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P á g i n a | 1 URGÊNCIA E EMÊRGENCIA I INTOXICAÇÃO EXÓGENA:Os casos mais significativos em adultos que chegam ao pronto-socorro são por tentativa de suicídio, e o modo de intoxicação é a ingestão por via oral. Também poderá ocorrer abuso, que consiste em usar um medicamento em dose maior do que a recomendada para obter um efeito mais rápido. A história e o exame físico são extremamente importantes na avaliação inicial e no manejo de intoxicação aguda. Os sinais vitais devem ser anotados no prontuário e reavaliados periodicamente (FC, FR, pulso, temperatura); deve-se medir a saturação arterial de oxigênio, a glicemia capilar e o nível de consciência (escala de Glasgow). É importante realizar uma investigação detalhada com o paciente e a família acerca de: • Medicamentos ingeridos: nome, dosagem, número de cartelas vazias; solicitar a busca, em casa, de frascos, líquidos ou de qualquer material suspeito. • Hora e dia da ingestão, os mais precisos possível. • Se a ingestão foi acidental ou intencional (tentativa de suicídio). ACHADOS CLÍNICOS: P á g i n a | 2 EXAMES COMPLEMENTARES: Na grande maioria das intoxicações, nenhum exame adicional é necessário. Entretanto, em algumas situações, podem ser necessários exames gerais, por exemplo: hemograma, glicemia, P á g i n a | 3 eletrólitos, gasometria, função hepática, função renal, urina etc. Eventualmente, dosagem das substâncias tóxicas pode ser necessária: testes quantitativos ou qualitativos. Pacientes que necessitam de exames complementares: • Sintomáticos ou com comorbidades significativas. • Identidade da substância ingerida é desconhecida. • Intoxicações que apresentam potencial significativo de toxicidade sistêmica. • Ingestão intencional (tentativa de suicídio). EXAMES: ▪ Eletrocardiografia: quando alterada, pode indicar algumas drogas (exemplo: antidepressivos tricíclicos, antiarrítmicos, β-bloqueadores) e também pode indicar gravidade de uma determinada intoxicação com risco de óbito. ▪ Radiografia: pode diagnosticar aspiração, edema pulmonar não cardiogênico, pneumomediastino (ruptura de esôfago), abdome agudo. Raramente, pode ser útil para detectar metais pesados, substâncias radiopacas ou pacotes ingeridos no tráfico de drogas. ▪ Gasometria: pode ser necessária em pacientes com hipóxia, evidência de hipoventilação e para detectar acidose ou distúrbios mistos. Nesta última situação, pode dar pistas da causa da intoxicação. Em qualquer paciente comatoso no pronto-socorro que não tem um diagnóstico óbvio, deve-se pensar em intoxicação aguda. O achado de acidose metabólica grave deve apontar para metanol, etilenoglicol e salicilatos. São tóxicos com grande chance de levar a óbito e que têm tratamento específico. Indivíduos com acidose metabólica persistente necessitam de observação cuidadosa e investigação da causa da acidose ▪ Lactato arterial: quando aumentado, pode indicar que o tóxico está levando a péssima perfusão periférica (hipovolemia, choque), insuficiência de múltiplos órgãos ou a convulsões reentrantes. Os tóxicos que podem causar acidose metabólica primariamente com lactato muito elevado são metformina e monóxido de carbono. ▪ Gap osmolar (diferença entre a osmolalidade medida e a estimada): - Normal: sugere metformina, monóxido de carbono, salicilatos e formaldeído. - Aumentado (maior que dez): ocorre com várias substâncias pequenas: álcool etílico, metanol, etilenoglicol, acetona e ácido valproico. Ânion gap aumentado: achado esperado nas intoxicações agudas que cursam com acidose metabólica. Cetose: • Ausente: sugere metanol e etilenoglicol. • Presente: formaldeído, salicilatos, acetona, álcool etílico e ácido valproico. Cristais de oxalato na urina: sugerem etilenoglicol. TRATAMENTO : Princípios gerais no manejo de uma intoxicação aguda I. Reconhecer uma intoxicação. P á g i n a | 4 II. Identificação do tóxico. III. Avaliar o risco da intoxicação. IV. Avaliar a gravidade do paciente e estabilizá-lo clinicamente (inclui uso de antídotos). V. Diminuir a absorção do tóxico. VI. Aumentar a eliminação do tóxico. VII. Prevenir reexposição: avaliação psiquiátrica. A intoxicação ocorreu através da pele, devem ser retiradas todas as roupas do paciente, removidos todos os resíduos e ter a pele lavada copiosamente; se foi por via ocular, lavar os olhos com soro fisiológico e solicitar avaliação imediata do ofalmologista. A maioria das intoxicações no pronto-socorro, contudo, envolve o trato gastrintestinal, e as medidas possíveis são: carvão ativado, lavagem gástrica, irrigação intestinal, hiper-hidratação e alcalinização da urina. A indução de vômitos não é mais recomendada em pronto-socorro 1. LAVAGEM GÁSTRICA: Método: passagem de uma sonda orogástrica de grosso calibre; colocar o paciente em decúbito lateral esquerdo com a cabeça em nível levemente inferior ao corpo; através da sonda, administram-se pequenos volumes de soro fisiológico (100 a 250 mL), mantendo-se a sonda aberta, em posição inferior ao paciente. Depois disso, aguardar o retorno do conteúdo gástrico, no intuito de remover substâncias tóxicas presentes no estômago. Realizam-se sucessivas lavagens até que o conteúdo gástrico não mais retorne (isto é, há retorno apenas do soro). Com base nesses fatos, a lavagem gástrica não deve ser indicada de rotina. Deve-se indicá-la em intoxicações agudas que preencham todos os seguintes critérios: 1) Tempo de ingestão menor que uma hora. 2) Substância potencialmente tóxica ou desconhecida. 3) Não há contraindicações à lavagem gástrica Contraindicações à lavagem gástrica: • Rebaixamento do nível de consciência com perda dos reflexos de proteção das vias aéreas. Nesse caso, deve-se intubar o paciente antes de realizar a lavagem gástrica. • Ingestão de substâncias corrosivas como ácidos ou bases. • Ingestão de hidrocarbonetos. • Risco de hemorragia ou perfuração do trato gastrintestinal, inclusive cirurgia recente ou doenças preexistentes. 2. CARVÃO ATIVADO Método: o carvão ativado tem grande capacidade de adsorver várias substâncias e prevenir a sua absorção sistêmica. A dose recomendada é de 1 g de carvão/kg de peso (25 a 100 g). Deve-se diluir o carvão em água, soro fisiológico ou catárticos (manitol ou sorbitol), geralmente 8 mL de solução para cada grama de carvão. Este último é o mais recomendado, não por aumentar a eficácia do carvão, mas por evitar constipação. Quando indicado em múltiplas doses, recomenda-se 0,5 g de carvão/kg de peso de quatro em quatro horas. Contraindicações ao carvão ativado: • Rebaixamento do nível de consciência com perda dos reflexos de proteção das vias aéreas. Nesse caso, deve-se intubar o paciente antes de usar o carvão. • Ingestão de substâncias corrosivas como ácidos ou bases. • Ingestão de hidrocarbonetos. P á g i n a | 5 • Risco de hemorragia ou perfuração do trato gastrintestinal, inclusive cirurgia recente ou doenças preexistentes. • Ausência de ruídos gastrintestinais ou obstrução. • Substâncias que não são adsorvidas pelo carvão: álcool, metanol, etilenoglicol, cianeto, ferro, lítio e flúor 3. IRRIGAÇÃO INTESTINAL: Método: uma solução é administrada através de sonda nasogástrica, habitualmente a uma taxa de 1.500 a 2.000 mL/hora. O objetivo é que a mesma solução administrada pela sonda seja recuperada por via retal, e com isso haja uma limpeza “mecânica” do trato gastrintestinal. A solução mais usada é o polietilenoglicol, que tem composição osmótica e eletrolítica semelhante à do plasma, para diminuir a chance de distúrbios sistêmicos. 4. DIURESE FORÇADA E ALCALINIZAÇÃO DA URINA Hiper-hidratação: soro fisiológico, para adultos, 1.000 mL a cada oito horas ou de seis em seis horas. Pode-se aumentar o volume, até alcançar um débito urinário de 100 a 400 mL/ hora. Cuidado com sobrecarga de volume e congestão pulmonar. Os principais tóxicos que têm sua excreçãoaumentada com hiper-hidratação são: álcool, brometo, cálcio, flúor, lítio, potássio e isoniazida. Alcalinização: manter o pH urinário maior que 7,5. Preparar uma solução com 850 mL de soro glicosado a 5% + 150 mL de bicarbonato de sódio 8,4% (150 mEq de bic). Essa solução alcaliniza a urina e tem concentração fisiológica de sódio (0,9%). Se não houver contraindicação, infundir um litro dessa solução a cada seis a oito horas e monitorizar o pH urinário. A alcalinização da urina aumenta a excreção de fenobarbital, salicilatos, clorpropamida, flúor, metotrexate e sulfonamidas. 5. MÉTODOS DIALÍTICOS: Hemodiálise clássica é o método mais usado e disponível, embora existam a hemofiltração (HF) e a hemoperfusão (HP) PRINCÍPIOS PARA INDICAÇÃO DE DIÁLISE: • A intoxicação é grave ou ela tem um grande potencial para tal. Isso inclui pacientes que continuam a piorar apesar do suporte agressivo. • Intoxicação grave e o paciente tem disfunção na metabolização do tóxico (insuficiência hepática e/ou renal). • Pacientes ainda estáveis, mas com a concentração sérica de um determinado tóxico potencialmente fatal ou com capacidade de causar lesões graves ou irreversíveis. • O tóxico é significativamente retirado do paciente com a diálise. 6. ANTÍDOTOS P á g i n a | 6