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Sujeito determinado O sujeito é determinado quando pode ser identi- ficado na frase por meio de seu(s) núcleo(s) ou de uma elipse (omissão de uma palavra que está subentendida no contexto ou implícita na terminação do verbo). Não nos es- queçamos, todavia, de que a identificação do sujeito passa pelo menos por duas averiguações: 1. perguntar ao verbo: “que (quem) é que...?” 2. verificar se o verbo está em concordância com a pa- lavra ou expressão suspeita (o verbo concorda com o sujeito em número e pessoa, com raras exceções). Veja os exemplos a seguir. Exemplo 1: Nada resta, senão uma lágrima perdida. Que é que resta? Resolução: “Nada”. Sujeito determinado. Exemplo 2: Robinho e Elano marcaram os gols pelo Brasil. Quem é que marcou? Resolução: “Robinho e Elano”. Sujeito determinado. Exemplo 3: Sou louco por música clássica. Quem é que é louco? Resolução: “Eu”, implícito em “sou”. Sujeito determinado. No exemplo 1, o sujeito sintático é o pronome indefinido “nada”. Esse pronome está em concordância com o verbo e exerce, no lugar de um substantivo, o papel de sujeito de “restar”. No exemplo 2, os substantivos “Robinho e Elano” exercem o papel de sujeito, eles estão presentes na frase e em concordância com o verbo “marcar” no plural. No exem- plo 3, embora o pronome “eu” não esteja na frase, ele está implícito na forma verbal “sou”; portanto, determinado, visto que o “eu” sempre é identificável; isso também ocorreria nas segundas pessoas (respectivamente, “tu” e “vós”). Observe: – És um verme! – Sois o exemplo da democracia! Mas não ocorreria na terceira pessoa do plural, a não ser que o sujeito possa ser identificado em uma oração anterior. Veja-se um caso de sujeito indeterminado: [Entraram no prédio] e [roubaram tudo]. Nas duas orações, o sujeito é indeterminado, não se sabe quem entrou e quem roubou. Sujeito determinado: [Os dois garotos entraram no prédio] e [roubaram tudo]. Na primeira oração, o sujeito é determinado, “dois garotos”; na segunda, também é determinado, visto que o pronome “eles”, implícito em “roubaram”, está anteriormente explícito: “Os dois garotos”. Determinado simples Fig. 3 Sujeito determinado simples: “A garota balança”. Quando o sujeito apresenta um só núcleo (explícito). – Pelé marcou cinco gols. – O habilidoso Pelé comemorou. – Ninguém brigou. Na segunda oração, Pelé é o núcleo do sujeito (o sujeito é “O habilidoso Pelé”). Na terceira, o sujeito é de- terminado, mas tem sentido indefinido. O sujeito determinado simples também pode aparecer com a partícula apassivadora (se), em estrutura denominada voz passiva sintética: Vendem-se casas. Alugam-se apartamentos. sujeito sujeito O estudo da partícula apassivadora será feito após as au- las dos termos ligados ao nome (aula sobre a partícula “se”). Determinado composto Fig. 4 Sujeito determinado composto: “Meninos e meninas tomam banho”. LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 3 Sujeito e predicado112 Quando o sujeito apresenta mais de um núcleo (ex- plícito). Trabalhadores e mulheres fizeram passeata em protesto contra o aumento de preços. sujeito sujeito Determinado elíptico ou desinencial (oculto) Fig. 5 Sujeito determinado oculto (elíptico): “Estou com medo”. Quando o sujeito está implícito na desinência verbal ou no contexto. Chuva para São Paulo e causa morte. determinado simples: chuva determinado elíptico: ela, chuva Sou ave de rapina... determinado elíptico: eu O sujeito determinado elíptico ou desinencial é um importante mecanismo de coesão e de concisão. Trata-se do antigo sujeito oculto: oculta-se a palavra, pois ela está implícita no contexto ou na desinência verbal. Ao ler um texto, o aluno deve recuperar todos os sujeitos elípticos. Veja agora algumas implicações semânticas e estilísticas do sujeito elíptico. 1. Uso incorreto, ocasionando falta de clareza. A má utilização da elipse pode criar ambiguidades, falta de clareza. Observe o texto a seguir: Heitor era um menino rebelde, não obedecia ao pai, bri- gava com todos, principalmente com o vizinho, um tal de Pitu, um garoto muito levado que sempre arrumava confusão. No feriado da cidade, quando estava brincando na rua, atirou uma batata no sorveteiro. O sujeito de brincar e atirar não fica claro, pode ser “Heitor” ou “Pitu”. Isso ocorre porque o enunciador fez a elipse do sujeito. Para tirar a ambiguidade, basta colocar o sujeito de volta: No feriado da cidade, quando Heitor estava brincando na rua, atirou uma batata no sorveteiro. 2. Uso estilístico para evitar a repetição. Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, de- pois tomara conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos – e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera. Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de pon- ta, esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo, picou-o, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao binga, pôs-se a fumar regalado. — Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta. Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na pre- sença dos brancos e julgava-se cabra. Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, mur- murando: — Você é um bicho, Fabiano. Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades. Chegara naquela situação medonha – e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha. — Um bicho, Fabiano. Graciliano Ramos. Vidas secas. Record, 1986. p. 17-8. Todos os verbos assinalados trazem o sujeito elíptico. Para a sua identificação, é preciso que o leitor recupere, em oração ou período anterior, o termo omitido. Assim, em “Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado”, o sujeito elíptico nas duas orações está explícito anterior- mente, em outro período, na primeira oração do texto: “Fabiano ia satisfeito.”. Trata-se do substantivo “Fabiano”, sujeito da oração do primeiro período do texto. Já em “pa- reciam ratos”, o sujeito elíptico implícito na terceira pessoa do plural está no mesmo período, na oração anteriormente expressa: “Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura”; trata-se do sujeito composto “Ele, a mulher e os filhos”. 3. Elipse por antecipação. A elipse por antecipação é realizada com o objetivo de se criar expectativa em torno de quem se fala. Observe o texto a seguir: [Escrevia contos e crônicas], [apreciava uma boa música clássica], [era crítico de teatro]. [João respirava cultura]. Nas três primeiras orações, temos o sujeito elíptico “ele”, que aponta para o sujeito da quarta oração, “João”. F R E N T E 1 113 Nem sempre a elipse é desejada, há situações em que o enunciador utiliza o pronome ou o substantivo para que este ganhe destaque, embora possa omiti-lo. Em lingua- gem oral, esse procedimento é comum. – Eu canto, entendeu?! Eu canto! Você ouve! Na literatura, o procedimento também é comum. Veja os dois fragmentos a seguir e os termos em destaque. Texto 1 [...] Iria morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava, como ela o premiava, como ela o condecorava? Matando-o. E o que não deixara de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara – todo esse lado da exis- tência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira,ele não provara, ele não experimentara. Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma. Prefácio de Ivan Teixeira. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. p. 286. Texto 2 [...] Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro. Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava. Ele é o humano que é natural, Ele é o divino que sorri e que brinca. E por isso é que eu sei com toda certeza Que ele é o Menino Jesus verdadeiro. [...] Alberto Caeiro. Massaud Moisés. (Ed.). O guardador de rebanhos e outros poemas. 7. ed. São Paulo: Cultrix, 1997. p. 97. Nos dois textos, haveria a possibilidade de se fazer a elipse, todavia ela não ocorre por razões enfáticas. Sujeito indeterminado Fig. 6 Sujeito indeterminado: “Estenderam a roupa”. J o ã o P a u lo M a rq u e s d e L im a O sujeito indeterminado ocorre quando não se pode ou não se quer identificar o sujeito: ou na terceira pessoa do plural ou na terceira do singular, com o índice de inde- terminação do sujeito. Na terceira pessoa do plural Assaltaram o Banco do Brasil. Não há, no texto citado, qualquer indício de quem tenha praticado a ação, por isso o sujeito é indeterminado. É preciso, todavia, tomar cuidado com o sujeito elíptico na terceira pessoa do plural, pois este está implícito no contexto. Ladrões entram na agência do Banco do Brasil e levam cinco milhões. sujeito determinado simples sujeito determinado elíptico: eles, os ladrões Em certas ocasiões, o falante não quer explicitar o su- jeito por alguma razão. Por exemplo, um garoto que tenha rasgado o sofá da mãe e queira esconder o fato: – Pedrinho, quem rasgou o sofá? – Rasgaram, mãe! Na terceira do singular, com o índice de indeterminação do sujeito Confia-se em falsos profetas. Come-se bem. O estudo do índice de indeterminação do sujeito será feito com o da partícula apassivadora (aula sobre a palavra “se”). Oração sem sujeito Fig. 7 Sujeito inexistente: “Venta na praia.” Na oração sem sujeito, tem se apenas o processo ver bal; o predicado não é atribuído a termo nenhum. Há três casos importantes. LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 3 Sujeito e predicado114