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QUÍMICA Capítulo 8 Reações orgânicas52 A síntese completa da vitamina B12 A história da vitamina B12 começou quando os médicos re- conheceram que a anemia, uma doença fatal causada por uma baixa concentração de células vermelhas do sangue, podia frequentemente ser tratada eficazmente alimentan- do-se o paciente com fígado. Esta descoberta provocou uma corrida para extrair as substâncias no fígado e isolar a vitamina capaz de tratar algumas formas de anemia. Em 1947, a vitamina B12 foi isolada e purificada, por Ed Rickes (um cientista trabalhando na empresa química Merck), na forma de cristais de cor vermelho-profundo. Os esforços se concentraram então na determinação da estrutura. Algumas características estruturais foram inicialmente elucidadas, mas a estrutura completa foi determinada por Dorothy Crowfoot Hodgkin (Oxford University, Inglaterra), utilizan- do cristalografia de raios X. Ela encontrou que a estrutura da vitamina B12 é construída sobre um anel corrina, que é semelhante ao anel de porfirina presente na clorofila, o pigmento verde que as plantas usam para a fotossíntese (veja a figura presente neste boxe). O anel corrina da vitamina B12 é também constituído por quatro heterociclos (anéis contendo um heteroátomo, tal como o nitrogênio), unidos entre si em um macrociclo. Entretanto, o anel corrina da vitamina B12 é construído em torno de um átomo de cobalto central em vez de o magnésio da clorofila, e a vitamina B12 contém muito mais centros de quiralidade do que a clorofila. A determinação desta estrutura complexa expandiu os limites da cristalografia de raios X, que até então não havia sido utilizada para elucidar uma estrutura tão complexa. Hodgkin foi uma pioneira no campo da cristalografia de raios X e identificou as estrutu- ras de muitas e importantes substâncias bioquímicas. Por seus esforços, ela foi premiada com o Prêmio Nobel de Química, em 1964. Com a estrutura da vitamina B12 elucidada, o palco estava montado para a sua síntese completa. Nessa época, a com- plexidade da vitamina B12 representava o maior desafio para os químicos orgânicos sintéticos, e um par de talentosos químicos orgânicos sintéticos achou esse desafio irresistível. Robert B. Woodward (Harvard University, EUA) já era o principal perso- nagem no campo da síntese em química orgânica, com suas sínteses completas bem-sucedidas de muitos e importantes produtos naturais, incluindo quinino (usado no tratamento de malária), colesterol e cortisona [...], estricnina (veneno), re- serpina (um tranquilizante) e clorofila Com essas conquistas impressionantes em seu currículo, Woodward ansiosamente abraçou o desafio da vitamina B12. Ele começou a trabalhar nos métodos para a construção do anel corrina, bem como da estereoquimicamente exigente cadeia lateral. Enquanto isso, Albert Eschenmoser (na ETH em Zurique, Suíça) também estava trabalhando em uma síntese da vitamina B12. Entretan- to, os dois pesquisadores estavam desenvolvendo diferentes estratégias para a construção do anel corrina. A rota A → B de Woodward envolvia a formação do macrociclo entre os anéis A e B, enquanto a rota A → D de Eschenmoser envolvia a formação do macrociclo entre os anéis A e D: Texto complementar Clorofila a Mg O N N NN O O Anel de porfirina O O O O O O O O O O O O NH 2 H 2 N H 2 N H 2 N NH 2 NH 2 CN OH HO H P Co NH NN N N N N Vitamina B 12 Anel corrina + F R E N T E 1 53 Abordagem A→ B A macrociclização ocorre entre os anéis A e B A B C N NN N M D Abordagem A→ D A macrociclização ocorre entre os anéis A e D A B C N NN N M D A B C N NN N M D Durante o desenvolvimento de cada um dos caminhos reacionais, surgiram obstáculos inesperados que exigiram o desenvolvimento de novas estratégias e técnicas. Por exemplo, Eschenmoser tinha demonstrado com sucesso um método para o acoplamento de heterociclos, permitindo a construção de um sistema corrina simples (sem os grandes grupos laterais volumosos encontrados na vitamina B12), no entanto, esta abordagem falhou para acoplar os heterociclos que precisavam ser unidos para formar o anel corrina da vitamina B12. Esta falha foi atribuída ao impedimento estérico dos substituintes em cada heterociclo. Para contornar o problema, Eschenmoser desenvolveu um método engenhoso através do qual ele uniu dois anéis em conjunto com uma ponte provisória de enxofre. Ao fazer isso, o processo tornou-se um processo de acoplamento intramolecular, em vez de um processo intermolecular. CB N + N R R R CB N N R R R B N Ligação temporária R R C N R S KLEIN, David. Química Orgânica. Trad. Oswaldo Esteves Barcia, Leandro Soter de Mariz Miranda e Edilson Clemente Silva. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. v. 1. p. 556-7. A ponte de enxofre foi prontamente eliminada durante o processo de acoplamento, e o processo global se tornou conhecido como “contração de sulfeto”. Este é apenas um exemplo das soluções criativas que os químicos sintéticos têm de desenvolver quando uma rota de síntese planejada falha. Uma série de obstáculos ainda teve que ser enfrentada por Woodward e Eschenmoser, e uma parceria foi feita em 1965 para enfrentar o problema juntos. Na verdade, esse foi o mesmo ano em que Woodward foi agraciado com o Prêmio Nobel de Química por suas contribuições para o campo da química orgânica sintética. Woodward e Eschenmoser continuaram a trabalhar juntos por mais sete anos, muitas vezes passando um ano inteiro otimizando as condições para uma etapa individual. O esforço intenso, que envolveu cerca de 100 alunos de pós-graduação que trabalharam por uma década, acabaria por ser recompensado. A equipe de Woodward completou a montagem da cadeia lateral estereoquimicamente exigente, e os dois grupos combinaram alguns dos melhores métodos e práticas desenvolvidos durante estudos destinados à construção do sistema corrina. As peças foram finalmente unidas entre si, e a síntese foi completada para produzir a vitamina B12, em 1972. Este marco representa uma das maiores conquistas da história da química orgânica sintética, e demonstrou que os químicos orgânicos podiam produzir uma substância, independentemente da complexidade, desde que tivessem tempo suficiente. Durante sua jornada em direção à síntese completa da vitamina B12, Woodward encontrou uma classe de reações que eram conhecidas por ocorrerem com resultados estereoquímicos inexplicáveis. Junto com seu colega Roald Hoffmann, ele desenvolveu uma teoria e um conjunto de regras que conseguiam explicar os resultados estereoquímicos de toda uma área da química orgânica chamada reações pericíclicas. [...] A história da vitamina B12 é um maravilhoso exemplo de como a química orgânica avança. Durante a síntese completa de uma substância estrutu- ralmente complexa, existe inevitavelmente um ponto em que a rota planejada falha, requerendo um método criativo para contornar o obstáculo. Desse modo, novas ideias e técnicas estão constantemente sendo desenvolvidas. Nas décadas seguintes, desde a síntese completa da vitamina B12, milhares de alvos sintéticos, a maioria deles farmacêuticos, foram atingidos. Novas técnicas, reagentes e princípios constantemente surgem a partir desses empreendimentos. Com o tempo, os alvos sintéticos estão ficando mais e mais complexos, e os principais pesquisadores no campo da química orgânica estão constantemente expandindo os limites da química orgânica sintética, que continua a evoluir diariamente. QUÍMICA Capítulo 8 Reações orgânicas54 Resumindo Tipos de ruptura das ligações Existem basicamente dois tipos de ruptura ou cisão de uma ligação cova- lente: a cisão homolítica e a cisão heterolítica. • Cisão homolítica: quando uma ligação covalente quebra de forma homogênea, ou seja, cada átomo fica com um elétron da ligação. Esse tipo de cisão dá origem a reagentes chamados radicais livres, pois apresentam número ímpar de elétrons em sua camada de valência. A B A B+ Cisão homolíticade uma ligação covalente. • Cisão heterolítica: quando uma ligação covalente quebra de forma heterogênea, ou seja, um dos átomos fica com o par de elétrons da ligação. Esse tipo de cisão dá origem a dois reagentes distintos, o cátion (A + ), chamado eletrófilo, e o ânion (B-), chamado nucleófilo. A B A + B – + Cisão heterolítica de uma ligação covalente. Reações de substituição • Reação de halogenação em alcanos Regra geral: R H + R X + H XX X Esquema geral de halogenação de um alcano. C H + +Cl 2 H H H C Cl H ClH H H luz ultravioleta Monocloração do metano. A velocidade relativa de substituição de hidrogênio obedece ao seguinte critério: Cterciário > Csecundário > Cprimário Facilidade de saída do hidrogênio +H3C CH2 H3C CH Cl CH3 H3C CH2 Cl CH2 2-cloropropano (55%) 1-cloropropano (45%) luz ultravioleta CH3 Cl2 + HCl Monocloração do propano. • Reação de substituição em aromáticos Regra geral: H + E Nu + H Nu E Reação genérica de substituição aromática eletrofílica. • Halogenação (reação com Cl2, Br2 ou I2) H + Cl 2 + HCl AlCl 3 Cl • Nitração (reação com HNO3) H + HNO 3 + H 2 O H 2 SO 4 NO 2 • Sulfanação (reação com H2SO4) H + H 2 SO 4 + H 2 O H 2 SO 4 SO 3 H • Alquilação de Friedel-Crafts (reação com R–X) H + H 3 C Cl + HCl AlCl 3 CH 3 • Acilação de Friedel-Crafts (reação com RCOCl) H + H 3 C + HCl C O Cl AlCl 3 C O CH 3 • Grupos orto e para dirigentes Amina R N R R −NH 2 , NH−R, Hidróxi OH Grupos alquila CH3, CH2−CH3, ... Grupos arila Halogênios −Cl, −Br, −I Alcóxi −O−R Principais grupos orto e para dirigentes.
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