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15 UPE 2015 Considerando as peculiaridades estéticas de Guimarães Rosa e Clarice Lispector, analise as afirma- tivas que se referem aos contos de Primeiras Histórias e Laços de Família e assinale a alternativa ORRETA. A Em Primeiras Histórias, coletânea de 21 contos lon- gos, todos com narradores oniscientes, à exceção de Pirlimpsiquice, há um relato realizado por uma personagem, que narra acontecimentos vividos por um grupo do qual participa. Em Laços de Família, constituído de treze contos, Clarice Lispector se distancia por completo de suas características anteriores, pois desenvolve a mesma temática: da mulher casada que não se submete ao marido. Em A Terceira Margem do Rio e A menina de lá, Guimarães Rosa cria dois acontecimentos que se explicam pela lógica cotidiana Nos dois contos, os elementos do cotidiano e a vida simples do homem do campo são temas comuns, que fazem parte do dia a dia da maioria das personagens roseanas d No conto A Galinha, Clarice Lispector personifica a ave que revela sentimentos maternais, que são se- melhantes aos de uma velha mãe O comportamento da ave convence o pai e a filha de que deve deixá-la viver, como se pode observar no discurso direto do dono da casa: “ Se você mandar matar esta galinha, nunca mais comerei galinha na minha vida!” E Em Primeiras Histórias e Laços de Família, os autores não parecem se preocupar com a mensa- gem, pois neles a linguagem é despojada e não apresentam nenhuma inovação linguística. Além disso, não há, especialmente em Laços de Família, momentos de epifania, inovando os aspectos esté- ticos dos dois autores. 16 PUC-SP 2017 A obra Sagarana, de João Guimarães Rosa, foi publicada em 1946. Dela é correto afirmar que A se intitula Sagarana porque reúne novelas que se de- senvolvem à maneira de gestas guerreiras e lendas e apresentam um tema comum que abarca a vida sim- ples dos sertanejos da região baiana do São Francisco. compõe-se de nove novelas, entre as quais se so bressai “Corpo fechado”, história de valentões e espertos, de violência e de mágica, protagonizada por Manuel Fulô. estrutura-se em doze narrativas, de sentido moral e embasadas na tradição mineira, entre as quais se destacam “Questões de família”, história meio au tobiográfica, e “Uma história de amor”, expressivo drama passional. d apresenta narrativas apenas de teor místico religio- so como a que se engendra em “A hora e vez de Augusto Matraga”, cujo estilo destoa do conjunto das outras que compõem o livro. 17 PUC-SP 2017 O sol cresce, amadurece. Mas eles estão esperando é a febre, mais o tremor. Primo Ribeiro parece um defunto sarro de amarelo na cara chupada, olhos sujos, desbrilhados, e as mãos pendulando, compondo o equilíbrio, sempre a escorar dos lados a bambeza do corpo. Mãos moles, sem firmeza, que deixam cair tudo quanto ele queira pegar Baba, baba, cospe, cospe, vai fincando o queixo no peito; e trouxe cá para fora a cai- xinha de remédio, a cornicha de pó e mais o cobertor. O trecho apresentado integra o conto “Sarapalha” e faz parte da obra Sagarana de João Guimarães Rosa. Dessa narrativa como um todo, é errao afirmar que A apresenta duas narrativas, uma em tempo presente e outra, em tempo passado, a qual assume dimen- são mítica na cabeça delirante de Primo Ribeiro. enfoca a solidão, o abandono e a decadência de duas personagens acometidas de maleita e que passam os dias em diálogo sobre suas condições físicas e sentimentais. gera um conflito entre dois primos, quando um de- les revela ter gostado muito de Luísa, mulher do outro, que o abandonara por um boiadeiro. d usa predominantemente discurso indireto livre, que faz aflorar o pensamento íntimo da personagem e despreza o diálogo objetivo e direto por sua inca- pacidade de interlocução. 18 FICSAE 2017 De repente, na altura, a manhã gargalhou: um bando de maitacas passava, tinindo guizos, partindo vidros, estralejando de rir E outro. Mais outro E ainda outro, mais baixo, com as maitacas verdinhas, grulhantes, gralhantes, incapazes de acertarem as vozes na disciplina de um coro. (...) O sol ia subindo, por cima do voo verde das aves itinerantes. Do outro lado da cerca, passou uma rapariga. Bonita! Todas as mulheres eram bonitas. Todo anjo do céu devia de ser mulher. O trecho apresentado integra a obra Sagarana, de Guimarães Rosa Indique, nas alternativas a seguir, o nome do conto que contém o referido trecho. A “A hora e vez de Augusto Matraga”, que narra a violência como instrumento de redenção, mate- rializada na morte de Joãozinho Bem Bem e do jagunço protagonista. “Corpo fechado”, história de valentões e de esper- tos, de violência e de mágica, protagonizado por Manuel Fulô. “São Marcos”, que relata a desavença entre o nar- rador e um feiticeiro que o deixa cego por força de uma bruxaria. d “Minha gente”, em que se relata a situação vivida por um moço da cidade que vai passar uma tem- porada no campo e vive amores desencontrados. 19 UPF 2016 Em relação à obra Primeiras estórias, de Gui- marães Rosa, apenas é incorreto afirmar que: A reúne contos de vários tipos, entre eles o psicológi- co, o anedótico, o fantástico e o satírico. confere destaque à voz do narrador culto, que permanece distanciado das personagens e preo- cupado em desvendar a lógica subjacente à ação das crianças, loucos e seres rústicos que povoam os contos. F R E N T E 2 109 demonstra a preocupação do autor em recriar a lingua- gem, através de deslocamentos sintáticos e do uso de arcaísmos e neologismos, entre outros recursos. d não se trata, apesar do título, do livro de estreia do autor, mas apenas de seu primeiro livro composto unicamente por narrativas curtas. E ultrapassa, frequentemente, as fronteiras entre a narrativa e a poesia lírica, através do destaque dado aos aspectos sonoros e melódicos da linguagem. 20 Unicamp 2019 “Um cego me levou ao pior de mim mes- ma, pensou espantada Sentia se banida porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos ardentes. Ah! era mais fácil ser um santo que uma pessoa! Por Deus, pois não fora verdadeira a piedade que sondara no seu coração as águas mais profundas? Mas era uma piedade de leão.” (Clarice Lispector, “Amor”, em Laços de família. 20a ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990, p 39.) Ao caracterizar a personagem Ana, a expressão “pie- dade de leão” reúne valores opostos, remetendo simultaneamente à compaixão e à ferocidade. É cor- reto armar que, no conto “Amor”, essa formulação A revela um embate de natureza social, já que a po- breza do cego causa náuseas na personagem expressa o dilema cristão da alma pecadora diante de sua incapacidade de fazer o bem indica um conflito psicológico, uma vez que a per sonagem não se sente capaz de amar d alude a um contraste moral e existencial que pro voca na personagem um sentimento de angústia. Leia os textos para responder às questões de 21 a 23. Tome por base uma crônica de Clarice Lispector (1920- 1977) e uma passagem do Manual do roteiro, do professor de técnica do roteiro, consultor e conferencista Syd Field Escrever Eu disse uma vez que escrever é uma maldição. Não me lembro por que exatamente eu o disse, e com since- ridade. Hoje repito: é uma maldição, mas uma maldição que salva. Não estou me referindo muito a escrever para jornal Mas escrever aquilo que eventualmente pode se transfor- mar num conto ou num romance. É uma maldição porque obriga e arrasta como um vício penoso do qual é quase im- possível se livrar, pois nada o substitui E é uma salvação Salva a alma presa, salva a pessoa que se sente inútil, salva o dia que se vive e que nunca se entende a menos que se escreva. Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada Que pena que só sei escrever quando espontanea- mente a “coisa” vem Fico assim à mercê do tempo E, entre um verdadeiro escrever e outro, podem-se passar anos Lembro-meagora com saudade da dor de escrever livros. LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo, 1999. Escrevendo o roteiro Escrever um roteiro é um fenômeno espantoso, quase misterioso. Num dia você está com as coisas sob controle, no dia seguinte sob o controle delas, perdido em confusão e incerteza. Num dia tudo funciona, no outro não; nin- guém sabe como ou por quê. É o processo criativo; que desafia análises; é mágica e maravilha. Tudo o que foi dito ou registrado sobre a experiência de escrever desde o início dos tempos resume-se a uma coisa — escrever é sua experiência particular, pessoal. De ninguém mais. Muita gente contribui para a feitura de um filme, mas o roteirista é a única pessoa que se senta e encara a folha de papel em branco. Escrever é trabalho duro, uma tarefa cotidiana, de sen- tar-se diariamente diante de seu bloco de notas, máquina de escrever ou computador, colocando palavras no papel Você tem que investir tempo. Antes de começar a escrever, você tem que achar tempo para escrever. Quantas horas por dia você precisa dedicar-se a escrever? Depende de você Eu trabalho cerca de quatro ho- ras por dia, cinco dias por semana. John Millius escreve uma hora por dia, sete dias por semana, entre 5 e 6 da tarde. Stirling Silliphant, que escreveu The towering in- ferno (Inferno na torre), às vezes escreve 12 horas por dia. Paul Schrader trabalha com a história na cabeça por meses, contando-a para as pessoas até que ele a conheça completamente; então ele “pula na máquina” e a escreve em cerca de duas semanas. Depois ele gastará semanas polindo e consertando a história Você precisa de duas a três horas por dia para escrever um roteiro Olhe para a sua agenda diária. Examine o seu tempo. Se você trabalha em horário integral, ou cuidando da casa e da família, seu tempo é limitado. Você terá que achar o melhor horário para escrever Você é o tipo de pessoa que trabalha melhor pela manhã? Ou só vai acordar e ficar alerta no final da tarde? Tarde da noite pode ser um bom horário. Descubra. FIELD, Syd. Manual do roteiro, 1995. 21 Unesp 2013 Clarice Lispector coloca inicialmente o processo da criação literária como uma “maldição”. Em seguida, ressalva que é também uma “salvação”. Com base no texto da crônica, explique como a au- tora resolve essa diferença de conceitos sobre a criação literária. 22 Unesp 2013 “Que pena que só sei escrever quando es- pontaneamente a ‘coisa’ vem.” Explique, com base no primeiro parágrafo do texto “Escrevendo o roteiro”, se Syd Field concorda com essa armação de Clarice Lispector. LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 15 Século XX: novas identidades literárias110 23 Unesp 2013 Mas escrever aquilo que eventualmente pode se transformar num conto ou num romance. Ao empregar na frase apresentada o advérbio “even- tualmente”, o que revela Clarice Lispector sobre a criação de um conto ou romance? 24 UFPE 2012 Antes de escrever A hora da estrela, Clarice Lispector trabalhou na imprensa carioca, mantendo “colunas femininas” em jornais de grande circulação. Observe a imagem, leia os textos e julgue as questões. Texto 1 Propaganda de bebida gaseificada nos Estados Unidos, na década de 1950. Texto 2 Sou datilógrafa, virgem e gosto de Coca-Cola. LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Texto 3 Também esqueci de dizer que o registro que em bre- ve vai ter que começar [...] é escrito sob o patrocínio do refrigerante mais popular do mundo e que nem por isso me paga nada, refrigerante esse espalhado por todos os países Apesar de ter gosto do cheiro de esmalte de unhas, de sabão Aristolino e plástico mastigado. Tudo isso não impede que todos o amem com servilidade e subserviên- cia. Também porque – e vou dizer agora uma coisa difícil que só eu entendo – porque essa bebida que tem coca é hoje. Ela é um meio da pessoa atualizar-se e pisar na hora presente. LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Texto 4 O gosto de uma rainha, ou mesmo de uma “estrela”, não é mais atualmente suficiente para o estabelecimento de um estilo, ou venda de um produto. As companhias de publicidade sabem que é preciso sondar os corações femi- ninos. São pesquisas deste gênero que permitem constatar o estado permanente de inquietação da consciência femi- nina e medir até que ponto, no capítulo das compras, a mulher – essa grande compradora – se deixa influenciar na aquisição de um artigo. LISPECTOR, Clarice. Correio feminino. 0-0 O texto jornalístico de Clarice citado indica a sua preocupação em esclarecer as leitoras de sua épo- ca sobre o papel da mulher moderna no mundo consumista. 1-1 Coerente com o glamour das propagandas, o refri- gerante em questão é retratado na obra de Clarice como uma bebida saudável e deliciosa, muito apre- ciada por Macabéa. 2 2 No Texto 3, Clarice sugere, ironicamente, que a sua narrativa foi “financiada” pela Coca Cola, para parecer uma obra em sintonia com o seu tempo. 3-3 Para Clarice, a identidade da mulher moderna está cada vez mais associada ao seu poder de compra e ao seu acesso aos bens de consumo industrializados. 4-4 O título do romance A hora da estrela refere-se à virada na história da pobre Macabéa, que se torna, ao final, uma famosa estrela de cinema 25 Unesp 2017 Leia o excerto do romance A hora da es- trela de Clarice Lispector (1925-1977). Será que eu enriqueceria este relato se usasse alguns difíceis termos técnicos? Mas aí que está: esta história não tem nenhuma técnica, nem estilo, ela é ao deus-dará. Eu que também não mancharia por nada deste mundo com palavras brilhantes e falsas uma vida parca como a da datilógrafa [Macabéa]. Durante o dia eu faço, como todos, gestos despercebidos por mim mesmo Pois um dos gestos mais despercebidos é esta história de que não tenho culpa e que sai como sair A datilógrafa vivia numa espécie de atordoado nimbo, entre céu e inferno. Nunca pensara em “eu sou eu”. Acho que julgava não ter direito, ela era um acaso. Um feto jogado na lata de lixo embrulhado em um jornal. Há milhares como ela? Sim, e que são apenas um acaso. Pensando bem: quem não é um acaso na vida? Quanto a mim, só me livro de ser apenas um acaso porque escrevo, o que é um ato que é um fato É quando entro em contato com forças interio- res minhas, encontro através de mim o vosso Deus. Para que escrevo? E eu sei? Sei não. Sim, é verdade, às vezes também penso que eu não sou eu, pareço pertencer a uma galáxia longínqua de tão estranho que sou de mim. Sou eu? Espanto-me com o meu encontro. A hora da estrela, 1998. Para o narrador, o emprego de “difíceis termos téc- nicos” seria adequado para narrar a história de Macabéa? Justique sua resposta. Transcreva a frase que melhor explicita a inconsciência da personagem Macabéa. Justique sua resposta. F R E N T E 2 111
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