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QUÍMICA Capítulo 9 Radioatividade142 Os efeitos de uma explosão nuclear são inúmeros. No mo- mento da explosão, a temperatura pode chegar a 3 200 ºC. Há uma onda de choque posterior, onde o vento se locomove com uma velocidade mais de duas vezes superior à do som. Para quem sobrevive, resta a morte lenta e penosa ocasionada pelos efeitos da radiação, como casos de câncer tardios, malformação ou síndrome dos descendentes gerados. A nuvem de poeira e radioatividade que se forma a partir do cogumelo atômico blo- queia os raios solares, causando o chamado “inverno nuclear”, devido à queda de temperatura nos dias seguintes. Fig. 8 Foto do cogumelo atômico. Fig 9 Fotos aéreas de Nagasaki, antes e depois da bomba Fusão nuclear Fusão nuclear é a união efetiva de dois núcleos meno- res em um núcleo maior, com grande liberação de energia É através deste processo nuclear que as estrelas emitem energia e pelo qual ocorrem as explosões das poderosíssimas bombas de hidrogênio. Os processos de fusão nuclear liberam muito mais energia que os processos de fissão. Como a ener- gia liberada é grande demais, o ser humano não consegue R e p ro d u ç ã o R e p ro d u ç ã o manter a reação sob seu controle com boa segurança, o que inviabiliza, pelo menos por ora, a utilização do processo de fusão em usinas para obtenção de energia Se isso algum dia for possível, a produtividade das usinas será muito maior que a de hoje, com um lixo nuclear bem menos agressivo do que aquele produzido em fissões nucleares. Geralmente, as fusões ocorrem entre isótopos do hidrogênio. Veja alguns exemplos: 1H 2 + 1H 2 → 2He 3 + 0n 1 (I) 1H 2 + 1H 3 → 2He 4 + 0n 1 (II) Esquematicamente: (I) (II) grande quantidade de energia + + +→ + +→ Para os processos de fusão nuclear também vale a conservação das cargas e dos números de massa. Atenção Estas são as reações de fusão nuclear que ocorrem nas estrelas (que as tornam “vivas”) e nas bombas H. Quando o hidrogênio em uma estrela é totalmente consumido, a estrela morre, pois deixa de liberar energia. O calor que aquece o nosso planeta e fornece energia a todo o sistema vivo vem dessa reação. Fig. 10 O Sol e as suas reações de fusão nuclear. Porém, esta não é a única consequência em nosso pla- neta das reações de fusão que ocorrem no Sol. Os nêutrons liberados nessas reações chegam ao nosso planeta através dos raios cósmicos e, em consequência, temos a seguinte transmutação nuclear: 0n 1 + 7N 14→ 6C 14 + 1p 1 (I) Essa é uma reação muito importante no cotidiano atual. O carbono-14 produzido é radioativo e, ao longo do tempo, vai se transformando lentamente em nitrogênio não radioati- vo, através do seguinte decaimento radioativo representado pela equação: 6C 14→ -1b 0 + 7N 14 (II) O Sol, alimentando a Terra com nêutrons, mantém a proporção de carbono-14 em relação a todos os carbonos em torno de 10 ppb (10 partes por bilhão), proporção que se R e p ro d u ç ã o F R E N T E 2 143 mantém estável devido ao equilíbrio das reações I e II Como o carbono-14 se incorpora ao CO2 do ar atmosférico na mes ma proporção, o qual por sua vez se incorpora, através da fotossíntese, aos vegetais e, consequentemente, a todos os seres vivos, então cada indivíduo, enquanto vivo, mantém a proporção de carbono-14 em 10 ppb. Quando morre, deixa de incorporar carbono-14, sendo que a quantidade restante em seu corpo ou células mortas vai diminuindo gradativamente pela equação II A cada 5 700 anos, aproximadamente, essa proporção vai se reduzindo à metade, sucessivamente. Com isso, poderemos saber, através da proporção de carbono-14 em células mortas, há quantos anos um indivíduo morreu. É a chamada datação por carbono-14. É importante salientar que essa datação só é válida para o que viveu e já morreu Portanto, não é válida na datação de um vaso ou de um vegetal vivo Se, por exemplo, tomamos um fóssil de algum organismo, e sua proporção de carbono-14 se reduziu a 2,5 ppb, isso significa que esse organismo morreu há aproximadamente 11 400 anos, pois a proporção caiu pela metade duas vezes em relação à proporção inicial. Sobre as bombas H, podemos dizer que liberam muito mais energia por massa do que uma bomba atômica; têm, portanto, um poder devastador muito maior e, felizmente, jamais foram utilizadas para fins bélicos. Porém, alguns testes já foram realizados. Só para se ter uma ideia do poder des sa bomba, é preciso que uma bomba atômica seja inserida dentro de uma bomba H para poder detoná-la, como uma energia de ativação. Cinética das emissões radioativas A velocidade das emissões radioativas é de primeira ordem em relação à concentração dos radionuclídeos. Isso significa que, em intervalos de tempo iguais, a redução do número de radionuclídeos tem sempre a mesma proporção em relação à quantidade restante deles Foi esse fato que motivou os cientistas a imaginarem a seguinte sequência de reduções de radionuclídeos, onde m0 é a massa inicial de átomos radioativos (ver figura 11). m0 Redução de 50% dos radionuclídeos 1tI Redução de 50% dos radionuclídeos 2tII Redução de 50% dos radionuclídeos ntIII 2 m0 4 m0 2 n m0 Fig. 11 Modelo para visualização do período de meia-vida (t1/2) Como as reações são de primeira ordem em relação aos átomos radioativos, tI = tII = tIII, esses intervalos de tempo são chamados de períodos de meia vida, e são comumente representados por t1/2. Assim: Período de meia-vida (t1/2) é o intervalo de tempo ne- cessário para que o número (ou a massa) de radionuclídeos se reduza à metade. Pelo esquema anterior, podemos perceber que a massa (m) de material radioativo restante é dada por =m m 2 0 n , onde n é o número de períodos de meia vida que se passaram Se representarmos graficamente as emissões radioati vas em um par de eixos m x t, teremos o seguinte gráfico. m(g) t(min) m0 m0/2 m0/4 m0/8 m0/16 t1/2 2t1/2 3t1/2 4t1/2 Fig 12 Massa restante de radionuclídeos após emissões radioativas ao longo do tempo Matematicamente, esta curva pode ser equacionada da seguinte forma: m = m0 · e -kt, onde k é chamada de constante radioativa e sua unidade é T -1. Para saber como utilizamos essas equações, vamos aos exercícios a seguir. Exercícios resolvidos 3 O iodo-125, variedade radioativa do iodo com aplica- ções medicinais, tem meia-vida de 60 dias. Quantos gramas de iodo 125 irão restar, após 6 meses, a partir de uma amostra contendo 2 g de radioisótopo? Resolução: 6 meses ou 180 dias representam três períodos com- pletos de meia-vida e, portanto, n = 3. Com isso, sendo m0 = 2 g, temos: m m 2 m 2 2 m 1 4 m 0,25 g0 n 3 = → = → = → = 4 A meia vida do césio-137 é de 30 anos, e o seu de- caimento ocorre por emissão de partículas beta, transformando-se em bário. Tendo se uma amostra com 100 g de césio-137, após quanto tempo a relação massa de césio/massa de bário fica igual a 1 7 ? Resolução: Este é um problema elaborado. A massa de césio que restará será representada por m. Como Cs se trans- forma em Ba por emissão de partícula beta, a massa de césio que sofre decaimento se converte na mesma massa de bário que é formada, pois a emissão das partículas b não altera a massa dos radionuclídeos. Com isso, a massa de bário será dada por m0 m, que é a massa de césio que sofre desintegração radioativa. Mas =m m 2 (I),0 n e o problema quer = m m 1 7 . cs Ba Portanto: m m m 1 7 7 m m m m 8 m 0 0 0- = → = → = Substituindo em I, temos: m 8m 2 n 3 n = ⇒ = Como t1/2 = 30 anos→ t = 3 · 30 anos→ t = 90 anos. QUÍMICA Capítulo 9 Radioatividade144 1 Unesp O iodo-131 (15 3 3 1I) ainda é muito utilizado como traçador radioativo para exames da glândula tireoide Entretanto, nos últimos anos, vem sendo substituído pelo iodo 123 (125 3 3I), tão eficiente quanto o iodo-131 para essa finalidade, e que passou a ser produzido no Brasil pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, IPEN A substituição pelo 12 5 3 3I traz vantagens para os pacientes e para o meio ambiente, pois a radiação gproduzida é de menor energia, não há emissão de partículas b e a meia-vida é menor Sabe-se que a partícula b corresponde a um elétron ( 1 0e), que a radiação γ é um tipo de radiação eletromagnética como o é a luz e que os processos ocorrem de acordo com as informações apresentadas nos esquemas a seguir → +b+ g = = = → + g = = b g g I Xe com E 0,61 MeV, E 364 keV e t 8 dias I I com E 159 keV e t 1 / 2 dia 53 131 x y 1/2 53 123 53 123 1/2 a) Determine o número de prótons e de nêutrons existentes em cada átomo de iodo-131 e em cada átomo de xe- nônio produzido b) Sabendo que as técnicas empregadas nesse tipo de exame se baseiam na medida da quantidade de radiação emitida em um determinado intervalo de tempo, explique por que são necessárias menores quantidades de áto- mos do isótopo radioativo quando se utiliza 12353 I em substituição ao 131 53 I 2 Cesgranrio O diagnóstico de doenças pancreáticas pode ser realizado através da varredura do pâncreas, utilizan- do-se um dos isótopos do elemento químico selênio, cuja meia vida é igual a 120 dias. A remoção experimental (pancreatectomia) desse órgão conduz também à redução súbita da insulina no organismo, cujo efeito sobre as con centrações sanguíneas de glicose, ácidos graxos e ácido acetoacético é mostrado no gráfico a seguir. Glicose sanguínea Ácidos graxos não esterificados Ácido acetoacético Dias 0 1 2 3 4 Controle R e m o çã o d o P ân cr e as C o n ce n tr aç ão Fonte: Guyton. Fisiologia Médica. Ed. Guanabara Koogan. Na falta de insulina, os ácidos graxos são convertidos, no fígado, em ácido acetoacético, o qual é transportado pelo sangue às células dos tecidos periféricos, onde é convertido em acetil e entra nas reações do ciclo de Krebs. a) Tendo como referência o gráfico e o texto acima, explique a relação entre a perda súbita de insulina e as concen- trações sanguíneas de glicose e ácido acetoacético. b) Considerando-se, conforme o texto, a meia-vida do selênio, qual a massa residual de uma amostra contendo 10 g de seu isótopo 75, após um intervalo de 360 dias? Revisando
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