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TERAPIAS ALTERNATIVAS EM ESTÉTICA Caroline de Araujo Barroco Conceito e princípios da acupuntura Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer o surgimento da acupuntura. � Identificar os princípios da acupuntura. � Relacionar a acupuntura com os meridianos. Introdução A história da medicina tradicional chinesa está vinculada ao raciocínio chinês e, consequentemente, à cultura oriental. Suas teorias básicas es- tão intimamente vinculadas à gênese da acupuntura, assim como seus conceitos e princípios. A difusão da medicina oriental para o ocidente foi de suma importância. A Organização Mundial da Saúde já a reconhece e, no Brasil, a prática de acupuntura integrou-se ao SUS como uma das terapias complementares. Neste capítulo, você vai conhecer a origem da acupuntura, sua his- tória na China e sua posterior expansão para o Ocidente; vai entender o conceito de acupuntura e explorar a relação entre a aplicação desta técnica com os meridianos energéticos principais. Origem da acupuntura A medicina tradicional chinesa é muito antiga. Seus primórdios estão relacio- nados com a medicina primitiva do Oriente, iniciada no período pré-histórico a partir do instinto de preservação da espécie, acumulando, transmitindo e aprimorando experiências ao longo dos anos. A acupuntura foi praticada na China vários séculos antes de Cristo e até hoje faz parte da medicina orien- tal, sendo um dos mais importantes conjuntos de técnicas. Sugere-se que a medicina oriental tenha iniciado há cerca de 5 mil anos, mas, entre diferentes autores, há algumas variações em relação a esta estimativa, pois são poucos os registros históricos e documentais preservados. O desenvolvimento e a prática da acupuntura foram intensos no Oriente. Nos últimos séculos, ela passou a ganhar espaço no Ocidente, compondo as terapias complementares que agem de forma preventiva e curativa na medicina, além de possuírem aplicações estéticas. História da acupuntura na China A medicina primitiva pré-histórica desenvolveu-se em várias regiões da China a partir de inúmeras vivências, sendo transmitida informalmente ao longo dos anos, de geração em geração, acumulando e aprimorando essas infor- mações. Há um acervo de registros chineses citando imperadores lendários que participaram não apenas da evolução da cultura oriental, mas também da consolidação das bases da sua medicina. Ao imperador lendário Fuxi, atribui-se a descoberta do fogo e a construção da base do I Ching, ou “Livro das Mutações”. Este é um texto clássico chinês, composto de contribuições sobrepostas ao longo do tempo. Foi utilizado como oráculo, pois interpreta simbolicamente toda a natureza e suas transformações, considerando que todos os fenômenos do universo dependem dos dois polos Yin e Yang e seus estágios intermediários. Nele, temos a referência mais antiga a essa teoria fundamental da cultura e medicina chinesa, justamente a teoria Yin e Yang. Shen Nong foi outro imperador lendário, a quem se atribuiu a criação da agricultura e a utilização das plantas com fins medicinais. “O Herbário Clássico”, de Shen Nong é o texto mais antigo relacionado a esse assunto. Também é conhecido como Shen Nong Ben Cao Jing. A primeira obra expondo a medicina tradicional chinesa de forma integral foi Huangdi Nei Jing (“O Clássico de Medicina Interna do Imperador Ama- relo”). A experiência clínica é apresentada no texto por meio de perguntas e respostas do Imperador Amarelo (imperador chinês da época) para seus ministros (médicos), abordando fisiologia, patologia, como manter a saúde evitando a doença e técnicas da acupuntura. Conceito e princípios da acupuntura2 Durante a dinastia Zhou, Qin e Han (1122 a.C. a 264 d.C.), as práticas foram testadas e sistematizadas, expandindo e detalhando os conceitos de patologia e princípios de tratamento, elaborando a um sistema médico completo. Surgiram grandes clássicos, como Nan Jing e Shang HanLun (“Tratado das Doenças Febris”). Nas Dinastias Jin e Sui (265 a 617 d.C.), a medicina foi presenteada com a obra mais relevante em relação à Pul- sologia (técnica de avaliação do pulso durante anamnese oriental). Mai Jing. o clássico da acupuntura e da moxabustão também foi escrito nesta época, por Huangfu Mi. Durante a dinastia Tang (618 a 951 d.C.), surgiram muitos textos médicos. Wai Tai Mi Yao, também conhecido como “Segredos Médicos de um Oficial”, é uma obra escrita por Wang Tao, que se destaca por sua particular importância para a prática clínica de acupuntura. A grande difusão do conhecimento médico ocorreu na dinastia Song (952 a 1278 d.C.) com a impressão e propagação de textos da área. A medicina chinesa avançou até o império Mongol, nas dinastias Jin e Yuan (1115 a 1367 d.C.). Nessa época, foram desenvolvidas algumas grandes obras, como Shi Si JingFaHui (“Exposição dos Quatorze Canais”), NanJing Ben Yi (“O Real Significado do Clássico das Dificuldades”) e Zhen Jia Shu Yao (“O Essencial para os Clínicos”). Os grandes textos da dinastia Ming (1368 a 1661 d.C.) são Lei Jing, (“Com- pilação Sistemática do Clássico de Medicina Interna do Imperador Amarelo”), por Zhang Jiebin, e ZhenJiu Ju Ying; (“A Essência da Acupuntura e da Moxa- bustão”, pelo autor Gao Wu. Já na dinastia seguinte (Qing, de 1662 a 1871 d.C.), algumas escolas de medicina tradicional começaram a entrar em contradição. Simultaneamente, a medicina ocidental começou a ter aceitação nas classes altas da população do país. No Quadro 1, apresentamos um resumo das principais obras históricas da medicina tradicional da China. 3Conceito e princípios da acupuntura Obra Conteúdo I Ching ou “Livro das Mutações” Apresenta simbolicamente todos os fenômenos e suas transformações por meio dos polos Yin e Yang e seus estágios intermediários. Huangdi Nei Jing ou “O Clássico de Medicina Interna do Imperador Amarelo” É a primeira exposição completa da medicina tradicional chinesa. Shen Nong Ben Cao Jing ou “O Herbário Clássico” de Shen Nong Apresenta as primeiras utilizações de plantas para fins medicinais. Nan Jing Expande os conceitos de patologia e traz detalhadamente os princípios de tratamentos. Shang Han Za Bing Lun ou “O Tratado das Doenças Causadas pelo Ataque do Frio e Doenças Diversas” Descreve etiologia, princípios e métodos de tratamento das doenças febris entre outras. Quadro 1. Principais obras históricas da medicina tradicional chinesa Ao longo dos anos, a medicina tradicional chinesa foi enriquecendo com grandes médicos e obras ilustres. Sua difusão pelo mundo aumentou expo- nencialmente. Após a revolução de 1911 e a fundação da República da China, por sua vez, também a influência ocidental no Oriente cresceu. Hoje, ambas linhas da medicina operam juntas numa política oficial de união da medicina chinesa e da medicina ocidental. Acupuntura no Brasil Imigrantes orientais começaram a exercer a acupuntura no Brasil no final do século XIX, como prática voltada aos próprios estrangeiros. A introdução oficial da medicina oriental no Brasil foi obra do professor Frederico Spaeth, no início da década de 1950. Logo apareceu o primeiro curso de formação e, em 1961, foi fundado o Instituto Brasileiro de Acupuntura, a primeira clínica institucional de acupuntura do país. Nessa época, a medicina chinesa passou a Conceito e princípios da acupuntura4 ser bastante divulgada no Ocidente. Em 1972, James Reston, jornalista ameri- cano do jornal The New York Times, esteve na China junto com o presidente dos Estado Unidos, Richard Nixon, e reportou sua experiência pessoal com analgesia feita por técnicas de acupuntura. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que a medicina tradi- cional chinesa foi desenvolvida há mais de 2.000 anos, possuindo visão própria sobre a fisiologia do ser humano e seu processo de adoecimento (patologia). Suas principais características são a abordagem e o cuidado integrais e di- nâmicos doindivíduo. Ela desenvolveu seu próprio conjunto de teorias que embasam o raciocínio médico, como Yin e Yang, cinco elementos, sistema de meridianos, Qi e energia vital. O diagnóstico energético é elaborado a partir das ferramentas de anamnese oriental, identificando possíveis desequilíbrios orgânicos, emocionais, mentais e energéticos. Assim, o diagnóstico energético não tem relação direta com o diagnóstico ocidental, o que faz com que a aplicação da acupuntura se caracterize como terapia complementar. Podem exercer esta prática, em todo o mundo, profissionais habilitados com diversos níveis de formação: curso técnico em acupuntura. graduação em acupuntura (nível superior) e especialização para profissionais de saúde (para graduados em outros cursos). O nível de especialização é o mais comum. A OMS apresentou um documento intitulado “Estratégia da OMS sobre Medicina Tradicional 2002-2005” (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002), com o objetivo de estimular a aplicação da medicina chinesa, obser- vando os requisitos de segurança, eficácia, qualidade, uso racional e acesso por parte da população beneficiada. Em 1999, a prática da acupuntura foi adicionada à tabela do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA/SUS) por meio da Portaria nº 1230/GM (BRA- SIL, 1999). O Ministério da Saúde contribuiu com a difusão da acupuntura quando, em 2006, aprovou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Com- plementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2006). A medicina tradicional chinesa é reconhecida como um sistema médico complexo e que pode ser empregado de forma exclusiva ou combinada com outros recursos terapêuticos. Ela pode participar em ações preventivas ou em processos de recuperação, sempre promovendo saúde. Vale frisar que, além da acupuntura, há muitos outros recursos terapêuticos oferecidos pela medicina oriental, como dietoterapia, fitoterapia, práticas corporais e mentais, terapias manuais. 5Conceito e princípios da acupuntura A acupuntura e a moxabustão da medicina tradicional chinesa foram declarados pela Unesco, em 2010, como patrimônio cultural intangível da humanidade (ACUPUNTURE..., [2010?], documento on-line). Os princípios da acupuntura A admirável capacidade de observar fenômenos da natureza e de perceber o ser humano como parte dela é a vertente dos princípios da medicina chinesa. As teorias básicas desenvolvidas são extremamente antigas mas se encaixam perfeitamente na atualidade, possuem grande capacidade de síntese e relacio- nam fenômenos que, aos olhos ocidentais, não teriam vínculo algum. A prática da medicina oriental é composta por diversas técnicas, que se originaram em diferentes regiões da China e evoluíram paralelamente. A vertente cultural da medicina é o raciocínio chinês, que estabelece as bases teóricas comuns a todas as formas de tratamento desenvolvidas. Esta riqueza de ramificações amplia as opções terapêuticas. Raciocínio chinês “O Tao originou-se do Vazio e o Vazio produziu o Universo. O Universo produziu o Qi. O que era leve e limpo levantou-se para tornar-se o Céu, e o que era pesado e turvo solidificou-se para formar a Terra” (HuiaNanZi) (Dinastia Han, 122 a.C.). Os alicerces da medicina oriental foram delineados a partir desta ideia central, que é a base do pensamento chinês. A frase de Huia Nan Zi resume o berço das teorias básicas chinesas, apontando que Tao, a força criadora, gerou o Universo, que produziu o Qi, energia presente em toda natureza. O Qi dissociou-se em denso (Terra) e sutil (Céu), ou Yin e Yang. A partir da teoria Yin e Yang, o entendimento chinês foi se moldando e novas teorias foram desenvolvidas, algumas com a características de alta abrangência de fenômenos, como a dos Cinco Elementos e outras, restritas à área médica, como Zang Fu, conhecida como Teoria dos Órgãos Internos. A acupuntura considera primordial a relação entre energia e matéria para o delineamento da terapêutica. O grande objetivo do organismo na busca de se manter saudável é estar equilibrado e esse também é o objetivo do terapeuta ao avaliar, escolher e aplicar as técnicas. Conceito e princípios da acupuntura6 Para que a vida aconteça e se mantenha, são necessários os três tesouros: Shen, Jing e Qi. É a união entre: a consciência organizadora, mente ou espírito (Shen); a estrutura orgânica de vida, ou essência (Jing) e o dinamismo dos processos biológicos (Qi) para que a vida equilibrada se estabeleça. Podemos estabelecer uma breve analogia com o conceito da OMS: “Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não, simplesmente, a ausência de doenças ou enfermidades”. A medicina oriental, desde os primórdios, percebe que não é apenas a presença ou ausência de patologia que confere vitalidade a um indivíduo e sim, o conjunto dos tesouros, atuando de forma sinérgica e equilibrada. Conceito e gênese O que conhecemos como medicina tradicional chinesa é um conjunto de téc- nicas. A mais difundida, a o ponto de por vezes ser entendida como sinônimo de medicina chinesa, é a acupuntura. Trata-se da prática médica de inserção de agulhas na pele para promover a saúde. Originou-se de forma terapêutica nas planícies do sul da China, utilizando pontos em regiões pré-determinadas do corpo para aplicação de agulhas. Nos primórdios, era praticada com agulhas de pedras lascadas, carapaças lascadas (cascos de tartaruga ou cágado), bambu (vegetal) e bronze. Atualmente, as agulhas utilizadas na medicina são de aço, com diferentes tamanhos e, devido às normas de biossegurança, são de uso único (descartáveis). Acupuntura é um ramo da medicina tradicional chinesa que realiza inserção de agulhas em pontos específicos da superfície da pele com fins terapêuticos. Outro ramo da medicina chinesa é a fitoterapia, surgida no oeste do país a partir da ingestão de sopas e decocções com fins medicinais. A farmacopéia chinesa é muito grande. Os produtos são avaliados cuidadosamente, de acordo com suas propriedades de temperatura, sabor, ação de movimento, trofismo e toxicidade. Posteriormente são combinados e sua forma de preparo é crite- riosamente estipulada. Existem fórmulas clássicas já descritas, incluindo suas aplicações. Porém, é possível ajustá-las à necessidade específica de um paciente. 7Conceito e princípios da acupuntura A moxabustão consiste na queima de ervas (Artemisiavulgaris) em locais específicos do corpo, sob a pele ou próximo a ela. Esse outro braço da medi- cina oriental se originou nas montanhas do norte da China. Na pré-história, a moxabustão era realizada com pedras aquecidas pelo sol que eram posicio- nadas em pontos específicos do corpo para promover calor e pressão local. Atualmente, dispomos de várias formas de apresentação da moxa, preparada a partir da planta Artemisia. Podemos utilizá-la como carvão, lã e bastão, sendo esta última a forma mais comum. Há diversas práticas de aplicação de moxabustão. Em algumas aplicações, a queima da erva é feita diretamente sob a pele. Outras empregam fitoterápicos entre a pele e a erva. Há casos, ainda, o em que a queima é feita apenas próxima à pele. Trata-se de um estímulo físico-químico. As diversas técnicas de manipulação de pele e músculos, também conhe- cidas como massagens, foram inicialmente empregadas nas planícies centrais da China. Essas manipulações são estímulos físicos que seguem as bases das teorias chinesas. Hoje são amplamente utilizadas de forma profilática e combinadas com outras técnicas para diversos tratamentos. Este grande acervo de diferentes recursos da medicina tradicional chinesa facilita ao profissional interferir nas desarmonias dos seus pacientes e/ou clientes objetivando estabelecer o equilíbrio do organismo. Veja, na Figura 1, exemplos de agulhas de acupuntura e de um bastão de moxa. Figura 1. Agulhas de acupuntura e bastão de moxa (Artemisiavulgaris) utilizados atualmente na prática clínica. Fonte: (a) Praisaeng/Shutterstock.com; (b) AsiaImagesGroup/Shutterstock.com. Conceitoe princípios da acupuntura8 Acupuntura e os meridianos energéticos A acupuntura é uma das práticas de intervenção da medicina tradicional chi- nesa. A terapêutica segue as bases teóricas e a visão de que todos os processos do nosso organismo estão em constante mudança e que os ajustes cíclicos promovem o equilíbrio integral do indivíduo. Ao observar fenômenos do organismo no processo saúde-doença, os chineses foram descobrindo os pontos de acupuntura, locais específicos na superfície da pele que, ao serem pressionados ou aquecidos, aliviavam dores e auxiliavam na recuperação de patologias, retomando o equilíbrio do corpo. Esta compilação de pontos foi sendo estudada e foram estabelecidas relações entre eles. Percebeu-se que alguns pontos tinham conexão com determinados órgãos e também com outros pontos. Assim, a rede de canais tornou-se a Teoria dos Meridianos Energéticos, sistematizando os pontos de acupuntura e suas relações com o fluxo energético. Os pontos de acupuntura são espaços, depressões ou vias nos quais a agulha encontra baixa resistência ao ser inserida. Existem quase dois mil pontos, sendo 670 localizados em meridianos. Esses são os mais utilizados. O estímulo de um ponto de acupuntura pode gerar efeito sistêmico (controlando a febre, por exemplo), local (puntura-se perto do local afetado) e à distância (para tratar palpitação, por exemplo, trabalha-se o ponto C7, localizado no punho). Os meridianos energéticos são canais por onde a energia passa, estabele- cendo a integração do organismo. Existem algumas classificações, de acordo com a conexão feita e com o tipo de energia que percorre o canal. Os meridianos principais estão intimamente relacionados com os órgãos internos (Zang Fu), possuindo um trajeto superficial na pele, onde há possibilidade de intervenção através da acupuntura, e um trajeto profundo, que promove comunicação com os órgãos. Através da localização da dor, podemos sugerir o meridiano afetado e tratar o canal em questão. Outra forma de intervenção ocorre quando queremos tratar o órgão afetado. Para tratar o estômago (E), podemos fazer o estímulo de acupuntura no trajeto superficial do meridiano principal do E, pois o trajeto superficial comunica-se com o trajeto profundo que, por sua vez, se liga ao órgão. Desta forma, se reestabelece o reequilíbrio energético. 9Conceito e princípios da acupuntura Meridiano principal Trajeto superficial Características do órgão afetado Pulmão (P) Emerge próximo à axila e segue em direção à mão pela face radial até o ângulo ungueal do polegar. Mal-estar torácico, dispneia, tosse, tristeza, sudorese noturna, cansaço, choro. Intestino grosso (IG) Inicia no ângulo ungueal do dedo indicador, segue em direção ao ombro pela face póstero lateral do braço, ascende para o pescoço e vai pela mandíbula até a asa do nariz. Gengivite, odontalgia, constipação, diarreia, bocejos frequentes, boca seca, dor abdominal. Estômago (E) Começa abaixo do olho, segue em direção ao canto da boca e orelha, desce pelo abdômen, segue pela coxa e perna, passando pela face lateral do joelho e terminando no ângulo ungueal do segundo dedo do pé. Desnutrição, náusea, vômito, diarreia, azia, distensão epigástrica, má digestão, sensação de fome frequente, eructação. Baço-pâncreas (BP) Surge no hálux seguindo pela região medial da perna e subindo pela região anterior do abdômen até a região torácica. Desnutrição, vômitos após alimentação, diarreia, opressão no peito, distensão abdominal, preocupação, dificuldade de concentração, excesso de pensamentos. Quadro 2. Relação entre o meridiano principal, seu trajeto superficial e as características do órgão correspondente quando está em desequilíbrio (Continua) O Quadro 2, a seguir, indica a relação entre o meridiano principal, seu trajeto superficial e as características do órgão correspondente quando está em desequilíbrio. Os trajetos superficiais dos meridianos principais estão ilustrados na Figura 2, logo abaixo. Conceito e princípios da acupuntura10 Quadro 2. Relação entre o meridiano principal, seu trajeto superficial e as características do órgão correspondente quando está em desequilíbrio Meridiano principal Trajeto superficial Características do órgão afetado Coração (C) Emerge na axila, descende ao longo do aspecto antero-medial do braço, segue pela palma da mão até a o ângulo ungueal lateral do dedo mínimo. Aperto no peito, palpitação, agitação, calor ou rubor facial, suor noturno, falta de memória, boca seca, sede, choque/trauma, euforia. Intestino delgado (ID) Inicia no ângulo ungueal medial do dedo mínimo, ascende pela porção posterior do braço, percorre a região da escápula e segue pela lateral do pescoço até a orelha. Adormecimento ou formigamento da nuca, ombro e braço, zumbido no ouvido. Rim (R) Começa na planta do pé, ascende pela região medial da perna, sobe pelo abdômen e termina próximo à clavícula. Cansaço, pouca resistência, impotência, distúrbios nos dentes e ossos, surdez, vertigem, cálculo renal, oligúria ou poliúria, medo. Bexiga (B) Surge no canto medial do olho, sobe ao topo da cabeça e desce próximo à coluna, percorrendo o glúteo até a região atrás do joelho; sobe novamente percorrendo a região lateral à coluna e desce até ficar próximo ao maléolo lateral, finalizando no ângulo ungueal lateral do quinto dedo do pé. Acometimento na região posterior, distúrbios nas costas que irradiam para a perna, problemas urinários. Pericárdio (PC) Inicia próximo ao mamilo, percorre a região anterior do braço até a palma da mão e termina na ponta do dedo médio. Irritabilidade, ansiedade, riso incontrolável, desconcentração, opressão no peito. (Continua) (Continuação) 11Conceito e princípios da acupuntura Quadro 2. Relação entre o meridiano principal, seu trajeto superficial e as características do órgão correspondente quando está em desequilíbrio Meridiano principal Trajeto superficial Características do órgão afetado Triplo aquecedor (TA) Emerge próximo ao ângulo ungueal medial do dedo anular, segue ao longo do aspecto posterior do antebraço, percorre ombro e trapézio, região lateral do pescoço, contorna a orelha e termina na extremidade lateral da sobrancelha. Superior: tosse, transpiração espontânea. Médio: calor e suor à tarde, distensão abdominal. Inferior: edema, ascite, distúrbio genital. Vesícula biliar (VB) Começa no canto lateral do olho, percorre a região lateral da cabeça, desce pelo tronco, cintura, coxa e perna, terminando no ângulo ungueal lateral do quarto dedo do pé. Enxaqueca, problemas de visão, vertigem, vômito, indecisão, irritabilidade. Fígado (F) Surge no hálux, seguindo pelo dorso do pé e aspecto medial da perna até região a inguinal e abdominal e finaliza no sexto espaço intercostal. Perturbação da visão, distúrbios menstruais, patologias de fígado, febre, icterícia, irritabilidade, raiva, insônia, alterações de tendões e fáscias. (Continuação) Sabendo-se dessa relação da acupuntura com os meridianos e os trajetos percorridos por cada um deles, o delineamento do tratamento pode ser dire- tamente pela porção superficial do meridiano afetada. Queixas vinculadas aos locais por onde passam os canais podem ser identificadas e tratadas de forma local. Um exemplo desse tipo de tratamento de dor através do meridiano afetado pode ser o de um paciente que descreve dores na face medial do hálux, que irradia pela região medial da perna até a face medial do joelho. Este é o trajeto do meridiano principal do baço-pâncreas (BP). É possível identificar desequi- líbrio nele pela sinalização da dor e podemos utilizar recursos da acupuntura diretamente neste canal, por meio dos pontos localizados no mesmo. Conceito e princípios da acupuntura12 Fi gu ra 2 . T ra je to s s up er fic ia is do s m er id ia no s e ne rg ét ic os p rin ci pa is . Fo nt e: Ada pt ad a de P et er H er m es F ur ia n/ Sh ut te rs to ck .c om . Ve sí cu la b ili ar (V B) Pu lm ão (P ) In te st in o gr os so (I G ) Es tô m ag o (E ) Ba ço -p ân cr ea s (B P) Co ra çã o (C ) In te st in o de lg ad o (ID ) Ri m (R ) Be xi ga (B ) Pe ric ár di o (P C) Tr ip lo a qu ec ed or (T A ) Fí ga do (F ) 13Conceito e princípios da acupuntura Outra forma de tratamento ocorre em casos de órgãos internos afetados, como o coração ou o estômago. Identifica-se o meridiano correspondente avaliando a compatibilidade de características citadas pelo paciente. A apli- cação da acupuntura ocorrerá no trajeto superficial, que fará comunicação com o órgão alvo para promoção do equilíbrio energético. Como exemplo de avaliação por meio de sintomas, relacionando-os aos órgãos afetados e aos meridianos de energia, temos as seguintes queixas: sensação de azia, má digestão e distensão epigástrica. Estes são sinais de desequilíbrio no estômago (E). Para tratar este órgão interno a acupuntura realiza estímulos ao longo do trajeto superficial do meridiano principal do E, que tem comunicação com o trajeto interno e encaminhará o estímulo da acupuntura. 1. No período proto-histórico, baseado em algumas obras de imperadores lendários e alguns textos médicos, surgiu Huangdi Nei Jing (O Clássico de Medicina Interna do Imperador Amarelo). Qual o tema central da obra? a) O tema central da obra é a Teoria Yin e Yang. b) O tema central da obra é o uso de plantas com fins medicinais. c) O tema central da obra é a medicina tradicional chinesa de forma integral. d) O tema central da obra é a Teoria dos Cinco Elementos. e) O tema central da obra é a moxabustão e suas aplicações. 2. A medicina tradicional chinesa é milenar e a medicina ocidental chegou à China recentemente. O governo criou uma política que estabelece qual linha médica pode ser exercida no país. Qual é o perfil atual de medicina da China? a) O perfil atual da medicina na China é a união das práticas orientais e ocidentais, preferencialmente oriental. b) O perfil atual da medicina na China é de exclusivamente práticas ocidentais. c) O perfil atual da medicina na China é a união das práticas orientais e ocidentais, preferencialmente ocidental. d) O perfil atual da medicina na China é de exclusivamente práticas orientais. e) O perfil atual da medicina na China é a união das práticas orientais e ocidentais, elas trabalhando juntas. 3. As técnicas práticas da medicina oriental se originaram em diferentes regiões da China e evoluíram paralelamente. Algumas delas são a moxabustão, a fitoterapia e a acupuntura. O que há em comum entre elas? Conceito e princípios da acupuntura14 a) Entre as diferentes técnicas da medicina chinesa, há, em comum, as indicações terapêuticas. b) Entre as diferentes técnicas da medicina chinesa, há, em comum, o tempo de tratamento. c) Entre as diferentes técnicas da medicina chinesa, há, em comum, a metodologia prática. d) Entre as diferentes técnicas da medicina chinesa, há, em comum, os materiais utilizados. e) Entre as diferentes técnicas da medicina chinesa, há, em comum, o raciocínio teórico chinês. 4. Os meridianos principais conectam-se aos órgãos internos e é por meio deles que a acupuntura age para auxiliar em desordens internas. No caso de um indivíduo apresentar os seguintes sintomas: muita ansiedade, riso incontrolável, dificuldade de concentração, opressão no peito, qual meridiano poderia ser tratado? a) O meridiano a ser tratado é do P. b) O meridiano a ser tratado é do ID. c) O meridiano a ser tratado é do IG. d) O meridiano a ser tratado é do R. e) O meridiano a ser tratado é do F. 5. Desordens sob o trajeto superficial dos meridianos podem ser tratadas através do próprio meridiano principal. Um determinado indivíduo apresenta os seguintes sintomas: dor que surge no hálux, seguindo pelo dorso do pé e finalizando na face medial da perna. Qual meridiano poderia ser tratado? a) O meridiano a ser tratado é do P. b) O meridiano a ser tratado é do ID. c) O meridiano a ser tratado é do IG. d) O meridiano a ser tratado é do R. e) O meridiano a ser tratado é do F. ACUPUNTURE and moxibustion of traditional Chinese medicine. Intangible Cultural Heritage of the United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, Paris, [2010?]. Disponível em: <https://ich.unesco.org/en/RL/acupuncture-and-moxibustion- of-traditional-chinese-medicine-00425?RL=00425>. Acesso em: 16 out. 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Nº 971, de 03 de maio de 2006. Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Ministério da Saúde, Brasília, 2006. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov. br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt0971_03_05_2006.html>. Acesso em: 16 out. 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Nº 1.230, de 14 de outubro de 1999. Ministério da Saúde, Brasília, 1999. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ gm/1999/prt1230_14_10_1999.html>. Acesso em: 16 out. 2018. WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO Traditional Medicine Strategy 2002-2005. Ge- neva, 2002. 61 p. Disponível em: <http://www.wpro.who.int/health_technology/ book_who_traditional_medicine_strategy_2002_2005.pdf>. Acesso em: 16 out. 2018. 15Conceito e princípios da acupuntura Leituras recomendadas CARVALHO, G. E. F. Acupuntura e fitoterapia chinesa clássica. Rio de Janeiro: Taba Cultural, 2003. 368 p. HISTÓRIA da Acupuntura. Associação Brasileira de Acupuntura, São Paulo, 2013. Disponível em: <http://www.abapuntura.com.br/pagina_simples.php?titulo=HIST%D3RIA%20 DA%20ACUPUNTURA&pagina=historia_acupuntura>. Acesso em: 16 out. 2018. LIMA, P. R. Manual de acupuntura: direto ao ponto. 4. ed. Rio de Janeiro: Zen, 2018. 338 p. MACIOCIA, G. Os fundamentos da medicina chinesa. 3. ed. São Paulo: Roca, 2016. 1016 p. Conceito e princípios da acupuntura16 Conteúdo:
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