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GEOGRAFIA Capítulo 8 Ordem mundial100 A partir de 1986, o país começou a abrir sua economia e passou a adotar, de forma controlada, alguns elementos do capitalismo, como propriedade privada e abertura para empresas estrangeiras Em 1994, os Estados Unidos sus- penderam o embargo comercial que haviam estabelecido desde o final da guerra, e a situação do país apresentou uma melhora gradual Conferência de Bandung e os países não alinhados A Conferência de Bandung (Indonésia) foi uma reunião entre 29 países asiáticos e africanos, em abril de 1955, com o propósito de promover a cooperação econômica e cultural entre eles, como alter- nativa e contraposição ao neocolonialismo e a atitudes imperialistas que partiam tanto das duas superpotências, Estados Unidos e União Soviética, como de outras nações influentes. A importância dessa conferência foi o tratamento de temas que até então ocupavam pouco espaço no debate internacional, entre eles a influência negativa dos países ricos em relação aos pobres, a prá- tica do racismo como crime e a constituição de um movimento do Terceiro Mundo, de não alinhamento a nenhuma das superpotências, assumindo uma postura diplomática geopolítica de equidistância, algo difícil no contexto da Guerra Fria. Além disso, em lugar do tradicional entendimento de que o conflito mundial estava posto entre socialismo e capitalismo, Leste-Oeste, os países reunidos em Bandung redirecionaram o eixo para o con- flito Norte-Sul, ou seja, defendiam que as potências industrializadas localizadas mais ao norte do globo oprimiam constantemente e ini- biam o desenvolvimento daquelas nações localizadas mais ao sul, exportadoras de gêneros agrícolas e recursos naturais. Saiba mais Fim da Guerra Fria A disputa entre Estados Unidos e União Soviética foi um dos principais motivos da decadência desta ltima, que também teve causas internas, principalmente a corrupção e os desequilíbrios econômicos provocados por uma econo mia que produzia mercadorias, mas não tinha um mercado para escoá las. O fim da União Soviética, em 1991, significou o término da ordem bipolar e da Guerra Fria. Assim, teve início a for mação de uma Nova Ordem Mundial, que tem definido as tendências da política mundial na atualidade. O fim da tensão entre as duas superpotências abriu campo para a desintegração de países e a eclosão de mui tos conflitos ao redor do mundo, redesenhando mais uma vez o mapa mndi. Fim da URSS e criação da CEI Com a decadência da economia soviética e a subida ao poder de Mikhail Gorbachev (1931-), com suas medi das liberalizantes (a perestroika e a glasnost), toda a centralização e estabilidade da União Soviética entraram em colapso Perestroika significa reconstrução Todavia, recebeu a conotação de reestruturação econômica Um dos princi pais aspectos dessa reestruturação consistia em reduzir a quantidade de dinheiro investida em defesa As reformas econômicas também promoveram a liberalização do co- mércio exterior e dos preços, incentivo a investimentos privados, entre outras iniciativas da economia de merca- do. A glasnost, por sua vez, foi um processo de abertura política. O termo ficou associado, no Ocidente, à liber dade de expressão. A medida deu novas liberdades à população, inclusive de discurso. Nesse caso, a mudança foi considerada radical, já que o controle dos meios de comunicação e a supressão de críticas ao governo eram uma característica do sistema soviético. As medidas de Gorbachev, iniciadas em 1985, não obtiveram o resultado esperado. Enquanto a perestroika foi insuficiente para recuperar a economia, piorando a crise soviética, a glasnost deu mais liberdade ao povo para sairàs ruas e protestar. A agitação popular tornou-se crescente no país e aca- bou sendo um dos maiores motivos para a tentativa de golpe que ocorreu em agosto de 1991, liderada por um grupo de militares favoráveis ao retorno da linha dura. A tentativa foi frustrada devido ao fraco apoio que o grupo golpista tinha entre o restante dos militares e também à força de mobilização que a população havia adquirido. Mesmo assim, após esse episódio, a política interna da União Soviética passou por novas transformações. Gorba- chev perdeu a pouca popularidade que detinha, o que abriu uma brecha política para que os presidentes das repblicas federadas se reunissem em dezembro do mesmo ano e declarassem o fim da União Soviética. Essa postura dos representantes das repblicas fe- deradas tinha como principal argumento a necessidade de maior autonomia nacional. No entanto, o que estava por trás de tudo isso era o momento de decadência eco- nômica que tomava conta da União Soviética, e a opinião geral era que uma separação das repblicas só poderia melhorar a situação. Ao mesmo tempo que decidiram pelo fim da União Soviética, os líderes de 11 das 15 repblicas que formavam o país assinaram, em 1991, o acordo de formação da Comuni- dade dos Estados Independentes (CEI). Os estados bálticos, Letônia, Estônia e Lituânia, e também a Geórgia alegaram que haviam sido anexados à força à União Soviética e de- cidiram por não aderir à nova comunidade, mesmo que seu objetivo fosse manter a independência da economia das ex-repblicas soviéticas. Em situação controversa, após a intervenção de tropas russas em conflito civil que ocorria no país, a Geórgia ade- riu à CEI em 1993. Porém, anunciou sua retirada em 2008, após a Guerra da Ossétia, e obteve sua saída formal em 2009. OTurcomenistão, em 2005, também abandonou a comunidade e passou a ser um membro associado. Em virtude dos conflitos entre Rssia e Ucrânia, o presidente ucraniano Pyotr Poroshenko (1965-) ordenou a retirada de seu país do bloco em 2018. Em linhas gerais, os Estados membros da CEI mantêm sua autonomia e podem abandoná-la somente um ano após o anncio de sua retirada. Atualmente, seu objetivo central é promover o trabalho conjunto para o estabelecimento de economias de mercado e o desenvolvimento mtuo F R E N T E 2 101 Mundo: países da CEI – 2020 Fonte: elaborado com base em IBGE. Atlas geográco escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2018. p. 47. Trópico de Câncer Círculo Polar Ártico 90° L Países da CEI Países da CEI em processo de desligamento 0 1060 km N OCEANO PACÍFICO OCEANO GLACIAL ÁRTICO MOLDÁVIA UCRÂNIA BELARUS O fim da bipolaridade da Guerra Fria implicou a modificação de fronteiras na Europa e sia, a desintegração soviética e o consequente surgimento de 15 Estados independentes. Outras consequências desse processo incluem: y a reunificação da Alemanha, em 1990, quando a RDA foi reincorporada à RFA capitalista e democrática; y a desintegração da Iugoslávia, entre 1992 e 2006. Após processos diversos que envolveram conflitos sangrentos e negociações pacíficas −, surgiram seis Estados independentes: Sérvia, Montenegro, Croácia, Eslovênia, Macedônia e Bósnia; y a conclusão da separação pacífica da Tchecoslováquia, em 1993, surgindo dois países independentes: a Repblica Tcheca e a Eslováquia. Nova Ordem Mundial Não há dvidas de que a Guerra Fria chegou ao fim, contudo há discordâncias a respeito de qual evento teria decretado esse momento. Para alguns, seria a queda do Muro de Berlim, em 1989; para outros, a desagregação da União Soviética, em 1991. Independentemente disso, é fundamental compreender de que maneira se construiu o cenário posterior. Durante a década de 1990, as opiniões sobre o que seria a Nova Ordem Mundial se dividiram entre aqueles que acreditavam em um mundo multipolar comandado por Estados Unidos, União Europeia e Japão e os que entendiam que os dois ltimos eram apenas polos subalternos ao poder estadunidense, o qual passaria a comandar uma ordem unipolar. Além disso, muitos apostavam em uma acomodação dos conflitos, acreditando que todos os países ingressariam no projeto de desenvolvimento das democracias capitalistas ocidentais Embora algumas tendências tenham se confirmado, em geral, o que se seguiu foi muito diferente desses cenários simplistas Dessa forma, a reorganização pela qual o mundotem passado não está totalmente definida para que se possa chamar precisamente de Nova Ordem Mundial. Contudo, alguns contornos podem ser vislumbrados. A primeira característica relevante dessa nova ordem se encontra na organização regional dos blocos econômicos, intensificando as relações entre alguns países. Entre a visão unipolar e a multipolar, esta ltima estava mais próxima da realidade, no entanto o processo real parece estar indo mais longe na redistribuição do poder. Apesar de continuar existindo uma tríade de poder, formada por Estados Unidos, União Europeia e Japão, outros países destacam-se no cenário geopolítico. A China, com expressivo crescimento ano a ano, consolidou se como potência econômica Sua relevância no comércio mundial é tamanha que o aquecimento ou desaquecimento de sua economia tem impactos no mundo todo Além disso, a China tem ampliado sua participação nos conflitos ao redor do globo e sido decisiva em muitos de seus encaminhamentos. A Rssia, com seu vasto território, sua riqueza em recursos naturais e energéticos e a grandeza e força de seu exército, tem atuado ativamente nas disputas em seu continente e se posicionado, muitas vezes, em oposição aos Estados Unidos, nos variados conflitos e fóruns mundiais. GEOGRAFIA Capítulo 8 Ordem mundial102 Segundo Samuel Huntington (1927 2008), cientista político estadunidense, o sistema internacional contemporâneo apresenta características híbridas, no qual coexistem elementos de uma ordem mundial unipolar e multipolar Por isso, identificou o atual sistema como unimultipolar, caracterizado pela existência de uma nica superpotência (Estados Unidos) e várias potências principais (União Europeia, China, Japão, Rssia, entre outras) Mundo multipolar: áreas de inuência Fonte: elaborado com base em GIRARD, G ; ROSA, J V Atlas geográco FTD São Paulo: FTD, 2016. p. 175 Círculo Polar Ártico Círculo Polar Antártico Trópico de Câncer Trópico de Capricórnio Equador M er id ia n o d e G re en w ic h 0º 0º OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO OCEANO ÍNDICO OCEANO GLACIAL ÁRTICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO Áreas de influência Estados Unidos União Europeia Japão Regiões Norte desenvolvido Sul subdesenvolvido 0 2860 km N União Europeia ESTADOS UNIDOS JAPÃO Além de toda essa complexidade da ordem mundial contemporânea, o século XXI descortinou um novo cenário mundial marcado por ações violentas de grupos radicais, de natureza separatista ou de vertentes religiosas, classi ficados como terroristas, não mais limitados ao local onde estão, mas organizados em rede e com atuação global em alguns casos. Guerra ao terror Para muitos analistas, o século XXI, do ponto de vis- ta histórico, tem início com os ataques terroristas aos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001. O desdo bramento geopolítico desse episódio foi a reorientação do posicionamento dos Estados Unidos diante do jogo de poder mundial, marcando uma mudança na ordem mundial, que vinha sendo construída por ações e orga nismos de caráter multilateral. Em nome da promoção da segurança e da paz mundial, o país assume posturas unilaterais, muitas delas à revelia dos órgãos mundiais, como a ONU, e de outras grandes potências, e dá de monstrações de seu poder militar, político e econômico que o caracterizam como uma superpotência sem rivais à altura Os ataques ao World Trade Center, em Nova York, e à sede do Pentágono, no estado da Virgínia, por aviões comerciais sequestrados por terroristas foram um evento de grande impacto mundial por seu caráter midiático e por danos efetivamente causados aos Estados Unidos. A Al-Qaeda, organização fundamentalista islâmica, assumiu a responsabilidade pelo ataque terrorista Seu fundador e então líder, Osama Bin Laden (1957-2011), ga- nhou notoriedade mundial e passou a ser o principal alvo das ações militares dos Estados Unidos. Fig. 6 Ataque terrorista às torres do World Trade Center em 11 de setembro de 2001, um dos principais conjuntos de escritórios dos Estados Unidos e símbolo do poder financeiro. R o b e rt C la rk /A P P h o to /G lo w I m a g e s
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