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12 CAPÍTULO Regionalização do Brasil Uma região é uma parte de determinado espaço com características peculiares que a diferenciam de outras. Trata se, portanto, de um recorte espacial estabelecido por meio de critérios que caracterizam e dão certa unidade a uma área Esses critérios podem ser resultado de dinâmicas naturais e sociais Mas para que serve regionalizar o espaço? Jardim Botânico de Curitiba, estado do Paraná Foto de 2020 L u a n R e z e n d e / S h u tt e rs to c k .c o m B e rn a rd B a rr o s o /S h u tt e rs to c k .c o m Pelourinho, em Salvador, estado da Bahia Foto de 2020. FRENTE 1 Trecho da Floresta Amazônica em Autazes, estado do Amazonas. Foto de 2020. Museu de Arte de São Paulo (Masp), localizado na cidade de São Paulo, estado de São Paulo. Foto de 2020. Plantação de soja em Chapadão do Sul, estado de Mato Grosso do Sul. Foto de 2020. lo u re n c o lf /S h u tt e rs to c k .c o m A n d re D ib /P u ls a r Im a g e n s E ri c h S a c c o /S h u tt e rs to c k .c o m GEOGRAFIA Capítulo 12 Regionalização do Brasil74 Organização política do território brasileiro Para compreender a organização política do Brasil, é importante que se entenda a origem do federalismo, o sistema político aqui adotado. A organização territorial de uma nação em estados federados, com legislação específica a cada uma dessas unidades, atende à diversidade de características ge ralmente presentes em vastos territórios, como se deu originalmente nos Estados Unidos. No caso estadunidense, além da grandeza do seu território, o federalismo mostrou- -se eficiente para a concretização dos ideais republicanos advindos da Revolução de 1776 No processo de independência, as antigas colônias conquistaram soberania sobre seus territórios. Dessa forma, foi assinado um tratado de direito internacional, o qual insti- tuía uma confederação que garantia a diversidade política e relativa independência entre os diversos territórios. Contudo, como cada estado mantinha sua soberania, deliberações do Congresso Nacional que envolviam os Estados Unidos em sua totalidade não eram amplamente executadas, enfraquecendo, assim, a realização de projetos em comum e a efetiva construção da nação. Por conse- quência, a confederação não cumpria seu principal objetivo: respeitar a autonomia de cada unidade do território e, ao mesmo tempo, implementar medidas de alcance geral Foi então que, na Convenção da Filadélfia de 1787, a fórmula do federalismo foi desenvolvida: as antigas colônias britânicas deixaram de ser soberanas, embora sua autono- mia fosse mantida, e caberia a uma nova entidade, a União, desenvolver políticas e ações necessárias ao bem comum da população Confederação e Federação Para melhor compreender a diferença entre Federação e Confederação é importante, antes, distinguir os conceitos de autonomia e soberania Segundo o dicionário Michaelis, autonomia é o “direito de se admi- nistrar livremente, dentro de uma organização mais vasta, liderada por um poder central”, e soberania, por sua vez, é o “poder político independente do Estado em relação a outros países e supremo den- tro do seu território; autoridade, imperiosidade” Portanto, autonomia consiste na autodeterminação dentro dos limites traçados por um poder principal, enquanto soberania é o não condicionamento a nenhum outro poder, seja ele interno ou externo, garantindo pleno poder de autodeterminação. Em uma Federação, as diferentes unidades que compõem o terri- tório possuem autonomia, ou seja, possuem certas liberdades de autodeterminação administrativa, política, econômica, mas sempre vinculadas às regras de um poder central. O Brasil é um exemplo de país que adota a Federação como organização política. Em uma Confederação, por sua vez, as unidades que a compõem possuem soberania e se reúnem em um sistema político com objeti- vos comuns, mas sem responder a um poder central. Atenção Outros países como Alemanha, Argentina, Austrália, Bélgica, Canadá, Emirados Árabes Unidos, Índia, Malásia, México, Nigéria, Paquistão, Rússia e Sudão também ado- taram o sistema federalista, mas sempre adaptando o às suas particularidades Não há, portanto, um único sistema de Estado Federal que sirva como modelo a ser segui- do Essa versatilidade se observa nas diferenças entre a federação brasileira e a estadunidense. Em razão de sua formação histórica, os estados que compõem os Estados Unidos possuem maior autonomia quando comparados aos que compõem o Brasil. É por essa razão, por exemplo, que cada estado estadunidense possui legislação especí- fica com relação à pena de morte aplicada dentro do seu território, enquanto no Brasil todos devem respeitar o que determina o Código Penal, de vigência nacional. No caso brasileiro, que é um Estado Federativo, a República Federativa divide-se em União, estados e mu- nicípios. Cada um desses níveis hierárquicos de unidades administrativas territoriais possui autonomia perante a esfe- ra federal. Assim, a cada unidade é concedida autonomia, enquanto ao Estado Nacional se confere soberania. No Estado unitário, por sua vez, o poder está centra- lizado, o que significa que não é conferida autonomia a outros entes e que não há uma divisão em unidades autô- nomas, há apenas um governo central Em alguns casos, pode ocorrer uma descentralização administrativa, como na França, em que há a divisão do território em regiões e de partamentos, embora estes não possuam autonomia Essa descentralização tem apenas finalidades organizacionais, e os entes devem se subordinar ao poder central do país. Federação Brasileira O Brasil é dividido em 26 estados e um Distrito Federal. Essa divisão foi estabelecida em 1988, com a promulgação da Constituição da República, que criou três novos estados: Amapá, Roraima (ambos eram territórios criados em 1943 e 1962, respectivamente) e Tocantins (desmembrado do estado de Goiás). Diferentemente dos outros estados brasileiros, o Dis- trito Federal não possui municípios, sendo, portanto, um território autônomo composto de 31 regiões administrativas Essas regiões não possuem prefeitos, mas, sim, adminis tradores escolhidos pelo governador do Distrito Federal Divisão dos três poderes A tripartição do poder em Executivo, Legislativo e Judi- ciário teve origem na Grécia Antiga com base em estudos da obra Política, do filósofo Aristóteles Ele descreveu a existência de três funções distintas exercidas por um poder soberano: a de criar normas que devem ser obedecidas por todos, a de aplicar tais normas gerais no cotidiano e, por fim, a de julgar e solucionar conflitos ocasionados em virtude da transgressão dessas normas gerais vigentes. Essa reflexão foi aprofundada por Montesquieu em seu livro O espírito das leis, publicado em 1748. Para o pensador francês, tais funções, muito embora conectadas entre si, de veriam ser desenvolvidas por órgãos distintos, autônomos e independentes entre si. Com isso, a ideia, defendida pelo absolutismo, de um soberano exercendo todas as funções, caía por terra, dando lugar à separação dos poderes. F R E N T E 1 75 Mas qual seria a função da separação de poderes? Com essa divisão, evita-se a concentração de poder e as tendências absolutistas dela decorrentes Assim, os riscos de abuso de poder são minimizados Além disso, a se paração dos poderes exige que diferentes autoridades estatais participem das tomadas de decisões; dessa for ma, os poderes se fiscalizam entre si e se responsabilizam pelas decisões, sempre respeitando a autonomia de cada um deles No Brasil, a tripartição de poderes é garantida pela Constituição Federal de 1988. Veremos a seguir mais de talhadamente cada um desses poderes. Poder Executivo No Brasil, o Poder Executivo se estrutura em três níveis hierárquicos, segundo a divisão administrativa espacial do território nacional: federal, estadual e municipal. Cada um desses entes possui autonomia e, dentro de sua esfera de poder, cabe a eles a administração, a proposiçãoe a aplicação de leis. O Poder Executivo federal é constituído pelo presidente da República, sendo este o chefe de Estado, pelo vice-pre- sidente e pelos ministros. O Poder Executivo estadual é composto de governador, vice-governador e secretários. Por fim, o Poder Executivo municipal é desempenhado pelo prefeito, vice-prefeito e secretários. Desde 1988, os cargos de presidente, governador, prefeito e seus respectivos vi- ces são de caráter eletivo, ou seja, são escolhidos por meio do voto universal. Poder Legislativo O Poder Legislativo também se estrutura em três níveis federal, estadual e municipal. Dentro de suas competên- cias, cabe a cada um desses entes elaborar leis e fiscalizar as ações desempenhadas pelo Poder Executivo. Na esfera federal, esse poder é desempenhado pelo Congresso Nacional, nome dado ao conjunto das duas câmaras que o compõe: o Senado Federal e a Câmara Federal. O Senado Federal é formado por 81 senado- res, que representam as unidades da federação. Para a escolha dos senadores, vigora o princípio majoritário: aquele que obtiver mais votos, ganha. A Câmara Federal, por sua vez, é constituída pelos deputados federais, que representam a população do país. Os representantes do Poder Legislativo na esfera estadual são os depu tados estaduais, e, na municipal, os vereadores, ambos os cargos eleitos por meio do sistema proporcional, no qual são computados os votos de cada coligação ou partido. Os deputados federais, que atuam na Câmara Federal, em Brasília, representando os interesses das unidades da federação e de seus habitantes, são eleitos da mesma forma. Fig. 1 Congresso Nacional, em Brasília. À esquerda, cúpula do Senado; à direita, cúpula da Câmara dos Deputados. Foto de 2018. T h i S o a re s /i S to c k p h o to .c o m
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