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Filosofia & Sociologia
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Filosofia – Caderno 4
AULA 1 – Ética: filosofia moral
1. CONCEITOS DE MORAL E DE ÉTICA
Moral: Conjunto de normas que orientam o comportamento
humano tendo como base valores próprios de uma dada
comunidade ou cultura. Valores relacionados ao bem e ao
mal, ao permitido e ao proibido, válidos para todos os
membros de cada sociedade. Os costumes são anteriores
ao nosso nascimento e formam o tecido moral da sociedade
em que vivemos.
Ética: Filosofia Moral >>>> indagação ou questionamento
a respeito da natureza e do significado dos valores morais
e dos costumes. Ação pautada no bem comum, hábito
racional que promove a virtude (Aristóteles). É no campo
daquilo que está em nosso poder que aparecem os dilemas
éticos, momentos em que o indivíduo entra em embate com
a moral vigente (da sociedade) ou em situações novas para
as quais existem lacunas morais.
Conflito ético: o sujeito entende a norma moral como
inadequada ou ilegítima.
Texto I
A característica específica do homem em comparação
com os outros com os outros animais é que somente ele
tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e
de outras qualidades morais.
ARISTÓTELES, Política, p. 15
Texto II
Moral é o conjunto de normas que a sociedade elabora para
regulamentar o comportamento dos indivíduos que
compartilham a vida social. Ética é o conjunto de reflexões
sistemáticas sobre a moral, elaboradas no curso da história.
Anita Helena Schlesener, Para Filosofar. São
Paulo: Scipione, 2007; p. 61
2. ÉTICA E CIÊNCIA
Saber científico: desenvolvimento tecnológico, controle da
natureza. Tal saber amplia o campo das ações humanas. O
ser humana passa a dispor de possibilidades de controlar a
natureza. Porém, surgem com isso novos conflitos no
campo moral e problematizações éticas. Até que ponto
devemos manipular a natureza?
Dica de filme: Gattaca, experiência genética (Andrew
Niccol, 1997, EUA)
BIOÉTICA
Algumas definições:
Estudo dos problemas e implicações morais despertados
pelas pesquisas científicas e relacionados à vida humana.
Área transdisciplinar que abrange a biologia, a medicina, o
direito e a filosofia que estuda as condições necessárias
para uma administração responsável da vida humana,
animal e responsabilidade ambiental.
Responsabilidade moral dos cientistas em suas pesquisas
e aplicações.
Questões centrais do campo bioético:
Há limites para o desenvolvimento científico?
Quais as implicações éticas do controle da natureza?
Assuntos relacionados:
A bioética abrange problemas como a utilização de seres
vivos em experimentos, a legitimidade moral do aborto ou
da eutanásia, as implicações profundas da pesquisa e da
prática no campo da genética.
Excerto de Hannah Arendt sobre Bioética:
O mundo – artifício humano – separa a existência do
homem de todo ambiente meramente animal; mas a vida,
em si, permanece fora desse mundo artificial, e através da
vida o homem permanece ligado a todos os outros
organismos vivos. Recentemente, a ciência vem se
esforçando por tornar artificial a própria vida, por cortar o
último laço que faz do homem um filho da natureza. O
mesmo desejo de fugir da prisão terrena manifesta-se na
tentativa de criar a vida numa proveta, no desejo de
misturar, 'sob o microscópio, o plasma seminal congelado
de pessoas comprovadamente capazes, a fim de produzir
seres humanos superiores' e 'alterar-lhe o tamanho, a forma
e a função'; e talvez o desejo de fugir à condição humana
esteja presente na esperança de prolongar a duração da
vida humana para além do limite dos cem anos.
Esse homem do futuro, que, segundo os cientistas, será
produzido em menos de um século, parece motivado por
uma rebelião contra a existência humana tal como nos foi
dada (secularmente falando), que ele deseja trocar, por
assim dizer, por algo produzido por ele mesmo. Não há
razão para duvidar de que sejamos capazes de realizar
essa troca, tal como não há motivo para duvidar de nossa
atual capacidade de destruir toda a vida orgânica da terra.
A questão é apenas se desejamos usar nessa direção
nosso novo conhecimento científico e técnico – e esta
questão não pode ser resolvida por meios científicos: é uma
questão ética de primeira grandeza, e portanto não deve ser
decidida por cientistas profissionais nem por políticos
profissionais.
(Hannah Arendt. A Condição Humana, 1995, p. 10-11)
3. CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS DE ÉTICA E MORAL
Para Platão, ética relaciona-se à conduta racional à medida
que as noções do bem e do justo estão presentes na
dimensão inteligível, acessível somente aos que
desenvolvem o intelecto. Como reconhecer o bem é
determinante para que haja uma conduta moralmente boa,
a ética vincula-se à busca pela verdade.
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Para Aristóteles, por sua vez, a ética é uma habilidade
relacional que fortalece virtude. O homem capaz de conter
seus impulsos e agir racionalmente objetivando o bem
comum é doado de virtudes morais. A virtude enobrece o
homem e o conduz à felicidade, finalidade última da
existência. Portanto, o hábito de refletir (ethos) nos
aprimora em nossa condição humana, uma vez que para
Aristóteles somos um ser animal racional (temos a
capacidade de pensar), moral (temos a capacidade de
discernir e construir valores) e político (compartilhamos e
organizamos nossa vida social com base nos valores que
organizamos).
IMMANUEL KANT e a Crítica da Razão Prática
Novas reflexões sobre ética e moral remetem ao
pensamento de Kant, no século XVIII. Em sua busca por
entender profundamente os princípios de racionalidade
humana, o filósofo distingue a razão pura, instância que nos
permite conhecer a realidade, da razão prática, instância
incumbida de deliberar racionalmente e regular as ações
humanas.
A questão central em sua obra Crítica à Razão Prática é:
existe algum princípio racional que regule de forma
universal as ações? Ou seja, existe alguma referência ética
que seja compartilhada por todos os indivíduos
universalmente ou os valores morais são relativos às
culturas e aos indivíduos?
A partir de suas reflexões, Kant conclui que existe um
princípio ético a priori, determinado pela razão prática. Tal
princípio, chamado de imperativo categórico, regula de
forma universal as ações a partir da noção de dever.
“O imperativo categórico é portanto só um único, que é
este: Age apenas segundo uma máxima tal que possas
ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.”
(KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa:
Edições 70, 1995. p. 59.)
Assim, para Kant, há um princípio racional que orienta a
moral e este existe a priori. Cabe ao indivíduo determinar
se sua ação será pautada por tal princípio de racionalidade,
uma vez que a ética é o campo da liberdade humana. Essa
orientação ética universal, o imperativo categórico,
determina que todo indivíduo deve agir considerando a
possibilidade de sua ação ser amplificada em nível
universal. Isso, para o filósofo, asseguraria a base moral de
uma conduta individual, sem prejuízo para a humanidade.
Não há conteúdo universalmente prescrito no campo da
moral, mas uma noção de dever para com o outro, tomar a
humanidade como um fim e não como um meio. Essa “ética
do dever” é o princípio racional que norteia universalmente
a conduta moral.
Reações às concepções de Kant surgem, no século XIX,
com Schopenhauer e Nietzsche, que condenam essa
concepção de moral prescritiva, que teria como única
finalidade o controle do indivíduo. Para Schopenhauer, a
verdadeira experiência ética somente poderia brotar da
compaixão genuína. De outro modo, o egocentrismo
humano seria apenas contido por princípios de moralidadeexternos ao indivíduo, desprovidos, portanto, de real
sentido. Para Nietzsche, é fundamental a negação da moral
vigente, que aprisiona o homem em uma situação de culpa
e resignação, inibindo a verdadeira potencialidade humana.
4. VERTENTES FILOSÓFICAS CONTEMPORÂNEAS
SOBRE ÉTICA
Universalismo
O Universalismo, inspirado na filosofia moral de Kant, no
século XVIII, prega que o comportamento moral deve ser
predeterminado por princípios racionais universalmente
válidos, vinculados à máxima kanteana do imperativo
categórico: aja de modo que sua conduta possa ser
universalizada sem prejuízo para as outras pessoas. A ética
é, portanto, um dever racional que o indivíduo reconhece.
Nessa lógica, comportamentos como matar e mentir seriam
necessariamente negativos, uma vez que se fossem
assumidos por todos os indivíduos, gerariam prejuízos
tamanhos para a humanidade.
Utilitarismo
O Utilitarismo como corrente de pensamento no campo da
ética e da filosofia política tem sua origem principalmente
com as ideias do pensador francês Helvétius (1715-71) e
do inglês Bentham (1748-1832). Posteriormente foi
desenvolvido e perpetuado pelo filósofo, pensador político
e ativista liberal John Stuart Mill (1806-73).
Esses pensadores estipulam o critério da utilidade como
critério do valor moral de um ato. De acordo com esse
princípio, o bem seria aquilo que maximiza o benefício e
reduz a dor ou o sofrimento. O útil é entendido como aquilo
que contribui para o bem estar geral. Desse modo, os
pensadores ligados ao utilitarismo propõem que a conduta
do sujeito moral deva ser avaliada pelo resultado e não pelo
princípio. A boa ação é aquela que gera resultados
favoráveis, independente dos meios e critérios.
Ética das Virtudes (ou Neoaristotelismo)
Tal vertente é defendida por pensadores do século XX, tais
como Habermas e Sartre.
A virtude, tal como propôs Aristóteles, residiria no indivíduo
equilibrado que pondera suas ações levando em
consideração os efeitos de sua liberdade no outro. A
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decisão ética não é predeterminada, mas reside no sujeito
que a pratica, uma vez que todo ato está imerso em
circunstâncias particulares e, pelo fato de tais
circunstâncias serem normalmente complexas, é preciso
que o agente avalie sua conduta nos casos particulares, o
que carece de um aprimoramento do caráter (virtude).
Como as virtudes não são inatas, a construção da atitude
ética é um continuo aprendizado.
“Toda a habituação ocorre no convívio, pois é somente no
interior de nossas próprias relações humanas que podemos
aprender o que é relevante humano e moral por meio da
própria convivência” (Marco Zingano)
É importante não confundirmos a ética das virtudes com o
relativismo moral absoluto, que prega que não há bem
comum:
O relativismo moral é a visão de que as afirmações morais
ou éticas, que variam de pessoa para pessoa, são todas
igualmente válidas e que nenhuma opinião sobre o que é
"certo e errado" é melhor do que qualquer outra. O
relativismo moral é uma forma mais ampla e mais
pessoalmente aplicada de outros tipos de pensamento
relativista, tal como o relativismo cultural. Estas são todas
baseadas na ideia de que não exista um padrão definitivo
do bem ou do mal, por isso cada decisão sobre o que é
certo e errado acaba sendo um puro produto das
preferências e ambiente de uma pessoa. Não existe um
padrão definitivo de moralidade, de acordo com o
relativismo moral, e nenhuma declaração ou posição pode
ser considerada absolutamente "certa ou errada", "melhor
ou pior".
Fonte: http://www.allaboutphilosophy.org/portuguese/relativismo-
moral.htm
Texto Complementar:
Muita gente diz que o significado de ser livre é fazer aquilo que
se quer, como se o fato de uma pessoa não seguir determinada
regra revelasse um indício de sua liberdade. A afirmação que
a filosofia moral kantiana faz a respeito da liberdade aponta
para o sentido oposto ao do senso comum: para poder pensar
a liberdade como uma ideia universal, é necessário buscar seu
fundamento nos limites da razão humana, ou seja, encontrar
uma lei própria à razão que torne possível determinar se uma
ação é livre ou não.
Toda argumentação kantiana vai na direção de retirar da causa
da ação (de sua intenção última) qualquer vinculação com o
sensível (impulsos, instintos e desejos individuais). A moral,
para o filósofo, não é prescritiva, no sentido de possuir um
conteúdo prévio gerador de valores, mas terá de ser
compreendida como um procedimento racional de avaliação
das ações dos homens.
Esse procedimento de avaliação diz respeito à possibilidade
de universalização de uma determinada regra que, por sua
vez, foi pressuposta pela vontade. Assim, se uma determinada
regra, subjetiva, é válida para todos os seres racionais, a ação
pressuposta pela regra da vontade é racional e,
consequentemente, a ação será compreendida como uma
ação por dever, que respeitou a lei. Esta obriga o sujeito a
avaliar suas regras de conduta por meio do critério de
universalização, ou seja, se sua regra de conduta é ou não
passível de valer para todos os sujeitos racionais. Segundo
Kant, o princípio formal da vontade, a lei, pode ser formulada
dessa maneira: “Devo proceder sempre de uma maneira que
eu possa querer também que a minha máxima se torne uma
lei universal”. Essa primeira formulação da lei é o imperativo
categórico da razão.
Assim, uma ação só pode ser considerada moral se for livre, e
só pode ser vista como livre no momento em que passa pelo
critério de avaliação fornecido pela própria razão, pela
universalização de sua máxima por meio do imperativo. É a
razão que, portanto, determina a ética de uma ação. Kant está
preocupado com a condição de universalidade da liberdade, o
que pressupõe que a liberdade seja válida para todos os
homens (de outro modo não seria liberdade).
Todo esse movimento da filosofia prática kantiana converge
para a ideia do sujeito moderno. Kant o pressupõe tanto do
ponto de vista de um sujeito universal quanto do ponto de vista
do indivíduo, pois, em última instância, como a vontade está
vincula à ideia de uma intenção, só o próprio indivíduo pode
avaliar se sua ação foi livre, moral, ou não. Apesar disso, se
por um lado Kant resguarda a possibilidade de a vontade de
um indivíduo não estar submetida à vontade de outrem, por
outro lado, com o princípio de universalização, o sujeito deve
agir de uma forma que o seu querer possa também ser
entendido como uma lei universal. Ele deve levar em conta,
portanto, todos os seres racionais em sua ação, ou seja, a sua
ação é livre e moral na medida em que todos também possam,
em princípio, agir da mesma forma. Kant não afirma que todos
os seres racionais vão agir assim, mas que todos devem ser
levados em consideração – o que dá legitimidade à legalidade
moral. Com isso, o sujeito está sendo pensado tanto do ponto
de vista de sua individualidade quanto do ponto de vista de sua
universalidade.
Maurício Keirnert – Lei Moral e Autonomia: o conceito da
vontade em Kant.
Exercícios básicos
1. (ENEM) Ninguém delibera sobre coisas que não podem
ser de outro modo, nem sobre as que lhe é impossível fazer.
Por conseguinte, como o conhecimento científico envolve
demonstração, mas não há demonstração de coisas cujos
primeiros princípios são variáveis (pois todas elas poderiam
ser diferentemente), e como é impossível deliberar sobre
coisas que são por necessidade, a sabedoria prática não
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pode ser ciência, nem arte: nem ciência, porque aquilo que
se pode fazer é capaz de ser diferentemente, nem arte,
porque o agir e o produzir são duas espécies diferentes de
coisa. Resta, pois, a alternativa de ser ela uma capacidadeverdadeira e raciocinada de agir com respeito às coisas que
são boas ou más para o homem.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril
Cultural, 1980. Aristóteles considera a ética como
pertencente ao campo do saber prático. Nesse sentido, ela
difere-se dos outros saberes porque é caracterizada como:
A. conduta definida pela capacidade racional de escolha.
B. capacidade de escolher de acordo com padrões
científicos.
C. conhecimento das coisas importantes para a vida do
homem.
D. técnica que tem como resultado a produção de boas
ações.
E. política estabelecida de acordo com padrões
democráticos de deliberação.
2. (Uem 2012) A reflexão sobre a ética apresenta, na
antiguidade clássica, três características principais: a) a
fusão do sujeito moral com o sujeito político, pois só
enquanto cidadão ou membro de uma comunidade política
pode-se pensar a moralidade; b) a discussão de princípios
éticos metafísicos, pois a moral fundamenta-se a partir de
conceitos que descrevem uma interrogação sobre a
essência do ser (o que é virtude, o que é a felicidade, o que
é a verdade, etc.); c) a separação entre o domínio privado
e o domínio público. A partir dessa reflexão sobre a ética na
antiguidade grega, assinale o que for correto.
01) A fundação platônica da cidade ideal, em A República,
dá-se sob o signo de uma moralidade subjetiva, isto é,
relativa à boa vontade dos indivíduos, seja qual for sua
classe social ou política.
02) Por ser precursor do pensamento político democrático,
Platão defende os interesses dos escravos, das mulheres
e das crianças.
04) Na Ética a Nicômaco, Aristóteles defende os princípios
de uma ética relativista, já que, ao defender o “justo meio”,
acaba por defender a medida individual de cada sujeito.
08) A ética, na cidade-Estado grega, acompanha seu
fundamento político, razão pela qual a violência não é
condenada na esfera privada e é proibida na esfera
pública.
16) Para Aristóteles, as amizades de um homem dependem
da pessoa que se é, resultando, se ele for um home justo
e correto, no coroamento de todos os bens: a felicidade.
Por isso, a filosofia moral de Aristóteles é uma eudaimonia
(do grego: “boa vida”, “vida feliz”).
3. (Uncisal 2012) A Ética e a Moral são diferentes, porém
intrinsecamente interligadas. As reflexões éticas exercem
significativa influência sobre as práticas morais, assim
como estas servem de matéria às reflexões éticas. A prática
moral é relativa, mas as reflexões éticas tendem a ser
universais. Com relação à Ética e à Moral, assinale a opção
correta.
a) Sem a Ética a Moral ficaria obsoleta, caduca,
ultrapassada.
b) Sendo universais os princípios éticos perdem o sentido à
medida que se relacionam com os valores propagados
pelas diferentes culturas.
c) Os princípios éticos, em qualquer situação, são
expressões do individualismo e do relativismo.
d) A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um
exemplo de práticas morais.
e) Independentemente do momento histórico a Moral é
única, absoluta e imutável.
4. (Uel 2005) “É na verdade conforme ao dever que o
merceeiro não suba os preços ao comprador inexperiente,
e quando o movimento do negócio é grande, o comerciante
esperto também não faz semelhante coisa, mas mantém
um preço fixo geral para toda a gente, de forma que uma
criança pode comprar em sua casa tão bem como qualquer
outra pessoa. É-se, pois servido honradamente; mas isto
ainda não é bastante para acreditar que o comerciante
tenha assim procedido por dever e princípios de honradez;
o seu interesse assim o exigia; mas não é de aceitar que
ele além disso tenha tido uma inclinação imediata para os
seus fregueses, de maneira a não fazer, por amor deles,
preço mais vantajoso a um do que outro”.
(KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. de
Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 112.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o conceito
de dever em Kant, considere as afirmativas a seguir, sobre
a ação do merceeiro.
I. É uma ação correta, isto é, conforme postula o dever
social.
II. É ética, pois revela honestidade na relação com seus
clientes.
III. Não é uma ação por dever, pois sua intenção é egoísta.
IV. É honesta, mas motivada pela compaixão aos
semelhantes.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e II. b) I e III. c) II e IV.
d) I, III e IV. e) II, III e IV.
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5. (Ufu 2003) Na Crítica da razão pura, Kant vincula o
sistema da moralidade à felicidade. Assinale a alternativa
que explica no que consiste a relação moralidade —
subjetividade.
a) A esperança de ser feliz e a aspiração por tornar-se feliz
podem ser conhecidas pela razão prática, desde que o
fundamento da ação e a norma da conduta sejam a
máxima do “não faça aos outros aquilo que não queres
que te façam”.
b) A convicção da felicidade humana decorre da certeza de
que todos os entes racionais comportam-se com a mais
rigorosa conformidade à lei moral, de maneira que cada
um age orientado pela sua vontade, ou seja, pela razão
prática do arbítrio individual.
c) Quando a liberdade é dirigida e restringida pelas leis
morais, é possível pensar na felicidade universal, pois a
observância dos princípios morais pode proporcionar não
só o bem estar para si, como também ser o responsável
pelo bem estar dos outros.
d) A felicidade implica na transcendência do mundo moral,
pois somente na esfera sensível é possível o
conhecimento pleno das ações humanas, já que
somente nesse mundo sensível é possível a conexão
entre moralidade e felicidade.
6. ENEM A moralidade, Bentham exortava, não é uma
questão de agradar a Deus, muito menos de fidelidade a
regras abstratas. A moralidade é a tentativa de criar a maior
quantidade de felicidade possível neste mundo. Ao decidir
o que fazer, deveríamos portanto, perguntar qual curso de
conduta promoveria a maior quantidade de felicidade para
todos aqueles que serão afetados. RACHELS, J. Os
elementos da filosofia moral Barueri-SP, Manole, 2005.
Os parâmetros da ação indicados no texto estão em
conformidade com uma:
a) fundamentação científica de viés positivista.
b) convenção social de orientação normativa
c) transgressão Comportamental religiosa
d) racionalidade de caráter pragmático.
e) inclinação de natureza passional
7. (UNESP) É esse o sentido da famosa formulação do
filósofo Kant sobre o imperativo categórico: “Aja unicamente
de acordo com uma máxima tal que você possa querer que
ela se torne uma lei universal”. Isso é agir de acordo com a
humanidade, em vez de agir conforme o seu “euzinho
querido”, e obedecer à razão em vez de obedecer às suas
tendências ou aos seus interesses. Uma ação só é boa se
o princípio a que se submete (sua “máxima”) puder valer,
de direito, para todos: agir moralmente é agir de tal modo
que você possa desejar, sem contradição, que todo
indivíduo se submeta aos mesmos princípios que você. Não
é porque Deus existe que devo agir bem; é porque devo
agir bem que posso necessitar – não para ser virtuoso, mas
para escapar do desespero – de crer em Deus. Mesmo se
Deus não existir, mesmo se não houver nada depois da
morte, isso não dispensará você de cumprir com o seu
dever, em outras palavras, de agir humanamente.
(André Comte-Sponville. Apresentação da filosofia, 2002. Adaptado.)
O conceito filosófico de imperativo categórico é baseado no
relativismo ou na universalidade moral? Justifique sua
resposta. Explique o motivo pelo qual a ética kantiana
dispensa justificativas de caráter religioso.
8. (Uel 2007) Na segunda seção da Fundamentação da
Metafísica dos Costumes, Kant nos oferece quatro
exemplos de deveres. Em relação aosegundo exemplo,
que diz respeito à falsa promessa, Kant afirma que uma
“pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro
emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas
vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer
firmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação
de fazer a promessa; mas tem ainda consciência bastante
para perguntar a si mesma: Não é proibido e contrário ao
dever livrar-se de apuros desta maneira? Admitindo que se
decida a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: Quando julgo
estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado e
prometo pagá-lo, embora saiba que tal nunca sucederá”.
Fonte: KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução
de Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 130.
De acordo com o texto e os conhecimentos sobre a moral
kantiana, considere as afirmativas a seguir:
I. Para Kant, o princípio de ação da falsa promessa não
pode valer como lei universal.
II. Kant considera a falsa promessa moralmente permissível
porque ela será praticada apenas para sair de uma situação
momentânea de apuros.
III. A falsa promessa é moralmente reprovável porque a
universalização de sua máxima torna impossível a própria
promessa.
IV. A falsa promessa é moralmente reprovável porque vai
de encontro às inclinações sociais do ser humano.
A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é:
a) I e II b) I e III c) II e IV
d) I, II e III e) I, II e IV
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Gabarito:
1. D 2. (8+16) 3. A 4. B 5. C 6. D 8. B
Exercícios Complementares
1. (Unesp 2011) Renata, 11, combinava com uma amiga
viajar em julho para a Disney. Questionada pela mãe, que
não sabia de excursão nenhuma, a menina pegou uma
pasta com preços do pacote turístico e uma foto com os
dizeres: “Se eu não for para a Disney vou ser um pateta”. A
agência de turismo e a escola afirmam que não pretendiam
constranger ninguém e que a placa do Pateta era apenas
uma brincadeira. Para um promotor da área do consumidor,
o caso ilustra bem os abusos na publicidade infantil.
“Já temos problemas sérios de bullying nas escolas. Essa
empresa está criando uma situação propícia para isso”.
(Folha de S.Paulo, 20.04.2010. Adaptado.)
Acerca dessa notícia, podemos afirmar que:
a) Em nossa sociedade, os campos da publicidade e da
pedagogia são esferas separadas, não suscitando
questões de natureza ética.
b) Para o promotor citado na reportagem, o caso em questão
provoca problemas de natureza exclusivamente jurídica.
c) Uma das questões éticas envolvidas diz respeito à
exposição precoce das crianças à manipulação do desejo,
exercida pela publicidade.
d) O público-alvo dessa campanha publicitária constitui-se de
indivíduos dotados de consciência autônoma.
e) Para o promotor citado na reportagem, o caso em questão
não apresenta repercussões de natureza psicológica.
2. (Unesp 2011) Num mundo onde cresce sem parar a
compulsão para obrigar as pessoas a levar uma vida
“correta” no maior número possível das atividades que
formam o seu dia a dia, a mesa tornou-se uma das áreas
que mais atraem a atenção dos gendarmes empenhados
em arbitrar o que é realmente bom para você. É uma
provação permanente. Médicos, nutricionistas, personal
trainers, editores e editoras de revistas dedicadas à forma
física, ambientalistas, militantes da produção orgânica,
burocratas, chefs de cozinha, críticos de restaurantes e
mais uma multidão de diletantes prontos a dar testemunho
expedem decretos cada vez mais frequentes, e cada vez
mais severos, sobre os deveres do cidadão na hora de
comer. O fato é que toda essa gente, quase sempre com as
melhores intenções, acabou construindo um crescente
sistema de ansiedade em torno do pão nosso de cada dia
– e o resultado é que o prazer de comer bem vai sendo
substituído pela obrigação de comer certo. Modelos, atrizes
e outras pessoas que precisam pesar pouco para fazer
sucesso chegam aos 30 anos de idade, ou mais,
praticamente sem ter feito uma única refeição decente na
vida. Propõe-se, como virtude alimentar, um mundo
sombrio de pastas, mingaus, poções, soros de proteína e
sabe-se lá o que ainda vem pela frente. Não está claro o
que se ganha em toda essa história. A perspectiva de
morrer, um dia, no peso ideal?
(J. R. Guzzo. Veja, 09.06.2010. Adaptado.)
Sob o ponto de vista filosófico, podemos afirmar que, para
o autor,
a) é positiva a adoção de procedimentos científicos no
campo nutricional.
b) o tema da qualidade de vida deve ser enfocado sob
critérios morais.
c) os padrões hegemônicos vigentes na sociedade atual no
campo da nutrição são elogiáveis.
d) a felicidade depende do número de calorias ingeridas
pelo ser humano.
e) a autonomia individual deveria ser o critério para definir
os parâmetros de uma vida adequada.
3. (Uenp 2009) Leia o fragmento:
“Tudo na natureza age segundo leis. Só um ser racional tem
a capacidade de agir segundo a representação das leis, isto
é, segundo princípios, ou: só ele tem uma vontade. Como
para derivar as ações das leis é necessária a razão, a
vontade não é outra coisa senão razão prática. Se a razão
determina infalivelmente a vontade, as ações de um tal ser,
que são conhecidas como objetivamente necessárias, são
também subjetivamente necessárias, isto é, a vontade é a
faculdade de escolher só aquilo que a razão
independentemente da inclinação, reconhece como
praticamente necessário, quer dizer bom”.
(KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. de
Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1995, p. 47.)
Assinale a alternativa correta:
a) A ética kantiana tem os mesmos princípios da ética
aristotélica, e por isso pode ser considerada
eudemonista e utilitarista.
b) Kant afirmava que o princípio da ação moral era o
imperativo categórico, que poderia ser reduzido a
seguinte assertiva: “...age de tal forma que a máxima de
sua ação possa ser universal”.
c) Kant desenvolve uma ética do dever.
d) No pensamento kantiano não existe qualquer distinção
entre a lei ética, a lei física, a lei moral e a lei jurídica,
porque todas possuem o mesmo princípio elementar de
fundamento.
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e) O sistema proposto por Kant servirá de crítica para os
teóricos posteriores que procuram defender a ideia de
“ética mínima”.
4.(Uem 2009) “A ética ou filosofia moral é a parte da filosofia
que se ocupa com a reflexão a respeito das noções e
princípios que fundamentam a vida moral.”
(ARANHA, Maria L. de Arruda e MARTINS, Maria H. Pires. Filosofando:
introdução à Filosofia. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2003, p. 301).
A ética nasce quando a indagação formula duas questões:
primeiro, de onde vêm e o que valem os costumes;
segundo, o que é o caráter de cada pessoa, isto é, seu
senso e consciência moral. Assinale o que for correto.
01) Para Nietzsche, a ética institui um “dever ser” moral, os
princípios e os valores que ela dita são universais, portanto
válidos para todos os homens, independentemente do
tempo e do espaço.
02) As perguntas dirigidas por Sócrates aos atenienses sobre
o que eram os valores nos quais acreditavam e que
respeitavam ao agir inauguram a filosofia moral, porque
definem o campo no qual valores e obrigações morais
podem ser estabelecidos pela determinação do seu ponto
de partida, isto é, a consciência do agente moral.
04) Para Aristóteles, a ética fundamenta-se em princípios
ascéticos, em uma moral da abnegação, como condições
indispensáveis para impor aos homens um “dever ser”
capaz de conter o caráter perverso dos seus instintos e
paixões.
08) A ética nãose confunde com a política, todavia elas
mantêm entre si uma relação necessária, pois a formação
ética é, ao sobrepor os interesses coletivos aos individuais,
importante para o exercício da cidadania.
16) Para Kant, não existe bondade natural. Por natureza, o
homem pode ser egoísta, ambicioso, destrutivo, ávido de
prazeres que nunca o saciam e pelos quais mata, mente,
rouba; é a razão pela qual precisa do dever racional para se
tornar um ser moral.
5.(Unioeste 2009) “O termo bioética foi, primeiramente,
utilizado pelo médico norte-americano V. R. Potter no início
da década de 1970. [...] Nos últimos trinta anos, a bioética
cresceu rapidamente como área de conhecimento e tornou-
se particularmente importante nas ciências relacionadas
com a vida humana, tais como a medicina, a enfermagem,
a biologia, o direito etc., apesar de ser um objeto de estudo
interdisciplinar e ter ocupado também lugar central na
filosofia moral”. (D. Dall'Agnol)
Tendo em conta o ponto de vista da Bioética, é correto
afirmar que
a) questões relacionadas à intervenção na natureza e ao
uso de recursos naturais são independentes das que
dizem respeito à segurança, ao meio ambiente e ao bem-
estar comum.
b) a conduta humana no âmbito das ciências da vida e da
saúde não precisa ser analisada à luz dos valores e
princípios morais.
c) é preciso discutir a questão da responsabilidade e da
autoridade da ciência e do médico em relação às
intervenções e limites de certas experiências, tais como
o aborto induzido, a esterilização, a eutanásia, a
clonagem, as células-tronco, etc.
d) o conhecimento científico, exatamente por tratar da
verdade, não pode sofrer limitações por questões éticas
e, portanto, é independente de valores morais.
e) a ciência é uma atividade imparcial, neutra e
desinteressada.
6.(Uel 2007) “Ora, nós chamamos aquilo que deve ser
buscado por si mesmo mais absoluto do que aquilo que
merece ser buscado com vistas em outra coisa, e aquilo que
nunca é desejável no interesse de outra coisa mais absoluto
do que as coisas desejáveis tanto em si mesmas como no
interesse de uma terceira; por isso chamamos de absoluto
e incondicional aquilo que é sempre desejável em si mesmo
e nunca no interesse de outra coisa”
Fonte: ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Leonel Vallandro
e Gerd Bornheim. São Paulo: Nova Cultural, 1987, 1097b, p. 15.
De acordo com o texto e os conhecimentos sobre a ética de
Aristóteles, assinale a alternativa correta:
a) Segundo Aristóteles, para sermos felizes é suficiente
sermos virtuosos.
b) Para Aristóteles, o prazer não é um bem desejado por si
mesmo, tampouco é um bem desejado no interesse de
outra coisa.
c) Para Aristóteles, as virtudes não contam entre os bens
desejados por si mesmos.
d) A felicidade é, para Aristóteles, sempre desejável em si
mesma e nunca no interesse de outra coisa.
e) De acordo com Aristóteles, para sermos felizes não é
necessário sermos virtuosos.
7.(Uema 2005) “Age como se a máxima de tua ação
devesse ser erigida por tua vontade em lei universal da
natureza”.
Essa máxima kantiana afirma que:
a) a universalidade da conduta ética é aquilo que todo e
qualquer ser humano racional deve fazer como se fosse
uma lei inquestionável e válida para todo o tempo e lugar.
A ação, por dever, é uma lei moral para o agente.
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b) a dignidade dos seres humanos como pessoas é,
portanto, a exigência de que sejam tratadas como fim da
ação e jamais como meio.
c) o agir moral se funda exclusivamente na subjetividade.
d) o motivo moral da vontade má é agir por dever.
e) a ação por dever é uma lei amoral para o agente.
8. (Unesp 2012) O clima do “politicamente correto” em que
nos mergulharam impede o raciocínio. Este novo senso
comum diz que todos os preconceitos são errados. Ao que
um amigo observou: “Então vocês têm preconceito contra
os preconceitos”. Ele demonstrava que é impossível não ter
preconceitos, que vivemos com eles, e que grande
quantidade deles nos é útil. Mas, afinal, quais preconceitos
são pré-julgamentos danosos? São aqueles que carregam
um juízo de valor depreciativo e hostil. Lembre-se do seu
tempo de colégio. Quem era alvo dos bullies? Os diferentes.
As crianças parecem repetir a história da humanidade:
nascem trogloditas, violentas, cruéis com quem não é da
tribo, e vão se civilizando aos poucos. Alguns, nem tanto.
Serão os que vão conservar esses rótulos pétreos,
imutáveis, muitas vezes carregados de ódio contra os
“diferentes”, e difíceis (se não impossíveis) de mudar.
(Francisco Daudt. Folha de S.Paulo, 07.02.2012. Adaptado.)
O artigo citado aborda a relação entre as tendências
culturais politicamente corretas e os preconceitos. Com
base no texto, pode-se afirmar que a superação dos
preconceitos que induzem comportamentos agressivos
depende
a) da capacidade racional de discriminar entre pré-
julgamentos socialmente úteis e preconceitos
disseminadores de hostilidade.
b) de uma assimilação integral dos critérios “politicamente
corretos” para representar e julgar objetivamente a
realidade.
c) da construção de valores coletivos que permitam que
cada pessoa diferencie os amigos e os inimigos de sua
comunidade.
d) de medidas de natureza jurídica que criminalizem a
expressão oral de juízos preconceituosos contra
integrantes de minorias.
e) do fortalecimento de valores de natureza religiosa e
espiritual, garantidores do amor ao próximo e da
convivência pacífica.
Gabarito:
1.C 2.E 3.B 4. (2+8+16) 5.C 6.D 7.A 8.E
AULA 2 – O idealismo alemão: Hegel
Hegel (1770 – 1831)
Georg Hegel nasceu em Stuttgart, na Alemanha. Estudou
teologia e atuou muitos anos como preceptor. Estabeleceu-
se como professor na Universidade de Jena, onde produziu
a sua mais importante obra: Fenomenologia do Espírito
(1807), mas foi forçado a deixar a cidade quando ela foi
invadida pelas tropas de Napoleão. Trabalhou como editor,
professor e, mais tarde, nas importantes Universidades de
Heidelberg e de Berlim.
“Hegel foi o filósofo mais famoso na Alemanha na primeira
metade do século XIX. Sua ideia central era a de que todos
os fenômenos, da consciência às instituições políticas, são
aspectos de um único espírito (mente ou ideia) que ao longo
do tempo reintegra esses aspectos em si mesmo. Esse
processo de reintegração é o que Hegel chama de dialética:
um processo que nós (enquanto aspectos do espírito)
entendemos como história.”
(O Livro da Filosofia – Ed. Globo, 2011)
Crítica à Kant: como podemos criticar e estabelecer os
limites da razão usando a própria razão?
A realidade possui um movimento dialético. A realidade é
dinâmica e, em seu movimento, apresenta momentos que
se contradizem sem, no entanto, perder a unidade do
processo. A realidade é, portanto, um contínuo DEVIR, no
qual um momento prepara para o outro, mas, para que esse
outro momento possa acontecer, o anterior tem que ser
negado.
Dialética: TESE ANTÍTESE SÍNTESE
Sistema dialético hegeliano: o caminhar do espírito
(consciência) em busca do absoluto. A busca da infinitude
a partir da consciência finita.
O caminho é feito de verdades parciais que vão sendo
reunidas até que se chegue a uma verdade totalizadora que
as engloba. Cada tese e cada antítese foram verdadeiras,
mas parciais, foram momentos necessários para a razão
conhecer-se cada vez mais.
A razão é histórica e o real é obra histórica da razão.
O processo histórico tem uma lógica racional. Todas as
coisas e eventos, mesmo os piores, possuem um sentido
dentro do processo histórico, pois compõem o plano
racional que é a realidade.
A formação da consciência vai depender docontexto
histórico em que está inserida. É na ação que a consciência
adquire compreensão do objeto.
A Filosofia é: “sua época apreendida pelo pensamento”.
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Exercícios
1.(Ueg 2011) Um dos elementos mais conhecidos da
filosofia de Hegel é a dialética, baseada no pressuposto de
que uma ideia (tese) produz uma ideia oposta (antítese),
resultando, consequentemente, numa conciliação (síntese)
entre as duas ideias opostas. Nesse sentido, ao utilizar
esse princípio hegeliano para interpretar os sistemas
políticos contemporâneos, percebe-se que a síntese entre
os princípios do liberalismo e os do marxismo foi efetivada
no
a) Estado de bem-estar social.
b) anarquismo de Bakunin.
c) nazismo alemão.
d) fascismo italiano.
2.(Uem 2010) Hegel criticou o inatismo, o empirismo e o
kantismo. Endereçou a todos a mesma crítica, a de não
terem compreendido o que há de mais fundamental e
essencial à razão: o fato de ela ser histórica. Com base
nessa afirmação, assinale o que for correto.
01) Ao afirmar que a razão é histórica, Hegel considera a
razão como sendo relativa, isto é, não possui um caráter
universal e não pode alcançar a verdade.
02) Não há para Hegel nenhuma relação entre a razão e a
realidade. Submetida às circunstâncias dos eventos
históricos, a razão está condenada ao ceticismo, isto é, “ao
duvidar sempre”.
04) A identificação entre razão e história conduz Hegel a
desenvolver uma concepção materialista da história e da
realidade, negando entre ambas a possibilidade de uma
relação dialética.
08) No sistema hegeliano, a racionalidade não é mais um
modelo a ser aplicado, mas é o próprio tecido do real e do
pensamento. O mundo é a manifestação da ideia, o real é
racional, e o racional é o real.
16) Karl Marx, ao afirmar, na Ideologia alemã, que não é a
história que anda com as pernas das ideias, mas as ideias
é que andam com as pernas da história, critica, ao mesmo
tempo, o idealismo e a concepção da história de Hegel e
dos neo-hegelianos.
3.(Ufu 2005) Hegel, em seus cursos universitários de
Filosofia da História, fez a seguinte afirmação sobre a
relação entre a filosofia e a história: “O único pensamento
que a filosofia aporta é a contemplação da história”.
HEGEL, G. W. F. Filosofia da História. 2 ed. Brasília: Editora da UnB,
1998, p. 17.
De acordo com a reflexão de Hegel, é correto afirmar que:
I. a razão governa o mundo e, portanto, a história universal
é um processo racional.
II. a ação dos homens obedece a vontade divina que
preestabelece o curso da história.
III. no processo histórico, o pensar está subordinado ao real
existente.
IV. a ideia ou a razão se originam da força material de
produção e reprodução da história.
Assinale a alternativa que contém somente assertivas
corretas.
a) III e IV. b) I e II. c) II e III. d) I e III.
Gabarito:
1: [A] 2: 08 + 16 = 24. 3: [D]
AULA 3 – Origens da Sociologia
O QUE É SOCIOLOGIA?
Ciência que surge no século XIX e que se propõe a estudar
a sociedade moderna.
Objetivos:
- analisar a relação entre as transformações na vida
cotidiana e os processos mais amplos de mudança
histórica.
- compreender a sociedade industrial do século XIX:
capitalismo, vida urbana, industrialização, desenvolvimento
tecnológico, novas relações de tempo e espaço,
individualismo, secularização.
Estas mudanças que caracterizam a sociedade moderna
passam a não ser mais tomadas como naturais pelo
indivíduo do século XIX. Nesse contexto, surgem as
chamadas ciências sociais, que aplicam o método científico
(rigor, apoiado num amplo e cuidadoso exame dos fatos)
para estudar diferentes aspectos da vida social.
Sociologia – estudo científico da sociedade moderna, com
foco em questões estruturais e na relação entre indivíduo e
sociedade.
Antropologia – ciência social que estuda o ser humano
como produtor de cultura e as diferentes manifestações
culturais
Ciência Política – estudos dos fenômenos e das estruturas
políticas.
Imaginação sociológica
Expressão criada pelo cientista social norte-americano C.
Wright Mills em 1959. Ela designa uma habilidade que
qualquer indivíduo pode desenvolver ao longo da vida.
Significa o indivíduo tornar-se capaz de compreender de
modo mais amplo os eventos cotidianos, estabelecendo
relações entre a biografia (pessoal) e a história (social,
estrutural). Assim, a imaginação sociológica é um conceito
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que que procura descrever o processo de conexão entre a
experiência individual da pessoa com as instituições sociais
sob as quais convive e com o seu próprio lugar
na história da humanidade.
Carles Wright Mills (1916 – 1962)
Contexto histórico do surgimento da sociologia:
- Rev. Industrial: desestrutura por completo o feudalismo e
consolida o modo de produção capitalista;
- Rev. Francesa: marca, junto às demais revoluções
burguesas, a ascensão política da classe burguesa, que
desestrutura o Antigo Regime e abre caminhos para o
surgimento de modelos de democracia representativa
baseados na igualdade jurídica e civil dos cidadãos;
- Iluminismo: corrente filosófica do século XVIII que
compreende a razão humana como instrumento de
transformação histórica (progresso), consagra a ciência e
dissemina valores liberais como liberdade e igualdade.
É importante notarmos que até o Iluminismo não existia um
pensamento autônomo sobre a vida social, as tradições, os
costumes (ancorados na religião) regiam a vida cotidiana
como se todos os hábitos e valores fossem inquestionáveis.
A desigualdade entre os homens era tomada como uma
condição natural.
Contexto científico do surgimento da sociologia:
Dentre os pressupostos científicos para o surgimento da
Sociologia encontram-se as seguintes noções, bastante
difundidas no século XIX:
− as relações entre os homens podem ser destacadas
como objeto de conhecimento científico;
− há leis (padrões) que ordenam a política, o Estado, os
costumes e hábitos sociais (esses padrões
independem da vontade do homem) e tais leis podem
ser conhecidas por meio de um método formalizado de
acordo com as premissas da ciência.
Como vimos, a sociedade que inquietava os primeiros
sociólogos era uma sociedade industrial, marcada por
novas formas de produção material e pela intensa divisão
do trabalho. A ciência passa a ocupar lugar de destaque
nessa sociedade, uma vez que muitas teses e descobertas
sobre a natureza se alastram pela Europa dos séculos XVIII
e XIX, alternando significativamente o que se conhecia do
mundo. O cientificismo do período expande-se para o
estudo da sociedade, gerando um conjunto de teses e
interpretações hoje bastante questionáveis, mas que
marcaram os primeiros estudos no campo sociológico.
Darwinismo Social
Muitos cientistas e políticos do século XIX leram as teses
de Darwin sobre a evolução das espécies e transpuseram
tais ideias para a análise da sociedade, o que resultou no
darwinismo social, expressão que abarca teses do século
XIX que afirmam que as sociedades se desenvolvem de
forma semelhante, sempre de um estágio inferior para um
estágio superior. Inspirados nessa perspectiva
evolucionista, cientistas justificavam a discrepância entre as
sociedades europeias e as de outros continentes, que se
encontrariam em estágios inferiores de desenvolvimento.
Além de refletir o otimismo da industrialização, o
darwinismo social acabou servindo de forte justificativa para
o colonialismo na África e em outras regiões do planeta que,
na leitura dos representantes dessa corrente, careciam de
ser levados ao progresso.
Herbert Spencer (1820 – 1903)
Spencer, principal teórico e defensor do Organicismo,
defendeu a tese de que toda a realidade evoluide modo
semelhante aos organismos vivos. Na perspectiva social, o
sistema organicista defende a ideia da superioridade dos
seres que melhor se adaptam ao ambiente.
Auguste Comte (1789 – 1857)
Filósofo francês, criador da corrente filosófica conhecida
como Positivismo. Nela, a ciência é o único conhecimento
válido à compreensão da realidade e capaz de resolver os
problemas que impedem as sociedades humanas de
alcançarem a sua plenitude.
Comte consolidou a palavra “sociologia” no ambiente
intelectual da época, num primeiro momento chamada de
“física social”, dada a influência das ciências da natureza,
seu método e pretensão de neutralidade. Ele defendia a
tese de que a humanidade passava por três estágios de
conhecimento:
TEOLÓGICO: os homens atribuíam as causas dos
fenômenos aos deuses.
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METAFÍSICO: recorriam a conceitos abstratos para
entender o mundo.
POSITIVO: os homens aplicam métodos científicos para
compreender a causa dos fenômenos.
Comte creditava que a especificidade da Sociologia era o
estudo da sociedade. Defendia a existência de leis sociais
que determinam o curso da evolução da humanidade. As
leis são resultados aleatórios da ação humana. Essa
movimentação natural tende a levar as sociedades ao
progresso (evolução). As forças evolutivas, que fazem
eclodir as transformações necessárias seriam, por sua vez,
equilibradas pela ação das forças ordenadoras, que teriam
o papel de manter a coesão das sociedades, não permitindo
que as transformações abalassem de modo demasiado as
estruturas. Essas forças, ordem e progresso, deveriam
existir sempre em equilíbrio.
O filósofo almejava entender a organização da sociedade
industrial europeia, direcionando-a ao progresso.
Acreditava que a Sociologia poderia estudar
profundamente e contribuir com o equilíbrio das forças
sociais. O positivismo influenciou um outro importante
pensador francês, chamado Émile Durkheim, considerado
um dos pais da Sociologia.
EXERCÍCIOS
1. (Uem 2018) Auguste Comte (1798-1857), a quem se
atribui a formulação do termo Sociologia, foi o principal
representante e sistematizador do Positivismo. Acerca do
pensamento comteano, é correto afirmar que
01) considerava os prejuízos do desenvolvimento
econômico das sociedades industriais.
02) teve grande influência sobre o pensamento social
brasileiro do século XIX e início do XX.
04) a inspiração para o método de investigação dos
fenômenos sociais de Comte veio das ciências da
natureza.
08) era uma tentativa de constituição de um método objetivo
para a observação dos fenômenos sociais.
16) considerava o progresso e a evolução social um
princípio da história humana.
3. (Uem 2018) Assinale o que for correto em relação ao
surgimento das Ciências Sociais e de suas perspectivas
teóricas e metodológicas.
01) Tal como a Física, a Química e a Biologia, a Sociologia
surgiu como parte do desenvolvimento e dos
desdobramentos do conhecimento científico.
02) Somente com o surgimento da Sociologia e da
Psicologia, por volta do século XVIII, a humanidade
despertou sua curiosidade para o comportamento
humano e suas consequências para as relações entre
as pessoas.
04) A Sociologia, como as demais ciências puras, não tem
impacto prático na vida das pessoas.
08) A avaliação de resultados de políticas públicas pode ser
um dos objetivos da investigação sociológica.
16) O estudo sociológico somente é possível porque a
humanidade já atingiu seu completo desenvolvimento
no processo de estruturação social.
3. (UNESP 2016)
Texto 1
Diversamente do idealismo, o positivismo reivindica o
primado da ciência: nós conhecemos somente aquilo que
as ciências nos dão a conhecer, pois o único método de
conhecimento é o das ciências naturais. O positivismo não
apenas afirma a unidade do método científico e o primado
desse método como instrumento de conhecimento, mas
também exalta a ciência como o único meio em condições
de resolver, ao longo do tempo, todos os problemas
humanos e sociais que até então haviam atormentado a
humanidade.
(Giovanni Reale e Dario Antiseri. História da Filosofia, vol. 3, 1999.
Adaptado.)
Texto 2
Basta, portanto, que os homens sejam considerados coisas
para que se tornem manipuláveis, submetidos à ditadura
racionalizada moderna que encontra seu apogeu no campo
de concentração. Assim, a nova crise da razão é interna e
traz subitamente à luz, no cerne da racionalização, a
presença destrutiva da desrazão. Já não é apenas a
suficiência e a insuficiência da razão que estão em causa,
é a irracionalidade do racionalismo e da racionalização.
Essa irracionalidade pode devorar a razão sem que ela se
dê conta.
(Edgar Morin. Ciência com consciência, 1996. Adaptado.)
Considerando a análise realizada por Edgar Morin sobre as
tendências irracionais da razão, explique sua importância
para uma crítica ao otimismo positivista diante da ciência.
4. (ENEM 2006) No início do século XIX, o naturalista
alemão Carl Von Martius esteve no Brasil em missão
científica para fazer observações sobre a flora e a fauna
nativas e sobre a sociedade indígena. Referindo-se ao
indígena, ele afirmou:
“Permanecendo em grau inferior da humanidade,
moralmente, ainda na infância, a civilização não o altera,
nenhum exemplo o excita e nada o impulsiona para um
nobre desenvolvimento progressivo [...]. Esse estranho e
inexplicável estado do indígena americano, até o presente,
tem feito fracassarem todas as tentativas para conciliá-lo
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inteiramente com a Europa vencedora e torná-lo um
cidadão satisfeito e feliz.”
(VON MARTIUS, Carl. O estado do direito entre os autóctones do Brasil.
Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/EDUSP, 1982.)
Com base nessa descrição, conclui-se que o naturalista
Von Martius
a) apoiava a independência do Novo Mundo, acreditando
que os índios, diferentemente do que fazia a missão
europeia, respeitavam a flora e a fauna do país.
b) discriminava preconceituosamente as populações
originárias da América e advogava o extermínio dos índios.
c) defendia uma posição progressista para o século XIX: a
de tornar o indígena cidadão satisfeito e feliz.
d) procurava impedir o processo de aculturação, ao
descrever cientificamente a cultura das populações
originárias da América.
e) desvalorizava os patrimônios étnicos e culturais das
sociedades indígenas e reforçava a missão "civilizadora
europeia", típica do século XIX.
5. (Uem 2012) Sobre a relação entre a revolução industrial
e o surgimento da sociologia como ciência, assinale o que
for correto.
01) A consolidação do modelo econômico baseado na
indústria conduziu a uma grande concentração da
população no ambiente urbano, o qual acabou se
constituindo em laboratório para o trabalho de
intelectuais interessados no estudo dos problemas que
essa nova realidade social gerava.
02) A migração de grandes contingentes populacionais do
campo para as cidades gerou uma série de problemas
modernos, que passaram a demandar investigações
visando à sua resolução ou minimização.
04) Os primeiros intelectuais interessados no estudo dos
fenômenos provocados pela revolução industrial
compartilhavam uma perspectiva positiva sobre os
efeitos do desenvolvimento econômico baseado no
modelo capitalista.
08) Os conflitos entre capital e trabalho, potencializados
pela concentração dos operários nas fábricas, foram
tema de pesquisa dos precursores da sociologia e
continuam inspirando debates científicos relevantes na
atualidade.
16) A necessidade de controle da força de trabalho fez com
que as fábricas e indústrias do século XIX inserissem
sociólogos em seus quadros profissionais, para
atuarem no desenvolvimentode modelos de gestão
mais eficientes e produtivos.
6. (Ufu 2010) A Sociologia surge em um período em que o
fazer científico encontrava-se influenciado por algumas
teses desenvolvidas durante o século XIX. Herbert
Spencer, Charles Darwin e Auguste Comte, por exemplo,
tiveram grande importância para o pensamento sociológico.
O primeiro, por aplicar às ciências humanas o
evolucionismo, mesmo antes das teses revolucionárias
sobre a seleção das espécies do segundo. Com relação a
Comte, houve a influência de seu “espírito positivo” na
formação dos muitos intelectuais do período.
Sobre as ideias de evolução e progresso e seu impacto no
pensamento sociológico, podemos afirmar que:
a) A ideia de progresso, apesar de ter grande influência na
área das ciências naturais, não teve impacto decisivo na
constituição da sociologia.
b) A ideia de evolução foi uma das palavras de ordem do
período, mas a sociologia rejeitou a sua adoção, assim
como qualquer comparação entre seus efeitos no reino
natural e no mundo social.
c) A explicação sociológica procurou, desde o seu início,
afastar-se de qualquer forma de determinismos, fossem
biológicos ou geográficos, pois se contrapunha
fortemente às explicações de cunho evolucionista.
d) Em sua busca por constituir-se como disciplina, a
Sociologia passou pela valorização e incorporação dos
métodos das ciências da natureza, utilizando metáforas
organicistas, assim como conferindo ênfase à noção de
função.
7. (UNESP) É difícil acreditar na guerra terrível, mas
silenciosa, que os seres orgânicos travam em meio aos
bosques serenos e campos risonhos.
("C. Darwin, anotação no Diário de 1839".)
Na segunda metade do século XIX, a doutrina sobre a
seleção natural das espécies, elaborada pelo naturalista
inglês Charles Darwin, foi transferida para as relações
humanas, numa situação histórica marcada
a) pela concórdia universal entre povos de diferentes
continentes.
b) pela noção de domínio, supremacia e hierarquia racial.
c) pelos tratados favoráveis aos povos colonizados.
d) pelas concepções de unificação europeia e de paz
armada.
e) pela fundação de instituições destinadas a promover a
paz.
8. (UEL 2005) A Sociologia é uma ciência moderna que
surge e se desenvolve juntamente com o avanço do
capitalismo. Nesse sentido, reflete suas principais
transformações e procura desvendar os dilemas sociais por
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ele produzidos. Sobre a emergência da sociologia,
considere as afirmativas a seguir.
I. A Sociologia tem como principal referência a explicação
teológica sobre os problemas sociais decorrentes da
industrialização, tais como a pobreza, a desigualdade
social e a concentração populacional nos centros
urbanos.
II. A Sociologia é produto da Revolução Industrial, sendo
chamada de “ciência da crise”, por refletir sobre a
transformação de formas tradicionais de existência social
e as mudanças decorrentes da urbanização e da
industrialização.
III. A emergência da Sociologia só pode ser compreendida
se for observada sua correspondência com o
cientificismo europeu e com a crença no poder da razão
e da observação, enquanto recursos de produção do
conhecimento.
IV. A Sociologia surge como uma tentativa de romper com
as técnicas e métodos das ciências naturais, na análise
dos problemas sociais decorrentes das reminiscências
do modo de produção feudal.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e III. b) II e III. c) II e IV.
d) I, II e IV. e) I, III e IV.
Gabarito:
1.(2+4+8+16) 2.(1+8) 4.E 5. (1+2+4+8)
6. D 7. B 8. B
AULA 4 – Émile Durkheim e o método
sociológico
Émile Durkheim (1858 – 1917)
Sociólogo francês, Émile Durkheim foi o primeiro a
desenvolver a Sociologia como uma disciplina acadêmica,
sendo considerado um de seus pilares clássicos.
Obras principais:
“Da Divisão do Trabalho Social”
“As Regras do Método Sociológico”
“As Formas Elementares da Vida Religiosa”
“O Suicídio”
Durkheim defendia a ideia de que a sociedade era mais do
que um simples agrupamento de indivíduos movidos por
interesses particulares. A sociedade é um corpo moral com
regras e uma consciência coletiva. Mesmo em uma
sociedade mais especializada e com uma forte presença do
individualismo seria possível localizar a presença de regras
que obrigavam os homens a certos modos de ação e certas
relações com os outros.
Durkheim acreditava que a Sociologia devia adotar
procedimentos científicos, próprios ao mundo das ciências
naturais, investigando os fatos de maneira objetiva. Define,
então, um método para a Sociologia partindo do empirismo
das outras ciências e deixando de lado a metafísica. Para
ele, os preconceitos e valores arraigados do cientista
impedem a apreciação positiva do mundo. Por isso, os fatos
sociais deviam ser tratados como “coisas”, o que implica em
distanciamento e busca pelo máximo grau de neutralidade
possível.
FATOS SOCIAIS
- maneiras coletivas de agir, pensar e sentir (possuem
generalidade);
- exteriores ao indivíduo e coercitivos (independem da
vontade do indivíduo);
Sentimentos, opiniões e modos de agir de ordem coletiva
seriam objetos gerados pela força da coletividade,
cristalizados em instituições sociais e impostos ao homem
de forma coercitiva e obrigatória.
Para Durkheim, a sociedade é um sistema complexo
composto por diversas partes. É necessário compreender o
fato social a partir da função que exerce no sistema.
O autor adota o paradigma biológico, estabelecendo
distinções entre o normal e o patológico (comportamento
desviante), criando o conceito de anomia.
Anomia: “ausência ou redução da capacidade do tecido
social para regular a conduta dos indivíduos. Nesses
sentido, configura-se como um problema a ser
solucionado, sob pena de causar risco à coesão social e
levar a sociedade ao fim. O aumento do número de crimes,
por exemplo, indica que a sociedade é incapaz de regular o
comportamento dos indivíduos.”
(Sociologia em Movimento, vários autores, Ed. Moderna, p. 43)
Entende que a divisão do trabalho cumpre um papel de
extrema importância nas sociedades industriais, pois gera
coesão (senso de pertencimento), produz solidariedade
entre pessoas com funções claramente complementares e,
por isso, evita quadros mais graves de anomia.
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Divisão do trabalho:
− tem uma função no processo de diferenciação
social / especialização
− aumenta a forma produtiva do trabalhador
− gera coesão e solidariedade
Os dois tipos de solidariedade identificados por Durkheim
relacionam-se especialmente à forma de organização
social:
Solidariedade mecânica (sociedades pré-capitalistas): os
indivíduos se identificam por meio da família, da religião, da
tradição e dos costumes. Não há diferenciação social
promovida pela individualidade (ela é inexpressiva). O
sentimento de pertencimento a uma coletividade é bastante
forte, fazendo com que os indivíduos reconheçam os
mesmos valores, crenças, sentimentos e objetos sagrados.
Solidariedade orgânica (característica das sociedades
capitalistas): através da divisão do trabalho social, os
indivíduos tornam-se interdependentes. A união social não
se dá pelo compartilhamento de costumes. Os indivíduos
são diferentes e necessários, tal como os órgãos de um
organismo vivo.
O suicídio
“Durkheim estudou profundamente o suicídio, utilizando
nesse trabalho toda a metodologia defendida e propagada
por ele. Considerou-o fato social por sua presença universal
em toda e qualquer sociedade e por suas características
exteriores e mensuráveis, completamente independente
das razões individuais. Assim, apesar deuma conduta
marcada pela vontade individual, o suicídio interessa ao
sociólogo por aquilo que tem em comum e coletivo e que,
certamente escapa às consciências individuais dos
envolvidos. Para Durkheim, a prova de o suicídio depende
de leis sociais e não da vontade do sujeito estava na
regularidade com que variam as taxas de suicídio de acordo
com alternâncias das condições históricas. Ele verificou,
por exemplo, que as taxas de suicídio aumentavam nas
sociedades em que havia uma aceitação profunda de uma
fé religiosa que prometesse a felicidade após a morte. É
sobre fatos assim concretos e objetivos, gerais e coletivos,
cuja natureza social se evidencia, que o sociólogo deve se
debruçar.”
(Cristina Costa, Sociologia: uma introdução à ciência da sociedade; Ed
Moderna, p. 84)
Texto complementar
O que é um fato social?
Émile DURKHEIM (As Regras do Método Sociológico)
Antes de indagar qual o método que convém ao estudo dos
fatos sociais, é necessário saber que fatos podem ser assim
chamados.
A questão é tanto mais necessária quanto esta qualificação é
utilizada sem muita precisão. Empregam-na correntemente
para designar quase todos os fenômenos que se passam no
interior da sociedade, por pouco que apresentem, além de
certa generalidade, algum interesse social. Todavia, desse
ponto de vista, não haveria por assim dizer nenhum
acontecimento humano que não pudesse ser chamado de
social. Cada indivíduo bebe, dorme, come, raciocina e a
sociedade tem todo o interesse em que estas funções se
exerçam de modo regular. Porém, se todos esses fatos fossem
sociais, a Sociologia não teria objeto próprio e seu domínio se
confundiria com o da Biologia e da Psicologia.
Na verdade, porém, há em toda sociedade um grupo
determinado de fenômenos com caracteres nítidos, que se
distingue daqueles estudados pelas outras ciências da
natureza.
Quando desempenho meus deveres de irmão, de esposo ou
de cidadão, quando me desincumbo de encargos que contraí,
pratico deveres que estão definidos fora de mim e de meus
atos, no direito e nos costumes. Mesmo estando de acordo
com sentimentos que me são próprios, sentindo-lhes
interiormente a realidade, esta não deixa de ser objetiva; pois
não fui eu quem os criou, mas recebi-os através da educação.
Contudo, quantas vezes não ignoramos o detalhe das
obrigações que nos incumbe desempenhar, e precisamos,
para sabê-lo, consultar o Código e seus intérpretes
autorizados! Assim também o devoto, ao nascer, encontra
prontas as crenças e as práticas da vida religiosa; existindo
antes dele, é porque existem fora dele. O sistema de signos de
que me sirvo para exprimir pensamentos, o sistema de moedas
que emprego para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito
que utilizo nas relações comerciais, as práticas seguidas na
profissão, etc., etc., funcionam independentemente do uso que
delas faço. Tais afirmações podem ser estendidas a cada um
dos membros de que é composta uma sociedade, tomados uns
após outros. Estamos, pois, diante de maneiras de agir, de
pensar e de sentir que apresentam a propriedade marcante de
existir fora das consciências individuais.
Esses tipos de conduta ou de pensamento não são apenas
exteriores ao indivíduo, são também dotados de um poder
imperativo e coercitivo, em virtude do qual se lhe impõem, quer
queira, quer não. Não há dúvida de que esta coerção não se
faz sentir, ou é muito pouco sentida quando com ela me
conformo de bom grado, pois então torna-se inútil. Mas não
deixa de constituir caráter intrínseco de tais fatos, e a prova é
que se afirma desde que tento resistir. Se experimento violar
as leis do direito, estas reagem contra mim de maneira a
impedir meu ato se ainda é tempo; com o fim de anulá-lo e
restabelecê-lo em sua forma normal se já se realizou e é
reparável; ou então para que eu o expie se não há outra
possibilidade de reparação. Mas, e em se tratando de máximas
puramente morais? Nesse caso, a consciência pública, pela
vigilância que exerce sobre a conduta dos cidadãos e pelas
penas especiais que têm a seu dispor, reprime todo ato que a
ofende. Noutros casos, a coerção é menos violenta; mas não
deixa de existir. Se não me submeto às convenções
mundanas; se, ao me vestir, não levo em consideração os usos
seguidos em meu país e na minha classe, o riso que provoco,
o afastamento em que os outros me conservam, produzem,
embora de maneira mais atenuada, os mesmos efeitos que
uma pena propriamente dita. Noutros setores, embora a
coerção seja apenas indireta, não é menos eficaz. Não estou
obrigado a falar o mesmo idioma que meus compatriotas, nem
a empregar as moedas legais; mas é impossível agir de outra
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maneira. Minha tentativa fracassaria lamentavelmente, se
procurasse escapar desta necessidade. Se sou industrial,
nada me proíbe de trabalhar utilizando processos e técnicas
do século passado; mas, se o fizer, terei a ruína como
resultado inevitável. Mesmo quando posso realmente me
libertar destas regras e violá-las com sucesso, vejo-me sempre
obrigado a lutar contra elas. E quando são finalmente
vencidas, fazem sentir seu poderio de maneira suficientemente
coercitiva pela resistência que me opuseram. Nenhum
inovador, por mais feliz, deixou de ver seus empreendimentos
se chocarem contra oposições deste gênero.
Estamos, pois, diante de uma ordem de fatos que apresenta
caracteres muito especiais: consistem em maneiras de agir, de
pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de um
poder de coerção em virtude do qual se lhe impõem. Por
conseguinte, não poderiam se confundir com os fenômenos
orgânicos, pois consistem em representações e em ações;
nem com os fenômenos psíquicos, que não existem senão na
consciência individual e por meio dela. Constituem, pois, uma
espécie nova e é a eles que deve ser dada e reservada a
qualificação de sociais. Esta é a qualificação que lhes convém;
pois é claro que, não tendo por substrato o indivíduo, não
podem possuir outro que não seja a sociedade: ou a sociedade
política em sua integridade, ou qualquer um dos grupos
parciais que ela encerra, tais como confissões religiosas,
escolas políticas e literárias, corporações profissionais, etc.
Por outro lado, é apenas a eles que a apelação convém; pois
a palavra social não tem sentido definido senão sob a condição
de designar unicamente fenômenos que não se englobam em
nenhuma das categorias de fatos já existentes, constituídas e
nomeadas. Estes fatos são, pois, o domínio próprio da
Sociologia. É verdade que o termo coerção, por meio do qual
o definimos, corre o risco de amedrontar os zelosos partidários
de um individualismo absoluto. Como professam que o
indivíduo é inteiramente autônomo, parece-lhes que o
diminuímos todas as vezes que fazemos sentir que não
depende apenas de si próprio. Porém, já que hoje se considera
incontestável- que a maioria de nossas ideias e tendências não
são elaboradas por nós, mas nos vêm de fora, conclui-se que
não podem penetrar em nós senão através de uma imposição;
eis todo o significado de nossa definição. Sabe-se, além disso,
que toda coerção social não é necessariamente exclusiva com
relação à personalidade individual.
(...) Esta definição do fato social pode, além do mais, ser
confirmada por meio de uma experiência característica: basta,
para tal, que se observe a maneira pela qual são educadas as
crianças. Toda a educação consiste num esforço contínuo para
impor às crianças maneiras de ver, de sentir e de agir às quais
elas não chegariam espontaneamente, observação que salta
aos olhos todas as vezes que os fatos são encarados tais quais
são e tais quais sempre foram. Desde os primeiros anos de
vida, são as crianças forçadas a comer, beber, dormir em
horas regulares; são constrangidas a terem hábitos higiênicos,
a serem calmas e obedientes; mais tarde, obrigamo-las a
aprender a pensar nos demais, a respeitarusos e
conveniências, forçamo-las ao trabalho etc. Se, com o tempo,
esta coerção deixa de ser sentida, é porque pouco a pouco dá
lugar a hábitos, a tendências internas que a tomam inútil, mas
que não a substituem senão porque dela derivam. É verdade
que, segundo Spencer, uma educação racional deveria
reprovar tais procedimentos e deixar a criança agir em plena
liberdade; mas como esta teoria pedagógica não foi nunca
praticada por nenhum povo conhecido, não constitui senão um
desiderato pessoal, não sendo fato que possa ser oposto
àqueles que expusemos atrás. Ora, estes últimos se tomam
particularmente instrutivos quando lembramos que a educação
tem justamente por objeto formar o ser social; pode-se então
perceber, como que num resumo, de que maneira este ser se
constitui através da história. A pressão de todos os instantes
que sofre a criança é a própria pressão do meio social
tendendo a moldá-la à sua imagem, pressão de que tanto os
pais quanto os mestres não são senão representantes e
intermediários.
(...) Chegamos, assim, a conceber de maneira precisa qual o
domínio da Sociologia, o qual não engloba senão um grupo
determinado de fenômenos. O fato social é reconhecível pelo
poder de coerção externa que exerce ou é suscetível de
exercer sobre os indivíduos; e a presença deste poder é
reconhecível, por sua vez, seja pela existência de alguma
sanção determinada, seja pela resistência que o fato opõe a
qualquer empreendimento individual que tenda a violentá-lo.
Todavia, podemos defini-lo também pela difusão que
apresenta no interior do grupo, desde que, de acordo com as
precedentes observações, se tenha o cuidado de acrescentar
como característica segunda e essencial que ele existe
independentemente das formas individuais que toma ao se
difundir. Nalguns casos, este 'último critério é até mesmo mais
fácil de aplicar do que o anterior.
Com efeito, a coerção é fácil de constatar quando ela se traduz
no exterior por qualquer reação direta da sociedade, como é o
caso em se tratando do direito, da moral, das crenças, dos
usos, e até das modas. Mas, quando não é senão indireta,
como a que exerce uma organização econômica, não se deixa
observar com tanta facilidade. Generalidade e objetividade
combinadas podem então ser mais fáceis de estabelecer. A
segunda definição não constitui senão uma forma diferente
que toma a primeira: pois o comportamento que existe
exteriormente às consciências individuais só se generaliza
impondo-se a estas. Vemos o quanto esta definição do fato
social se afasta daquela que serve de base ao engenhoso
sistema de Tarde. Primeiramente, devemos declarar que as
pesquisas não nos fizeram de modo algum constatar a
influência preponderante que Tarde atribui à imitação na
gênese dos fatos coletivos. Além do mais, da definição
precedente (que não é uma teoria, mas um simples resumo
dos dados imediatos da observação) parece resultar que a
imitação não exprime sempre, e nem mesmo exprime nunca,
o que há de essencial e característico no fato social.
Não há dúvida de que todo fato poder-se-ia, todavia, perguntar
se esta definição é completa. Com efeito, os fatos que nos
forneceram a base para ela são todos eles modos de agir; são
de ordem fisiológica. Ora, existem também maneiras de ser
coletivas, isto é, fatos sociais de ordem anatômica ou
morfológica. A Sociologia não se pode desinteressar daquilo
que concerne ao substrato da vida coletiva. No entanto, o
número e a natureza das partes elementares de que é
composta a sociedade, a maneira pela qual estão dispostas, o
grau de coalescência a que chegaram, a distribuição da
população na superfície do território, o número e a natureza
das vias de comunicação, a forma das habitações etc., não
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parecem, a um primeiro exame, passíveis de se reduzirem a
modos de agir, de sentir e de pensar.
Contudo, em primeiro lugar, apresentam estes diversos
fenômenos o mesmo traço que nos serviu para definir os
outros. Do mesmo modo que as maneiras de agir de que já
falamos, também a social é imitado; apresenta, como
acabamos de mostrar, tendência para se generalizar, mas isto
porque é social, isto é, obrigatório. Seu poder de expansão não
é a causa e sim a consequência de seu caráter sociológico. A
imitação poderia servir, se não para explicar, pelo menos para
definir os fatos sociais, se ainda estes fossem os únicos a
produzir esta consequência. Mas um estado individual que
ricocheteia não deixa por isso de ser individual. E, mais ainda,
podemos indagar se o termo imitação é realmente aquele que
convém para designar uma propagação devida a uma
influência coercitiva. Sob esta expressão única - imitação -
confundem-se fenômenos muito diferentes que seria
necessário distinguir. De fato, quando queremos conhecer
como está uma sociedade dividida politicamente, como se
compõem estas divisões, a fusão mais ou menos completa que
existe entre elas, não é com o auxílio de uma investigação
material e por meio de observações geográficas que
poderemos alcançá-lo; pois estas divisões são morais, ainda
quando apresentam algum ponto de apoio na natureza física.
É somente através do direito público que se torna possível
estudar tal organização, pois é ele que a determina, assim
como determina nossas relações domésticas e cívicas. Tal
organização não é, pois, menos obrigatória do que outros fatos
sociais. Se a população se comprime nas cidades em lugar de
se dispersar nos campos, é porque existe uma corrente de
opinião uma pressão coletiva que impõe aos indivíduos esta
concentração. Não podemos escolher a forma de nossas
casas, nem a de nossas roupas; pois uma é tão obrigatória
quanto a outra. As vias de comunicação determinam de
maneira imperiosa o sentido em que se fazem as migrações
interiores e as trocas, e mesmo até a intensidade de tais trocas
e tais migrações, etc., etc. Por conseguinte, haveria, no
máximo, possibilidade de acrescentar à lista de fenômenos
que enumeramos como apresentando o sinal distintivo do fato
social uma categoria a mais, a das maneiras de ser; e corno
aquela enumeração nada tinha de rigorosamente exaustiva, a
adição não era indispensável. Mas não seria nem mesmo útil;
pois tais maneiras de ser não passam de maneiras de agir
consolidadas. A estrutura política de uma sociedade não é
mais do que o modo pelo qual os diferentes segmentos que a
compõem tomaram o hábito de viver uns com os outros.
Se suas relações são tradicionalmente estreitas, os segmentos
tendem a se confundir; no caso contrário, tendem a se
distinguir. O tipo de habitação a nós imposto não é senão a
maneira pela qual todo o mundo, em nosso redor - e em parte
as gerações anteriores -, se acostumaram a construir as casas.
As vias de comunicação não passam de leitos que a corrente
regular das trocas e das migrações, caminhando sempre no
mesmo sentido, cavou para si própria, etc. Sem dúvida, se os
fenômenos de ordem morfológica fossem os únicos a
apresentar esta fixidez. poder-se-ia acreditar que constituem
uma espécie à parte. Mas as regras jurídicas constituem
arranjos não menos permanentes do que os tipos de
arquitetura e, no entanto, são fatos fisiológicos. A simples
máxima moral é seguramente mais maleável; porém,
apresenta formas muito mais rígidas do que os meros
costumes profissionais ou do que a moda. Existe toda uma
gama de nuanças que, sem solução de continuidade, liga os
fatos de estrutura mais característicos a estas livres correntes
da vida social que não estão ainda presas a nenhum molde
definido. O que quer dizer que não existem entre eles senão
diferenças no grau de consolidação que apresentam. Uns e
outros não passam de vida mais ou menos cristalizada. Pode,
sem dúvida, ser mais interessante reservar o nome de
morfológicos para os fatos sociais concernentes ao substrato
social, mas sob a condição de não perder de vista que são damesma natureza que os outros. Nossa definição
compreenderá, pois, todo o definido, se dissermos: É fato
social toda maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer
sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou, ainda, que é geral
ao conjunto de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo,
possui existência própria, independente das manifestações
individuais que possa ter.
EXERCÍCIOS
1. (UEL) Um jovem que havia ingressado recentemente na
universidade foi convidado para uma festa de recepção de
calouros. No convite distribuído pelos veteranos não havia
informação sobre o traje apropriado para a festa. O calouro,
imaginando que a festa seria formal, compareceu vestido
com traje social. Ao entrar na festa, em que todos estavam
trajando roupas esportivas, causou estranheza,
provocando risos, cochichos com comentários maldosos,
olhares de espanto e de admiração. O calouro não estava
vestido de acordo com o grupo e sentiu as represálias sobre
o seu comportamento. As regras que regem o
comportamento e as maneiras de se conduzir em
sociedade podem ser denominadas, segundo Émile
Durkheim (1858-1917), como fato social.
Considere as afirmativas abaixo sobre as características
do fato social para Émile Durkheim.
I. O fato social é todo fenômeno que ocorre
ocasionalmente na sociedade.
II. O fato social caracteriza-se por exercer um poder de
coerção sobre as consciências individuais.
III. O fato social é exterior ao indivíduo e apresenta-se
generalizado na coletividade.
IV. O fato social expressa o predomínio do ser individual
sobre o ser social.
Assinale a alternativa correta.
a) Apenas as afirmativas I e II são corretas.
b) Apenas as afirmativas I e IV são corretas.
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c) Apenas as afirmativas II e III são corretas.
d) Apenas as afirmativas I, III e IV são corretas.
e) Apenas as afirmativas I, II e IV são corretas.
2. (UEL 2014) A cidade desempenha papel fundamental no
pensamento de Émile Durkheim, tanto por exprimir o
desenvolvimento das formas de integração quanto por
intensificar a divisão do trabalho social a ela ligada. Com
base nos conhecimentos acerca da divisão de trabalho
social nesse autor, assinale a alternativa correta.
a) A crescente divisão do trabalho com o intercâmbio livre
de funções no espaço urbano torna obsoleta a presença de
instituições.
b) A solidariedade orgânica é compatível com a sociedade
de classes, pois a vida social necessita de trabalhos
diferenciados.
c) Ao criar seres indiferenciados socialmente, o “homem
massa”, as cidades recriam a solidariedade mecânica em
detrimento da solidariedade orgânica.
d) O efeito principal da divisão do trabalho é o aumento da
desintegração social em razão de trabalhos parcelares e
independentes.
e) O equilíbrio e a coesão social produzidos pela crescente
divisão do trabalho decorrem das vontades e das
consciências individuais.
3. (UEM 2012) A constituição da Sociologia como ciência
passou pelo desenvolvimento de uma metodologia própria,
algo que Émile Durkheim procurou realizar em sua obra As
regras do método sociológico. A partir desse autor, assinale
o que for correto.
01) Partindo do pressuposto de que os fenômenos sociais
são muito diferentes dos naturais, Durkheim defendeu a
incorporação da subjetividade do cientista nos estudos
sociológicos.
02) Durkheim defendia o abandono dos preconceitos e das
prenoções, pois essas ideias preconcebidas poderiam nos
conduzir a confusões na observação dos fenômenos.
04) Segundo Durkheim, as principais ferramentas
metodológicas da Sociologia são a observação, a
descrição, a comparação e a estatística.
08) Na concepção durkheimiana, a compreensão efetiva
dos fenômenos sociais se dá pela identificação dos
interesses e das motivações subjetivas dos atores sociais
envolvidos.
16) Ao afirmar que o sociólogo deve encarar o fato social
como coisa, Durkheim procurou defender a definição do
objeto sociológico como algo externo ao pesquisador.
4. (UEL 2007) Segundo Émile Durkheim “[...] constitui uma
lei da história que a solidariedade mecânica, a qual a
princípio é quase única, perca terreno progressivamente e
que a solidariedade orgânica, pouco a pouco, se torne
preponderante”.
Fonte: DURKHEIM, É. A Divisão Social do Trabalho, In Os
Pensadores. Tradução de Carlos A. B. de Moura. São
Paulo: Abril Cultural, 1977, p. 67.
Por esta lei, segundo o autor, nas sociedades simples,
organizadas em hordas e clãs, prevalece a solidariedade
por semelhança, também chamada de solidariedade
mecânica.
Nas organizações sociais mais complexas, prevalece a
solidariedade orgânica, que é aquela que resulta do
aprofundamento da especialização profissional.
De acordo com a teoria de Durkheim, é correto afirmar que:
a) As sociedades tendem a evoluir da solidariedade
orgânica para a solidariedade mecânica, em função da
multiplicação dos clãs.
b) Na situação em que prevalece a solidariedade mecânica,
as sociedades não evoluem para a solidariedade orgânica.
c) As sociedades tendem a evoluir da solidariedade
mecânica para a solidariedade orgânica, em função da
intensificação da divisão do trabalho.
d) Na situação em que prevalece a divisão social do
trabalho, as sociedades não desenvolvem formas de
solidariedade.
e) Na situação em que prevalecem clãs e hordas, as
sociedades não desenvolvem formas de solidariedade e,
por isso, tendem a desaparecer progressivamente.
5. (UEL 2009) Leia o texto a seguir.
“Tribunais do crime” mataram ao menos 9
Os ‘tribunais’ [do crime] são ‘julgamentos’ comandados por
um presidiário do PCC que assume o papel de ‘juiz’ para
determinar, por meio de um celular, a morte ou não de uma
pessoa – seja ela ligada ou não ao PCC.
Escutas telefônicas mostram como funcionam os ‘tribunais
do crime’:
Pessoa 1: Alô [...]
Pessoa 2: Então, é aquilo que eu falei lá! Se o cara quiser
vir, pode arrancar esse moleque aí, pegar, matar, raspar e
sair fora, que é para [ele] ficar esperto [...]. É essa a ideia:
se quiser, é já para esticar o cerol [matar].
(Folha de São Paulo, 21 set. 2008. Caderno cotidiano, p. C – 4.)
O texto retrata uma prática que tem se tornado comum em
várias cidades brasileiras devido à existência de
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organizações criminosas ligadas, principalmente, ao tráfico
de drogas.
De acordo com a perspectiva teórica de Émile Durkheim, o
texto expressa:
a) A importância de se constituírem, no interior da
sociedade, novas formas de consciência coletiva que se
manifestem contrárias àquela dominante, reconhecida
institucionalmente.
b) Que a harmonia social tem como um de seus
pressupostos a eliminação física e brutal dos indivíduos
com comportamento coletivo desviante, por instituições
paralelas ao poder estatal.
c) A importância de todos os setores da vida social
possuírem estrutura institucional, pois, sendo a sociedade
um grande organismo, inclusive o crime deve ser
organizado.
d) Que os indivíduos são anteriores à sociedade, ou seja,
podem agir de forma autônoma e, se assim for necessário,
podem agir contrariamente às normas coletivas.
e) Aspectos de um quadro anômico, pois, embora certa taxa
de crime seja normal em todas as sociedades, a prática
assinalada indica a perda de vínculos sociais e morais
básicos para a existência da coesão social.
6. (Uem 2017) Émile Durkheim (1858-1917) é considerado,
conjuntamente com Auguste Comte (1798-1857), Karl Marx
(1818-1883) e Max Weber (1864-1920), um dos fundadores
da Sociologia. Em 1895, Durkheim publicou As regras do
método sociológico, onde apresenta o conceito de fato
social. Este conceito é central na sociologia durkheiminiana.
Sobre o fato social é correto afirmar:
01) Émile Durkheimafirma em As regras do método
sociológico que o fato social é exterior às pessoas.
02) O fato social, segundo Émile Durkheim, possui uma
existência própria, para além das manifestações
individuais.
04) Em As regras do método sociológico, Émile Durkheim
propõe que o fato social é geral, ocorrendo no conjunto
de uma sociedade.
08) Para Émile Durkheim, o fato social é particular e
individual.
16) Uma das características definidoras do fato social,
segundo Émile Durkheim, é a sua capacidade de
coerção sobre as pessoas.
7. (Ufu 2017) A Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba
alerta pais e responsáveis por crianças e adolescentes e os
profissionais da educação e saúde em relação ao ‘jogo’
Baleia Azul, que propõe 50 desafios aos participantes e
sugere o suicídio como última etapa.
Disponível em: <http://www.tribunapr.com.br/noticias/curitiba-regiao/jogo-
baleia-azul-deixa-curitiba-em-alerta-oito-ja-brincaram-com-morte/>.
Acesso em: 22 abr. 2017.
Esse foi um dos alertas, nos últimos meses, relacionados
ao “jogo Baleia Azul” e à possibilidade de suicídios de
adolescentes (13 a 17 anos) ligadas a ele.
Pode-se realizar uma relação desses possíveis suicídios
com os tipos de suicídios de Durkheim, pois, para esse
pensador, os indivíduos são determinados pela realidade
coletiva.
Assim, os suicídios gerados pelo “jogo” seriam classificados
como:
a) Suicídio egoísta.
b) Suicídio anômico.
c) Suicídio etnocêntrico.
d) Suicídio cultural.
8. (Uel 2018) No Brasil, entre abril e maio de 2017, uma
espécie de jogo conhecido como “Baleia Azul” causou
alvoroço nas redes sociais digitais. Trata-se de uma série
de desafios que culmina no suicídio do “jogador”,
geralmente um indivíduo jovem. As reações, principalmente
das famílias e das escolas, alertavam para a necessidade
de reforçar os laços sociais e as regras de convívio coletivo.
Também se disseminaram opiniões sobre a necessidade de
os jovens concentrarem-se nos estudos e no trabalho como
forma de manutenção do equilíbrio social. Mas o assunto
não é novo em Sociologia. Os aspectos sociológicos do
suicídio foram analisados por um autor clássico, Émile
Durkheim, que, em 1897, publicou a obra “O Suicídio:
estudo de sociologia”.
Com base na teoria de Durkheim, caracterize o “suicídio
anômico” como um tipo de suicídio específico das
sociedades modernas.
Gabarito:
1.C 2.B 3. (2+4+16) 4.C 5.E
6. (1+2+4+16) 7.A
AULA 5 – Marx, Engels e o Materialismo
Histórico Dialético
Karl Marx (1818 – 1883)
Pensador alemão, considerado um dos autores clássicos
da Sociologia. Não se definia propriamente como sociólogo
e nem se alinha aos modelos teóricos e metodológicos do
Positivismo.
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Marx desenvolve uma profunda crítica à sociedade
moderna (século XIX), o que permite a construção de uma
reflexão sobre as relações de produção e sua consequência
na organização das sociedades. Dessa crítica deriva o lugar
de destaque que ocupa entre os pensadores que
fundamentam a Sociologia enquanto disciplina. Boa parte
de sua obra se deu em parceria com Friedrich Engels,
filósofo alemão.
Principais obras:
- Manuscritos Econômico-filosóficos (1844);
- A Ideologia Alemã (1845-46), em parceria com Engels;
- Manifesto Comunista (1848), em parceria com Engels;
- O Capital (1867-1883);
Possui uma concepção dialética da realidade, em que a luta
de classes é apresentada como motor da história. Por meio
das tensões entre clássicas antagônicas, a história se
transforma, alternando-se os distintos modos de produção.
Apesar de perceber essa lógica em outros momentos da
história, Marx dedica-se particularmente ao estudo do
capitalismo, atendo-se às possibilidades desse sistema ser
superado.
Para Marx e Engels, a burguesia é a classe revolucionária
que transforma as bases de produção feudal e implementa
o capitalismo. Contudo, no capitalismo agravam-se as
discrepâncias sociais, agora protegidas pela ideia
amplamente difundida de que se trata de uma sociedade
mais livre e igualitária. A análise das características e
contradições do capitalismo está no cerne das críticas
marxistas.
Capitalismo:
- separação entre trabalhadores e meios de produção
(acumulação primitiva);
- aumento da riqueza e diminuição da distribuição da
riqueza
- sustenta-se na desigualdade entre as classes sociais. Os
meios de produção encontram-se nas mãos de uma única
classe social, a burguesia.
- o trabalho humano transforma-se em uma mercadoria. O
trabalho e alienado. Há uma “fetichização” da mercadoria,
ao mesmo tempo em que acontece uma desumanização
das relações pessoais.
Principais conceitos presentes na obra de Marx:
O TRABALHO é entendido como plataforma da história:
atividade produtiva e criativa que simultaneamente
proporciona os meios de subsistência e atribui sentido para
a existência do indivíduo.
O modo como as pessoas trabalham, ou seja, produzem
economicamente a sua subsistência (MODO DE
PRODUÇÃO MATERIAL) molda a sociedade e as relações
sociais.
- conjunto de técnicas, saberes e objetos empregados pelo
homem na produção;
- divisão do trabalho e dos meios de produção;
- Exemplos: asiático, escravista, servil e capitalista.
MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO
O modo de produção material condiciona a vida dos
indivíduos, ou seja, a produção é a base de toda ordem
social.
Nosso pensamento é fruto das condições materiais de
nosso período histórico. A consciência, portanto, não é
autônoma diante da existência, mas formada a partir da
história.
- →
“[...] na produção social da sua existência, os homens
estabelecem relações determinadas, necessárias,
independentes da sua vontade, relações de produção... O
conjunto destas relações de produção constitui a estrutura
econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se
eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual
correspondem determinadas formas de consciência social”.
(MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. Tradução de
Florestan Fernandes. São Paulo, Ed. Mandacaru, 1989, p. 28.)
IDEOLOGIA: falsa consciência histórica que emana das
relações de produção, impondo a visão da classe
dominante. Opacidade da história.
Para Karl Marx, a história não se revela de modo
transparente. Há uma falsa consciência que emana das
próprias relações de produção. Tal consciência, que tem
como papel justamente disseminar certas ideias que
INFRAESTRUTURA:
relações de produção;
modos de produção
SUPERESTRUTURA:
instituições políticas e
culturais; valores e
pensamentos
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garantam a manutenção de valores fundamentais à classe
dominante, é chamada ideologia.
O papel da ideologia é mascarar o que ocorre de fato na
sociedade, representando uma forma de dominação social
e política.
O modo de produção material condiciona a vida dos
indivíduos, ou seja, a produção é a base de toda ordem
social. Nosso pensamento é fruto das condições materiais
de nosso período histórico. A consciência, portanto, não é
autônoma diante da existência, mas formada a partir da
história.
Um exemplo de ideologia burguesa, na visão de Marx, seria
a ideia de que as diferenças entre os indivíduos são
resultados da concorrência natural: se trabalharmos, todos
obteremos sucesso!
Assim como Platão, que apresenta uma hipótese para
explicar a nossa condição de alienação em relação à
verdade, Marx a também não crê que a verdade seja
assimilada pelo homem. Contudo, na visão do filósofo
moderno, o processo de criação e manutenção da ideologia
está vinculadoao processo de produção e ao papel das
classes dominantes.
“Se, na concepção do decurso da história, separarmos as
ideais da classe dominante da própria classe dominante e
se as concebermos como autônomas, sem nos
preocuparmos com as condições de produção e com os
produtores dessas ideias, então podemos afirmar que, por
exemplo, na época em que a aristocracia dominou, os
conceitos de honra, fidelidade etc. dominaram, ao passo
que na época da dominação da burguesia dominaram os
conceitos de liberdade, igualdade etc. É o que, em média,
imagina a própria classe dominante. Tal concepção da
história, comum a todos historiadores, especificamente
desde o século XIII, defrontar-se-á necessariamente com o
fenômeno de que as ideias cada vez mais abstratas
dominam, isto é, ideias que tomam cada vez mais a forma
de universalidade. Com efeito, a cada nova classe que toma
o lugar da que dominava antes dela é obrigada, para
alcançar os fins a que se propões, a apresentar seus
interesses como sendo o interesse comum de todos os
membros da sociedade, isto é, para expressar isso mesmo
em termos ideais: é obrigada a emprestar às suas ideias a
forma de universalidade, a apresentá-las como sendo as
únicas racionais, as únicas universalmente válidas”.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Hucitec,
1984.
ALIENAÇÃO: o objeto do trabalho não pertence mais ao
trabalhador; o processo de trabalho perde o sentido (crítica
à especialização) e a vida social, aos poucos, torna-se
também desprovida de sentido, uma vez que o trabalho
atribui sentido à vida do indivíduo. Esses seriam os três
níveis da alienação descritos por Marx na obra O Capital.
MAIS-VALIA: diferença entre o valor produzido pelo
trabalho e o salário pago ao trabalhador.
Estratégias para a obtenção de mais-valia: trabalho pago
por hora ou turno; jornada de trabalho estendida; inserção
de novas tecnologias; aceleração do ritmo de produção.
Textos complementares:
A história de toda sociedade existente até hoje tem sido a
história das lutas de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo,
mestre de corporação e companheiro, numa palavra, o
opressor e o oprimido permaneceram em constante oposição
um ao outro, levada a efeito numa guerra ininterrupta, ora
disfarçada, ora aberta, que terminou, cada vez, ou pela
reconstituição revolucionária de toda a sociedade ou pela
destruição das classes em conflito.
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Desde épocas mais remotas da história, encontramos, em
praticamente toda parte, uma complexa divisão da sociedade
em classes diferentes, uma gradação múltipla das condições
sociais. Na Roma Antiga, temos os patrícios, os guerreiros, os
plebeus, os escravos; Na Idade Média, os senhores, os
vassalos, os mestres, os companheiros, os aprendizes, os
servos; e, em quase todas as classes, outras camadas
subordinadas.
A sociedade moderna burguesa, surgida das ruínas da
sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes.
Apenas estabeleceu novas classes, novas condições de
opressão, novas formas de luta em lugar das velhas.
No entanto, a nossa época, a época da burguesia, possui uma
característica: simplificou os antagonismos de classes. A
sociedade global divide-se cada vez mais em dois campos
hostis, em duas grandes classes que se defrontam – a
burguesia e o proletariado. (...)
Na mesma proporção em que a burguesia, ou seja, o capital,
se desenvolve, desenvolve-se também o proletariado, a classe
dos trabalhadores modernos, que só podem viver se
encontrarem trabalho, e só encontram trabalho na medida em
que este aumenta o capital. Esses trabalhadores que são
obrigados a vender-se diariamente, são uma mercadoria, são
um artigo de comércio, sujeitos, portanto, às vicissitudes da
concorrência, às flutuações do mercado. (...)
Qual a posição dos comunistas em relação aos proletários em
geral?
Os comunistas não formam um partido à parte, oposto aos
outros partidos operários. Não tem interesses diferentes
daqueles do proletariado em geral. Não formulam quaisquer
princípios particulares a fim de modelar o movimento
proletário.
O fim imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os
outros partidos proletários: constituição dos proletários em
classe, derrubada da supremacia burguesa.
Marx e Engels – O Manifesto Comunista
Que faz a ideologia? Oferece a uma sociedade dividida em
classes sociais antagônicas, e que vive na forma de luta de
classes, uma imagem que permite a unificação e a
identificação social – uma língua, uma religião, uma raça, uma
nação, uma pátria, um estado, uma humanidade, mesmos
costumes. Assim, a função primordial da ideologia é ocultar a
origem da sociedade(relações de forças produtivas sob a
divisão do trabalho social), dissimular a presença da luta de
classes, negar as desigualdades sociais (como se fossem
consequência de talentos diferentes, da preguiça ou da
disciplina laboriosa) e oferecer a imagem da comunidade (o
Estado) originada como contrato social entre homens livres e
iguais. A ideologia é a lógica da dominação social e política.
Marilena Chauí – Convite à Filosofia
Texto 3:
CHINESES, ROBÔS E A ‘UBERIZAÇÃO’ DAS RELAÇÕES
DE TRABALHO
Alexandre Andrada - 9 de Abril de 2019, 0h02
UMA DAS GRANDES maravilhas do capitalismo é a inovação.
Inovar significa, de maneira simples, criar algo novo ou fazer
algo velho de uma nova maneira. E nisso o capitalismo é
craque.
Talvez dois mais importantes economistas políticos que
analisaram o fenômeno da inovação foram o alemão Karl Marx
(escudado por vezes por seu amigo Friedrich Engels) e o
austríaco Joseph Schumpeter.
No Manifesto de 1848, numa das passagens mais famosas do
texto, Marx e Engels afirmam:
“A burguesia não pode existir sem revolucionar
permanentemente os instrumentos de produção, portanto as
relações de produção, portanto as relações sociais todas”.
Enquanto as sociedades baseadas em outros modos de
produção se caracterizavam pela estabilidade das relações
econômicas e sociais, o capitalismo é marcado pela revolução
permanente. E é essa instabilidade que permitiu que a
burguesia realizasse em poucos séculos de domínio
maravilhas maiores que “as pirâmides egípcias, dos aquedutos
romanos e das catedrais góticas”.
N’O Capital de 1867, Marx volta a mostrar seu alumbramento
com as inovações, no capítulo 13, intitulado “Maquinaria e
Grande Indústria”. Mas o tema perpassa todo seu sistema. No
modelo de Marx, o capitalista busca aumentar a massa de
mais-valor que extrai de seus trabalhadores. Se estamos em
um mundo de produtos idênticos – camisas brancas, por
exemplo –, o capitalista pode aumentar seus lucros fazendo
seus operários trabalharem por mais horas que a concorrência
(mais-valor absoluto), ou fazer com que seus trabalhadores
produzam mais mercadorias em menos tempo (mais-valor
relativo).
Para Marx, a dificuldade estava no mais-valor relativo. Para
produzir mais em menos tempo, são necessárias novas
máquinas e equipamentos, novas formas de comunicação, de
transporte, de organização da produção, novos sistemas de
logística etc. O capitalista que conseguir criar ou fazer uso
dessas inovações terá uma maior taxa e uma maior massa de
lucro, conquistando cada vez mais participação no mercado.
Caminhará para se tornar um dos gigantes do setor.
Quem não for capaz – ou não tiver recursos para inovar – será
engolido. Aliás, mesmo a empresa líder do mercado – como
contam as histórias da Kodak e da Nokia – mostra que a
bancarrota está sempre na esquina.
Em 1911, na sua obra Teoria do Desenvolvimento Econômico,
Schumpeter fez bom uso das teorias de Marx, a partir de uma
ótica liberal. Para Schumpeter, a mudança não nasce a partir
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de modificações nos gostos dos consumidores. Na verdade,
são os empresários inovadores que criam novos produtos e
“educam” (esse é o termo usado pelo autor) os consumidores
sobre sua necessidade.
Toda criação está carregada de destruição.
Um exemplo pessoal. Nos meus tempos de faculdade, a
viagem de ônibus era embalada por música ouvida através de
um CD player e, principalmente, um walkman. Eu andava com
três ou quatro fitas na mochila, e o mundo parecia bom.
Jamais imaginei que um dia, poucos anos mais tarde, haveria
uma coisa chamada Ipod – ou o MP3 da feira, seu primo pobre
ao qual tive acesso –, no qual cabiam as músicas de todos os
CD’s que eu tinha na minha casa (sobrando espaço, aliás).
Nós jamais demandamos um telefone celular que fosse
também um computador, uma televisão e um Ipod (aliás, o
smartphone matou o Ipod de modo lento e cruel).
Mas como fica evidente nesses dois exemplos, toda criação
está carregada de destruição. O Ipod destruiu o discman, o
smartphone destruiu o Ipod. Isso é parte do fenômeno que
Schumpeter chamou de “destruição criativa”. O novo produto
ou o novo processo destrói o que era velho.
Mês passado foi divulgado que, com o fechamento de uma loja
na Austrália, há hoje apenas uma única Blockbuster no mundo.
Há uma década, eram 9 mil lojas, com pés nos quatro cantos
do mundo, no Brasil inclusive. Uma rede literalmente global foi
morta por uma inovação: Netflix.
Outro exemplo: há poucos anos atrás ter frota de táxis era um
ótimo investimento. Para obter uma licença de taxista, o sujeito
precisava desembolsar uma pequena fortuna. Hoje qualquer
um pode se cadastrar no Uber e operar como táxi.
Mas nem tudo são rosas. Muitos são os trabalhadores ao longo
da história que sofreram (e sofrerão) com o desemprego
derivado de alguma inovação poupadora de mão de obra. No
início do século 19, os chamados ludistas destruíram as
máquinas que lhes roubavam os empregos. O drama dos
trabalhadores instigou os economistas: seria a inovação boa
também para os trabalhadores?
As condições médias de trabalho no mundo todo têm piorado.
Para os marxistas, a resposta seria negativa. Essas inovações,
num sistema capitalista, forçariam os salários para baixo,
reduzindo o poder de barganha dos trabalhadores, jogando
alguns na miséria, outros no subemprego e muitos em
empregos precários.
Os liberais, via de regra, respondem essa pergunta
afirmativamente. Ainda que a inovação destrua alguns
empregos, ela cria fundos que permitem investimentos e
aumento da produção que farão com que a região inovadora
seja capaz de criar mais vagas de trabalho, que pagam
salários maiores.
Depois de um começo vacilante, as evidências pareciam
corroborar a visão liberal. Os países mais inovadores são os
que oferecem mais e melhores empregos. Enquanto países
atrasados tecnologicamente têm menos vagas e piores
salários.
Mas há algumas décadas, desde o início da hiperglobalização
após o fim da Guerra Fria, um movimento contraditório vem
acontecendo. Com a entrada de mais de 1 bilhão de chineses
no mercado de trabalho capitalista – sem contar os de outros
lugares –, multidões de trabalhadores de países
subdesenvolvidos têm escapado da miséria. Porém, as
condições médias de trabalho no mundo todo têm piorado. Nos
países centrais, por exemplo, os ganhos de produtividade não
parecem se materializar em aumentos de salários (ainda que
esse dado seja controverso).
Além disso, tem crescido, desde os anos 1970, o número de
horas trabalhadas pelos americanos, bem como a proporção
daqueles que trabalham mais de 40 horas semanais. Quarenta
horas semanais foram uma conquista de trabalhadores
ingleses (uma pequena porção, é verdade) ainda em 1889.
Um cenário melancólico, se pensarmos no otimismo de um J.
M. Keynes que, em 1930, acreditava que os netos de seus
contemporâneos poderiam viver em abundância trabalhando
três horas por dia. Hoje o fantasma dos robôs e da chamada
“uberização” das relações trabalhistas é um espectro que
ronda todo o mundo.
Um número crescente de profissões pode facilmente ser
substituída por algoritmos, robôs e outras tecnologias digitais
(como a minha, de professor universitário). O Uber, que tem
sido a tábua de salvação de milhões de pessoas em países
como o Brasil, tem um modelo de negócio em que seu
funcionário sequer é seu funcionário. Há a liberdade aparente
de trabalhar quando e quanto quiser, que se materializa em
jornadas intermináveis – há casos de motoristas que vivem
literalmente em seus carros nos EUA – e em uma virtual
ausência absoluta de direitos trabalhistas em caso de
acidentes, doenças, incapacidades etc.
Estamos caminhando para o mundo do “freela”, das relações
pautadas pela uberização. A reforma trabalhista de Temer e a
carteira de trabalho verde-amarela de Bolsonaro são passos
nessa direção.
Enquanto gerações passadas podiam sonhar em construir
uma carreira de 30 anos numa mesma empresa, é provável
que as novas tenham que se acostumar com a instabilidade do
desenho “uber” de trabalho.
Como já se disse uma vez: tudo o que era sólido se desmancha
no ar.
https://theintercept.com/2019/04/08/uberizacao-das-relacoes-
de-trabalho/
Exercícios
1.(Enem 2013) “Na produção social que os homens
realizam, eles entram em determinadas relações
indispensáveis e independentes de sua vontade; tais
relações de produção correspondem a um estágio definido
de desenvolvimento das suas forças materiais de produção.
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A totalidade dessas relações constitui a estrutura
econômica da sociedade — fundamento real, sobre o qual
se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual
correspondem determinadas formas de consciência social.”
MARX, K. “Prefácio à Crítica da economia política.” In: MARX, K.;
ENGELS, F. Textos 3. São Paulo: Edições Sociais, 1977 (adaptado).
Para o autor, a relação entre economia e política
estabelecida no sistema capitalista faz com que
a) o proletariado seja contemplado pelo processo de mais-
valia.
b) o trabalho se constitua como o fundamento real da
produção material.
c) a consolidação das forças produtivas seja compatível
com o progresso humano.
d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao
desenvolvimento econômico.
e) a burguesia revolucione o processo social de formação
da consciência de classe.
2. (Uel 2008) “No capitalismo, os trabalhadores produzem
todos os objetos existentes no mercado, isto é, todas as
mercadorias; após havê-las produzido, entregam-nas aos
proprietários dos meios de produção, mediante um salário;
os proprietários dos meios de produção vendem as
mercadorias aos comerciantes, que as colocam no
mercado de consumo; e os trabalhadores ou produtores
dessas mercadorias, quando vão ao mercado de consumo,
não conseguem comprá-las. [...] Embora os diferentes
trabalhadores saibam que produziram as diferentes
mercadorias, não percebem que, como classe social,
produziram todas elas, isto é, que os produtores de tecidos,
roupas, alimentos [...] são membros da mesma classe
social. Os trabalhadores se veem como indivíduos isolados
[...], não se reconhecem como produtores da riqueza e das
coisas.“
(CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. 13 ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 387.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre alienação e
ideologia, considere as afirmativas a seguir:
a) A consciência de classe para os trabalhadores resulta da
vontade de cada trabalhador em superar a situação de
exploração em que se encontra sob o capitalismo.
b) É no mercado que a exploração do trabalhador torna-se
explícita, favorecendo a formação da ideologia de classe.
c) A ideologia da produção capitalista constitui-se de
imagens e ideias que levam os indivíduos a
compreenderem a essência das relaçõessociais de
produção.
d) As mercadorias apresentam-se de forma a explicitar as
relações de classe e o vínculo entre o trabalhador e o
produto realizado.
e) O processo de não identificação do trabalhador com o
produto de seu trabalho é o que se chama alienação. A
ideologia liga-se a este processo, ocultando as relações
sociais que estruturam a sociedade.
3. (UEM – Inverno 2008) Em termos sociológicos, assinale
o que for correto sobre o conceito de classes sociais:
01) Sua utilização visa explicar as formas pelas quais as
desigualdades se estruturam e se reproduzem nas
sociedades.
02) De acordo com Karl Marx, as relações entre as classes
sociais transformam-se ao longo da história conforme a
dinâmica dos modos de produção.
04) As classes sociais, para Marx, definem-se, sobretudo,
pelas relações de cooperação que se desenvolvem entre os
diversos grupos envolvidos no sistema produtivo.
08) A formação de uma classe social, como os proletários,
só se realiza na sua relação com a classe opositora, no
caso do exemplo, a burguesia.
16) A afirmação “a história da humanidade é a história das
lutas de classes” expressa a ideia de que as
transformações sociais estão profundamente associadas
às contradições existentes entre as classes.
4. (FGV) Leia com atenção as proposições abaixo:
I. "A história de qualquer sociedade até aos nossos dias
foi apenas a história da luta de classes. Homem livre e
escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre e
companheiro, numa palavra opressores e oprimidos em
oposição constante, desenvolveram uma guerra que
acabava sempre ou por uma transformação
revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição
das duas classes em luta."
II. "Se me pedissem para responder à pergunta - 'O que é
a escravidão?' e eu respondesse numa só palavra:
'Assassinato!', todos entenderiam imediatamente o
significado da minha resposta. Não seria necessário
utilizar nenhum outro argumento para demonstrar que o
poder de roubar um homem de suas idéias, de sua
vontade e sua personalidade é um poder de vida ou
morte e que escravizar um homem é o mesmo que matá-
lo. Por que, então, não posso responder da mesma
forma a essa outra pergunta: 'O que é a propriedade?'
com uma palavra só: 'Roubo'."
Assinale a alternativa CORRETA:
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a) A primeira proposição reproduz um trecho de uma das
mais importantes obras do filósofo alemão Karl Marx, que
serviu de base para a ideologia liberal desenvolvida no
século XIX.
b) A segunda proposição refere-se ao manifesto cristão
proposto por bispos da Igreja, indignados com a miséria que
assolava as classes trabalhadoras européias no século XIX.
c) A "luta de classes" é um dos principais aspectos da
doutrina marxista e a definição da "propriedade como um
roubo" tornou-se um dos principais lemas do anarquismo
desde o século XIX.
d) A segunda proposição é de Joseph Proudhon, teórico
liberal francês, indignado com a escravidão ainda praticada
em determinados continentes no século XIX.
e) A segunda proposição refere-se à região da Palestina na
perspectiva sionista, desenvolvida na Europa ao final do
século XIX.
5. (Mackenzie) No século XIX, o mundo do trabalho fez
surgir novas perspectivas para a compreensão da
sociedade contemporânea. O Manifesto Comunista (1848),
de Marx e Engels, indica a mudança de concepções
abstratas e utópicas sobre a sociedade, para outras mais
concretas e combativas. (Carlos Guilherme Mota)
Sobre Karl Marx e Friedrich Engels é INCORRETO afirmar:
a) A obra que sintetizou as suas teorias econômicas,
sociais, políticas e culturais foi O Capital, que retomava a
tradição do pensamento dialético, aprofundando-o na linha
do Materialismo Histórico.
b) A sociedade capitalista é contraditória, uma vez que
produz um trabalho excedente que jamais retorna ao
trabalhador, isto é, a mais valia.
c) Formularam um socialismo de um novo tipo, baseado na
concepção de que o capitalismo deve progressiva e
pacificamente evoluir para o socialismo.
d) Criticavam os socialistas Saint-Simon, Charles Fourier e
Robert Owen, que não se baseavam, como eles, num
estudo científico da história para aprender as leis da
sociedade e da economia.
e) As lutas de classes entre proprietários e trabalhadores
eram percebidas por eles como uma contradição
fundamental do sistema capitalista e que levariam à
abolição da ordem burguesa e do Estado que sobre ela se
sustentava.
6. (Ufrrj) "A criação de um proletariado despossuído, (...)
cultivadores vítimas de expropriações violentas repetidas,
foi necessariamente mais rápida que sua absorção pela
nascentes manufaturas. (...) Forma-se uma massa de
mendigos, ladrões e vagabundos. Desde o final do século
XV e durante todo o século XVI na Europa Ocidental foi
criada uma legislação sanguinária contra o ócio. Os pais da
atual classe operária foram castigados por terem sido
reduzidos à situação de vagabundos e pobres. A legislação
os tratava como criminosos voluntários; ela pressupunha
que dependia de seu livre arbítrio continuar a trabalhar
como antes."
(MARX, Karl. "O Capital". Paris, Garnier-Flamarion, 1969.)
As transformações econômicas e sociais costumam gerar
profundas alterações no chamado "mundo do trabalho". A
situação apontada por Marx refere-se ao processo histórico
a) das revoluções anti-capitalistas, ocorridas na Europa,
contra as quais a burguesia determinou severa repressão.
b) das revoltas operárias, como o ludismo, voltadas à
destruição das máquinas e à exploração por elas causada.
c) da Revolução Francesa, na qual os trabalhadores foram
transformados em massa de manobra dos interesses
burgueses.
d) de cercamentos dos campos, com o deslocamento de um
grande contingente de despossuídos da sua área rural de
origem.
e) da Revolução Industrial, quando os criminosos eram
expulsos das fábricas e proibidos de trabalhar em outra
ocupação, pela legislação vigente.
7. (Uel 2011) Observe a charge.
Com base na charge e nos conhecimentos sobre a teoria
de Marx, é correto afirmar:
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a) A produção mercantil e a apropriação privada são justas,
tendo em vista que os patrões detêm mais capital do que os
trabalhadores assalariados.
b) Um dos elementos constitutivos da acumulação
capitalista é a mais-valia, que consiste em pagar ao
trabalhador menos do que ele produziu em uma jornada de
trabalho.
c) A mercadoria, para poder existir, depende da existência
do capitalismo e da substituição dos valores de troca pelos
valores de uso.
d) As relações sociais de exploração surgiram com o
nascimento do capitalismo, cuja faceta negativa está em
pagar salários baixos aos trabalhadores.
e) Sob o capitalismo, os trabalhadores se transformaram
em escravos, fato acentuado por ter se tornado impossível,
com a individualização do trabalho e dos salários, a
consciência de classe entre eles.
8. (Uel 2010) Ao separar completamente o patrão e o
empregado, a grande indústria modificou as relações de
trabalho e apartou os membros das famílias, antes que os
interesses em conflito conseguissem estabelecer um novo
equilíbrio. Se a função da divisão do trabalho falha, a
anomia e o perigo da desintegração ameaça todo o corpo
social e quando o indivíduo, absorvido por sua tarefa se
isola em sua atividade especial, já não percebe os
colaboradores que trabalham ao seu lado e na mesma obra,
nem sequer tem ideia dessa obra comum.
(DURKHEIM, E. A Divisão Social do Trabalho. Apud QUINTEIRO, T.;
BARBOSA, M. L. O.; OLIVEIRA, M. G. M. Toque de Clássicos. Vol 1.
Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 91.)
De acordo com K. Marx, uma situação semelhante à
descrita notexto, em que trabalhadores isolados em suas
tarefas no processo produtivo “não percebem seus
colaboradores na mesma obra, nem tem ideia dessa obra
comum”, é explicada pelo conceito de:
a) Alienação.
b) Ideologia.
c) Estratificação.
d) Anomia social.
e) Identidade social.
9. (Uem 2008) Ao discorrer sobre ideologia, Marilena Chauí
afirma que “(...) a coerência ideológica não é obtida
malgrado as lacunas, mas, pelo contrário, graças a elas.
Porque jamais poderá dizer tudo até o fim, a ideologia é
aquele discurso no qual os termos ausentes garantem a
suposta veracidade daquilo que está explicitamente
afirmado”.
(O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 04).
Considerando o texto acima e o conceito de ideologia para
Karl Marx, assinale o que for correto.
01) Na maioria das sociedades capitalistas, as
desigualdades são ocultadas pelos princípios ideológicos
que afirmam a importância dos seguintes elementos: o
progresso, o “vencer na vida”, o individualismo, a mínima
presença do Estado na economia e a soberania popular
por meio da representação.
02) Ideologia corresponde às ideias que predominam em
uma determinada sociedade, portanto expressa a
realidade tal qual ela é na sua objetividade.
04) Uma pessoa pode elaborar uma ideologia, construir
uma “questão” individual sem interferências anteriores e
influências comunitárias para a sua sustentação. Assim,
com base em sua própria ideologia, ela poderá refletir e
agir em sua sociedade.
08) Na sociedade brasileira, a ideologia da democracia
racial afirma que índios, negros e brancos vivem em
harmonia, com igualdade de condições. Essa formulação
omite as desigualdades étnicas existentes no país.
16) Ideologia consiste em ideias que predominam na
sociedade e que, por isso, são internalizadas por todos os
indivíduos. Portanto não existem possibilidades de se
romper com seus pressupostos.
10.(Uel 2008) Sobre a exploração do trabalho no
capitalismo, segundo a teoria de Karl Marx (1818-1883), é
correto afirmar:
a) A lei da hora-extra explica como os proprietários dos
meios de produção se apropriam das horas não pagas
ao trabalhador, obtendo maior excedente no processo de
produção das mercadorias.
b) A lei da mais valia consiste nas horas extras trabalhadas
após o horário contratado, que não são pagas ao
trabalhador pelos proprietários dos meios de produção.
c) A lei da mais-valia explica como o proprietário dos meios
de produção extrai e se apropria do excedente produzido
pelo trabalhador, pagando-lhe apenas por uma parte das
horas trabalhadas.
d) A lei da mais valia é a garantia de que o trabalhador
receberá o valor real do que produziu durante a jornada
de trabalho.
e) As horas extras trabalhadas após o expediente
constituem-se na essência do processo de produção de
excedentes e da apropriação das mercadorias pelo
proprietário dos meios de produção.
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11. (Uel 2007) Karl Marx exerceu grande influência na
teoria sociológica. Segundo o autor: “[...] na produção social
da sua existência, os homens estabelecem relações
determinadas, necessárias, independentes da sua vontade,
relações de produção... O conjunto destas relações de
produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a
base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura
jurídica e política e à qual correspondem determinadas
formas de consciência social”.
Fonte: MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. Tradução
de Florestan Fernandes. São Paulo, Ed. Mandacaru, 1989, p. 28.
De acordo com o texto e os conhecimentos sobre o autor,
é correto afirmar que:
a) A superestrutura jurídica e política é o resultado do modo
como as pessoas se organizam para produzir a
subsistência material em determinada sociedade.
b) A superestrutura jurídica e política é o resultado da
consciência social dos líderes políticos e independe do
modo de produção em dada sociedade.
c) A superestrutura política é o resultado do modo como as
pessoas se organizam para produzir a subsistência
material em determinada sociedade, mas a esfera
jurídica depende da consciência social.
d) A superestrutura jurídica é o resultado do modo como as
pessoas se organizam para produzir a subsistência
material em determinada sociedade, mas a esfera
política depende da razão humana, uma vez que a ideia
de justiça é inata.
e) A superestrutura jurídica e política é o resultado da
consciência social dos homens.
12.(Uel 2006) “[...] uma grande marca enaltece - acrescenta
um maior sentido de propósito à experiência, seja o desafio
de dar o melhor de si nos esportes e nos exercícios físicos
ou a afirmação de que a xícara de café que você bebe
realmente importa [...] Segundo o velho paradigma, tudo o
que o marketing vendia era um produto. De acordo com o
novo modelo, contudo, o produto sempre é secundário ao
verdadeiro produto, a marca, e a venda de uma marca
adquire um componente adicional que só pode ser descrito
como espiritual”. O efeito desse processo pode ser
observado na fala de um empresário da Internet
comentando sua decisão de tatuar o logo da Nike em seu
umbigo: “Acordo toda manhã, pulo para o chuveiro, olho
para o símbolo e ele me sacode para o dia. É para me
lembrar a cada dia como tenho de agir, isto é, ‘just do it’.”
(KLEIN, Naomi. Sem logo: a tirania das marcas em um planeta vendido.
Rio de Janeiro: Record, 2002, p. 45-76.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre ideologia, é
correto afirmar:
a) A atual tendência do capitalismo globalizado é produzir
marcas que estimulam a conscientização em detrimento
dos processos de alienação.
b) O capitalismo globalizado, ao tornar o ser humano
desideologizado, aproximou-se dos ideais marxistas
quanto ao ideal humano.
c) Graças às marcas e à influência da mídia, em sua
atuação educativa, as pessoas tornaram-se menos
sujeitas ao consumo.
d) O trabalho ideológico em torno das marcas solucionou as
crises vividas desde a década de 1970 pelo capital
oligopólico.
e) Por meio da ideologia associada à mundialização do
capital, ampliou-se o fetichismo das mercadorias, o qual
se reflete na resposta social às marcas.
13. (Ufu 2000) De acordo com a teoria de Marx, a
desigualdade social se explica
a) pela distribuição da riqueza de acordo com o esforço de
cada um no desempenho de seu trabalho.
b) pela divisão da sociedade em classes sociais, decorrente
da separação entre proprietários e não proprietários dos
meios de produção.
c) pelas diferenças de inteligência e habilidades inatas dos
indivíduos, determinadas biologicamente.
d) pela apropriação das condições de trabalho pelos
homens mais capazes em contextos históricos,
marcados pela igualdade de oportunidades.
14. (Ufu 1998) A ideia de alienação, segundo Marx, refere-
se
I. à identidade entre os produtores e seus produtos.
II. à separação entre o trabalhador e o produto de seu
trabalho, devido à divisão social do trabalho e à
propriedade privada dos meios de produção.
III. à separação do Estado como um poder autônomo,
imparcial, acima da coletividade e que a domina.
IV. ao fato de o trabalhador não se reconhecer no produto
da sua atividade.
a) I, III e IV estão corretas.
b) I, II e III estão corretas.
c) II, III e IV estão corretas.
d) II e IV estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
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15. (UNESP 2012) Leia os textos.
Texto 1
Ora, a propriedade privada atual, a propriedade burguesa,
é a última e mais perfeita expressão do modo de produção
e de apropriação baseado nos antagonismos de classes, na
exploração de uns pelos outros. Neste sentido,os
comunistas podem resumir sua teoria nesta fórmula única:
a abolição da propriedade privada. (…)
A ação comum do proletariado, pelo menos nos países
civilizados, é uma das primeiras condições para sua
emancipação. Suprimi a exploração do homem pelo homem
e tereis suprimido a exploração de uma nação por outra.
Quando os antagonismos de classes, no interior das
nações, tiverem desaparecido, desaparecerá a hostilidade
entre as próprias nações.
(Marx e Engels. Manifesto comunista, 1848.)
Texto 2
Os comunistas acreditam ter descoberto o caminho para
nos livrar de nossos males. Segundo eles, o homem é
inteiramente bom e bem disposto para com seu próximo,
mas a instituição da propriedade privada corrompeu-lhe a
natureza. (…) Se a propriedade privada fosse abolida,
possuída em comum toda a riqueza e permitida a todos a
partilha de sua fruição, a má vontade e a hostilidade
desapareceriam entre os homens. (…) Mas sou capaz de
reconhecer que as premissas psicológicas em que o
sistema se baseia são uma ilusão insustentável. (…) A
agressividade não foi criada pela propriedade. (…)
Certamente (…) existirá uma objeção muito óbvia a ser
feita: a de que a natureza, por dotar os indivíduos com
atributos físicos e capacidades mentais extremamente
desiguais, introduziu injustiças contra as quais não há
remédio.
(Sigmund Freud. Mal-estar na civilização, 1930. Adaptado.)
Qual a diferença que os dois textos estabelecem sobre a
relação entre a propriedade privada e as tendências de
hostilidade e agressividade entre os homens e as nações?
Explicite, também, a diferença entre os métodos ou pontos
de vista empregados pelos autores dos textos para analisar
a realidade.
16. (Uel 2016) Leia o texto a seguir.
O homem faz a religião, a religião não faz o homem. E a
religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de si do
homem, que ou não se encontrou ou voltou a se perder.
Mas o homem não é um ser abstrato, acocorado fora do
mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a
sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem a
religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles
são um mundo invertido.
(MARX, K. Crítica à Filosofia do Direito de Hegel. São Paulo: Boitempo,
2005. p.145.)
Na teoria do pensador Karl Marx, há um conceito que
explica essa inversão da realidade (por conseguinte, da
consciência) e, em razão dela, da relação do sujeito (seres
humanos) com aquilo que, objetiva e subjetivamente, ele
produz.
Com referência às ideias de Marx, responda aos itens a
seguir.
a) Qual é esse conceito?
b) O que significa inverter a relação sujeito-objeto? Explique
como isso se manifesta na religião.
Gabarito:
1.B 2. E 3.(1 + 2 + 8 + 16) 4. C 5. C
6. D 7. B 8. A 9. (1+8+ 16)
10. C 11. A 12. E 13. B 14. D
15. Dissertativa 16. Dissertativa
AULA 6 – Max Weber e a Sociologia
Compreensiva
Max Weber (1864 - 1920)
Max Weber foi um importante intelectual alemão,
considerado um dos fundadores da Sociologia. Sua
abordagem ficou conhecida como Sociologia
Compreensiva, uma análise de base histórica e que busca
explicar a complexidade do fenômeno social, que, em sua
visão, pode ter inúmeras causas e motivações. O
capitalismo, por exemplo, não pode ser compreendido por
causas estritamente econômicas, mas também como parte
de uma conjuntura cultural, sendo influenciado por fatores
religiosos, tal como é mostrado na obra “A Ética Protestante
e o Espírito do Capitalismo”.
Para Weber, a sociedade pode ser considerada como
um aglomerado de indivíduos que realizam suas ações
de acordo com motivações próprias, mas tendo sempre
a cultura como referência.
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Considerando que o entendimento da sociedade será
sempre fragmentado – uma vez que a noção de todo só
poderia ser obtida por meio da soma de todas as
perspectivas individuais, o que é impossível de se alcançar
– Weber propõe que a sociologia deva compreender um
determinado aspecto da sociedade por meio de um recorte.
Desse modo, Weber afirma, discordando de Durkheim, que
é impossível se alcançar uma objetividade plena nas
ciências sociais, pois a experiência humana não tem como
abranger todos os aspectos de uma realidade. É
impossível, assim, alcançar a verdade. O sujeito, inclusive
o sociólogo, percebe a realidade de acordo com seus
valores. Por isso, a realidade é sempre mais complexa do
que entendemos que ela seja.
Para facilitar o processo de análise, Weber desenvolve um
recurso metodológico conhecido como tipo ideal.
Tipo ideal: modelo teórico / construção racional com base
em elementos fornecidos pela realidade.
Weber analisa o fenômeno como se ele tivesse o grau
máximo de racionalidade, tornando-o assim compreensível.
Ao sociólogo cabe buscar compreender as formas de
interação entre os indivíduos, as ações sociais.
Ação social: é condicionada pela conduta alheia (leva em
consideração a expectativa de outra ação por parte dos
demais indivíduos) e dotada de significado para o agente.
Relação social: interação entre um agente e seu
interlocutor. Ela estrutura-se numa espécie de pacto
recíproco.
Para Weber, toda dimensão da vida social tem como base
a simples interação entre dois indivíduos, que configura
uma relação social. No momento que esta relação é
significa e inserida num plano cultural que manifesta
padrões e valores, ela adquire o estatuto de uma ação
social, que é o objeto de análise da sociologia
compreensiva. Ou seja, diferente de Durkheim, que analisa
o fato em sua dimensão coercitiva e normativa, aplicada de
modo geral a todos os indivíduos, Weber acredita que a
ação social só tem sentido à medida que é significada pelo
indivíduo, que lhe atribui um valor, o que implica que,
diferente de Durkheim, para Weber o fato social não teria
um valor em si mesmo.
Os 4 tipos de ação social:
Tradicional: ancora-se na tradição cultural. Na maioria das
vezes existe sem ser contestada.
Afetiva: motivadas pela emoção.
Racional com relação a valores: o indivíduo segue
racionalmente suas convicções (dever, dignidade, honra,
sabedoria, ética).
Racional com relação a fins: cálculo racional, planejado
de acordo com objetivos previamente definidos.
Weber também estuda as relações de poder dentro de uma
esfera social. Todas as relações humanas são marcadas
por hierarquias e disputas de poder. Quando não há
legitimidade, os poderes se realizam de forma abusiva,
normalmente recorrendo-se ao uso da força. O consenso
normalmente é o que garante legitimidade a uma relação
de poder. Um dos conceitos fundamentais de Weber,
empregado até os dias atuais, é o conceito de Estado,
entendido como o “monopólio da força legítima”.
Ele também analisa os mecanismos mais comuns de
legitimação das relações de dominação configuradas em
nível estatal.
OS TRÊS TIPOS PUROS DE DOMINAÇÃO LEGÍTIMA
DOMINAÇÃO LEGAL – segue regras segundo uma lei, um
estatuto, que é aceito por todos os integrantes. O grupo
dominante é eleito e o quadro administrativo é nomeado
pelo mesmo. O tipo de funcionário é aquele de formação
profissional, que é contratado, com pagamento fixo, com
direito a promoção conforme regras fixas. O funcionário
inferior é subordinado ao funcionário superior. O tipo de
quem ordena é o “superior”, cujo direito de mando está
fixado no estatuto.
DOMINAÇÃO TRADICIONAL – predomina a dominação
patriarcal. Quem ordena é o “senhor” e os que obedecem
são “súditos”. O quadro administrativo é composto por
servidores, os quais normalmente fazem parte da família do
senhor. Obedece-se ao senhor por fidelidade, hábito. O
costume já está enraizado na sociedade. O quadro
administrativo é inteiramente dependente do senhor e não
existe nenhuma garantia contra o seu arbítrio.
Os servidores estão em seus cargos por privilégio ouconcessão do senhor. A hierarquia é frequentemente
abalada pelo privilégio.
DOMINAÇÃO CARISMÁTICA - neste tipo de dominação a
relação se sustenta pela crença dos subordinados, nas
qualidades excepcionais do “líder”, essas podem ser dons
sobrenaturais, a coragem, a inteligência, faculdades
mágicas, heroísmo, poder de oratória. O tipo que manda é
o “líder”, quem obedece é o “apóstolo”. Obedece-se ao líder
somente enquanto suas qualidades excepcionais lhe são
conferidas. Não existem regras na administração, é
característica deste tipo de dominação a criação
momentânea. O líder tem que se fazer acreditar por meio
de milagres, êxitos e prosperidade dos seus apóstolos. Se
o êxito lhe falta, seu domínio oscila.
Desencantamento do Mundo
Max Weber critica a sociedade capitalista moderna. Para
ele, ao longo de século XIX e sobretudo nos primórdios do
século XX, a sociedade torna-se extremamente
racionalizada e burocratizada. O indivíduo moderno (apesar
dos avanços da ciência e da tecnologia) tem um
conhecimento menor sobre o seu próprio cotidiano e
também não exerce controle sobre os meios que utiliza. Há
um processo que o autor nomeia de “desencantamento do
mundo”, caracterizado por um acúmulo de explicações
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racionais para os fenômenos, fruto da especialização dos
saberes, e que diminui o espaço das religiões e da magia
na vida cotidiana das pessoas. Esse processo, contudo,
não torna o indivíduo menos alienado na visão de Weber,
uma vez que o submete a uma outra forma de dominação:
a racionalidade técnica.
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
Nesta obra, Weber analisa a figura do protestante como o
“tipo ideal” do capitalista. No momento em que o lucro deixa
de ser pecado e se converte em uma máxima para uma vida
austera e centrada no trabalho disciplinado, passam a
existir as condições culturais necessárias para o
florescimento do capitalismo. Há, no século XIX, uma moral
que relaciona a acumulação a um valor religioso dentro da
cultura protestante. No século XX, contudo, o capitalismo
perde esse revestimento ético e a acumulação torna-se
uma valor em si mesma.
ESTUDO COMPLEMENTAR
Georg Simmel (1858 – 1918) Nascido em Berlim, numa
família judaica, Georg Simmel é um dos menos conhecidos
fundadores da Sociologia. Estudou Filosofia e História na
Universidade de Berlim, onde terminou seu doutorado em
1881.
Contemporâneo a Weber e Durkheim, Simmel foi um dos
protagonistas do processo de institucionalização da
Sociologia na Alemanha, tendo participado, em 1909, da
criação da Associação Alemã de Sociologia. Publicou
importantes livros e ensaios, dentre os quais podemos
destacar Sociologia (1908), Questões de Sociologia (1917),
A metrópole e a vida mental (1903) e A filosofia do dinheiro
(1900).
Ele desenvolveu uma área que hoje é conhecida como
Sociologia Formal, que busca analisar as estruturas
(formas) subjacentes ao comportamento humano. Para
Simmel, “a unidade básica das ciências sociais não é o
indivíduo em abstrato, isolado, mas os indivíduos em
interação, em tempos e lugares específicos. Nessa visão, a
sociedade não é uma “coisa” fixa nem acabada, mas um
processo, o resultado das interações sociais. A interação
pode ser de vários tipos e assumir várias formas, como
conflito, cooperação, competição, submissão etc. As formas
sociais são configurações momentâneas de um complexo
de movimentos. Daí Simmel preferir falar em sociação do
que em sociedade.” (Celso Castro – Textos básicos de
Sociologia)
A METRÓPOLE E A VIDA MENTAL
Em seu texto, “A metrópole e a vida mental”, Georg Simmel
afirma que os problemas mais graves da vida moderna
nascem na tentativa do indivíduo de preservar sua
autonomia e individualidade em face das esmagadoras
forças sociais. Esta seria a mais recente transformação da
luta do homem com a natureza para sua existência física.
Segundo o autor, o século XVIII exigiu a especialização do
homem e de seu trabalho, e conclamou que se libertasse
de suas dependências históricas quanto ao Estado e à
religião, à moral e a economia. Dentre todas essas
posições, o homem resistiria a ser nivelado e uniformizado
por mecanismos sócio-tecnológicos. O autor pergunta
então, como a personalidade se acomoda no ajustamento
às forças externas.
Segundo Simmel, há um profundo contraste entre a vida na
cidade e a vida no campo. O autor afirma que a metrópole
extrai do homem uma quantidade diferente de consciência,
sendo que a vida da pequena cidade descansa mais sobre
relacionamentos profundamente sentidos e emocionais, ou
seja, o homem metropolitano reagiria com a cabeça em
lugar do coração: “A reação aos fenômenos metropolitanos
é transferida àquele órgão que é menos sensível e bastante
afastado da zona mais profunda da personalidade. A
intelectualidade, assim se destina a preservar a vida
subjetiva contra o poder avassalador da vida
metropolitana”.
Entende-se, dessa forma, que a pessoa intelectualmente
sofisticada é indiferente a toda a individualidade genuína
que resulta em relacionamentos e reações que não podem
ser exauridos com operações lógicas. Essa razão que dá
lugar às emoções é expressa no exercício de
transformação de indivíduos em números, reduzindo assim
toda qualidade e individualidade à questão: quanto? Este
aspecto contrasta profundamente com a natureza da
pequena cidade, em que o inevitável conhecimento da
individualidade produz diferentes tons de comportamento
que vão além do mero balanceamento objetivo de serviços
e retribuição. A metrópole, em contraste, é provida quase
que inteiramente pela produção para o mercado, ou seja,
para compradores desconhecidos que nunca entram
pessoalmente em contato com o produtor. Simmel ainda
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afirma que “através dessa anonimidade, os interesses de
cada parte adquirem um caráter impiedosamente prosaico;
e os egoísmos econômicos intelectualmente calculistas de
ambas as partes não precisam temer qualquer falha devida
aos imponderáveis das relações pessoais”. Esse caráter
assumido pelas relações metropolitanas estaria
intrinsecamente ligado à economia do dinheiro. Como
exemplo dessa conjuntura Simmel cita um historiador
inglês: “ao longo de todo o curso da história inglesa,
Londres nunca funcionou como o coração da Inglaterra,
mas frequentemente como seu intelecto e sempre como
sua bolsa de dinheiro!”.
“A mente do homem moderno se tornou mais e mais
calculista”, afirma o autor. A economia do dinheiro criou
uma exatidão na vida prática – através da matematização
da natureza – que nunca tanto se pesou, calculou, ou se
reduziu tanto os valores qualitativos a valores quantitativos.
Através da difusão dos relógios de bolso, desenvolveu-se
um tamanho controle do tempo sobre os indivíduos, que
seria impossível realizar os afazeres típicos dos homens
metropolitanos sem essa mais estreita pontualidade.
“Assim, a técnica da vida metropolitana é inimaginável sem
a mais pontual integração de todas as atividades e relações
mútuas em um calendário estável e impessoal”.
Todo esse controle, expresso pela pontualidade,
calculabilidade e exatidão são introduzidos à força na vida
pela complexidade e extensão da existência metropolitana.
São instrumentos que favorecem a exclusão de traços e
impulsos irracionais e instintivos que visam determinar o
modo de vida de dentro, em lugar de receber a forma de
vida geral vinda de fora. Dessa forma, Simmel torna
possível entender o ódio de homens como Ruskin e
Nietzsche pela metrópole, pois descobriram o valor da vida
fora de esquemas, passando então, a odiar também a
economia do dinheiro e o intelectualismo da existência
moderna.
Dessa forma entende-se a atitude blasé de determinadosindivíduos e em especial das crianças metropolitanas –
quando apresentam comportamento indiferente em relação
às novidades do mundo sempre que comparadas às
crianças de meios mais tranquilos. Essa atitude, segundo
Simmel, é um dos dois extremos do comportamento
humano influenciado pela vida moderna, no qual a pessoa,
em meio à economia do dinheiro e controle rígido do tempo,
mergulha em sua própria subjetividade sem se envolver
com o ambiente externo. Além disso, há que se ressaltar o
distanciamento cada vez maior dos concidadãos, muitas
vezes através de uma espécie de desconfiança excessiva
e de uma atitude de reserva em face às superficialidades
da vida metropolitana. Essa reserva seria o fator que, aos
olhos de pessoas de cidades pequenas, nos faz parecer
frios e até mesmo um pouco antipáticos.
Simmel ainda apresenta a idéia de metrópole como
ilustração do princípio da união em grupos sociais (partidos
políticos, governos etc.). Esses grupos, inicialmente
pequenos e coesos, por natureza, necessitam de regras
para se manterem, diminuindo assim as liberdades
individuais. Com o crescimento do grupo, a tendência
observada em todos os casos é das regras ficarem menos
rígidas, dando uma maior liberdade aos indivíduos que
compõem o grupo. A antiga polis é um exemplo que parece
ter o próprio caráter de uma cidade pequena. Eram
constantes as ameaças externas, fazendo com que se
desenvolvesse uma estrita coerência quanto aos aspectos
políticos e militares, uma supervisão de cidadão pelo
cidadão, um ciúme do todo contra o individual, tendo, por
fim, a vida individual suprimida. Segundo o autor “isto
produziu uma atmosfera tensa, em que os indivíduos mais
fracos eram suprimidos e aqueles de naturezas mais fortes
eram incitados a pôr-se à prova de maneira mais
apaixonada”.
Simmel ainda faz uma comparação interessante entre
cultura objetiva, que seria a cultura ligada a objetos, coisas,
conhecimento, instituições; e a cultura subjetiva, que estaria
ligada ao indivíduo. Para o autor há uma diferença grande
no ritmo de crescimento das duas culturas. Enquanto a
objetiva cresceu grandemente, motivada pela divisão do
trabalho e sua crescente especialização – como em “O
trabalho alienado” de Karl Marx – a cultura subjetiva
cresceu lentamente ou pode até mesmo ter regredido em
certos pontos como ética, idealismo, etc. “Não é preciso
mais do que apontar que a metrópole é o genuíno cenário
dessa cultura que extravasa de toda vida pessoal”.
Referência: SIMMEL, Georg. A metrópole e a vida mental. In: VELHO,
Otávio G. (Org.). O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Guanabara, 4a.
ed., 1987.
Fonte: https://faceaovento.com/2008/07/31/a-metropole-e-a-vida-mental/
TEXTO COMPLEMENTAR
A contribuição humanista de Georg Simmel para o
pensamento social
Estado da Arte - 21 Março 2017 Por Heloisa Pait
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Quem sou eu sem a cidade? E que é a cidade sem mim? Se
eu fosse resumir o pensamento do berlinense Georg Simmel
num tweet, parafrasearia Hillel com estas duas perguntas.
Simmel escreveu inúmeros ensaios, além de alguns tratados,
ao final do século XIX e começo do XX; temos apenas o
suficiente traduzido para o português. O belo “As Aventuras de
Georg Simmel”, de Leopoldo Waizbort, traz o detalhado
contexto social em que Simmel cresceu e trabalhou, além de
interessantes depoimentos de seus estudantes, trazendo à
vida um autor cuja escrita é, ela mesma, pulsante. Seus
ensaios sobre figuras urbanas como o aventureiro, a prostituta
e o estrangeiro, assim como suas reflexões sobre o dinheiro,
os grupos e a cultura feminina, parecem ter apenas alguns
anos – o ensaio sobre a sociologia do segredo é
especialmente atual, quando nos achamos nadando num mar
profundo de informação. Os elementos que Simmel destaca
em sua cidade amada são semelhantes àqueles que nós
destacaríamos nas nossas, cem anos depois. Quando indico
seus textos em aula, os alunos se surpreendem com ele ser
anterior ao “pesadão” Max Weber, seu seguidor nos conceitos
centrais.
Parte inferior do formulário
Nestes dias de opiniões acaloradas e verdades relativas, é
uma bênção ler Simmel, com seu espanto estudado diante da
vida dos homens e das mulheres. Sua mirada não reduz o
outro a objeto de pesquisa, não o cala, não o subsume a
conceitos abstratos e metafísicos. E também não o endeusa,
não coloca sobre ele ou seu grupo expectativas espetaculares
e redentoras. O homem é o que é. E a mulher é o que é, com
suas estratégias próprias de se tornar indivíduo numa
sociedade que abre frestas para que o faça. O interesse de
Simmel nos homens e suas relações não é externo, isto é, não
é utilitário. O grupo não é portador de um destino heróico nem
precisa de conserto; ele merece ser estudado enquanto tal, por
seu próprio valor.
Seus esquemas teóricos são como miniaturas da vida social,
maquetes habilidosas que representam o mundo de maneira
estilizada e compreensível. Seus tipos sociais não são
modelos sobre como as gentes devem ou não devem ser, mas
representações esquemáticas que nunca chegam a abarcar o
todo humano. Lembram as silhuetas encontradas por G.H., no
romance de Clarice Lispector, que os críticos já analisaram em
profundidade, delineando o sujeito ausente sem compreendê-
lo, apenas demandando um esforço para que o façamos. São,
finalmente, convites a nós, observadores do universo urbano,
para que desenhemos nossos próprios tipos sociais, como
nosso Sérgio Buarque fez por algum tempo.
Simmel faz parte do grupo de intelectuais judeus de língua
alemã da virada do século passado que deslocaram o espanto
diante do incognoscível – awe em inglês – da esfera religiosa
para a esfera científica.
Os nomes mais conhecidos são Freud e Einstein; ainda cito o
escritor Arthur Schnitzler, e meus colegas mais eruditos
lembrarão de outros mais. Outros autores, em outros tempos
e lugares, como Walter Benjamin e nossa Clarice Lispector,
também fizeram esse estranho trajeto de olhar o mundo
humano com o maravilhamento antes devotado a Deus.
Simmel analisa os tamanhos dos grupos, as intensidades de
suas conexões internas, seus conflitos e modos de
pertencimento como quem estuda um ser amado, em detalhes,
como se tudo, absolutamente tudo, importasse nessa grande
dança da vida humana. E não é assim? E não são nossas
relações que imprimem graça e terror à vida? E não merece a
forma como nos articulamos entre nós todo esse espanto e
interesse? Pois merece sim, e há cem anos já temos o
instrumental específico para olhar de modo minucioso para
esse objeto de estudo onipresente, nós mesmos.
Ao menos nas traduções americanas, que são meu meio de
chegar a ele, Simmel não aparece como grande fã dos jargões.
Só conheço o “Vergesellschaftung”, em português
“constituição do social” ou “sociação”, como aparece nas
traduções: uma estrutura que é constituída, não é nem dada a
priori nem inexistente. Simmel foi visto em sua época como um
narrador impressionista, mas uma leitura mais sistemática o
revelaria plantando a semente para uma ciência das relações
humanas. Outro dia um economista inglês me questionou se
sociologia era ciência ou não. Eu lhe respondi que a sociologia
poderia ter se tornado uma ciência, e tinha em mente a
proposta de Simmel de exame dessa constituição, que a teoria
dos jogos e a análise de redes sociais abraçaram, ainda que
sem sua riqueza interpretativa.
O projeto de Simmel era construir uma filosofia da vida. Ao
final, ofereceu-nos uma sociologia que compete, às vezes em
desvantagem, com engenharias sociais, pregações
apocalípticas e agitprop. Em desvantagem pois a linguagem
de Simmel é de uma poesia discreta que não chama a atenção
para si. Simmel não é Žižek. Sua sutileza não serve a
movimentos políticosalém de um humanismo moderno que
não anda em voga. O personagem mais grandioso da trama
de Simmel é a cidade moderna, que para ele é Berlim, e para
cada um de nós, uma outra cidade onde buscamos nos afirmar
como indivíduos ao lado da multidão. Onde os conflitos, como
ele diz, são laços fortes que nos unem e sem os quais a vida
perde o sabor.
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Esta cidade não paira acima de nós, não nos constrói ou
produz. Simmel insiste que não há sociedade além das
interações sociais. A cidade, a sociedade, a teia de relações
humanas, para usar um termo de Arendt, é apenas isso: uma
superposição complexa de milhares, milhões, talvez bilhões de
encontros e desencontros que temos uns com os outros e,
através das estórias, com os que nos precederam. O que faz
Berlim são os berlinenses, e o que faz os berlinenses são os
não-berlinenses, pois, sem eles, Berlim não seria Berlim.
Numa visita a uma pequena cidade mineira pela qual me
apaixonei, depois de conhecer o quitandeiro uruguaio e o
restaurateur de Osasco, me dei conta de que são aqueles dois
que fazem da pequena Alagoa uma cidade, e que a cada novo
habitante – incluindo eu mesma –, Alagoa se refaz como
cidade e, em vez de se dissolver na mesmice da globalização,
se encontra consigo mesma, se recontando e revelando ao
forasteiro.
Berlim do século XIX, onde viveu Georg Simmel
É esse tipo de ideia que Simmel inspira. Nos Estados Unidos,
seu pensamento frutificou na Escola de Chicago e nas
detalhadas descrições da sociabilidade urbana etnicamente
diversa. Perdeu algo da poesia, mas ganhou a sistematização;
com Ervin Goffman, ganhou humor. No Brasil, há uma análise
muito boa sobre a influência de Simmel na obra de Sérgio
Buarque de Holanda, feita pelo mesmo Leopoldo Waizbort –
um tema fascinante que pretendo explorar em um futuro artigo.
Mas Sérgio não penetrou na sociologia brasileira e, mais ainda,
foi muito pouco traduzido no exterior. Por que não? Por que
não, se sua proposta sutil e compreensiva dos humores
humanos se encaixa tão bem em nossa cultura? O que ficou,
e isso será tema do artigo, foram propostas de pensar a
sociedade que reforçam nossa estrutura desigual,
enaltecendo-a ou desprezando-a, mas de qualquer modo a
colocando num pedestal explicatório que o individualismo de
Simmel não poderia fazer.
Pois em seu individualismo, e aprendi isso num livro muito belo
do escritor israelense Amós Oz, o centro do mundo não é o ser
humano abstrato, igual aos demais, apreensível em teorias
acachapantes, mas o ser humano particular, dono de um
mundo inteiro ele mesmo. Esse individualismo apoiado na
particularidade de cada ser humano coloca na coletividade
destes homens únicos um peso considerável: ela é
responsável por cada uma destas almas. A mim me emociona
pensar em Berlim, em São Paulo, como este aglomerado
enorme de gentes distintas e mesmo assim tão dependentes
umas das outras, até quando se batem, se dividem entre o
partido de cima e o partido de baixo, como em Alagoa.
Simmel faleceu em 1918. No ano que vem, relembraremos o
centenário de seu falecimento. O que aconteceu neste século
sem Simmel? O que aconteceu com o pensamento social
nesse século depois de Simmel? Mantivemos, nas leis e nas
ideias, o amor ao ser humano único, induplicável, cuja mirada
e ação sobre o mundo temos o privilégio de testemunhar?
Entendido amor aqui como respeito e desejo de que se
desenvolva, e não pena por ele ser quem ele é ou vontade que
fosse algo distinto. Cuidamos das cidades enquanto morada
fenomenal do indivíduo moderno, em sua pluralidade e
convivência? Enxergamos de modo claro como a cidade
precisa do indivíduo e este da cidade?
Em linhas gerais, penso que sim. A Berlim de Simmel foi
destruída como símbolo da modernidade e convivência – ainda
que nos dias que correm parece ter se reconvertido em reduto
de racionalidade e compreensão. Mas outras cidades
surgiram, talvez a sua que me lê agora. Mais gente é
estrangeiro hoje do que jamais o foi. E portanto mais lugares
são cidades do que jamais foram. Mas a cidade está hoje
novamente em perigo, depois de cem anos. Seus valores e sua
vida enfrentam adversários de peso, e é sempre bom lembrar
que cidades maravilhosas, como Bagdá ou Roma, sucumbiram
à imbecilidade autóctone ou às armas de fora. Seus
adversários, precisamos enfrentar com nossas próprias armas,
o diálogo que nos une e a lei que nos protege. Em cada ato,
cada voto, precisamos nos perguntar: apoio o projeto de Nero
para Roma ou ando de braços dados com Churchill? Votei em
Péricles ou no trêbado Jânio Quadros? Vejo cada eleição
como um “espetáculo da democracia” ou como uma roleta
russa com o futuro de minha urbe?
Sair em desabrida cruzada contra a cor dos muros, como
nosso alcaide, não vai resgatar a consideração que devemos,
cidadãos, ter uns pelos outros e que mantém nossa cidade
habitável. Defender com a mesma intensidade a todas as
práticas possíveis e imagináveis não vai dar guarida aos
habitantes da cidade, que merecem nossa proteção até as
últimas consequências. Não será fácil encontrar o equilíbrio
entre direitos individuais e coletivos, dos quais depende o
futuro do projeto moderno. Como saber quando estamos
convidando o fascismo a se instalar, ou exercendo moderação
que compensará mais adiante? Como saber quando estamos
preservando a cidade para todos ou apenas calando vozes
incômodas? Como distinguir a defesa do direito individual – da
qual vive a cidade – da licença para oprimir e violar?
Para quem quer lutar, Simmel oferece muito pouco: poucas
bandeiras, poucos slogans e nenhuma missão. Na minha
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lembrança, seu argumento mais acalorado defendia o valor do
trabalho de um químico que, criando tintas, valoriza a produção
de uma infinidade de trabalhadores têxteis. Que movimento
político virá desta defesa, que possa incendiar as massas ou
alunos de graduação? Não há dois minutos de ódio, há apenas
um olhar valorizador para uma atividade humana específica,
numa releitura singela do tratado de Adam Smith sobre a
Riqueza das Nações. Já para quem quer agir de modo
inteligente, a partir de reflexões lúcidas sobre os dilemas
sociais contemporâneos, eu não conheço melhor ponto de
partida que a obra deste pequeno judeu berlinense, esse sábio
discreto e perspicaz que nos deixou como legado uma maneira
de olhar o mundo social sem prazo de validade.
Heloisa Pait é socióloga e professora da UNESP.
Sugestão de bibliografia complementar:
WAIZBORT, Leopold. As aventuras de Georg Simmel. São Paulo: Edusp,
2004.
Exercícios
1. (Ufu 2018) Weber conduziu uma investigação sobre o
“desenvolvimento do capitalismo no ocidente e a
racionalização da conduta promovida por um sistema ético,
tendo como resultado sua obra mais conhecida.” - A ética
protestante e o “espírito” do capitalismo.
QUINTANEIRO, Tânia; BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira; OLIVEIRA,
Márcia Gardênia. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. Belo
Horizonte: EdUFMG, 1999. p. 129.
Com base nessa informação, faça o que se pede.
a) Estabeleça, sinteticamente, uma relação possível entre a
ética protestante e o “espírito” do capitalismo que Weber
apresentou nessa sua obra.
b) A partir dessa relação, estabeleça, ao menos, três traços
da análise weberiana.
2. (Uel 2014) Leia o texto a seguir.
“Antigamente nem em sonho existia tantas pontes sobre os
rios, nem asfalto nas estradas. Mas hoje em dia tudo é
muito diferente com o progresso nossa gente nem sequer
faz uma ideia. Tenho saudade de rever nas currutelas as
mocinhas nas janelas acenando uma flor. Por tudo isso eu
lamento e confesso que a marcha do progresso é a minha
grande dor. Cada jamanta que eu vejo carregada
transportandouma boiada me aperta o coração. E quando
olho minha traia pendurada de tristeza dou risada pra não
chorar de paixão.”
(Adaptado de: Nonô Basílio e Índio Vago. Mágoa de Boiadeiro.)
O texto aproxima-se sociologicamente da leitura teórica de
a) Comte, que defende a necessidade de formas
tradicionais de vida em detrimento da desilusão do
progresso.
b) Durkheim, que analisa o progresso como elemento
desagregador da vida social ao provocar o enfraquecimento
das instituições.
c) Marx, que condena o desenvolvimento das forças
produtivas por seus efeitos alienantes sobre o homem.
d) Spencer, que tem uma leitura romântica da sociedade e
vê o passado como mais rico culturalmente.
e) Weber, para quem a modernização e a racionalização é
acompanhada pelo desencantamento do mundo.
3. (Ufu 2013) Em artigo intitulado “Clientelismo ainda
domina política no interior do Brasil”, da BBC, de 27 de
outubro de 2002, o jornalista Paulo Cabral desenha o painel
de parte da política nacional. Ele destaca que, em comício
de uma certa deputada, um grande churrasco foi oferecido
para os eleitores de uma vila: "Sob um sol escaldante, um
caminhão de som tocava o jingle – forró da candidata a todo
o volume, a população sentia o cheiro da carne sendo
assada trancada dentro de uma casa. Comida, só quando
chegasse a candidata”.
BBC. Disponível em: . Acesso: 11 mar. 2013.
A relação descrita entre os eleitores e a candidata
aproxima-se, na matriz teórica weberiana, de um tipo puro
de relação de dominação, uma vez que
a) inscreve-se como relação de poder em que a candidata
aproveita-se de uma probabilidade de impor sua vontade,
ainda que sem legitimidade.
b) estabelece-se, retirando das relações os elementos não
racionais, isto é, em evidente processo de
desencantamento do mundo.
c) sua natureza remonta uma tradição inimaginavelmente
antiga e conduz ou orienta a ação habitual do eleitor para o
conformismo.
d) expõe características típicas das formas carismáticas de
dominação, demonstrada pelo dom da graça extraordinário
e pessoal manifesto nas práticas clientelistas.
4. (Uel 2013) Em Economia e sociedade: fundamentos da
sociologia compreensiva, o sociólogo alemão Max Weber
expõe conceitos como carisma, estamento burocrático,
tipos de dominação legítima etc. Já Os donos do poder:
formação do patronato político brasileiro, de Raymundo
Faoro, fundamenta-se, em boa parte, em Weber, e realiza
amplo estudo sobre a formação dos grupos dominantes no
Estado brasileiro, vendo-os como frutos do Estado
português. Faoro procura demonstrar como isso se mantém
arraigado na cultura política do País e como os traços
patrimonialistas de nossa formação sobrevivem ao tempo.
Essa obra abrange desde a época dos reis de Portugal, no
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século XIV, até a presidência de Getúlio Vargas, nos anos
1950.
a) Aponte os fatores que caracterizam o patrimonialismo
como ocorrência mais comum dentro do tipo de dominação
legítima tradicional.
b) Apresente a definição weberiana para os três tipos de
dominação legítima.
5. (Uel 2013) Os documentos de identificação individual
podem ser analisados sob a perspectiva dos estudos
weberianos a respeito da sociedade moderna. Sobre essa
análise, assinale a alternativa correta.
a) A ação racional com relação a valores é o tipo conceitual
que explica o uso do CPF, uma vez que se refere às
riquezas do indivíduo.
b) A adoção de documentos de identificação pessoal
corresponde aos interesses dos indivíduos pelo prestígio
social.
c) A identificação pelo CPF é um exemplo de imitação e de
ação condicionada pelas massas, fenômenos comuns na
sociedade moderna.
d) CPF e documentos pessoais fortalecem o processo de
desburocratização das estruturas racionais de dominação.
e) O uso do CPF é uma ação dotada de sentido, isto é,
compreensível pelos demais indivíduos envolvidos na
situação.
6. (Unioeste 2013) A Sociologia de Max Weber é
considerada uma ciência compreensiva e explicativa. Na
sua concepção, compete ao sociólogo compreender e
interpretar a ação dos indivíduos, assim como os valores
pelos quais os indivíduos compreendem suas próprias
intenções pela introspecção ou pela interpretação da
conduta de outros indivíduos.
Sobre a sociologia compreensiva de Max Weber, é correto
afirmar que
a) segundo o método da sociologia compreensiva de Max
Weber, há uma ênfase metodológica sobre a sociedade
como a unidade inicial da explicação para se chegar a
significados objetivos de ação social.
b) na sociologia compreensiva de Max Weber, a primeira
tarefa da sociologia é reformar a sociedade ou gerar algum
tipo de teoria revolucionária. Weber herda efetivamente um
ponto de vista sociológico compreensivo imputado à escola
marxista.
c) para Max Weber, a sociologia está voltada unicamente
para a compreensão dos fenômenos sociais. Na sociologia
compreensiva, o homem não consegue compreender as
intenções dos outros em termos de suas intenções
professadas.
d) no método compreensivo de Weber, os fenômenos
sociais são considerados como a simples expressão de
causas exteriores que se impõem aos indivíduos. Weber
define a sociologia compreensiva em termos de fatos
sociais e não em termos de atividade ou ação.
e) Max Weber entende por sociologia compreensiva uma
ciência que se propõe a compreender a atividade social e,
deste modo, explicar causalmente seu desenrolar e seus
efeitos. Para explicar o mundo social, importa compreender
também a ação dos seres humanos do ponto de vista do
sentido e dos valores.
7.(Uema 2012) No conjunto da sua Sociologia
compreensiva, o sociólogo alemão Max Weber define ação
social como ação
a) racional em que o agente associa um sentido objetivo
aos fatos sociais.
b) desprovida de sentido subjetivo e motivacional.
c) humana associada a um sentido objetivo.
d) cuja intenção fomentada pelos indivíduos se refere à
conduta de outros, orientando-se por ela.
e) não orientada significativamente pela conduta do outro
em prol de um bem comum.
8. (Uem 2012) Sobre a sociologia compreensiva de Max
Weber, assinale o que for correto.
01) Segundo essa perspectiva sociológica, a ordem social
impõe-se aos indivíduos como força exterior e coercitiva,
submetendo, assim, as vontades desses indivíduos aos
padrões sociais estabelecidos.
02) A ação social é entendida como um comportamento
dotado de sentido subjetivamente visado e orientado
para o comportamento de outros atores.
04) O sociólogo tem como tarefa fundamental a identificação
e a compreensão causal dos sentidos e das motivações
que orientam os indivíduos em suas ações sociais.
08) O que garante a cientificidade da análise sociológica é o
recurso à objetividade pura dos fatos.
16) As instituições sociais são definidas como resultados de
relações sociais estáveis e duráveis, passíveis de serem
alteradas a partir de transformações nos sentidos
atribuídos pelos indivíduos às suas ações.
9. (Uel 2007) Max Weber afirma que a burocracia ocorre
tanto em instituições políticas, quanto em instituições
privadas e religiosas. De acordo com os conhecimentos
sobre o tema, é correto afirmar que a burocracia:
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a) É um tipo de dominação racional, resultado da ação
exercida pelo quadro administrativo de uma determinada
instituição.
b) É o resultado do desinteresse dos grupos políticos pela
administração pública e corresponde ao tipo de
dominação partidária.
c) É o resultado da falta de iniciativa dos funcionários na
gestão das instituições e corresponde ao tipo de
dominação não racional.
d) Não é um tipo de dominação, mas o resultado da
acomodação dos funcionários de carreira do Estado, das
empresasou das igrejas.
e) É um tipo de dominação carismática, caracterizada pela
ausência de hierarquia e funções de poder.
10. (Uel 2005) Leia o texto a seguir, escrito por Max Weber
(1864-1920), que reflete sobre a relação entre ciência social
e verdade:
“[...] nos é também impossível abraçar inteiramente a
sequência de todos os eventos físicos e mentais no espaço
e no tempo, assim como esgotar integralmente o mínimo
elemento do real. De um lado, nosso conhecimento não é
uma reprodução do real, porque ele pode somente transpô-
lo, reconstruí-lo com a ajuda de conceitos, de outra parte,
nenhum conceito e nem também a totalidade dos conceitos
são perfeitamente adequados ao objeto ou ao mundo que
eles se esforçam em explicar e compreender. Entre
conceito e realidade existe um hiato intransponível. Disso
resulta que todo conhecimento, inclusive a ciência, implica
uma seleção, seguindo a orientação de nossa curiosidade
e a significação que damos a isto que tentamos apreender”.
(Traduzido de: FREUND, Julien. Max Weber. Paris: PUF, 1969. p. 33.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é
correto afirmar que, para Weber:
a) A ciência social, por tratar de um objeto cujas causas são
infinitas, ao invés de buscar compreendê-lo, deve limitar-
se a descrever sua aparência.
b) A ciência social revela que a infinitude das variáveis
envolvidas na geração dos fatos sociais permite a
elaboração teórica totalizante a seu respeito.
c) O conhecimento nas ciências sociais pode estabelecer
parcialmente as conexões internas de um objeto,
portanto, é limitado para abordá-lo em sua plenitude.
d) Alguns fenômenos sociais podem ser analisados
cientificamente na sua totalidade porque são menos
complexos do que outros nas conexões internas de suas
causas.
e) O obstáculo para a ciência social estabelecer um
conhecimento totalizante do objeto é o fato de
desconsiderar
11. (Ueg 2018) O sociólogo Max Weber desenvolveu
estudos sobre a ética protestante e o espírito do
capitalismo. A esse respeito tem-se o seguinte:
a) a tentativa de constituir uma ciência da sociedade
promoveria um processo de pesquisa multidisciplinar e
não especializado e por isso Weber concebia a economia
como determinante da cultura e o capitalismo
determinante do protestantismo.
b) o processo de racionalização era o fio condutor da
análise do capitalismo ocidental por parte de Weber e por
isso ele analisou o papel da ética protestante, que
apontaria um primeiro momento de racionalização na
esfera religiosa.
c) Weber considerava que as ideias dominantes eram as
ideias da classe dominante, que, na modernidade, era a
classe capitalista, e por isso a ética protestante
desenvolvida pelos comerciantes gerou o espírito do
capitalismo.
d) a inspiração na dialética idealista hegeliana fez com que
Weber focalizasse a questão cultural e desenvolvesse
um determinismo cultural segundo o qual o modo de
produção capitalista seria produto do protestantismo.
e) a concepção weberiana surgiu a partir de uma síntese da
filosofia kantiana e marxista e por isso ele focaliza o
processo de formação do capitalismo ao lado do
desenvolvimento do protestantismo e do apriorismo.
12. (Uem 2018) Dentre os conceitos sociológicos
construídos por Max Weber para compreender a vida
social, figura o de tipo ideal. Sobre o conceito de tipo ideal
em Max Weber, é correto afirmar que
01) representa uma construção metodológica, portanto é
um modelo sobre o qual se constrói a análise
sociológica.
02) inexiste na realidade empírica tal qual como é retratado
no modelo.
04) é um recurso de análise que permite conceituar
fenômenos e formações sociais e localizar suas
manifestações na realidade observada.
08) é uma ferramenta de busca de leis sociais.
16) é denominado “ideal” por representar um objetivo que
deve ser buscado pelas sociedades estudadas.
13. (Ufu 2018) Para Weber, um tipo de dominação é
estabelecido, pois “obedece-se não à pessoa em virtude de
seu direito próprio, mas à regra estatuída, que estabelece
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ao mesmo tempo a quem e em que medida se deve
obedecer.”
COHN, Gabriel (Org.). Weber: Sociologia. 5.ed. São Paulo: Ática, 1991.
p. 129. Coleção Grandes Cientistas Sociais.
Com base na análise weberiana, assinale a alternativa que
indica o tipo de dominação a que essa descrição está
relacionada.
a) Dominação Legal.
b) Dominação Carismática.
c) Dominação Tradicional.
d) Dominação Altruísta.
14. (Uem 2017) Max Weber é um dos autores centrais para
a constituição da Sociologia. Um de seus principais temas
de investigação foi o da dominação. Para ele, os sistemas
de dominação se vinculariam a processos de legitimação.
No intuito de compreender tal situação, o autor desenvolveu
um modelo de análise com base naquilo que denominou de
três tipos ideais de dominação: o racional, o tradicional e o
carismático.
Assinale o que for correto a respeito desses três tipos
weberianos de dominação.
01) Os tipos de dominação propostos por Max Weber não
são encontrados de forma pura na realidade.
02) Para que exista dominação, é necessário que os
dominados obedeçam à autoridade dos que detêm o
poder.
04) Para Max Weber, a dominação carismática é baseada
na veneração do poder heroico, na santidade e no
caráter exemplar de uma pessoa.
08) A dominação tradicional, segundo Max Weber, consiste
no desenvolvimento do aparato burocrático.
16) Max Weber define a dominação racional como aquela
que não necessita dos aparatos legislativo e
burocrático.
15. (Uel 2016) Leia o texto a seguir.
O Estado moderno é uma associação de dominação
institucional que, dentro de determinado território,
pretendeu com êxito dominar os meios de coação física
legítima como meio de dominação e reuniu para este fim,
nas mãos de seus dirigentes, os meios materiais de
organização, depois de desapropriar todos os funcionários
estamentais autônomos que antes dispunham, por direito
próprio, destes meios e de colocar-se, ele próprio, em seu
lugar, representado por seus dirigentes supremos.
(Adaptado de: WEBER, M. Economia e Sociedade: fundamentos da
sociologia compreensiva. v.2. Brasília: Editora da UnB, 1999. p.529.)
No texto, o sociólogo Max Weber explica que um dos
principais traços distintivos do Estado moderno em relação
às instituições políticas que o antecederam é o do
monopólio da violência física legítima que este deve deter.
Com base nisso, responda aos itens a seguir.
a) O que significa monopólio da violência física legítima e
quem o exerce?
b) Cite e explique duas atribuições legais de quem exerce
o monopólio da violência física.
16. (Uem 2016) “Obedece-se não à pessoa em virtude de
seu próprio direito, mas à regra estatuída, que estabelece
ao mesmo tempo a quem e em que medida se deve
obedecer. Também quem ordena obedece, ao emitir uma
ordem, a uma regra: à ‘lei’ ou ‘regulamento’ de uma norma
formalmente abstrata”.
(WEBER, M. Os três tipos puros de dominação legítima. In: CASTRO, C.
(org). Textos básicos de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2014, p. 59).
Considerando o texto citado e conhecimentos sobre a
perspectiva teórica de Max Weber, assinale o que for
correto.
01) O trecho acima destacado apresenta a descrição de um
tipo de dominação política que se dá em virtude das
qualidades carismáticas, afetivas e intelectuais de
líderes comunitários.
02) A obediência às regras e aos estatutos legais encontra
na burocracia sua principal expressão histórica.
04) A dominação exercida pelo sistema jurídico legal é
constituída por dois processos distintos. Do lado de
quem exerce o poder, vigora a dominação constituída
pela força, pela vontade e pelavirtude. Do lado de quem
se submete à lei, vigora o medo, o dever e a fidelidade.
08) A profissionalização, a valorização de competências
técnicas e o direito de ascensão e negociação no
trabalho são características que compõem o tipo ideal
de dominação descrita no trecho citado.
16) Os Estados modernos, por princípio, organizam-se por
meio de processos racionais de controle da violência,
como os aparatos policiais e jurídicos.
Gabarito:
2. E 3. C 5. E 6. E 7. D
8.(2+ 4+16) 9.A 10. C 11. B 12.(01+02+04)
13.A 14.(01+02+04) 16. (02+08+16)