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1 [CIRURGIA] – ABDOME AGUDO ISQUÊMICO | ANNA CLARA FARIA Abdome agudo isquêmico INTRODUÇÃO Isquemia intestinal que pode acometer tanto o intestino delgado quanto o intestino grosso, causada por qualquer processo que diminua o fluxo sanguíneo intestinal, como oclusão arterial, oclusão venosa ou vasoespasmo arterial. CLASSIFICAÇÕES QUANTO À LOCALIZAÇÃO Isquemia mesentérica: acomete o intestino delgado. Isquemia colônica: acomete o intestino grosso. QUANTO AO TEMPO DE EVOLUÇÃO Isquemia mesentérica aguda: início súbito de hipoperfusão do intestino delgado. Isquemia mesentérica crônica: geralmente, desenvolve-se em pacientes com aterosclerose mesentérica, causando sintomas crônicos de hipoperfusão intestinal, comumente relacionados à alimentação. QUANTO AO SEGMENTO VASCULAR ACOMETIVO Oclusão arterial: embolia ou trombose e afeta mais comumente a artéria mesentéria superior. Oclusão venosa: obstrução da via de saída do intestino, incluindo as veias mesentéricas superior e inferior e as veias esplênica e porta. ETIOLOGIAS ISQUEMIA COLÔNICA Forma mais frequente (+50% dos casos) A principal causa é não oclusiva (redução súbita e transitória do fluxo sanguíneo) Regiões mais acometidas: flexura esplênica e junção retossigmoide Fatores de risco: >65 anos, DM, IAM, hemodiálide, cirurgia de ruptura de aneurisma de aorta, realização de exercícios extremos, uso de digitálicos, arritimia cardíaca, DPOC Manifestação clínica: dor abdominal em cólica, na maioria das vezes do lado esquerdo, associada à diarreia sanguinolenta, hematoquezia e febre Diagnóstico: colonoscopia (achados: mucosa pálida e hemorrágica, nódulos hemorrágicos azulados e transição abrupta entre mucosa lesada e normal) Tratamento: medidas de suporte - Realizar cirurgia (laparatomia exploradora) se falha no tratamento conservador ou evidência clínica de isquemia de toda a espessura da parede colônica ISQUEMIA MESENTÉRICA AGUDA Início súbito de hipoperfusão do intestino delgado, que pode ser devido à redução ou à interrupção do fluxo arterial. Causas: embolia arterial mesentérica, trombose arterial mesentérica e trombose venosa mesentérica. EMBOLIA ARTERIAL MESENTÉRICA Principal causa. Oclusão da artéria mesentérica superior na ausência de estenose pré existente devido à falta de circulação colateral Manifestação clínica: dor abdominal desproporcional ao exame físico (intensa, súbita e periumbilical). Laboratório: leucocitose com desvio à esquerda, hematócrito elevado, acidose metabólica, aumento do lactato 2 [CIRURGIA] – ABDOME AGUDO ISQUÊMICO | ANNA CLARA FARIA Imagem: angiotomografia é o exame de escolha (achados: falha de enchimento abrupto e arredondado em segmento arterial não calcificado e pneumatose intestinal e gás no sistema portal) Tratamento: medidas de suporte + anticoagulação sistêmica (heparina não fracionada) + revascularização mesentérica (embolectomia cirúrgica aberta) TROMBOSE ARTERIAL MESENTÉRICA Estenose pré-existente devido à placa aterosclerótica. Fatores de risco: idade >60 anos, histórico de tabagismo, diabetes, hiperlipidemia, angina Manifestação clínica: dor abdominal de forte intensidade desproporcional ao exame físico Laboratório: semelhante à isquemia por embolia arterial Imagem: angiotomografia é o exame inicial de escolha (achados: falha de enchimento em segmento arterial calcificado na origem da artéria mesentérica superior e/ou tronco celíaco e presença de circulação colateral) Tratamento: medidas de suporte + anticoagulação sistêmica (heparina não fracionada) + revascularização mesentérica (trombólise e angioplastia com colocação de Stent, by-pass mesentéric) ou laparatomia exploradora TROMBOSE VENOSA MESENTÉRICA Epidemiologia: Principal causa de isquemia aguda do intestino delgado em pacientes mais jovens, sem doença cardiovascular Fisiopatologia: Tríade de Virchow: estagnação do fluxo sanguíneo, lesão vascular e hipercoagulabilidade Local mais comum: Quase sempre envolve o delgado e raramente o cólon – veia mesentérica superior/esplênica/porta Fatores de risco: História pessoal ou familiar de tromboembolismo venoso (50% dos pacientes), trombofilia adquirida/ estados hipercoaguláveis, trombofilias hereditárias (ex.: mutação do fator V de Leiden, deficiência de proteína S e C), processos inflamatórios intra-abdominais (ex.: pancreatite, diverticulite), hipertensão portal e cirrose, massa abdominal (compressão venosa) Quadro clínico: A dor da trombose venosa geralmente é mais opaca e o início costuma ser menos súbito do outras formas de isquemia mesentérica (a duração dos sintomas varia de 5 a 14 dias). - Forma crônica: assintomática ou complicações de hipertensão portal (sangramento de varizes esofágicas e gástricas ou ascite) Diagnóstico: Angiotomografia (fase venosa tardia): exame inicial de escolha. - Achados: Defeitos de enchimento venoso ou ausência de fluxo nas veias mesentéricas durante a fase venosa; Refluxo de contraste para o sistema arterial; Importante espessamento da parede intestinal (mais evidente do que na isquemia arterial); Tratamento: Medidas de suporte: jejum, hidratação, antibioticoterapia, correção dos distúrbios metabólicos, ANTICOAGULAÇÃO PLENA com heparina não fracionada (minimizar a propagação do trombo e permitir a recanalização). - Tratamento cirúrgico: falha com o tratamento conservador, sinais clínicos e/ou radiológicos de isquemia avançada. - Manter anticoagulante oral por 3-6 meses e a longo prazo para trombofilias hereditárias que devem ser pesquisadas (testes de hipercoagulabilidade). ISQUEMIA MESENTÉRICA NÃO OCLUSIVA Fisiopatologia: Vasoconstrição arterial, geralmente dos ramos da artéria mesentérica superior. Mecanismo fisiológico para manter o fluxo sanguíneos dos órgãos nobres, como o coração e o cérebro. Fatores de risco: Insuficiência cardíaca / choque cardiogênico; Administração de medicamentos vasoconstritores (por exemplo, digoxina , agonistas alfa-adrenérgicos); Abuso de cocaína; Circulação extracorpórea recente; Insuficiência renal crônica / diálise; Queimaduras graves (hipovolemia / choque associado) Quadro clínico: Pacientes graves: hipotensos, intubados e sedados. A dor abdominal pode ser mais branda e poder haver um discreta distensão 3 [CIRURGIA] – ABDOME AGUDO ISQUÊMICO | ANNA CLARA FARIA abdominal com ausência de sinais de peritonite inicialmente. Diagnóstico: ARTERIOGRAFIA MESENTÉRICA SELETIVA (achados: estreitamento segmentar ou espasmo das arteriais mesentéricas principais com aparência de “cordão de contas”, fluxo diminuído ou ausente nos vasos menores e ausência de "blush" submucoso) Tratamento: Medidas de suporte + retirar medicamentos vasoconstritores + tratar a causa do choque - Infusão intra-arterial de vasodilatadores como a papaverina. - Repetir arteriografia após 24 horas. - Tratamento cirúrgico: falha com o tratamento conservador, sinais clínicos e/ou radiológicos de isquemia avançada. ISQUEMIA MESENTÉRICA CRÔNICA Hipoperfusão do intestino delgado Local mais comum: Origem da artéria mesentérica superior e/ou tronco celíaco Fisiopatologia: Estreitamento aterosclerótico das origens da artéria mesentérica superior ou do tronco celíaco Fatores de risco: Fatores de risco para aterosclerose: tabagismo, diabetes, hipertensão, dislipidemia Quadro clínico: dor abdominal em cólica em região epigástrica/mesogástrica após ingesta alimentar, medo de comer, perda de peso e sopro epigástrico Diagnóstico: Angiotomografia: exame inicial de escolha. estenose proximal de alto grau em pelo menos dois vasos principais (tronco celíaco, artéria mesentérica superior ou inferior) e extensa rede de colaterais. - Arteriografia: exame padrão-ouro - USG Doppler: rastreio e acompanhamentopós- revascularização Tratamento: • Avaliação e suporte nutricional. • Prevenir progressão da doença aterosclerótica: terapia antiplaquetária, tratamento da hipercolesterolemia, hipertensão, diabetes e cessação do tabagismo. • Revascularização endovascular: angioplastia, com ou sem a colocação de stent. Atualmente é o tratamento de escolha, principalmente em pacientes de alto risco cirúrgico, mas tem maior taxa de re-estenose. • Revascularização aberta (< re-estenose): Bypass aortomesentérico e/ou celíaco com enxerto venoso ou PTFE, endarterectomia e reimplante mesentérico.
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