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A TERAPIA FAMILIAR: NA SOLUÇÔES DE CONFLITOS. Por Claúdio Porto INTRODUÇÃO Para Cordioli (2009), a participação da família de origem (pais, irmãos, avós, outras figuras significativas) é uma busca para o entendimento de como se dá a transmissão dos valores e mitos familiares e, por meio dela, busca-se o fortalecimento dos laços emocionais e familiares, bem como facilitar a solução e conflitos. Com a terapia familiar é possível trabalhar delicados conflitos, no intuito de ter uma convivência mais saudável. A terapia de familiar é uma forma de trabalho em nosso meio, embora já adotada há mais ou menos 30 anos na América do Norte e Europa. Ela é nova como proposta de atender ao mesmo tempo: pais, filhos e até avós e tios, e, se necessário, até mesmo grupo de vizinhança e escola (speck e attneave 1976). A razão de se incluir toda a família no tratamento de problemas de ajustamento baseia-se no fato de que o que ocorre num indivíduo que vive numa família não decorre apenas de condições internas a ele, mas também de um intenso intercâmbio com o contexto mais amplo no qual está inserido. Ele não só recebe o impacto desse ambiente como atua sobre ele, influenciando-o. Nesse enfoque, o terreno da patologia, como diz Minuchin ( 1982), é a família. Neste sentido, é importante que o casal possua uma forte aliança e saiba lidar com os filhos na questão de autoridade. Contudo, mais do que isso, a família como um todo precisa saber lidar com conflitos, além de ter uma cultura de colaboração mútua que satisfaça a todos. Isso porque, quando existem conflitos não resolvidos, é muito provável que haja um distanciamento emocional da família, acarretando em uma disfunção psicológica tanto dos pais quanto dos filhos. Porém a falta de comunicação, que comumente é o fato gerador desses conflitos, somando à dificuldade de solucionar os problemas familiares, pode acarretar em diversos fatores negativos tanto para o relacionamento amoroso dos pais como para a criação dos filhos. Isto não é algo que nenhuma família busca, Os relacionamentos humanos são geridos por duas forças que podem trazer equilíbrio a suas relações: individualidade e proximidade. Ambas são necessárias e o que pode se tornar um problema é a tendência em manter-se na busca de um dos extremos (Nichols E Schwartz, 2007). É na família que as crianças podem experimentar tanto a proximidade ou pertencimento, quanto a individualidade ou diferenciação. Pertencer significa participar, saber-se membro dessa família, partilhar as suas crenças - armação individuação e ao seu direito de pensar e expressar-se independentemente dos valores defendidos por sua família (MARTINS; RABINOVICH; SILVA, 2008). DESENVOLVIMENTO Relações pessoais nem sempre são fáceis de serem mantidas, seja no trabalho ou no nosso meio social. E, quando a relação com as pessoas que formam parte de nossa família esta abalada, como reatar esse laço? Por meio da terapia familiar é possível trabalhar delicados conflitos, no intuito de ter uma boa convivência mais saudável para todos. A vida familiar é diferenciada por fatores sociais, religiosos, culturais e afetivos, mas sua estrutura é fundamental no desenvolvimento do ser humano. A família é composta por pessoas que possuem uma relação emotiva, tendo ou não ligação biológica entre si, formando o primeiro grupo do qual o indivíduo fará parte em sua vida. A visualização dos vínculos familiares evidenciada pelo genograma possibilita perceber também onde estão localizados os triângulos relacionais. Na perspectiva boweniana, há formação de um triângulo relacional quando a tensão entre duas pessoas é intensa e busca-se uma terceira pessoa para alívio dessa tensão, o que, por consequência, afasta os indivíduos do enfrentamento do problema original. A triangulação é uma das formas para dissipar a tensão entre casais quando em conflito conjugal: transfere-se essa tensão para um dos filhos que, geralmente, apresentará algum sintoma. (Martins, Rabinovich e Silva, 2008, p. 182) De certa forma, a figura do terapeuta também compõe triângulo relacional por se configurar como um terceiro a quem se leva a queixa e a quem os clientes tenderão a buscar como aliado em seus conflitos. Por isso, como prática boweniana, os terapeutas se esforçam para controlar a própria reatividade e evitar a triangulação. (NICHOLS e SCHWARTZ, 2007) Por outro lado, a presença do terapeuta como terceira pessoa neutra e objetiva, pode ter função de atenuar a energia emocional de uma relação conflituosa. Buscando incentivar que cada indivíduo abandone a tendência de culpar o outro e que passe a refletir sobre seu papel nas relações interpessoais, o profissional pode formar um triângulo terapêutico que promova a destriangulação relacional. A mudança de apenas um triângulo familiar pode ter efeito terapêutico sobre todos os demais sistemas a que estão ligados (NICHOLS e SCHWARTZ, 2007). Terapia familiar tem como objetivo: Promover o autoconhecimento em nível individual e familiar; no compreender a importância do diálogo e do respeito ao outro; no reconhecimento dos padrões que geram os comportamentos, melhorando a comunicação e as relações entre os membros da família e o papel de cada indivíduo no bom funcionamento da dinâmica familiar, tendo em vista aumentar a responsabilidade pessoal e favorecer mudanças construtivas de forma a harmonizar o ambiente familiar. Quando uma família precisa da ajuda de um psicólogo? Quando a família não possui uma direção clara para solucionar seus problemas, dizemos que está em conflito. Ou seja, há uma situação de tensão que causa pressão em todos os indivíduos e é preciso realizar ajustes a fim de estabilizar a dinâmica familiar. O psicólogo atua justamente neste ponto: equilíbrio da dinâmica familiar através da terapia. Existem diversos fatores que podem levar uma família a precisar e buscar a ajuda de um psicólogo. Normalmente há essa necessidade quando acontece um evento preocupante ou quando não é possível ter uma relação harmoniosa. Incapazes de lidar sozinhas com seus problemas, as pessoas tendem em tardar muito a procurar esse auxílio e, muitas vezes, a situação já está fora de controle provocando um sofrimento muito grande. Além da dificuldade nas relações, outro motivo para a realização da terapia familiar é quando há um membro passando por algum transtorno, como depressão, dependência química ou alcoolismo. Esses problemas podem interferir muito na estrutura familiar e a psicoterapia em família pode ser de grande ajuda. O contrário também acontece, quando esses transtornos emocionais ou comportamentais surgem como alerta de que há a necessidade de alguma intervenção na família. A conclusão é de que a família pode contribuir fortemente tanto para o surgimento como para o tratamento de um transtorno. Independente do motivo é fundamental que os familiares estejam conscientes de que necessitam de ajuda para enfrentar seus problemas e, principalmente estarem abertos às mudanças propostas. Como funciona a terapia familiar? O que se pretende com o atendimento psicoterapêutico familiar é auxiliar na resolução dos problemas, analisando a relação entre os componentes da família, os papéis desempenhados por estes, a contribuição de cada um nos conflitos que marcam a convivência. A terapia familiar parte do pressuposto de que a família é um sistema e, com isso, a mudança que acontece em um de seus membros interfere no todo. O papel do psicólogo nesse processo é de promover situações favoráveis a mudanças, por meio de um diálogo claro e aberto. Como cada família tem suas particularidades, a terapia é conduzida de forma personalizada, porém, seu funcionamento é similar. A dinâmica consiste em reunir os membros da família que irão retratara sua convivência, abrindo espaço para que todos abordem suas sensações, conhecendo assim as experiências um do outro. Com essas informações sobre o contexto atual da família, somadas ao histórico, é possível determinar em conjunto quais as mudanças necessárias para alcançar o que se deseja. Durante o processo terapêutico são levantados os problemas visíveis pela família, mas também podem ser percebidos alguns problemas mascarados e de grande importância para a resolução dos conflitos. De acordo com cada caso, há a possibilidade de serem realizadas sessões separadas com determinados integrantes da família, como por exemplo, somente os pais ou apenas os filhos. Não há um prazo determinado para a finalização da terapia, tudo dependerá do que se pretende solucionar e do andamento das sessões. É importante ressaltar que a intenção não é de apontar culpados ou de julgar alguém, mas sim de realizar um comum esforço para encontrar a melhor forma de solucionar os problemas familiares. Deve-se ter em conta que cada um é responsável por essa melhoria e que o sucesso do progresso terapêutico apenas se dará com a adesão de todos os envolvidos. A razão de se incluir toda a família no tratamento de problemas de ajustamento baseia-se no fato de que o que ocorre num indivíduo que vive numa família não decorre apenas de condições internas a ele, mas também de um intenso intercâmbio com o contexto mais amplo no qual está inserido. Quais são as principais causas de um conflito em família? Como podemos solucionar um problema entre irmãos? E se existe uma pessoa idosa na questão? Estas questões costumam aparecer em muitas ocasiões quando tratamos de resolver um problema de família. Para poder abordá-lo corretamente, podemos analisar estes exemplos de conflitos mais comuns na família: Problemas entre irmãos: Quando se tem mais que um filho, é provável que os irmãos discutam em mais do que uma ocasião, quer seja por ciúme, inveja ou problemas pessoais. Para poder abordar um problema entre irmãos, podemos propiciar o diálogo e a comunicação assertiva entre eles. Problemas no relacionamento: Os problemas em casal podem ocorrer em qualquer fase de uma relação: quer seja no início ou no momento em que decidem formar uma família. Por isso, é fundamental cuidar das dinâmicas em casal para evitar que se desgastem. Conflitos por dinheiro: Os problemas econômicos costumam estar na ordem do dia. Embora os mais pequenos não costumem participar nesse tipo de disputas, muitas das suas dinâmicas e atividades estão envolvidas. Quando falamos de conflitos familiares econômicos, falamos de uma situação muito tensa, já que é complicado adequar o papel que tomamos em relação aos nossos seres queridos quando existe dinheiro pelo meio. Problemas familiares por saúde: Os problemas de saúde na família costumam ser os mais complicados de questionar emocionalmente, uma vez que existem dois tipos de conflitos associados a saúde: Em primeiro lugar, o fato de ter uma pessoa com problemas de saúde que exige cuidados implica uma demanda alta de atenção, tempo, dedicação e esforço. Em segundo lugar, o fato de um ser querido estar em em um estado negativo de saúde afeta severamente o nosso humor e pode provocar situações de tensão derivadas dos nossos sentimentos de tristeza e preocupação. Como resolver conflitos familiares? Por fim, se você se encontra em alguma das situações que mencionei ao longo desse artigo, deve tomar nota das soluções para mediação de conflitos familiares que vamos oferecer em seguida. Conflitos familiares: o que fazer? Dependendo do tipo de problema que existe na sua família, você deve seguir determinados conselhos ou outros. Contudo, todos eles compartilham a paciência, inteligência emocional e a comunicação assertiva. Se o problema reside nas lutas entre irmãos, como comentado anteriormente, é importante propiciar um ambiente no qual, ambos se possam expressar sem medo, evitando os estilos comunicativos pouco eficazes (passividade e agressividade). No caso dos problemas em casal, é imprescindível trabalhar as dinâmicas e evitar que os conflitos passem a intoxicar as pessoas que não estão relacionadas com o problema inicial. Por isso recomendo aprender a conviver em casal durante um tempo de prova antes de formar uma família. Se o problema familiar tem a saúde como foco, é conveniente que seja mais do que uma pessoa que se encarrega de gerir as necessidades da pessoa doente. Caso contrário, o bem-estar mental desse membro da família pode ser afetado negativamente. Considerações finais Concluindo este artigo sobre conflitos familiares, com ênfase em alguns exemplos e com alguns passos muito simples úteis para resolver qualquer tipo de conflito, de qualquer natureza ou gravidade: como Escutar: é difícil solucionar um problema se uma pessoa não entende o que acontece ao outro membro da família. Falar: a comunicação assertiva está baseada em falar abertamente sobre como nos sentimos sem ferir as emoções dos outros. Esse passo é fundamental para solucionar problemas em família. Participar: recorde que a sua família pode implicar um ponto de apoio muito importante na sua vida, participe na solução de problemas para poder facilitar que tudo se resolva. Mostrar afeto: embora não exista nenhum conflito, dizer aos seus pais, avós ou irmãos o quanto você ama eles pode ajudar na aproximação e na fomentação do afeto em família. Sendo assim, a terapia familiar e sua metodologia se mostram como uma ferramenta eficaz para aliviar os sofrimentos e para auxiliar as famílias no aprendizado de terem padrões mais funcionais e saudáveis e, consequentemente, mais felizes. Ainda observado as transformações nas famílias contemporâneas e verificando que são necessários mais estudos que possibilitem produção e aprofundamento de conhecimento para que tais fenômenos sejam melhor entendidos pelos profissionais a fim de podem apresentar às famílias caminhos para lidar com suas questões. Essa necessidade se deve ao fato de que têm surgido novos tipos de conflitos relacionais (em nível conjugal, parental e filial) a partir dos novos modelos de relacionamentos. O impacto pode ser considerado maior, pois tais mudanças na estrutura familiar são consideradas paradigmáticas em nossa sociedade. Bibliografia BOSCOLO Luigi; CECCHIN Gianfranco; HOFFMAN Lynn; PENN Peggy; A Terapia Familiar Sistêmica de Milão. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 1993. BOSZORMEMYI-NAGY, Ivan; SPARK, Geraldine M. Lealtades Invisibles: Reciprocidad en terapia familiar intergeneracional. Buenos Aires: Amorrortu, 2003. BOWEN, Murray. Terapia Familiar na Prática Clínica. Bíb. de Psic. Descleé de Brourr. 1989. BUCHER, J. S. N. O casal e a família sob novas formas de interação. In Fères- Carneiro (Org.), Casal e Família. Entre a tradição e a transformação (pp. 82-95). Rio de Janeiro: Nau Editora, 1999. CALIL, Vera L. Terapia familiar e de casal. São Paulo: Summus, 1987. CARTER, Betty; McGOLDRICK Monica, M. As Mudanças no Ciclo de Vida Familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. 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