Logo Passei Direto
Buscar

Em_Frente_Ao_Buriti_Rafa_Souza

Ferramentas de estudo

Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

9 786558 990130
ISBN 978-65-5899-013-0
Rafael Alves de Souza é engenheiro 
Civil formado pela Universidade Esta-
dual de Maringá em 1999. Mestre em 
Engenharia de Estruturas pela Uni-
versidade Estadual de Campinas em 
2001. Doutorado-Sanduíche pela Uni-
versidade do Porto, Portugal, em 2003. 
Doutor em Engenharia de Estruturas 
pela Escola Politécnica da Universida-
de de São Paulo em 2004. Pós-doutor 
pela University of Illinois at Urbana-
-Champaign, Estados Unidos, em 2006. 
Pós-doutor pela University of Mas-
sachusetts Amherst, Estados Unidos, 
em 2015. Em 2011, realizou estágios de 
curta duração em nível de pós-douto-
rado na École Politécnique Fédérale de 
Lausanne (Suíça) e na Technologic Uni-
versity of Delft (Holanda). É Professor 
Titular da Universidade Estadual de 
Maringá e Diretor da Engracon Enge-
nharia e Arquitetura Ltda.
Essa obra, de cunho realista, 
aborda a janela temporal de um 
ano (março de 2019 e março de 
2020) na vida de um engenhei-
ro de estruturas, pouco antes 
do início da pandemia que viria 
chacoalhar o mundo. 
Com uma linguagem envolvente, 
o autor narra diversas experiên-
cias de vida que se apre sentam 
em paralelo às de mandas de sua 
profissão, revelando que nem 
sempre as melhores oportuni-
dades profissionais irão surgir 
nos momentos de calmaria. 
Misturando uma linguagem téc-
nica acessível com toques de po-
esia que realçam as emoções do 
cotidiano, a história se desenrola 
com conexões energéticas incrí-
veis e difíceis de serem imagina-
das. Seriam as coincidências da 
vida previamente preparadas 
pelo destino ou seriam frutos de 
nossos desejos? 
Dentro desse mistério existen-
cial, resta apenas deixar-se vi-
ver e ir aceitando com gratidão 
os caminhos que a vida vai nos 
impondo, mesmo nos momen-
tos mais difíceis. A vida é, lite-
ralmente, não-linear.
R
A
FA
 SO
U
Z
A
EM
 FR
EN
T
E
 A
O
 BU
R
IT
I
capa_em frente ao buriti4.indd All Pagescapa_em frente ao buriti4.indd All Pages 10/02/2021 21:01:3310/02/2021 21:01:33
EM FRENTE 
AO BURITI
Reflexões de um 
engenheiro de estruturas
miolo-buriti4.indd 1miolo-buriti4.indd 1 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
miolo-buriti4.indd 2miolo-buriti4.indd 2 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
1a edição
Maringá/PR
SGuerra Design
2020
EM FRENTE 
AO BURITI
Rafa Souza
Reflexões de um 
engenheiro de estruturas
miolo-buriti4.indd 3miolo-buriti4.indd 3 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
© 2020 Rafa Souza
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Editado em novembro de 2020
Todos os direitos reservados em nome do autor.
Capa: 
Willer Carvalho
Revisão de textos: 
Hedy Lamar Barbosa de Oliveira
Projeto gráfico e diagramação: 
SGuerra Design
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Bibliotecária Juliana Farias Motta CRB7/5880)
Índices para catálogo sistemático
1. Romance brasileiro
S729e Souza, Rafa
Em frente ao Buriti: reflexões de um engenheiro de estruturas / Rafa 
Souza. – 1.ed. – Maringá (PR) : SGuerra Design, 2020.
188 p.: 14x21 cm
ISBN: 978-65-5899-013-0
1. Romance brasileiro. I. Souza, Rafael de Souza. II. Título: reflexões de 
um engenheiro de estruturas
CDD B869.3 
miolo-buriti4.indd 4miolo-buriti4.indd 4 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
Esta obra foi escrita num ato de explosão, 
no mês de maio de 2020, durante o período 
de quarentena em face do isolamento social 
promovido pela Covid-19. 
Aborda-se aqui o período cronológico de 
março de 2019 a março de 2020, com o registro 
dos desafios profissionais e aprendizados de vida 
durante essa pequena janela temporal.
Dedico essa obra aos meus queridos pais, 
Nilson Evelazio de Souza (in memoriam) e 
Ângela Maria Alves Souza.
Com amor para Dani, Gabriel e Tiago. 
Família: minha obra máxima.
miolo-buriti4.indd 5miolo-buriti4.indd 5 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
miolo-buriti4.indd 6miolo-buriti4.indd 6 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
7
Sumário
Prefácio 9
Segredos da Quarentena Tao 13
Métodos Energéticos 15
Estado-Limite Último 23
Movimento Retilíneo Uniforme 29
A Vida é Não-Linear 49
O Passageiro Oculto 55
Em Frente ao Buriti 59
Efeito-Escala 65
Sexto Sentido 73
O Primeiro Relatório 77
O Ex-Sócio 87
Colapso Frágil 91
Armadilha Tecnológica 97
O Segundo Relatório 103
Investigadores de Estruturas 111
Angústias de Projeto 121
Acima das Nuvens 129
Buscando Apoio 133
Inferno 141
Ponteiro e Marreta 145
miolo-buriti4.indd 7miolo-buriti4.indd 7 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
8
Rafa Souza
Wu Wei 151
Janeiro 157
Audiência Máxima 161
Mundo em Movimento 165
Imagens 169
O Autor 183
Posfácio 185
miolo-buriti4.indd 8miolo-buriti4.indd 8 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
9
Prefácio
Quando o Rafael me procurou para prefaciar seu livro, fiquei honrado e aceitei de bom grado o convite, certo 
de que estaria diante de mais um livro técnico, escrito em 
bases científicas. 
Conhecendo a vitoriosa trajetória profissional do en-
genheiro, Prof. Dr. Rafael Alves de Souza, que, com apenas 
15 anos de profissão, foi reconhecido com o grau máximo 
da carreira docente, o de professor titular da Universidade 
Estadual de Maringá, achei que o texto estaria recheado de 
equações, modelos físicos e computacionais, aproximações 
numéricas e muitos desenhos indecifráveis para qualquer 
leigo pouco preparado ante as particularidades do desenho 
de projetos de estruturas de concreto.
O Rafael coleciona em seu exemplar curriculum, dois 
pós-doutorados no exterior, em centros de pesquisa e ensi-
no de primeiríssima grandeza, estágios na Suíça e Holanda, 
mestrado na Unicamp e doutorado na USP, de tal manei-
ra que, ao receber seu convite, eu supus que iria prefaciar 
uma obra de engenharia de excelência, um conteúdo com 
as marcas próprias da engenharia de projeto. Nada seria 
mais natural que esperar por um texto dentro das regras de 
miolo-buriti4.indd 9miolo-buriti4.indd 9 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
10
Rafa Souza
escrita acadêmica, de cunho científico, com objetivos bem 
definidos, hipóteses, métodos de ensaios, simulações, exem-
plos, análises matemáticas e estatísticas com demonstrações 
teóricas e práticas irrefutáveis.
Reservei o fim de semana largo do feriado de sete de 
setembro para ler a obra e escrever este prefácio. Vinha de 
uma semana pesada e cheia de desafios ao enfrentar o “novo 
normal” e ter de realizar um congresso virtual com a missão 
e expectativa de substituir o tradicional e prazeroso con-
gresso presencial do Ibracon.
Relaxei na manhã de sábado, busquei a companhia 
de minha esposa querida, que andou a semana toda aban-
donada, e, no período da tarde, iniciei a leitura com certa 
resignação técnica. Qual não foi a minha surpresa... e que 
surpresa agradável!
Inicialmente me senti diante de um conto, muito bem 
escrito e envolvente, de um engenheiro descrevendo seus de-
safios profissionais. Referia o texto a uma solicitação técni-
ca complexa de uma grave manifestação patológica precoce, 
cujo parecer conclusivo de inspeção, diagnóstico, prognósti-
co e terapêutica deveria ser realizado no período de um ano. 
Continuei desfrutando da leitura e percebi que no-
vamente tinha me enganado, pois um conto é uma narra-
tiva breve e concisa, envolta em um conflito, com número 
restrito de personagens. Ao contrário, começaram a apa-
recer novos personagens com seus dramas, aventuras, va-
lores e esperanças. 
Passei a considerar que tinha nas mãos uma crônica 
ou conto extenso, cujo gênero ainda eu não sabia precisar, 
embora se mantivesse a linguagem cativante e objetiva que 
miolo-buriti4.indd 10miolo-buriti4.indd 10 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
11
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
contaria uma passagem de vida de forma rápida e sem mui-
tos detalhamentos. Toquei adiante com mais atenção e logo 
percebi que o relato continha uma série de discussões inte-
ressantes e profundasde um cidadão, mais especificamente 
de um profissional de engenharia, que lança mão da ciência 
aplicada para o exercício profissional com ética, responsabi-
lidade e competência.
Aos poucos, fui tomando consciência de que o texto 
que eu tinha em mãos era, na realidade, um romance que, 
partindo de uma temática própria do universo da engenha-
ria, se adentrava nas questões mais profundas do ser huma-
no envolvido em suas circunstâncias espaciais e temporais, 
repletas de impressões, sentimentos e crenças, mergulhado 
simultaneamente no racional, no intuitivo e no mágico.
O romance que tenho nas mãos e introduzo ao leitor 
com este prefácio conta uma história de um personagem 
principal, um verdadeiro herói, cujo enredo é apresentado 
a partir de um encadeamento de eventos vividos e filtra-
dos pelo olhar humano de um engenheiro consciente de seu 
papel na sociedade, como profissional, como pai de família, 
como esposo amoroso, como filho e, também, como cidadão.
O Rafa, como prefere se intitular, tem uma sensibilida-
de e habilidade ímpares, capazes de cativar o leitor. Discute 
com propriedade as soluções técnicas complexas, sem es-
crever uma equação ou apresentar sequer uma tabela ou 
ábaco. Mas o leitor vê como magia as soluções técnicas apa-
recerem diante de seu olhar e imaginação despertados com 
maestria pelo autor.
Ao mesmo tempo, consegue transmitir as inseguran-
ças, os medos, as intuições, o encantamento que acabam 
miolo-buriti4.indd 11miolo-buriti4.indd 11 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
12
Rafa Souza
fazendo parte da solução técnica holística, ao lado do de-
terminismo e da falsa segurança que os programas e a teoria 
matemática dão àqueles que pensam tudo saber. 
O Rafa consegue prender, envolver e fazer o leitor com-
partilhar com ele as grandes emoções da vida, conseguindo, 
até, levar este profissional experiente às lágrimas, com a for-
ça de sua narrativa.
Recomendo, de coração, a leitura deste fabuloso livro 
escrito com autoridade por Rafael Souza, um maestro da 
engenharia e da escrita literária, que fez valer com precisão 
a frase por ele citada como sendo do físico inglês, Stephen 
Hawking, reconhecido como o Albert Einstein dos tempos 
contemporâneos: “a ciência não é apenas a disciplina da ra-
zão, mas também do romance e da paixão”...
Desfrutem!
São Paulo, 7 de setembro de 2020
Prof. Dr. Paulo Helene 
Diretor-Presidente do Ibracon
miolo-buriti4.indd 12miolo-buriti4.indd 12 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
13
Segredos da Quarentena Tao
Sonhei que andava no escuro.
E, no estalar dos dedos,
Tudo se fez clarão.
Sonhei que morava num buraco.
E, ao aceitar minha condição,
Fiquei amigo de Platão.
Sonhei que caía do espaço.
E, ao bater os braços,
Fui do desespero à suspensão.
Finalmente,
Sonhei que estava vivo.
Mas, ao abrir os olhos,
Percebi que era apenas ilusão.
miolo-buriti4.indd 13miolo-buriti4.indd 13 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
miolo-buriti4.indd 14miolo-buriti4.indd 14 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
15
Métodos Energéticos
"Precisamos especialmente de imaginação nas ciências. Nem 
tudo é matemática e nem tudo é lógica simples; é também um 
pouco de beleza e poesia."
Maria Montessori
B rasília sempre me fascinou como engenheiro de estru-turas. E essa atração é, em grande parte, fruto de toda 
a beleza existente em torno das soluções dadas por Joaquim 
Cardoso, o grande calculista de Niemeyer. Além do con-
creto, tenho em comum com Joaquim a veia poética e isso, 
certamente, me fez apreciar ainda mais o talento do grande 
engenheiro pernambucano. Para projetar bem estruturas, é 
interessante andar de mãos dadas com as artes e estar aberto 
às emoções, além, é claro, da lógica. O engenheiro precisa 
ser racional, mas também precisa ser sensível.
Em função de uma possibilidade de trabalho que me 
apareceu em Foz do Iguaçu no início do ano (estamos em 
2019), comecei a estudar novamente Brasília e as soluções 
estruturais do mestre Joaquim. Meu problema era resolver 
uma enorme laje com formato de ameba, que, ainda por 
cima, ostentaria um jardim, aberturas e enormes balanços. 
miolo-buriti4.indd 15miolo-buriti4.indd 15 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
16
Rafa Souza
Me lembrei das lajes nervuradas com caixão perdido do 
velho mestre e comecei a estudar essa possibilidade avida-
mente, mesmo sem ter ainda fechado o negócio.
Na mesma época, minha esposa, Daniela, que é arqui-
teta, perguntou-me por que eu estudava tanto as soluções 
estruturais de Brasília, sendo que sequer havia fechado 
contrato para calcular a obra de Foz do Iguaçu. Como sem-
pre, respondi que estava afiando o machado e que, hora ou 
outra, poderia vir a utilizar tal solução, mesmo que não 
fosse em Foz do Iguaçu. A verdade é que passei um or-
çamento para o pessoal de Foz e sabia que dificilmente 
ganharia a concorrência. Normalmente é assim, querem 
construir obras arrojadas, mas sempre querem economi-
zar no projeto estrutural.
Dani então começou a discorrer sobre seus estudos re-
lacionados ao Feng Shui e revelou que havia sido acertada 
a ideia de trazermos o escritório para a garagem de casa. 
Mal sabíamos nós que nosso home-office anteciparia uma 
tendência futura forçada, que seria concretizada um ano de-
pois, num contexto mundial. 
Aparentemente, o centro energético da nossa casa (cal-
culado com base nas figuras geométricas que constituem 
os cômodos), havia mudado do banheiro para a sala, após 
a transformação da garagem em um escritório, e isso nos 
dava uma condição energética positiva. 
Ficamos durante sete anos na torre do Aspen Trade 
Center e, ao longo de todo esse tempo, me lembro de ter re-
cebido pouquíssimos clientes. Em função dos mecanismos 
virtuais de comunicação, uma porta aberta já não trazia tan-
to impacto nos negócios tal como no passado, especialmente 
miolo-buriti4.indd 16miolo-buriti4.indd 16 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
17
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
para um engenheiro acostumado a trabalhar sozinho e em 
problemas que exigem concentração intensa.
Ao ver a história de empresas como Microsoft, Apple e 
Amazon, decidimos que poderíamos recomeçar na garagem 
de casa, contendo gastos e mirando em focos específicos. Às 
vezes, para dar um passo para frente, é necessário dar dois pas-
sos para trás. E foi assim. Vendemos um dos carros e trocamos 
o outro automóvel por um veículo menor, de maneira que esse 
último pudesse ser acomodado no espaço descoberto que ha-
via sobrado em frente à antiga garagem, agora escritório.
Em pouco tempo, estávamos trabalhando em nossa 
garagem, na Rua Lazurita 347, em pleno verão de janeiro, 
sob um calor insuportável, pela falta de ar-condicionado. 
Paralelo a isso, fechamos uma outra empresa que tínhamos, 
destinada a reformas, reforços e recuperações estruturais. 
A Engrafix Construções sobreviveu arduamente por 5 
anos, tentando exercer uma engenharia de ponta, mas aca-
bou engolida pela selvageria do mercado: preços desleais, 
impostos cruéis do sócio inoperante (governo) e propinas 
que não aceitávamos pagar para compradores de algumas 
empresas contratantes. Aceitamos, com humildade, que 
não tínhamos condições de tocar várias frentes ao mesmo 
tempo e fomos gratos por entender os mecanismos que le-
vam empresas menos qualificadas a prosperarem em um 
curto espaço de tempo. 
Ainda no início de 2019, no meio do turbilhão de mu-
danças, eu vinha chateado em função de uma nova lesão no 
ligamento cruzado anterior. A perna esquerda já era opera-
da, devido ao futebol. A direita, agora, precisaria ser ope-
rada, em função do melhor esporte já inventado para um 
miolo-buriti4.indd 17miolo-buriti4.indd 17 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
18
Rafa Souza
engenheiro de estruturas, o jiu-jitsu, arte marcial baseada 
em alavancas e esforços simples. 
Era final de dezembro de 2018, quando, na tentati-
va de finalizar um colega com uma submissão conhecidacomo “arco e flecha”, fui surpreendido por uma reposição 
de meia-guarda que fez meu joelho estalar: pop. Quando 
o joelho estala, já era, meu amigo. Torção é realmente um 
esforço simples danado. Fiz a ressonância e estava lá, a se-
ção completamente rompida. Meu sonho de ir lutar em um 
campeonato mundial havia sido adiado e, ao invés dos trei-
nos frequentes, passei a me concentrar rotineiramente nos 
trabalhos de fisioterapia que viriam após a cirurgia.
Operei no dia 11 de fevereiro de 2019 e, no dia 9 de 
março, já sem as muletas mas mancando, fui dar uma 
aula de pré-moldados na especialização da Universidade 
Estadual de Londrina. Na estrada, já voltando para casa, eu 
vinha pensando na vida e suas vicissitudes. O joelho dolo-
rido e a falta do jiu-jitsu no dia a dia me incomodavam. O 
projeto de Foz e tantos outros que não haviam vingado, por 
mim batizados de projetos natimortos. O escritório na ga-
ragem de casa, dando a sensação de que estava regredindo 
profissionalmente. Resolvi parar num posto qualquer de 
beira de estrada e alcancei um energético mais próximo 
para dar uma motivada no ânimo. Ao dar uma espiada no 
WhatsApp, vi uma mensagem que me chamaria a atenção 
entre o bombardeio de mensagens inócuas:
“Boa tarde, professor. Me chamo D.F. e sou Coordenadora de 
Projetos e Obras. O Prof. H. da UNB me passou seu conta-
to. Estamos com um sério problema em um prédio do nosso 
miolo-buriti4.indd 18miolo-buriti4.indd 18 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
19
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
tribunal, que precisou ser evacuado e interditado no dia 22 de 
fevereiro. Vamos precisar escorar e posteriormente analisar o 
problema para encontrar possíveis causas e uma nova solução. 
O foco do problema é a laje da cobertura, nervurada e proten-
dida, e que recebeu vigas metálicas perfil I como solução de um 
reforço estrutural na laje, há 3 anos. O que nos chama a aten-
ção é o aparecimento de novas patologias e rompimento dos 
cabos. Precisamos urgentemente contratar um profissional da 
área, por inexigibilidade (notória especialização) e gostaria de 
saber se o senhor se interessa em apresentar uma proposta para 
ser nosso consultor técnico. Apesar de saber que o senhor está 
em outra cidade, acreditamos que apenas no início será neces-
sária uma reunião em Brasília. Caso tenha interesse em nos 
ajudar, e queira saber um pouco mais do problema, envio as in-
formações por e-mail. Desde já, agradeço a atenção. Boa tarde”. 
Por um momento não acreditei no que estava lendo. 
Evidentemente que já havia participado de outros casos de 
repercussão, tais como a ruína do Cassino Tropicana (na épo-
ca em que fiz pós-doc na Universidade de Illinois), o colapso 
progressivo das sacadas de um edifício em Maringá e a ruína 
do palco do ex-governador Requião. Mas o que me chamava 
a atenção é que, desta vez, era em Brasília, cidade fantástica e 
emblemática, bem longe da minha humilde garagem. 
Mas o que mais me intrigava é que havia estudado 
Brasília meses antes. Já não sabia dizer se era a minha in-
tuição ou se era o centro energético que minha esposa tinha 
decodificado através do Feng Shui. Será que nos prepara-
mos intuitivamente para algo que vai acontecer ou será que 
as coisas acontecem porque as atraímos?
miolo-buriti4.indd 19miolo-buriti4.indd 19 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
20
Rafa Souza
Essa sensação estranha já tinha me acontecido no jiu-
-jitsu, quando tive uma luxação no ombro direito. O treino 
já tinha acabado e um companheiro me chamou para fazer 
um treino extra. Algo me dizia para não ir, que eu poderia 
me machucar, mas acabei indo contra meus próprios sinais. 
Após levar uma queda, o oponente ficou irritado e retomou 
a batalha, dando um armlock voador, que acabou por luxar 
meu ombro, gerando uma dor inexplicável e absurdamente 
inesquecível. Ficou a questão: me machuquei porque não 
ouvi minha intuição ou me machuquei porque atraí aquilo 
que pensei? O fato é que comecei a ficar mais atento às mi-
nhas leituras sensoriais...
Voltando ao convite de Brasília, ao mesmo tempo em 
que a notícia era mágica, também era preocupante, pois 
me colocava possivelmente em um dos grandes desafios 
profissionais da minha vida. Como lidar com tudo aquilo? 
A gente se prepara tanto e daí aparece aquela situação tão 
sonhada. Como encarar com êxito a realidade daquilo que 
você tanto sonhou???
Continuei a viagem de volta de Londrina e fiz uma pa-
rada em Mandaguari, antes de retornar para Maringá. Lá 
encontraria minha esposa e meus filhos, que haviam ficado 
na casa dos meus sogros queridos, Roberto e Sueli. Ao con-
tar a notícia para todos, não sabia se sentia medo ou alegria, 
pois se tornava real a possiblidade de um trabalho especial 
em uma cidade onde os grandes engenheiros e arquitetos 
brasileiros deixaram sua marca. 
Minha esposa, que sabia que eu vinha estudando Brasília, 
achou, num primeiro momento, que eu havia enlouquecido. 
“Pronto, além de manco da perna, agora também ficou pinel 
miolo-buriti4.indd 20miolo-buriti4.indd 20 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
21
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
da cabeça”, disse ela logo que contei a notícia sobrenatural. 
Ao constatar a verdade, ela também percebeu que o destino 
nos dá uns toques malucos e que devemos estar mais aten-
tos a esses sinais.
Meu sogro, Roberto Corazza, também é engenheiro. 
Engenheirão de obra, daqueles bons e em falta no merca-
do. Milhares de metros quadrados construídos em silos nas 
áreas mais remotas desse Brasil. Foi nosso sócio na Engrafix 
e, grande parte do que aprendi de canteiro, foi com ele. Meu 
professor de canteiro, meu guru do “como se faz”. Foram 
muitas tardes de aprendizado com ele, dobrando estribos 
para tapear o ritmo lento das obras que pegamos no período 
de vida da empresa. E foi com ele que discuti as primeiras 
possibilidades de como salvar aquele colosso em Brasília.
Minha sogra, Sueli Corazza, é psicóloga. E devido 
à profissão que escolheu, me deu a honra de conhecer de 
perto o refúgio de um dos maiores expoentes da Psicologia, 
Carl Gustav Jung. Seu sonho sempre foi conhecer o castelo 
de Jung e, com muita garra, conseguimos encontrá-lo no 
meio do nada, em um vilarejo chamado Bollingen, nas mar-
gens de uma das bacias do lago de Zurique, na Suíça. Jung 
construiu o castelo com as próprias mãos e lá escreveu gran-
de parte de sua obra. 
O fato é que foram dias de muita expectativa que se 
sucederam até o fechamento definitivo do contrato de tra-
balho em Brasília. Com o contrato firmado em 20 de mar-
ço de 2019 e válido por 1 ano, ficou então definido que eu 
deveria viajar imediatamente para o Distrito Federal para 
ter acesso a toda a documentação, bem como, conhecer de 
perto o gigante avariado.
miolo-buriti4.indd 21miolo-buriti4.indd 21 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
miolo-buriti4.indd 22miolo-buriti4.indd 22 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
23
Estado-Limite Último
"Conecte-se com um cientista e você estará se conectando com 
uma criança."
Ray Bradbury
A viagem para Brasília foi cercada de muita expectativa, pois evidentemente gostaria de chegar ao local já com 
possíveis soluções de reforço. Antes da viagem, o pessoal 
havia me mandado todos os relatórios de monitoramen-
to, simulações, laudos periciais, projetos originais e tudo 
o que existia de informações sobre a edificação. Já tinha 
mirabolado várias possibilidades, mas ainda nada que re-
almente me convencesse.
A construção, situada em pleno Eixo-Monumental de 
Brasília, ficava em frente a uma praça com inúmeros buritis e 
tinha o singelo apelido de “petit palais”. Havia sido projetada 
por um famoso arquiteto que havia trabalhado com Niemeyer 
e, por sua imponência, havia sido tombada pelo Iphan 
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
O fato é que, em Brasília, tudo foi feito para impres-
sionar. Não fosse aquele caboclo desafiando JuscelinoKubitscheck a mudar a capital do Rio de Janeiro para 
miolo-buriti4.indd 23miolo-buriti4.indd 23 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
24
Rafa Souza
Brasília, talvez nunca tivéssemos tido a oportunidade de 
ver nascer uma cidade tão impressionante, orgulho da im-
ponência de nossa nação. Vigas protendidas com seção de 
1,0 m de largura por 2,0 m de altura circulam aos mon-
tes em Brasília, como se fossem uma coisa absolutamente 
normal, corriqueira.
Infelizmente, a estrutura que agora visitava sofria na 
mesma ordem de grandeza de sua amplitude. Apesar de um 
reforço executado com vigas metálicas de seção I sobre as 
lajes de cobertura, as lajes nervuradas protendidas insistiam 
em continuar cedendo, alcançando uma incrível flecha de 
45 cm no meio do vão da laje mais comprometida. Para pio-
rar a situação, monitoramentos indicavam que os perfis me-
tálicos de reforço haviam entrado em regime de escoamento 
no trecho central de uma das lajes.
Além da expectativa do trabalho em si, havia também 
a expectativa em relação à equipe com a qual eu iria ter 
que interagir nos próximos meses. O aspecto interpessoal 
é sempre uma coisa que me preocupa muito na condução 
dos meus trabalhos. Felizmente, o primeiro contato com 
a equipe foi muito bom e a energia positiva foi imediata. 
Logo no início da manhã, a querida D.F. me pegou no hotel 
e fomos direto para o “petit palais”, onde conheci os outros 
engenheiros de sua equipe.
Enfrentamos uma pequena burocracia para acessar a 
edificação que, desde fevereiro de 2019, estava interditada. A 
equipe me contou que as pessoas trabalhavam normalmen-
te no interior do “petit palais”, quando ouviram um forte es-
talo. A mesma equipe que então me recebeu se encaminhou 
para a edificação e, ao remover a placa de gesso do forro, na 
miolo-buriti4.indd 24miolo-buriti4.indd 24 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
25
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
região originária do estalido, constatou a exposição de uma 
cordoalha de protensão rompida em uma das nervuras da 
laje de cobertura. Recomendou-se, então, a evacuação ime-
diata da edificação, de maneira que não houve tempo de as 
pessoas sequer levarem seus materiais de trabalho.
Após a liberação por parte da segurança, pudemos en-
tão entrar no interior do “petit palais”. Enquanto andávamos 
pelos grandes corredores em meio a uma escuridão tremen-
da, ouvíamos pequenos estalos, que eram suficientes para 
nos deixar aflitos, mas não apavorados ao ponto de correr-
mos. Após alguns minutos naquela escuridão, conseguimos 
obter a liberação para retomar a energia elétrica do prédio 
junto à diretoria e, assim, pudemos afastar um pouco os 
nossos fantasmas.
Apesar da energia e da possiblidade de acender luzes 
no interior da edificação, a visualização das lajes ainda era 
difícil. Era necessário ultrapassar o forro e os inúmeros sis-
temas (hidráulico e elétrico) para poder observar, de per-
to, o estado das nervuras. Além disso, em muitos pontos as 
nervuras não apresentavam seu aspecto original, pois mui-
tas delas haviam sido reparadas na época do reforço metáli-
co executado na parte superior.
Conseguimos então chegar até o local onde ocorreu 
a ruptura da cordoalha de protensão, que, por sua vez, 
ocasionou a interdição do prédio. De maneira estranha, 
essa cordoalha apresentava-se rompida junto aos apoios e 
não na região central. A equipe ficou espantada ao perce-
ber que o tamanho da cebola formada no ponto de rup-
tura havia diminuído de tamanho, possivelmente devido 
a novas acomodações da laje, que devem ter retificado 
miolo-buriti4.indd 25miolo-buriti4.indd 25 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
26
Rafa Souza
parcialmente o cabo, diminuindo, assim, a cebola típica 
gerada pelo desencordoamento.
A despeito de minhas pernas avariadas em função dos 
dois joelhos operados, subi com garra por uma escada até 
o ponto de interesse, enquanto a D.F. iluminava a laje com 
uma lanterna do ponto mais baixo. Enquanto passava a mão 
em um trecho da cordoalha, um novo estalo, dessa vez mais 
forte, aconteceu. Me agarrei com força em uma tubulação e 
rezei instantaneamente para não ser a minha hora, enquan-
to observava a oscilação da iluminação vinda das mãos trê-
mulas da minha nova amiga.
Tratar com estruturas em estado crítico sempre envol-
ve muita tensão. Nesse caso, então, tive a sensação de que 
tinha chegado no limite. Estamos falando de uma estrutura 
que apresentou procedimentos executivos inapropriados. 
Não havia armadura suficiente nas nervuras das lajes para o 
expressivo vão de 22 m. As poucas armaduras, no entanto, 
eram excessivas para a largura das nervuras, de maneira que 
não havia concreto suficiente de envolvimento. Com essa 
deficiência, observou-se muito desplacamento da camada 
de cobrimento, ficando as armaduras expostas em vários 
pontos das faces inferiores das nervuras.
Esse desplacamento era ainda potencializado pela ne-
cessidade de se fixar parafusos para a sustentação dos forros 
de gesso. Ao furar as nervuras transversalmente, na região 
de cobrimento, potencializava-se a tendência do destaca-
mento do cobrimento das nervuras. 
O cenário que encontrei, obviamente, não era mais 
aquele registrado nos inúmeros laudos aos quais tive aces-
so antes de visitar a edificação. Como a estrutura havia 
miolo-buriti4.indd 26miolo-buriti4.indd 26 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
27
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
sido reforçada pela parte superior, com perfis metálicos, 
as fissuras que existiam nas nervuras pela parte inferior 
foram colmatadas. 
Pode-se dizer que, dessa maneira, estava visitando uma 
estrutura que se encontrava maquiada e que, agora, apre-
sentava ruptura localizada de cordoalhas. Assim, qualquer 
estalo vindo da estrutura merecia a devida atenção. E assim, 
decidimos que era melhor ir para a parte de cima, do que fi-
car por debaixo de uma laje naquelas condições misteriosas 
e nitidamente em regime inelástico.
Para acessar a parte superior das lajes, a dificuldade para 
mim foi ainda maior. Meu joelho recém-operado sofria, ao 
ter que me agachar em espaços apertados e me pendurar em 
escadas improvisadas que davam acesso à cobertura. Resisti 
firme na minha falta de força muscular e apliquei minhas 
reservas de força para poder ver Brasília de cima daquela 
cobertura. Felizmente, a dor foi recompensada pela visão, 
afinal de contas, não seriam muitos que teriam a oportuni-
dade de ver Brasília por aquele ângulo peculiar. 
Ao acessar o topo da edificação, fui presentado com a 
vista do Eixo-Monumental e com o Estádio Mané Garrincha 
nas proximidades. Meu coração se encheu de emoção, mas 
foi logo reprimido pelo passageiro oculto mental, determi-
nado a controlar as vaidades e voltar ao trabalho duro. 
Estava eu ali, no meio daquela infinidade de vigas 
metálicas disponibilizadas para tentar enrijecer as lajes 
nervuradas. Algumas delas já estavam em escoamento, a 
edificação continuava vazia, a pressão política aumentava e 
eu começava a afiar o canivete para descascar o maior aba-
caxi da minha carreira profissional.
miolo-buriti4.indd 27miolo-buriti4.indd 27 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
miolo-buriti4.indd 28miolo-buriti4.indd 28 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
29
Movimento Retilíneo 
Uniforme
"Religião é a cultura da fé. A ciência é a cultura da dúvida."
Richard Feynman
Comecei a frequentar o curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Maringá em 1994. Apesar de 
dois exames realizados ("Mecânica dos Sólidos" e "Sistemas 
de Abastecimento de Águas e Esgoto"), pude me formar em 
1999, sem experimentar dependências ou reprovações ao 
longo dos cinco anos de curso. 
O gosto por Engenharia de Estruturas e, especifica-
mente, por Estruturas em Concreto, começou antes mesmo 
do meu ingresso na Universidade Estadual de Maringá. Me 
lembro que, às vezes, andando pelo centro da cidade, era 
comum avistaresqueletos de concreto aguardando a devida 
proteção em argamassa e alvenaria. Sempre me perguntava 
como alguém podia ter tamanha coragem em assumir a res-
ponsabilidade de calcular aquelas maravilhas em concreto. 
Assim, já entrei no curso me dedicando com mais afin-
co às matérias relacionadas ao cálculo estrutural. Queria sa-
ber, a todo custo, quais eram os critérios para se obter uma 
miolo-buriti4.indd 29miolo-buriti4.indd 29 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
30
Rafa Souza
quantidade de armadura que, com o concreto, pudesse su-
portar aqueles vãos e balanços que tanto me fascinavam. 
As coisas não foram muito fáceis durante o segundo 
ano de curso (1995), tendo-se em vista que tive que cumprir 
o serviço militar obrigatório no Tiro de Guerra de Maringá. 
Me lembro de que, enquanto os colegas estudavam pelas 
madrugadas nos períodos de provas, era normal que eu es-
tivesse cumprindo alguma escala de guarda, às vezes de até 
48 horas. Apesar das dificuldades enfrentadas, nunca co-
gitei abandonar o curso e ainda terminei o serviço militar 
com o título de "Honra ao Mérito", honraria que o Exército 
Brasileiro oferece aos soldados de comportamento exem-
plar e com número reduzido de faltas durante o período.
Apesar das dificuldades encontradas em conciliar 
os estudos e o Exército, pude ainda exercer as atividades 
de monitor das disciplinas "Vetores" e "Álgebra Linear", 
ambas com carga horária de 136 h/a e exercidas junto ao 
Departamento de Matemática da Universidade Estadual 
de Maringá, tendo-se em vista meu bom desempenho na 
disciplina "Geometria Analítica", cursada durante o pri-
meiro ano de curso.
Foram dois anos de preparação nas disciplinas básicas 
até tomar contato com a disciplina que confirmaria a minha 
maior paixão: "Estruturas em Concreto". A disciplina foi le-
cionada pelo excelente professor Dr. João Dirceu Nogueira 
Carvalho. A partir daí, já sabia com profunda certeza qual 
seria o meu caminho dentro da Engenharia Civil.
Na época em que cheguei ao quinto ano do curso de 
Engenharia Civil, a Universidade Estadual de Maringá ainda 
possibilitava uma formação mais específica, de maneira que 
miolo-buriti4.indd 30miolo-buriti4.indd 30 10/02/2021 21:08:2910/02/2021 21:08:29
31
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
pude me aperfeiçoar ainda mais no cálculo estrutural de edi-
ficações em concreto armado. Fui acompanhado e inspirado, 
nesse período, pelo professor e hoje grande amigo, Antônio 
Carlos Peralta, Diretor da Protenfor, um dos nomes fortes no 
cálculo estrutural de arranha-céus no Paraná. 
Além da boa formação teórica, em 1998 tive a opor-
tunidade de realizar diversos estágios, nomeadamente 
nas empresas Hejos Engenharia e Sistemas Estruturais 
Ltda, Ágape Engenharia e na Associação dos Municípios 
do Setentrião Paranaense (AMUSEP). Na ocasião, pude 
acompanhar procedimentos relacionados a obras públi-
cas (licitações, orçamentos e medições), bem como o de-
senvolvimento de projetos estruturais de estruturas em 
concreto armado.
Devo ainda mencionar que, durante o meu curso de 
graduação, me dediquei não só aos estudos, mas também a 
várias questões político-estudantis, assumindo a presidên-
cia do centro acadêmico de Engenharia Civil entre 1997 e 
1998. Essa responsabilidade me colocou em contato direto 
com engenheiros de renome, bem como com diversos ór-
gãos profissionais (Crea, AEAM, Senge), principalmente 
através da minha colaboração na organização das semanas 
de engenharia do departamento de engenharia civil. 
Talvez devido a essa experiência de liderança adquirida 
junto ao centro acadêmico e também devido ao meu amor 
pelo mundo das artes desde adolescência, tive a honra de 
ser escolhido em uma disputa acirrada para orador geral da 
solenidade de colação de grau dos formandos de 1998. Um 
dia após ter tido a honra de ser orador geral, em fevereiro 
de 1999, com o ginásio Chico Neto completamente lotado, 
miolo-buriti4.indd 31miolo-buriti4.indd 31 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
32
Rafa Souza
segui para Campinas, onde comecei a cursar o mestrado em 
engenharia de estruturas.
No Departamento de Estruturas da Faculdade de 
Engenharia Civil da Universidade de Campinas, comecei 
meus estudos mais avançados dentro da Engenharia de 
Estruturas e, graças à proximidade de São Paulo, pude tomar 
contato com várias tendências que usualmente demoram a 
chegar nas regiões mais afastadas dos grandes centros. 
A demora em estabelecer um orientador definitivo 
para a minha dissertação de mestrado e o aperto finan-
ceiro propiciado pela falta de uma bolsa de estudos, por 
vezes, me afligiram. Nesse momento, fez muita diferen-
ça o apoio familiar, principalmente na figura do meu pai, 
que, na época, já era professor titular do Departamento de 
Química da Universidade Estadual de Maringá e pesqui-
sador do CNPq.
Comecei o programa de mestrado sendo orientado 
pela Profa Dra Maria Cecilia Amorim Teixeira da Silva e, 
em seguida, passei para a orientação do Prof. Dr. Newton 
de Oliveira Pinto Junior. Em meio à indefinição do tema 
da minha dissertação de mestrado e ao tumulto ocasionado 
pelas mudanças de orientação, surgiu um convite do Prof. 
Dr. José Luiz Antunes de Oliveira e Sousa para uma bolsa de 
mestrado já aprovada pela Fundação de Amparo à Pesquisa 
do Estado de São Paulo (FAPESP). 
Nesse momento, mudei mais uma vez de orientador 
e dei início à redação da dissertação intitulada "Análise 
de Fraturamento em Estruturas de Concreto Utilizando 
Programas de Análise Estrutural". A definição do tema 
e o suporte financeiro me deram a calma necessária para 
miolo-buriti4.indd 32miolo-buriti4.indd 32 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
33
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
finalizar o programa em apenas um ano e meio, porém, com 
mais uma modificação importante.
A partir do início da orientação do Prof. Dr. José Luiz 
Antunes de Oliveira e Sousa, comecei a ter contato frequen-
te com o grupo de pesquisa do Prof. Dr. Túlio Nogueira 
Bittencourt, na Escola Politécnica da Universidade de São 
Paulo. Reuniões periódicas mantidas entre os referidos pro-
fessores e seus orientandos me deram a oportunidade de 
aprofundar ainda mais meus conhecimentos, tendo-se em 
vista o acompanhamento de detalhes de diversos trabalhos 
avançados desenvolvidos por outros colegas. 
Em virtude do afastamento do Prof. Dr. José Luiz 
Antunes de Oliveira e Sousa para pós-doutorado em 
Barcelona, o Prof. Dr. Túlio Nogueira Bittencourt foi, en-
tão, credenciado ao programa de mestrado da Unicamp e 
acabou me assumindo como seu orientando e, assim, pude 
defender minha dissertação de mestrado em 2001. No dia 
subsequente à minha defesa, me mudei para São Paulo, 
onde mesmo antes de defender o mestrado já havia termi-
nado uma disciplina de doutorado como aluno especial.
No programa de doutorado da Escola Politécnica da 
Universidade de São Paulo, sob orientação do Prof. Dr. Túlio 
Nogueira Bittencourt e já com bolsa de estudos oferecida 
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível 
Superior (Capes), comecei a cursar as disciplinas básicas, 
com a intenção de desenvolver um trabalho direcionado ao 
reforço de estruturas de concreto com chapas de aço. 
No entanto, após muitas conversas com um grande 
companheiro de doutorado, Leandro Mouta Trautwein, 
amadureci a ideia de que um estudo direcionado ao Método 
miolo-buriti4.indd 33miolo-buriti4.indd 33 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
34
Rafa Souza
das Bielas, acompanhado de simulações numéricas com fer-
ramentas de análise não-linear poderia resultar em um tra-
balho com boas perspectivas de aplicação no campo prático, 
o que, por sua vez, me possibilitaria escrever um trabalho 
que não ficaria restrito apenas às prateleiras acadêmicas. 
Na época, o Prof. Dr. Túlio Nogueira Bittencourt nun-
ca havia orientado trabalhos relacionados ao Método das 
Bielas e sua resistência a me orientarnessa linha, no começo 
de nossas conversas, foi natural. Me lembro de que o pre-
texto para conseguir iniciar o trabalho foi bastante ousa-
do, tamanha era a minha vontade de me dedicar ao tema. 
Prometi que, caso o Prof. Túlio aceitasse iniciar as pesquisas 
no Método das Bielas, eu me comprometia a lhe entregar "o 
melhor trabalho de doutorado já orientado por ele".
Com o compromisso de excelência assumido e com a 
confiança depositada pelo Prof. Túlio Bittencourt em minha 
pessoa, comecei a me dedicar com entusiasmo ao tema. Além 
disso, passei também a atuar como monitor no curso de espe-
cialização oferecido pelo Programa de Educação Continuada 
em Engenharia (Pece), ajudando a redigir um material di-
dático com mais de 400 páginas que, até hoje, ainda faz 
muito sucesso na internet: "ES-013: Exemplo de um Projeto 
Completo de Edifício de Concreto Armado". Essa disciplina 
nasceu na Poli, nos cursos de especialização, pelas mãos do 
Prof. Lauro Modesto dos Santos, e me senti muito honrado 
em ter meu nome figurando em tão importante trabalho, ao 
lado de um engenheiro tão importante e reconhecido.
No entanto, com os créditos de doutorado concluídos e 
com a tese de doutorado bem encaminhada, resolvi que seria 
uma boa oportunidade concorrer a uma vaga de professor 
miolo-buriti4.indd 34miolo-buriti4.indd 34 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
35
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
assistente disponível em um concurso público a ser reali-
zado pela Universidade Estadual de Maringá. Apesar de a 
vaga ser em "Materiais de Construção", me dispus a estudar 
com determinação e acabei passando em primeiro lugar, as-
sumindo as atividades de docência na instituição, em 2002.
Coincidentemente, logo após a divulgação dos resul-
tados do concurso, um dos professores da área de estrutu-
ras do Departamento de Engenharia Civil da Universidade 
Estadual de Maringá pediu aposentaria e acabei sendo con-
vocado para assumir atividades na referida área, tendo-se 
em vista o meu perfil afinado com esse campo de atuação. 
No começo das minhas atividades como docente 
no Departamento de Engenharia Civil da Universidade 
Estadual de Maringá, me dividi entre os períodos de pre-
paro e as aulas ministradas para os cursos de Engenharia 
Civil (Mecânica das Estruturas e Mecânica dos Sólidos), 
Engenharia Mecânica (Mecânica dos Sólidos) e Engenharia 
de Produção (Resistência dos Materiais e Elementos de 
Máquinas), absorvendo uma carga horária de 16 h/a. Em 
simultâneo a todas as atividades mencionadas, me esforçava 
para terminar a tese de doutoramento, realizando análises 
não-lineares muito demoradas com o programa ADINA, 
durante as madrugadas.
Após um ano de atividades na Universidade Estadual 
de Maringá, consegui, por intermédio do Prof. Túlio 
Bittencourt, uma oportunidade para realizar doutorado-
-sanduíche na Faculdade de Engenharia da Universidade 
do Porto, Portugal, sob a supervisão do Prof. Dr. Joaquim 
Azevedo Figueiras, especialista renomado no cálculo de es-
truturas especiais e monitoração de estruturas.
miolo-buriti4.indd 35miolo-buriti4.indd 35 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
36
Rafa Souza
Aproveitando o período de férias da universidade no 
início do ano de 2003, segui para Portugal, onde tomei con-
tato com temas de ponta da engenharia estrutural da época, 
tais como: utilização de concreto auto adensável, análise ex-
perimental de vigas-parede dimensionadas com modelos de 
escoras e tirantes, análise e dimensionamento de elementos 
de membrana, análises não-lineares utilizando modelos de 
fissuração distribuída e dimensionamento de estruturas es-
peciais em concreto com geometria qualquer.
Após 2 meses de atividades intensas na Universidade 
do Porto, voltei ao Brasil com uma visão mais prática da 
aplicação do Método das Bielas, tendo-se em vista o con-
tato direto com as publicações do CEB-FIP Model Code. 
Também voltei com a experiência necessária para manipu-
lar um verdadeiro laboratório virtual, o programa comercial 
DIANA, por meio do qual pude confirmar todas as minhas 
propostas de dimensionamento, mesmo utilizando uma 
versão educacional limitada trazida de Portugal. 
Em 2004, defendi a minha tese de doutorado, inti-
tulada "Análise e Dimensionamento de Elementos com 
Descontinuidades" e também pude consolidar o com-
promisso assumido com o Prof. Túlio Bittencourt sobre a 
qualidade da tese. O referido trabalho me deu a oportuni-
dade de conquistar a "Primeira Menção Honrosa" no con-
curso "Prêmios de Destaque para Teses e Dissertações nas 
Áreas de Materiais e Estruturas", promovido pelo Instituto 
Brasileiro do Concreto (Ibracon), em 2006. 
Terminado o período de estágio probatório na 
Universidade de Maringá, avaliei que muitas das pesqui-
sas de qualidade publicadas no Brasil eram desconhecidas 
miolo-buriti4.indd 36miolo-buriti4.indd 36 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
37
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
mundialmente em função da fronteira de linguagem, isto é, 
por não serem publicadas em inglês. Por outro lado, em mi-
nha linha de pesquisa, já havia constatado em programa de 
doutorado que interessantes pesquisas sobre o Método das 
Bielas vinham sendo desenvolvidas na University of Illinois 
at Urbana-Champaign, uma das melhores universidades 
americanas em Engenharia Civil.
Dessa maneira, em 2006, me encaminhei para a 
University of Illinois at Urbana-Champaign, para traba-
lhar em nível de pós-doutorado com o Prof. Dr. Daniel 
Alexander Kuchma (ex-orientando de doutorado do famo-
so engenheiro canadense Michael Collins), como bolsista 
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível 
Superior (Capes). 
Foram seis meses de muita produtividade, durante os 
quais pude tomar contato direto com pesquisas de ponta na 
Engenharia Estrutural. Além dos trabalhos direcionados ao 
Método das Bielas, também acompanhei o ensaio experi-
mental de paredes estruturais em grande escala sujeitas a 
ações sísmicas, e de vigas de concreto protendido de elevada 
resistência, sujeitas a grandes vãos, ensaiadas em escala real.
Em relação ao Método das Bielas, pude desenvolver, 
no período, um modelo autoadaptável de escoras e tirantes 
para blocos de fundação, objetivando retratar com maior 
fidelidade o comportamento dos referidos blocos, quando 
suportando pilares retangulares sujeitos a flexão oblíqua 
composta. Como se sabe, os modelos de dimensionamento 
geralmente disponíveis na literatura são normalmente limi-
tados à situação de pilar quadrado sujeito a carga axial, o 
que, por sua vez, é uma situação muito simplória. 
miolo-buriti4.indd 37miolo-buriti4.indd 37 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
38
Rafa Souza
De maneira a confirmar as deduções analíticas e cer-
tificar a potencialidade dos modelos, foi feita uma extensa 
organização de resultados experimentais disponíveis na li-
teratura, bem como empregaram-se ferramentas de análise 
não-linear (Atena) para validação do modelo proposto.
O período em Illinois foi fundamental para o domínio 
da língua inglesa, de maneira que as pesquisas conduzidas 
puderam ser publicadas em periódicos de ponta como o ACI 
Structural Journal, Canadian Journal of Civil Engineering e 
Computers and Concrete. 
Na ocasião, também tive o privilégio de tomar contato 
direto com a teoria conhecida como "Modified Compression 
Field Theory", proposta introduzida no começo dos anos 
80 pelos professores Frank Vecchio e Michael Collins, da 
Universidade de Toronto (Canadá). Ainda hoje, a referida 
proposta é tida como uma das teorias mais avançadas para a 
simulação de peças de concreto armado e protendido sujei-
tas a cisalhamento, tendo-se em vista a consideração do efei-
to de "softening" do concreto devido às tensões transversais. 
Uma vez que o Prof. Dr. Daniel Alexander Kuchma 
foi orientando de doutorado do Prof. Collins, pude conhe-
cer a fundo os detalhes da referida teoria e isso culminou 
no lançamento do meulivro “Análise e Dimensionamento 
de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural”, pu-
blicado em 2016. 
Ainda em relação ao pós-doutorado realizado na 
University of Illinois at Urbana-Champaign, pude colaborar 
na investigação do colapso do Cassino Tropicana, ocorrido 
em New Jersey, 2003. Na ocasião, as investigações estavam 
em andamento e, de maneira a auxiliar a tomada de decisão 
miolo-buriti4.indd 38miolo-buriti4.indd 38 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
39
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
do juizado, as provas foram encaminhadas para a University 
of Illinois, visando a uma avaliação complementar. Anos 
depois, vim a saber que esse foi um caso emblemático, sen-
do o acidente que resultou na maior indenização já paga nos 
Estados Unidos: 101 milhões de dólares.
Foi um período de grande aprendizado e que, de certa 
maneira, me deu grande confiança para estudar outros casos 
de colapsos que se desenhariam no futuro. De volta ao Brasil, 
iniciei um processo de consultorias e projetos estruturais di-
versificados, procurando testar todo o acervo teórico adqui-
rido ao longo do tempo, sempre com a filosofia de que uma 
teoria boa seria aquela que sobreviveria à temível prova prática.
Entre os trabalhos profissionais iniciados a partir de 
2007, destacam-se os seguintes projetos estruturais entre-
gues à prefeitura do campus da Universidade Estadual de 
Maringá: Concha Acústica, Ginásio de Esportes, Editora da 
UEM, Sanitários e Livraria da UEM. Considero o projeto 
estrutural do Ginásio de Esportes da Universidade Estadual 
de Maringá (Centro de Excelência em Handebol) um dos 
meus mais importantes trabalhos profissionais, tendo-se em 
vista o histórico da obra, hoje construída e em utilização.
Quando voltei a Maringá, após o período de pós-douto-
rado na University of Illinois at Urbana-Champaign, o então 
reitor da Universidade Estadual de Maringá, Prof. Dr. Décio 
Sperandio, me contatou, pedindo a gentileza de verificar se 
era possível recuperar e reutilizar uma série de arcos metáli-
cos que estavam estocados atrás do Teatro Oficina da UEM. 
Os referidos arcos haviam sido doados por um reno-
mado empresário maringaense e, por longos anos, ficaram 
ao relento, sujeitos a um longo processo de deterioração. Me 
miolo-buriti4.indd 39miolo-buriti4.indd 39 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
40
Rafa Souza
dispus a estudar os procedimentos de recuperação dos arcos 
e aceitei o desafio de usá-los em um ginásio de esportes para 
a Universidade Estadual de Maringá. Junto com meu amigo, 
Vladimir Ferrari, levantamos em campo as dimensões dos 
arcos e dei início aos estudos.
Paralelamente aos procedimentos de recuperação dos 
arcos (jateamento para retirada das carepas de corrosão, re-
cuperação das soldagens e repintura) fui desenvolvendo o 
projeto estrutural em estrutura metálica (cobertura) e con-
creto armado (estrutura de apoio). Considero o projeto ar-
rojado, uma vez que os arcos metálicos perfazem um vão de 
aproximadamente 29,00 metros, sem tirantes, apoiando-se 
diretamente sobre pilares em concreto armado espaçados a 
cada 8,0 metros. 
Basicamente, o ginásio conta com dimensões em plan-
ta de 30,00 metros por 72,00 metros e as vigas longitudi-
nais de união entre os pilares, que possuem comprimento 
de 72,00 metros, foram projetadas sem juntas de dilatação, 
de maneira que os pórticos constituídos pudessem absorver 
os efeitos decorrentes de variação de temperatura. O giná-
sio começou efetivamente a ser construído em 2009 e só foi 
inaugurado em 2019. Me aborreceu muito o fato de não ter 
sido convidado formalmente para a inauguração. Entendi 
que política é a vaidade de alguns, alimentada sobre o tra-
balho árduo de outros.
Em 2008, tendo-se em vista o colapso frágil de 1 mar-
quise e 15 sacadas do Edifício Don Gerônimo e minha expe-
riência adquirida nos Estados Unidos quanto à investigação 
de ruínas estruturais, fui formalmente convidado a integrar 
a Defesa Civil do Município de Maringá. 
miolo-buriti4.indd 40miolo-buriti4.indd 40 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
41
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Na ocasião, além da redação do laudo conclusivo so-
bre o colapso ocorrido com o Edifício Don Gerônimo, pude 
também participar na elaboração de um "Procedimento de 
Inspeção para Marquises" direcionado ao corpo de bombei-
ros, bem como participar na redação do laudo conclusivo so-
bre o colapso de uma grande cortina de estacas ocorrida em 
um edifício em construção, na região do Jardim Universitário, 
participando, também, do laudo da queda do palanque de co-
mício do governador Roberto Requião, ocorrida em Paiçandu.
Em outubro de 2010, fui convidado pelo reitor recém-
-eleito, Prof. Dr. Júlio Santiago, a assumir o cargo de Diretor 
de Cultura da Universidade Estadual de Maringá e, com 
muita honra, aceitei prontamente tão importante convite. 
O cargo veio ao encontro de uma vasta produção ar-
tística que tive como músico e compositor em diversos 
grupos (Sex Hansen, The Guavas e A Inimitável Fábrica de 
Jipes) desde os anos 90. Entre os trabalhos mais relevan-
tes da minha carreira artística, cito os seguintes trabalhos: 
"Poesiacusticodinâmica" (livro de poemas inédito devida-
mente registrado na Biblioteca Nacional), "O Dia em que 
Seremos Todos Felizes" (Cd independente d'A Inimitável 
Fábrica de Jipes, 2005), "Canções Despedaçadas para Juntar 
os Cacos" (Cd independente d'A Inimitável Fábrica de Jipes, 
2008), "Ao Vivo Sesc Vila Mariana" (DVD independente 
d'A Inimitável Fábrica de Jipes, 2010), "Quando o Caos é a 
Regra e a Ordem Exceção" (Cd independente d'A Inimitável 
Fábrica de Jipes lançado em 2012).
Em 2011, tendo-se em vista o desejo de renovação da 
bolsa de produtividade em pesquisa junto ao CNPq, deci-
di que era um bom momento para aproveitar o período de 
miolo-buriti4.indd 41miolo-buriti4.indd 41 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
42
Rafa Souza
férias da universidade para realizar estágios de curta dura-
ção na École Politécnique Fédérale de Lausanne (Suíça) e na 
Technologic University of Delft (Holanda). 
Em Lausanne, tive a oportunidade de trabalhar com o 
Prof. Dr. Aurelio Muttoni, com pesquisas direcionadas ao 
Método dos Campos das Tensões ("Stress Fields Method"). 
Por outro lado, em Delft, direcionei as atividades ao estu-
do do Método Biela-Painel ("Stringer-Panel Method") sob 
orientação do Prof. Dr. Pierre Hoogenboom. 
Apesar de terem sido experiências muito rápidas, foi 
possível entender os métodos citados de maneira muito efe-
tiva, bem como, foi possível estabelecer parcerias de pesqui-
sa com pesquisadores de renome mundial. O Prof. Muttoni 
veio ao Brasil em 2016, em um curso promovido pela 
Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria 
Estrutural) e usou como material de apoio um livro seu por 
mim traduzido do francês para o português, sendo esse tra-
balho um compêndio belíssimo de exemplos relacionados 
ao “Método dos Campos de Tensão”.
De volta ao Brasil, segui fazendo meu trabalho como 
professor, pesquisador e engenheiro de estruturas e, em 
2012, fui aprovado no concurso para professor titular na 
Universidade Estadual de Maringá, o mais alto cargo dentro 
da carreira docente. No entanto, a autorização para tomar 
posse do cargo só foi efetivada em 2014, de maneira que 
achei por bem não mais depender totalmente do estado. 
Assim, larguei o regime de dedicação exclusiva e fundei a 
Engracon Engenharia e Arquitetura Ltda, em 2012.
Em 2015, realizei outro estágio de pós-doutorado 
nos Estados Unidos, desta vez na University of Amherst 
miolo-buriti4.indd 42miolo-buriti4.indd 42 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
43
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Massachussets. Essa universidade, conhecida como U-MASS, 
é tema de uma das canções dos Pixies, uma das minhas ban-
das de rock preferidas! Ali estudei modelos de escoras e ti-
rantes aplicados a vigasde conexão do tipo “coupling beams”, 
bem como, aspectos de dimensionamento e detalhamento 
relacionados a ações sísmicas. 
Nessa época de Amherst eu já estava casado com a Dani 
e meus dois filhos, o Gabriel e o Tiago, eram bem pequenos. 
Uma das passagens mais legais dessa experiência foi ter en-
contrado duas vezes com J. Mascis, meu guitarrista favorito 
e líder da icônica banda Dinosaur Jr. O guitarrista, que sofre 
de Síndrome de Asperger, foi chamado inúmeras vezes por 
Kurt Cobain para entrar no Nirvana, mas nunca aceitou. 
Ele, que nunca ri, largou uma bela gargalhada ao ouvir o 
pequeno Gabriel cantar “Watch the Corners” à sua frente.
Em 2017, fui agraciado com o ‘Prêmio Fernando Luiz 
Lobo Barbosa Carneiro - Destaque do Ano em Pesquisa de 
Concreto Estrutural”, promovido pelo Instituto Brasileiro 
do Concreto (Ibracon).
Meus grandes amigos, Leandro Trautwein e Antônio 
Carlos dos Santos me indicaram, fizeram campanha e vota-
ram em meu nome. E, assim, lá estava eu no 59o Congresso 
Brasileiro do Concreto, para receber o prêmio. 
Quando olho para esse prêmio, com posição de des-
taque na estante do meu escritório, junto aos meus livros, 
não penso nos meus quase 50 artigos em periódicos, dis-
sertação/tese/livro, orientações ou nas inúmeras perícias e 
projetos estruturais. Eu penso nos meus dois amigos.
Na vida, há pessoas que vão estar na trincheira conti-
go e reconhecer teu valor. Outros, fazem apenas parte do 
miolo-buriti4.indd 43miolo-buriti4.indd 43 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
44
Rafa Souza
batalhão e não vão se importar contigo. Esse prêmio, para 
mim, é um prêmio que celebra a amizade, que sinaliza a 
chegada dos novos comandantes, que sinaliza uma transi-
ção de gerações em uma instituição tão séria e necessária 
como é o Instituto Brasileiro do Concreto.
Olhando para trás, percebo que a minha trajetó-
ria sempre seguiu um Movimento Retilíneo Uniforme 
(MRU), aquele tipo de movimento que ocorre com velo-
cidade constante em uma trajetória reta. Ela tem inspira-
ção no belíssimo trabalho de meu pai, que era doutor em 
Química e professor. 
Meu pai disciplinou todos lá em casa para sermos uma 
espécie de família Gracie das ciências. Assim, eu sou doutor 
em Engenharia de Estruturas e meus dois irmãos mais no-
vos são doutores em Física e Computação, respectivamente. 
Somos todos pesquisadores e professores: os irmãos Souza.
Mas nem sempre as coisas foram fáceis e tudo pode-
ria ter sido diferente nessa trajetória, não fossem pessoas 
iluminadas que cruzam os nossos caminhos. Depois de 
todo o relato anterior, também é preciso registrar o que 
deu errado, para que se observem novamente as conexões 
energéticas que regem nossos caminhos. Grande parte das 
vezes, algo que deu certo é quase sempre resultado de algo 
que deu errado.
Era dezembro de 1998 e eu havia me formado em 
Engenharia Civil. Janeiro de 1999 já se aproximava e eu 
ainda não sabia como seria o ano que estava por vir. Não 
sabia como iria iniciar na profissão abençoada que havia 
escolhido. Vindo de uma família de professores e de olho 
no mercado, percebi que deveria estudar um pouco mais 
miolo-buriti4.indd 44miolo-buriti4.indd 44 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
45
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
se quisesse oferecer algo e se quisesse ser competitivo. De 
olho no fato de que conhecimento é riqueza, me inscrevi 
no melhor mestrado em engenharia de estruturas da épo-
ca, o mestrado em engenharia de estruturas da Escola de 
Engenharia de São Carlos.
O grande problema é que, na ocasião, eu não tinha nada 
a oferecer, quando empregada a simples observação do his-
tórico escolar e das atividades extra-classe. Naquela época, 
não tínhamos professores que orientavam iniciação cientí-
fica e o máximo que carregava de orgulho no currículo era 
ter sido monitor de Cálculo e Física e ter ido sempre bem na 
área de estruturas. Para piorar, tinha em meu currículo uma 
reprovação em “Prática Desportiva” que, na época, era uma 
disciplina obrigatória na Universidade Estadual de Maringá.
O saudoso Fredy Telles havia me dado uma boa nota 
no primeiro bimestre sem eu ter aparecido muito nas aulas. 
Concluí que não era preciso aparecer mais e, assim, deixei de 
comparecer às aulas, esperando que ele fosse repetir as no-
tas. Futebol era legal, mas Cálculo I e Física estavam pegan-
do pesado naquele início de vida universitária. Obviamente 
reprovei e depois tive que fazer novamente a disciplina.
Mas voltando ao programa de pós-graduação alme-
jado, me inscrevi na Escola de Engenharia de São Carlos, 
junto com meu grande amigo, Leandro Vanalli. Em fun-
ção dos meus atributos, não fui selecionado e recebi uma 
cartinha informando a negativa. Meu mundo caiu, bem ao 
estilo da canção e, com lágrimas nos olhos, guardei aquela 
carta de recordação. 
Sonhava ser orientando do Prof. Samuel Giongo e tal-
vez seja esta uma das frustrações da minha trajetória. Mais 
miolo-buriti4.indd 45miolo-buriti4.indd 45 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
46
Rafa Souza
tarde, me tornei amigo do Prof. Samuel e sempre conto 
essa história com muito bom humor para ele, que também 
se diz frustrado por não ter me orientado. Sempre damos 
boas risadas desse namoro científico que, infelizmente, não 
deu certo. Uma semana depois, recebi um telefonema do 
Prof. Nilson Tadeu Mascia, um anjo que Deus enviou na 
minha vida, e do meu amigo Leandro. O Prof. Nilson, 
na época Coordenador do Programa de Pós-Graduação da 
Universidade de Campinas, queria saber por que eu não ha-
via ido para a entrevista de seleção. 
Em paralelo à inscrição para a Escola de Engenharia de 
São Carlos, também havíamos nos inscrito no mestrado em 
estruturas da Universidade de Campinas. Expliquei que não 
havia sido comunicado sobre a entrevista e então ele falou: 
"Consegue vir amanhã?". Respondi que sim, de bate pron-
to, sem mesmo saber como iria para Campinas, assim, de 
supetão. Disse que meu amigo Leandro, por algum motivo, 
também não havia sido comunicado da tal entrevista.
O Prof. Nilson comentou que não havia recebido ins-
crição do Leandro, mas disse que era para ele ir junto para 
aquela entrevista repentina. Dá para acreditar? Eu e Leandro 
viajamos naquela expectativa, atordoados pelo não da Escola 
de Engenharia de São Carlos e esperançosos com a possibi-
lidade do sim da Unicamp. Não tínhamos o que perder.
Fizemos a entrevista e felizmente aceitaram os pri-
meiros alunos da UEM na pós-graduação em estruturas da 
Unicamp. E foi só depois da entrevista que os correios vi-
riam a finalmente entregar a documentação do meu amigo 
Leandro que, de quebra, ainda acabou sendo orientando de 
mestrado do Prof. Nilson. 
miolo-buriti4.indd 46miolo-buriti4.indd 46 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
47
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Na minha defesa do mestrado, o saudoso Prof. 
Venturini me convidou para ir fazer doutorado na Escola de 
Engenharia de São Carlos. Balancei, mas lembrei daquele 
não de quando ainda era um engenheiro recém-formado e 
sem nenhum atrativo. Acabei indo para a Escola Politécnica 
e lá fazendo o doutorado. Alguns diriam que guardei rancor 
por causa daquele não. Eu já acho que foi uma questão de 
energia. Não era para ser, apesar de todo carinho que viria a 
ter posteriormente pela Escola de Engenharia de São Carlos. 
No final das contas, vejo que aquele não de São Carlos 
me ajudou muito a procurar pela diversidade da minha 
carreira, passando sempre por locais diferentes. A Escola 
de Engenharia de São Carlos é tão boa, mas tão boa, que 
todo mundo que faz mestrado lá acaba permanecendo na-
quela universidade, fazendo doutorado e pós-doutorado. 
Eu, que gosto de movimento, certamente não teria me 
dado bem por lá.
Aquele não foi certamente um sinal para que eu pudes-
se rodar mais, recomeçar mais, me envolver em novos ciclos 
sociais e suas dificuldades inerentes. Aquele não me ajudou 
a entender quenem sempre a negação é a pá de cal sobre as 
nossas oportunidades.
Nessa história toda fico pensando no Prof. Nilson Tadeu 
que, por coincidência, carrega o nome do meu querido pai. 
Um anjo com o nome do meu pai e que, ao se interessar pelo 
próximo, moldou o caminho de dois jovens. Não fosse ele 
pegar o telefone e se preocupar com nosso sumiço da entre-
vista, não sei se estaria aqui hoje contando essa história.
Quando voltei anos depois para a Unicamp, para par-
ticipar de uma banca para contratação de professor na 
miolo-buriti4.indd 47miolo-buriti4.indd 47 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
48
Rafa Souza
área de concreto comandada pelo Prof. Nilson, contei com 
emoção essa história maravilhosa. Agradeci com um abra-
ço afetuoso, certo de que, diante de mim, estava mais um 
homem que tinha feito enorme diferença no meu cami-
nho. Às vezes, um não é só uma oportunidade melhor que 
foi adiada. Acredite.
miolo-buriti4.indd 48miolo-buriti4.indd 48 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
49
A Vida é Não-Linear
“A ciência nunca resolve um problema sem criar mais 10.”
George Bernard Shaw
Ao voltar de Brasília, após a visita técnica, tinha uma in-finidade de dados para tratar e analisar. Sabia que teria 
que conduzir inúmeras simulações numéricas e cálculos 
analíticos para conseguir comprovar as impressões obtidas 
e estava muito ansioso para fazer isso.
O grande problema é que a vida é não-linear. Difi-
cilmente você poderá se concentrar em um único problema 
de cada vez. Nunca existirá condição perfeita. É sempre um 
tudo ao mesmo tempo agora, à la Titãs. Em paralelo à con-
sultoria de Brasília, tinha ainda que dar as minhas aulas de 
concreto, recuperar os meus joelhos na fisioterapia e resol-
ver outros trabalhos que iam aparecendo do nada.
Mas nada disso era mais importante do que a batalha 
que meu pai vinha enfrentando com muita coragem. Apesar 
de sobrecarregado, me esforçava para visitar meu velho to-
dos os dias, bem no comecinho da manhã. A luta contra o 
linfoma, de cabeça erguida e com otimismo é para poucos. 
miolo-buriti4.indd 49miolo-buriti4.indd 49 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
50
Rafa Souza
Somente os grandes samurais podem encarar um fantasma 
silencioso e agressivo como esse.
Me lembro de que, ao receber a notícia da doença, 
em lágrimas, dei para meu pai uma moeda japonesa com 
um furo no meio, que havia recebido de um japonês, em um 
encontro aleatório, em uma estação de metrô, em Chicago. 
O amigo ocasional me disse que aquela moeda me traria 
muita sorte. Passei essa moeda para meu pai e contei essa 
história. Ele guardou esse pequeno talismã por longos me-
ses, após nos abraçarmos e limparmos nossas lágrimas. 
Iríamos enfrentar juntos aquela batalha, lado a lado. Como 
comemoração, após a vitória, combinamos que levaria meu 
pai para ver o seu Palmeiras, no lindo estádio do verdão1. 
Esse era o combinado.
Mal havia chegado de Brasília, fui convocado a ir para 
Porto Alegre, a fim de auxiliar uma empresa de pré-molda-
dos de Santa Catarina. Nunca tinha ido para Porto Alegre e, 
no dia 4 de abril, desembarquei tarde da noite no aeroporto 
Salgado Filho para, no outro dia, acordar às seis horas da 
manhã e ir para o polo petroquímico de Triunfo.
Ainda dentro do táxi, resolvi conferir meus e-mails 
e me deparei com uma mensagem do meu orientador 
da época do doutorado, o Prof. Túlio Bittencourt. Aparen-
temente tinha ocorrido uma incongruência teórica com 
um dos gigantes da dosagem do concreto nacional, o res-
peitadíssimo Prof. Paulo Helene, e ele queria debater co-
nosco essa questão.
1 Em 2 de agosto de 2020, Palmeiras e Ponte Preta se enfrentariam pelas semifi-
nais do campeonato paulista, no Allianz Parque. Era o nosso jogo.
miolo-buriti4.indd 50miolo-buriti4.indd 50 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
51
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
O problema surgiu quando comparamos a resistência 
característica à compressão definida na norma brasileira com 
a resistência característica à compressão definida na norma 
americana. Na ocasião, publicamos um artigo num even-
to de baixíssima expressão, inspirados num artigo do Prof. 
Vasconcelos, e declaramos que o controle da resistência ca-
racterística à compressão do concreto da norma americana 
seria mais rigoroso do que o controle da norma brasileira. 
Por algum motivo, o artigo acabou repercutindo e 
foi adotado como referência por uma orientanda do Prof. 
Paulo, que, então, com opinião contrária, queria nos mos-
trar que estávamos equivocados numa reunião virtual. 
Eu ainda era muito jovem e posso mesmo ter cometi-
do algum equívoco nas manipulações estatísticas. Mas com 
Brasília e Triunfo para resolver, eu não tinha a menor con-
dição de encarar um duelo desses, ainda mais com um dos 
grandes nomes da engenharia nacional, profissional pelo qual 
tenho profunda admiração e em quem sempre me inspirei. 
Infelizmente teria que abdicar daquele debate e deixa-
ria de aprender com um dos maiores estudiosos do concre-
to do Brasil. Respondi com tristeza ao meu ex-orientador 
Túlio que não via problemas se estivesse errado, mas que 
também não gostaria de provar que podia estar certo. Na 
vida, precisamos escolher as batalhas que precisam ser luta-
das e eu já tinha duas guerras imprevisíveis a caminho. 
De maneira alguma ficaria triste em perder uma ba-
talha para o Prof. Paulo Helene2. Certa vez, ainda muito 
2 Em setembro de 2020 trabalhamos juntos, por convite do Prof. Paulo, na in-
vestigação de um silo de 45 m de altura com problemas estruturais em Santos.
miolo-buriti4.indd 51miolo-buriti4.indd 51 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
52
Rafa Souza
jovem e morando nos Estados Unidos, fui a um congresso 
do ACI em Denver e tive a honra de almoçar com ele, com 
o Prof. Fernando Stucchi e com o Eng. Julio Timerman, 
além do Prof. Túlio. Imagine só a cena! Eu vendo aque-
les monstros discutindo engenharia e coisas do cotidia-
no bem ali na minha frente! Só pelo fato de o Prof. Paulo 
Helene me escrever querendo a conversa eu já me sentia 
um grande vitorioso!
Demorei para pegar no sono e fiquei ali, pensando em 
como o universo é maluco. Uma hora estamos tentando 
abrir e fechar um joelho danificado na fisioterapia e em ou-
tra surgem várias atividades excepcionais ao mesmo tem-
po. Adormeci com tristeza matutando sobre o fato de que 
perderia a oportunidade única de um debate científico com 
uma das grandes lendas da engenharia nacional.
No outro dia, de manhãzinha, encontrei-me no sa-
guão do hotel com meus amigos GG e FM. Tomamos café 
e seguimos caminho para Triunfo, passando pela ponte 
nova em construção sobre o Rio Guaíba e pela já finali-
zada Arena do Grêmio. Durante a viagem, fomos progra-
mando as estratégias da reunião tensa que teríamos pela 
frente, intercalando com as observações da belíssima es-
trada que se desenhava.
Entrar num polo petroquímico é uma experiência 
perigosa. Eu, que tinha passado medo em Brasília uma se-
mana antes, agora assistia a filmes institucionais com pro-
cedimentos de segurança e emergência para poder entrar 
naquele complexo. “Um polo petroquímico só é menos pe-
rigoso do que uma usina nuclear”, diria um dos engenheiros 
daquele incrível local. 
miolo-buriti4.indd 52miolo-buriti4.indd 52 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
53
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
O butadieno, gás amplamente utilizado na produção da 
borracha sintética de butadieno-estireno (SBR), pode vazar 
e você pode morrer sem ao menos perceber. Além disso, há 
risco de tudo explodir em um raio de 5 km, caso o butadie-
no se inflame.
Cada vez que tocava uma sirene, nossos corações dispa-
ravam, mas tínhamos que manter a calma e a serenidade para 
poder encarar aquela reunião que viria. Pouco antes, consegui-
mos ir até a estrutura pré-fabricada entregue pelos meus clien-
tes, a qual, por sua vez, era o objeto de discórdia entre as partes.
A empresado polo petroquímico demorou muitos anos 
para montar suas instalações na estrutura pré-moldada, 
um pipe rack, de maneira que a mesma ficou exposta a um 
ambiente muito agressivo por vários anos. Naturalmente, 
a estrutura sofreu com aquele ambiente repleto de gases e, 
quando da eminente instalação das tubulações, já não apre-
sentava as características apropriadas.
Entramos na sala de reuniões, impressionados com a 
potência daquela multinacional. Mas a festa estava só come-
çando. Éramos apenas nós três, quando observamos entrar 
uma equipe de, pelo menos, 13 engenheiros. Além dos en-
genheiros da multinacional, chegavam aos montes equipes 
de engenheiros de empresas de ponta vindos de São Paulo, 
especialmente contratados para nos sabatinar.
Queriam, a todo custo, a demolição da estrutura pré-
-moldada, com a argumentação de que a estrutura a ser uti-
lizada em um polo petroquímico deveria ser impecável. A 
empresa exigia de meus clientes uma estrutura beirando a 
perfeição, que teria que resistir até mesmo às explosões que 
ali poderiam ocorrer.
miolo-buriti4.indd 53miolo-buriti4.indd 53 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
54
Rafa Souza
Resistimos bravamente durante cinco horas de reu-
nião, rebatendo qualquer tipo de argumento que surgia, 
na tentativa de inutilizar a estrutura pré-moldada ali cons-
truída. Mostramos que a estrutura poderia ser recuperada, 
mesmo com o descaso do cliente para com a estrutura, ao 
longo do tempo. 
Eu tinha minha batalha de Brasília para terminar e 
agora percebia que estava no meio de outra guerra que es-
tava apenas começando e que, certamente, iria me exigir 
muita criatividade e poder de argumentação. Eu ia ter que 
argumentar contra um engenheiro renomado e experiente, 
de vasta cabeleira branca e filho do engenheiro que simples-
mente conseguiu construir as colunas curvas do Palácio do 
Planalto imaginadas por Niemeyer e com a equação para-
bólica definida por Joaquim Cardoso. 
Voltamos de Triunfo e meus amigos GG e FM me dei-
xaram no aeroporto Salgado Filho, antes de seguirem de 
volta para Santa Catarina. O voo sairia tarde da noite e eu 
só conseguiria chegar em Maringá por volta de uma da ma-
drugada. Foram horas pensando em Brasília e naquele polo 
petroquímico. Por que será que veio tudo de uma única vez? 
Pegaria meu carro, chegaria em casa, tomaria um banho e 
sete horas da manhã acordaria para ir dar aula de concreto 
armado na universidade.
Enquanto escrevia no quadro para meia dúzia de alunos 
do quinto ano, não deixei o desprestígio me abater e fiquei 
pensando naquele engenheiro de vastos cabelos brancos, em 
cuja cabeça Joaquim Cardoso certamente tinha passado a 
mão, quando ele ainda era uma criança. Tudo que eu tinha 
aprendido e ensinado seria definitivamente colocado à prova.
miolo-buriti4.indd 54miolo-buriti4.indd 54 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
55
O Passageiro Oculto
“Os que se encantam com a prática sem a ciência são como 
os timoneiros que entram no navio sem timão nem bússola, 
nunca tendo certeza do seu destino.”
Leonardo da Vinci
Abril de 2019 seguia seu fluxo. Dava minhas aulas, ia religiosamente para a fisioterapia recuperar meus joe-
lhos e estudava Brasília e Triunfo em todos os horários pos-
síveis de folga da universidade. Me tornei um engenheiro 
de estruturas 24/7: vinte quatro horas por dia, durante sete 
dias da semana. Não tinha sábados, domingos ou feriados. 
Minha vida era desvendar as estruturas de concreto arma-
do e protendido.
Recebi um telefonema que me apavorou. Normalmente 
me sinto assim, quando vejo no celular o número de algum 
cliente antigo para o qual prestei algum serviço delicado, me 
ligando. O passageiro oculto fica em êxtase. 
Havia algum tempo, projetara o reforço de uma mo-
ega que estava para cair. As paredes de concreto estavam 
subdimensionadas e apresentavam algumas rachaduras. A 
flecha das paredes era bem visível e a coisa poderia ceder 
miolo-buriti4.indd 55miolo-buriti4.indd 55 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
56
Rafa Souza
em breve. Mas havia um pequeno problema: a indústria 
não parava nunca e o reforço deveria ser feito com a moe-
ga em funcionamento.
Dessa maneira, estudando o problema e as alternati-
vas que poderiam possibilitar a estabilização da estrutura 
sem parar o funcionamento da mesma, projetei um con-
junto de escoras com perfis metálicos que ficam entre a 
parede inclinada da moega e a parede de divisa do arrimo. 
Fazia um ano que tinha projetado essa estrutura e agora 
recebia uma ligação com a péssima notícia de que novas 
fissuras tinham aparecido.
Imediatamente me dirigi para a cidade de Indianópolis, 
que fica cerca de uma hora de Maringá. No caminho, aquele 
turbilhão de pensamentos: Brasília, Triunfo, meu pai e ago-
ra essa moega. Meu Deus, será que já não está bom de desa-
fios para um ano?
Ao chegar ao local, após grande dificuldade para aces-
sar a moega devido a questões de segurança, consegui des-
cer pela longa escada de marinheiro, chegando à posição do 
reforço executado no interior da lateral da moega. 
Essa moega armazena farelo de trigo, e o calor que ali 
se forma é insuportável. Com o coração batendo forte, pro-
curei pelas fissuras e percebi que as únicas aberturas que 
existiam eram apenas as mesmas que ali já estavam antes 
do reforço. “Cale-se passageiro oculto!”, gritei comigo. “Está 
perfeito esse reforço!”
Além do problema de dimensionamento, essa moega ti-
nha sofrido também uma avaria muito interessante. A moe-
ga é uma estrutura de concreto tridimensional maravilhosa, 
com dificuldades interessantes de cálculo e detalhamento. 
miolo-buriti4.indd 56miolo-buriti4.indd 56 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
57
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Sobre ela, pistões hidráulicos elevam uma plataforma metá-
lica com um caminhão totalmente carregado. Assim, quan-
do a plataforma atinge sua inclinação máxima, o farelo é 
descarregado da carreta para o interior da moega. 
Em certa ocasião, quando o caminhão já se encontrava 
na inclinação máxima, os cabos de segurança se romperam 
e o veículo capotou de elevada altura, danificando as vigas 
de rolamento. Em função dessa queda, observou-se tam-
bém a danificação das paredes da moega que, somada ao 
sub-dimensionamento, motivou o reforço projetado.
Na volta para Maringá, totalmente suado e cheirando 
a farelo, abri um sorriso largo na estrada e pensei: “como a 
mente da gente é danada”, sempre esperando o pior. Para 
quem já tinha morado em Urbana-Champaign e Amherst, 
uma moega em Indianópolis era coisa pequena.
E enquanto dirigia de volta para casa me pegava filo-
sofando sobre as armadilhas mentais que tanto nos afligem. 
Na verdade, eu já tinha aprendido um caminho interessante 
através das artes marciais, mas a nossa cabeça é como um 
cavalo selvagem, que insiste em não obedecer.
Quando comecei a disputar campeonatos de jiu-jitsu, 
tive uma oportunidade incrível de mergulhar numa via-
gem de autoconhecimento. Um campeonato de jiu é sempre 
cheio de muita tensão, expectativa e ansiedade. Através de 
sucessivas disputas, ano após ano, percebi que o principal 
oponente não é exatamente o guerreiro do outro lado ten-
tando te pegar, mas sim, a sua mente.
Para poder enfrentar o oponente é preciso, antes de 
mais nada, dominar a sua mente. Não deixar ela julgar. É 
preciso encontrar o que eu chamo de “estado de neutralidade 
miolo-buriti4.indd 57miolo-buriti4.indd 57 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
58
Rafa Souza
da mente”. Se sua mente te diz que o oponente é muito fraco, 
você pode desenvolver uma autoconfiança ilusória e se dar 
mal. Por outro lado, se a sua mente te diz que o oponente é 
muito forte, você já pode entrar derrotado. 
A mente neutra não julga. A mente neutra não amplia 
e também não diminui a situação. Você entra e faz o que 
deve ser feito, seja o adversário forte ou fraco, pequeno ou 
grande, habilidoso ou grosseiro. Pelo menos, para mim, essafoi a melhor forma que encontrei para dar o melhor de mim 
nos tatames, obtendo, assim, resultados expressivos.
Talvez, por estar longe dos meus treinos diários, acabei 
me esquecendo dessa importante lição da mente neutra. A 
viagem para Indianópolis certamente teria sido bem mais 
tranquila e sem tanto desgaste desnecessário ocasionado 
pelo passageiro oculto. Mas, enfim, a vida é uma sucessão 
sem-fim de aprendizado, esquecimento e resgate. Chegando 
a Maringá, voltaria a Brasília e a Triunfo, isso, é claro, depois 
de visitar meu querido pai.
miolo-buriti4.indd 58miolo-buriti4.indd 58 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
59
Em Frente ao Buriti
“A ciência é cometida por erros, mas por erros úteis a serem 
cometidos, porque pouco a pouco, eles levam à verdade.”
Julio Verne
Como o primeiro relatório de Brasília era devido apenas para o final de abril, aproveitei para focar um pouco 
mais na questão do pipe rack de Triunfo e retornei para 
Porto Alegre com as minhas sugestões de reforço estrutural. 
Aquele negócio de avião estava me incomodando e todos 
os meus abonos de funcionário público estavam se esgotan-
do. Tinha cinco por ano e o terceiro já estava indo embora. 
Se mais reuniões fossem necessárias, seria difícil conciliar 
Triunfo e Brasília.
Novamente cheguei tarde da noite no mesmo hotel 
da Avenida Júlio de Castilhos mas, dessa vez, deu tem-
po de jantar com meus amigos GG e FM. No outro dia, 
bem de manhãzinha, fomos enfrentar o batalhão técnico 
da multinacional. A coisa estava tensa, mas estávamos 
desempenhando bem, defendendo com convicção nossas 
estratégias para reforçar a estrutura, a fim de resistir às ex-
plosões que eles tanto queriam.
miolo-buriti4.indd 59miolo-buriti4.indd 59 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
60
Rafa Souza
Para nossa surpresa, o engenheiro de vastos cabelos 
brancos, filho do homem dos pilares de Brasília, passou a nos 
apoiar em nossas abordagens, o que, por sua vez, acabou re-
sultando numa aceitação da maioria das nossas propostas. 
Iríamos poder encamisar os elementos estruturais necessários, 
poderíamos arrumar os consolos com deficiências e, agora, a 
disputa estava apenas nos materiais a serem utilizados.
No processo de reforço estrutural, a escolha dos mate-
riais é muito relevante. Nessa obra em questão, havia uma 
resistência muito grande à utilização da resina epóxi devido 
às possibilidades de incêndio. Para temperaturas entre 40 a 
50oC, a resina epóxi praticamente derrete e pode colocar em 
risco os elementos dependentes de sua resistência. Assim, 
a solução mais apropriada seria um encamisamento com 
graute, de maneira a proteger as armaduras eventualmente 
grampeadas, utilizando resina epóxi.
O volume de graute a ser utilizado era relativamente 
grande e a multinacional exigia a utilização de um produto 
industrializado. Acontece que, para se fazer um metro cúbi-
co de graute, são normalmente necessários cerca de 80 sacos 
de 25 kg, o que, em termos monetários, daria uma fortuna.
O graute é basicamente um produto ensacado, pré-do-
sado, constituído de cimento, areia quartzosa de granulome-
tria selecionada e aditivos especiais. Daí adiciona-se cerca de 
2,0 litros de água para cada saco para obter um milk-shake 
milagroso que, quando endurecido, chega a uma resistência 
à compressão de quase 30 MPa em apenas 24 horas.
Estávamos lutando para demonstrar que podería-
mos produzir nosso próprio graute na obra e que o produ-
to teria qualidade e desempenho semelhantes aos produtos 
miolo-buriti4.indd 60miolo-buriti4.indd 60 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
61
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
industrializados. Para isso, evidentemente, traríamos um dos 
maiores especialistas na área de materiais do Brasil e chegarí-
amos ao traço necessário, viabilizando, assim, uma interven-
ção que fosse economicamente viável para nosso time.
Outro ponto que também estava gerando muita discus-
são estava no tratamento do substrato. Como se sabe, antes 
de efetuar um encamisamento, é preciso escarificar a super-
fície de concreto até que a mesma apresente uma superfície 
rugosa, com os poros abertos, de maneira que seja possí-
vel promover uma boa ponte de aderência entre o concreto 
novo e concreto velho.
A multinacional não queria a utilização de marteletes, 
com o pretexto de que tal tipo de procedimento poderia 
fragilizar ainda mais a estrutura. Lembrando-me, então, de 
grandes serviços de reparo que havia conduzido em pisos 
protendidos industriais, sugeri que podíamos utilizar o des-
baste com discos, que garantiriam, por sua vez, uma gran-
de velocidade executiva e também a rugosidade necessária 
para a geração de um substrato adequado.
Na verdade, não tínhamos em mãos apenas o problema 
de reparar e reforçar a estrutura em alguns pontos. As tu-
bulações do pipe rack estavam chegando e iriam ter que ser 
montadas em simultâneo às atividades de recuperação. Ou 
seja, seria preciso coordenar em campo uma estratégia para 
que tanto as frentes da equipe de civil quanto da equipe de 
mecânica pudessem trabalhar ao mesmo tempo. 
Terminada a reunião, conseguimos avançar bem, 
mas sabíamos que as coisas poderiam mudar de uma 
hora para outra. Sabíamos que o batalhão de engenheiros 
consultores iria se reunir e, de alguma maneira, tentaria 
miolo-buriti4.indd 61miolo-buriti4.indd 61 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
62
Rafa Souza
inviabilizar nossas soluções por demanda da multinacio-
nal. Mas tínhamos confiança em nosso trabalho e estáva-
mos sempre amparados em normas de referência mundial. 
Éramos três guerreiros incansáveis na missão de proteger 
uma empresa construída com muito suor e que figurava 
entre as gigantes do concreto pré-fabricado nacional pela 
sua qualidade e vanguarda.
Voltamos faceiros para Porto Alegre e nos reuni-
mos em uma empresa que tinha sido a responsável pela 
construção da obra. Na verdade, essa empresa ganhou a 
concorrência e terceirizou o pré-moldado para os meus 
clientes. Eles também estavam sendo pressionados e ti-
nham um interesse ainda mais amplo na resolução do pro-
blema. Ninguém queria uma ação judicial e terminar tudo 
amigavelmente era o objetivo de todos. Explanamos todos 
os pontos da reunião para a gerente e celebramos, já que as 
coisas pareciam estar se resolvendo.
Ao nos encaminharmos para o veículo para que meus 
amigos GG e FM pudessem me deixar no aeroporto, co-
mentei que estava escrevendo um livro sobre a experiên-
cia de Brasília e que eles iriam figurar em algum capítulo. 
Essa aventura de Triunfo também continha grandes doses 
de emoção e não seria todo dia que eu teria um problema 
estrutural num polo petroquímico. 
Demos risada enquanto caminhávamos e já mais ali-
viados da tensão disse que o livro iria se chamar “Sentado 
em Frente ao Buriti”, devido à praça existente na frente do 
pequeno palácio de Brasília, que ainda me afligia. 
Daí meu amigo GG falou: “Por que você não coloca 
apenas ‘Em Frente ao Buriti’?” 
miolo-buriti4.indd 62miolo-buriti4.indd 62 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
63
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Fiquei pensando nesse título a noite toda, tanto no 
aeroporto quanto no avião. E também, no outro dia de 
manhãzinha, novamente numa aula para meia dúzia 
de gatos pingados. 
Apesar do título definido, faltava ainda uma coisa mais 
importante: tempo para poder registrar essa experiência 
que aparentemente se concretizaria como o ápice na carreira 
de um engenheiro de estruturas do interior do Paraná.
miolo-buriti4.indd 63miolo-buriti4.indd 63 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
miolo-buriti4.indd 64miolo-buriti4.indd 64 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
65
Efeito-Escala
"O cientista não é a pessoa que dá as respostas certas, mas 
quem faz as perguntas certas."
Claude Levi-Strauss
Uma semana depois de voltar de Porto Alegre, tive um sonho muito estranho. Após estudar profundamentea 
problemática de Brasília, fui dormir tarde da noite, comple-
tamente exausto e consumido pelas inúmeras investigações 
analíticas e numéricas: retração, fluência, fadiga, efeitos de 
temperatura, projeto, execução. O que efetivamente foi de-
cisivo? O que fazer para salvar a estrutura? Ela poderia, re-
almente, ruir a qualquer momento?
Havia estudado um livro muito interessante, chamado 
“The Story of the Koror Bridge”. Nessa obra fantástica é con-
tada a história de uma ponte que ruiu num pequeno país 
chamado Palau. A ponte, dimensionada com o que havia 
de mais moderno nos códigos da época (AASHTO, ACI e 
CEB-FIP), veio a ruir apenas três meses depois de um reforço 
estrutural executado.
Quando inaugurada, em 1977, essa ponte detinha o 
recorde de maior vão livre do mundo, porém, alguns anos 
miolo-buriti4.indd 65miolo-buriti4.indd 65 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
66
Rafa Souza
depois de construída, começou a apresentar deflexões muito 
acima das previstas em projeto. Empresas japonesas e ame-
ricanas, após investigarem o problema a fundo, concluíram 
que a ponte era segura, mas que a deflexão excessiva era um 
fenômeno inexplicável.
O reforço estrutural consistiu numa modificação do es-
quema estrutural da ponte e na introdução de um alto grau 
de forças de protensão. Alguns pesquisadores alegam que o 
reforço estava em perfeitas condições e que a ponte não deve-
ria ter ruído. Outros pesquisadores alegam que, se o reforço 
não tivesse sido efetuado, a ponte teria grandes deflexões mas 
certamente não teria ruído. Começou, assim, um grande em-
bate científico para tentar descobrir o que efetivamente ocor-
reu e que se arrasta por décadas sem conclusões definitivas.
Nesse livro, de Man-Chung Tang, aparece também 
uma das definições mais interessantes de engenharia, que 
procuro adaptar conforme se segue: 
“Engenharia não é ciência. O objetivo da ciência é a busca 
pela verdade. O objetivo da engenharia é servir aos anseios 
da sociedade. Baseados no que já sabem, os cientistas fazem 
descobertas em relação à natureza. Baseando-se em acúmulo 
de experiência, os engenheiros melhoram o ambiente constru-
ído. A experiência nunca é completa, mas os engenheiros não 
podem esperar pelas descobertas científicas e suas verdades 
necessárias para projetar e construir”.
O livro termina com a conclusão de que mesmo os có-
digos modernos, incorporando todos os avanços em relação 
à fluência, também não seriam capazes de estimar as grandes 
miolo-buriti4.indd 66miolo-buriti4.indd 66 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
67
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
deflexões ocorridas na Koror Bridge. Aparentemente, o fa-
tor predominante seria a perda de protensão, cerca de 50%, 
valor esse dificilmente aceito, mesmo hoje em dia, para os 
projetistas estruturais, no caso de pontes. Aparentemente, a 
fluência teria sido a grande responsável por essa expressiva 
perda de protensão.
No caso de Brasília, sentia que havia vários fatores en-
volvidos, mas, sem dúvida, o aspecto determinante era o 
subdimensionamento. Porém, o caso dessas lajes era inte-
ressante, pela seguinte indagação: “Se fosse eu que tivesse a 
missão de dimensionar essas lajes, o que eu deveria efetiva-
mente considerar em termos de carregamento?”
Quando tive a missão de projetar um viaduto esconso 
na região do bairro Cidade Alta em Maringá, comecei a en-
tender melhor que, para exercer a engenharia, é necessário 
ser um grande apostador. Um verdadeiro “gambler”.
Digo apostador no sentido de que, para projetar, você 
primeiro precisa adivinhar as cargas que vão efetivamente 
atuar na estrutura. Assim, a dosagem apropriada entre a 
economia e segurança será literalmente condicionada por 
essa arte de predizer as cargas que irão efetivamente atuar 
sobre a estrutura. 
Foi isso que fez Othmar Ammann para conseguir viabi-
lizar a George Washington Bridge em Nova York. Apostando 
em probabilidades, Ammann carregou sua ponte com uma 
carga significativamente menor do que aquela que vinha sen-
do feita na época. Assim, a ponte ficou viável do ponto de 
vista econômico e continua imponente até os dias atuais.
É claro que hoje em dia devemos seguir à risca os códi-
gos normativos, situação um pouco mais flexível na época 
miolo-buriti4.indd 67miolo-buriti4.indd 67 10/02/2021 21:08:3010/02/2021 21:08:30
68
Rafa Souza
de Ammann, mas, ainda assim, estimar as cargas reais é uma 
arte. Calculando o viaduto do Cidade Alta, todo dia me apa-
recia uma nova ação, até que cheguei numa nova maneira 
de pensar no problema: “Quais cargas não posso esquecer 
de jeito nenhum?”. E assim, finalmente, consegui selecionar 
os carregamentos e terminar o projeto.
Nessas passagens relacionadas à definição dos carrega-
mentos, sempre me vem o caso da queda da passarela Tim 
Maia no Rio de Janeiro, ocorrida em 2016. Vamos esquecer 
os aspectos obscuros que cercam o projeto/execução e va-
mos pensar na hipótese de que tudo tivesse sido feito no 
devido padrão de excelência. Formulo então a seguinte per-
gunta: Qual engenheiro de estruturas teria dimensionado 
a passarela, prevendo a condição de carregamento de que 
uma onda gigante voaria de dentro do mar, bateria numa 
pedra e alcançaria, em elevada altura, as vigas pré-moldadas 
da passarela, ao ponto de derrubá-las?
Na época do colapso vi muita gente desfilando na mí-
dia sua experiência profunda em estruturas, propiciada 
certamente por um background constituído de ancoragem 
de guarda-sóis em areias de praia. “Ah, essa passarela era 
insegura pois não foi calculada para aguentar a onda do 
mar”. Óbvio que não foi e não seria, nem nas condições 
mais perfeitas de projeto. 
Até um oceanógrafo apareceu numa entrevista dizen-
do que faltou considerar o impacto da água nas longarinas. 
Desafio ele, o especialista nas ondas do mar, camarada ín-
timo de Netuno, a me dar, então, uma pressão adequada de 
impacto da água nas longarinas, considerando-se as condi-
ções de contorno ali existentes. 
miolo-buriti4.indd 68miolo-buriti4.indd 68 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
69
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Falar, até papagaio fala. Não seria mais simples fechar a 
passarela quando estivesse ventando muito e o mar estivesse 
agitado? Isso chama-se restrição de uso e ocorre, por exem-
plo, na Terceira Ponte de Vitória e Ponte Rio-Niterói. Agora, 
calcular pressão de água, nas condições ali existentes, certa-
mente continuará sendo pouco provável.
Mas de volta ao caso de Brasília, como seria o dimen-
sionamento das lajes de cobertura? O peso próprio das lajes 
nervuradas junto com a impermeabilização não poderiam 
ser esquecidos. As cargas pontuais dos tirantes que suspen-
dem o piso superior também não. Havia, ainda, as instala-
ções e uma carga mínima acidental sobre a laje.
Acontece que estamos falando de lajes com dimensões 
superiores a 25 m, que, por sua vez, ultrapassam os valores 
usuais. Como será que uma laje com esse nível de grandeza se 
comporta frente a efeitos como retração, temperatura, fadiga e 
fluência? Será que seria fácil analisar esses efeitos? Será que se 
eles fossem efetivamente considerados, as lajes seriam viáveis 
economicamente? Será que se esses fatores fossem conside-
rados, estaria eliminada a hipótese de problemas estruturais?
Primeiro vamos falar de retração e efeito de tempera-
tura. Esses efeitos são preocupantes em estruturas hiperes-
táticas que, impedidas de se movimentar, geram esforços 
adicionais provocados por esses efeitos. Em estruturas isos-
táticas, a situação é mais simples, pois a estrutura pode con-
trair ou dilatar sem maiores problemas, de maneira que não 
surgirão reações e, consequentemente, esforços decorrentes 
de retração e efeitos de temperatura.
O problema é que, se os efeitos de retração e temperatu-
ra forem levados em conta no dimensionamento, conforme 
miolo-buriti4.indd 69miolo-buriti4.indd 69 10/02/2021 21:08:3110/02/202121:08:31
70
Rafa Souza
exige a maioria das normas, a quantidade de armaduras 
pode ser tão absurda, que vai onerar demais o projeto. 
Códigos mais modernos já prescrevem que, dimensio-
nar em estado-limite último, considerando-se os efeitos de 
retração e temperatura, não faz muito sentido. Ao fissurar, 
os referidos esforços decorrentes de temperatura e retração 
tendem a se dissipar, de maneira que seria muito mais inte-
ressante adotar um nível de armação que apenas controle as 
aberturas de fissuras para as condições de serviço. 
Não é o que pensa a norma brasileira no momento, mes-
mo com Leonhardt tendo passado essa receita lá na década 
de 1970. Assim, muitas vezes, vendam-se os olhos para pro-
blemas que envolvem efeitos de temperatura e retração em 
edificações menores. Mas, e no caso dessa obra de Brasília? 
Quais seriam os esforços promovidos pela retração e efeitos 
de temperatura nos pilares? Estamos falando de vigas de 1,0 
m x 2,0 m com lajes de vãos superiores a 20 metros!
Assim, deve-se ter muito cuidado ao criticar um cole-
ga; afinal de contas, ninguém está livre de não levar em con-
ta um carregamento necessário, esquecido por descuido ou 
desconhecimento. Devemos utilizar esses problemas para 
não cometermos o mesmo erro e também calibrar nossa 
humildade em respeito à natureza.
A escala da obra de Brasília ocorre fora dos padrões, 
muito distinta do que normalmente se encontra na prática 
das construções. Cabe, portanto, aqui, relembrar o chama-
do efeito-escala, desde muito tempo observado pelo inigua-
lável Leonardo da Vinci.
Se observarmos a natureza e fizermos uma compara-
ção entre a formiga e o elefante: quem seria o ser mais forte? 
miolo-buriti4.indd 70miolo-buriti4.indd 70 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
71
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Muitos diriam, sem dúvida alguma, que é o elefante! Porém, 
a resposta é relativa. Pensemos na escala de cada um dos se-
res selecionados. Quantas formigas uma formiga pode car-
regar em suas costas? Quantos elefantes um elefante pode 
carregar em suas costas?
Se levarmos em conta a escala de cada um, vamos per-
ceber que a formiga possui uma força fantástica. O elefante, 
por sua vez, dentro de sua escala, não conseguiria suportar 
outro ser de sua espécie.
É exatamente isso que acontece com a natureza das 
vigas de concreto. A maioria dos ensaios experimentais foi 
efetuada em vigas de pequena altura e, a partir daí, foram 
desenvolvidas as formulações. Assim, a maioria dos mode-
los leva em conta que a capacidade referente à força cortante 
das vigas é dependente de sua altura útil, de maneira que, 
quanto maior esse parâmetro, maior seria sua capacidade.
A história começou a mudar em 1955, após o colapso 
parcial do hangar Wilkins, da Força Aérea, em Shelby, Ohio, 
Estados Unidos. O colapso foi ocasionado pelas tensões de 
cisalhamento em vigas de 90 cm de altura, armadas com 
apenas 0,45% de armadura longitudinal e sem estribos.
As vigas falharam com uma tensão de cisalhamento 
próxima a 0,5 MPa, enquanto o código americano da épo-
ca permitia uma tensão de trabalho admissível de 0,62 MPa 
para o concreto de 20 MPa utilizado. Desde então, o proble-
ma de cisalhamento em peças de concreto armado se tornou 
tema de grande debate e pesquisas. Nascia, assim, um dos 
temas mais controversos dentro da engenharia de estruturas.
Assim, ao se aumentar a altura das vigas, não se pode 
esperar que a resistência ao cisalhamento irá aumentar 
miolo-buriti4.indd 71miolo-buriti4.indd 71 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
72
Rafa Souza
linearmente com o aumento da altura útil. Existe, assim, um 
efeito-escala envolvido e a formulação desenvolvida para vi-
gas de grande porte não pode ser baseada no ensaio de vigas 
de pequeno porte. 
Vários concursos têm sido promovidos mundo afora, 
na tentativa de tratar melhor esse problema entre a for-
miga (vigas de pequeno e médio porte) e o elefante (vigas 
de grande porte). E, pelo jeito, estamos só no meio da jor-
nada. Seria a laje de Brasília um elefante idealizado como 
uma formiga?
miolo-buriti4.indd 72miolo-buriti4.indd 72 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
73
Sexto Sentido
"Equipado com seus cinco sentidos, o homem explora o 
Universo ao seu redor e chama suas aventuras de ciência."
Edwin Powell Hubble
O prazo de entrega do primeiro relatório de Brasília es-tava expirando e eu lutava contra o tempo, escreven-
do loucamente para registrar, de maneira clara, as minhas 
hipóteses. Nesse primeiro momento, o objetivo primordial 
era demonstrar por que as lajes de cobertura chegaram a 
uma situação tão crítica, bem como concluir sobre a estabi-
lidade global da edificação.
De madrugada, sonhei que segurava até a exaustão 
placas de concreto penduradas em cordas. Meus braços, 
esticados como se eu fosse um Cristo redentor, seguravam 
até não poder mais as placas de concreto, até que, final-
mente, não puderam aguentar e cederam. Nesse momento, 
acordei subitamente, completamente assustado e suado, 
sentindo meu braço direito completamente dormente. 
Demorei para pegar no resto de sono que ainda me faltava, 
por associar diretamente o pesadelo com Brasília.
miolo-buriti4.indd 73miolo-buriti4.indd 73 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
74
Rafa Souza
Pela manhã, refleti bastante em relação àquela passa-
gem onírica e acabei interpretando o fato como uma men-
sagem divina. Me lembrei da vez em que tive uma luxação 
de ombro por não seguir minhas intuições. Dessa vez, pre-
cisava fazer diferente, ouvir meus próprios sinais.
Após muito refletir, percebi que meus braços poderiam 
ser os consolos (regiões maciças) nas redondezas das vigas 
longitudinais que, por sua vez, davam apoio para os tirantes 
que sustentavam as lajes do piso superior. 
Reuni as informações que tinha e encaminhei um ofí-
cio emergencial no dia 18 de abril, recomendando que os 
consolos fossem abertos e que ninguém mais deveria entrar 
na edificação sem o devido escoramento de todo o prédio.
Ainda nessa mesma época, tomei conhecimento de 
que um perito designado precisaria entrar no prédio para 
registrar todo o imbróglio jurídico que havia sido criado. 
Pensando, então, na segurança desse profissional que tão 
amigavelmente havia me contatado em semanas anteriores 
e, sabendo que estrutura não era sua especialidade, achei 
por bem encaminhar urgentemente tal ofício, a fim de que 
providências pudessem ser tomadas.
Conhecendo o comportamento de órgãos públicos, 
por trabalhar em um, conjecturei que eventualmente eu po-
deria estar numa posição de boi de piranha. Para aqueles 
que não conhecem essa analogia, boi de piranha é uma ex-
pressão popular brasileira que designa uma situação em que 
um bem menor e de pouco valor é sacrificado para que, em 
troca, outros bens mais valiosos não sofram dano.
Evidentemente, eu tinha minha competência para es-
tar ali, mas também não podia ser ingênuo, pensando que 
miolo-buriti4.indd 74miolo-buriti4.indd 74 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
75
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
poderia ser só isso. A partir do momento em que a obra 
estava por mim sendo estudada, entendi que ela estava sob 
minha responsabilidade e não mais do órgão que me con-
tratou. Ou seja, inicialmente, a responsabilidade pelo prédio 
estava toda nas costas dos engenheiros do órgão responsá-
vel; mas, ao me contratarem como especialista, essa respon-
sabilidade foi imediatamente a mim transferida.
Não creio que tenha sido exatamente um boi de pi-
ranha, mas se eventualmente fosse e o prédio viesse a cair 
enquanto eu o estudava, certamente teria um problema ju-
rídico muito difícil de me livrar. Assim, de maneira a me 
resguardar, joguei novamente a batata quente de volta para 
o órgão competente e pude terminar com mais calma o tão 
esperado primeiro relatório.
Meses mais tarde, viria a ler o excelente livro do pes-
quisador Sidarta Ribeiro, chamado “OOráculo da Noite” 
e me lembrei com emoção dessa passagem de Brasília. No 
livro, esse respeitado neurocientista revela como a huma-
nidade já foi guiada por sonhos no passado, como uma 
espécie de bússola para a tomada de decisões.
Não são poucos os casos em que os sonhos serviram de 
ferramenta para a tomada de decisões. São frequentes, tam-
bém, os casos de sonhos capazes de prever uma realidade 
que estaria para acontecer. Estão nos sonhos, também, um 
número sem-fim de inspirações para grandes invenções e 
obras artísticas. 
Até hoje a ciência não consegue explicar de maneira 
efetiva o papel dos sonhos. Mas uma coisa é fato: esse ma-
terial deve ser aproveitado, nem que seja para entender me-
lhor a nós mesmos: nossos desejos, angústias e medos. Eis 
miolo-buriti4.indd 75miolo-buriti4.indd 75 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
76
Rafa Souza
aqui um grande desafio científico: para que servem e como 
surgem os sonhos? São revelações ou simples coincidências?
O fato é que me alimentei de ciência, mas fui defi-
nitivamente sensibilizado por aquele sonho, tendo, assim, 
decidido pelo pedido de escoramento imediato da edifica-
ção. A notícia repercutiu como uma bomba em Brasília; 
afinal de contas, o escoramento das lajes de cobertura de-
veria vir desde o subsolo, gerando a necessidade de uma 
contratação de emergência que implicaria grandes custos.
Também recomendei que os consolos precisariam ser 
abertos, de maneira que pudéssemos confirmar a armadura 
ali existente. Como a obra havia sido muito modificada, não 
estava claro o comportamento estrutural daqueles elemen-
tos e também não havia certeza se a armadura de projeto 
havia sido efetivamente empregada.
Meses depois de entregar o primeiro relatório, foi con-
tratada uma empresa para abrir os consolos das lajes de 
cobertura. Foram retirados os revestimentos impermeabili-
zantes e abriram-se janelas com grande profundidade. 
Para surpresa geral, não foram encontradas as armadu-
ras negativas, de maneira que me pareceu acertado o pedido 
de escoramento da edificação em função da temível passa-
gem onírica. Esse era mais um fato preocupante entre os 
mais diversos problemas que já haviam sido constatados e, 
para estudar aquela obra, precisaria definitivamente empre-
gar o sexto sentido.
miolo-buriti4.indd 76miolo-buriti4.indd 76 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
77
O Primeiro Relatório
"Para mim, nunca houve uma fonte maior de honras terrenas ou 
distinção maior do que a conexão com os avanços da ciência."
Isaac Newton
E ra final de março de 2019 quando subi nas lajes de co-bertura do gigante abatido e, agora, um mês depois, 
compilava todas as minhas impressões da estrutura num 
primeiro relatório, resumidas a seguir. 
Em pleno Eixo-Monumental de Brasília está encrava-
da essa belíssima estrutura de concreto armado e protendi-
do, finalizada por volta de 2002. A arquitetura é arrojada, 
sendo a edificação constituída de subsolo, térreo, piso su-
perior e cobertura. O edifício é basicamente uma caixa de 
concreto, com comprimento de 68 m por uma largura de 
24 m, sendo que o prédio, a partir do térreo, possui altura 
total de 9,0 m. 
A estrutura da cobertura é constituída de 2 vigas lon-
gitudinais e 4 vigas transversais, todas protendidas. Com 
exceção das vigas transversais de fachada, que possuem di-
mensões de 0,50 m x 2,0 m e são armadas com 16 cordoa-
lhas engraxadas de 12,7 mm, todas as outras vigas possuem 
miolo-buriti4.indd 77miolo-buriti4.indd 77 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
78
Rafa Souza
dimensões de 1,0 m x 2,0 m e são armadas com 50 cordoa-
lhas engraxadas de 12,7 mm. 
Essas vigas se apoiam em 8 pilares de 1,0 m x 1,0 m, 
formando, assim, três panos de lajes nervuradas protendi-
das: 18,6 m x 24 m (L1), 30,8 m x 24 m (L2) e 18,60 m x 24 
m (L3). As lajes nervuradas de cobertura também são pro-
tendidas e apresentam altura total de 47,5 cm, sendo destes 
5 cm destinados ao capeamento.
As lajes nervuradas possuem 3 cordoalhas de 12,7 m 
por nervura na direção longitudinal, isto é, na direção para-
lela ao comprimento de 68 m. Por outro lado, as lajes L1 e L3 
recebem 2 cordoalhas de 12,7 mm por nervura na direção 
transversal, enquanto a laje L3 recebe 3 cordoalhas de 12,7 
mm na direção paralela à largura da edificação de 24 m.
Além da armadura ativa, a laje nervurada L2 recebe 2 
barras de 10 mm por nervura em ambos os sentidos (longi-
tudinal e transversal), enquanto as lajes nervuradas L1 e L3 
recebem apenas 1 barra de 8 mm nas duas direções. 
Por volta de 2006, a estrutura de cobertura começou a 
apresentar os primeiros problemas, de maneira que passou 
a ser monitorada por, pelo menos, 4 empresas distintas, a 
partir de 2014, em períodos diferentes. Os monitoramen-
tos indicaram deslocamentos excessivos das lajes de co-
bertura (foram verificados incríveis 35 cm de flecha na laje 
L2), presença de fissurações e desplacamentos nas lajes 
nervuradas protendidas.
Considerando-se que as nervuras possuem apenas 12,5 
cm de largura e que as barras necessitam ser emendadas de-
vido ao grande comprimento, não é de se estranhar os des-
placamentos, uma vez que não há espaço suficiente para o 
miolo-buriti4.indd 78miolo-buriti4.indd 78 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
79
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
concreto envolver as armaduras. O desplacamento era ain-
da potencializado pela necessidade de furação das nervuras 
para ancoragens dos forros.
Deve-se observar que a estrutura de cobertura chegou 
a apresentar fissuras máximas de até 10 mm em algumas 
nervuras e várias outras fissuras na faixa de 0,1 a 7,0 mm. 
Esse panorama já indicava que, na época, a estrutura já dava 
claros indícios de um estado avançado de deformação das 
armaduras ativas, denunciando, assim, um provável subdi-
mensionamento e entrada em estado-limite último. 
Como se sabe, no concreto armado e mesmo no con-
creto protendido, costuma-se trabalhar com uma defor-
mação última convencional das armaduras de 10 mm/m. 
Isso significa que, se tomarmos um trecho de comprimento 
igual a 1,0 m em uma viga, que tenha fissuras espaçadas a 
cada 10 cm, a abertura média de fissura de cada uma delas 
seria cerca de 1,0 mm. Imagine, então, visitar uma estrutura 
protendida que, em um único ponto, apresenta uma fissura 
de 1,0 cm! Ou seja, em um único ponto, a armadura já dava 
claros indícios de que o regime elástico poderia estar sendo 
ultrapassado. Uma deformação de 10 mm/m em uma arma-
dura protendida corresponde normalmente ao início do seu 
regime convencional de escoamento.
Em vista desse estado preocupante, houve a contrata-
ção de projeto e execução de reforço para as lajes da cober-
tura, com a utilização de perfis metálicos. O referido reforço 
com vigas metálicas foi iniciado em junho de 2015 e finali-
zado em outubro de 2016.
As lajes nervuradas foram moldadas com cubetas 
e têm peso próprio de 5,63 kN/m2. Considerando-se os 
miolo-buriti4.indd 79miolo-buriti4.indd 79 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
80
Rafa Souza
carregamentos adicionais promovidos pela impermeabili-
zação, forros/instalações e carga acidental, estimou-se, antes 
do reforço, um carregamento total na ordem de 8,13 kN/m2. 
Deve-se observar que as lajes de cobertura sustentam, 
ainda, em suas bordas longitudinais, tirantes destinados a 
suspender as lajes do piso superior. A estimativa é de que 
cada tirante suspende, em média, uma carga pontual de 
301 kN a cada 2,20 m, nas proximidades das vigas longitu-
dinais de fachada.
Tal fato leva a um imenso problema para a resolução 
do problema, pois uma vez afetadas as lajes de cobertu-
ra, as lajes do piso superior também podem vir a ruir, já 
que dependem da estabilidade das primeiras. Além disso, 
a desmobilização de cordoalhas no sentido longitudinal de 
alguma das lajes acabaria afetando as lajes vizinhas; sendo 
assim, em função das lajes suspensas, há necessidade de se 
escorar a edificação porcompleto, desde o subsolo até a 
cobertura afetada.
Para se ter uma noção da ordem de grandeza dos esfor-
ços, a laje nervurada protendida de cobertura L2 apresentou 
momentos fletores positivos nas nervuras do sentido trans-
versal de até 271 kN.m, quando considerado um modelo 
de grelha sem a influência dos tirantes de suspensão da laje 
inferior. Ao considerar a influência dos tirantes, o referido 
momento fletor positivo disparou para 305 kN.m. 
Fato interessante ainda foi observado ao se calcular sim-
plificadamente os panos de laje utilizando as consagradas 
tabelas de Marcus e Czerny. Com essas tabelas, os picos de 
momento positivo nas nervuras do sentido transversal da laje 
L2 seriam de apenas 148 kN.m (Marcus) e 167 kN.m (Czerny). 
miolo-buriti4.indd 80miolo-buriti4.indd 80 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
81
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Estimou-se que o escoamento das armaduras ativas da 
seção transversal da laje L2 ocorreria para o momento fle-
tor de 245 kN.m que, por sua vez, seria menor do que os 
305 kN.m esperados, revelando, portanto, que as nervuras 
estariam subdimensionadas para absorver o carregamento. 
Deve-se ainda observar que, não bastasse toda proble-
mática, os efeitos de retração, fluência, temperatura e fadiga 
também são muito relevantes para o caso em pauta e po-
dem se combinar de maneira crítica. Considerando-se que 
Brasília pode apresentar temperaturas elevadas durante o 
dia e temperaturas baixas durante a noite, as lajes possuem 
uma tendência de encurtamento e dilatação frequente que, 
por sua vez, pode conduzir a efeitos de fadiga. 
Como se não bastassem os problemas anteriores, mo-
nitoramentos efetuados em 2019 demonstraram que os 
fluxos de veículos durante o dia também poderiam ter in-
fluência no comportamento das lajes de cobertura, geran-
do vibrações.
Na cobertura da edificação, encontram-se atualmente 
vigas metálicas de reforço W460 x 82, sendo que as três lajes 
nervuradas protendidas existentes na cobertura foram re-
forçadas com essas vigas metálicas dispostas em um único 
sentido, mudando, a princípio, a forma de distribuição dos 
carregamentos das lajes. 
As lajes de cobertura originais, em vista de suas geo-
metrias retangulares, possuíam tendência de distribuir os 
carregamentos em vigas protendidas longitudinais e trans-
versais, isto é, de maneira bidirecional. Com a execução do 
reforço, passou-se a ter provavelmente um encaminhamen-
to unidirecional das cargas, com aumento de carga sobre os 
miolo-buriti4.indd 81miolo-buriti4.indd 81 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
82
Rafa Souza
consolos, que são, na realidade, regiões maciças de encon-
tro das lajes nervuradas com as vigas perimetrais e que, no 
sentido longitudinal, ancoram os tirantes de suspensão do 
pavimento inferior.
O carregamento sobre as lajes foi amplificado em fun-
ção da colocação das vigas metálicas e observou-se que es-
tas trabalham como uma espécie de viga mista invertida. 
Ou seja, como tais vigas foram colocadas na parte superior, 
os perfis metálicos capturam os esforços de compressão, 
enquanto as nervuras protendidas fragilizadas continuam 
absorvendo tração.
A partir de medidas tiradas no local, foi possível cons-
tatar um acentuado deslocamento das vigas metálicas, in-
dicando que o reforço metálico não estava funcionando de 
maneira adequada. O início dos deslocamentos das vigas 
metálicas ocasionou, inclusive, a interdição da edificação em 
fevereiro de 2019, em vista de novos deslocamentos, despla-
camentos do concreto das nervuras, ruptura de uma cordoa-
lha de protensão e registro de escoamento em um dos perfis 
metálicos que estavam sendo monitorados.
Na visita realizada, de maneira a não perder a oportu-
nidade da visita, pedimos uma linha de pedreiro e consegui-
mos medir a deflexão da viga metálica central situada sobre 
a laje central L2: 9 cm! As flechas eram facilmente visualiza-
das e o medo de andar sobre as lajes era muito grande.
No projeto de reforço, especificou-se que os perfis 
metálicos seriam responsáveis por apenas uma parcela do 
carregamento e não pelo carregamento total da cobertu-
ra. Aparentemente, não houve a preocupação de se ava-
liar a seção efetivamente como uma seção mista invertida. 
miolo-buriti4.indd 82miolo-buriti4.indd 82 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
83
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Aparentemente, o carregamento foi simplesmente dividido de 
maneira aleatória entre os perfis metálicos e a seção original. 
Além disso, o modo de apoio dos perfis metálicos não 
estava bem definido. Entrariam eles para enrijecer as ner-
vuras ou estariam apoiados nos consolos laterais, suspen-
dendo as lajes afetadas? Não se sabe ao certo a concepção 
considerada para o cálculo do reforço efetuado. 
Ainda, em vista do estado avançado de fissuração, seria 
muito mais prudente desprezar a capacidade residual das 
nervuras que estavam subdimensionadas e, provavelmente, 
com as armaduras escoadas em alguns pontos. O dimensio-
namento dos perfis metálicos para absorver todo o carre-
gamento seria, certamente, um procedimento muito mais 
prudente, em vista do estado de fissuração observado e do 
subdimensionamento das armaduras das nervuras.
Ainda em relação aos perfis metálicos de reforço, ob-
serva-se que os mesmos não possuem travamentos laterais, 
o que leva a uma esbeltez elevada para flambagem lateral 
com torção (FLM), desrespeitando, assim, o limite máximo 
de esbeltez de 200 especificado pela NBR8800. 
Na prática, o reforço executado funciona como uma 
seção mista invertida, com perfis metálicos trabalhando 
comprimidos e nervuras trabalhando tracionadas. Ao se 
comprimir um perfil por flexão e, observando-se que os 
mesmos não estão travados transversalmente, pode-se che-
gar à flambagem com cargas inferiores àquelas que provo-
cariam o escoamento do perfil.
Deve-se ainda observar que, ao introduzir os perfis 
metálicos como solução de reforço, o encaminhamento das 
cargas foi provavelmente modificado de bidirecional para 
miolo-buriti4.indd 83miolo-buriti4.indd 83 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
84
Rafa Souza
unidirecional, gerando solicitações diferenciadas sobre os 
consolos de extremidade que, por sua vez, sustentam tam-
bém os tirantes de sustentação das lajes do piso superior.
A estrutura certamente apresenta alguma reserva de 
resistência em função de os carregamentos considerados se-
rem eventualmente maiores do que os existentes, bem como 
pelo fato de os materiais utilizados poderem ter resistência 
superior àquelas consideradas. Mas não há dúvidas de que 
a laje central já está em estado limite último em vista das 
características observadas.
Na visita realizada, observou-se que as lajes nervura-
das da cobertura foram reparadas em vários pontos onde 
anteriormente ocorreram desplacamentos e fissurações. A 
princípio, as regiões anteriormente fissuradas e desplacadas 
encontram-se estabilizadas, isto é, não ocorreram novos da-
nos nas regiões recuperadas. Foram identificadas fissuras de 
flexão com pequena abertura e, pelo menos na parte visível, 
não foi encontrada nenhuma fissura com abertura que de-
nuncie um comportamento anormal. 
Por outro lado, foi constatada a ruptura de uma cor-
doalha do sentido transversal da laje L2 junto à região dos 
apoios. Inicialmente, nos causou estranheza o posiciona-
mento de tal ruptura, uma vez que os momentos de pico 
tendem a ocorrer em regiões centrais. No entanto, após 
muita reflexão, constatou-se que o comportamento físico 
era apropriado, uma vez que a presença dos tirantes na re-
gião dos apoios introduz um momento fletor positivo eleva-
do, logo nas imediações das ancoragens.
Em relação ao projeto original, foram identificadas 
diversas deficiências, dentre as quais podem ser citadas: 
miolo-buriti4.indd 84miolo-buriti4.indd 84 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
85
Em frente ao Buriti: Reflexõesde um engenheiro de estruturas
ausência de especificação do traçado dos cabos de proten-
são das nervuras, ausência de especificação em relação aos 
espaçamentos necessários entre cordoalhas numa mesma 
nervura, subdimensionamento das armaduras passivas e 
ativas, provável ausência de verificações em relação aos efei-
tos de temperatura, retração e flechas, levando-se em consi-
deração os efeitos de fluência e perdas de protensão.
Em relação ao processo executivo, observa-se que hou-
ve modificação do projeto original. As lajes suspensas, pro-
jetadas inicialmente como nervuradas, foram substituídas 
por lajes maciças, sem que houvesse a atualização do proje-
to estrutural. Não se sabe quais armações foram utilizadas 
na laje suspensa da edificação, uma vez que não foram en-
contrados registros dessa modificação efetuada. 
Observa-se ainda que, em função de resultados de extra-
ção de testemunhos, é provável que o concreto utilizado nas 
lajes de cobertura seja inferior ao valor indicado em projeto 
de 30 MPa. Esse valor ainda é conflitante com o valor de 50 
MPa, supostamente utilizado para o cálculo das armaduras. 
Há, sem dúvida, uma aparente confusão na definição do con-
creto, que pode ter levado ao subdimensionamento.
O histórico de fatos demonstrou claramente que a es-
trutura vem sempre trabalhando, ao longo do tempo, em 
uma região muito aquém da região de segurança recomen-
dada pelos códigos normativos e, por esse motivo, reco-
mendou-se o escoramento imediato até que uma solução 
definitiva fosse tomada. 
Após inúmeras horas de simulações e investigações, 
entreguei meu primeiro relatório de trabalho em abril de 
2019, revelando, assim, minhas hipóteses para tamanha 
miolo-buriti4.indd 85miolo-buriti4.indd 85 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
86
Rafa Souza
complicação. Em conversas no local, um fato me chamou 
bastante a atenção. 
Pelo que aparenta, a referida obra foi executada com 
muita pressa, com turnos diários e noturnos, na tentativa 
de inaugurá-la com data marcada. Talvez, tal fato tenha sido 
o estopim para as inúmeras deficiências observadas. E isso 
passaria a ser um padrão crítico repetitivo que eu observa-
ria ao longo da minha trajetória de investigador estrutural. 
miolo-buriti4.indd 86miolo-buriti4.indd 86 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
87
O Ex-Sócio 
"A ciência não é apenas uma disciplina de razão, mas tam-
bém de romance e paixão." 
Stephen Hawking
Com o primeiro relatório encaminhado para Brasília, agora eu teria um tempo livre para voltar a pensar no 
problema de Triunfo. Assim, já no final do mês de abril de 
2019, seguimos novamente eu, GG e FM para uma reunião 
decisiva em São Paulo, no quartel general de uma das empre-
sas consultoras contratadas pela multinacional de Triunfo.
O amigável engenheiro dos longos cabelos brancos, 
filho do engenheiro executor dos espetaculares pilares de 
Brasília, já tinha se revelado um grande aliado. Profissional 
ponderado, pragmático e eloquente, era sempre decisivo 
quando levantava a voz e dava sua opinião. O pessoal sina-
lizava com aprovação e as coisas finalmente caminhavam 
após longas horas de discussão.
A questão do graute a ser produzido em canteiro, bem 
como a utilização de discos de desbaste para dar produ-
tividade e a devida rugosidade às vigas a serem reforça-
das já estavam decididas, quando alguém teve a ideia de 
miolo-buriti4.indd 87miolo-buriti4.indd 87 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
88
Rafa Souza
contatar o chefe daquela empresa consultora com quase 
200 engenheiros.
Saíram para chamar a autoridade máxima e con-
tinuamos ali, agora com um clima bem mais amigável. 
Escutávamos aquele monte de engenheiros contando suas 
histórias e suas obras sensacionais e, a despeito da pressão 
que estávamos sofrendo, carregávamos a sensação de que 
estávamos participando de algo realmente grande. Daquela 
estrutura de concreto, entregue pelos meus clientes, sairia 
grande parte da borracha sintética que circula pelo mundo.
De repente, vimos entrar pela porta um senhor de ida-
de já bem avançada, cabelos muito brancos e pele averme-
lhada. Com voz rouca e sotaque espanhol se apresentou aos 
presentes e pediu para que resumíssemos os procedimentos 
de recuperação a serem efetuados em Triunfo.
Ao final das explicações, ouvimos, espantados, sua dis-
cordância e, novamente, uma reviravolta se apresentou. Dizia 
ele que fazer graute na obra não iria funcionar e que o produ-
to deveria ser industrializado. Além disso, não poderíamos 
otimizar o processo com discos de desbaste para regularizar o 
substrato e que marteletes deveriam cumprir esse papel.
Para piorar a situação, esse engenheiro estrangeiro, de 
origem uruguaia e nitidamente o guru dos gurus dentro da 
empresa consultora, havia sido sócio do Prof. Paulo Helene. 
Ou seja, por mais que eu tentasse fugir, seu nome vinha à 
tona novamente. Fiquei ali refletindo sobre mais essa coin-
cidência do destino.
Eu não podia acreditar como esse mundo é pequeno e 
como as coisas vão se entrelaçando de maneira inacreditá-
vel, comprovando a sincronicidade de Jung. Como poderia 
miolo-buriti4.indd 88miolo-buriti4.indd 88 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
89
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
aquele guru ter sido sócio do papa do concreto nacional? Já 
não bastava o engenheiro filho do engenheiro que concre-
tizou os pilares do Planalto? Seria outra batalha da pesada, 
que já parecia vencida, mas que precisaríamos, novamente, 
recomeçar da estaca zero.
O guru ainda disse que eles fariam uma proposta de 
encamisamento da estrutura de concreto com estrutura me-
tálica e que, assim, tudo poderia ficar mais rápido e seguro. 
Achamos absurda a ideia, mas ele começou a lançar núme-
ros de peso de aço, estimativas de custo, num intervalo tão 
curto que pareceu que, dali, poderia realmente sair uma 
ideia genial. Isso era uma sexta-feira e ele disse que na se-
gunda já teriam as simulações e custos efetivos. Tudo estaria 
resolvido. Seria um triunfo em Triunfo.
A reunião terminou e saímos todos dali com aquele 
sentimento de perda de tempo. Eu, GG e FM não acredi-
távamos no desfecho daquela reunião. Ficamos ainda pen-
sando na possibilidade de nos pedirem para fazermos as 
simulações da estrutura de concreto reforçada com estru-
tura metálica.
Retornei para o aeroporto de Guarulhos e ali fiquei 
pensando em toda aquela viagem. Não era para menos tam-
bém. Se explodissem alguns daqueles gases, voaria tudo pe-
los ares e um sem número de profissionais ficaria com o peso 
do mundo em suas costas. Cada movimento no tabuleiro 
tinha que ser pensado com destreza, pois, depois de dado o 
movimento, seria difícil retornar à posição de origem.
Me lembrei também de uma história muito maluca 
relacionada àquela teoria de que estamos todos no mun-
do conectados por uma diferença de apenas cinco pessoas. 
miolo-buriti4.indd 89miolo-buriti4.indd 89 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
90
Rafa Souza
Comentei essa história com alguém que me disse que isso 
era pura besteira. Insisti que não era e a pessoa então me de-
safiou. “E o papa, por exemplo, como me conecto ao papa?” 
Lembrei da irmã freira do meu baterista e também 
engenheiro, Igor Grande. Ela morava na Itália e, certa-
mente, tinha uma superior que, por sua vez, teria alguma 
ligação com o Vaticano e, consequentemente, com o papa. 
Essa teoria, agora, se mostrava novamente válida com o 
engenheiro uruguaio.
O fato é que, passado algum tempo, o modelo numérico 
com o reforço metálico nunca foi apresentado e, felizmente, 
essa ideia absurda foi descartada. Nesse tempo, recorremos 
novamente aos códigos normativos de ponta e casos corre-
latos, para demonstrar que as nossas intenções refletiam o 
estado da arte. 
Aproveitei o tempo livre para terminar um curso de 
“Patologia e Recuperação Estrutural” que daria em Cianorte 
na próxima semana e, com a experiência, já coleciona-
va ações que, certamente,seriam necessárias em Triunfo. 
Estamos ou não todos conectados?
miolo-buriti4.indd 90miolo-buriti4.indd 90 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
91
Colapso Frágil
“Se você quer os acertos, esteja preparado para os erros.” 
Carl Yastrzemski
O mês de maio de 2019 vinha se desenrolando incrivel-mente bem. Havia entregado o relatório de Brasília, 
Triunfo já se preparava para iniciar o reforço e eu já havia 
dado um curso de Patologia para engenheiros em Cianorte, 
cidade num raio de 100 km de Maringá. 
Com tudo um pouco mais calmo e sob controle podia 
me dedicar ao cálculo estrutural de um edifício da cidade de 
São Bento do Sul, em Santa Catarina, bem como aumentar o 
número de visitas ao meu pai. Ficava refletindo comigo por 
que uma doença ainda sem cura, que a ciência ainda não 
conseguia desvendar, foi procurar justamente meu pai, um 
cientista de ponta na área de Química, para se alojar.
Ele estava sofrendo com um linfoma não Hodkin e já 
estava na fase de quimioterapia, reagindo muito bem. O 
humor do meu velho me alegrava demais para encarar os 
desafios e nossos encontros eram sempre recheados com 
política e futebol. Meu primeiro projeto estrutural foi o da 
casa da chácara onde morávamos. Foi ele quem me deu a 
miolo-buriti4.indd 91miolo-buriti4.indd 91 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
92
Rafa Souza
primeira oportunidade de calcular e consolidar uma estru-
tura de concreto do começo ao fim. E isso foi logo após me 
formar, quando estava na mesma Unicamp em que ele fez 
seu doutorado.
O linfoma surge no sistema linfático, uma rede de 
pequenos vasos e gânglios linfáticos, que é parte tanto 
do sistema circulatório como do sistema imune. O sistema é 
responsável por coletar e redirecionar para o sistema circula-
tório um líquido claro, chamado linfa que, por sua vez, con-
tém células de defesa (glóbulos brancos) chamadas linfócitos. 
O linfoma não Hodgkin normalmente se manifesta 
através de linfonodos (gânglios) aumentados na região do 
pescoço, axilas e virilha. Estão presentes sintomas como 
febre, perda de peso, sudorese abundante à noite, prurido 
(coceira), falta de apetite e cansaço.
Existem mais de 20 tipos diferentes de linfoma não 
Hodgkin, sendo eles classificados de acordo com o tipo de 
célula linfoide e o comportamento biológico: os indolentes 
(com evolução lenta) e os agressivos (de crescimento rápido 
e mais invasivos). O do meu pai, apesar de não ter sido pos-
sível fazer a biópsia para identificação, era aparentemente 
um agressivo e já começava a afetar os ossos.
Como cientistas que somos, tanto meu pai como meus 
irmãos, estudamos tudo o que podíamos em relação à doen-
ça, sempre buscando artigos científicos em revistas de ponta 
e jogando com a probabilidade de que meu velho era um 
ponto fora da curva: já tinha sobrevivido a dois infartos e 
ostentava pontes de safena.
Ele estava no estágio IV da doença e as estatísticas não 
eram muito favoráveis. Mas o tratamento conhecido como 
miolo-buriti4.indd 92miolo-buriti4.indd 92 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
93
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
R-CHOP, constituído dos medicamentos rituzimabe, ciclo-
fosfamida, doxorrubicina, vincristina e prednisona funcio-
nava para ele como uma espécie de energético. Muita gente 
passa mal nesse tratamento, normalmente administrado em 
ciclos, com intervalos de 3 semanas. Ele voltava alegre do 
hospital, agitado e feliz por estar reagindo bem. A quimio-
terapia só aumentava a sua potência, que já era grande de-
mais, de maneira natural.
Não se conhecem as causas do linfoma não Hodgkin 
e a incidência tem aumentado bastante nos últimos anos, 
principalmente em homens com idade superior a 60 anos. 
Meu pai estava com 68 anos e tinha tido associações com 
alguns fatores considerados de risco.
Aparentemente, infecção pelos vírus HIV, Epstein-Barr 
e HTLV1 e a bactéria Helicobacter pylori podem levar ao 
linfoma. Exposição a agentes químicos, tais como herbici-
das, fertilizantes, inseticidas, pesticidas e solventes também, 
além de exposição a altas doses de radiação.
Meu pai tinha contraído a bactéria Helicobacter pylo-
ri antes de tudo começar, porém, nossa maior desconfian-
ça para a origem da doença estava nas pipetagens que, por 
muito tempo, ele fez na profissão, utilizando reagentes quí-
micos. Interessante que, no departamento de Química da 
universidade onde ele trabalhava, vários outros professores 
também tinham sido acometidos pelo câncer. Para nós, não 
era coincidência, mas sim, um efeito colateral da profissão 
que ele tanto amava.
Mas o importante é que meu pai estava ficando bem, 
minha mãe, como parceira incansável, agora tinha um pou-
co mais de alegria e eu podia me concentrar um pouco mais 
miolo-buriti4.indd 93miolo-buriti4.indd 93 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
94
Rafa Souza
relaxado no meu dia a dia. Assim, os dias de maio iam cor-
rendo um pouco mais calmos, entre aulas, projeto estrutu-
ral e sessões de fisioterapia. Iam.
Já na virada para junho de 2019, chegou-me uma notícia 
que tiraria Brasília do papel de protagonista desse ano atípico. 
Por volta das 9:30 h da manhã, uma laje alveolar recém-ins-
talada no quinto pavimento de uma edificação em Maringá 
ruiu, levando todas as outras lajes a um colapso progressivo. 
Nesse fatídico acidente, três operários se feriram gravemente 
e uma estudante de engenharia acabou vindo a óbito.
Profunda tristeza se abateu em nossa cidade que, em 
outras ocasiões, também já havia presenciado um colap-
so progressivo. Em outubro de 2018, uma marquise ruiu de 
madrugada e levou 15 sacadas ao colapso progressivo, como 
num efeito dominó. Felizmente, nessa ocasião, só foram regis-
trados prejuízos materiais e as sacadas foram reconstruídas. 
Eu tinha recém-voltado dos Estados Unidos, onde ti-
nha estudado as causas do colapso do Cassino Tropicana e 
fui então chamado pela Defesa Civil para colaborar com a 
investigação das causas que levaram as sacadas ao colapso. 
Foi nessa ocasião que conheci o engenheiro Mauro José 
de Souza Araújo, um engenheiro sensacional, conhecido na 
cidade como o médico das edificações. Juntos exploramos a 
fundo o problema das sacadas e acabamos publicando o arti-
go intitulado “The Progressive Failure of 15 Balconies and the 
Engineering Techniques for their Reconstruction”, na reco-
nhecida revista internacional “Engineering Failure Analysis”.
Mauro foi um grande amigo e me deu inúmeras pos-
sibilidades para praticar a minha engenharia: escreve-
mos laudos, projetamos reforços, analisamos resultados 
miolo-buriti4.indd 94miolo-buriti4.indd 94 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
95
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
experimentais e nos encontramos nos momentos mais inu-
sitados dentro das nossas tumultuadas agendas para con-
versar sobre engenharia. Um engenheiro apaixonado que, 
infelizmente, partiu muito cedo, e a quem devo muito da 
minha trajetória profissional.
De volta à laje alveolar que havia ruído, continuavam res-
soando as reportagens sensacionalistas da mídia. Ainda não 
havia sido chamado, mas sabia que a possibilidade era forte. 
Após algumas semanas, meu telefone tocou e, finalmente, pude 
acessar o local, levemente descaracterizado pelas operações de 
resgate. Agora eu tinha em mãos Brasília, Triunfo e Maringá.
Até então, já tinha tomado contato com todo tipo de 
estrutura avariada. Salvei estruturas com deficiência por-
tante por inúmeros motivos (projeto, execução, materiais, 
mudança de uso etc.), estruturas destruídas pelo vento, es-
truturas consumidas pelo fogo, estruturas colapsadas por 
efeito dominó e até estruturas colapsadas por impacto de 
veículos. Mas nunca, em nenhum dos casos em que havia 
trabalhado, tinha entrado em um cenário em que uma es-
trutura tinha sido capaz de tirar uma vida. Sempre conse-
guíamos chegar antes.
Em meio àqueles escombros de concreto e cordoalhas, 
em busca de provas que pudessemauxiliar no esclarecimen-
to dos fatos, encontrei capacetes amassados, calçados avul-
sos e a triste interrupção de um sonho.
Agora me fazia mais sentido aquela preocupação aparen-
temente descomunal dos engenheiros mecânicos de Triunfo 
e sua filosofia risco zero, almejando uma estrutura perfeita.
Naquele silêncio abissal, enquanto caminhava pelos 
diversos pavimentos, subindo e descendo escadas, refletia 
miolo-buriti4.indd 95miolo-buriti4.indd 95 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
96
Rafa Souza
sobre o impacto da engenharia de estruturas sobre o bem 
mais precioso que temos. 
Sabia que teria que voltar àquele triste cenário inúme-
ras vezes, não só para descobrir o que havia acontecido, mas 
também para ajudar na tomada de decisões em relação ao 
que fazer dali para a frente.
miolo-buriti4.indd 96miolo-buriti4.indd 96 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
97
Armadilha Tecnológica
“O começo de todas as ciências é o espanto de as coisas serem 
o que são.”
Aristóteles
A s causas que levaram às patologias do “petit palais” de Brasília já estavam mais claras e demonstradas. No 
entanto, vislumbrava-se agora um desafio ainda mais im-
portante: Qual terapia aplicar em nosso gigante para reesta-
belecer sua capacidade portante? 
Eu teria que entregar a resposta para esse problema no 
começo de julho de 2019, mas primeiro precisava adiantar 
as atividades dos reforços de Triunfo e iniciar as inúmeras 
atividades investigativas da laje alveolar ruída de Maringá. 
Pela primeira vez na vida, então, participei de uma re-
constituição e pude acompanhar de perto o trabalho de um 
experiente perito da polícia criminal. Com todos posiciona-
dos no quinto pavimento da edificação, iniciou-se, então, o 
processo de simulação dos eventos. 
Lentamente, o guindaste trouxe a laje alveolar até a po-
sição onde ela deveria ser apoiada. Os operários, em seguida, 
conduziram a laje até os pontos de apoio e soltaram as alças 
miolo-buriti4.indd 97miolo-buriti4.indd 97 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
98
Rafa Souza
de içamento. Na sequência, começaram o processo de rema-
gem, que consiste basicamente em movimentar a placa com 
o auxílio de pé de cabras para a posição definitiva. No pro-
cesso de instalação, não foi verificado nada que a princípio 
pudesse explicar o colapso daquela placa recém-instalada. 
Um fato que me chamou a atenção é de que a laje ru-
ída era uma laje alveolar. Como se sabe, as lajes alveola-
res são provenientes de um avançado processo industrial. 
Cordoalhas são estiradas em uma pista de protensão e uma 
máquina especial percorre a pista moldando o concreto das 
placas, produzindo por extrusão os furos conhecidos como 
alvéolos. Posteriormente, com o concreto já seco, efetua-se 
o alívio das cabeceiras de protensão e cortam-se as placas 
com enormes serras adiamantadas.
Em vista da natureza do processo e da utilização de 
um concreto mais seco, não são adicionados estribos nesse 
tipo de elemento estrutural e, sendo assim, a resistência do 
elemento é profundamente dependente da força de proten-
são aplicada. Minha opinião é de que esse tipo de elemento 
não deveria ser utilizado, em vista de falhas invisíveis que 
podem eventualmente ocorrer no processo industrial.
Quando o francês Freyssinet inventou o concreto pro-
tendido, ele o concebeu apenas com armaduras ativas. No 
entanto, os alemães mostraram, ao longo do tempo, que 
seria prudente sempre considerar alguma porcentagem de 
armadura passiva, de maneira a evitar fissuras indesejáveis.
As lajes alveolares não permitem a utilização de estri-
bos e, como consequência, a resistência à força cortante fica 
dependente da força de protensão e da resistência à tração 
do concreto. Assim, se parcela de protensão é perdida, mais 
miolo-buriti4.indd 98miolo-buriti4.indd 98 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
99
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
o concreto será solicitado à tração e, como sua capacidade é 
limitada, um colapso frágil poderá ocorrer.
Deve-se ainda observar que o ensaio experimental 
utilizado para avaliar o corte das placas nas pistas tam-
bém não é dos mais adequados. Basicamente são usados 
cilindros testados à compressão, de maneira a avaliar a re-
sistência do concreto. No entanto, a disposição da massa 
no interior dos corpos de prova não guarda perfeita seme-
lhança com a massa do concreto moldado das placas. Nos 
corpos de prova, o concreto é adensado com uma haste 
metálica, enquanto na produção das placas o concreto é 
lançado e compactado pela extrusora.
Assim, se a estimativa da resistência à compressão do 
concreto já é questionável, o que pode ser dito em relação à 
resistência à tração e à aderência do concreto? 
Se o concreto ainda não apresenta boa resistência à 
compressão, também não a terá à tração e, consequen-
temente, isso poderá se refletir numa baixa aderência. 
Assim, um corte prematuro, potencializado por um resul-
tado à compressão que não reflete a realidade, pode levar 
ao escorregamento das cordoalhas, por falta de condições 
apropriadas de aderência. Perdendo-se protensão, aumen-
ta-se, então, a necessidade de reação do concreto em re-
lação à tração, o que não é nunca apropriado, no caso de 
estruturas de concreto.
Em fevereiro de 2007, foi noticiado um acidente muito 
semelhante na cidade de Nova York, nos Estados Unidos. 
Um operário de construção sofreu ferimentos fatais após a 
queda de uma laje alveolar desmoronada em um canteiro de 
obras de dez andares. 
miolo-buriti4.indd 99miolo-buriti4.indd 99 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
100
Rafa Souza
A laje alveolar ruída tinha 8,0 m de comprimento, 
2,51 m de largura e 20 cm de espessura, e pesava aproxi-
madamente sete toneladas. A laje constituía-se de recortes 
para encaixe nos pilares, de maneira semelhante ao colapso 
ocorrido em Maringá. A placa alveolar ruída nos Estados 
Unidos apresentava recortes na direção transversal em tor-
no de 0,97 m, enquanto ao longo do comprimento o recorde 
era de apenas 0,14 m.
As lajes de piso estavam sendo posicionadas na es-
trutura metálica do edifício e encontravam-se simples-
mente apoiadas sobre as vigas metálicas de sustentação. 
Aproximadamente às 9:20 h da manhã, a vítima e um cole-
ga de trabalho estavam no 6º andar usando alavancas para 
ajustar as lajes pré-moldadas em suas posições finais. A 
parte sul da laje repousava sobre vigas de aço horizontais e 
a seção norte encontrava-se em balanço, devido aos recor-
tes da laje alveolar.
Depois que os dois trabalhadores terminaram de ajus-
tar a laje na região sul, ambos caminharam para o norte da 
laje perto de sua extremidade leste. A laje, repentinamente, se 
inclinou para baixo em seu lado norte, girando para uma po-
sição quase vertical, e ficou presa entre os apoios metálicos. 
Um dos trabalhadores conseguiu se segurar com os co-
tovelos sobre a laje da frente, por onde conseguiu escalar e 
sobreviver ao acidente. A vítima caiu no piso abaixo e, na 
sequência, a laje ruída provocou um efeito dominó, que le-
vou mais cinco pisos ao colapso.
As investigações pós-incidente demonstraram que ao 
menos 18 pilares metálicos estavam fora de prumo, sendo 
2 destes na zona em que ocorreu o desmoronamento. Os 
miolo-buriti4.indd 100miolo-buriti4.indd 100 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
101
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
pilares fora de prumo levaram a um aumento do espaça-
mento entre os eixos, resultando em comprimentos de 
suporte reduzidos. O comprimento de apoio indicado no 
projeto estrutural era de 7,0 cm, porém, a investigação pós-
-acidente indicou uma largura de apoio de apenas 2,5 cm na 
região do colapso.
As lajes alveolares foram erguidas até o oitavo pavi-
mento sem o devido capeamento das lajes ou soldagem de 
apoios adicionais para manter as lajes conectadas às vigas 
metálicas. De acordo com as investigações do Department 
of Heath (DOH) de Nova York, essa faltade travamento 
contribuiu para a falta de estabilidade da laje ruída. 
A integridade da laje ruída foi ainda amplificada pela for-
ma entalhada da laje alveolar, observando-se que não foram 
previstas armaduras especiais para reforçar os balanços gera-
dos. De acordo com a DOH, essa falta de reforço possivel-
mente também contribuiu para a instabilidade da laje ruída.
De volta ao Brasil, porém, agora, fazendo uma viagem 
para o futuro, outro acidente aconteceria na manhã de 12 de 
fevereiro de 2020, dando ainda mais embasamento acerca 
dos perigos vislumbrados em relação à utilização de lajes 
alveolares. Em Erechim/RS, um operário morreu e outro fi-
cou ferido na construção de uma grande rede de lojas, tam-
bém devido à queda de uma laje alveolar. 
Acidentes com lajes alveolares têm ocorrido mundo 
afora e os registros certamente tenderão a crescer com a in-
dustrialização da construção. A disseminação desse tipo de 
solução, sem armaduras passivas, depende da capacidade 
resistente do concreto à tração e, com a eventual perda de 
protensão, as consequências podem ser desastrosas. 
miolo-buriti4.indd 101miolo-buriti4.indd 101 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
102
Rafa Souza
Em minhas investigações, levantei inúmeros aciden-
tes ocorridos com lajes alveolares, todos envolvendo ru-
ína frágil. Além dos acidentes de Maringá/PR e Erechim/
RS, descobri acidentes semelhantes em Concórdia/SC, 
Campinas/SP, Florianópolis/SC, Indaiatuba/SP, Barueri/
SP e Águas Claras/DF.
É preciso que sejam estabelecidas regras mais rígidas 
nas plantas produtoras e que as peças tenham um rigoroso 
processo de produção e controle de aceitação. Apesar de pa-
recer para muitos uma solução de vanguarda, do ponto de 
vista de segurança, nos parece algo temivelmente arcaico e 
que deveria ser evitado a todo custo. Não moraria em um 
imóvel com lajes alveolares, nem que me dessem de graça, 
ao menos que passe a existir um controle normativo e fisca-
lizador mais intenso.
Talvez seja por isso que a empresa liderada por aquele 
interessante engenheiro uruguaio, consultor daquela gigan-
te multinacional de Triunfo, proíbe terminantemente a uti-
lização de lajes alveolares em seus projetos industriais em 
todo mundo. Estariam eles errados e vivendo no passado, 
ou certos e já vivendo à frente do seu tempo, em relação a 
esse sedutor produto? 
miolo-buriti4.indd 102miolo-buriti4.indd 102 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
103
O Segundo Relatório
“A ciência é uma disposição de aceitar os fatos mesmo quando 
eles são opostos aos desejos.”
Burrhus Frederic Skinner
E ra comecinho de julho de 2019 quando entreguei o segundo relatório de Brasília, em meio às minhas in-
vestigações de Maringá e colaborações já menos intensas 
em Triunfo. No polo petroquímico, os reparos haviam 
começado e minha participação já era derradeira, sendo 
apenas consultado em pequenos conflitos que surgiam 
no meio do caminho.
Em relação a Maringá, foram meses turbulentos, sem-
pre dividindo minhas atividades de professor com períodos 
de acompanhamento da polícia científica, no levantamen-
to de provas e documentos. No entanto, precisava dar 
uma resposta para Brasília, que esperava uma solução de 
como recuperar aquelas lajes de cobertura.
Durante minhas investigações, foram estudadas várias 
possibilidades de intervenção para a recuperação das lajes 
de cobertura e, consequentemente, das lajes de piso que es-
tavam atirantadas nas primeiras. O problema, por si só, já 
miolo-buriti4.indd 103miolo-buriti4.indd 103 10/02/2021 21:08:3110/02/2021 21:08:31
104
Rafa Souza
tinha uma natureza muito complexa. Além disso, tendo-se 
em vista o fato de que a edificação é tombada pelo Iphan, 
qualquer alteração que viesse incidir sobre a fachada deve-
ria ser excluída das propostas.
Essa restrição de mudança de fachada, sem dúvida al-
guma, acabou restringindo demais as possibilidades de solu-
ção. Em vista dos vãos envolvidos, mesmo com a utilização 
de protensão, seriam necessárias seções que acabariam fi-
cando expostas de alguma maneira, mudando levemente as 
fachadas da edificação. Porém, nem pequenas modificações 
estéticas eram permitidas.
Restava, assim, trabalhar com o pequeno espaço dispo-
nível na fachada, que era basicamente constituído pela di-
ferença de nível entre o topo das vigas perimetrais e o topo 
das lajes de cobertura. Porém, deve-se observar que nesse 
espaço já haviam sido colocadas as vigas metálicas, de ma-
neira que as possibilidades também eram limitadas.
Foram pensadas inúmeras possibilidades, porém, vá-
rias delas eram sempre inviabilizadas seja pela impossibi-
lidade de mudar os materiais/seções seja pela necessidade 
de mudança da fachada. Dessa maneira, foram descartadas 
soluções como protensão das vigas metálicas e construção 
de novos elementos que poderiam, de alguma maneira, 
aparecer na fachada. 
Observou-se que uma solução utilizando protensão 
externa em uma direção, com ancoragem no topo das 
vigas de borda, seria prejudicada pela baixa excentrici-
dade disponível, bem como, pelos elevados momentos 
de torção que surgiriam nas vigas de borda. As vigas de 
borda possuiriam armação transversal e longitudinal 
miolo-buriti4.indd 104miolo-buriti4.indd 104 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
105
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
insuficientes para a torção decorrente das ancoragens da 
protensão adicional. 
Esse fato levaria à necessidade de reforço da torção das 
vigas longitudinais, com a adição de tirantes de travamento 
interno, de maneira a aliviar os efeitos decorrentes da torção. 
Porém, a utilização de tirantes internos, objetivando evitar 
a rotação das vigas, reduziria demasiadamente o pé-direito 
e prejudicaria a passagem dos sistemas de ar-condicionado, 
forros e tubulações.
O procedimento de reforço, com natureza unidirecio-
nal, amplifica ainda os esforços nas vigas longitudinais de 
borda, de maneira que a manutenção do sistema estrutural 
original bidirecional seria muito mais efetiva na distribui-
ção dos esforços das lajes de cobertura. No entanto, pro-
cedimentos de reforço com natureza bidirecional tendem 
a gerar uma solução muito complexa, em vista da necessi-
dade de interação dos elementos de reforços nos dois sen-
tidos ortogonais.
Além disso, em vista de características patológicas 
avançadas já registradas para as lajes de cobertura (fissura-
ção excessiva chegando, em alguns casos, a 1,0 cm de aber-
tura de fissura nas nervuras, flecha excessiva ultrapassando 
35 cm, constatação de escoamento dos perfis metálicos de 
reforço, ruptura de cabos de protensão de algumas nervu-
ras), não é possível estimar qual o nível de contribuição efe-
tiva das nervuras originais.
Tendo-se em consideração as dúvidas que pairam so-
bre a aplicação da protensão externa sobre lajes nervuradas 
protendidas (protensão ativa em estrutura já ativa, redis-
tribuição de esforços, rigidez à torção de vigas de borda, 
miolo-buriti4.indd 105miolo-buriti4.indd 105 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
106
Rafa Souza
etc.), acredita-se que seria mais prudente recorrer a um 
sistema convencional de reforço, amplamente dominado 
pelo mercado e com maior oferta, tanto do ponto de vista 
de projeto estrutural como de execução. Acredita-se que 
essa é uma solução bastante efetiva e que poderia eliminar 
os problemas das lajes de cobertura, apesar de modificar o 
layout dos pavimentos, em função da presença do posicio-
namento dos novos pilares.
Nessa alternativa, novos pilares devem nascer no subso-
lo, subindo pelos diversos pavimentos, até alcançar a laje de 
cobertura. Essa solução deverá apresentar reforço das lajes 
intermediárias a serem interrompidas e construção de uma 
grelha de vigas por debaixo das lajes de cobertura afetadas. 
Como há uma folga entre o fundo da laje e o fundo das vigas 
de 2,0 m, as vigas adicionais poderiam ser construídas nesse 
intervalo. A desvantagem dessa abordagem estaria na perdade espaços úteis no interior da edificação, devido à inter-
ferência causada pelos novos pilares. No entanto, seria um 
procedimento relativamente fácil de ser executado.
Outra alternativa para o problema seria a demolição 
não só das lajes de cobertura, mas também das lajes ati-
rantadas. Nesse caso, há necessidade de, primeiramente, 
demolir a laje atirantada para, só então, demolir as lajes de 
cobertura. Deve-se observar que as lajes de cobertura fun-
cionam como um diafragma rígido e evitam a rotação das 
vigas de borda, rotação essa que tende a ser promovida pela 
ancoragem dos tirantes nos consolos (regiões maciças das 
lajes nervuradas junto às vigas de borda). 
Além disso, deve-se observar a necessidade de escora-
mento contínuo da estrutura, até as lajes de cobertura, após 
miolo-buriti4.indd 106miolo-buriti4.indd 106 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
107
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
a demolição da laje atirantada. Uma vez que a protensão das 
nervuras no sentido horizontal é continua, a demolição da 
laje central L2 acarretaria instabilidade das lajes laterais L1 
e L3. Isto é, ao desmobilizar a protensão da laje central, as 
lajes laterais podem chegar ao colapso.
Com a estrutura escorada, poder-se-ia, então, retirar 
os perfis metálicos, efetuar a desprotensão das nervuras e 
demoli-las, de maneira que o acúmulo de materiais não 
cairia de grandes alturas, mas ficaria depositado no pró-
prio escoramento.
Nesse tipo de solução, seria gerado um pé-direito bas-
tante alto e o pavimento térreo que, atualmente, encontra-se 
desocupado, poderia passar a abrigar as atividades que são 
atualmente desenvolvidas no pavimento atirantado. 
Após a demolição das lajes, poderia então ser instala-
do um sistema de cobertura leve, apoiando-se diretamente 
sobre os consolos a serem deixados. Em nossa opinião, a 
instalação de uma cobertura em steel joist ou treliça espa-
cial seria a solução mais interessante, podendo-se, inclusive, 
usufruir de iluminação zenital para proporcionar ilumina-
ção natural, economizando-se, assim, energia no edifício.
Outra possibilidade de solução para o problema pode-
ria ser a demolição das lajes de cobertura, porém, manten-
do-se a laje atirantada do piso superior. Isso poderia ser feito 
através da substituição do sistema de apoio da laje atiranta-
da, de maneira a não alterar seu comportamento estrutural. 
Isso poderia ser feito com a introdução de novos pila-
res posicionados na direção paralela à maior dimensão da 
edificação, que nasceriam desde o subsolo e se estenderiam 
até encontrar a face inferior da laje atirantada. 
miolo-buriti4.indd 107miolo-buriti4.indd 107 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
108
Rafa Souza
Com novos pilares construídos, seria então possível 
construir vigas contínuas. Essas vigas, posicionadas ao lon-
go das duas fachadas longitudinais, ligariam os novos pi-
lares e ficariam posicionadas por debaixo da laje de piso, 
servindo de ponto corrido de apoio. Como as novas vigas 
ocupariam exatamente as posições atualmente ocupadas 
pelos tirantes, seria, então, possível desmobilizá-los, de ma-
neira a fazer a laje de piso se apoiar definitivamente na nova 
estrutura construída. 
Com a desmobilização dos tirantes, as lajes de cober-
tura ficariam aliviadas da torção promovida pelos tirantes 
nas vigas de borda, bem como, do momento positivo de alta 
magnitude introduzido nas lajes nervuradas. Dessa manei-
ra, a desmobilização das lajes de cobertura poderia ser feita 
com muito mais segurança; porém, também demandaria o 
escoramento completo da edificação, de maneira a efetuar 
a retirada segura dos inefetivos perfis metálicos de reforço 
e a demolição segura das lajes de cobertura.
Na ocasião, também havia tido uma outra ideia ma-
luca que talvez funcionasse bem, porém, daria muito con-
flito com os sistemas ali existentes (forro, tubulações, etc.). 
Pensei em passar um emaranhado de cordoalhas de maneira 
bidirecional, como se fosse uma espécie de rede de seguran-
ça para as lajes de cobertura, inspirado no sistema estrutural 
das pontes pênseis. 
Pensei que essa rede de cabos em catenária poderia 
suspender as lajes de cobertura. Certamente seria a solução 
mais econômica, mas certamente não seria a solução mais 
segura e nem a mais eficiente, já que demandaria modifica-
ções nas tubulações.
miolo-buriti4.indd 108miolo-buriti4.indd 108 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
109
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Através de pesquisas de mercado, estimei que tan-
to o reforço quanto a demolição com as soluções que ha-
via apresentado estariam na faixa de R$3.500,00 (três mil 
e quinhentos reais) a R$4.000,00 (quatro mil reais) por 
metro quadrado, de maneira que o custo total ficaria entre 
R$5.000.000,00 (cinco milhões de reais) e R$7.000.000,00 
(sete milhões de reais). 
Deixei claro, no segundo relatório, que, conforme 
as soluções de engenharia vão se tornando cada vez mais 
complexas, possivelmente o caminho para a solução mais 
eficiente esteja ficando cada vez mais distante. Dessa ma-
neira, muitas vezes, é melhor aceitar o recomeço, com so-
luções mais simples. 
Em vista de todas as características da edificação ori-
ginal e das diversas alternativas de reforço investigadas, a 
demolição das lajes de cobertura/atirantadas, com recons-
trução do sistema de cobertura (steel joist ou treliça espa-
cial) talvez não fosse o procedimento mais econômico, mas 
seria, inegavelmente, a solução que possibilitaria maior se-
gurança aos usuários da edificação. 
Em segundo lugar, a introdução de novos elementos 
estruturais, a partir do subsolo, poderia não ser a melhor 
solução sob o ponto de vista arquitetônico, porém, seria, 
sem dúvida, a segunda melhor opção em termos de segu-
rança estrutural.
Terminado o segundo relatório, enviei o documen-
to e continuei sempre pensando em outras possibilidades 
que poderiam existir. Perguntei para mim mesmo quais 
soluções poderiam dar gigantes nacionais como Joaquim 
Cardoso, Bruno Contarini, Mario Franco, Walter Pfeil, José 
miolo-buriti4.indd 109miolo-buriti4.indd 109 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
110
Rafa Souza
Carlos Sussekind e Augusto Carlos de Vasconcelos, entre 
outras tantas mentes brilhantes que sempre me inspiraram. 
Eu não me sentia sozinho naquela jornada, pois tinha sem-
pre esses mentores, ao meu alcance, nas prateleiras.
miolo-buriti4.indd 110miolo-buriti4.indd 110 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
111
Investigadores 
de Estruturas
“A verdadeira ciência ensina sobretudo a duvidar e a ser 
ignorante.” 
Miguel Unamuno
E ra comecinho de julho de 2019 quando entreguei o segundo relatório e, portanto, ganharia uma folga de 
Brasília e poderia me dedicar com maior atenção ao colapso 
progressivo de Maringá. A polícia científica seguia fazendo 
seu trabalho investigativo e, apesar de trocarmos informa-
ções, procurava seguir meu caminho de maneira indepen-
dente, visando não ser influenciado.
O trabalho investigativo é fascinante, mas ao mesmo 
tempo pode gerar armadilhas impressionantes. Evitava ao 
máximo ouvir conclusões, principalmente nascidas tempos 
depois do acidente. As melhores informações são sempre 
aquelas que você obtém logo após o acidente, quando os 
relatos condizem mais com a realidade. Horas depois do 
ocorrido, os relatos começam a mudar, as fofocas começam 
a correr e a história vai ganhando uma forma que pode não 
corresponder à verdade.
miolo-buriti4.indd 111miolo-buriti4.indd 111 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
112
Rafa Souza
Um pesquisador deve buscar a verdade, e era para isso 
que eu estava ali. Meus clientes queriam conhecer a verda-
de, fosse ela ainda mais pesada do que a grande dor que eles 
já vinham sofrendo. Agora, porém, nascia não só a necessi-
dade de se explicar o que aconteceu com a laje, mas também 
atestar que a construção era segura como um todo.
Assim, durante todoo mês de junho de 2019, voltei ao 
local do acidente ao menos cinco vezes, verificando não só 
o ponto do colapso progressivo, mas a edificação como um 
todo, elemento a elemento. Filtrei todos os elementos estru-
turais, um a um: pilares, vigas, consolos e placas alveolares. 
Estudei a fundo o projeto estrutural e busquei danificações 
que pudessem explicar a ação dos operários antes de a laje ruir.
O que se sabia, antes da minha entrada na edificação, 
é que a placa alveolar ruída era uma placa de substituição, 
tendo-se em vista problemas de desaprumo ocorridos com 
os pilares da fachada durante a montagem.
Tendo-se em vista que os pilares da fachada sofreram 
desaprumos em função de pesadas placas de fechamento 
vertical, a placa alveolar inicialmente projetada não se en-
caixava apropriadamente no vão existente. Esse fato levou 
à necessidade da execução de uma placa alveolar de maior 
comprimento que, logo após colocada, veio a ruir.
Porém, apesar do problema de desaprumo dos pilares, 
havia ainda outro detalhe a ser observado. Assim como no 
caso da laje alveolar ruída em Nova York, a placa alveolar de 
Maringá também apresentava um recorte em seu extremo, 
objetivando eliminar uma interferência de contato com o pi-
lar. O recorte era relativamente elevado e, eventualmente, po-
deria ter estimulado a rotação da laje durante sua montagem.
miolo-buriti4.indd 112miolo-buriti4.indd 112 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
113
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Através de marcas encontradas na viga de apoio da laje, 
provavelmente pela ação do pé de cabra de um dos operá-
rios, bem como marcas em pilares decorrentes do impacto 
durante a queda da placa, foi possível visualizar o modo de 
colapso, levando em conta também a forma do acúmulo de 
entulhos na base da edificação.
O caso acabou se tornando público e, em outu-
bro de 2019, o laudo pericial produzido pelo Instituto de 
Criminalística foi apresentado à imprensa, apontando como 
causa principal do colapso a maneira como a estrutura pré-
-moldada vinha sendo montada. Apesar de não concordar 
globalmente com o documento, sem dúvida, era um tra-
balho bastante completo e eu tinha concordância quanto à 
causa principal do colapso, de maneira que passei a focar 
mais nos aspectos de como reconstruir a parte afetada, de-
volvendo, assim, a segurança necessária para a edificação.
Em função do acidente ocorrido em Maringá, bem 
como das características semelhantes observadas em outros 
acidentes com lajes alveolares, acabei elaborando uma sé-
rie de recomendações, uma vez que a utilização desse tipo 
de elemento deverá aumentar significativamente no Brasil 
nos próximos anos. As recomendações, objetivando evitar a 
ocorrência de novos acidentes, são as seguintes:
• Esperar ao menos 7 dias para mandar as lajes alveo-
lares para uma obra, de maneira que o concreto pos-
sa desenvolver em fábrica melhor cura, resistência à 
compressão, resistência à tração e, principalmente, 
melhor aderência. Essa medida é estabelecida tendo-
-se em vista que, nem sempre, o ensaio de resistência 
à compressão representa a real qualidade do concreto 
miolo-buriti4.indd 113miolo-buriti4.indd 113 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
114
Rafa Souza
utilizado nas lajes alveolares e que um ciclo muito rá-
pido potencializa o surgimento de fissuras indesejá-
veis e nem sempre fáceis de identificar. Um tempo de 
armazenamento maior possibilitará maior controle 
na observação de efeitos como escorregamentos de 
armadura, perda de contraflecha, surgimento de fis-
suras, entre outros, dando maior segurança a todos 
os envolvidos no processo;
• Evitar pisar nas cordoalhas, na frente do equipamen-
to, durante o processo de moldagem das lajes alveo-
lares. A vibração causada pode afastar o concreto da 
interface com as cordoalhas, prejudicando, assim, a 
aderência e provocando o lascamento do concreto na 
região de envolvimento com as cordoalhas;
• A liberação das lajes alveolares para montagem só 
deverá ser feita após um profissional responsável 
analisar cuidadosamente peça a peça, rejeitando au-
tomaticamente aquelas peças que apresentarem fissu-
ração, deslizamento de armadura ativa, lascamento de 
concreto em regiões de apoio, cordoalhas expostas ou 
cordoalhas sem o devido concreto de envolvimento;
• Evitar a utilização de cordoalhas com carepas de 
corrosão, óleos, graxas ou lubrificantes, uma vez 
que estas podem prejudicar a aderência, funda-
mental na ancoragem. De preferência, deverão ser 
adotados procedimentos específicos para limpeza 
das cordoalhas, preferencialmente seguindo o con-
tido no REPORT 621 da NCHRP (2008), intitulado 
“Acceptance Tests for Surface Characteristics of Steel 
Strands in Prestressed Concrete”;
miolo-buriti4.indd 114miolo-buriti4.indd 114 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
115
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
• Deve-se reforçar obrigatoriamente as peças sujeitas 
a recortes, através de preenchimento dos alvéolos na 
região de apoio. Uma vez que peças recortadas estão 
sujeitas a ações combinadas de cisalhamento decor-
rentes de força cortante e momento de torção, deve-se 
ter concreto suficiente para absorver essas tensões. 
Como se sabe, em lajes alveolares, toda a resistência 
ao cisalhamento depende da resistência à tração do 
concreto, de maneira que essa medida simples evitará 
problemas de ruptura frágil junto aos apoios;
• Quando não for possível efetuar o grauteamento dos 
alvéolos, será sempre melhor posicionar um consolo 
ou uma chapa metálica por debaixo da placa alveo-
lar, de maneira a aumentar preventivamente a área 
de contato. Tal ação evitará reduções de capacidade 
geradas por cortes inadequados, que podem resultar 
no desconfinamento da cordoalha ou lascamento do 
concreto das bordas;
• Dar preferência aos recortes em concreto seco ao 
invés de efetuar os recortes em pista ainda com o 
concreto fresco. O corte em concreto fresco induz a 
translação da seção de corte para a face da nervura 
mais próxima, a fim de que o concreto ainda fresco 
da parte superior não caia. Essa alteração acaba des-
confinando a cordoalha, fazendo com que se tenha 
um concreto quebradiço e armadura ativa exposta;
• Conferir em campo, de maneira severa, o compri-
mento efetivo de apoio das lajes sobre os apoios, de-
vendo obrigatoriamente a zona apoiada ser igual ou 
superior àquela recomendada em projeto estrutural;
miolo-buriti4.indd 115miolo-buriti4.indd 115 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
116
Rafa Souza
• Observar atentamente se as lajes instaladas não foram 
danificadas em campo devido aos procedimentos de 
alinhamento. Essa conferência consiste em identifi-
car concreto rompido junto aos apoios, presença de 
fissuras, armaduras expostas, nervuras rompidas ou 
qualquer outro sinal que remeta à dúvida quanto à 
resistência do elemento estrutural;
• Proibir a alavancagem das lajes alveolares de maneira 
que esta se desloque ao longo do seu comprimento. As 
alavancagens só serão permitidas pelas faces laterais. 
Caso seja necessária a movimentação ao longo do com-
primento, devido ao mal posicionamento da placa, esta 
deverá ser feita via caminhão munck ou guindaste. Essa 
ação preventiva evita a danificação intencional da face 
inferior do alvéolo, visando alcançar a viga de apoio 
para servir de alavanca na movimentação da laje;
• Verificar se na ponta das lajes não há cordoalhas ex-
postas em virtude da quebra do concreto durante a 
instalação (impacto) ou em virtude dos procedimen-
tos de alinhamento (remagem);
• Verificar se houve o escorregamento das cordoalhas, 
isto é, se as cordoalhas estão para dentro em relação 
à face de corte. O máximo escorregamento tolerável 
deverá ser inferior a 0,2 mm;
• Nunca deixar mais do que dois pavimentos para trás 
do que está sendo feito, sem o devido capeamento 
das lajes alveolares. No caso de eventual queda de laje 
alveolar em processo de montagem, as lajesjá con-
cretadas podem servir de barreira, evitando, assim, o 
colapso progressivo;
miolo-buriti4.indd 116miolo-buriti4.indd 116 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
117
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
• Para edifícios altos, deve-se evitar ao máximo o desa-
prumo dos pilares, uma vez que o deslocamento des-
tes poderá implicar em zonas de apoio reduzidas para 
as lajes. Preferencialmente, devem ser utilizados sis-
temas estruturais com vigas de travamento nos dois 
sentidos ortogonais dos pilares de grandes alturas, a 
fim de minimizar o efeito do desaprumo;
• Sempre ter um profissional da própria empresa aten-
to ao isolamento da área, não deixando pessoas tra-
fegarem por debaixo das regiões de montagem. Esse 
profissional deverá circular pela edificação e deverá 
se comunicar via rádio com o operador de guindaste. 
A instalação das lajes alveolares só poderá ser feita a 
cada sinal de comando do inspetor de campo, indi-
cando que a região de montagem se encontra devida-
mente isolada e sem pessoas circulando.
Nesse mês de julho, enquanto dividia meu tempo 
entre investigações em lajes alveolares e reforço de es-
truturas pré-moldadas, sem falar de Brasília que não saía 
do meu pensamento, recebi um telefonema da Dani, no 
início da noite, que me fez estremecer as pernas e palpitar 
o coração.
“Rafa, roubaram o carro. Roubaram o carro. O cara ti-
nha uma faca gigante. Os meninos estão bem. Os meninos 
estão bem”, disse a Dani em meio a choro e nervosismo.
Tendo um carro só, que agora havia sido roubado, pe-
guei um Uber e saí imediatamente. Imagine você queren-
do chegar logo à sua família, e você ter que ir ali, tentando 
manter a calma dentro de um Uber.
miolo-buriti4.indd 117miolo-buriti4.indd 117 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
118
Rafa Souza
Finalmente cheguei e constatei que todos estavam bem. 
Meus filhos estavam pálidos de medo: “Pai, eles tinham uma 
faca gigante”. Era um casal. O homem se aproximou pela 
frente e a mulher veio por trás, encurralando minha família 
quando saíram do carro.
Como minha mulher não tinha dinheiro para oferecer, 
o casal resolveu levar o carro e saiu em disparada, enquan-
to minha família era amparada no Centro Português. Para 
nossa sorte, durante a fuga, bateram em um outro carro e 
continuaram em frente. Um motoqueiro, vendo a situação, 
achou estranho e seguiu os assaltantes, simultaneamente 
orientando a polícia acerca da rota. 
Em meia hora do ocorrido, a polícia recuperou o carro 
na famosa Vilinha em Maringá, onde as peças seriam troca-
das por crack, droga maldita. Prenderam o casal, na verdade 
tia e sobrinho, e o rapaz portava elegantemente uma torno-
zeleira eletrônica.
Enquanto andava naquele Uber, naquela eternidade 
angustiante até chegar à minha família, ia refletindo sobre a 
fragilidade da vida. Tentava manter a calma respondendo a 
comentários sobre o clima por parte do insensível motoris-
ta, que não acelerava. Refletia sobre a selvageria do país em 
que vivemos e que o passo para o outro lado é, às vezes, fácil, 
imprevisível e repentino.
Naqueles momentos de tensão, não mais me interessa-
vam Brasília, Triunfo e Maringá. Tudo o que me importava 
eram apenas Dani, Gabriel e Tiago. Não havia nada mais 
importante e valioso. 
Não estaria eu ficando muito distante da minha fa-
mília, mergulhado em tanto trabalho? Se eu não fosse tão 
miolo-buriti4.indd 118miolo-buriti4.indd 118 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
119
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
atarefado, será que teriam passado por esse pesadelo? Valia 
mesmo a pena tanta imersão no mundo profissional, sacri-
ficando a família?
Felizmente, estavam todos bem e agora começaríamos 
uma via crucis de reconhecimento em delegacia de polícia 
e audiências posteriores em fóruns. A parte burocrática era 
chata, necessária e exequível. 
Porém, como lidar agora com o trauma deixado nos 
meus pequenos, ameaçados por aquela enorme faca de co-
zinha, que já havia sido penetrada em um flanelinha? Como 
tirar deles o medo de andar nas ruas? Como tirar deles o jul-
gamento das pessoas em função de seus trejeitos? O melhor 
caminho que encontramos foi aumentar a intensidade no jiu-
-jitsu. E, em pouco tempo, essa seria uma ferramenta muito 
valiosa para reencontrarem a paz e acalmarem os fantasmas.
Havia trabalhado arduamente naquele mês de julho de 
2019 e as emoções que havia experimentado tinham eleva-
do demais meus batimentos cardíacos. Não bastasse a pres-
são de Brasília, Triunfo e Maringá, o assalto, ainda tinha o 
fechamento de disciplina na universidade. Final de semestre 
em período universitário é uma das fases mais detestáveis 
da carreira acadêmica. 
Os alunos aparecem em minha sala para tentar aumen-
tar as notas de provas, no grito, de maneira a tentar fugir do 
temível exame. Às vezes, é um jogo psicológico tão intenso 
quanto complexos desafios profissionais. Não é nada fácil 
ver os alunos chorarem, especialmente quando as lágrimas 
não são de crocodilo.
Resolvi, então, aproveitar um curso de protensão que 
daria em Florianópolis, e levei minha família comigo para 
miolo-buriti4.indd 119miolo-buriti4.indd 119 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
120
Rafa Souza
o litoral de Santa Catarina. Era preciso aliviar a mente após 
tanta tensão e observar o mar era uma maneira zen de esva-
ziar a mente. Minha família precisava. Eu, também.
miolo-buriti4.indd 120miolo-buriti4.indd 120 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
121
Angústias de Projeto
"A coisa mais linda que podemos experimentar é o mistério. É 
a fonte de toda arte e toda ciência."
Albert Einstein
Aquela laje alveolar ruída não tinha desabado em um lu-gar qualquer. Na mesma propriedade, em 2009, havia 
ali projetado as minhas primeiras lajes lisas em concreto 
protendido. Esse tipo de laje se apoia diretamente sobre os 
pilares, sem a utilização de vigas, e a temível punção é sem-
pre uma preocupação muito grande.
Me lembro de que esse foi meu primeiro projeto uti-
lizando protensão e, naturalmente, apesar de muita con-
fiança, o passageiro oculto mental sempre aparecia para me 
colocar aquele medo habitual. A edificação era um prédio 
de cinco pavimentos, com lajes de 25 cm de altura e pilares 
espaçados a cada 6,0 metros. A geometria em planta era ir-
regular, com um aspecto escalonado na forma de degrau. 
Consegui esse projeto com um ex-professor, meu ami-
go, João de Miranda, que, por sinal, também regularizou as 
primeiras construções da chácara de meu pai. João é um 
engenheiro muito experiente e já se envolveu em grandes 
miolo-buriti4.indd 121miolo-buriti4.indd 121 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
122
Rafa Souza
projetos estruturais envolvendo protensão. Acompanhado 
dele, fui ganhando confiança em projetar, conforme discu-
tíamos os detalhes desse projeto.
Mais tarde, em 2013, inspirado por uma viagem a 
Dubai, meu amigo, João, me chamou para uma empreitada 
ainda mais ousada, também nesse mesmo local. Dessa vez, 
utilizando lajes nervuradas protendidas de 40 cm de altura 
e pilares espaçados a cada 12,0 m, em um prédio de 9 pavi-
mentos. Esse projeto tinha uma peculiaridade novamente 
envolvendo punção, explicada a seguir.
Apesar de disponibilizar maciços com 40 cm de espessu-
ra em torno dos pilares, eu e João achamos por bem adicionar 
uma protensão adicional nas regiões maciças, uma vez que, 
junto aos pilares de 40 cm x 200 cm, teríamos 5 aberturas de 
12 cm x 12 cm em cada face do maior lado dos pilares. 
A presença de aberturas levava a uma redução de 25% 
no perímetro crítico em torno do pilar, bem como a uma re-
dução em torno de 38% no perímetro crítico situado a duas 
vezes a altura da laje, em relação à face do pilar. Além disso, 
a norma brasileira não tinha muitas orientações, na época, 
de como fazer isso, tampouco as normas internacionais.
Efetuamos alguns procedimentos analíticos, proten-
demos a região maciça com cabosadicionais entre as ner-
vuras que chegavam ali e colocamos uma generosa taxa de 
armadura negativa e positiva na cabeça dos pilares, visando 
garantir a segurança da edificação.
Apesar de a Matemática demonstrar que as tensões de 
cisalhamento estavam abaixo dos limites normativos, devo 
confessar que, durante anos, tive pesadelos com as regiões 
de apoio, em função dos furos ali existentes. 
miolo-buriti4.indd 122miolo-buriti4.indd 122 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
123
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Enquanto dirigia para Santa Catarina, ia me lembran-
do na estrada do momento em que recebi a notícia de que 
uma laje havia caído no mesmo local onde há obras que eu 
havia projetado. Fiquei congelado, até rapidamente consta-
tar que o acidente não estava relacionado com nenhum des-
ses projetos ousados.
Me intrigava, assim, com as conexões malucas e as 
coincidências infelizes que, às vezes, a vida nos propor-
ciona. Pensava nos sonhos e nos seus significados. Seriam 
coincidências ou premonições? Às vezes, parecia que a 
vida repetia um sonho bom. Outras vezes, parecia que 
eram os pesadelos que eram materializados. Será que so-
mos nós que atraímos isso tudo? Qual a explicação para 
essas inúmeras coincidências?
Já o medo de calcular estruturas acredito que sempre 
vai existir, especialmente quando fazemos algo diferente, 
que fuja do convencional. Deve ser igual ao artista que sobe 
ao palco, com a adrenalina a mil, e só se acalma após o su-
cesso dos primeiros acordes e as palmas da multidão. Nós, 
engenheiros estruturais, só nos acalmamos quando vemos a 
obra pronta e em utilização. E, muitas vezes, sequer subimos 
nelas prontas e acabadas.
Me lembro de uma escada que calculei para um centro 
de eventos em Maringá, hoje considerado um dos maiores do 
Paraná. Nesse projeto existiam 3 vigas protendidas de 15 m, 
que se tornaram fáceis frente ao desafio de calcular uma escada 
helicoidal com patamar intermediário. 
Calculei a escada por cinco métodos diferentes e, após 
ir à obra e conferir as armaduras numa sexta, acordei na 
manhãzinha de sábado e calculei tudo novamente do zero, 
miolo-buriti4.indd 123miolo-buriti4.indd 123 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
124
Rafa Souza
sem olhar nos rascunhos anteriores. Felizmente, as novas 
armaduras batiam com as encaminhadas para a obra e, as-
sim, pude ter certeza de que ela poderia ser concretada na 
segunda. A verdade é que só fiquei tranquilo depois de subir 
nela pronta e constatar que não vibrava. Me acalmei ainda 
mais após vários eventos e ela lá, trabalhando perfeitamente 
com cargas elevadas.
Por essas e outras passagens, refleti que o único jeito 
de eu não sentir medo seria apenas dar aulas. Mas daí, pi-
pocavam as seguintes inquietações: Como posso dar aula 
de uma coisa que não estou praticando? Como me manter 
atualizado sem a prática? Sempre acreditei que para ensinar 
é preciso fazer. 
Não queria ser um professor que falasse de problemas 
que nunca tinha enfrentado na prática. Queria ser um pro-
fessor que tinha encarado desafios e vencido. Minhas aulas 
deveriam ser fonte de inspiração para meus alunos. Teoria 
e prática em harmonia. Meu objetivo era quebrar aquela 
frase clássica de Bernard Shaw: “those who can, do; those 
who can't, teach". Aqui no Brasil ela tem uma outra versão: 
“Você só dá aula ou você também trabalha?”
Concluí que precisava da emoção e da experiência. É 
isso que me dava vida, que me dava orgulho, ajudando pes-
soas e produzindo histórias para contar. Já não tinha sido 
o rock star que havia sonhado ser e também já estava velho 
para viver das artes marciais. Mas, como engenheiro, po-
deria ir até o final da vida, com emoção. Sem o medo, não 
existiria essa história. Sem a emoção não existiria a necessi-
dade de compartilhar. Existiriam apenas sonhos frustrados 
a relativizar, num futuro que sempre chega muito rápido. 
miolo-buriti4.indd 124miolo-buriti4.indd 124 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
125
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
E o mais incrível que percebi nessa minha jornada de en-
genharia é que, nela, tenho misturado conceitos que muitas 
vezes aprendi na música e nas artes marciais. Me parece que 
por mais que tente dissociar as coisas, a realidade é, na verda-
de, sempre holística, com um campo do conhecimento sem-
pre interferindo e complementando outro. Para ver isso, basta 
estar sensível e estar sempre atento, tentando fazer analogias.
Como compositor, digo que o combustível para que 
uma canção possa ser criada é normalmente uma centelha 
de ideia que, por algum motivo, desperta uma certa aten-
ção. Essa atenção despertada provavelmente tem origem em 
algum processo inconsciente registrado em nossa memória 
ou em alguma outra viagem qualquer que, também, não im-
porta nesse momento. 
O que importa é que você foi tocado pelo mágico frag-
mento e quer transformar esse pequeno choque em um 
grande raio. Pode ser um fragmento harmônico ouvido 
no trânsito ou até mesmo uma palavra forte que aparece 
no meio de um sonho no meio da madrugada. Tendo-se o 
mote inspirador, segue-se então um processo árduo, artesa-
nal, intenso, de tentativa e erro, para combinar da melhor 
maneira possível letra e música. 
Pouquíssimas canções me saíram plenas e maduras em 
15 minutos. O processo, por vezes, é um verdadeiro parto e, 
até que possa nascer uma nova canção, normalmente levo 
semanas gestando as ideias. Por outro lado, também já sofri 
com canções que só foram terminadas após décadas e, ainda 
assim, revelam uma áurea de incompletude. 
Há ideias que demoram a florir, que precisam ser tra-
balhadas com mais afinco, com mais racionalidade e uma 
miolo-buriti4.indd 125miolo-buriti4.indd 125 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
126
Rafa Souza
benção de inspiração que é normalmente dependente da 
generosidade dos deuses. Outras ideias já parecem estar 
prontas, flutuando no ar e aguardando a inspiração para so-
mente psicografá-las.
Tempos atrás, elaborando um complicado projeto es-
trutural, percebi que o processo de conceber uma estrutura 
é muito semelhante àquele processo que utilizo para com-
por uma canção. Intuitivamente, você tem que ir lançando 
vigas, pilares e lajes. Esses são os acordes da canção-cons-
trução que, quando bem lançados pela técnica ou ilumina-
dos por profunda inspiração, suas disposições produzem 
obras maravilhosas.
Os acordes são os mesmos para todos os músicos assim 
como os elementos estruturais são os mesmos para todos 
os engenheiros de estruturas. Porém, a maneira como essas 
peças do quebra-cabeça são lançadas e combinadas é que 
diferencia o artista inspirado do profissional convencional.
Meu sentimento é que é possível ser um grande artista 
trabalhando com estruturas. E, depois de ler os escritos de 
Eduardo Torroja (‘Razón y ser de los Tipos Estructurales”), 
tive ainda mais certeza de que estruturas é, sem dúvida, um 
campo que mistura artes e ciência, engenharia e inspiração. 
Coisa de artista, sempre conectado com as novas tendências, 
mas também sempre de olho nas pérolas do passado.
O segredo está em como é conduzido o processo, no 
desenvolvimento do background necessário e, acima de 
tudo, no intuir, no fazer, no sentir, no avaliar e no apreender. 
Pode ser uma casa ou pode ser uma grande torre. A maneira 
como você combina os seus elementos estruturais é que vai 
estabelecer se você está fazendo arte ou não. 
miolo-buriti4.indd 126miolo-buriti4.indd 126 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
127
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
O engenheiro de estruturas é um escultor. É um artista 
que, quase sempre, passa despercebido, pois, na maior par-
te do tempo, sua arte fica intencionalmente escondida no 
interior da arquitetura. Moldando o concreto como barro, 
o engenheiro-artista vai produzindo artesanalmente as suas 
obras, orgulhando-se do seu trabalho especializado e, porvezes, solitário. 
Das artes marciais, aprendi a coragem para a exposi-
ção das minhas obras. Você estudou, se dedicou e criou as 
suas estruturas. Agora precisa ter a coragem de liberar suas 
pequenas maravilhas para a agressividade do mundo. Você 
precisa liberar suas obras para encarar a mão de obra ruim, 
a falta de manutenção dos proprietários, os materiais defei-
tuosos e as mais diversas ações da natureza. É preciso estar 
preparado para socorrê-las num eventual aperto. 
Ainda, com as artes marciais e, mais especificamente, 
por meio do jiu-jitsu brasileiro, aprendi a refinar o princí-
pio da eficiência, isto é, procurar sempre obter o máximo 
de potência com o mínimo de esforço, sempre a partir da 
aplicação da técnica correta. 
E, assim, como num ato de revelação divina, descobri a 
minha tríade sagrada para o alinhamento entre corpo, men-
te e espírito. Se minha mente se ocupa da engenharia na 
maior parte do tempo, meu corpo encontra porto seguro no 
jiu-jitsu, enquanto meu espírito se eleva pela música. 
Tem funcionado bem, mesmo que, às vezes, tenha a es-
tranha sensação da louca coexistência de três personalidades 
em um único ser. Foi difícil aceitar. Não fosse minha capaci-
dade de tentar alinhar todas elas, certamente já teria batido 
pino. Às vezes, aceitar a loucura é o que te torna normal.
miolo-buriti4.indd 127miolo-buriti4.indd 127 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
miolo-buriti4.indd 128miolo-buriti4.indd 128 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
129
Acima das Nuvens
“As pessoas não são lembradas pelo número de vezes que fra-
cassam, mas sim pelo número de vezes que têm sucesso.” 
Thomas Edison
Chegamos em Itapema e nos instalamos em um belo resort, de frente para o mar. Era necessária essa pau-
sa para acalmar a alma e refletir sobre tantos aconteci-
mentos simultâneos em um ano atípico. Trazia comigo o 
pensamento em meu pai e sua árdua batalha. Mas, com 
ele reagindo bem ao tratamento, eu poderia me ausentar 
durante alguns dias.
Eu, Dani, Gabriel e Tiago aproveitamos com alegria 
aqueles dias de sol, curtindo em família cada minuto que 
nos era propiciado. Eu sabia que andava trancado demais 
na minha garagem-escritório nos últimos meses e, certa-
mente, estava devendo a minha presença. Abatia-se sobre 
mim a culpa pelo assalto que sofreram. A ausência de mi-
nha presença. Expliquei para meus filhos pequenos que 
meu ofício estava possibilitando aquele momento mágico 
e pedi paciência para eles até que eu pudesse encerrar to-
dos esses trabalhos complicados.
miolo-buriti4.indd 129miolo-buriti4.indd 129 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
130
Rafa Souza
Após dias de paz com minha família, segui sozinho 
para Florianópolis, onde daria um curso de protensão, em 
um hotel, às margens da ponte Hercílio Luz. Minhas aulas 
aconteceriam no sábado o dia todo e aproveitei a oportu-
nidade para assistir a uma apresentação de uma empresa 
desenvolvedora de softwares na sexta-feira à noite. Após a 
aula, o pessoal combinou de jantar e seguimos com os ami-
gos recém-conhecidos para um restaurante.
Nas conversas de mesa, um colega muito bacana co-
mentava que tinha acabado de chegar de Toledo, onde ti-
nha ido visitar uma obra cujo projeto estrutural era seu. 
Ele era de Itapema, mas tinha ido até o Paraná para ver 
essa obra e agora estava ali para, no outro dia, assistir ao 
meu curso de protensão.
Me espantei e perguntei para ele como tinha consegui-
do um prédio no Paraná; afinal de contas, ele era de Santa 
Catarina. Ele me respondeu com bastante elegância que tinha 
bons contatos e que, por isso, tinha conseguido aquela obra. 
Daí, nesse momento, outro colega, organizador do cur-
so, exclamou que o Cachoeira era muito humilde e, que, na 
verdade, ele também era um dos calculistas do maior prédio 
em construção no Brasil, situado em Balneário Camboriú, 
com 81 andares e 275 metros de altura.
Senti-me envergonhado pela pergunta que havia feito 
em relação ao prédio de Toledo, mas na sequência me senti 
mais confortável, quando ele perguntou se eu também tinha 
vindo para a aula de protendido. 
Quando respondi que eu seria o professor, demos 
longas gargalhadas e senti o tamanho da pressão que teria 
no dia seguinte. Dar uma aula de protendido tendo como 
miolo-buriti4.indd 130miolo-buriti4.indd 130 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
131
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
aluno um dos calculistas do maior prédio do Brasil seria, 
certamente, outro momento singular em minha carreira.
No outro dia acordei cedinho e parti, animado, para a 
aula que teria o dia todo pela frente. Lá estavam ao menos 
20 engenheiros ávidos por aprender protensão, incluindo-
-se, aí, o engenheiro Cachoeira, que viria a se tornar um 
grande colega, recebendo-me várias vezes em Itapema. 
Eliomar Cachoeira, esse engenheiro de coração gigan-
tesco, ainda me mandaria algumas pranchas dos projetos 
e me levaria às suas torres para que eu pudesse conhecer, 
de perto, os detalhes de armação e execução das maiores 
torres brasileiras. Me indicaria, ainda, para um reforço de 
bloco de fundação com barras Diwidag, que viria a efe-
tuar em Itapema, no final do ano, e ainda me convidaria 
para o cálculo das fundações da roda gigante de Balneário 
Camboriú, em relação à qual, infelizmente, acabamos per-
dendo a concorrência. 
Senti-me um privilegiado e agradeci a Deus por ta-
manha sorte, por ter a possibilidade de conhecer pessoas 
tão competentes e do bem. Mesmo estando no interior do 
Paraná, já tinha trabalhado com inúmeros engenheiros. 
Muitos se inspiram em Pelé. Eu me inspiro em Dicá. No in-
terior, em um time pequeno, exercendo com maestria sua 
arte, longe dos holofotes.
Aquele sábado em Florianópolis foi um dia espetacu-
lar, de ensino e aprendizado. Contei minhas histórias com 
protensão, mostrando meus cálculos, e ouvi as histórias 
dos presentes. Foi um momento muito especial na minha 
carreira, pois acredito que ali tenha tido a minha melhor 
turma ao longo de quase 20 anos de docência. Pena que 
miolo-buriti4.indd 131miolo-buriti4.indd 131 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
132
Rafa Souza
a experiência tenha durado apenas um único dia. Porém, 
desse único dia, carrego até hoje amizades com inúmeros 
engenheiros do Sul do Brasil.
De volta para Itapema, no sábado à noite, encontrei 
com alegria minha família e liguei para meus pais para con-
tar as novidades e alegrá-los com a notícia de que tínhamos 
ficado em um mesmo resort que eles tinham conhecido no 
passado. Era bom falar com meus pais e, de súbito, veio uma 
frase bela que diz que filhos precisam ter asas e raízes. 
No domingo pela manhã, teríamos 650 km até Maringá, 
um dia todo de viagem. A rotina voltaria àquela mesma in-
tensidade, mas, aquele final de semana mágico tinha fun-
cionado como um potente alternador, capaz de recarregar a 
minha bateria de entusiasmo. 
miolo-buriti4.indd 132miolo-buriti4.indd 132 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
133
Buscando Apoio
“É preciso ter dúvidas. Só os estúpidos têm uma confiança ab-
soluta em si mesmos.”
Orson Welles
Quando entramos em agosto de 2019, Triunfo seguia em execução, Brasília tinha contratado uma empresa 
para monitoramento das lajes de cobertura e, em Maringá, 
já estudávamos o que fazer com o prédio pré-moldado de 
cinco pavimentos.
Logo no começo do mês, recebi uma ligação do enge-
nheiro que estava comandando os novos monitoramentos 
em Brasília. Ele estava bastante assustado com as condições 
da edificação e passou a ficar ainda mais inquieto a partir 
dos resultados que vinha colhendo.
À medida que os resultados iam sendo obtidos e anali-
sados, decidi que precisava novamente emitir um alerta em 
relação às condições da edificação e foi isso que fiz naquele 
começo de mês, com a emissão de um novo ofício:
Considerando que, em conversa informal com o Eng. FGC 
(responsável pelo monitoramento), observou-se no dia 07/08/2019 
miolo-buriti4.indd133miolo-buriti4.indd 133 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
134
Rafa Souza
desalinhamento da alma da viga VS33, possivelmente indicando 
início de processo de instabilidade por torção do perfil de reforço;
Considerando que, na prática, o reforço funciona como uma 
seção mista invertida, com perfis metálicos trabalhando compri-
midos e nervuras trabalhando tracionadas e que os perfis, por si 
só, não seriam capazes de suspender todo o carregamento;
Considerando que, ao introduzir os perfis metálicos o 
encaminhamento das cargas foi provavelmente modificado 
de bidirecional para unidirecional, gerando solicitações dife-
renciadas sobre os consolos de extremidade, que por sua vez 
sustentam também os tirantes de uma laje de piso que foi mo-
dificada em relação ao projeto estrutural original;
Considerando que janelas recentes executadas na face su-
perior da laje L2 não indicaram a presença das armaduras 
negativas dos consolos que ali deveriam se encontrar confor-
me o projeto estrutural;
Vimos através desta, mais uma vez, recomendar que a 
edificação não seja mais aberta para pessoal antes do devido 
escoramento, que, por sua vez, deve ser efetuado desde o nível 
mais baixo da edificação, passando pela laje suspensa. 
Alertamos ainda que, em função dos inúmeros sinais 
emitidos pela estrutura ao longo do tempo, bem como, através 
da avaliação dos resultados mais recentes de monitoramento 
emitidos pela empresa responsável, há grande possibilidade de 
ruína localizada na região das vigas VS33 e VS35, de maneira 
que cuidados redobrados devem ser tomados ao se intervir na 
estrutura (escoramento, reforço ou demolição).
O histórico dos fatos demonstra claramente que a estrutura 
vem sempre trabalhando ao longo do tempo em uma região de 
segurança muito aquém da região de segurança recomendada 
miolo-buriti4.indd 134miolo-buriti4.indd 134 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
135
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
pelos códigos normativos e, por esse motivo, deve ser imediata-
mente escorada até que uma solução definitiva seja tomada. 
Para todos os fins, com base nos diversos estudos realizados 
e com base nos dados mais recentes, alertamos que já não é 
mais possível ter certezas sobre a segurança da edificação na re-
gião referida, sendo que a mesma pode apresentar um colapso 
localizado e, consequentemente, em cadeia, em vista da presen-
ça de uma laje atirantada ao pavimento, com sérios problemas. 
A estrutura encontra-se nitidamente trabalhando em 
regime plástico, de maneira que já não é mais possível ob-
ter garantias de segurança na região central entre as vigas 
VS33 e VS35. Apesar de serem possíveis redistribuições de 
tensões em vista da grelha original, tal quantificação é de di-
fícil determinação, o que leva à necessidade de uma postura 
extremamente cautelosa em relação às possíveis reservas de 
resistência que ainda há na região.
Por nos sentirmos também responsáveis pela segurança 
da edificação e dos eventuais usuários que necessitem aces-
sar a edificação, nos sentimos no dever de alertar sobre a 
grande possibilidade de ruína, tendo-se em vista os últimos 
resultados obtidos. 
Os últimos resultados de monitoramento demonstraram um 
processo de fadiga correlacionado a efeitos de temperatura e a 
rigidez (falta) da estrutura pode, ainda, estar sendo afetada por 
cargas de trânsito. Coincidentemente, as deformações são má-
ximas no horário de pico de trânsito, que, por sua vez, também 
coincidem com o pico de temperatura. Apesar de o resultado ser 
preliminar, novos monitoramentos utilizando acelerômetros po-
derão demonstrar se realmente há alguma correlação entre as 
deformações máximas e o período de pico de trânsito.
miolo-buriti4.indd 135miolo-buriti4.indd 135 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
136
Rafa Souza
Sem mais para o momento e, na convicção de que nos ma-
nifestamos em tempo hábil para a preservação da segurança de 
todos os envolvidos, ficamos à disposição para a apresentação 
de eventuais esclarecimentos.
Sabia que a notícia não seria bem-recebida em Brasília, 
porém, tinha comigo que estaria protegendo a vida do pe-
rito judicial e de sua equipe, bem como de qualquer pessoa 
que eventualmente precisasse entrar naquela edificação. 
Alguns dias mais tarde, após emitir esse ofício, o perito 
me ligou pedindo ajuda em relação a profissionais que pode-
riam auxiliá-lo naquela lide, na ação judicial que corria em pa-
ralelo ao meu trabalho. Indiquei então meus grandes amigos 
professores doutores da Unicamp, Leandro Trautwein e Luiz 
Carlos Almeida. Eles acabaram sendo contratados e, após a 
análise de toda a documentação, também concluíram que a 
estrutura realmente se apresentava em estado-limite último.
Eu tinha tanta vontade de resolver o problema de 
Brasília que, em certa ocasião, cheguei a pedir ajuda para 
um profissional que talvez tivesse criatividade suficiente 
para me ajudar com alguma ideia brilhante, difícil de surgir 
nas mentes convencionais. 
Me lembrei da ocasião em que Bruno Contarini apa-
receu paraquedisticamente em minha sala, na universidade 
de Maringá. Por uma dessas felicidades do destino, pude 
conversar com o velho mestre por cerca de trinta minutos 
inesquecíveis. Essa memória foi reforçada ainda mais pela 
leitura de sua biografia, em que pude ler histórias maravi-
lhosas de soluções estruturais para problemas cabulosíssi-
mos. Arrisquei, então, o seguinte e-mail:
miolo-buriti4.indd 136miolo-buriti4.indd 136 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
137
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Prezado Dr. Bruno,
Por felicidade do destino, há treze anos tive o privilégio de 
ver o senhor entrar na minha sala, na Universidade Estadual 
de Maringá, onde pudemos conversar brevemente e o senhor 
mudou definitivamente minha maneira de projetar estruturas. 
Me lembro de ter lhe perguntado sobre o MAC: "Mas como 
analisar os resultados do SAP com aquele monte de informa-
ções, sendo que ele ainda não solta os momentos para a gen-
te?". E o senhor respondeu: "Eu controlo os deslocamentos".  
Sempre conto com entusiasmo para meus alunos de concreto 
armado/protendido essa nossa conversa, religiosamente, há 
mais de 15 anos.
Quem nos apresentou foi a engenheira e arquiteta JKV, 
grande amiga e contemporânea de graduação, que tem um 
carinho enorme por você. Sempre que nos encontramos, seu 
nome é sempre lembrado em nossas conversas. Além dela, te-
mos outros conhecidos em comum, com quem já tive a oportu-
nidade de interagir: Prof. Vasconcelos e José Luiz Varella, entre 
tantos outros engenheiros estruturais nesse Brasil afora.
Dr. Bruno, o que me leva a escrever é porque acredito 
que agora chegou a vez do destino me levar até a sua sala, 
caso o senhor me conceda essa oportunidade. Tenho atuado 
como consultor de uma belíssima obra no Eixo-Monumental 
de Brasília. Trata-se de uma belíssima obra, com vãos de até 
30 m, com lajes nervuradas protendidas de cobertura que sus-
tentam uma laje atirantada de piso. Infelizmente, o calculista 
terceirizou o projeto de protensão e, devido a subdimensiona-
mento e outros problemas, as lajes de cobertura já registraram 
45 cm de flecha, fissuras com 1,0 cm e ruptura de cordoalhas. 
miolo-buriti4.indd 137miolo-buriti4.indd 137 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
138
Rafa Souza
Como tudo estava no nome dele, está enfrentando uma bata-
lha judicial dolorosa.
Executaram um reforço na parte superior com vigas I, porém 
já registramos o escoamento das mesmas e tivemos nessa sema-
na nova ruptura de cordoalhas engraxadas. Monitoramentos 
apontam fadiga da laje e também influência do tráfego de veí-
culos e o medo é a laje ruir a qualquer momento....
Fico triste de ver um colega de profissão, com uma carreira 
tão brilhante, terminar sua trajetória com uma situação des-
sas e tenho procurado uma solução de reforço que seja mais 
econômica do que a demolição. Já pensei em váriassoluções 
para salvar essas lajes e evitar a demolição. Já forneci algumas 
alternativas exequíveis, mas certamente deve existir alguma 
nova ideia no ar, que me permita respeitar as imposições de 
não alterar a fachada devido à obra ser tombada pelo Iphan. 
Se me permite, gostaria de lhe apresentar o problema e ou-
vir a sua opinião, nosso grande mestre da engenharia nacional e 
que já resolveu "pepinos e abacaxis" que poucos foram capazes de 
sequer começar a descascar. Acredito que uma simples conversa 
nossa pode resultar em uma nova ideia e, quem sabe, no futuro, 
possamos registrar esse encontro técnico em um artigo ou livro.
Caso o senhor tenha tempo para eu lhe expor o problema, 
posso ir ao Rio de Janeiro em qualquer dia e horário que o se-
nhor tiver disponibilidade em sua agenda. Acredito que duas a 
três horas do seu tempo já seriam suficientes para entendermos 
o problema e pensar alguma coisa. 
Em relação ao seu tempo posso lhe pagar as horas de con-
sultorias, além, é claro de um almoço para podermos conversar 
de outros temas. Caso essa visita seja possível, gostaria ainda 
de pegar um autógrafo em sua biografia e presenteá-lo com 
miolo-buriti4.indd 138miolo-buriti4.indd 138 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
139
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
o meu livro "Análise e Dimensionamento de Elementos de 
Membrana em Concreto Estrutural". Fico no aguardo de res-
posta e lhe desejo um ótimo final de semana!
Esse e-mail, infelizmente, nunca foi respondido e nunca 
pude conversar com o grande mestre sobre soluções alter-
nativas às minhas na recuperação das lajes de Brasília. Não 
sei se ele chegou a ler, mas também não queria incomodá-lo; 
afinal, já havia descascado incontáveis “pepinos e abacaxis”, 
como ele mesmo diz, ao longo de toda a sua vida. Achei por 
bem deixá-lo em paz e segui meu caminho, solitário.
Com o novo documento emitido para Brasília e conten-
te pelo fato de que o perito judicial tinha agora ao seu lado 
especialistas, ganhei mais um tempo para poder voltar ao 
problema de Maringá. Na ocasião, o laudo pericial da polícia 
científica ainda estava em execução e estávamos procurando 
um jeito de resolver um problema de desaprumo dos pilares.
Foram elaborados diversos modelos computacionais 
para avaliar o desaprumo dos pilares e realizadas diver-
sas reuniões com os responsáveis pelo projeto estrutural 
da edificação. Nas simulações, ficou claro que os esforços 
decorrentes do desaprumo seriam inferiores aos esforços 
considerados nos pilares e que, por esse motivo, os pilares 
apresentavam segurança apesar dos desalinhamentos.
Também foram avaliados outros pontos localizados 
que exigiriam reforço, bem como seriam necessárias vigas 
adicionais de travamento que, por sua vez, teriam a função 
de melhor travar os pilares. De maneira geral, o prédio teria 
condições de ser retomado, mas um cuidadoso processo de 
intervenção deveria ser conduzido.
miolo-buriti4.indd 139miolo-buriti4.indd 139 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
140
Rafa Souza
Já era ponto consensual na equipe de que as pesadas 
placas de fachada deveriam ser eliminadas, de maneira a 
minimizar o desaprumo dos pilares. Mas ainda não estava 
claro se o cliente iria aceitar aquela obra com as intervenções 
propostas, em vista dos transtornos e perdas irreparáveis.
Seguiram-se reuniões muito tensas, justamente no 
prédio em que eu havia calculado aquelas lajes protendidas 
com furos na laje na interface dos pilares. O clima era muito 
pesado e um grande impasse estava nitidamente nascendo. 
Do nosso lado, acreditávamos que seria possível salvar a 
estrutura com as intervenções concebidas. Do outro lado, o 
desejo de desmontar a estrutura e apagar uma triste história. 
Enquanto não se tomava uma decisão, a estrutura continuava 
ali, incompleta, como uma espécie de cachorro raivoso em 
descanso, que todos olhavam de maneira desconfiada. 
As vidas perdidas, da jovem estudante Natália, em 
Maringá, e do jovem trabalhador, Alexandre, em Erechim, 
infelizmente não voltarão. Não temos condições de mudar o 
passado. Mas podemos tentar, ao menos, melhorar o futuro, 
tomando como lição essas árduas experiências e melhoran-
do os procedimentos executivos das estruturas pré-molda-
das com lajes alveolares. 
miolo-buriti4.indd 140miolo-buriti4.indd 140 10/02/2021 21:08:3210/02/2021 21:08:32
141
Inferno
“Tão fiel fui ao glorioso ofício, que perdi o sono e a saúde.”
Dante Alighieri
Em setembro de 2019, as coisas estavam mais paradas. Já não tinha mais tantas notícias de Brasília, Triunfo es-
tava me solicitando pouco, com uma consulta ou outra, e 
Maringá seguia em mistério, com seguidas reuniões entre as 
direções administrativas das partes envolvidas.
Surgiu então, nesse intervalo, uma experiência muito 
interessante, a prestação de um serviço diferenciado para 
uma das maiores indústrias abatedoras de aves do Brasil. 
Com a intenção de substituir um chiller de grandes dimen-
sões por um ainda maior, objetivando aumentar a produção, 
fui contratado para verificar se as lajes alveolares existentes 
no complexo poderiam suportar a referida substituição.
Após efetuar inúmeros cálculos, conclui que tal subs-
tituição não seria possível, tendo-se em vista a falta de ca-
pacidade das vigas laterais de apoio, bem como a presença 
de corrosões em cordoalhas e seccionamento destas em 
algumas placas, em função de aberturas para tubulações 
mal planejadas.
miolo-buriti4.indd 141miolo-buriti4.indd 141 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
142
Rafa Souza
O local que tive de acessar para ver as condições por 
debaixo das lajes alveolares era conhecido no complexo 
industrial como “Inferno”, tendo-se em vista o calor, a es-
curidão e o forte cheiro de esgoto. Existia um enchimento 
de solo por debaixo da laje, ao longo de um longo compri-
mento debaixo do chiller, que tinha pé-direito de apenas 
1,50 m. Assim, tínhamos que explorar o local usando lan-
ternas e andando de cócoras, enquanto pingava água suja 
em nossas cabeças.
O local tinha grandes restrições de trabalho e o chiller 
deveria ser trocado sem atrasos, em dezembro de 2019. A 
empresa iria parar apenas um final de semana para a troca 
do equipamento e qualquer dia a mais de interrupção pro-
duziria prejuízos de milhões de reais.
Em função do pé-direito pequeno existente por debaixo 
das lajes alveolares, elaboramos um projeto que determinava 
a retirada de toda a terra do local, deixando um pé-direito 
mais apropriado para os funcionários efetuarem os procedi-
mentos de manutenção.
Apesar de tirar toda a terra do local e conseguir passar 
o pé-direito arquitetônico de 1,50 m para quase 2,50 m, ain-
da tínhamos um problema com a execução das fundações. 
Como entrar com maquinário por debaixo das lajes alveo-
lares e executar as fundações? A única solução seria o em-
prego de estacas-raiz ou tubulões escavados manualmente.
No entanto, apesar de o solo de Maringá ser reconheci-
damente colapsível e objetivando acelerar o processo cons-
trutivo, ponderamos que uma solução utilizando um radier 
protendido seria aconselhável, desde que fosse feito um tra-
tamento apropriado no solo. 
miolo-buriti4.indd 142miolo-buriti4.indd 142 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
143
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Dessa maneira, antes de executar o radier protendido, 
compactamos firmemente o solo e disponibilizamos uma 
generosa camada de brita, com aproximadamente 50 cm de 
espessura. Na sequência, foi então executado um radier pro-
tendido, com 30 cm de espessura, 3,0 metros de largura e 43 
m de comprimento, sem juntas.
Com o radier executado, construiu-se, então, sobre ele, 
um pórtico metálico que acaba funcionando como uma es-
pécie de escoramento permanente para as lajes alveolares 
originais. A estrutura não pôde ser construída até dezem-
bro, conforme planejado, mas, ainda assim, se constituiu 
como uma solução bastante segura erápida, possibilitando 
a eliminação de prejuízos e aumentando a produção.
Me lembro de que, ao entrar nesse complexo industrial, 
tive que seguir todas as instruções de segurança, objetivando 
não contaminar as aves. Tive que colocar botas, máscara, tou-
ca e macacão, além de ter que lavar as mãos antes de entrar no 
recinto. Tudo higienicamente controlado e monitorado.
O pessoal da higienização trabalhava numa verdadeira 
estufa, com um barulho infernal dos maquinários pesados. 
Ali, sob aquele barulho ensurdecedor e aquele calor dantes-
co, os macacões utilizados eram lavados e descontaminados 
pelos funcionários. 
Antes de descer ao “Inferno”, primeiro precisava enten-
der o que era um chiller e, assim, entrei na planta de produ-
ção. Perambulei pelas alas internas de produção e vi aquele 
sem-fim de pessoas trabalhando como robôs, com suas 
enormes facas afiadas cortando peitos, asas e pernas. 
Já havia visto uma multidão de pessoas do lado de 
fora, chegando e se preparando para substituir o turno 
miolo-buriti4.indd 143miolo-buriti4.indd 143 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
144
Rafa Souza
daqueles que lá dentro estavam. Fiquei sensibilizado com 
tanta gente e suas caras tristes. Minha sensação era seme-
lhante àquela de chegar na Estação da Barra Funda, numa 
segunda-feira logo no começo da manhã, porém, com um 
clima bem mais pesado.
Finalmente, após alguma caminhada, cheguei ao chil-
ler. Ali concluí que se tratava de um enorme tanque de água 
fria com uma rosca giratória em seu interior. Assim, as aves 
abatidas chegavam por uma ponta, ainda quentes, e o para-
fuso as levava mergulhadas até a outra ponta, de onde saíam 
muito frias. Assim, as aves podiam ser cortadas em suas di-
versas partes. Achei que o “Inferno” seria um local pior do 
que aquele, mas pensei que, se fosse obrigado a trabalhar ali, 
o “Inferno” talvez fosse a melhor opção.
Refleti que as pessoas que têm dó dos frangos abati-
dos certamente não conhecem as pessoas que trabalham 
exercendo tal função. Um salário baixíssimo, num ambiente 
altamente tóxico promovido pela amônia utilizada no pro-
cesso e com uma alta taxa de depressão e suicídio. Não eram 
só os frangos que estavam confinados, eram também as pes-
soas. E eu, com minha profissão, tinha contribuído para o 
aumento da produção. 
Nem sempre o resultado de nossa profissão nos dará 
satisfação plena do ponto de vista humano. E assim me en-
tristeci por longas semanas, pensando naquelas aves abati-
das e naquelas pessoas confinadas com suas facas afiadas. 
Porém, paralelo à tristeza, vinham-me doses homeopáti-
cas de alegria; afinal de contas, havia conseguido descarac-
terizar o “Inferno”.
miolo-buriti4.indd 144miolo-buriti4.indd 144 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
145
Ponteiro e Marreta
“A humildade é a única base sólida de todas as virtudes.”
Confúcio
O laudo pericial da polícia científica só viria a sair no meio de outubro de 2019, mas pouco antes, sairia uma 
decisão definitiva em relação ao prédio de Maringá. A obra 
seria totalmente desconstruída.
A estrutura pré-fabricada de 15.000 m2, avaliada em nove 
milhões de reais, começaria a ser desmontada no final de setem-
bro de 2019. Eu acreditava que a obra poderia ser recuperada, 
mas me senti aliviado com o caminho derradeiro. O término 
daquela obra poderia pesar sobre as minhas costas e de outros 
colegas, caso novos problemas viessem a ocorrer no futuro.
Mais uma vez, percebi que a pressa e a pressão foram fa-
tores determinantes em um colapso. Não se faz engenharia de 
excelência nessas condições de contorno. A contratada tinha 
que entregar o prédio a qualquer custo, no prazo determi-
nado e, para isso acontecer, teve que acelerar para não ficar 
sujeita a pesadas multas.
Acidentes de obras em construção como os ocorridos 
em Maringá e Erechim não são exclusividades do Brasil. Em 
miolo-buriti4.indd 145miolo-buriti4.indd 145 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
146
Rafa Souza
outubro de 2019, um mês após a decisão pela desconstrução 
do prédio em Maringá, veio a ruir um prédio em constru-
ção, de uma famosa rede de hotéis em New Orleans, nos 
Estados Unidos. O prédio, que teria 18 andares e era avalia-
do em 18 milhões de dólares, ruiu localizadamente, levando 
a estrutura remanescente a ser implodida.
Esse colapso americano aparentemente mais relaciona-
do com os grandes vãos utilizados e com questões de esco-
ramento, também deixa uma lição importante. A lição de 
que devemos respeitar as leis da natureza, sejam elas fun-
cionais (vãos) ou temporais (velocidade de execução). As 
coisas têm seus limites e períodos para se desenvolverem e, 
normalmente, a natureza e a vida impõem essas condições 
de contorno, independentemente do seu arsenal financeiro.
Aquele era um ano de grande aprendizado e eu já esta-
va na reta final da minha fisioterapia, com os joelhos quase 
fortes para voltar ao jiu-jitsu. Ali, na fisioterapia, encontrei 
um velho conhecido de universidade que, então, solicitou 
minha visita à sua residência, para ver se umas paredes po-
diam ser retiradas numa reforma que ele pretendia fazer.
Dias depois, estava eu na casa de meu colega, muni-
do de meus equipamentos altamente tecnológicos: trena 
eletrônica e pacômetro (identificador de barras). Entrei na 
bela mansão, orgulhoso de minha profissão e de minhas fer-
ramentas digitais, envaidecido pelo meu ofício de investiga-
dor de estruturas. 
Enquanto íamos conversando, eu ia passando o pacô-
metro pelas paredes, na tentativa de achar algum pilar. Não 
apitava. Havia um forro aberto, alcancei uma escada e en-
tendi o sistema estrutural. Não tinha pilares ali e meu colega 
miolo-buriti4.indd 146miolo-buriti4.indd 146 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
147
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
poderia demolir aquelas paredes e ter uma nova sala e uma 
nova cozinha integradas e amplas.
Recebi minha hora técnica, agradeci pela oportunida-
de, saí com o carro e parei em um posto de combustíveis em 
Paiçandu para pegar um energético sabor maçã verde, um dos 
meus preferidos. Enquanto vinha dirigindo pela rodovia, sabo-
reando aquele líquido motivacional, pensava como era bacana 
minha profissão. Uma hora estava em Brasília, outra hora em 
Porto Alegre. Mas estar em Paiçandu também era muito legal.
Ainda nesse caminho de volta, aquele energético me 
fez lembrar de uma perícia que fiz para um colega enge-
nheiro que tinha tido problemas severos com drogas. Ele 
me chamou para ver alguns problemas graves em seu prédio 
e, aparentemente, estava tudo certo com a síndica para a re-
alização da inspeção.
Chegando ao local, percebi que os problemas nos ele-
mentos estruturais da garagem estavam relacionados com 
movimentação de formas e eram meramente estéticos. Não 
havia problemas graves naquele prédio. Perguntei, então, 
para quem deveria emitir a nota fiscal e foi aí que a síndica 
me olhou com cara de espanto: “Não era de graça?”
Respondi que não. Disse que era um profissional sério, 
que estava ali a serviço e que alguém deveria arcar com a 
minha hora técnica. No meio desse impasse, meu colega me 
chamou para ir visitar o apartamento dele, e disse que assu-
miria meus honorários. 
Me despedi da síndica espantada, ainda mais espanta-
do do que ela por causa da situação e subi com meu cole-
ga pelo elevador, já percebendo que o comportamento dele 
não era muito normal. Sabia de seu histórico com drogas, 
miolo-buriti4.indd 147miolo-buriti4.indd 147 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
148
Rafa Souza
mas nunca imaginei que a situação pudesse me levar a ser 
protagonista de um filme do Tarantino.
Ao entrar em seu apartamento, ele me apresentou 
um buraco de bucha na parede, preenchido com pasta de 
dente, e disse que ali era um ponto de preocupação muito 
grande. Me falou que o prédio poderia cair por causa da-
quele buraco. Expliquei para o colega engenheiro que era só 
um buraco simples e que um preenchimento commassa 
corrida seria o suficiente para resolver o problema estético.
Ficamos ali, olhando para aquela parede, indo e voltan-
do inúmeras vezes em relação ao buraco, até que, finalmente, 
consegui que ele se acalmasse e me levasse até a porta para 
sair daquela situação maluca. Percebi o grau de loucura em 
função das drogas e fiquei com muita pena do meu colega, 
um estudante brilhante, que se perdeu no meio do caminho. 
A compulsão que ele tinha para estudar para as provas de 
engenharia, varando noites adentro, foi a mesma que o levou 
a se dedicar aos tóxicos na mesma intensidade.
Assim, ele me perguntou quanto era o valor da visita. 
Dei o valor e ele pediu desconto. Refleti melhor e então lhe 
disse: “Olha só. Me paga um energético e um pão de queijo 
ali no posto da esquina e está tudo certo”. E assim, fiquei no 
filme do Tarantino por mais uns 15 minutos, com as aten-
dentes me olhando espantadas em função da companhia ao 
estranho cliente habitual.
De volta ao presente, os dias foram correndo calmamen-
te; afinal de contas, Brasília seguia sem novidades, Maringá 
estava finalizada e Triunfo seguia com pouquíssimas exi-
gências. Uma semana depois, meu colega de Paiçandu me 
ligou e, para minha surpresa, disse que quebrou as paredes e 
miolo-buriti4.indd 148miolo-buriti4.indd 148 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
149
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
que tinha encontrado três pilares. Disse para ele ficar tran-
quilo, que ia resolver o problema.
Essa obra foi uma das maiores lições trazidas por uma 
edificação. Eu, o engenheiro de Brasília, agora estava com 
um pepino direto para descascar. Tinha que dar um jeito 
de arrancar três pilares de uma mansão e ainda não cobrar 
nada, a fim de preservar a minha reputação.
Ao abrir as paredes, foi possível verificar que os pila-
res tinham um revestimento de massa de cerca de 5 cm, de 
maneira que o identificador de barras não acusou a pre-
sença das ferragens. Ainda, as vigas altas, proporcionais 
aos vãos onde pilares eram visíveis, me induziram ao erro. 
Mas, sem dúvida, meu erro fundamental, nesse caso, foi 
ter apelado para a tecnologia sem um critério mais rígido. 
Certamente, se tivesse utilizado ponteiro e marreta, não 
estaria em tamanha encrenca.
Assim seguiu outubro, com as obras do radier sendo 
executadas e eu tendo que resolver o caso dos pilares em 
Paiçandu diariamente. Foram longos dias até conseguir bolar 
uma solução, mas lá estava ela. Ia reforçar algumas vigas e en-
tão poderia eliminar os pilares. Acontece que havia mais um 
problema: a mão de obra de terceira categoria para o serviço. 
Trabalhavam na obra um pedreiro e seu filho e ambos eram 
especializados em parede e assentamento de piso. Assim, tive 
que me deslocar no mínimo umas 15 vezes até Paiçandu, 
até que todo o processo de reforço estivesse completo.
Já havia retirado pilares de outras edificações e, após 
esse ocorrido, parecia estar virando rotina. Logo no início 
de novembro, um ex-aluno me pediu para ajudá-lo numa 
edificação na qual ele queria arrancar 8 pilares.
miolo-buriti4.indd 149miolo-buriti4.indd 149 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
150
Rafa Souza
Em paralelo a esse trabalho, em novembro de 2019, 
apareceu ainda a avaliação de uma nova estrutura pré-
-moldada, pertencente a um famoso político da cidade, 
ex-ministro da Saúde. Passaria, então, minhas semanas 
desse mês dividido entre aulas, fisioterapia, retirada de no-
vos pilares e visitas insólitas a blocos pré-moldados aban-
donados. O final do mês guardaria uma nova volta para o 
litoral de Santa Catarina e novas oportunidades interes-
santes de trabalho.
miolo-buriti4.indd 150miolo-buriti4.indd 150 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
151
Wu Wei
“Se o problema possui solução, não devemos nos preocu-
par com ele. E se não possui solução, de nada adianta nos 
preocuparmos.”
Epicteto
M eu pai vinha reagindo positivamente ao tratamento. Havia feito uma biópsia do mediastino no começo 
de dezembro e estava se recuperando bem. O mediastino é 
uma das três cavidades em que está dividida a cavidade to-
rácica. Contém o coração, as partes torácicas dos grandes 
vasos e outras estruturas importantes, tais como: partes to-
rácicas da traqueia e do esôfago, o timo, a parte do sistema 
nervoso autônomo e o sistema linfático.
O laudo, infelizmente, seria demorado. Mas, em posse 
dos resultados, um tratamento certeiro poderia ser aplica-
do, o que, por sua vez, faria muita diferença. O velho seguia 
animado, mesmo com aqueles pontos todos na região da 
garganta. Era um verdadeiro highlander, que ostentava com 
orgulho as diversas cicatrizes e ossos quebrados, sem nunca 
questionar por que o destino o havia sorteado com aquela 
doença terrível.
miolo-buriti4.indd 151miolo-buriti4.indd 151 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
152
Rafa Souza
Confiante na melhora de meu pai e tranquilo com a 
saúde de ferro e sabedoria de minha mãe, peguei minha fa-
mília novamente e retornamos ao litoral de Santa Catarina 
para mais um período de descanso.
Dessa vez, tinha pela frente uma palestra e um curso 
sobre concreto protendido, que daria num encontro a ser 
realizado em Balneário Camboriú. Também tinha em mi-
nha agenda a visita técnica em um prédio em construção, 
em Itapema, onde iriam precisar do reforço de um bloco 
de fundação.
Enquanto minha família descansava e se divertia em 
Camboriú, fiquei envolvido todo final de semana na apre-
sentação de meus conteúdos de protendido, no famoso 
Hotel Marambaia. 
Estava muito empolgado com a palestra do sábado 
pela manhã, mas o horário ficou péssimo e, infelizmente, 
falei para poucos presentes nocauteados pela farra da noite 
anterior. Na sequência, veio o curso e, apesar de falar para 
apenas 7 engenheiros, foi uma experiência muito agradável 
viajar com eles durante 8 horas intensas de curso. 
Apesar da leve decepção que senti, por pensar que o 
esforço preparatório não havia compensado o retorno de 
audiência, estava feliz porque podia proporcionar à minha 
família momentos de lazer. Criança adora praia!
Também estava animado porque, logo ao chegar, na 
sexta-feira, fui visitar o prédio em construção em Itapema. 
O engenheiro Cachoeira tinha me indicado para esse arro-
jado serviço e, então, fui lá conhecer de perto o problema.
Seriam duas torres. Uma já estava com a estrutu-
ra pronta e a outra tinha apenas as estacas executadas. 
miolo-buriti4.indd 152miolo-buriti4.indd 152 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
153
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Aparentemente, por um problema de locação, a estrutura 
da nova torre sofreu um deslocamento e a fundação já exe-
cutada teria que ser adaptada.
Sobre um bloco de fundação de duas estacas de 90 cm, 
com dimensões de 1,0 m x 3,0 m e altura de 0,90 m, chegava 
um pilar retangular com uma força normal de 232 tf. Apesar 
de o bloco já estar pronto, uma nova estaca de 90 cm se apre-
sentava na região. A distância entre eixos das estacas do bloco 
pronto era de 2,0 m, e essa nova estaca estava posicionada a 
cerca de 1,42 m do eixo de uma das estacas do bloco pronto.
A ideia era, então, encamisar um novo bloco, envolvendo 
o bloco já concretado e essa nova estaca, de maneira que um 
novo pilar, com carga de 562 tf, pudesse nascer, faceando o 
pilar já existente. Resumindo, teria que calcular um bloco ca-
paz de pegar dois pilares, com cargas elevadas, sobre um blo-
co de três estacas, com distanciamentos não convencionais.
Fiquei andando naquela areia mole, estudando a geome-
tria do problema e as dificuldades que teríamos para proten-
der o bloco e executar o projeto de reforço. Ainda por cima, 
teria que pensar nos possíveis efeitos da maré, uma vez que 
percebi que todo o perímetro da obra possuía um sistema de 
bombeamento e o prédio ficava muito próximo da orla.
Já havia sido contatado para o problema no início de 
novembro, mas até então não havia fechado negócio. Ofato 
é que o problema era tão interessante que, quando cheguei 
ao local, na verdade, já tinha desenvolvido o projeto. 
Sabia que seria difícil encontrarem outro maluco nas 
redondezas para encarar aquela situação incomum e, mes-
mo que não fechasse negócio, teria me preparado para o fu-
turo e adquirido experiência.
miolo-buriti4.indd 153miolo-buriti4.indd 153 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
154
Rafa Souza
Para poder encaminhar esse projeto, eu só precisa-
va que o responsável pelo cálculo do estaqueamento me 
garantisse a capacidade das estacas executadas em hélice 
contínua. Eu estava preocupado com o fato de que o RQD 
(Rock Quality Designation), índice que mede a qualidade 
da rocha, indicava que as estacas estavam apoiadas em uma 
rocha de má qualidade.
Assim, para poder fechar esse projeto, eu precisava, 
primeiramente, ser contratado e, depois, conseguir que o 
responsável técnico pelo estaqueamento formalizasse a ca-
pacidade de carga das estacas, eximindo-me, assim, de mi-
nha reponsabilidade pelas mesmas. Já havia interagido com 
esse engenheiro em um prédio de 18 pavimentos que calcu-
lei em Água Boa, no Mato Grosso. Ele tinha sido o respon-
sável pelas fundações.
Certo dia, liguei para ele para conversarmos sobre a 
capacidade de carga das estacas de Itapema e discorri sobre 
preocupação em relação à qualidade da rocha de assentamen-
to. Tinha também receio em relação ao fato de que as estacas 
não eram integralmente armadas e de que o atrito lateral ali 
era afetado pelas águas do mar, sendo indicada uma prova de 
carga para poder reforçar o bloco. 
É triste conversar com pessoas que atendem o telefone 
já querendo desligar. Você vai falando rápido antes que a 
pessoa desapareça. Senti um certo desdém pelo fato de eu 
ser de Maringá e ele, no seu pedestal, ser de Curitiba, a capi-
tal europeia brasileira.
Não importou o fato de que já tínhamos uma obra em 
comum e agora tínhamos outra. Ele parecia de saco cheio. 
Dias depois, encaminhou um documento garantindo a 
miolo-buriti4.indd 154miolo-buriti4.indd 154 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
155
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
capacidade de carga das estacas e disse que não havia neces-
sidade de prova de carga.
Assim, voltei para Maringá e alguns dias depois recebi 
o contrato para assinar. Encaminhei então o meu projeto de 
reforço, que consistiu em encamisar o bloco original e a es-
taca adicional com um novo bloco de dimensões em planta 
de 1,50 m x 5,0 m com altura de 1,90 m.
Foram especificadas na região dos tirantes 4 barras do 
tipo Dywidag, com 47 mm de diâmetro e força de protensão 
de 131 tf em cada barra, perfazendo, assim, uma força total 
de protensão de 524 tf. Além das armaduras ativas, o bloco 
foi engaiolado com armaduras passivas de diâmetros vari-
áveis de 12,5 mm, 16 mm e 20 mm e concretado com con-
creto de resistência característica à compressão de 40 MPa.
Brasília seguia incrivelmente calada após o último con-
tato. Triunfo já se encaminhava para a finalização do reforço 
no pipe rack e Maringá seguia com prudência na descons-
trução do incógnito prédio pré-moldado. Meus três gigan-
tes estavam seguindo seus rumos e eu sabia que, em breve, 
seria quebrado o cordão umbilical. Sairiam definitivamente 
da minha rotina profissional.
Assim, trabalhos como o radier e o bloco protendido 
eram projetos importantes naquele momento de transição. 
Eram trabalhos rápidos e prazerosos, e exaltavam a criativi-
dade e a coragem de encarar novos desafios. Eu seguia no 
fluxo, sem combate. Conectado ao princípio do Wu Wei, 
deixava as coisas tomarem seu curso natural e me adaptava 
a elas. Precisava aceitar as passagens.
miolo-buriti4.indd 155miolo-buriti4.indd 155 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
miolo-buriti4.indd 156miolo-buriti4.indd 156 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
157
Janeiro
“Nada é permanente, exceto a mudança.”
Heráclito
T anto o Natal quanto a virada de ano de 2019 para 2020 não foram capazes de me alegrar. Meu velho pai estava 
se sentindo mais incomodado do que o habitual e vivia en-
trando e saindo de hospitais em função das constantes pioras. 
Visitava-o todos os dias e passávamos longas horas 
conversando. Me lembro de que ele tinha uma raquete elé-
trica para espantar mosquitos, já que na chácara, em meio a 
tantas árvores, estávamos em seu habitat natural e eles nos 
atacavam sem dó. 
Eu ficava falando e chacoalhando aquela raquete e, 
quase todas as vezes, acabava sendo acidentalmente eletro-
cutado. Meu pai ria sem parar nesses meus momentos de-
sastrados, conciliando dor nos ossos e alegria na alma.
Na semana entre o Natal e o Ano Novo eu havia pas-
sado muito mal. Tinha ido ao jiu-jitsu e, após almoçar, 
resolvi descansar um pouco. Quando acordei, senti todo 
meu corpo dolorido nas juntas e uma forte dor de cabeça 
ao movimentar os olhos. Ponderei que talvez tivesse me 
miolo-buriti4.indd 157miolo-buriti4.indd 157 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
158
Rafa Souza
exigido demais no treino e que talvez aquilo tudo fosse um 
reflexo muscular.
Os dias foram passando e os sintomas aumentando. 
Manchas vermelhas, garganta doendo, dores nas juntas e 
muita indisposição. Fui ao médico suspeitando de dengue, 
mas o resultado deu negativo. Voltei dias depois e novamen-
te deu negativo. Como o médico não sabia dizer o que era, 
após muitos estudos, concluí por conta própria e consultas 
ao Dr. Google que tinha tido Zika Vírus.
Ainda, no começo de janeiro de 2020, acabou saindo 
o resultado do laudo de meu pai. Infelizmente, o câncer já 
tinha se proliferado e, a cada dia, ele vinha ficando mais de-
bilitado. Ao vê-lo novamente internado, senti que as coisas 
não estavam bem, principalmente quando começou a rece-
ber noradrenalina.
A coisa ficou ainda mais estranha quando os diversos 
médicos quiseram conversar comigo e minha mãe. Sabíamos 
que seria difícil nosso guerreiro vencer essa guerra final mas 
seguíamos unidos, confiantes, esperançosos e otimistas.
Nos primeiros dias de internação, ele parecia que esta-
va voltando. Oscilava entre estados de inconsciência, con-
tando histórias malucas, com momentos de grande lucidez, 
lembrando precisamente de fatos do passado. Eu e minha 
mãe nos apegávamos nesses momentos de lucidez e pedía-
mos a Deus para que ele ganhasse aquela luta.
Na última visita, sentimos um comportamento es-
tranho de toda equipe da unidade de terapia intensiva. 
Meu pai estava amarrado na cama e lutava para se soltar, 
incomodado com as dores e a falta de uma posição con-
fortável. Não conseguíamos entender o que ele falava e, 
miolo-buriti4.indd 158miolo-buriti4.indd 158 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
159
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
desesperados, buscávamos alguma atenção da equipe em 
relação àquele comportamento.
Não conseguíamos nenhuma espécie de atenção. Os 
enfermeiros fingiam não escutar e desviavam os olhares. 
Estavam frios conosco. A visita era de apenas 15 minutos e 
nada podíamos fazer. Beijei a testa de meu pai e disse que o 
amava, apertando firmemente sua mão. Seria a última vez 
que nos veríamos em vida.
Meu pai passou pela porta da história em 9 de janeiro, 
aos 69 anos. Em 10 de janeiro faria 45 anos de casado com 
minha mãe. E no dia 13 de janeiro, seria meu aniversário 
de 44 anos. 
Janeiro, meu mês preferido, me traria uma grande 
perda. Já não tinha mais meu avô Abelegy. E, agora, já não 
tinha mais meu pai, Nilson. Foram-se as minhas grandes 
referências. Foram-se os meus grandes heróis. Agora eu es-
tava por conta própria.
No meio de todo o caos promovido pela perda de um 
ente muito querido, tive acesso a um koan que, de certa ma-
neira, me trazia consolo: “O avô morre, o pai morre, o filho 
morre. Isso é sorte”. Meu pai dizia que tinha sido o homem 
de sua família que mais tinha vivido e, do ponto de vista de 
Sócrates, acredito que ele tenha levado uma vida virtuosa.Tivemos o ciclo natural, na sua ordem hierárquica e, por 
isso, tivemos sorte.
Filho de um barbeiro e uma costureira, saiu do nada, 
de Campo Mourão, e ganhou a vida se tornando um pes-
quisador de ponta. Tornou-se Doutor em Química na 
Universidade de Campinas e orientou mais de 45 mestra-
dos e doutorados na Universidade Estadual de Maringá. 
miolo-buriti4.indd 159miolo-buriti4.indd 159 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
160
Rafa Souza
Publicou 3 livros e incríveis 288 artigos científicos em peri-
ódicos indexados. Meu pai, além de bom homem, era uma 
máquina científica.
Quando eu era moleque, ele queria que eu torcesse 
para o seu time do coração, o Palmeiras. Tenho inúmeras 
fotos com fraldas, bolas, camisetas e canecos do Palmeiras 
até os meus 5 anos de idade. Porém, um dia, quando morá-
vamos em Campinas, ele teve a ideia brilhante de ir assistir 
a um jogo da Ponte Preta e me levou junto. 
Desde então, após esse dia singular reservado pelo 
destino, tornei-me um fanático torcedor da Ponte Preta, 
um time cujo nome tem profunda ligação com a minha 
profissão de engenheiro de estruturas. Ser pontepretano é 
acreditar, às vezes, no impossível, e era com esse mesmo 
sentimento que acreditava que meu pai poderia escapar da-
quela terrível doença.
Meu pai e eu nos desentendemos muito durante a 
vida, mas hoje olho para trás e vejo que ele estava certo, na 
grande maioria dos casos. Quando você tem filhos, você 
começa a entender melhor os seus pais. Ficam as lembran-
ças de uma história breve, o aprendizado de que a vida tem 
suas próprias vontades e que temos que seguir em frente, 
aceitando as vicissitudes. É preciso aceitar o fluxo para se-
guir em frente.
miolo-buriti4.indd 160miolo-buriti4.indd 160 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
161
Audiência Máxima
“Se os fatos não se encaixam na teoria, modifique os fatos.”
Albert Einstein
Em fevereiro de 2020, após toda tempestade que se aba-teu sobre nossa família, aproveitamos a oportunidade 
de uma banca de mestrado em Curitiba e fomos viajar nova-
mente. O plano era ficar um dia em Curitiba, um dia em São 
Bento do Sul e o final de semana em Balneário Camboriú, 
onde a Dani tem familiares.
Cheguei animado em Curitiba para a minha palestra 
na Universidade Federal do Paraná. A palestra teria como 
título "Reflexões de um Engenheiro de Estruturas sobre 
uma Estrutura Emblemática e Avariada Situada no Eixo- 
Monumental de Brasília/DF”. 
Seria uma palestra louca, pois traria todo um contexto 
energético e minhas experiências acumuladas naquele 2019 
tão atípico. Trataria o problema não só de forma científica, 
mas mostraria também as estranhas conexões de vida, mos-
trando que tudo deve ser visto por um ângulo mais holístico. 
Me preparei durante semanas, compilando experiên-
cias e emoções, de maneira a dar um verdadeiro show para 
miolo-buriti4.indd 161miolo-buriti4.indd 161 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
162
Rafa Souza
uma grande e aguardada audiência, que seria constituída 
por alunos de graduação, pós-graduação e professores. 
As palestras sempre me lembram as apresentações das 
minhas bandas de rock, em especial aquela da qual mais me 
orgulho, A Inimitável Fábrica de Jipes. Você tem que entrar 
em palco e pescar a plateia, ganhar a atenção dos olhares 
desconfiados. Literalmente, é uma arte, que só é refinada 
com muita experiência de palco.
Já toquei para uma plateia de algumas pessoas em bo-
tecos da vida e também para quase duas mil pessoas. Nas 
apresentações musicais, a incógnita é sempre o público. Vai 
dar gente? Esse é sempre um grande dilema!
Nas minhas andanças com bandas de rock já fui desde 
o temeroso palco do Cabana 40o, em Sarandi/PR, em um 
uma virada de ano para três pessoas, até o prestigiado palco 
do Sesc Vila Mariana em São Paulo/SP, quando A Inimitável 
Fábrica de Jipes chegou a uma espécie de segunda divisão 
do rock nacional. 
A lição que aprendi é que o artista deve tocar com a mes-
ma empolgação, independentemente da quantidade de presen-
tes. A apresentação é um ato de entrega, de liberação da alma e, 
agindo dessa maneira, o resultado sempre será mágico. É claro 
que tocar para muitas pessoas gera uma emoção diferenciada, 
mas condicionar sua alegria a isso é uma verdadeira armadilha.
Mas voltando à minha palestra na UFPR, a apresen-
tação foi realmente um sucesso e, ao final, as cinco gene-
rosas almas que testemunharam o evento bateram palmas 
emocionadas, tendo a certeza de que participaram de um 
momento único. Por duas pessoas, meu recorde de público 
no Cabana 40o não havia sido batido!
miolo-buriti4.indd 162miolo-buriti4.indd 162 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
163
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Assim é a vida, e a conexão com aqueles poucos pre-
sentes não era coincidência. Era o que tinha que ser. Energia 
atrai energia. E, certamente, naquele momento, apenas as 
nossas frequências estavam alinhadas. Os que não compare-
ceram, certamente não estavam preparados para as viagens 
filosóficas que seriam tratadas ali. 
Concluí que a academia, realmente, tem se tornado um 
local estranho, muitas vezes mais politizado do que científi-
co. Certamente a audiência seria outra, caso fosse um polí-
tico que, de certa maneira, pudesse trazer algum benefício, 
a despeito do período de férias. 
No outro dia participei da banca de defesa de mestra-
do, encontramos o amigo Dary Jr. (da inesquecível ban-
da Terminal Guadalupe) para um almoço no Mercado 
Municipal e seguimos para São Bento do Sul, onde iria visi-
tar um edifício em execução cujo projeto estrutural eu havia 
feito, o Edifício Hannover.
Aquela visita à pacata cidade de São Bento do Sul, em 
Santa Catarina, foi, sem dúvida, uma das melhores coisas 
acontecidas após toda aquela perda e a decepção na pales-
tra com audiência mínima. Fomos recebidos pelo amigo e 
também engenheiro Kenny Gertler e passamos, finalmente, 
dias de muita alegria e celebração.
Conferi in loco mais um projeto estrutural saindo do 
papel e se tornando realidade. Fizemos churrasco. Tomamos 
cerveja e tocamos guitarra. A engenharia era o elo. Mas a 
música e o compartilhamento de experiências de vida gera-
vam uma conexão difícil de separar. Abraçamos o amigo e 
seguimos para Camboriú, onde poderíamos, mais uma vez, 
recarregar as energias apreciando as ondas do mar.
miolo-buriti4.indd 163miolo-buriti4.indd 163 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
miolo-buriti4.indd 164miolo-buriti4.indd 164 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
165
Mundo em Movimento
“Inteligência é a capacidade de se adaptar à mudança.”
Stephen Hawking
Em Maringá, no mês de março de 2020, começavam as obras do Edifício Triunfo (percebam a coincidência 
com a cidade de Triunfo/RS), uma torre de 17 pavimentos, 
cujo projeto estrutural eu havia elaborado, em 2018. Em São 
Bento do Sul, o Hannover já havia concluído o subsolo e 
agora chegava imponente nas lajes do primeiro pavimento.
Minha rotina voltava a ser dar aulas, ir ao jiu-jitsu e 
levar meus moleques para os jogos de futebol. Ia tocando 
meus projetos e tentando resolver, em paralelo, as questões 
relacionadas ao inventário de meu pai. Agora tinha minha 
querida mãe para dar mais atenção, já que meus dois irmãos 
estavam fora de Maringá e não podiam ajudar muito.
Em janeiro, logo após meu pai falecer, decidi que pre-
cisava realizar um sonho antigo: comprar um jipe. Assim, 
adquiri um modelo Overland, 1954, com motor de opala. 
Oswaldo veio completinho: jogo na direção, vazamento 
de óleo, fumaça saindo do motor e consumo exagerado 
de combustível. 
miolo-buriti4.indd 165miolo-buriti4.indd 165 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
166
Rafa Souza
No primeiro passeio que dei com o Oswaldo, rompeu-
-se a correia do alternador, que incrivelmente fui capaz de 
trocar, por carregar uma correia sobressalente. Mas nada se 
comparou à emoção de conseguir ativar o motor tocando 
a chave de fenda estrategicamenteno motor de arranque, 
quando o painel acordou, um dia, sem dar sinal. 
Ter um jipe é explorar o domínio do homem sobre 
a máquina. Ao mesmo tempo, é entender que o veícu-
lo tem suas vontades próprias e só vai funcionar quan-
do quiser. Ter um jipe é um exercício zen. Você não está 
nem aí para a pressa do mundo. Você entra na década de 
50 e vai dar um rolê no futuro, despreocupado com os 
compromissos. 
Quando você dirige um jipe, você está em busca de de-
safios a serem resolvidos, mantendo a mesma serenidade de 
um monge. Já correra muito na vida e, agora, me interessava 
uma abordagem mais estoica das incongruências diárias. 
De Brasília já não recebia mais notícias formais, po-
rém, ficava sabendo de algumas movimentações vindas de 
outras fontes. Não me senti triste, mas ficava nítido que a 
conexão tinha se encerrado, tanto do ponto de vista contra-
tual quanto do ponto de vista humano.
Em 20 de março de 2020, encerrou-se formalmente o 
meu contrato firmado com Brasília. Ao mesmo tempo, re-
cebemos as primeiras orientações para não sairmos de casa, 
em função da chegada da Covid-19.
Sucederam-se, assim, dias estranhos, em que vimos o 
mundo se modificar numa velocidade incrível, sem respostas 
imediatas para o futuro. As redes sociais ajudaram a romper a 
distância e as lives viraram a nova tendência mundial.
miolo-buriti4.indd 166miolo-buriti4.indd 166 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
167
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Assim, enquanto cresciam os casos de corona vírus no 
Brasil e no mundo, alternava meu período de quarentena en-
tre passeios de jipe, em visita à minha querida mãe, e lutas de 
jiu-jitsu com Wallid, um boneco especial recém-adquirido, 
que agora fazia parte da nossa família.
Confinado e obrigado a parar de correr, olhei para trás 
com gratidão, mas ainda sentindo muito a perda de meu 
pai. Ninguém sabia o que viria pela frente. O mundo havia 
mudado e a vida de mais ninguém seria a mesma. As dúvi-
das finalmente haviam superado as certezas. Ainda assim, 
era preciso seguir em frente. Se adaptando para não ser en-
golido pela vida. Oss3!!
3 A transcrição exata da palavra é OSU e a origem da variação OSS foi criada na 
escola naval japonesa para servir de motivação no cotidiano. É um termo fre-
quentemente utilizado nos tatames de jiu-jitsu e seu significado é “perseverança 
sob pressão”.
miolo-buriti4.indd 167miolo-buriti4.indd 167 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
miolo-buriti4.indd 168miolo-buriti4.indd 168 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
169
Imagens
“O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel.”
Platão
Vista lateral do “petit palais” em Brasília/DF
miolo-buriti4.indd 169miolo-buriti4.indd 169 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
170
Rafa Souza
Cobertura do “petit palais” com Palácio do Buriti ao fundo
Laje do “petit palais” com desplacamentos e armaduras expostas
miolo-buriti4.indd 170miolo-buriti4.indd 170 10/02/2021 21:08:3310/02/2021 21:08:33
171
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Vista de um dos prédios do polo petroquímico de Triunfo/RS
Edifício Hannover durante a construção em São Bento 
do Sul/SC em 2020 (Crédito da Foto: RGB Drones)
miolo-buriti4.indd 171miolo-buriti4.indd 171 10/02/2021 21:08:3410/02/2021 21:08:34
172
Rafa Souza
Edifício Triunfo, em Maringá/PR, durante a construção em 2020
Reforço metálico de moega em Indianópolis/PR
miolo-buriti4.indd 172miolo-buriti4.indd 172 10/02/2021 21:08:3410/02/2021 21:08:34
173
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Laje nervurada protendida de edifício em Maringá/
PR, com pilares posicionados a cada 12 m
Região de maciço com protensão “chapéu” em Maringá/PR
miolo-buriti4.indd 173miolo-buriti4.indd 173 10/02/2021 21:08:3410/02/2021 21:08:34
174
Rafa Souza
Edifício em Maringá/PR, calculado em parceria 
com o Eng. João de Miranda
miolo-buriti4.indd 174miolo-buriti4.indd 174 10/02/2021 21:08:3410/02/2021 21:08:34
175
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Residencial Araguaia, em Água Boa/MT, com 18 pavimentos
“Inferno” revitalizado com radier protendido e estrutura metálica para 
escoramento permanente de lajes alveolares, em Maringá/PR
miolo-buriti4.indd 175miolo-buriti4.indd 175 10/02/2021 21:08:3410/02/2021 21:08:34
176
Rafa Souza
Encamisamento de bloco de fundação utilizando 
protensão em barras Dywidag, em Itapema/SC
miolo-buriti4.indd 176miolo-buriti4.indd 176 10/02/2021 21:08:3410/02/2021 21:08:34
177
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Escada helicoidal com patamar intermediário e vigas 
protendidas com 15 m de vão, em Maringá/PR
Viaduto esconso em Maringá/PR, com 16 m de vão
miolo-buriti4.indd 177miolo-buriti4.indd 177 10/02/2021 21:08:3410/02/2021 21:08:34
178
Rafa Souza
Centro de Excelência em Handebol da 
Universidade Estadual de Maringá/PR
Os irmãos Souza em volta de seu patrono. Da esquerda 
para a direita: Nilson Filho, Vinícius e Rafael
miolo-buriti4.indd 178miolo-buriti4.indd 178 10/02/2021 21:08:3410/02/2021 21:08:34
179
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Nilson (pai), Rafael, Daniela e Ângela (mãe)
Eu e meu pai, durante sua batalha, em 2019
miolo-buriti4.indd 179miolo-buriti4.indd 179 10/02/2021 21:08:3410/02/2021 21:08:34
180
Rafa Souza
Gabriel, Tiago (no colo) e Dani, quando fui campeão 
brasileiro de jiu-jitsu, faixa-azul, máster, 2014
Durante luta no Campeonato Brasileiro de jiu-jitsu, faixa 
marrom, 2018 (Crédito da foto: Camila Nobre)
miolo-buriti4.indd 180miolo-buriti4.indd 180 10/02/2021 21:08:3510/02/2021 21:08:35
181
Em frente ao Buriti: Reflexões de um engenheiro de estruturas
Apresentação d´A Inimitável Fábrica de Jipes no Sesc Vila Mariana, 
em São Paulo/SP, 2009 (Crédito da foto: Jorge Mariano)
Apresentação no Circo do Amor para quase duas mil pessoas, 
em Maringá/PR, 2009 (Crédito da foto: Bulla Jr.)
miolo-buriti4.indd 181miolo-buriti4.indd 181 10/02/2021 21:08:3510/02/2021 21:08:35
182
Rafa Souza
Formação clássica d´A Inimitável Fábrica de Jipes 
com Ricardo Herrera, Igor Grande, Fernando Duran e 
Rafa Souza, 2011 (Crédito da foto: Rafael Silva)
miolo-buriti4.indd 182miolo-buriti4.indd 182 10/02/2021 21:08:3510/02/2021 21:08:35
183
O Autor
Rafael Alves de Souza é engenheiro civil formado pela 
Universidade Estadual de Maringá em 1999. Mestre em 
Engenharia de Estruturas pela Universidade Estadual de 
Campinas em 2001. Doutorado-Sanduíche pela Universidade 
do Porto, Portugal, em 2003. Doutor em Engenharia de 
Estruturas pela Escola Politécnica da Universidade de São 
Paulo, em 2004. Pós-doutor pela University of Illinois at 
Urbana-Champaign, Estados Unidos, em 2006. Pós-doutor 
pela University of Massachusetts Amherst, Estados Unidos, 
em 2015. Em 2011, realizou estágios de curta duração em nível 
de pós-doutorado na École Politécnique Fédérale de Lausanne 
(Suíça) e na Technologic University of Delft (Holanda)”. Foi 
agraciado com a “Primeira Menção Honrosa para Teses 
de Doutorado em Estruturas” no ano de 2006 e recebeu o 
“Prêmio Fernando Luiz Lobo Barbosa Carneiro” em 2017, 
ambas pelo Instituto Brasileiro do Concreto. Autor de inúme-
ros projetos estruturais e laudos periciais. Autor de diversos 
artigos científicos nacionais e internacionais, publicados tan-
to em congressos quanto em periódicos indexados. É mem-
bro do Instituto Brasileiro do Concreto desde 2002 e membro 
do American Concrete Institute desde 2006, participando 
miolo-buriti4.indd 183miolo-buriti4.indd 183 10/02/2021 21:08:3510/02/2021 21:08:35
184
Rafa Souza
dos comitês 445 - Shear and Torsion e 447- Finite Element 
Analysis of Reinforced Concrete Structures. É Membro do 
Comitê CT301 da Associação Brasileira de Normas Técnicas, 
desde 2007, com objetivo deRevisão da NBR6118 (Projeto 
de Estruturas de Concreto - Procedimento). Membro da 
Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural 
(ABECE). Foi Pesquisador Nível 2 e Nível 1-D do Conselho 
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
(CNPq) entre 2009 a 2016. É professor titular da Universidade 
Estadual de Maringá, onde leciona disciplinas da área de 
Estruturas desde 2002 e Diretor da Engracon Engenharia e 
Arquitetura desde 2012.
miolo-buriti4.indd 184miolo-buriti4.indd 184 10/02/2021 21:08:3510/02/2021 21:08:35
185
Posfácio
Um amigo e fã me escreve um livro e me convida para fazer o posfácio. Fiquei muito honrado com a missão, 
que considerei fácil, e cabe até um trocadilho aí: “posfácil”.
Engano meu! Conheço e admiro muito os trabalhos 
deste meu amigo e fã, o Rafael, e teria muito a dizer, po-
rém as palavras pareciam faltar. Fora o fato de que escrevo 
poucos posfácios e só gosto de me arriscar no universo do 
cálculo estrutural ou Matemática. Então, talvez, essas linhas 
não sejam nem posfácio, nem cálculo ou matemática....
Mas é admirável sair do universo do cálculo, tão pre-
ciso, quase previsível, e partir para o universo das palavras, 
tão imprecisas e quase imprevisíveis.
Desejo que este livro represente o primeiro de uma 
série de vários, demonstrando às próximas gerações que, 
assim como é necessário estudar e trabalhar com afinco, po-
de-se também, ao mesmo tempo, libertar o espírito, escre-
vendo linhas fora do nosso cotidiano e trilhando caminhos 
diferentes nas mais diversas áreas, como literatura, música, 
pintura e até jardinagem.
miolo-buriti4.indd 185miolo-buriti4.indd 185 10/02/2021 21:08:3510/02/2021 21:08:35
186
Rafa Souza
Deixo um legado de livros que me ajudaram a trilhar 
estes citados caminhos, orientando quem porventura os 
queira seguir. Do mestre, com carinho, Vasco.
Prof. Dr. Augusto Carlos de Vasconcelos 
Engenheiro estrutural, autor e coautor de 17 livros, 
com admirável contribuição para a engenharia 
nacional e internacional.
miolo-buriti4.indd 186miolo-buriti4.indd 186 10/02/2021 21:08:3510/02/2021 21:08:35
miolo-buriti4.indd 187miolo-buriti4.indd 187 10/02/2021 21:08:3510/02/2021 21:08:35
Em frente ao Buriti — 
Reflexões de um engenheiro de estruturas
foi produzido pela SGuerra Design para 
Rafa Souza em novembro de 2020
miolo-buriti4.indd 188miolo-buriti4.indd 188 10/02/2021 21:08:3510/02/2021 21:08:35

Mais conteúdos dessa disciplina