o desenvolvimento da criança por etapas específicas, denominadas de crise evo- lutivas, que para ele não são lineares nem unifor- mes. Essas etapas são divididas em cinco, sendo elas: impulsivo-emocional; sensório-motor e pro- jetivo; personalismo; categorial; puberdade e ado- lescência. O ponto focal da teoria de Wallon é a afetivida- de, que se expressa de três maneiras: por meio da emoção, sentimentos e paixão. Esse contexto afe- tivo surge durante toda a vida do indivíduo e, se o pensamento infantil evoluir, essa evolução também se manifesta durante toda a vida dele. Esse pensa- mento caminha, para Wallon, da forma sincrética para a forma diferencial. De acordo com o teórico, a emoção é a pri- meira expressão da afetividade, já que ela tem uma ativação orgânica e não tem o controle da razão. Se algo acontece conosco, agimos pela emoção e não pela razão. Como explica Izabel Galvão no livro Hen- ri Wallon: uma Concepção Dialética do Desenvolvi- mento Infantil (2014), apesar de alternarem a domi- nância, a afetividade e a cognição não são funções exteriores uma à outra. Ao reaparecer como ativi- dade predominante, uma incorpora as conquistas da anterior.28 Anotações: Jean Piaget Piaget (1896-1980) é um dos principais repre- sentantes da Psicologia da Aprendizagem e suas pesquisas foram centradas nas estruturas cogni- tivas do indivíduo. Assim como Édouard Claparède (1873-1940), buscou desenvolver seus estudos pro- curando a natureza do desenvolvimento da inteli- gência humana e, para isso, observou a inteligên- cia e o comportamento infantil. A fim de analisar o desenvolvimento, utilizou o que chamou de peda- gogia experimental, que se pautava na observação de crianças em plena atividade, num ambiente que estas pudessem reorganizar suas estruturas cogni- tivas. Segundo Piaget, quando a criança reorgani- za suas estruturas cognitivas, ganha mais autono- mia, atuando com mais segurança no mundo real. O contexto teórico de Piaget ficou conhecido como construtivismo, visto que segundo ele, a criança vai construindo o seu conhecimento conforme contato que ela tem com o mundo real, experimentando e o investigando. Cabe à criança, então, ser criadora neste universo e não mera reprodutora de conheci- mentos. O teórico defende que o processo de desen- volvimento humano depende não só da maturação biológica do sujeito, mas também da interação que se estabelece entre este e o meio físico e social em que vive. Para ele, o sujeito tem que explorar tudo que o rodeia, visto que o desenvolvimento da crian- ça é estabelecido por estágios de desenvolvimento infantil e o professor é um facilitador desse pro- cesso, a partir do momento que desafia a criança, 29 Anotações:promovendo ações e sendo alguém que suscita na criança a possibilidade da descoberta. O professor deve, ainda, criar situações de aprendizagem, buscando aguçar a possibilidade de suscitar problemas úteis à criança e organizar situa- ções que a levem à reflexão e possibilitem situações problemas para que busque soluções. Em síntese, o professor é quem provocará na criança a possibilida- de de buscar o conhecimento e se desafiar. Entretanto, ainda é preciso que o mestre-ani- mador não se limite ao conhecimento de sua ciên- cia, mas esteja muito bem informado a respeito das peculiaridades do desenvolvimento psicológico da inteligência da criança e do adolescente (PIAGET in GADOTTI, 2005). Piaget divide o desenvolvimento da criança em estágios, sendo o primeiro denominado de sensório- -motor, que corresponde aos dois primeiros anos de vida da criança, caracterizando-se pela atividade ex- ploratória da criança, a partir de seus movimentos e das sensações. O segundo estágio, denominado por ele de pré-operatório, é marcado pelo surgimento da fala, dado que esta possibilita à criança expressar-se de forma mais complexa e elaborada. No estágio denominado operacional concre- to, a criança se torna mais consciente do sentimen- to dos outros e do que ocorre no contexto social em que está inserida. Torna-se menos egocêntri- ca, começa a entender que existem pensamentos, sentimentos e crenças diferentes das que têm. Esse estágio, para Piaget, é uma virada no desen- volvimento cognitivo da criança, marcado pelo pen- samento lógico ou operacional em que a criança já consegue resolver questões subjetivas, em vez de 30 Anotações: apenas físicas, saindo, assim, do operacional con- creto para a lógica. O último, chamado estágio operacional for- mal, se inicia aos onze anos e perdura até a idade adulta. A criança, nessa etapa, já é capaz de usar a lógica para resolver problemas, planejar o futuro e enxergar o mundo ao seu redor. Lev Vygotsky Vygotsky (1896-1934) buscava compreender o comportamento humano, estudando o mundo psí- quico numa dimensão histórica e social da huma- nidade. Para o teórico, existem funções mentais superiores, que se constituem pelas experiências socioculturais dos sujeitos, pois ele não acredita- va que deveríamos levar somente em consideração o aspecto biológico dos indivíduos, mas também o meio em que esse indivíduo está inserido. Segundo ele, o desenvolvimento cognitivo se dá através da interação social, ou seja, de sua in- teração com outros indivíduos e com o meio. A lin- guagem e o pensamento humano têm sua origem na vida social dos sujeitos, sendo essa dimensão sócio-histórica e cultural que vai sustentar a forma como Vygotsky postula a relação desenvolvimento e aprendizagem, que para ele são processos inter- dependentes e interativos, em que a aprendizagem vai se efetivar em contextos sociais específi cos. O aluno, para o teórico, não é apenas o sujeito da aprendizagem, mas aquele que aprende com o outro e que precisa do outro e dessa interação para a construção do seu conhecimento. 31 Logo, a fi gura do professor é fundamental. Vy- gotsky sistematizou a zona de desenvolvimento pro- ximal que retrata os dois níveis de desenvolvimento, o nível de desenvolvimento real e o potencial. A zona de desenvolvimento real é o que a criança já é capaz de fazer por si própria, além do potencial e a capacidade que ela tem de aprender com outras pessoas. Sendo assim, a aprendizagem, para Vygotsky, interage com o desenvolvimento nas zonas de de- senvolvimento proximal e ambos os processos estão inter-relacionados. O desenvolvimento está interli- gado ao contexto social, de modo que a internaliza- ção desse contexto, bem como a cultura, constroem esse desenvolvimento de fora para dentro. Além disso, o teórico enfatiza a construção do conhecimento a partir da interação mediada pe- las relações que se estabelecem. O conhecimen- to não é visto como uma ação do sujeito sobre a realidade, como no construtivismo, mas pela mediação feita por outros sujeitos. Em suma, Vygotsky privilegia o contexto social da criança. Além disso, o teórico enfatiza a construção do conhecimento a partir da interação mediada pe- las relações que se estabelecem. O conhecimen- to não é visto como uma ação do sujeito sobre a realidade, como no construtivismo, mas pela mediação feita por outros sujeitos. Em suma, Vygotsky privilegia o contexto social da U ni da de 2 Videoaula 1 Videoaula 2 34 35 MUDANÇA NO CONTEXTO DAS CRECHES No século XX, originaram- -se alguns protestos e reivindi- cações por melhores condições de trabalho e por creches para o atendimento dos filhos dos trabalhadores. Porém, somente na década de 20, o governo es- timulou esse atendimento, limi- tando-se, entretanto, a fornecer somente professores, materiais pedagógicos e mobília, deixan- do o resto a cargo da sociedade. Após 1930, em virtude dessa si- 36 Anotações: tuação, pensadores brasileiros (Fernando de Aze- vedo, Anísio Teixeira e Lourenço Filho) divulgaram a educação progressiva da chamada Escola Nova e suscitaram algumas reformas educacionais que culminaram no Manifesto dos Pioneiros da Educa- ção Nova. Esse manifesto pedia uma educação igualitá- ria para todos, medidas educacionais e a criação de instituições específicas, buscando, assim, uma or- ganização mais unificada em relação à pré-escola. A partir da década de 40, pensava-se muito no con- texto da saúde e, por esse motivo, logo em seguida, as creches mantidas por somente entidades filan- trópicas e religiosas passaram a receber a ajuda do governo, pois surgiu uma grande preocupação em relação à alimentação, à higiene e à integridade fí- sica das crianças Em decorrência do governo Vargas e a conso- lidação da CLT, tornava-se obrigatória a criação de creches no Brasil, bem como de berçários para os filhos de funcionários. No entanto, por falta de fis- calização, isso não ocorreu e a criação de creches foi pouco significativa. Com essa falta de atendi- mento do governo, o índice de marginalidade e de crianças desassistidas foi imenso durante esse pe- ríodo. Como não se criavam esses espaços, os filhos mais velhos começaram a cuidar dos mais novos, o que também ocasionou acidentes domésticos em larga escala, já que se impunha uma responsabili- dade muito grande para crianças cuidarem de ou- tras crianças, levando, assim, a um grande númerodestas nas ruas, marginalizando-se, por não acha- rem justa tal responsabilidade, o que os levavam 37 a descarregarem suas angústias e frustrações na marginalidade. Nesse sentido, não havia preocupação com a amplitude do problema que se alastrava no Brasil, decorrente da necessidade de as mães deixarem seus filhos sozinhos. Em vista disso, a creche se tornou uma necessidade não somente para atender as crianças pequenas, mas a toda uma sociedade que ruía devido à falta dela. Com a criação de mais creches, estas passa- ram a ser consideradas somente um remédio para essas problemáticas e foram, por muito tempo, um espaço para amenizar os males da sociedade, um paliativo, sem, no entanto, possuir qualquer cunho pedagógico. Sendo assim, é possível afirmar que as cre- ches foram uma estratégia dos governos para combater a pobreza e resolver problemas ligados à sobrevivência das crianças, o que justificou por muitos anos a existên- cia dessas instituições no Brasil (KRAMER, 1993). Após esse contexto, essa visão mudou, pois esse espaço era buscado agora pelo funcionalismo público, pelas mulheres que trabalha- vam no comércio e pelas operá- rias. Nesse cenário, as instituições de atendimento a crianças de 0 a 5 anos pas- saram a ser cada vez mais requisitadas. 38 Anotações: EDUCAÇÃO INFANTIL E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS Referendando a Legislação e os parâmetros legais da educação no Brasil, podemos afirmar que estes reúnem um conjunto de leis que regulam o funcionamento da Educação Básica de uma forma geral, bem como a educação infantil, buscando, as- sim, dar as bases político-jurídicas para que possa- mos organizar o contexto e funcionamento educa- cional no país. Salienta-se, ainda, que o eixo central da edu- cação se refere a temas ou matérias educacionais que regulamentam o contexto educacional, tais como: a administração escolar, os currículos, os programas, a duração e o funcionamento de cada fase e o nível de ensino. Além disso, normatiza, pro- fissionalmente, o professor, que poderá e deverá atuar no ensino, buscando a democratização des- te de uma forma geral. Acerca do que é Legislação, Plácido e Silva (1988) afirmam: Legislação: derivada do latim legisla- tivo (estabelecimento da lei), é toma- do em seu sentido etimológico para designar o conjunto de leis dadas a um povo. Era este o sentido primitivo da lex data ou das leges datae dos ro- manos, significando as leis que eram dadas a uma cidade. Mas a legislação (leges datae) distinguia-se propria- mente da lex, porque se mostrava regulamentos orgânicos, expedidos pelos magistrados, em face da outor- ga popular em que se viam investidos. 39 Anotações:E não se confundiam com a lei em seu exato sentido. A terminologia jurídica moderna não desprezou o conceito. E, por vezes, se emprega o vocábulo nesta acepção (p.58). Em se tratando da legislação, voltando o olhar para a educação infantil, as fases que consolidam esse nível de ensino estão interligadas à sua pers- pectiva histórica. Antes, o pensamento e o olhar da educação infantil estavam voltados para o assis- tencialismo (higienista) e também estavam presen- tes nesse contexto a privação cultural e pedagógica para as crianças. O Brasil teve suas primeiras iniciativas de vol- tar o olhar para a criança de até 6 anos de idade no período colonial, a partir das ações dos jesuítas, que começaram a reconhecer a criança indígena e a criança órfão. Nesse momento, iniciou-se a introdução de conhecimentos relacionados a ler e escrever para as crianças, bem como contar, orar e ensiná-las bons costumes. No entanto, a educação delas continuava sob a responsabilidade das mães, que não davam con- ta, pois, naquela época, a pobreza era muito gran- de e as famílias não tinham o que comer, levando, muitas vezes, as mães a abandonarem seus filhos. Também, durante esse período, era comum a cul- tura do abandono, em que havia a chamada “roda dos expostos”, um lugar onde se colocavam bebês que se queriam abandonar. Essa cultura teve fim somente na década de 50 do século XX. Essa realidade levou a pré-escola a possuir um caráter assistencialista. Torna-se importante frisar que esse cenário de precariedade era restri- 40 Anotações: to à classe proletária, já que as famílias burguesas possuíam cuidadores e babás para darem conta de suas crianças. Com o advento do capitalismo, que estava surgindo no país, esse cenário começou a mudar, pois com a Revolução Industrial passou a haver uma demanda até então inexistente: a necessidade das mães saírem de seus lares, já que as fábricas ne- cessitavam de mão de obra. Como já anteriormente tratado, foi diante des- sa realidade que se passou a questionar onde os fi- lhos dessas operárias iriam ficar, visto que a maioria dessas crianças eram bebês ou muito pequenas para frequentar as poucas escolas existentes na época, em função de sua idade. Nesse mesmo contexto his- tórico da Revolução Industrial, também ocorria no país a Abolição da Escravatura e a migração cons- tante, que enchia a zona urbana de pessoas, aumen- tando ainda mais essa problemática. A partir dessa necessidade, foi se desmisti- ficando o olhar para a primeira infância, uma vez que os serviços prestados ao público infantil eram iguais àqueles prestados aos asilos e internatos, já existentes. Com isso, o atendimento a essa fase foi se construindo, assim também como novas pers- pectivas e visões em relação a ela. A partir daí, começaram a se mobilizar orga- nizações sociais e filantrópicas, bem como os pa- trões e os donos das indústrias e até mesmo se- nhoras da alta sociedade, buscando criar espaços, meios e formas de atender a demanda para com as mães de crianças pequenas. Diante desse contexto, surgiu no Brasil insti- tuições de atendimento voltadas ao público infantil 41 Anotações:No primeiro momento, o atendimento foi dividido de duas formas: criaram-se as chamadas creches ou asilos da primeira infância, que se responsabili- zavam em atender crianças de 0 a 2 anos de idade, fase denominada de primeira infância. Foram criadas também as salas de asilo, aten- dendo à segunda infância, com crianças na faixa etária de 3 a 6 anos de idade, hoje chamadas de escolas maternais. Destaca-se uma diferença na classificação em relação ao surgimento dessas ins- tituições. Isto porque as instituições pré-escolares foram chamadas de jardins de infância, com o aten- dimento a pessoas ricas realizado nos chamados asilos e as que atendiam os pobres eram chamadas de creches. Em suma, as creches eram espaços filantró- picos e assistencialistas que atendiam a população carente. Havia, ainda, no país, as chamadas mães de aluguel ou criadeiras, que eram pagas para cui- darem das crianças pequenas daquelas mães que precisavam se prostituir, denominadas, na época, de “mulheres da vida”, mães operárias ou emprega- das domésticas. Devido à realidade socioeconômica dessas pessoas, as crianças eram criadas em lugares com- pletamente insalubres, o que comprometia a sua saúde física e mental. Como na época era ampla- mente defendido o Determinismo, em que se cul- pava o homem de sua própria condição, as famílias carentes eram vistas como culpadas pela própria pobreza e o atendimento às crianças era feito vi- sando acalmar esse mal, principalmente nas clas- ses trabalhadoras (OLIVEIRA, 2002). U ni da de 3 Videoaula 1 Videoaula 2 44 45 Fazendo uma retrospectiva da legislação sobre a educação infantil no Brasil, vamos nos reportar a 1878, no período Imperial, quando encon- tramos a primeira referência oficial à pré-escola no Brasil. Foram emitidos documentos a partir da reforma de Le- ôncio de Carvalho, quando Rui Barbo- sa, então parlamentar, emitiu dois do- cumentos que atendiam à apreciação sobre a metodologia dos jardins da in- fância. Neles, Rui Barbosa preceituava a utilização de expressões como “ativi- dade da criança’’ e ‘‘espontaneidade da ação’’. ORIENTAÇÕESLEGAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL 46 Anotações: Em 26 de novembro de 1879, sob o número 17.698, Leôncio de Carvalho reformou a instrução pública primária e secundária no Município da Cor- te e o Ensino Superior em todo o Império, o que deu origem aos pareceres/projetos de Rui Barbosa, de fundamental importância para compreender os ca- minhos traçados pela educação infantil atualmen- te, o que oportunizou conhecermos um pouco mais sobre esse assunto. No entanto, mesmo com as contribuições de Rui Barbosa para a educação infantil, o precursor dela no Brasil foi Joaquim Teixeira de Macedo, de- fensor das ideias dos teóricos Rousseau, Pestalozzi e Fröbel. O primeiro decreto relativo à educação infan- til foi chamado de Consolidação das Leis de Ensino, que tratava especificamente das escolas maternais e dos jardins da infância. A função das escolas ma- ternais deveria ser a de receber os filhos dos ope- rários, oferecendo a eles um desenvolvimento har- mônico, em um ambiente similar ao do lar. Ademais, o jardim da infância deveria dar oportunidade para que os alunos praticassem a au- todireção e o autocontrole, desenvolvendo a inicia- tiva e invenção, além de aprender a coordenar es- forços e interesses de seus companheiros. O decreto em questão orientou a pré-escola até 1961, quando surgiu a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 4.024, promulgada em 20 de dezembro de 1961. Graças a ela, houve um grande avanço da educação infantil, porque foi incluso, pela primeira vez, os jardins de infância, legalmente. Essa etapa da educação infantil é inclusa no Artigo 23 da Lei em questão, ao citar que a educa- ção pré-primária deve se destinar às crianças de até 47 Anotações:7 anos de idade, devendo ser lecionada nas escolas maternais ou jardins de infância (BRASIL, 1961). Já no Artigo 24 é decretado que as empre- sas que possuírem funcionárias que sejam mães e cujos filhos sejam menores de sete anos, serão in- cetivadas a organizar, por iniciativa própria ou em união com poderes públicos, instituições de educa- ção pré-primária (BRASIL, 1961). Podemos dizer que a partir da criação da LDB — Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- nal, foram idealizadas três leis, sendo elas: Lei nº 4.024/61, Lei nº 5.692/71 e Lei nº 9.394/96, a última em vigência até os dias atuais. Nesse contexto, o país passava por um perí- odo de urbanização e industrialização em que ha- via mais mulheres no mercado de trabalho. Logo, tinha-se, como vimos, uma necessidade cada vez maior de ter lugares que atendessem as crianças, mas não existia compromisso nem obrigatoriedade de atendimento a esse nível de ensino. Havia, ainda, a marginalização e estigmatiza- ção da população de baixa renda. Até nos anos de 60 e 70, essa ideia ainda era vigente, havendo uma evidente desigualdade entre as classes sociais. As creches e pré-escolas particulares existentes (que se tornavam cada vez mais numerosas) baseavam suas propostas de trabalho em um patamar em que se encontravam a estimulação cognitiva e o prepa- ro para a alfabetização, enquanto que nas institui- ções que abrigavam os filhos de pessoas carentes não havia esse tipo de ensino. Com isso, era grande a diferença entre a educação oferecida às crianças de famílias mais abastadas e a oferecida às famílias com renda menor. 48 Anotações: A segunda LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1971), nº 5.692, foi publicada em 11 de agosto de 1971, trazendo textos relativos à educação infantil, chamada, na época, de educação pré-escolar. De acordo com o parágrafo segundo do artigo 19 dessa lei, [...] os sistemas de ensino velaram para que as crianças de idade inferior a sete anos recebessem conveniente educação em escolas maternais, jar- dins de infância e instituições equiva- lentes (BRASIL, 1971, [s. p.]). Dessa forma, foi possível perceber a possi- bilidade de que cada sistema de ensino decidisse sobre a matrícula das crianças menores. Aconse- lhava-se que as crianças com idade inferior a sete anos fossem atendidas em escolas maternais, jar- dins de infância e instituições equivalentes, sem, contudo, especificar quem ficaria a cargo dessa responsabilidade educacional. Na segunda metade da década de 70, a cre- che foi colocada pela indústria como um direito do trabalhador. A partir disso, elas foram financiadas por grandes empresas, mas como a demanda au- mentou, o governo passou a incentivar as creches domiciliares, que já existiam e cuja modalidade fun- ciona até hoje, bem como as creches empresariais que também existem atualmente. Segundo Oliveira (2022), há, além dessas, as creches desvinculadas do governo ou de empresas, sendo geridas pelos próprios usuários. Mesmo com a implementação de tais instituições educacio- 49 Anotações:nais, foi escasso o atendimento e o acolhimento às crianças pequenas. A partir de 1974, o MEC foi criado, assim como outros órgãos e coordenadoria dos assuntos re- lacionados à educação de crianças em idade pré- -escolar. A partir desse momento, houve um olhar diferente para a educação infantil. Destaca-se a importância que a educação pré-escolar começou a ter a partir da criação dessas instituições oficiais. Além disso, os pronunciamentos recebidos pelo Conselho Federal da Educação também deram um papel de destaque para a educação infantil que antes não existia. Alguns exemplos são a Indicação nº 45/75 e o Parecer nº 2.018/74, que reconhecem a importância da educação pré-escolar durante a fase de formação do indíviduo e, assim, passa a encarar essa etapa como uma estágio probatório. Os trechos do documento enfatizam a ideia da pré-escola como elemento para a superação da defasagem cultural. Com o advento dos estudos e pesquisas dentro da área da educação, realizados em vários lugares do mundo, foi possível a contri- buição para a prevenção do não aproveitamento es- colar. Também houve um olhar mais cuidadoso com distúrbios que são suscetíveis de ocorrer durante a etapa da pré-escola, como o desenvolvimento deficiente da criança em sua fase de maturação, etapa essa em que se deve aproveitar todas as suas potencialidades, segundo os teóricos da educação infantil. A partir dessas normatizações por parte do Governo Federal, passou-se a entender que a etapa da educação infantil ajuda a criança a desenvolver aspectos que serão utilizados posteriormente por 50 Anotações: ela no contexto da alfabetização. Logo, o período de 3 a 6 anos é de suma importância para a prepara- ção para as fases seguintes da educação. É válido salientar que os documentos oficiais retratam a visão que se tinha acerca da função das instituições educativas destinadas a crianças de 0 a 5 anos, em que o descaso e a desatenção dos governantes tanto para a educação infantil quanto para a criança, eram enormes. Em síntese, podemos concluir que o assis- tencialismo, sem uma proposta pedagógica ade- quada, marcou a educação infantil no século XVII, além do descaso com a criança e a infância por par- te da sociedade e das autoridades. A LDB de 1996 e a educação infantil Na terceira Lei de Diretrizes e Bases (9394/96) é preconizado, no que se refere à educação da crian- ça pequena, o mesmo retratado na Constituição de 1988, cuja visão acerca da educação infantil era dife- rente das já mencionadas, haja vista que se opunha à perspectiva assistencialista das creches, recomen- dando que estas deviam ser um lugar voltado exclu- sivamente para educação, que, conforme decretado, é um direito fundamental compartilhado entre Esta- do, família e sociedade, ao determinar: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovi- da e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno de- senvolvimento da pessoa, seu prepa- ro para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988, p.123). 51 Nesse sentido, tanto a 9394/96 quanto a Constituição de 1988 trouxeram uma refl exão so-bre o papel da creche na realidade educativa bra- sileira, que foi sensivelmente alterada pela Lei de Diretrizes e Bases, a qual, como vimos, passou a destacar a função educativa da creche, exigindo o planejamento de um currículo de atividades e tendo por dever considerar o grau de desenvolvimento da criança e os conhecimentos culturais básicos a se- rem por ela apropriados. Portanto, com a vigência da LDB nº 9.394/96, a educação infantil passou a ser considerada parte da Educação Básica, o que demonstra uma preocupação em valori- zar a primeira infância como etapa necessá- ria à educação. A divisão dos níveis e modalidades ocorre, conforme Brasil (1996), pela Educação Básica, sendo esta compreendida pela educação in- fantil, Ensino Fundamental, Ensi- no Médio e Educação Superior. A educação infantil passou, então, a fazer parte da Educação Básica, sendo valorizada e colocada como lei. Se antes as escolas volta- das a essa modalidade de ensino iniciavam suas atividades com um caráter assistencia- lista, a partir desse contexto passaram a ter uma outra característica, sendo a que de- fendemos até os dias atuais sobre a educa- ção de crianças pequenas. A referida Lei, no âmbito específi co da educação infantil, dispõe: criança e os conhecimentos culturais básicos a se- Portanto, com a vigência da LDB nº 9.394/96, a educação infantil passou a ser considerada parte da Educação Básica, o que demonstra uma preocupação em valori- zar a primeira infância como etapa necessá- níveis e modalidades ocorre, conforme Brasil (1996), pela Educação Básica, sendo esta compreendida pela educação in- fantil, Ensino Fundamental, Ensi- no Médio e Educação Superior. A educação infantil passou, então, a fazer parte da Educação Básica, sendo valorizada e colocada como lei. Se antes as escolas volta- das a essa modalidade de ensino iniciavam suas atividades com um caráter assistencia- lista, a partir desse contexto passaram a ter uma outra característica, sendo a que de- fendemos até os dias atuais sobre a educa- ção de crianças pequenas. A referida Lei, no âmbito específi co da educação infantil, 52 Anotações: Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, in- telectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Art. 30. A educação infantil será oferecida em: I – creches, ou entidades equi- valentes, para crianças de até três anos de idade; II – pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade. Art. 31. Na educação infantil, a avaliação far-se-á mediante acompa- nhamento e registro do seu desenvol- vimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Fun- damental (BRASIL, 1996, [s. p.]). Assim, dá-se um novo significado para a edu- cação voltada ao público infantil, de tal forma que o desenvolvimento da criança passa a ser integral, além da determinação que a educação seja feita em creches e pré-escolas, ocorrendo de acordo com cada faixa etária. Ademais, a Lei 9394/96 define que a nomen- clatura utilizada para esse nível de ensino fica a car- go da instituição, podendo dividir as salas de aula de educação infantil em berçário, maternal, mini maternal e jardim. Diante dessas propostas, o MEC propôs o Re- ferencial Curricular para a educação infantil, vindo como mais um documento que busca objetivar, a esse nível de ensino, uma proposta e intencionali- dade mais educativa, além de destacar sua impor- tância para a Educação Básica. 53 Anotações: O REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL DE 1996 Destacamos, da mesma maneira, que outras legislações foram de suma importância para a edu- cação infantil, como a Lei nº 11.114, de 16 de maio de 2005, que altera os artigos 6º, 30, 32 e 87 da LDB nº 9.394/96, com o objetivo de tornar obrigatório o iní- cio do Ensino Fundamental aos seis anos de idade. Também temos a Lei nº 11.274, de 06 de feve- reiro de 2006, alterando a redação dos artigos 29, 30, 32 e 87 da LDB nº 9.394/96, alterarando o Ensino Fundamental de nosso país de oito para nove anos de estudo e que, de alguma forma, estão relaciona- das à educação infantil, a qual teve sua faixa etária de atendimento modificada, em decorrência da ex- pansão dessa alteração de idade no Ensino Funda- mental. Em vista disso, a educação infantil abrange, então, crianças de 0 a 5 anos. Além das mudanças que já foram tratadas nesta unidade, no que tange à educação infantil, o Quadro 1 traz a lista de algumas outras ações por parte do Ministério da Educação voltadas para esse nível de ensino nos últimos anos. 54 Quadro 1 – AÇÕES DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MEC) PARA ED. INFANTIL Fonte: Brasil (2010) Nesse prisma, é possível observar o quanto o contexto da educação infantil melhorou no país em decorrência dos documentos oficiais. Dentre esses documentos, se destacam as Diretrizes que, para a educação infantil, foi uma parte fundamental para a educação brasileira, atualmente possuindo a responsabilidade e o compromisso com o ensino, deixando clara a importância de se ter profissio- Política Nacional de Educação Infantil (1994). Por uma política de formação do profissional de Educação Infantil (1994). Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos funda- mentais das crianças (1995). Propostas pedagógicas e currículo em Educação Infantil (1996). Subsídios para o credenciamento e funcionamento de instituições de Edu- cação Infantil (1998). Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998). Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. (Resolução CNE/ CEB n. 1/1999). Diretrizes Operacionais para a Educação Infantil (Parecer CNE/CEB n. 04/2000). Programa de Formação Inicial para Professores em Exercício na Educação Infantil – Proinfantil (iniciado em 2005). Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (2005). Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (2006). Política Nacional de Educação Infantil (2006). Revista Criança (1982). 55 Anotações:nais com formações específicas para a área. Nes- ta perspectiva, evidencia-se a necessidade de se elaborar propostas pedagógicas para a educação infantil que possam ser norteadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais. Torna-se importante ressaltar que as Diretri- zes Operacionais para a educação infantil são docu- mentos gerados pelo CNE – Conselho Nacional de Educação, que têm no seu bojo normatizar como a educação irá se portar diante do contexto de educar crianças pequenas. Elencamos alguns temas funda- mentais para esse trabalho, descritos abaixo: • Vinculação das instituições de educação infantil aos sistemas de ensino; • Proposta pedagógica e regimento escolar; • Formação de professores e outros profis- sionais para o trabalho nas instituições de educação infantil; • Espaços físicos e recursos materiais para a educação infantil. Em virtude disso, podemos perceber a impor- tância das publicações oficiais em relação à educa- ção infantil, que tem como mais recente as Diretri- zes Curriculares e a BNCC- Base Nacional Comum Curricular para a educação infantil. Com a criação e atualização desses docu- mentos, foi possível ter uma educação de qualida- de, com as propostas pedagógicas adequadas para cada faixa etária; além disso, documentos como a BNCC, por exemplo, são essenciais para guiar os profissionais da educação infantil em sua prática de ensino. Em vista disso, é essencial conhecê-los, para que possamos fazer a diferença durante a fase de desenvolvimento da criança. U ni da de 4 Videoaula 1 Videoaula 3 Videoaula 2 Videoaula 4 58 59 A Base Nacional Comum Curricu- lar (BNCC) é um documento que busca retratar e definir os direitos da Educa- ção no Brasil. Possui um caráter nor- mativo que define as aprendizagens essenciais para todos osalunos, além do que eles devem desenvolver no transcorrer das etapas e modalidades da Educação Básica. É função desse documento assegurar os direitos de aprendizagem que serão desenvolvi- dos de acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE). BASE COMUM CURRICULAR 60 Anotações: Nos documentos normativos, busca-se refe- rendar como será desenvolvida a Educação Esco- lar. Isso pode ser retratado a partir do que define o § 1° do artigo 1° da Lei de Diretrizes e Bases da Educa- ção Nacional (LDB, Lei n° 9394/96), orientada pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam a formação humana integral e a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacio- nais da Educação Básica (DCN). Nessa perspectiva, o papel da BNCC é a for- mulação dos currículos dos sistemas e das redes escolares. A proposta na íntegra da BNCC é contri- buir e alinhar políticas e ações que possam retratar como serão formados os professores, a avaliação, a elaboração de conteúdos educacionais e os cri- térios. Em síntese, é responsável por abordar o ple- no desenvolvimento da educação no Brasil e cujo alinhamento deve servir ao nível federal, estadual e municipal. A BNCC estabelece de que maneira po- derá de fato ser colocada em ação a educação no Brasil, em toda a Educação Básica. A criação desse novo documento busca supe- rar a fragmentação das políticas educacionais no Brasil, reunindo-as em um único documento e esta- belecendo critérios que levarão ao pleno aprendiza- do. Deste modo, configura-se como um documento basilar para a qualidade da educação. A BNCC bus- ca, ainda, assegurar o desenvolvimento de compe- tências gerais no âmbito pedagógico, bem como os direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Nela, as competências são definidas com a mobilização de conhecimentos e habilidades, atitu- 61 Anotações:des e valores para, dessa forma, resolver demandas complexas da vida cotidiana. Destacam-se também as competências gerais da Educação Básica, que se inter-relacionam e se desdobram no tratamento didático proposto em suas três etapas (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio), ar- ticulando-se na construção de conhecimentos, no desenvolvimento de habilidades e na formação de atitudes e valores, nos termos da LDB. A BNCC deve- rá, portanto, ter as seguintes competências gerais, conforme Brasil (2018, p. 8), elencadas a seguir: 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos his- toricamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para en- tender e explicar a realidade; continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e in- clusiva. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e re- correr à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a aná- lise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferen- tes áreas. 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mun- diais e também participar de práticas di- versificadas da produção artístico-cultural. 4. Utilizar diferentes linguagens -- verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e es- crita), corporal, visual, sonora e digital --, 62 Anotações: bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, ex- periências, ideias e sentimentos em dife- rentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e éti- ca nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhe- cimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vi- vências culturais e apropriar-se de co- nhecimentos e experiências que lhe pos- sibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas ali- nhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, ne- gociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promo- vam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com po- sicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreenden- 63 Anotações:do-se na diversidade humana e reconhe- cendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolu- ção de conflitos e a cooperação, fazendo- -se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com aco- lhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus sabe- res, identidades, culturas e potencialida- des, sem preconceitos de qualquer natu- reza. 10. Agir pessoal e coletivamente com autono- mia, responsabilidade, flexibilidade, resili- ência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democrá- ticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. Ressalta-se que a BNCC é embasada nos mar- cos legais, que reconhecem a importância de uma base comum curricular na Educação Básica. Para atender às devidas finalidades no âmbito da educa- ção escolar, a Carta Constitucional, no Artigo 210, já reconhece a necessidade de que sejam definidos conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de modo a garantir formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regio- nais (BRASIL, 1988). Com base nesses marcos constitucionais, a LDB, no Inciso IV de seu Artigo 9º, afirma que cabe à União: Estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Muni- cípios, competências e diretrizes para 64 Anotações: a educação infantil, o Ensino Funda- mental e o Ensino Médio, que norte- arão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar for- mação básica comum (BRASIL, 1988, p.12). Nesse artigo, a LDB deixa claros dois concei- tos decisivos para todo o desenvolvimento da ques- tão curricular no Brasil. O primeiro, já antecipado pela Constituição, estabelece a relação entre o que é básico-comum e o que é diverso em matéria cur- ricular: as competências e diretrizes são comuns, os currículos são diversos. O segundo se refere ao foco do currículo. Ao dizer que os conteúdos curriculares estão a serviço do desenvolvimento de competências, a LDB orien- ta a definição das aprendizagens essenciais e não apenas dos conteúdos mínimos a serem ensinados. Essas são duas noções fundamentais da BNCC. A relação entre o que é básico-comum e o que é di- verso é retomada no Artigo 26 da LDB, determinan- do que: [...] os currículos da educação infan- til, do Ensino Fundamental e do En- sino Médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada es- tabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas caracte- rísticas regionais e locais da socie- dade, da cultura, da economia e dos educandos (BRASIL, 1996, p.19). 65 Anotações:Essa orientação induziu à concepção do co- nhecimento curricular contextualizado pela reali- dade local, social e individual da escola, bem como de seu alunado, sendo o norte das diretrizes curri- culares traçadas pelo Conselho Nacional de Educa- ção (CNE) ao longo da década de 1990, como tam- bém de sua revisão nos anos 2000. Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação infantil Em 2010, o CNE decretou novas DCNs, expan- dindo e organizando o conceito de contextualização como a inclusão, a valorização dasdiferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade cultural, resgatando e respeitando as várias manifestações de cada comunidade, conforme destaca o Parecer CNE/CEB nº 7/2010. Em 2014, a Lei nº 13.005/2014 promulgou o Plano Nacional de Educação (PNE), que reitera a necessidade de: [...] estabelecer e implantar, mediante pactuação Interfederativa [União, Es- tados, Distrito Federal e Municípios], diretrizes pedagógicas para a educa- ção básica e a base nacional comum dos currículos, com direitos e obje- tivos de aprendizagem e desenvolvi- mento dos(as) alunos(as) para cada ano do Ensino Fundamental e Médio, respeitadas as diversidades regional, estadual e local (BRASIL, 2014, p.61). Nesse sentido, consoante aos marcos legais anteriores, o PNE afirma a importância de uma base 66 Anotações: nacional comum curricular para o Brasil, com o foco na aprendizagem como estratégia para fomentar a qualidade da Educação Básica em todas as etapas e modalidades (meta 7), referindo-se a direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Em 2017, com a alteração da LDB por força da Lei nº 13.415/2017, a legislação brasileira passa a utilizar, concomitantemente, duas nomenclaturas para se referir às finalidades da educação: Art. 35-A. A Base Nacional Comum Cur- ricular definirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, confor- me diretrizes do Conselho Nacional de Educação (BRASIL, 2017, p. 25). Art. 36. § 1º A organização das áreas de que trata o caput e das respectivas competências e habilidades será feita de acordo com critérios estabeleci- dos em cada sistema de ensino BRA- SIL, 2017, p.26). Desse modo, conclui-se que os documentos mencionados enfatizam o que de fato cada aluno precisa aprender e como posteriormente poderá co- locar em prática seus conhecimentos dentro do seu contexto. BNCC NA EDUCAÇÃO INFANTIL Como vimos, a partir da Constituição Federal de 1988, passou a haver a devida atenção e cuidado voltado para a educação infantil, com a criação de creches e pré-escolas no atendimento de crianças 67 Anotações:de zero a seis anos de idade. Além desse avanço, a educação também se tornou um dever legal do Es- tado. Logo após a promulgação da LDB de 1996, a educação infantil também teve um grande avanço em sua trajetória de luta, passando a ser incorpora- da na Educação Básica. Assim, esse nível de ensino começa a ter o mesmo patamar dos demais segmentos, como o Ensino Fundamental e Ensino Médio. No ano de 2006, houve a antecipação do Ensino Fundamen- tal para seis anos de idade e a Educação Infantil passou, então, a atender uma faixa etária de zero a cinco anos de idade, tornando-se obrigatória para crianças de 4 e 5 anos, a partir da emenda Constitu- cional n° 59/2009. Essa emenda determina a obrigatoriedade da Educação Básica dos 4 aos 17 anos, incluída em 2013 na LDB, consagrando plenamente a obrigato- riedade da matrícula das crianças de 4 e 5 anos nas instituições de educação infantil. Com o surgimen- to da BNCC, a educação infantil se integra ao con- junto da Educação Básica. Nesse contexto, ressaltamos que a educação infantil é considerada o início e o fundamento do processo educacional, já que é ao adentrar a cre- che ou a pré-escola que se cria uma ruptura no con- texto dos vínculos afetivos-familiares e se passa a incorporar situações de socialização estruturadas. No entanto, os vínculos afetivos não devem partir apenas da família. Nas últimas décadas, vem se perpetuando a união entre o educar e cuidar, sendo o processo do cuidado visto como indissoci- ável do processo educativo. A creche e pré-escolas deverão acolher as vivências e os conhecimentos trazidos pelas crian- 68 Anotações: ças no ambiente familiar e no contexto da comuni- dade. Deve-se articular as propostas pedagógicas, cujo objetivo seja ampliar o universo das experiên- cias infantis, bem como os conhecimentos e as ha- bilidades das crianças em todos os seus contextos. Cabe ao espaço da educação infantil am- pliar as experiências, habilidades e vivências das crianças, buscando diversificar e perpetuar novas aprendizagens, especialmente quando se trata da educação dos bebês e das crianças mais pequenas, que envolvem aprendizagens muito próximas aos dois contextos (familiar e escolar), como a sociali- zação, a autonomia e a comunicação. Nessa perspectiva, é fundamental o diálogo entre a família e a instituição escolar. A instituição deverá, ainda, estar em parceria com a família, sen- do essa relação fundamental. As diretrizes curricu- lares da educação infantil (DCNEI Resolução CNE/ CEB nº 5/2009), em seu Artigo 4º, definem a criança como sujeito histórico e de direito que, nas intera- ções, relações e práticas cotidianas vivenciadas, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, expe- rimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRA- SIL, 2009). Salientamos, além disso, que as DCNEIs, em seu Artigo 9º, definem que os eixos estruturantes das práticas pedagógicas dessa etapa da Educação Básica são as interações e a brincadeira, experi- ências nas quais as crianças podem construir e se apropriar de conhecimentos por meio de suas ações e interações com seus pares e com os adultos, o que possibilita aprendizagens, desenvolvimento e 69 socialização. Na organização da BNCC- Base Na- cional Comum Curricular, a educação infantil se dá da seguinte maneira, conforme Figura 1: FIGURA 1 — ORGANIZAÇÃO DA BNCC NA EDUCAÇÃO INFANTIL Fonte: Base Nacional Comum Curricular-BNCC, 2017. O organograma mostra os campos de apren- dizagem que as crianças devem ter acesso para o desenvolvimento de suas aprendizagens e experi- ências. A BNCC, para a educação infantil, traz um olhar voltado para as hipóteses que a criança pode- rá construir. A criança agora é vista como um ser que pes- quisa, que observa, que questiona e se apropria de conhecimentos sistematizados, construindo conhecimentos, sendo essas ações possibilitadas por meio da sua interação com o mundo físico e social. Em vista disso, existe a necessidade de se EDUCAÇÃO INFANTIL Direitos de aprendizagem e desenvolvimento Conviver Brincar Participar Explorar Explorar Conhecer-se Campos de Explorar O eu, o outro e o nós Corpo, gestos e movimentos Traços, sons, cores e formas Escuta, fala, pensamento e imaginação Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações 70 Anotações: impor intencionalidade educativa nesse processo, assim como no contexto das práticas pedagógicas, no espaço da educação infantil, na creche e no es- paço da pré-escola. O planejamento deve partir do educador, bem como a intencionalidade, a organização e proposi- ção de novas experiências, as buscas de permitir à criança conhecer a si mesma, ao outro e também de conhecer as relações travadas no contexto so- cial no qual está inserida. Dessa forma, a criança terá uma estreita re- lação com a natureza, com a cultura e com o con- texto científico, traduzindo-se, assim, em práticas dos cuidados pessoais, nas brincadeiras, nas expe- rimentações, nas aproximações e encontro com as pessoas. Portanto, ao educador cabe refletir, selecio- nar, organizar e planejar, bem como mediar e moni- torar ações garantindo a pluralidade, promovendo o desenvolvimento das crianças de forma integral. Salienta-se, ainda, que a trajetória percorrida pela criança tem que ser acompanhada sistematica- mente por seus professores. Devemos nos apoiar nos registros, relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e textos, a fim de evidenciarmos o progresso da criança. As observa- ções servem para entendermos como está aconte- cendo o progresso do aluno e para que possamos dizer se as crianças estão aptas ou não aptas, pron- tas e não prontas, maduras ou imaturas. Na verdade, é necessário reunir elementos para reorganizarmos sistematicamente o tem- po, as situações de aprendizagem,os direitos de aprendizagem de todas as crianças, bem como as situações de aprendizagem. 71 Anotações:Assim, é de extrema relevância termos ciên- cia de que os eixos estruturantes da aprendizagem e do desenvolvimento da criança na educação in- fantil são as interações e as brincadeiras que, con- forme retratamos, asseguram às crianças os direi- tos de aprendizagem: conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se. A partir disso, faz-se necessário entender como fica a organização curricular na educação infantil, estruturada em cinco campos de experi- ências. Estes se constituem no campo curricular e buscam fazer com que sejam acolhidas situações e experiências concretas da vida cotidiana das crian- ças, entrelaçando-as aos conhecimentos que fa- zem parte do contexto cultural. A Base faz referência aos Campos de Experi- ências no DCNEIs, quando fala a respeito das cre- ches e pré-escola, consolidando os direitos funda- mentais de aprendizagem: [...] a Base procura consolidar as con- quistas das Diretrizes, enfocando di- reitos fundamentais de aprendizagem e desenvolvimento, tendo em vista a equidade entre crianças brasileiras e a garantia do direito à cidadania (BRASIL, 2016, p. 57). A Base na educação infantil reflete os campos de experiências, organizando o currículo a partir das vivências da criança, de modo que leve o profissio- nal da educação a considerar os sujeitos e entender como o currículo se constitui quando se trata da aprendizagem, para melhor exercício de sua profis- são. 72 Anotações: Proposta curricular e as ações pedagógicas Uma proposta curricular que atenda aos an- seios da educação infantil é imprescindível para construção do trabalho pedagógico, devendo ser condizente com o desenvolvimento da criança. Deve, ainda, possuir um caráter coletivo, visto que pensar na educação infantil é pensar em uma pro- posta coletiva. Assim, refletir sobre a proposta pedagógica curricular para a educação infantil é pensar em um segmento em que o ato de educar é significativo. Nesse sentido, a proposta curricular é fator deter- minante na formação dos indivíduos e do conjunto de valores que irão desenhar esse cidadão. Ao organizarmos uma proposta curricular, podemos definir passos metodológicos, buscando ferramentas, métodos e técnicas que possam aten- der e contemplar uma visão mais clara do mundo, da sociedade e do ser humano. Na educação infan- til, essa metodologia deverá ser de cunho vivencial, concreto e experimental, priorizando a prática so- cial, por integrar as relações entre família e escola. Na educação infantil, a linguagem é um eixo de trabalho de suma importância para o processo de ensino-aprendizagem. Nesse contexto, deve- mos considerar as diferentes linguagens presentes nas salas de aula, pois na conjuntura do mundo con- temporâneo, é importante que o aluno seja capaz de compreender e se comunicar das mais variadas formas, sabendo usar e interpretar os mais diferen- tes tipos de linguagens, como a linguagem plástica, 73 Anotações:textual, gestual, musical, visual (imagem, cinema, dramatização), tecnológica, dentre outras. Para Libâneo (2001), um projeto pedagógico curricular se concretiza no planejamento, sendo o documento que detalha objetivos e diretrizes; ex- pressa as exigências sociais e legais e as expecta- tivas da sociedade. Podemos dizer que não se trata somente de conteúdos programáticos ou matrizes curriculares. A construção de propostas pedagógicas para essa fase de ensino e o processo de organização das experiências escolares toma por base as refe- rências legais, os conteúdos, os métodos, as for- mas organizativas, assim como a cultura da escola. No artigo 22 da LDB se afirma que: Art.22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o aluno, as- segurar-lhe a formação comum indis- pensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores (BRASIL, 1996, p.14). O desenvolvimento pleno na educação infan- til emerge pela vivência e experiência, que denota a função preparatória da educação infantil. A pro- posta dessa educação se dá, fundamentalmente, dentre tantos pré-requisitos, socializar, ou seja, descobrir as regras sociais para a vida em comum, de modo a: [...] garantir a toda criança o pleno de- senvolvimento de suas funções men- tais e a aquisição dos conhecimentos, 74 Anotações: bem como valores morais que corres- pondam ao exercício dessas funções, até a adaptação à vida social atual (PIAGET, 1973, p. 40). Nesse sentido, devemos ter claro que o currí- culo está relacionado à produção do conhecimen- to, com as escolas destinadas à educação infantil devendo buscar uma postura criadora, não apenas se pautando na transmissão de conteúdo, mas indo muito além disso, pois, nesse espaço, é imprescin- dível a preservação da cultura humana e da ética. No que se refere ao campo da ética na educação infantil, as diretrizes curriculares estabelecem que: 1 - Educar e cuidar de crianças de 0 a 6 anos supõe definir previamente para que sociedade isto será feito, e como se desenvolverão as práticas pedagó- gicas, para que as crianças e suas fa- mílias sejam incluídas em uma vida de cidadania plena. Para que isto acon- teça, é importante que as Propostas Pedagógicas de Educação Infantil tenham qualidade e definam-se a respeito dos seguintes fundamentos norteadores: a. Princípios Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade e do Respeito ao Bem Comum; b. Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania, do Exercício da Criticidade e do Respei- to à Ordem Democrática; c. Princípios Estéticos da Sensibilidade, da Criati- vidade, da Ludicidade, da Qualidade e da Diversidade de Manifestações Ar- tísticas e Culturais (BRASIL,1998, p. 9). 75 Anotações:Destacamos que é importante dar ênfase no desenvolvimento ético para a formação do cidadão, sendo necessário redefinir as bases para a constru- ção da ética desde a tenra idade, visto que, desde pe- quenos, os alunos devem ter uma perspectiva ética. Deve-se, então, recriar propostas curricula- res e pedagógicas que não visem somente o desen- volvimento cognitivo, mas que possam trabalhar também a formação da inteligência, a sensibilida- de, os valores éticos, políticos e estéticos. A pro- posta curricular parte da proposta pedagógica da escola, que tem como compromisso a assimilação do conhecimento, conforme sintetizado por Saviani (2003, p.98): [...] a escola tem uma função espe- cificamente educativa, propriamente pedagógica, ligada à questão do co- nhecimento, é preciso, pois, resgatar a importância da escola e reorganizar o trabalho educativo, levando em con- ta o problema do saber sistematizado, a partir do qual se define a especifici- dade da educação escolar. Para o autor, faz-se necessário haver organi- zação e planejamento com os planos de aula, dis- ciplinas, avaliação, recursos, métodos e técnicas a serem usadas. Nessa perspectiva, não devemos nos preocupar somente com os conteúdos. Surge, então, a necessidade de se organizar todos os es- paços da educação infantil, tais como o tempo e espaço, de forma que as crianças consigam desen- volver a interação e as brincadeiras de acordo com os eixos preconizados pela BNCC. 76 Anotações: O professor deverá buscar os conhecimentos necessários para desenvolver nas crianças as in- terações, junto ao planejamento e a rotina escolar, com uma organização que atenda aos diferentes aprendizados. A LDB, em seu artigo 1 e 2 da LDB, afirma que: Art.1 A educação abrange os proces- sos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência huma- na; Art. 2º A educação dever da família e do estado [...] tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cida- dania e sua qualificação para o traba- lho (BRASIL, 2017, p. 8). Nesse sentido, é pressuposto nos documentos a correlação entre família e
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