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F R E N T E 2 145 Segundo os dados da FAO de 2017, a Europa, como um todo, ocupa o primeiro lugar no valor de exportações e importações de produtos agropecuários (US$ 428 bilhões e US$ 417 bilhões, respectivamente). Um dos aspectos mais impressionantes da agricultura dos países desenvolvidos é a sua elevada produtividade, mesmo com o baixo per- centual de trabalhadores empregados, conforme sinaliza o mapa a seguir. Além disso, esse setor tem uma participação relativamente baixa no PIB desses países. Atenção Mundo: população empregada na agricultura – 2018 Fonte: elaborado com base em FAO. World food and agriculture Statistical pocketbook 2019. Rome: FAO, 2019. p. 7. Disponível em: www.fao.org/3/ca6463en/ca6463en.pdf. Acesso em: 20 out. 2020. Círculo Polar Ártico Círculo Polar Antártico Trópico de Câncer Trópico de Capricórnio Equador M er id ia n o d e G re en w ic h 0º 0º OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO OCEANO ÍNDICO OCEANO GLACIAL ÁRTICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO 5% 15% 30% 50% 0 2240 km N Países selecionados: participação da agricultura no PIB (%) 4,0 0 Ano 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 10 2 0 11 2 0 12 2 0 13 2 0 14 2 0 15 2 0 16 2 0 17 1,0 2,0 3,0 Alemanha Itália Espanha Países Baixos França Estados Unidos Fonte: WORLD DATA BANK. Agriculture, forestry, and shing, value added (% of GDP). Disponível em: https://data.worldbank.org/indicator/NV.AGR.TOTL.ZS?end=2019&locations=US-ES-NL FR-IT- DE&start=2000&view=chart. Acesso em: 20 out. 2020. Fig. 7 Apesar da grande produtividade agropecuária nos países desenvolvidos, esse setor representa um pequeno percentual no PIB (menos de 3%), pois são produtos com baixo valor agregado. GEOGRAFIA Capítulo 4 Geografia Agrária146 Apesar das realidades distintas, o setor agropecuário dos países desenvolvidos lidera a pesquisa e aplicação de inovações técnicas com uma produção bastante me- canizada, intensiva e científica. As grandes propriedades fazem parte do sistema agroindustrial, e os produtores de pequenas e médias propriedades, muitos deles pra- ticando o sistema camponês, contam com financiamento bancário facilitado, subsídios governamentais e políticas de preços aos gêneros importados que protegem os pro- dutos nacionais. Inclusive, são esses subsídios e essas tarifas alfande- gárias que têm dificultado a chegada a um consenso nas negociações sobre o livre-comércio entre as nações, inicia- das em 2001, na Rodada Doha, criada pela OMC. Além do campo financeiro, os países desenvolvidos utilizam outros recursos para impedir a entrada de gêneros agropecuários, como o estabelecimento de rígidas regras fitossanitárias e a exigência de que os países produtores cumpram deter- minadas condições trabalhistas e ambientais. Na Europa, em 1962, quando ainda vigorava a Comuni- dade Europeia, um estágio anterior à atual União Europeia, foi definida a Política Agrícola Comum (PAC) para compensar os maiores custos da terra na Europa e sua consequen- te desvantagem se comparada à produção mundial, que era mais barata. A PAC garantiu preços mínimos para cada produto, estabeleceu a preferência pelos produtos eu- ropeus nas trocas comerciais e fixou tarifas comuns para importação de gêneros agrícolas, assegurando, assim, a permanência do agricultor no campo. Nos Estados Unidos, vigora a farm bill, conjunto de leis redefinido a cada cinco anos para atualizar os mecanis- mos de incentivo e proteção aos produtores e ao mercado interno de acordo com os cenários nacional e internacional. A farm bill compõe os interesses dos stakeholders, que são os agricultores, os consumidores, as empresas e o governo. A agropecuária empresarial A modernização das atividades agrícolas, desenvolvida a partir da intensificação do capitalismo industrial no campo, criou novas formas de produção e de distribuição, consti- tuindo a agropecuária industrial. Esse modelo de negócio tem se consolidado em médias e grandes propriedades, sobretudo em áreas com relevo plano, o que favorece a mecanização e apresenta uma estreita relação com a agri cultura de precisão. Agricultura de precisão A agricultura de precisão (ou agricultura científica) é um tema abrangente e multidisciplinar que procura estabelecer um sistema integrado entre as informações ambientais associadas s lavouras, tecnologias e técnicas que podem aumentar a produtividade, como o GPS, a geoestatística, sensores diversos (para monitoramento do solo, insetos ou doenças) e o geoprocessamento. Além disso, há uma grande preocupação em aplicar um gerenciamento detalhado da pro- dução, identificando e solucionando possíveis obstáculos lavoura. Saiba mais O maior destaque desse sistema agrícola, baseado nas grandes propriedades e na mecanização dos países desenvolvidos, ocorre nos Estados Unidos, cuja produção é fortemente especializada e regionalizada, marcada pelos cinturões, ou belts, em inglês. Pases selecionados: comparação no tamanho médio das fazendas (%) Fonte: FAO. Farming the world: China’s epic race to avoid a food crisis. Bloomberg News, 22 maio 2017. Disponível em: www.bloomberg.com/graphics/2017 feeding-china/. Acesso em: 20 out. 2020. Fig. 8 Observe a diferença no tamanho médio das propriedades rurais em alguns dos principais exportadores de gêneros agrícolas. Note que o gráfico reflete a diferença na concentração fundiária dos países. A combinação de técnicas e tecnologias, associada à lógica industrial sobre o campo, atua na definição das melhores áreas para o plantio de cada cultura, potencializando as propriedades e seus tipos de solo e clima e implicando menores custos na adaptação de culturas. Além disso, a presença do sistema de transporte e sua integração ao mercado interno ou externo também são fatores relevantes para definir a finalidade da produção, os custos da terra e o estudo das neces- sidades de aplicação de insumos para obtenção de maior eficiência e consequente lucratividade. Observe a distribuição dos belts no mapa a seguir Perceba que temos a rotação de culturas devido à localização geográfica e às variações climáticas, que podem ser mais intensas. Justamente nessas áreas, registram-se algumas das maiores produtividades mundiais de cereais, principalmente nas Grandes Planícies e na bacia do Rio Mississippi. F R E N T E 2 147 O trigo (Wheat belt) divide-se em duas áreas: no médio vale do Rio Missouri (primavera) e nas pradarias centrais (in- verno). A rotação de cultura se dá com o girassol e a cevada. O milho (Corn belt) localiza-se no alto e médio vale do Mississippi e atende o mercado interno e externo para a produção de ração animal e óleo vegetal. Sua produção é consorciada com a de soja. O algodão (Cotton belt) é uma cultura que remonta aos tempos coloniais no sul do país, assim como o tabaco, e encontra-se nos arredores do baixo vale do Rio Mississippi, onde predomina o clima subtropical. O Dairy belt caracteriza-se pela policultura de frutas, verduras e legumes e pela produção de laticínios, produtos destinados ao mercado interno. Por esse motivo, localiza-se próximo aos grandes centros consumidores do nordeste e dos Grandes Lagos. Diferentemente dos demais belts, predominam propriedades de tamanho médio, pois a alta rentabilidade de sua produção eleva o custo da terra. A pecuária divide-se entre o Dairy belt e o Ranching belt, sendo a primeira praticada de forma intensiva, mantendo o gado bovino confinado, com a finalidade de produção leiteira e seus derivados (pecuária leiteira), e a segunda em grandes pastagens com numerosos rebanhos criados soltos, de forma extensiva, cuja finalidade é o abate para produção de carne (pecuária de corte). Além desses belts tradicionais, existem outras áreas que também apresentam especialização na produção agrícola, por exemplo, o Fruit belt, cujos destaques são os cultivos de laranja e cana. Os produtos hortifrutigranjeiros caracterizam o Green belt e as frutasno Dry belt (cinturão seco) – situado no sul da Califórnia –, que recebe esse nome em razão da sua baixa umidade e necessidade de investimentos em irrigação, executada por meio de alta tecnologia, para possibilitar a produção. Mundo: 10 maiores produtores de milho – 2018 450 E st ad o s U n id o s M ilh õ e s d e t o n e la d as 400 350 300 250 200 150 100 50 0 C h in a B ra si l A rg e n tin a U cr ân ia In d o n é si a Ín d ia M é xi co R o m ê n ia C an ad á Mundo: 10 maiores produtores de soja – 2018 E st ad o s U n id o s M ilh õ e s d e t o n e la d as 140 120 100 80 60 40 20 0 B ra si l A rg e n tin a C h in a Ín d ia P ar ag u ai C am ad á U cr ân ia R ú ss ia B o lív ia Fonte: FAOStat. Countries by commodity. FAO, 2018. Disponível em: www.fao.org/faostat/ en/#rankings/countries_by_commodity. Acesso em: 20 out. 2020. Fig. 9 Os Estados Unidos destacam-se como os maiores produtores mundiais de milho e soja. Estados Unidos: agricultura e pecuria Fonte: elaborado com base em LANGROGNET, Michel (Dir.). Le Grand Atlas Géo-Gallimard pour le XXI siècle. Paris: Gallimard, 2008. p. 19. Golfo do México 90° O OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO CANADÁ MÉXICO 40º N Trópico de Câncer Grandes Lagos R io C o lo ra d o R io M isso u ri Rio Ohi o R io M is si ss íp i Dry Farming Trigo e cereais Arroz e frutas Culturas irrigadas Culturas hortifrutigranjeiras (Green belt) Algodão (Cotton Belt) Pecuária leiteira (Dairy Belt) Zona não produtiva (desertos e florestas) Pecuária extensiva (Ranching Belt) Tabaco e amendoim Milho e soja (Green Belt) 0 420 km N
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