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PESQUISA EM EDUCAÇÃO
CAPÍTULO 1 - QUAIS OS
FUNDAMENTOS BASILARES DA
PESQUISA EM EDUCAÇÃO?
Ana Claudia de Oliveira G. Merli
INICIAR
Introdução
Nas últimas décadas, todas as áreas do conhecimento têm alcançado avanços
significativos, em partes, graças ao desenvolvimento tecnológico, que propiciou a
troca de informações; e, por outro lado, pela valorização das pesquisas científicas.
Dessa forma, muito conhecimento tem sido produzido, buscando refletir e
desenvolver novas formas de pensar a realidade. A educação, inclusive, acompanha
essa tendência, uma vez que muitas pesquisas estão sendo desenvolvidas para que
se possa compreender os processos de ensino e aprendizagem, desenvolver novas
metodologias de ensino e avaliação, entre tantos outros temas que necessitam de
estudos rigorosos.
Nesse sentido, cabe questionarmos: o que envolve uma pesquisa em educação?
Como iniciar esse tipo de pesquisa? Há tantas informações disponíveis em
bibliotecas físicas e virtuais, mas quais, de fato, são fidedignas?
Essas e outras questões permeiam o caminho de quem está dando os primeiros
passos na fase de pesquisa. Por isso, neste primeiro capítulo, serão apresentados os
diferentes tipos de pesquisa, os procedimentos metodológicos, os métodos de
coleta de dados, a importância da pesquisa em educação e a ética envolvida nesse
processo. Além disso, o primeiro passo para se tornar um pesquisador é
compreender o campo a ser investigado e seus procedimentos. Assim, estudaremos
conceitos e procedimentos que podem ser aplicados a qualquer pesquisa científica,
bem como os aspectos que diferenciam e especificam as pesquisas em educação.
Vamos em frente!
1.1 Base conceitual
Em geral, não é necessário ser um pesquisador científico ou universitário para se
realizar uma pesquisa. Quando alguém quer descobrir ou chegar a um resultado, é
possível recorrer a bancos de dados ou informações para sanar a curiosidade ou
resolver um problema. Por exemplo, para saber como fazer um bolo, podemos
perguntar a alguém ou procurar em algum site da internet. Nesse caso, não é preciso
recorrer a um protocolo científico para conseguir as informações.
Mas se os conhecimentos populares resolvem os problemas cotidianos, qual é a
diferença entre estes e os científicos? Aqueles que vêm de uma pesquisa realizada
em um instituto ou universidade são melhores do que os aprendidos no dia a dia?
A verdade é que muitos dos conhecimentos que utilizamos no dia a dia possuem
diversas origens, como tradições familiares ou senso comum, a exemplo de
remédios caseiros que aliviam a febre, a tosse ou o soluço. Esses conhecimentos,
então, passaram de geração em geração e integraram tradições familiares e, até
mesmo, o folclore popular, contudo, não são, necessariamente, científicos.
A partir de agora, veremos com mais detalhes as premissas que diferenciam o
conhecimento científico do senso comum e a importância, o papel e os
procedimentos da pesquisa científica na educação. 
1.1.1 Senso comum versus conhecimento científico
O senso comum está relacionado à realidade, principalmente ao que for imediato.
Segundo Carvalho (2000, p. 2), “O conhecimento do tipo senso comum, por
exemplo, como todo conhecimento, produz informações sobre a realidade. No
entanto, tais informações normalmente se prendem aos seus objetivos mais
imediatos”. Portanto, esse tipo de conhecimento é pouco refletido, como o fato de
que um experiente jardineiro pode indicar fertilizantes para que as flores de um
jardim floresçam mais bonitas. No entanto, é válido dizer que ele não sabe dizer
quais são as reações que esse produto provoca nas flores, tampouco o porquê de
isso acontecer. Dessa forma, a busca por uma explicação minuciosa que envolva
reflexão e procedimentos científicos de pesquisa, coleta de dados e análise constitui
a diferença entre o senso comum e o conhecimento científico. Apesar de ambos
iniciarem com a observação da realidade, os procedimentos e a maneira com que
são constituídos são divergentes. 
O conhecimento científico busca as causas ou explicações dos fenômenos, e, nesse
sentido, é crítico, pois está sempre revisitando as produções científicas de forma a
questioná-las em busca de uma verdade, que é provisória. Isso porque os novos
conhecimentos estão na base do questionamento dos antigos (CARVALHO, 2000).
Contudo, o processo de produção desse tipo de conhecimento requer uma
padronização metodológica para ser considerado científico. Dessa forma, não basta
Figura 1 - O senso comum versus conhecimento científico tem suscitado discussões dentro e fora do
ambiente acadêmico. Fonte: Sangoiri, Shutterstock, 2018.
apenas apresentar novos conhecimentos baseados em pesquisas, sendo necessário,
portanto, apresentar como se chegou até eles, ou seja, o planejamento, a
organização, os procedimentos e a análise, especificando o método.
O método vai além de explicações do caminho percorrido pelo pesquisador: 
[...] busca-se explicitar quais são os motivos pelos quais o pesquisador escolheu
determinados caminhos e não outros. São estes motivos que determinam a escolha de
certa forma de fazer ciência. Neste sentido, a questão do método é teórica (do grego
theoria), uma vez que se refere aos pressupostos que fundamentam o modo de
pesquisar. (CARVALHO, 2000, p. 3, grifos nossos).
Diferentemente do senso comum, a pesquisa científica adota procedimentos
embasados em teorias que buscam explicar os fundamentos da escolha do caminho
adotado pelo pesquisador. Assim, vai além de resolver uma questão imediata, pois
analisa o fenômeno, os problemas e a solução adequada. 
1.1.2 A pesquisa 
Nem todas as pesquisas científicas são iguais e não utilizam, necessariamente, os
mesmos procedimentos metodológicos, visto que cada área de pesquisa possui sua
especificidade. Para entender isso, basta imaginarmos os problemas pesquisados
pelas diferentes áreas do conhecimento. Temos, por exemplo, que para
compreendermos o desempenho de uma atleta de alto nível e, de maneira mais
eficiente, organizar um treino, são necessários testes, equipamentos e medições que
possibilitem observar, organizar e analisar os dados referentes ao objeto de
pesquisa. No entanto, para observar os resultados e planejar o desempenho de
estudantes em um processo de aquisição de determinados conhecimentos, são
necessários procedimentos diferentes, tempo de coleta e análise de dados
diferentes do exemplo anterior. Isso ocorre porque, ainda que tenham algumas
semelhanças, são áreas distintas.
Dessa forma, podemos dizer que o planejamento é crucial para o desenvolvimento e
os resultados de uma pesquisa. É nesse momento que são selecionados métodos e
técnicas para abordar o fenômeno ou objeto. Além disso, nessa etapa, elabora-se o
projeto de pesquisa, em que o pesquisador terá um caminho planejado para
orientar seus objetivos.  
Conforme o tema e o objetivo, os dados precisam ser mensuráveis, apresentados em
forma de tabelas, quadros e gráficos. Por outro lado, há problemas de pesquisa que
requerem mais descrição e análise e menos objetividade, como é o caso das ciências
humanas e sociais, bem como da educação. Nessas áreas, é preciso que o
pesquisador colete e analise dados sem passar por experimentos, testes ou
quantificação, aproximando-se do objeto de estudo. Nesse sentido, podemos
identificar as possibilidades de classificação de uma pesquisa científica conforme a
natureza, os objetivos, os procedimentos e a abordagem (GIL, 2012).
Quanto a natureza, uma pesquisa pode ser básica ou aplicada. As pesquisas básicas
são as que possuem como objetivo gerar novos conhecimentos, enquanto que as
aplicadas geram conhecimentos diretamente relacionados à resolução de um
problema presente na realidade.
Quanto aos objetivos, as pesquisas podem ser exploratórias, que visam
proporcionar mais informações sobre o tema; descritivas, que têm forma de
levantamento, pois objetivam descrever o fenômeno sem interferir nele; e
explicativas, que buscam a razão e as causas, com o intuito de analisar o fenômeno.
Figura 2 - A busca porcoerência epistemológica e metodológica é desafiadora, pois são quesitos que
norteiam o conhecimento científico. Fonte: docstockmedia, Shutterstock, 2018.
Já com relação aos procedimentos, Gil (2012) reúne dois grandes grupos: um em
que serão desenvolvidas técnicas para coletar dados registrados por meio de textos
e imagens; e outro por meio de consulta a pessoas. O primeiro grupo é formado
pelas pesquisas documental, bibliográfica, experimental e operacional; enquanto
que o segundo é constituído por estudo de caso, pesquisa-ação, pesquisa
participante e ex-post-facto.
O quadro a seguir sintetiza algumas características das pesquisas quanto aos
procedimentos.
Quadro 1 - Demonstrativo da classificação das pesquisas quanto ao procedimento. Fonte: Elaborado pela
autora, baseado em GIL, 2012.
Por fim, quanto a abordagem, as pesquisas podem ser quantitativas, visto que
consideram dados quantificáveis e orientam a análise no mesmo sentido; ou
qualitativas, em que o pesquisador se preocupa mais com o processo do que com o
resultado, buscando compreender o fenômeno em relação ao contexto.
A partir dessas escolhas, pode-se falar em classificações ou tipos de pesquisas, que
dependem das escolhas da técnica, do método e dos fundamentos epistemológicos
adotados pelo pesquisador. Nesse aspecto, não cabe julgar qual é o melhor ou o
mais correto tipo de pesquisa a ser realizado ao se abordar temas relacionados à
educação. Assim, podemos dizer que o mais indicado é conhecer os tipos de
pesquisas mais utilizados e refletir sobre qual é o mais adequado ao tema e aos
objetivos propostos.
1.1.3 A pesquisa em educação
Gatti (2012) indica que há uma extensa amplitude de assuntos abordados pela
educação com temas e subtemas que se entrelaçam com outras áreas, como a
Psicologia, a Sociologia e a Medicina. Com isso, não se pode olhar para o fenômeno
educacional isoladamente; é necessário, antes de tudo, perceber que, “Situado
entre as ciências humanas e sociais, o estudo dos fenômenos educacionais não
poderá deixar de sofrer as influências das evoluções ocorridas naquelas ciências”
(LUDKE; ANDRÉ, 2012, p. 3).
Dentro desse contexto, a educação como tema de pesquisa acompanhou o
surgimento de diversas teorias, procedimentos, confrontos e mudanças de rumo
vividos no universo da pesquisa, e, mais especificamente, na pesquisa em âmbito
social.
Nas primeiras décadas do século XX, discussões efervesceram em torno da
experimentação científica, alguns contra, outros a favor, em vista da especificidade
do campo educacional. Seguido a isso, outra tendência foi considerar aspectos
empíricos nos estudos dos problemas educacionais. Frente a esses embates, Gatti
(2012) também aponta que houve um crescimento em quantidade e diversidade dos
estudos envolvendo educação. 
VOCÊ SABIA?
Uma das entidades que concentra pesquisas em educação é a Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), que, em 2018, comemora 40 anos de existência.
Bianualmente, acontecem eventos nacionais e regionais com o objetivo de divulgar e discutir as
pesquisas em educação que acontecem no país. Acesse o site da associação para conhecer mais
sobre o assunto: <http://www.anped.org.br/ (http://www.anped.org.br/)>. 
Um ponto importante a ser considerado é que os resultados dessas pesquisas
servem de parâmetro para políticas públicas educacionais e fomentam discussões
na sociedade. Desse modo, é importante nos atentarmos, também, para a
complexidade, tanto dos objetos quanto da interpretação dos resultados. Em muitos
momentos, em vez de suscitarem medidas e discussões para melhoria da educação,
a divulgação dos resultados, dependendo da forma com que são expostos, podem
gerar desvalorização e desconfiança em relação ao trabalho educativo. 
1.1.4 Paradigmas e complexidade
A pesquisa em educação é eivada de complexidade, isto é, há elementos que se
entrecruzam e fazem com que refletir quanto a educação e seus processos não seja
algo simples. Isso porque aspectos sociais, políticos, econômicos e históricos — ou
seja, o contexto e o entorno de onde está localizado o que será objeto de estudo —
integram a descrição do próprio objeto, influenciando nos dados, na análise e nos
resultados. Contudo, não quer dizer que tudo é possível de ser considerado em
todas as pesquisas educacionais, mas esses aspectos permitem perceber a
educação como um dos elementos da sociedade. Nisso reside sua complexidade:
nos diversos aspectos que a constituem e que são constituídos por ela.
Entre os muros da escola, de Laurent Cantet, conta a história de François e um grupo de professores que
trabalham em uma escola com alunos de diversas origens, passando por conflitos em relação à
imigração. O filme é uma ótima opção de auxílio para se compreender o quanto o contexto e o entorno da
escola são importantes para o entendimento de dado fenômeno educacional.
Ainda que tenham instituições voltadas ao desenvolvimento de tecnologias
aplicadas ao processo educacional, por exemplo, grande parte das pesquisas são
desenvolvidas nas universidades. Estas, então, têm por definição o compromisso
VOCÊ QUER VER?
http://www.anped.org.br/
http://www.anped.org.br/
com o ensino, a pesquisa e a extensão. Portanto, são locais que procuram se dedicar
a pesquisas nas mais diversas abordagens, dentro do tema educação. Desse modo,
as questões educacionais podem ser estudadas com base em diferentes paradigmas
epistemológicos, conforme os pressupostos teórico-metodológicos adotados pelo
pesquisador.
Severino (2016) nos esclarece que esses paradigmas são a maneira com que o
pesquisador concebe o conhecimento e suas relações. É, então, o ponto de partida
para a proposição de uma pesquisa, pois as concepções expressas pelo pesquisador
darão as diretrizes para o desenvolvimento da pesquisa.
A fim de explicar e compreender o Homem e sua especificidade, os pesquisadores
recorrem aos paradigmas epistemológicos, que podem ser originários (Positivismo,
Estruturalismo, Fenomenologia e Materialismo Histórico-Dialético) ou de pluralismo
paradigmático, em que “[...] há várias possibilidades de como se conceber a relação
sujeito/objeto, podendo-se ter também várias formas de compreensão/explicação
do modo de ser do homem” (SEVERINO, 2016, p. 114).                 
O Positivismo vem de August Comte (1798-1857), que designou como positivo os
pressupostos das ciências naturais, segundo os quais a forma mais segura de
conhecimento é a ciência, que busca relações objetivas entre causa e efeito para
compreender os fenômenos da natureza. Assim, estabelece uma relação funcional
quantificável entre os acontecimentos ou objetos (SEVERINO, 2016).
O Estruturalismo, por sua vez, vem de tradição positivista, que considera uma
estrutura constituída por partes que são interdependentes, ou seja, se houver
alteração em uma das partes, pode haver alteração em toda a estrutura. Daí a ideia
dos sistemas biológicos e fisiológicos.
De forma mais contemporânea, as questões relacionadas à educação contam com
elementos subjetivos em suas análises, estabelecendo uma relação direta entre
sujeito e objeto. É necessário, portanto, um paradigma que considere a inter-relação
entre diversos elementos e o papel do pesquisador como mais um elemento no
desenvolvimento de pesquisas em educação. Nesse sentido, a Fenomenologia,
nascida de Edmund Husserl (1859 – 1938), quebra com o paradigma positivista e traz
elementos novos que auxiliam na análise das ciências sociais e da educação. Para
essa tendência metodológica, “[...] todo conhecimento fatual funda-se num
conhecimento originário de natureza intuitiva, viabilizado pela condição intencional
de nossa consciência subjetiva” (SEVERINO, 2016, p. 120). Aqui, é importante
ressaltarmos a percepção do fenômeno pela consciência do pesquisador, abrindo
espaço para as análises requeridas pelo fenômeno educacional.
Outro paradigma utilizado para as pesquisas em educação é o Materialismo
Histórico-Dialético, que teve origem no método de análise desenvolvido por Karl
Marx (1818 –1883). Esse paradigma considera que a análise de um dado fenômeno
precisa levar em conta os elementos históricos que o envolvem em sua
materialidade, e, para isso, recorre a dialética para ter uma dimensão da totalidade:
“O particular e o universal são instâncias, numa linguagem lógica, [...] a visão do
mundo na dialética pode partir do particular para se vislumbrar o universal ou parte
do universal para se ter entendido com clareza o particular” (FRANCO; CARMO;
MEDEIROS, 2013, p. 94).
O artigo “Para que serve a pesquisa em educação?”, de Maria Malta Campos, discute a relação entre a
pesquisa e as práticas educativas, considerando os atores sociais envolvidos nesse contexto. A autora
aponta dois campos de pesquisa presentes na educação e a relação deles com os resultados produzidos e
discutidos pela sociedade. Leia o artigo na íntegra com o link:
<http://www.scielo.br/pdf/cp/v39n136/a1339136.pdf
(http://www.scielo.br/pdf/cp/v39n136/a1339136.pdf)>.
Parte do trabalho do pesquisador em educação é traçar com clareza seus objetivos,
o objeto de pesquisa e, a partir disso, analisar os paradigmas teórico-metodológicos
que irão estabelecer as bases para o desenvolvimento dos estudos da problemática
educacional.
Os resultados das pesquisas educacionais podem colaborar com os rumos dados
pelas políticas educacionais, influenciar na formação de opinião da sociedade e
modificar o status do pesquisador e do professor. Logo, a relação entre as pesquisas
e a sociedade são tensas e importantes. Na sequência, veremos com mais detalhes
quanto a relação entre educação e sociedade no âmbito das pesquisas científicas. 
VOCÊ QUER LER?
http://www.scielo.br/pdf/cp/v39n136/a1339136.pdf
http://www.scielo.br/pdf/cp/v39n136/a1339136.pdf
1.2 Sociedade e educação
Um dos temas desafiadores na educação é a avaliação em larga escala, tendo os
resultados publicados e discutidos socialmente. Essas avaliações — como Enem,
Prova Brasil e Pisa — estão longe de ser a melhor maneira de indicar a aprendizagem
dos estudantes, contudo, são indicativos que podem auxiliar pesquisadores e a
sociedade em geral a visualizarem o desempenho dos alunos.
A divulgação dos “números” da educação brasileira, desde alunos matriculados,
escolas, professores e, até mesmo, o desempenho dos estudantes; está disponível
para todos que queiram consultar. Entretanto, a mídia, volta e meia, divulga
resultados que promovem alvoroços e criam imagens da educação brasileira, dentro
e fora do país, nem sempre positivas. Sendo assim, como devemos interpretar esses
dados? Aliás, como são produzidos, por quem e com que finalidade?
Neste tópico, serão discutidos alguns aspectos que nos ajudaram a responder esses
questionamentos, que consideram a relação entre sociedade e educação no
contexto das pesquisas educacionais. 
1.2.1 Para compreender a educação: dados e estimativas
As pesquisas, geralmente, são desenvolvidas em ambientes especializados, como
universidades e institutos. No Brasil, grande parte das pesquisas educacionais são
feitas nas universidades por estudantes e professores, por meio de projetos de
pesquisa ou programas de pós-graduação, em geral, mestrado e doutorado. 
As atividades desenvolvidas pelas universidades envolvem ensino, pesquisa e
extensão. A pesquisa, de acordo com Severino (2016), é, também — mas não
unicamente —, relativa a projetos de investigação, que podem ser desenvolvidos em
Programas de Iniciação Científica ou Programas de Pós-Graduação. Ainda segundo o
autor, a pesquisa envolve todos os aspectos da universidade, pois se trata de
conhecimento e atitude investigativa, ou seja, ensinar pesquisando. Já a extensão,
que é o envolvimento da universidade com a comunidade, permite uma interação
ética e política do Ensino Superior. É o momento em que as pesquisas e ações saem
das paredes acadêmicas e vão até as pessoas. 
De todo modo, e independentemente do espaço em que a pesquisa é desenvolvida,
a sociedade sempre está envolvida, seja pela demonstração de dados, pela inovação
ou pelo levantamento dos problemas. Na educação, uma das abordagens possíveis
é ensinar, por meio da pesquisa, desde a educação básica. Além de despertar a
curiosidade e a busca pela resolução de problemas, isso permite que os sujeitos
compreendam e interpretem dados que estão disponíveis ou são lançados pelas
mídias, promovendo, ainda, a reflexão a respeito da realidade. 
Outra questão importante trata de como a pesquisa auxilia na compreensão da
relação entre sociedade e educação, estando visível nas decisões referentes as
políticas educacionais. Isso porque muitas políticas são elaboradas com base em
dados resultantes de pesquisa, como é o caso do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais (Inep), que fornece dados para a distribuição de recursos e
estimativas quanto ao desempenho e qualidade da educação nacional. 
Figura 3 - A partir de resultados de pesquisas, são feitas escolhas. Fonte: Digital Genetics, Shutterstock, 2018.
VOCÊ SABIA?
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é uma autarquia
federal vinculada ao Ministério da Educação. Ele foi criado em 1973 e tem como objetivo subsidiar as
políticas públicas educacionais, desde a Educação Básica até a Superior, por meio de dados
produzidos a partir de avaliações, exames e indicadores. 
É válido ressaltar, ainda, que as pesquisas não são desenvolvidas aleatoriamente,
pois requerem rigor metodológico para que tenham validade e contribuam com o
conhecimento científico. A seguir, vamos estudar quanto aos procedimentos
metodológicos que dão credibilidade as pesquisas. 
1.2.2 Procedimentos metodológicos
As pesquisas nem sempre foram realizadas da mesma foram, no decorrer dos
avanços quanto a teorias e métodos, houve diversas modificações na maneira de ver
e analisar os objetos de estudo. A educação passou por essas transformações. Gatti
(2012) nos esclarece que, no início do século XX, as pesquisas educacionais
passaram por uma etapa de experimentação científica, em que se buscava a
compreensão dos fenômenos empiricamente. Anos depois, por volta dos anos de
1950, os modelos investigativos objetivavam precisão e controle, aproximando-se
das ciências exatas. Contudo, muitas críticas referentes a especificidade da
educação recaíram sobre esses tipos de pesquisas. 
Ivani Fazenda é uma importante pesquisadora brasileira, que, entre outros temas, dedica seus estudos à
metodologia da pesquisa educacional. Ela já organizou diversas publicações, como livros e artigos,
discutindo a especificidade da pesquisa educacional e levantando a problemática das metodologias e
temas abordados no Brasil.
VOCÊ O CONHECE?
A partir das críticas e observações, por volta dos anos de 1980, diferentes teorias e
métodos foram sendo adotados nas pesquisas educacionais:
Justamente para responder às questões propostas pelos atuais desafios da pesquisa
educacional, começaram a surgir métodos de investigação e abordagens diferentes
empregados tradicionalmente. [...] na tentativa de superar pelo menos algumas das
limitações sentidas na pesquisa até então realizada em educação. (LUDKE; ANDRÉ,
2012, p. 7).
Por um lado, o movimento envolveu elementos antes desconsiderados e de extrema
importância para se pensar a educação; por outro, a adesão acrítica e os métodos
com pouco rigor metodológico levaram a pesquisas superficiais (GATTI, 2012).
Contudo, podemos dizer, também, que não são apenas os procedimentos
metodológicos que dão credibilidade ao conhecimento científico. Questões éticas
precisam ser consideradas, principalmente no que diz respeito a relação do
pesquisador com os sujeitos que participam da pesquisa. 
1.2.3 Postura ética
Muitos aspectos das pesquisas científicas sofreram modificações no decorrer da
história da humanidade. Conforme as concepções de conhecimento, sociedade,
Homem e educação se alteraram com os avanços das descobertas científicas,
também foi modificado o entendimento da relação entre o pesquisador e os sujeitos
que participam das pesquisas científicas.No início da Idade Moderna, por exemplo,
era valorizada a neutralidade do pesquisador em relação ao objeto. Com o passar do
tempo e o surgimento de novas áreas do conhecimento, essa postura foi revista.
Atualmente, nas ciências sociais e humanas, entende-se que o pesquisador possui
um olhar próprio sob os temas pesquisados.
A educação conta, então, com um objeto muito particular que envolve seres
humanos. Assim, para avaliar os resultados de um processo de ensino e
aprendizagem, por exemplo, é preciso tempo, pois, dificilmente, os resultados são
imediatos em sua totalidade. Além disso, é válido dizer que muitos outros fatores
interferem nas questões relacionadas a aprendizagem, como contextos social,
histórico e econômico. O pesquisador, portanto, precisa avaliar qual será a
proximidade que terá dos sujeitos pesquisados. Há muitos anos, seria impensável
pensar nessa possibilidade, mas, hoje, graças aos estudos avançados sobre
metodologia de pesquisa aplicadas as ciências sociais e humanas, bem como à
educação, isso é possível.
Ao contar com a participação de seres humanos nas pesquisas científicas em
educação, é preciso considerar questões como a preservação da identidade das
pessoas que participaram da pesquisa. Além disso, resguardar tanto pessoas quanto
instituições de qualquer tipo de exposição ou julgamento são essenciais, pois isso
envolve a ética.
Deve-se, dessa maneira, ter cuidado ao utilizar abordagens em que o pesquisador
tem contato direto com os sujeitos pesquisados, de modo a não influenciar
respostas ou resultados.
O filme Ex_Machina: Instinto Artificial, de Alex Garland, retrata a história de um pesquisador aficionado por
tecnologia, que cria um robô com inteligência artificial. O cientista vive recluso com sua criação e escolhe
um estudante para fazer parte de seu projeto. O filme é muito intrigante e nos leva a refletir sobre os
limites das descobertas científicas. Vale a pena conferir e entender melhor quanto ao que estamos
tratando.
Dessa maneira, toda pesquisa que investigue seres humanos deve passar por um
comitê de ética, sendo este integrado por professores universitários, e a submissão
dos projetos feita via Plataforma Brasil. Mesmo que a pesquisa não seja realizada em
uma dada universidade, qualquer pesquisador pode submeter seu projeto de
pesquisa ao comitê, que irá verificar se todas as normas para pesquisar seres
humanos estão sendo cumpridas.
Outra questão que diz respeito a ética é a publicidade dos dados de uma pesquisa
concluída. Após a realização de um Trabalho de Conclusão de Curso, dissertação ou
tese, por exemplo, as instituições de educação superior solicitam aos pesquisadores
que depositem uma versão física do trabalho na biblioteca, e outra no banco de
dados virtual. Além disso, para disponibilizar os resultados a fim de se obter
VOCÊ QUER VER?
publicidade, o pesquisador pode publicar artigos em eventos e revistas, para que
outros estudiosos possam ter acesso e utilizá-los para contribuir com novas
pesquisas.
Temos, também, que para os resultados de pesquisas científicas serem publicados, é
preciso que os procedimentos metodológicos estejam explícitos, uma vez que nesse
universo há diversas possibilidades que, ao mesmo tempo, se contradizem e se
complementam.
Dessa maneira, conhecer as diferentes abordagens metodológicas das pesquisas em
educação para poder selecionar as melhores estratégias relacionadas aos objetos
pesquisados é fundamental. 
1.3 As diferentes abordagens de
pesquisa em educação, suas diferenças
e complementaridades
De acordo com Gatti (2012), a partir de 1960, a abordagem qualitativa tomou conta
das pesquisas educacionais. No entanto, a adesão apressada e pouco
fundamentada produziu pesquisas superficiais. Dessa forma, a autora alerta que as
pesquisas qualitativas não necessitam de rigor metodológico do pesquisador e
aprofundamento teórico, pois a abordagem, por si só, é rica e permite a conexão
com diversos elementos. Assim, é possível compreender o fenômeno educacional
em sua totalidade, desde que pesquisado com rigor. 
O quadro a seguir nos traz as características das pesquisas praticadas no contexto
educacional.
Ressalta-se, ainda, que todas as pesquisas contam com uma parte de pesquisa
bibliográfica, em que o pesquisador apresenta o que já foi produzido a respeito do
tema e traz a fundamentação teórica necessária para embasar o restante da
pesquisa.
Após o cuidado e a exploração do objeto de pesquisa, o pesquisador avança mais
alguns passos e parte para a seleção da abordagem, que pode ser quantitativa ou
qualitativa. Na sequência, serão apresentadas suas respectivas características e as
possibilidades referentes a pesquisa em educação. 
Quadro 2 - Tipos de pesquisas mais utilizados na educação. Fonte: Elaborado pela autora, baseado em
SEVERINO, 2016.
1.3.1 Pesquisa quantitativa
A abordagem quantitativa considera que tudo pode ser quantificável, e, por isso,
recorre a dados que podem ser expressos numericamente ou estatisticamente. 
Os pressupostos que embasam a pesquisa quantitativa são oriundos do Positivismo.
Essa tendência filosófica e epistemológica, para compreender a realidade, recorre à
racionalidade, objetividade e neutralidade em relação ao objeto da pesquisa. Os
dados devem ser mensuráveis, com origem em experimentos ou procedimentos que
Figura 4 - A abordagem quantitativa trabalha com dados e resultados quantitativos. Fonte: Sergey Nivens,
Shutterstock, 2018.
permitam traduzir em números a realidade observada. Parte daí a ideia de
neutralidade científica, ou seja, de acordo com os pressupostos positivistas, o
pesquisador precisa se afastar do objeto de pesquisa para se manter neutro. Aliás,
esse é um dos quesitos que suscita críticas em relação a abordagem quantitativa
(CARVALHO, 2000). Especialmente no que se refere à educação, é necessário, ainda,
considerar o entorno e o contexto em que a pesquisa acontece, tendo a ver com a
complexidade própria dessa área de conhecimento.
Entretanto, é necessário considerar que os dados estatísticos, mesmo que não
reflitam a realidade exatamente como ela é, colaboram para a caracterização do
fenômeno e auxiliam na análise da realidade educacional. Um exemplo são os dados
fornecidos pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que são
formulados a partir de avaliações de larga escala, somados ao censo escolar, com o
objetivo de indicar dados referentes a educação básica, como qualidade,
aprendizagem e número de alunos matriculados. Há alguns anos, inclusive, não
havia um tipo de indicativo nacional a respeito do desempenho dos estudantes e da
qualidade da educação brasileira; hoje, graças a implantação de sistemas de
verificação de aprendizagem e o censo escolar, os pesquisadores contam com
informações e estatísticas que podem auxiliar as pesquisas educacionais.
Para além da pesquisa quantitativa, podemos mencionar a pesquisa qualitativa, que
possui uma abordagem diferenciada. Veremos melhor sobre ela a seguir.
1.3.2 Pesquisa qualitativa 
A abordagem qualitativa nasce a partir de limites da abordagem quantitativa. Ao
considerar temas pesquisados nas ciências sociais, humanas, jurídicas e na
educação, é necessária a descrição dos contextos social, histórico, político e
contextual para que a abordagem desses temas possa ser verificada profundamente.
Nesse sentido, muitos dados da realidade não conseguem ser traduzidos em
números, gráficos ou tabelas.
A partir desse limite, houve a necessidade de uma abordagem que considerasse
outros aspectos e que aproximasse o pesquisador do ambiente natural em que o
fenômeno acontece. A abordagem qualitativa, então, busca valorizar aspectos
descritivos da neutralidade, tendo no pesquisador uma importância significativa em
relação à pesquisa, ou seja, não neutra. 
Atualmente, muitas pesquisas utilizam a abordagem qualitativa. Contudo, o melhor
caminho a ser seguido depende do tema pesquisado, da orientação teórica e dos
objetivos da pesquisa. Para isso, é preciso recorrer ao projeto de pesquisa, ponto em
quetodos os elementos são elencados pelo pesquisador, a fim de se estruturar o
melhor caminho.
A contribuição da pesquisa qualitativa empregada na educação é permitir a análise
de diversos fatores que tornam o tema tão complexo. Permite ao pesquisador,
portanto, selecionar a melhor forma de caracterizar seu objeto e analisar os dados.
Figura 5 - A abordagem quantitativa surte alguns questionamentos, pois o pesquisador, ainda que tente não
influenciar os dados da pesquisa, faz parte dela. Fonte: vetkit, Shutterstock, 2018.
Isso é importante em vista da diversidade de temas e subtemas relacionados à
educação.
Uma das possibilidades de se realizar uma pesquisa qualitativa é a proximidade do
pesquisador com o objeto ou os sujeitos pesquisados. 
1.3.3 Estudo de caso 
O estudo de caso é uma modalidade de pesquisa qualitativa. Uma das mais
expressivas características é que trata de um caso específico, único, e que, ao
mesmo tempo, possibilita a generalização para casos ou situações com
semelhanças. Nesse contexto, Ludke e André (2012) elencaram sete características
principais do estudo de caso:
1. visa a descoberta;
2. enfatiza a interpretação dentro de um contexto;
3. busca retratar a realidade de forma completa e profunda;
4. usa uma variedade de fontes de informação;
5. revela experiências que podem ser generalizadas para situações semelhantes;
6. procura representar os diferentes pontos de vista em uma situação social;
7. os relatos utilizam linguagem e forma acessíveis. 
O desenvolvimento do estudo de caso requer planejamento e, principalmente,
conhecimento do pesquisador, de forma que seja possível caracterizar o fenômeno
estudado como específico ou único. Devido a essa característica, ele é utilizado para
pesquisar questões referentes à saúde, direito, síndromes raras e educação. Nesta, é
possível, por exemplo, estudar a gestão escolar, a metodologia de ensino de
assuntos específicos, os projetos de intervenção de indisciplina e a violência escolar.
Todos esses temas acontecem em locais que possuem características específicas,
como contextos histórico, político e econômico. Ao mesmo tempo, esses problemas
estão presentes em tantos outros locais, sendo que cada um deles têm suas
peculiaridades. É nesse sentido que o estudo de caso pode colaborar com as
pesquisas educacionais, pois, ainda que seja único, também possibilita
generalizações para outros casos similares.
Podemos citar como exemplo estudar a gestão escolar de uma escola municipal,
situada em uma comunidade ribeirinha, que, constantemente, é assolada por
doenças decorrentes da má qualidade da água. Há particularidades que tornam
Figura 6 - O estudo de caso se refere ao estudo de uma ocorrência específica, mas que possibilita que os
resultados sejam generalizados. Fonte: bluebay, Shutterstock, 2018.
esse caso único, entretanto, outras escolas em outras localidades também podem
sofrer com esse tipo de doença, ou, ainda, escolas ribeirinhas precisam de um
sistema de gestão que preveja situações relacionadas à problemas locais. Isto é,
sempre haverá casos com algumas semelhanças. Portanto, o caso não precisa ser
único em todos os aspectos, mas, sim, com relação ao conjunto de suas
particularidades.
Temos, também, que o estudo de caso contribui com as pesquisas em educação por
ter espaço para analisar toda complexidade que envolve a temática e por estar
preocupado com os elementos que envolvem a pesquisa em educação. Outro ponto
a salientar é que as abordagens qualitativas e quantitativas podem ser associadas.
Ou seja, dados quantitativos podem se somar a descritivos para delimitar o objeto e
compor o corpo de informações que serão analisadas sobre algum fenômeno
educacional.
A escolha da abordagem, portanto, depende da organização feita pelo pesquisador
no projeto de pesquisa.
Além da abordagem, outros elementos que precisam compor uma pesquisa
científica são os métodos e procedimentos. Da mesma forma que a abordagem, eles
devem estar coerentes com a totalidade do projeto de pesquisa. A seguir,
analisaremos concepções e características dos métodos e procedimentos
metodológicos. 
1.4 Pesquisa científica: métodos e
procedimentos
Os métodos e procedimentos são fundamentais para caracterizar o resultado de
uma pesquisa científica como de conhecimento científico. Antes de selecionar os
métodos e procedimentos mais adequados, é necessário organizar os passos a
serem percorridos no projeto de pesquisa e conhecer o que já foi publicado a
respeito do tema.
Na sequência, vamos analisar um caso hipotético para compreendermos quanto ao
assunto.
CASO
Vicente é um estudante de mestrado que pretende concorrer a uma bolsa ofertada pelo programa de
pós-graduação que está matriculado. Para participar da seleção, ele precisa apresentar um resumo
de seu projeto de pesquisa já revisado pelo orientador.
Sendo assim, Vicente fez o resumo e, antes de submetê-lo, pediu a opinião de alguns colegas quanto
aos procedimentos metodológicos.
Gustavo leu o documento e mencionou que seria interessante utilizar a abordagem qualitativa,
bem como ressaltou que o questionário não estava adequado, pois continha apenas
perguntas objetivas;
Leila leu e disse que o objetivo do trabalho não estava claro, pois dizia “analisar o sistema de
avaliação utilizado pela escola”; 
Veridiana leu o resumo e explicou que apenas a linguagem estava difícil de entender, sendo
pouco objetiva. Ela indicou, então, um trecho como exemplo: “poucas pesquisas indicam se a
avaliação é adequada ou não a escolas de educação infantil”.
Diante das considerações dos colegas, Vicente resolveu consultar o professor para saber se ele
concorda ou não com os apontamentos, e, caso concorde, se poderia indicar a melhor maneira de
corrigi-los. O professor, então, concordou com as colocações de Leila e Veridiana, indicando alguns
textos para auxiliar Vicente nas correções. Já a abordagem foi considerada adequada, visto que o
trabalho científico é bastante exaustivo e diferentes olhares podem contribuir com o pesquisador.
Contudo, é importante destacar que a opinião do orientador é o norte mais confiável em vista da
experiência e do conhecimento sobre o assunto.
Com isso, podemos dizer que o projeto é o ponto de partida para a organização de
pesquisa, mas, para elaborá-lo, são necessários alguns conhecimentos quanto a
metodologia da pesquisa em educação e o objeto que se pretende investigar.
1.4.1 Procedimentos metodológicos 
Os procedimentos metodológicos dizem respeito ao conhecimento científico e ao
planejamento da pesquisa. Um dos primeiros pontos é entender o que é método.
Severino (2016, p. 108) nos explica que
[...] o método científico, é elemento fundamental do processo do conhecimento
realizado pela ciência para diferenciá-la das demais modalidade de expressão da
subjetividade humana [...]. Trata-se de um conjunto de procedimentos lógicos e de
técnicas operacionais que permitem o acesso às relações causais constantes entre
fenômenos. 
No entanto, a partir do entendimento de método científico, o que se deve fazer para
iniciar uma pesquisa?
O passo seguinte se refere ao planejamento, e isso se dá com a elaboração do
projeto de pesquisa, que não é apenas a listagem de itens que serão cumpridos
durante a pesquisa, mas o momento em que o pesquisador se aproxima do objeto
de estudo. 
VOCÊ SABIA?
Existem bancos de dados que reúnem teses e dissertações desenvolvidas no país com acesso
eletrônico e gratuito. Em geral, as universidades que dispõem de programas de pós-graduação
possuem esses acervos virtuais. Um muito rico e de fácil acesso é o da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Para conhecer, acesse o link:
<http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/
(http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/)>.  
Os itens fundamentais de um projeto de pesquisa envolvem a delimitação do tema,
o objeto, o problema e os objetivos da pesquisa no que se refere ao assunto a ser
pesquisado. Ainda é importante buscar em bancos e periódicosdissertações e teses
que já foram publicadas a respeito do objeto, bem como se fazer uma
fundamentação teórica que demonstre o conhecimento do pesquisador a respeito
do tema.
Depois desses passos de delimitação e aproximação, parte-se para a organização
dos procedimentos referentes à pesquisa propriamente dita: abordagem, tipo,
organização, classificação e análise de resultados. Por fim, temos a escrita do
relatório de pesquisa, que pode ser um Trabalho de Conclusão de Curso, um artigo,
uma dissertação ou uma tese, dependendo dos programas envolvidos. 
VOCÊ QUER LER?
http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/
http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/
O livro “Como elaborar projetos de pesquisa”, de Antônio Carlos Gil, apresenta definições importantes e
itens necessários para a elaboração de um projeto de pesquisa. O livro é composto por 16 capítulos, em
que são discutidos e exemplificados cada um dos itens. Aliás, as explicações são de grande ajuda para
elaborar, planejar e organizar o percurso de um projeto de pesquisa. Vale a pena a leitura:
<https://www.academia.edu/48899027/Como_Elaborar_Projetos_De_Pesquisa_6a_Ed_GIL
(https://www.academia.edu/48899027/Como_Elaborar_Projetos_De_Pesquisa_6a_Ed_GIL)>. 
Dessa maneira, a escrita requer atenção e cuidado. É preciso adotar uma linguagem
científica na elaboração do texto e procurar expressar de forma clara todas as etapas
da pesquisa.
Na sequência, abordaremos os métodos de coleta de dados, que são uma parte
importante da pesquisa e requerem do pesquisador organização, planejamento e
coerência com o tipo de análise que será desenvolvida.
1.4.2 Métodos de coleta de dados
A coleta de dados requer procedimentos operacionais que servem de mediação
entre o objeto de pesquisa e sua ocorrência, de modo a levar o pesquisador a obter
informações para analisar o problema de pesquisa proposto ou para testar
hipóteses.
É preciso delimitar onde e quando será realizada a coleta de dados, quem são e a
quantidade de sujeitos que irá participar da amostra pesquisada. Uma pesquisa
realizada em escolas a respeito do cotidiano escolar, por exemplo, requer que seja
selecionado de maneira cuidadosa quem serão os participantes e se estes
apresentam uma relação direta com o objeto e o objetivo da pesquisa. Além dessas
considerações, deve-se planejar o melhor período para ir à escola e quanto tempo
será empregado nisso. Severino (2016), então, apresenta cinco técnicas de pesquisa
referente a coleta de dados:
1.  Documentação: refere-se à identificação, ao levantamento e à exploração de
documentos e registro de informações que estão sendo pesquisados.
2. Entrevista: é a interação entre o pesquisador e os participantes, com o objetivo
de coletar informações em forma de discursos sobre o que estes sujeitos pensam,
sabem, representam, fazem e argumentam em relação ao objeto da pesquisa. As
entrevistas podem ser não diretivas, quando o sujeito pesquisado se expressa em
https://www.academia.edu/48899027/Como_Elaborar_Projetos_De_Pesquisa_6a_Ed_GIL
https://www.academia.edu/48899027/Como_Elaborar_Projetos_De_Pesquisa_6a_Ed_GIL
forma de discurso livre; ou estruturadas, quando há questões previamente
elaboradas para direcionar as respostas do sujeito, de forma que possam ser
categorizadas. 
3. História de vida: coleta de informações a respeito da vida pessoal de um sujeito
específico. 
4.  Observação: acesso e registro de informações sobre o fenômeno estudado, a
partir das observações do pesquisador. 
5.  Questionário: conjunto de questões sistematizadas e organizadas que visam
coletar informações específicas. Podem ocorrer questões abertas ou fechadas. 
A seleção de como ocorrerá a coleta de dados precisa ser coerente com as outras
partes da pesquisa. Nesse sentido, Severino (2016, p. 135) também nos adverte que
“A ciência, como modalidade de conhecimento, só se processa como resultado de
articulação do lógico com o real, do teórico com o empírico”. Por exemplo, para uma
abordagem qualitativa, é possível adotar a técnica de questionário fechado, mas não
a de entrevista não diretiva. Já para a abordagem qualitativa, a observação e a
história de vida são mais interessantes do que o questionário.
Após a coleta de dados, é necessário organizá-los, classificá-los e selecionar o tipo
de análise que será realizada. Essas escolhas podem ser feitas conforme o
pesquisador entra em contato com o universo pesquisado ou antes mesmo de estar
em contato com o ambiente e os sujeitos da pesquisa. Em ambos, é necessário
planejamento. No item a seguir, discutiremos os aspectos de organização,
classificação e análise de dados. 
1.4.3 Organização, classificação e análise de dados
A coleta de dados é uma etapa que precisa caminhar junto com a organização e a
classificação. Dessa forma, sempre que possível, é preciso estabelecer as categorias
de análise para que seja possível organizar os dados ou informações conforme forem
sendo coletados. Outro ponto importante são os instrumentos e registros dos dados.
Isto é, caso sejam feitas entrevistas, é necessário selecionar o tipo de entrevista e a
maneira como serão registradas (podem ser gravadas, anotadas as respostas ou
filmadas); caso seja de observação, o pesquisador poderá fazer registros escritos,
filmar ou gravar; se forem questionários, dependendo do tipo de pergunta, podem
ser feitos gráficos, tabelas, quadros ou transcrições. Nesse sentido, conforme a
escolha do instrumento, requer-se um tipo de organização e classificação
adequados.
Além disso, podemos dizer que há ferramentas que auxiliam na organização e na
classificação dos dados, como so�wares que podem ajudam nas transcrições e na
organização de diálogos, por exemplo. Programas que classificam os dados
conforme os critérios preestabelecidos pelo pesquisador também é muito útil.
Sendo assim, para a construção do conhecimento científico válido, esses
procedimentos precisam estar claramente descritos na metodologia da pesquisa,
parte importante do relatório final que traz as discussões e a análise a respeito do
assunto pesquisado. Trata-se, portanto, de uma questão de validação, pois os
procedimentos demonstram a veracidade do conhecimento científico. Cabe, então,
ao pesquisador, organizar e demonstrar os caminhos que percorreu durante a
realização da pesquisa. 
Síntese
Concluímos o primeiro capítulo da disciplina de Pesquisa em Educação. A partir de
agora, você já sabe o que é uma pesquisa científica e algumas especificidades da
pesquisa em educação. A pesquisa científica tem a ver com o conhecimento
científico, e, para sua validade, são necessários alguns procedimentos
metodológicos, não apenas a publicação de resultados, mas a descrição do caminho
percorrido para chegar até eles. 
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
compreender a diferença entre senso comum e conhecimento científico;
entender as especificidades da pesquisa em educação; 
identificar a importância da pesquisa em educação; 
conhecer os procedimentos metodológicos e tipos de pesquisas; 
aprender os procedimentos éticos da pesquisa com seres humanos. 
Bibliografia
ANDRÉ, M. Estudo de Caso em pesquisa e avaliação educacional. Brasília: Líber
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