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LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 13 O Modernismo no Brasil: segunda geração196 Hay que luchar, Cavalcanti Como diria Neruda. Por isso, pinta, pintor Pinta, pinta, pinta, pinta Pinta o ódio e pinta o amor Com o sangue de tua tinta Pinta as mulheres de cor Na sua desgraça distinta Pinta o fruto e pinta a flor Pinta tudo que não minta Pinta o riso e pinta a dor Pinta sem abstracionismo Pinta a Vida, pintador No teu mágico realismo! MORAES, Vinicius de. Amigo Di Cavalcanti. Disponível em: <www.viniciusdemoraes.com.br>. Acesso em: 23 set. 2013. Levando em consideração questões relativas ao tex- to, analise as armativas que seguem. I. O poema transcrito, tendo em vista as caracte- rísticas apresentadas, como a sobriedade na linguagem, comparando-se com a ousadia da fase anterior, é um exemplar da poesia produzida no Segundo Momento Modernista. Neste, entre outros objetivos, buscou-se entender a relação homem × universo. II Quanto ao emprego da vírgula, sobretudo em relação ao vocativo, percebe-se que ora o poeta segue a regra gramatical, ora a infringe Possivelmente, a omissão desse sinal, na primeira estrofe, deva se à retratação da intimidade com Cavalcanti; a presença, na segunda, indica certa formalidade com o pintor III. O estrangeirismo, na segunda estrofe, é em- pregado por se tratar de uma citação direta de Neruda. O emprego dessa variedade linguística revela que Vinicius de Moraes fugiu à principal proposta de sua Geração Modernista: adotar uma postura de valorização do perfil nacional IV. O poema apresenta estrutura paralelística, eviden- ciada, principalmente, pela repetição do vocábulo “pinta”. Essa estratégia, junto ao emprego de figu- ras como aliteração e assonância, contribui para a obtenção da musicalidade, recurso característico do texto poético V. As palavras “pintor” e “pintador” têm sentidos iguais, assim como, no texto, “Vida” apresenta a mesma relevância semântica que “fruto”, “flor”, “riso” e “dor” Portanto, não há como justificar o emprego da inicial maiúscula apenas para o vo- cábulo “Vida”, tampouco o ponto de exclamação fechando o poema. Estão corretas, apenas: A I e II I e IV I, II e IV d II, III e V E III e V 31 IFPE 2012 Mulher proletária Mulher proletária — única fábrica que o operário tem, (fabrica filhos) tu na tua superprodução de máquina humana forneces anjos para o Senhor Jesus, forneces braços para o senhor burguês. Mulher proletária, o operário, teu proprietário há de ver, há de ver: a tua produção, a tua superprodução, ao contrário das máquinas burguesas salvar o teu proprietário. In: Poesia completa 2 ed Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. v.1 Jorge de Lima é um poeta representativo da segunda geração modernista. Analise as proposições a seguir acerca dos recursos expressivos que constroem a imagem da “mulher proletária”. I. As metáforas “fábrica” e “máquina humana” são, de certo modo, desveladas pela construção pa- rentética “fabrica filhos”. II. Os dois últimos versos na primeira estrofe consti- tuem eufemismos das ideias de mortalidade e de trabalho infantil. III. O trocadilho entre “prole” e “proletária” assinala a função social da mulher no contexto do poema. IV. A gradação na segunda estrofe aponta para a submissão da mulher e para a salvação do ho- mem operário. V. Os últimos versos do poema sugerem que o trabalho da mulher pode levar sua família à as- censão social. Estão corretas, apenas: A I, II e V II, III e IV I, II e III d II e V E I e IV Leia o texto para responder à questão 32 O acendedor de lampiões Lá vem o acendedor de lampiões da rua! Este mesmo que vem infatigavelmente, Parodiar o sol e associar-se a lua Quando a sombra da noite enegrece o poente! Um, dois, três lampiões, acende e continua Outros mais a acender imperturbavelmente, À medida que a noite aos poucos se acentua E a palidez da lua apenas se presente Triste ironia atroz o senso humano irrita: Ele que doira a noite ilumina a cidade, Talvez não tenha luz na choupana em que habita. Tanta gente também nos outros insinua Crenças, religiões, amor, felicidade, Como este acendedor de lampiões da rua! LIMA, Jorge de F R E N T E 2 197 32 Cefet-MG 2011 O poema, escrito por Jorge de Lima em 1907 e publicado em 1914, apresenta traços que o aproximam da estética A árcade, por professar as ideologias do carpe diem e do locus amoenus simbolista, por explorar imagens metafóricas, va gas e sinestésicas. romântica, por priorizar a expressão da emoção subjetiva do eu lírico. d parnasiana, por privilegiar a forma do soneto, a mé- trica e a rima. 33 Fuvest 2018 Leia o texto e atenda ao que se pede A máquina do mundo E como eu palmilhasse vagamente uma estrada de Minas, pedregosa, e no fecho da tarde um sino rouco se misturasse ao som de meus sapatos que era pausado e seco; e aves pairassem no céu de chumbo, e suas formas pretas lentamente se fossem diluindo na escuridão maior, vinda dos montes e de meu próprio ser desenganado, a máquina do mundo se entreabriu para quem de a romper já se esquivava e só de o ter pensado se carpia.* ( ) Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma. carpir-se: lamentar-se. a) O ponto de vista do eu lírico em relação à “máqui- na do mundo” ilustra as principais características de Claro enigma? Justifique. b) Transcreva o verso que sintetiza o evento sublime de que trata o texto 34 Unesp 2018 Leia o poema de Murilo Mendes (1901-1975) para responder à questão. O pastor pianista Soltaram os pianos na planície deserta Onde as sombras dos pássaros vêm beber Eu sou o pastor pianista, Vejo ao longe com alegria meus pianos Recortarem os vultos monumentais Contra a lua. Acompanhado pelas rosas migradoras Apascento1 os pianos: gritam E transmitem o antigo clamor do homem Que reclamando a contemplação, Sonha e provoca a harmonia, Trabalha mesmo à força, E pelo vento nas folhagens, Pelos planetas, pelo andar das mulheres, Pelo amor e seus contrastes, Comunica-se com os deuses. (As metamorfoses, 2015.) apascentar: vigiar no pasto; pastorear a) O crítico literário Antonio Candido caracteriza esse poema como uma “pastoral fantástica” Tal caracterização alude a qual escola literária? Justi- fique sua resposta. b) Identifique duas características que permitem vin- cular esse poema ao movimento modernista. 35 FMP 2016 Somos todos poetas Assisto em mim a um desdobrar de planos. as mãos veem, os olhos ouvem, o cérebro se move, A luz desce das origens através dos tempos E caminha desde já Na frente dos meus sucessores. Companheiro, Eu sou tu, sou membro do teu corpo e adubo da tua [alma. Sou todos e sou um, Sou responsável pela lepra do leproso e pela órbita [vazia do cego, Pelos gritos isolados que não entraram no coro. Sou responsável pelas auroras que não se levantam E pela angústia que cresce dia a dia. MENDES, M A poesia em pânico. Rio de Janeiro: Cooperativa Cultural Guanabara, 1938 O texto exemplica a seguinte armativa a respeito da obra de Murilo Mendes: A O estranhamento provocado por metáforas inusita- das instaura uma simbologia especial O componente religioso e o tom confessional são característicos de seus poemas. A estrutura rimada das estrofes é uma característi- ca básica de todos os seus poemas. d A temática de cunho social pauta-se na esperança de eliminação das diferenças sociais. E A ironia de seus textos apoia-se na cuidadosa es- colha de palavras de cunho erudito. Leia o texto para responder às questões 36 e 37 Modinha do empregado de banco Eu sou triste como um prático de farmácia sou quase tão triste como um homem que usa [costeletas Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher mas só ouço o tectec das máquinas de escrever. Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda Quantas meninas pela vida afora E eu alinhando no papel as fortunas dos outros. Se eu tivesse estes contos punha a andar a roda da imaginação nos caminhos do mundo. E os fregueses do Banco LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 13 O Modernismo no Brasil: segunda geração198 que não fazem nada com estes contos!Chocam outros contos pra não fazerem nada com eles Também se o Diretor tivesse a minha imaginação o Banco já não existiria mais e eu estaria noutro lugar. MENDES, Murilo. 36 ESPM 2013 Assinale a afirmação incorreta sobre o poema O “eu” poético: A estabelece um denominador comum (tristeza) en tre o funcionário de banco, o prático da farmácia e o homem de costeletas. opõe o mundo interior com desejo de afetividade (“carinhos de mulher”) ao mundo exterior com roti- na do trabalho (“tectec das máquinas”). alude ao trabalho burocrático e repetitivo, reforça- do pela onomatopeia “tectec” d associa o espaço externo a aspectos prazerosos da vida e o espaço interno ao aspecto fútil de sua atividade. E atribui a existência do Banco, instituição capitalista, à criatividade do Diretor do Banco. 37 ESPM 2013 Ainda sobre o poema de Murilo Mendes, assinale a incorreta. O “eu” poético: A questiona o acúmulo de dinheiro na sociedade capi talista: objeto que existe como um meio, não um fim. lastima o fato de os fregueses do Banco estarem preocupados em multiplicar a fortuna, não usufruir a vida. considera os contos chocando e o alinhamento da fortuna alheia os responsáveis pela sua dúvida existencial d põe sua roda da imaginação para funcionar quan do se refere aos carinhos de mulher, à chuva e às meninas. E deixa subentendida uma oposição entre o ter capi- talista e o querer poético. 38 Unicamp 2018 Leia a seguir duas passagens do poema “Olá! Negro”, de Jorge de Lima “A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro! E és tu que a alegras ainda com os teus jazzes Com os teus songs, com os teus lundus!” [ ] “Não basta iluminares hoje as noites dos brancos com teus jazzes. Olá, Negro! O dia está nascendo! O dia está nascendo ou será a tua gargalhada que vem vindo?” LIMA, Jorge de. Poesias completas. v. I, Rio de Janeiro/Brasília: J Aguilar/INL, 1974, p 180-1 Considerando o livro Poemas negros como um todo e a poética de Jorge de Lima, é correto armar que o último verso citado A manifesta o desprezo do negro pela situação deca dente da cultura do branco. realiza a aproximação entre a alegria do negro e uma ideia de futuro. remete à vingança do negro contra a violência a que foi submetido pelo branco. d funciona como um lamento, já que o nascer do dia não traz justiça social 39 Unicamp 2017 O Sinhô foi açoitar sozinho a negra Fulô A negra tirou a saia e tirou o cabeção, de dentro dêle pulou nuinha a negra Fulô. Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! Cadê, cadê teu Sinhô que Nosso Senhor me mandou? Ah! Foi você que roubou, foi você, negra Fulô? Essa negra Fulô! LIMA, Jorge de. Poesias Completas. v. 1. Rio de Janeiro/Brasília: J. Aguilar/INL, 1974 p. 121 A Sinhá mandou arrebentar-lhe os dentes: Fute, Cafute, Pé-de-pato, Não-sei-que-diga, avança na branca e me vinga. Exu escangalha ela, amofina ela, amuxila ela que eu não tenho defesa de homem, sou só uma mulher perdida neste mundão. Neste mundão Louvado seja Oxalá Para sempre seja louvado Idem, p. 164. Essas duas cenas de ciúmes concluem dois textos diferentes de Jorge de Lima A primeira pertence ao conhecido poema modernista “Essa negra Fulô”; a se- gunda, ao poema “História”, de Poemas negros (1947) Em relação a “Essa negra Fulô”, o poema “História”, especicamente, representa A a reiteração da denúncia das relações de poder, muito arraigadas no sistema escravocrata, que co- locam no mesmo plano violências raciais e sexuais a passagem de uma caracterização da mulher ne- gra como sedutora para uma postura solidária em relação à escrava, que explicita as estratégias com- pensatórias de que se vale para sobreviver. a permanência de uma visão pitoresca sobre a si- tuação da mulher negra nos engenhos de açúcar, que oculta os mecanismos de poder que garantiam sua exploração. d a superação da visão idílica da vida na senzala, gra- ças a uma postura realista e social, que revela a violência das relações entre senhores e escravos.
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