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3 - Instrumentos de intervenção urbana

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INSTRUMENTOS DE 
INTERVENÇÃO URBANA
W
BA
06
00
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1.
1
© 2018 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida 
de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou 
qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, 
por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Presidente
Rodrigo Galindo
Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada
Paulo de Tarso Pires de Moraes
Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Carolina Yaly
Danielle Leite de Lemos Oliveira
Juliana Caramigo Gennarini
Mariana Ricken Barbosa
Priscila Pereira Silva
Coordenador
Mariana Ricken Barbosa
Revisor
Maria Estela Ribeiro Mendes
Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Daniella Fernandes Haruze Manta
Flávia Mello Magrini
Hâmila Samai Franco dos Santos
Leonardo Ramos de Oliveira Campanini
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Santos, Ludmila Helena Rodrigues dos
S237i Instrumentos de intervenção urbana/ Ludmila 
 Rodrigues dos Santos – Londrina: Editora e Distribuidora 
 Educacional S.A. 2018.
 112 p.
 ISBN 978-85-522-1056-6
		1.	Crescimento	urbano.	2.	Gentrificação.	I.	Santos	
 Ludmila Helena Rodrigues dos. Título 
 CDD 300
Responsável	pela	ficha	catalográfica:	Thamiris	Mantovani	CRB-8/9491
2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP:	86041-100	—	Londrina	—	PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Instrumentos de Intervenção Urbana 3
SUMÁRIO
Apresentação	da	disciplina	 04
Tema 01 – Fundamentos da cidade: histórias, geopolíticas e culturas 
 do e no urbano 06
Tema 02 – Cidade moderna e o modo de vida capitalista 19
Tema 03 – O fenômeno urbano: a subjetividade metropolitana 32
Tema	04		– O	empreendedorismo	e	gentrificação	dos	espaços	 46
Tema 05 – Espaços heterotópicos: outros espaços na cidade 60
Tema 06 – A cidade como imagem e as imagens na cidade 76
Tema 07 – Intervenções urbanas: arte ou depredação? 92
Tema 08 – Territórios, gestão e cidade inteligente 109
INSTRUMENTOS DE INTERVENÇÃO URBANA 
4 Instrumentos de Intervenção Urbana
Apresentação da disciplina
O que esperar de uma disciplina denominada instrumentos de intervenção 
urbana? Esta pergunta exige, primeiramente, uma compreensão do que é 
entendido por urbano, já que, atualmente, tal terminologia não se reduz 
à dicotomia do urbano versus rural: pois, ainda que etimologicamente a 
palavra latina urbanus designe “aqueles que pertencem à cidade”, as fron-
teiras físicas, comportamentais e simbólicas das interações “pertencentes 
à	cidade”	têm	se	expandido	e	ressignificado	historicamente.	
Assim,	esta	terminologia	abarca	um	modo	de	vida	específico,	que,	por	sua	
vez, se conecta a um entendimento amplo do desenvolvimento da nossa 
forma de organização social: nosso convívio e normatização coletiva, o 
sistema	econômico	e	político	que	vivemos,	aspectos	históricos	e	geográfi-
cos,	as	especificações	estéticas	e	éticas	as	quais	nos	submetemos.	
Depois, cabe perguntar quais os sentidos, alcances e instrumentos possí-
veis	que	operam	“intervenções”	dentro	destas	especificações	sociais,	con-
siderando	os	domínios	históricos,	filosóficos,	comportamentais,	artísticos	
e políticos que integram a vida na e da cidade. 
Estes aspectos são trabalhados em seus diversos cruzamentos possí-
veis na estruturação temática da disciplina “Instrumentos de Intervenção 
Urbana”. 
Assim, os recortes históricos, políticos e econômicos situam desde a cons-
tituição	da	ideia	de	cidade	ocidental	até	o	impacto	e	influência	do	modelo	
econômico capitalista na estruturação das vivências urbanas. Já as ques-
tões estéticas e éticas elucidam as possibilidades de intervenção (cultu-
rais,	políticas,	artísticas	e	sociais)	do	e	no	urbano.	A	configuração	das	re-
lações e os mapeamentos citadinos (territoriais e afetivos) permitem uma 
compreensão mais ampla das intervenções operadas neste ambiente, 
Instrumentos de Intervenção Urbana 5
bem como o entendimento da noção de “bem comum” e da participação 
dos sujeitos no planejamento e execução de um ideal de cidade que pos-
sa	integrar	suas	concepções	macro	(planejamento,	gestão,	fiscalização)	e	
micro (os indivíduos, suas necessidades, afetos, memórias, etc.). 
Estes assuntos buscam conectar e entender esta noção de “urbano” e seus 
instrumentos de “intervenções”, englobando a multiplicidade de vivências 
e possibilidades que a cidade abarca.
Instrumentos de Intervenção Urbana 6
TEMA 01
FUNDAMENTOS DA CIDADE: 
HISTÓRIAS, GEOPOLÍTICAS E 
CULTURAS DO E NO URBANO
Objetivos
• Pensar como a cidade se constitui (historicamente, 
territorialmente	 e	 filosoficamente)	 sobre	 uma	 base	
política	específica	que	demarca	atuações,	expansões	
e dominações. 
• Compreender a origem da Polis Grega e do desenvol-
vimento da noção de democracia.
• Conhecer	como	se	configurava	a	Civitas e o alcance do 
Direito Romano no interior das cidades.
Instrumentos de Intervenção Urbana 7
Introdução
Como a Polis grega e a Civitas romana contribuem com a nossa compreen-
são atual acerca das cidades e do modo de vida urbano? 
Primeiramente,	é	importante	ressaltar	que	as	delimitações	e	especifica-
ções do que entendemos como “cidade” e “urbano” implicam em cons-
truções:	geográficas,	históricas,	políticas,	econômicas,	culturais,	sociais	e	
filosóficas.	Por	isso,	a	 influência	e	o	alcance	destes	domínios	impõem	e	
demarcam, desde seu surgimento, territórios (físicos e simbólicos) nos 
quais se desenvolvem relações de poder, conhecimentos e formas de 
existências	específicas.		
O que é a cidade? Para quem estão voltadas suas construções (materiais 
e ideológicas)? Como ela foi construída ao longo da história e como se re-
nova? Quem a habita a constrói? 
Estas são, concomitantemente, perguntas de cunho histórico e contem-
porâneo, pois, para entender a expansão do urbano, seus alcances, con-
cepções e possibilidades de intervenções, é imprescindível localizar a ori-
gem de seus sentidos socialmente compartilhados, os quais tanto criam 
como perpetuam compreensões e interpretações, além de regularem as 
interações no ambiente citadino. 
O recorte que aborda os mais relevantes modelos históricos de cidades, 
Polis e Civitas, está relacionado à compreensão de regulações espaciais 
e comportamentos sociais compreendidos como tipicamente “urbanos”, 
como por exemplo, a questão do exercício da cidadania, na qual foram 
reguladas as participações dos sujeitos nos espaços urbanos, estabele-
cendo possibilidades e limites às intervenções urbanas. 
As diferenças de gestão e vivências que caracterizam estas duas experiên-
cias de cidade evidenciam como se estrutura uma política da e para vida 
urbana em cada contexto (a qual constrói, delimita, regula e conceitua 
territórios materiais e simbólicos). 
8 Instrumentos de Intervenção Urbana
1. Polis grega e Civitas romana
O surgimento da ideia de cidade (em suas distintas concepções e opera-
cionalidades) é um fator importante para compreensão da estruturação 
de um modo de vida organizado em torno de uma concepção territorial, 
ideológica, normativa e populacional que tal concepção introduz. 
Massimo	Cacciari	(2010)	afirma,	em	seu	livro	intitulado	“A	Cidade”,	a	ideia	
de	que	a	concepção	de	cidade	é	historicamente	definida	de	maneiras	dis-
tintas, não por causalidade, e, por conta disso, “falar de cidade em termos 
gerais não faz muito sentido” - já que existem diferenciadas formas de 
vida	urbana.	Assim,	a	noção	de	cidade	se	compõe	de	especificações	e	sin-
gularidades históricas que culminam no entendimento de um modo de 
vida próprio (CACCIARI, 2010, p. 9, tradução nossa). 
Por isso, a eleição de cidades e recortes históricos buscamevidenciar as-
pectos particulares da formação destes redutos, tentando entender como 
certas construções e características particulares se perpetuaram e res-
significaram	ao	 longo	da	história,	 estruturando	uma	 compreensão	dos	
domínios e fronteiras do urbano e da vida metropolitana. 
Como tratamos de uma concepção de cidade ocidental, faz sentido buscar 
os lugares que estruturam suas vivências e compreensões da vida social: 
seus conhecimentos, valores coletivos e modos de organização (jurídica, 
econômica	e	política).	Daí	justifica-se	o	recorte	histórico	e	os	cruzamentos	
entre os valores que constituem a Pólis grega e a Civitas romana: busca-se 
a	origem,	a	ressignificação	e	difusão	de	conceitos	fundamentais	que	qua-
lificam	estes	espaços	e	as	suas	vivências.	
Comecemos tal tarefa destacando a composição da Cidade-Estado grega 
(assim denominada em função da autonomia territorial e descentraliza-
ção dos poderes políticos). 
Instrumentos de Intervenção Urbana 9
A Pólis constituía um território independente e autogerido (de governo 
próprio) aonde se ressaltavam os laços de pertencimento grupal na de-
signação de ethos	específico	(que	estabelecia	e	afirmava	um	modo	de	vida	
autônomo e particular):
Quando um grego fala de polis, em primeiro lugar se refere à sede, à mora-
da, ao lugar onde determinado genos possui raízes, uma determinada es-
tirpe, um povo (gens/genos). Em grego o termo polis ressoa imediatamente 
a uma forte ideia de pertencimento. A polis é o lugar aonde determinado 
grupo,	especifico	por	suas	tradições,	pelos	seus	costumes,	 tem	sua	sede,	
seu próprio ethos (CACCIARI, 2010, p. 9-10, tradução nossa).
Desta maneira, as Cidades-Estado da antiguidade grega possuíam distin-
tos	valores,	 tradições	e	gestões	políticas,	figurando	 territórios	 indepen-
dentes. Este é o caso da diversidade constitutiva de Atenas e Esparta. A 
primeira sedia uma concepção de governo democrático e de participação 
direta aos seus cidadãos – é preciso destacar o fato de que a noção de 
cidadania e participação política era restrita aos homens atenienses (não 
estrangeiros), livres e maiores de idade. Em contrapartida, Esparta desta-
cava-se por sua organização militarista e política oligárquica. 
Para além de uma pormenorização da história da Grécia antiga, esta 
abordagem elucida a organização territorial e a autonomia das Cidades-
Estado: fator que impactava diretamente na participação e intervenção 
dos cidadãos nas questões da Pólis. 
A regulamentação e alcance desta intervenção tinham uma visibilidade 
territorial no caso da cidade de Atenas: trata-se do espaço político e co-
mercial da Ágora (praça pública), local do exercício da democracia (restri-
ta aos cidadãos atenienses), que localiza, demarca e politiza os trânsitos, 
usos e permanências desta localidade, traçando mapeamentos físicos 
simbólicos dos lugares da cidade. 
10 Instrumentos de Intervenção Urbana
PARA SABER MAIS
A Ágora tinha a função de integrar a sociedade. Este espa-
ço comercial e político reunia os cidadãos atenienses para o 
exercício de seu governo democrático e para os intercâmbios 
comerciais (movimentando a economia da cidade). A “inter-
venção urbana” entendida como participação na gestão e 
normatização da Pólis, acontecia neste ambiente de maneira 
direta e isonômica (igual) àqueles considerados cidadãos.
Se, por um lado, a experiência da Pólis grega se destaca pela autogestão 
democrática e a descentralização territorial, quando tratamos da Civitas 
romana temos um contraponto a este modelo: o da centralização política 
e territorial de Roma. 
Etimologicamente, o termo civitas deriva do termo civis, o qual, de manei-
ra abrangente, designa “um conjunto de pessoas que se reúne para dar 
vida à cidade”. Desta forma, os civis são aqueles que habitam um mesmo 
lugar e se submetem às mesmas leis independentemente de suas deter-
minações éticas e religiosas (CACCIARI, 2010, p. 10, tradução nossa).
Esta característica de reunião de distintos sujeitos em função da submis-
são às leis que regem determinado território, irá constituir e desenvol-
ver o Direito Romano (que origina e fundamenta nosso sistema jurídico 
atual). Sob esta perspectiva, o espaço da cidade e as relações sociais em 
seu interior passam a ser normatizadas legalmente, o que abrange as 
possibilidades de intervenções do e no urbano, alcançando uma gama 
maior de cidadãos.
Roma é composta, desde sua fundação, e ampliada pelo seu histórico 
expansionista, de pessoas distintas com origens, etnias e religiões di-
versas, que convivem entre si e são comandadas e governadas pela lei 
romana, a qual possui um papel fundamental na consolidação territorial 
e de valores.
Instrumentos de Intervenção Urbana 11
PARA SABER MAIS
Na formação de Roma destacaram-se 3 formas de governo: 1) 
Monarquia: composta pelo rei, pelo Senado e pelo Conselho de 
Anciãos; 2) República: surge com a destituição da Monarquia 
pelo Senado e conta com a atuação da Magistratura - o Senado 
elabora leis, a Assembléia as vota e a Magistratura as aplica; 3) 
Império: expansionismo territorial e legal (extensão das leis).
Vê-se que, ao contrário da autogestão da Pólis, a Civitas integralizava um 
território	mais	extenso,	etnicamente	e	culturalmente	diversificado,	que	se	
integrava sob um regime de governo e legal centralizado e que, portanto, 
precisou desenvolver uma base jurídica abrangente.
12 Instrumentos de Intervenção Urbana
Ante	o	exposto,	a	 reflexão	acerca	da	cidade	 (sua	 fundação,	desenvolvi-
mento e função social) traz no cerne (ocidental) das noções de civitas e 
polis a introdução de conceitos, valores e posturas políticas que com-
põem e desenvolvem noções de “urbanidade” próprias, permitindo a aná-
lise de seus desenvolvimentos e progressões em abordagens históricas 
diversificadas.
Encontramos-nos perante esta grande distinção que nos leva ao questio-
namento do que entendemos por cidade: Nós lhe outorgamos um valor 
fortemente étnico ou a entendemos no sentido de civitas? Ao pensar a de-
mocracia ateniense não devemos esquecer que esta funcionava sobre uma 
base étnica e religiosa, enquanto que, do ponto de vista romano, trata-se 
de	um	produto	artificial;	o	que	significa	dizer	que	em	Roma	o	sujeito	passa	
a sustentar plenamente o título de cidadão com todos os seus direitos sim-
plesmente porque concorda em se submeter às leis e obedecer este regi-
me: concordia	tem	este	significado	(CACCIARI,	2010,	p.	13,	tradução	nossa).
ASSIMILE
O caráter amplo do alcance da cidadania romana exige a 
composição dos seus territórios e de suas fronteiras terri-
toriais sob alçada de uma centralização política e legal, pois 
tal noção é fundada na lei, não se restringindo aos aspectos 
étnicos, sociais e religiosos de cada lugar. Neste contexto, 
destaca-se a importância da cidade de Roma (considerada “a 
cidade por excelência” e também denominada de Urbs), por 
possuir um importante valor simbólico e de territorialização/
materialização do domínio político e jurídico e estabelecimen-
to de suas instituições. É nela que foram situados o Senado, 
a República e, posteriormente, o imperador (CACCIARI, 2010, 
p. 13, tradução nossa).
Instrumentos de Intervenção Urbana 13
Os distintos modelos de cidades apresentados permitem compreender a 
afirmação	contida	no	início	deste	texto	de	que	“falar	de	cidade	em	termos	
gerais não faz muito sentido”. Cidades sedimentam construções históricas 
que, por sua vez, ganham, concomitantemente, sentidos comuns e espe-
cificidades	históricas	e	culturais.	É	preciso,	portanto,	apontar	as	experiên-
cias: “a Pólis grega” ou a “Civitas Romana”, porém, seus legados políticos, 
culturais,	filosóficos	e	econômicos	estruturam	uma	base	de	formação	em	
diversas experiências de cidades ocidentais. Assim, foi possível notar que 
o advento da cidade possibilita o desenvolvimento de relações políticas 
específicas,	sob	certo	domínio	territorial.	Nela,	se	fundamentam	uma	mo-
ral e uma estética comum (que regulam a participação dos sujeitos ea 
configuração	dos	espaços	urbanos).	Sob	esta	construção,	alguns	de	seus	
principais	fundamentos	ainda	se	colocam	na	reflexão	das	questões	urba-
nas contemporâneas. 
EXEMPLIFICANDO
Alguns dos aspectos que conformam a Pólis ateniense e a 
Civitas romana fazem parte ou suscitam discussões em torno 
dos valores que integram os modos de vida citadinos. Por 
um lado, Atenas se destacava na constituição, movimentação 
e	significação	dos	lugares	públicos,	com	destaque	político	e	
comercial à Ágora (praça que situava as assembléias públicas 
e o comércio), na qual se visibilizava a participação e inter-
venção de seus cidadãos nas questões da Pólis.
Como visto, a noção grega de democracia é restrita e sua for-
ma de representação é direta – diferentemente da sua con-
cepção na atualidade, que é ampla (e tal como a concepção 
de cidadania romana, é regulada por leis) e indireta (elege-
mos representantes para atuarem na esfera política).
14 Instrumentos de Intervenção Urbana
Os	questionamentos	acerca	do	espaço	do	público,	sua	finalida-
de e dos sujeitos que o ocupam; do exercício da cidadania e a 
representação	política	e,	ainda,	das	especificações,	regulamen-
tos e alcances das intervenções urbanas, tanto se localizam 
como extrapolam estes modelos históricos de cidades, com-
pondo, desta forma, os sentidos dinâmicos que suas termino-
logias assumem na estruturação da vivência do e no urbano.
Algumas das concepções de Pólis e Civitas, como espaço público, demo-
cracia	e	cidadania,	estão	nas	raízes	da	vida	urbana,	mas	se	modificam	de	
acordo com os recortes espaços-temporais, e manifestações sociais, eco-
nômicas e culturais. Assim, a cidade e o urbano exigem uma compreen-
são dinâmica de seus domínios, uma vez que suas questões sempre se re-
novam,	trazendo	o	desafio	constante	da	compreensão	e	extensão	do	que	
entenderemos como urbano e os limites e alcances de suas intervenções.
Tendo como base o histórico da noção de polis grega e civitas roma-
na, provoque argumentações sobre como estes modelos embasam 
uma	reflexão	crítica	acerca	da	compreensão	contemporânea	de	cida-
de e do modo de vida urbano.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
 
2. Considerações finais
• Contemporaneamente, a concepção de urbano se difunde para 
além de um território, pois tanto engloba práticas políticas, eco-
nômicas e sociais amplas (e não exclusivas ou localizadas em um 
espaço	específico),	como	também	seu	modo	de	vida	ultrapassa	as	
fronteiras culturais e físicas da cidade.
Instrumentos de Intervenção Urbana 15
• Para compreender este movimento, é importante conhecer os 
territórios que desenvolvem historicamente a ideia da cidade e a 
concepção do urbano, bem como trazem à tona algumas das ques-
tões e noções que compõem seus imaginários e relações sociais. 
• O recorte que aborda a Polis grega e a Civitas romana em suas 
concepções, extensões, abrangências e distinções permite uma 
compreensão e progressão histórica da noção de cidade e de sua 
gestão - o que, por sua vez, dá um panorama da importância do 
tema que trata das intervenções do e no urbano.
Glossário
• Ethos: representa o conjunto dos costumes e hábitos fundamen-
tais, no âmbito do comportamento (instituições, afazeres, etc.) e da 
cultura (valores, ideias ou crenças), característicos de uma deter-
minada coletividade, época ou região (Fonte: Dicionário do site de 
buscas Google.com). 
• Etimologia: refere-se ao estudo da origem e da evolução das pala-
vras (Fonte: Dicionário do site de buscas Google.com).
• Causalidade: ligação entre causa e efeito (Fonte: Dicionário do site 
de buscas Google.com). 
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 01
1. Assinale	a	alternativa	que	traz	o	sentido	jurídico	do	signifi-
cado de concórdia (calcado na compreensão da cidadania 
romana):
a) Concórdia refere-se aos acordos de paz que estabele-
cem as demarcações territoriais das civitas romana. 
Assim, cada sujeito tornava-se cidadão dentro das es-
pecificações	dos	territoriais	e	legais	em	que	habitava.
16 Instrumentos de Intervenção Urbana
b) Em Roma, o sujeito passa a sustentar plenamente o títu-
lo de cidadão, com todos os seus direitos, simplesmen-
te porque concorda em se submeter às leis e obedecer 
este regime-postura que recebe o nome de concórdia. 
c) Para tornar-se cidadão romano, cada individuo deveria 
assinar um tratado de concórdia, que estabelecia a su-
bordinação ao governo e às leis de Roma. 
d) A concórdia rege o princípio de que o Estado deve ser 
laico, e, como tal, o cidadão romano no exercício de 
seus	direitos	políticos	não	pode	exercer	filiações	 reli-
giosas de quaisquer tipos (daí a perseguição de Roma 
aos cristãos). 
e) A concórdia era o acordo político que estabelecia que 
os territórios conquistados e os povos dominados por 
Roma deveriam concordar em se submeter ao seu po-
derio político e militar. Por este acordo, estes povos 
passavam a gozar da cidadania romana. 
2. Leia atentamente o trecho abaixo (retirado do texto da lei-
tura fundamental do tema 01):
A Pólis constituía um território independente e autogeri-
do (de governo próprio) aonde se ressaltavam os laços de 
pertencimento grupal na designação de ethos	 específico	
(que	estabelecia	e	afirmava	um	modo	de	vida	autônomo	
e particular).
Com base na passagem destacada, assinale a alternativa 
que	define	o	conceito	de	ethos:
a) Expressa as normatizações jurídicas da cidade. 
b) Refere-se à aculturação dos grupos particulares em 
prol de uma cultura urbana.
Instrumentos de Intervenção Urbana 17
c) São as características psicológicas produzidas pela in-
teração típica da vida nas metrópoles. 
d) Representa costumes e hábitos no âmbito do compor-
tamento e da cultura, característicos de uma coletivida-
de, época ou região. 
e) Tem a mesma origem da palavra etnia, por isso refe-
re-se a aspectos biológicos que compõem um povo 
específico.	
3. Observe	atentamente	a	seguinte	definição:
[...] Praça principal das antigas cidades gregas, local em 
que se instalava o mercado e que muitas vezes servia para 
a realização das assembléias do povo (Fonte: dicionário do 
site de buscas Google.com). 
Assinale a alternativa que traz o termo que corresponde 
à descrição apresentada e integra a leitura do texto “Polis 
Grega e Civitas Romana”. 
a) Urbs.
b) Pólis.
c) Civitas.
d) Magistratura. 
e) Ágora.
Referências bibliográficas
CACCIARI, M. La ciudad. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2010.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia.	São	Paulo:	Ed.	Ática,	2000,	p.	479-	486.	
FROIO, T. A Polis e a Urbs. Jusbrasil, 2016. Disponível em: <https://thabatafroio. jus-
brasil.com.br/artigos/336957536/a-polis-e-a-urbs>. Acesso em: 12 abr.2018. 
https://thabatafroio.jusbrasil.com.br/artigos/336957536/a-polis-e-a-urbs
18 Instrumentos de Intervenção Urbana
Gabarito – Tema 01
Questão 1 – Resposta: B
Em Roma, o sujeito passa a sustentar plenamente o título de cida-
dão, com todos os seus direitos, simplesmente porque concorda em 
se submeter às leis e obedecer este regime-postura que recebe o 
nome de concórdia. 
Questão 2 – Resposta: D
Representa costumes e hábitos no âmbito do comportamento e da 
cultura característicos de uma coletividade, época ou região.
Questão 3 – Resposta: E
A Ágora representa a “praça principal das antigas cidades gregas, lo-
cal em que se instalava o mercado e que muitas vezes servia para a 
realização das assembléias do povo”. 
Instrumentos de Intervenção Urbana 19
TEMA 02
CIDADE MODERNA E O MODO DE 
VIDA CAPITALISTA 
Objetivos
• Pensar	como	a	Revolução	Industrial	leva	à	configuração	
de	um	modo	de	vida	específico	e	ao	desenvolvimento	
da cidade moderna.
• Entender como esta cidade se forma e como se dão as 
fronteiras	simbólicas	e	geográficas	que	demarcam	as	
relações sociais em seu interior. 
• Compreender como historicamente o capitalismo 
configura	e	desenvolve	uma	sociabilidade	própria	no	
interior das cidades.
20 Instrumentos de Intervenção Urbana
Introdução
Para pensar a extensão do que é entendido por urbano englobando a ex-
pansão físicae simbólica das cidades, e, tomando esta tarefa como algo além 
de	estudar	limites	geográficos,	é	preciso	entender	a	composição	histórica,	
política, cultural, ideológica e social dos domínios: cidade e vida urbana.
Se, por um lado, a localização e delimitação do “urbano” é cada vez mais 
complexa no contexto do mundo globalizado, pois tanto engloba como 
problematiza dicotomias como: rural x urbano, cidade x campo, tradicio-
nal x moderno, centro x periferia, etc. Por outro enfoque, o alcance do que 
atualmente abrange o “urbano” ultrapassa tais dualidades e aponta a im-
possibilidade	da	fixação	destas	fronteiras	dadas	por	oposições	e	demar-
cações precisas destes domínios. Para entender estes dois movimentos 
(o que aponta oposições e o que pensa o urbano de forma mais ampla), é 
preciso situar historicamente o desenvolvimento do termo e das relações 
que	se	classificam	destro	deste	universo	(do	urbano,	da	metrópole,	etc.).	
Você viu no tema anterior (acerca da Polis grega e da Civitas romana) que 
a ideia de “cidade” já se coloca na antiguidade e tanto fundamenta como 
é fundamentada por alguns conceitos, divisões e comportamentos que 
se	associam	e	ressignificam-se	constantemente	nos	distintos	modelos	e	
experiências de cidade ocidental.
Contudo, você verá nesta unidade que, muito da vivência e das questões 
que compõem o modo de vida considerado como “urbano” se dão com o 
advento da cidade moderna e com o desenvolvimento do capitalismo.
Neste contexto de desenvolvimento urbano capitalista é que se marcam 
significativamente	as	dicotomias	citadas:	a	cidade	será	um	contraponto	ao	
campo e se desenvolverá graças à transição do feudalismo para o capita-
lismo. Esta transição está intimamente ligada ao desenvolvimento da ma-
nufatura e, posteriormente, da maquinofatura que marcaram a Revolução 
Industrial (associada à ideia positivista de progresso, de modernidade).
Instrumentos de Intervenção Urbana 21
Por sua vez, a Revolução Industrial possibilitou a ascensão econômica e 
política da burguesia – a qual se fortaleceu politicamente e economica-
mente com a implementação do trabalho assalariado ao operariado (con-
figurando	a	divisão	social	de	classes	e	impactando	diretamente	na	confi-
guração urbana: seu planejamento, serviços, saúde pública, etc.). 
É neste cenário que as fronteiras da cidade, o estabelecimento/ desen-
volvimento de um modo de vida e um mapeamento do urbano ganham 
seus primeiros sentidos próprios e compartilhados socialmente. Tanto o 
é, que estes fatores demandam o surgimento de uma “ciência da socie-
dade”, que explique e oriente o fenômeno urbano e industrial crescente, 
buscando	entender	e	justificar	suas	causas	e	consequências.	Nasce	então	
a sociologia (ou “ física social”) que, neste momento, se voltava aos inte-
resses burgueses de compreensão e aplicação de uma “ordem social” jus-
tificadora	desta	nova	ética	(instituições	e	legislações)	e	estética	(cidades,	
vida urbana, cortiços, fábricas) citadina.
1. Revolução industrial e crescimento urbano
A noção moderna de cidade se associa diretamente a alguns fatores his-
tóricos de ordem econômica, política, social e cultural que culminam no 
desenvolvimento do capitalismo industrial, responsáveis por demarcar e 
estipular a cidade e suas relações típicas.
Por isso, o advento da Revolução Industrial e as transformações ocorridas 
no século XVII e XVIII são imprescindíveis para a compreensão da cidade 
como lugar (histórico e político) desta ação, atuação e desenvolvimento 
capitalista. Quando se pensa em intervenção urbana, não se pode, em 
nenhum momento, desassociar tal recorte dos interesses e estratégias 
capitalistas de cada tempo (considerando que ao longo desta disciplina 
será trabalhado um recorte ocidental de cidade, sob a predominância po-
lítica, econômica e estrutural capitalista).
22 Instrumentos de Intervenção Urbana
Assim, ao tomarmos a “evolução histórica” capitalista, seu comando, apro-
priação e demarcação espacial, temos a cidade e o modo de vida urbano 
como um importante lugar de seu desenvolvimento e expansão:
A origem da cidade em si, muito anterior ao processo de transição para o 
capitalismo, constituía uma das primordiais formas de divisão do trabalho: 
aquela entre campo e cidade. Entretanto, no capitalismo esta característica 
seria ainda mais desenvolta. A cidade moderna passa a ser o local em que a 
divisão social do trabalho é peça intrínseca à própria existência da vida ur-
bana e à reprodução do capital acelerada pela concentração tanto da força 
de trabalho como dos meios de produção (SAES, 2011, p. 1).
A evolução capitalista, quando entendida na dicotomia “campo versus ci-
dade”, demarca contornos particulares nas características da cidade mo-
derna. Tal oposição tanto se localiza como se expande graças às trans-
formações que se processam fruto de revoluções econômicas, culturais-
científicas	 e	 políticas	 que	ocorrem	na	 Europa	de	 forma	mais	 intensa	 a	
partir (grosso modo) do século XIV. Essas mudanças foram responsáveis 
pela dissolução da sociedade feudal e consolidação das relações capita-
listas de produção (possível pela construção do Estado Burguês, erigido 
sobre uma constituição e valores próprios). 
A consolidação da vida urbana ao longo deste processo de transforma-
ção se dá, em termos econômicos, com a transferência da produção 
concentrada no campo (voltada à produção de alimentos e de objetos 
artesanais) para as cidades (com o desenvolvimento da manufatura e 
maquinofatura).
Desta forma, a Revolução Industrial e a consolidação do capitalismo 
na Inglaterra estão intimamente ligadas ao processo conhecido como 
“cercamento” dos campos, que acarretou em mudanças no processo 
de trabalho e na forma de vida dos antigos camponeses e produtores 
independentes.
Instrumentos de Intervenção Urbana 23
É importante destacar que tais transformações possuíam fomento intelec-
tual	e	cultural,	fase	caracterizada	como	“Renascimento-Científico	Cultural”	
(séculos XV e XVI). Marcada pela laicização do pensamento, que corres-
ponde a um processo de superação das explicações religiosas e da autori-
dade da Igreja, formando progressivamente uma atitude intelectual laica 
e crítica. Além disso, essa fase também foi marcada pelo desenvolvimento 
de valores humanistas, os quais, por sua vez, auxiliaram na consolidação 
dos	ideais	burgueses.	Tais	filosofias	e	modos	de	conhecimento	tanto	“se	
criam com” como validam as transformações econômicas e sociais vividas 
pela Europa. 
Neste	período	renascentista	–	científico	cultural,	o	mundo	assistiu	a	pro-
fundas transformações no campo da política, da economia, das artes e 
das ciências. O Renascimento retomou, então, valores da cultura clássica 
(representada pelos autores gregos e latinos), como a autonomia de pen-
samento e o uso individual da razão, em oposição aos valores medievais, 
como o domínio da fé e a autoridade da Igreja, ordenando intelectual-
mente e legislando este novo modo de vida em formação. 
Sucessivamente,	é	importante	destacar	o	pensamento	filosófico	iluminis-
ta dos séculos XVII e XVIII, que valorizava a razão como instrumento de co-
nhecimento e permitia o desenvolvimento do racionalismo e no empirismo 
filosóficos.	Ele	acaba,	portanto,	afirmando	o	indivíduo	e	combatendo	as	
antigas instituições, que legitimavam os privilégios da Monarquia absolu-
ta,	clero	e	nobreza.	Tal	filosofia	foi	responsável	por	nortear	a	Revolução	
Francesa: importante manifestação, no plano político, para a instituição 
do Estado Burguês na Europa.
A Revolução Francesa foi um importante marco na consolidação do 
Estado Burguês, já que se instaura contra os privilégios da Nobreza e 
da Monarquia, levantando como lemas a “Liberdade, a Igualdade e a 
Fraternidade”. Com a tomada do poder político, a burguesia implementa 
o Estado laico, reconstruindo instituições na busca pela “ordem social”. 
24 Instrumentos de Intervenção Urbana
Se	a	economia	do	século	XIX	foi	constituída	principalmente	sob	a	influência	
da Revolução Industrialbritânica, sua política e ideologias foram constitu-
ídas fundamentalmente pela Revolução Francesa [...] foi a França que fez 
suas revoluções e a elas deu suas ideias, a ponto das bandeiras tricolores 
de um tipo ou de outro terem-se tornado o emblema de praticamente to-
das as nações emergentes [...] A França forneceu vocabulário e os termos 
da política liberal e radical-democrática para a maior parte do mundo. A 
França deu o primeiro grande exemplo, os conceitos e o vocabulário do na-
cionalismo. A França forneceu os códigos legais, o modelo de organização 
técnica	e	científica	e	o	sistema	métrico	de	medida	para	a	maioria	dos	países	
(HOBSBAWM, 1996, p. 9).
Temos	então	uma	nova	configuração	social	na	Europa,	que	 implica	em	
transformações sociais, econômicas, políticas e culturais, as quais irão 
ressignificar	e	marcar	“novos	espaços”:	seja	com	relação	às	suas	institui-
ções	e	funções	sociais	(basta	pensar	as	profundas	modificações	nas	con-
cepções	de	campo	e	cidade	elucidadas),	demarcando-as	fisicamente	e	so-
cialmente, seja em relação às suas concepções e funções simbólicas, que 
ganham	novos	valores	com	as	transformações	técnico-científicas.	
Instrumentos de Intervenção Urbana 25
ASSIMILE
Você viu, ao longo do texto, alguns dos eventos sociais que 
propiciaram o surgimento da cidade moderna, de seu modo 
de vida e de compreensão. De maneira breve e articulada, fo-
ram destacados abaixo alguns episódios (tanto inéditos como 
já relatados ao longo desta leitura) e suas conexões, com o 
intuito de criar uma sequência lógica e cooperativa entre eles:
• A Expansão Marítima Europeia (que acontece a partir 
do século XV) propiciou a expansão do comércio e a 
exploração de metais preciosos, efetivando uma acu-
mulação de riquezas e acelerando o desenvolvimento 
da economia monetária.
• As cidades modernas se consolidam com a descentra-
lização econômica do campo para a cidade e com o 
desenvolvimento da produção industrial.
• No século XVI ocorre a Reforma Protestante impactan-
do no antigo poder do clero e exigindo um modo de 
vida austero, explicações menos dogmáticas e mais 
voltadas às ações individuais (processo que também 
auxiliou a acumulação de capitais).
• O indivíduo e a sua razão passam a ser centrais às ide-
ologias políticas e à moral vigente.
• A Revolução Industrial e Francesa impactam a econo-
mia e a política, exigindo explicações e fundamentações 
para o novo modo de vida criado.
• Por sua vez, as cidades se transformam em um verdadeiro 
caos com problemas sociais diversos e, estes acontecimen-
tos e mudanças instigam a necessidade de investigação, 
controle	de	conflitos	e	legitimação	da	ordem.
• Surge a sociologia como resposta intelectual às novas 
26 Instrumentos de Intervenção Urbana
situações: visando uma compreensão destas relações 
e condições criadas pelo capitalismo (como o apa-
recimento das cidades industriais e a situação dos 
trabalhadores).
Devido ao crescimento rápido e desordenado das cidades, 
são precárias as condições de trabalho e de vida da classe 
operária. A intensa migração dos campos gera um contin-
gente enorme de mão de obra que se estabelece da maneira 
que é possível nos centros urbanos, submetendo-se a situa-
ções precárias de trabalho e qualidade de vida. Sem condições 
próprias de autossubsistência, estes indivíduos são forçados 
a vender sua força de trabalho e se submetem às condições 
impostas pelos capitalistas: jornadas de trabalho extenuantes, 
salários baixos, trabalho insalubre, etc.
Instrumentos de Intervenção Urbana 27
A importância da demarcação e da construção de uma ideia de cidade, 
bem como suas divisões, funcionalidades e normatizações, se estabele-
cem,	modificam	e	reinventam	ao	longo	da	história.	
Obviamente,	a	geografia	(localização	das	cidades),	a	cultura	(valores	dos	
povos que a habitam) e as particularidades históricas de cada lugar in-
fluenciam	na	sua	ordenação,	concepção	e	ideal.	Contudo,	o	modo	de	vida	
capitalista, suas valorizações, padronizações de consumo (de produtos, 
de territórios, de conhecimentos, da comunicação, etc.), acabam desen-
volvendo certos modelos estéticos e éticos que repercutem principalmen-
te nas metrópoles mundiais. 
A	globalização,	o	mercado	financeiro,	a	internet,	o	desenvolvimento	dos	
meios de transporte, o conhecimento intercultural são fatores que, atual-
mente, impactam diretamente no modo de vida urbana. Contudo, foi na 
estipulação de um modelo, na efetivação de relações próprias e na con-
ceituação de um ideal, que o conceito de cidade foi propagado e ganhou 
seus distintos contornos espaços- temporais. A cidade pós-revolução in-
dustrial	 figura	 um	 território	 capaz	 de	 abarcar	 tantas	 transformações	 e	
modificações	ideológicas	e	espaciais,	mas	que,	ao	mesmo	tempo,	fixa-se:	
tornando-se local e instaurando “modos de vida” essenciais aos sistemas 
político, econômico, cultural e social em que vivemos. 
Qual a importância do advento da cidade moderna para pensarmos 
nas transformações (e intervenções) do e no urbano ao longo da 
história?
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
28 Instrumentos de Intervenção Urbana
2. Considerações finais
• Apesar da dicotomia campo versus cidade estar menos marcada em 
termos territoriais ou ideológicos e mais em termos políticos e cultu-
rais, na contemporaneidade é importante saber como tal oposição 
se	configurou	e	marcou	uma	ideia	e	atuação	própria	à	cidade.	
• Desde o século XIV (e culminando no século XVIII) várias transforma-
ções	ocorridas	na	Europa	irão	modificar	a	configuração	dos	poderes,	
da	economia	e	mesmo	a	geografia	humana	neste	período:	eclodindo	
revoluções	 econômicas,	 políticas,	 técnico-científicas	 e	 transforma-
ções radicais no modo de vida e subsistência dos trabalhadores. 
• Destacam-se neste cenário a Revolução Industrial e Francesa, que 
trazem	novas	configurações	políticas,	econômicas	e	sociais	à	Europa,	
e	 cujas	 influências	 e	modelos	 irão	 repercutir	 em	 várias	 nações	 e	
modos de estruturação da economia. 
• Desta	forma,	a	configuração	da	cidade	moderna	está	intimamente	
conectada ao desenvolvimento do capitalismo e dos ideais burgue-
ses e da sua economia e política liberal.
Glossário
• Cidade moderna: este termo refere-se à Idade Moderna, perío-
do histórico que fomenta a Revolução Industrial e abrange o iní-
cio da Revolução Francesa. As principais características que po-
dem ser destacadas com relação a tal período são: transição do 
Feudalismo para o Capitalismo (e o consequente desenvolvimento 
da cidade industrial), fortalecimento da burguesia nacional euro-
peia,	Renascimento	científico	e	Cultural	(a	razão	e	não	os	dogmas	
passam a reger as relações), reformas religiosas e contestação do 
Regime Absolutista de governo. 
• Positivismo: sistema criado por Auguste Comte 1798-185, que se 
Instrumentos de Intervenção Urbana 29
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 02
1. Em “Cidade Moderna e o Modo de vida Capitalista”, reali-
zamos	a	indicação	de	dois	filmes	que	ilustram	–	com	abor-
dagens e roteiros distintos - o modo de vida urbano pós-
-revolução industrial. Assinale a alternativa que traz as in-
dicações referidas:
a) Em nome da Rosa e Germinal.
b) A modernidade chega a vapor e Os miseráveis.
c) Adeus minha rainha e Revolução Industrial.
d) Tempos Modernos e As Sufragistas.
e) A Liberdade é Branca e A Igualdade é Azul.
2. Assinale a alternativa que elucida o porquê da abordagem 
da cidade moderna no recorte cronológico que trata da 
evolução e consolidação da ideia de cidade ocidental:
a) A Abordagem da cidade moderna (pós-Revolução 
Industrial	 e	 influenciada	 pela	 Revolução	 Francesa)	 se	
dá pela consolidação territorial e simbólica do espa-
ço urbano, que passa a caracterizar modos de vida, 
• propõe a ordenar as ciências experimentais, considerando-as o 
modelo por excelência do conhecimento humano, em detrimento 
das especulações metafísicas ou teológicas. (Fonte: Dicionário do 
site de buscas Google.com)
• Liberalismo: o Liberalismo é uma doutrina que preconiza a liber-
dadede atuação individual nos diversos campos: econômico, po-
lítico, religioso e intelectual, sendo, portanto, contra a intervenção 
direta e coercitiva do poder estatal (SANTOS, 2018, s/p).
30 Instrumentos de Intervenção Urbana
interação e conhecimentos próprios.
b) Abordar a cidade moderna é desprezar a ideia de cida-
de cunhada na antiguidade (principalmente a noção de 
polis grega e civitas romana) para associar a criação da 
cidade diretamente e unicamente ligada ao desenvolvi-
mento do capitalismo industrial.
c) A cidade moderna surge na Grécia com a criação da 
polis, e se desenvolve em Roma (com a incorporação da 
civitas e da lei romana).
d) A cidade moderna se funda a partir do desenvolvimen-
to das Terras Comunais, fazendo com que, ao longo do 
tempo, a divisão entre campo e cidade desapareça.
e) A Expansão Marítima permitiu a existência da cidade moderna, já 
que conquistava terras e colônias e as modernizava levando a in-
dústria e o comércio.
3. Leia atentamente o trecho retirado da leitura fundamental: [...] a con-
figuração	da	cidade	moderna	está	 intimamente	conectada	ao	desen-
volvimento do capitalismo e dos ideais burgueses e da sua economia e 
política liberal. 
Acerca	da	definição	de	liberalismo	é	correto	afirmar	que:	
a) O liberalismo é uma doutrina política que visa a estatização dos 
meios de produção e riqueza, liberando-os dos capitalistas.
b) Liberalismo é uma postural cultural (liberal) que advoga pela liber-
dade de ser e agir dos indivíduos, buscando a liberdade das sanções 
legais. 
c) O liberalismo preconiza a liberdade de atuação individual na socie-
dade, sendo, portanto, contra a intervenção do poder estatal.
d) O liberalismo teve origem com o governo monárquico e refere-se à 
Instrumentos de Intervenção Urbana 31
concessão de privilégios econômicos e sociais à nobreza e ao clero.
e) O liberalismo é uma forma de governo que concentra poderes 
políticos e econômicos ao parlamento, desfazendo a monarquia 
absolutista. 
Referências bibliográficas
HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa.	Trad.	Maria	Tereza Lopes	Teixeira	e	Marcos	
Penchel.	Rio	de	Janeiro:	Paz	e	Terra, 1996,	p.	9.
SANTOS, Ludmila H. Rodrigues. Racismo estrutural e institucional: o conceito e a 
realidade escolar do racismo no Brasil. Valinhos: 2018.
SAES, A. M. O moderno mundo urbano e a formação do capitalismo no Brasil. Anais 
do XXVI Simpósio Nacional de História. São Paulo: ANPUH, julho, 2011. 
Gabarito – Tema 02
Questão 1 – Resposta: D
Os	filmes	indicados	presentes	na	leitura	fundamental	do	tema	2,	que	
mostram o modo de vida e trabalho na Revolução Industrial, são, 
respectivamente “Tempos Modernos e As Sufragistas”. 
Questão 2 – Resposta: A
A cidade moderna se dá pela consolidação territorial e simbólica do 
espaço urbano, que passa a caracterizar modos de vida, interação e 
conhecimentos próprios. 
Questão 3 – Resposta: C
O liberalismo preconiza a liberdade de atuação individual na socie-
dade, sendo, portanto, contra a intervenção do poder estatal.
Instrumentos de Intervenção Urbana 32
TEMA 03
O FENÔMENO URBANO: 
A SUBJETIVIDADE METROPOLITANA
Objetivos
• Refletir	sobre	como	são	as	relações	e	entender	como	
se processam as dinâmicas típicas das cidades.
• Entender o que é designado por subjetividade metro-
politana e seus tipos.
• Compreender este “modo de ser” típico da cidade, que 
tanto	configura	como	é	configurador	dos	limites	(sim-
bólicos e legais) da atuação dos indivíduos e da noção 
de urbanidade.
Instrumentos de Intervenção Urbana 33
Introdução
Até	agora	você	estudou	como	foi	possível	as	cidades	se	configurarem	e	
criarem	modos	de	vida	específicos	aos	seus	habitantes	em	função	de	es-
pecificarem	fronteiras	que	demarcam	seu	território,	tanto	simbólico	como	
geográfico.	Mas,	como	este	modo	de	vida	cria	sua	dinâmica	própria?	O	
que é viver na cidade? Quais as regras (formais e informais) que com-
põem a vida do seu habitante? Que tipo de interação é comum? Quais os 
elos e profundidades?
Pensar	a	cidade	é,	então,	refletir	acerca	das	condições	morais	e	psicoló-
gicas	que	configuram	sua	vida	e	a	interação	entre	os	indivíduos.	A	grosso	
modo, a cidade exige uma dinâmica própria de seus habitantes, assim 
como	uma	ética	das	relações.	Afinal,	são	milhares	de	pessoas,	milhares	de	
eventos, inúmeras interações ao longo de um único dia. 
Pense a seguinte situação: você mora em uma grande capital na área leste 
e trabalha no extremo oeste, acorda às 5h30min da manhã para sair para 
o trabalho, pois entra em seu emprego às 8h. Então, levanta da cama, 
toma um banho rápido, come um café simples e sai para pegar o metrô 
que	fica	a	4	quarteirões	da	sua	casa.	No	caminho,	é	possível	encontrar	
outras pessoas que saem este horário, mas como é muito cedo (ainda 
está escuro), cada um busca chegar em segurança e com rapidez ao me-
trô. Alguns destes sujeitos são vistos neste trajeto há anos, fazendo com 
que você saiba onde moram, como se vestem, em que ponto descerão 
no metrô... Contudo, seus nomes são desconhecidos, assim como suas 
profissões,	seus	gostos,	etc.	Alguns,	acostumados	com	sua	presença,	de-
sejam-lhe cordialmente um “bom dia”. Assim, você as reconhece, entre-
tanto, não as conhece. 
O horário das 6 da manhã no metrô é lotado, por isso, diariamente, é 
necessário esperar por alguns vagões até conseguir entrar. O “ato de en-
trar” é bastante tenso, pois se faz quase que involuntariamente: junta-
mente	com	o	fluxo	de	pessoas	já	bastante	irritadas	(que	gritam,	reclamam	
34 Instrumentos de Intervenção Urbana
e discutem entre si). Todos devem voltar a bolsa para frente do corpo, 
evitando furtos. Não há lugares para todos segurarem, então, os corpos 
unidos oferecem apoios mútuos ao movimento do trem. O tempo de che-
gada	é	de	45	minutos	(fora	os	30	já	perdidos	tentando	entrar	no	vagão).	
Você mal acordou e já se sente cansado, suado e mal-humorado.
Chega ao trabalho, cumprimenta alguns colegas e trabalha interrupta-
mente até a hora do almoço. No almoço, é possível conversar com um co-
lega, aproveitar para descansar um pouco ou pagar uma conta. Volta do 
almoço	e	continua	até	o	fim	do	expediente,	quando	enfrentará	“a	saga”	
do trajeto de volta para sua casa.
Esta é uma descrição típica da vida nas grandes metrópoles. Obviamente, 
alguns fatores podem mudar (o deslocamento e os meios utilizados, a 
forma de trabalho, os horários, etc.). Contudo, esta ilustração busca algo 
além de um encaixe perfeito da descrição com sua vida pessoal. Ela apon-
ta uma rotina, um lugar e comportamentos comuns e generalizados. 
Trazem, desta forma, questionamentos e constatações acerca da dinâ-
mica e das relações nas cidades grandes, mostrando que, coletivamente 
se impõe uma ética, uma atenção e uma interação própria em cada um 
destes ambientes. 
Se, na história contada, você passasse a interagir de maneira “mais inten-
sa” com os sujeitos que encontra ao caminho do metrô, em alguns casos 
– em função desta dinâmica e ética metropolitana - causaria estranha-
mento	e	desconfiança.
A essa altura, é possível constatar que, embora esta situação seja comum 
nas grandes cidades, por outro lado, nas cidades menores essa relação é 
diferente, pois as pessoas estão mais receptivas, se conhecem mais, estão 
menos	desconfiadas,	etc.	Então,	surgem	as	perguntas:	por	que	será	que	
esta diferenciação acontece? E ainda: qual a ligação do modo de vida ur-
bano com a impessoalidade dos sujeitos? 
Instrumentos de Intervenção Urbana 35
É exatamente esta característica própria e as diferenciações que se criam, 
inclusive,	no	próprio	interior	da	cidade	grande	–	afinal,	a	cidade	é	um	con-
junto de pessoas e lugares, por isso, é comum que alguns bairros possu-
am uma dinâmica de relações menos impessoais (tal como nas cidades 
pequenas),	que	esta	unidade	buscará	elucidar,	trazendo	a	seguinte	refle-
xão:	afinal,	o	que	é	este	modo	de	vida	urbano	ressaltado?	Como	ele	se	
caracteriza e como afeta a vida das pessoas?
1. Os lugares e subjetividades metropolitanas
A cidade é mapeada,mas também mapeia nossos trajetos (olhares, com-
portamentos e interações). Ante esta constatação, é possível, então, per-
guntar: quais são os lugares (mapeados) da cidade? 
Marc	Augé	 (1994)	 ao	 definir	 uma	 antropologia	 da	 “supermodernidade”	
– a qual se refere à abordagem contemporânea do estudo das relações 
humanas - cunha a noção de lugares e não-lugares que compõem nossa 
vida cotidiana.
Para este autor, os “lugares” seriam aqueles espaços que se constituem 
de forma a propagar valores e memórias (identitários), sendo, portanto, 
relacionais e históricos, enquanto que os “não-lugares” representariam 
exatamente	 o	 oposto	 desta	 classificação:	 não	 identitários,	 sem	marcas	
históricas	e	cujos	relacionamentos	são	efêmeros	(AUGÉ,	1994).
Entretanto, não se trata de uma simples oposição, já que a dinâmica dos 
espaços é bastante complexa, e, por isso mesmo, o não-lugar pode vir a 
existir como lugar: espaços se recompõem, relações se reconstituem ne-
les. Lugares e não-lugares seriam assim “polaridades fugidias: o primeiro 
nunca é totalmente apagado e o segundo nunca se realiza totalmente, 
caracterizando-os como palimpsestos em que se reinscreve, sem cessar, 
o	jogo	embaralhado	da	identidade	e	da	relação”	(AUGÉ,	1994,	p.	74).
36 Instrumentos de Intervenção Urbana
PARA SABER MAIS
A noção de “lugares” e “não-lugares” é essencial ao estudo 
das	 relações	 humanas.	 Afinal,	 há,	 nossa	 vida	 compõe	 e	 é	
composta nos e pelos espaços que transitamos. O livro de 
Augé	(1994),	 intitulado	“Não-Lugares:	uma	introdução	à	an-
tropologia da supermodernidade”, explica a demarcação 
destes	espaços	e	ajuda	a	refletir	sobre	nossas	dinâmicas	e	
comportamentos.
Ao mesmo tempo, nosso comportamento possui um aspecto psicológico 
típico das grandes cidades que é corroborado com os sentidos atribuídos 
para e pelos espaços transitados. No exemplo citado no início do texto, é 
possível notar diferenças de postura e interações dependendo do espaço 
transitado: no caminho para o metrô, no interior do trem ou no trabalho. 
Os espaços recebem também distintas valorizações e são idealizados para 
determinados	fins	no	 funcionamento	da	cidade.	Esta	é	 fonte	de	alguns	
conflitos	típicos	da	“nossa	era”,	caracterizada	pela	especulação	imobiliária	
(valorização monetária dos espaços estruturada por marketing e ressigni-
ficação	pública	e	privada	dos	espaços)	e	pela	“reestruturação	pública	dos	
espaços”. Esta tendência de reestruturação pública dos espaços pode ser 
notada nas regiões centrais dos grandes centros urbanos.
Historicamente, estas localidades foram se tornando decadentes, princi-
palmente com o deslocamento de seu status de moradia e interação para 
espaços	privados	e	mais	isolados	do	fluxo	intenso	urbano.	Este	é	caso	dos	
condomínios fechados, dos shopping centers, das áreas de lazer privadas 
ou privativas (clubes, estádios, hotéis fazenda, etc.). Contudo, temos que, 
estas regiões centrais, exatamente por estarem “no coração” das grandes 
cidades, carregam, muitas vezes, aspectos importantes da memória das 
cidades	em	suas	praças,	coretos,	lojas,	igrejas,	cinemas	antigos...	O	confli-
to entre a “modernização”, particularização, a memória e a reconstrução 
de “lugares públicos” é fundamental à compreensão das “intervenções 
urbanas”. 
Instrumentos de Intervenção Urbana 37
As questões éticas e estéticas que conformam a cidade carregam dile-
mas: como a gestão da cidade pode equilibrar as demandas funcionais 
e comerciais do uso dos espaços, preservando a memória e a dignidade 
humana	dos	sujeitos	que	ocupam,	habitam,	interagem	e	significam	dife-
rentemente estes espaços? 
Para	refletir	acerca	dos	“instrumentos	de	intervenção”	é	preciso	se	voltar	
às regras, às pessoas e aos espaçamentos da cidade. Elucidados alguns 
aspectos fundamentais da construção histórica deste espaço e de formas 
de conceituá-lo teórica e simbolicamente (conforme visto nos módulos 
anteriores), cabe, portanto, pensar as relações interpessoais citadinas. 
George Simmel é um autor que se voltou a esta tarefa. Seu texto “As grandes 
cidades e a vida do espírito”, de 1903, é extremamente atual neste sentido, 
referenciando o estudo comportamental do modo de vida urbano. Simmel 
distingue	os	modos	de	subjetividade	urbanos.	Ele	relata	o	conflito	subjetivo	
que integra a vida do sujeito que vive nas grandes cidades: por um lado, há 
uma luta em preservar sua subjetividade (suas particularidades, seu modo 
ser próprio), por outro, existe um mecanismo social que exige deste mes-
mo sujeito uma impessoalidade e “uma atenção mais difusa” para preser-
var sua própria saúde mental neste ambiente (SIMMEL, 1903, s/p). 
Voltemos ao exemplo do início do texto. Pense que, ao sair de casa, você 
passa a conhecer e cumprimentar todos os indivíduos que cruza no ca-
minho do metrô. Como tal, passa a conversar “minimamente” com todos, 
perguntando-lhes aspectos pessoais: “olá Sr. Roberto, sua esposa melho-
rou?”; “Dona Francisca, tudo bem? Como foi sua viagem de férias?”; etc.
Seu trajeto, que já é corrido – lembre-se de que você acorda às 5h30min 
para conseguir (se tudo der certo) pegar o metrô às 6h30min (que é me-
nos lotado que o das 7h) - sofrerá um acréscimo de tempo considerável, o 
que	influenciará	em	todo	o	seu	dia.	É	possível	ainda	concatenar	inúmeros	
acontecimentos que tornariam insustentável sua ida diária ao trabalho 
caso sua atenção fosse totalmente voltada aos eventos que sucedem em 
seu deslocamento. Tais experiências de afastamento subjetivo são, por-
tanto, e em acordo com a teoria de Simmel, essenciais à “saúde mental” 
do morador das grandes metrópoles.
38 Instrumentos de Intervenção Urbana
PARA SABER MAIS
A	criação	de	não-lugares	se	liga	à	“intensificação	da	vida	ner-
vosa”	descrita	por	Simmel.	Tal	“intensificação”	desenvolve	e	
regula os mecanismos do anonimato e da intimidade, con-
figurando	as	relações	sociais	de	acordo	com	os	lugares	que	
transitamos, com a proximidade e convivência dos sujeitos 
e, ainda, com a personalidade de cada um, cruzada com nor-
mas tácitas sociais de interação.
A	 impessoalidade	da	vida	urbana	seria	consequência	desta	 “intensifica-
ção da vida nervosa”, que provocaria uma “mudança rápida e ininterrupta 
de impressões interiores e exteriores” das individualidades, fazendo com 
que estas produzam mecanismos para se resguardarem desta sucessão 
de	significados	(SIMMEL	1903,	p.	577	apud	SANTOS,	2012,	p.	31).
LINK
O artigo de Simmel “As grandes cidades e a vida do espíri-
to” está disponível integralmente na plataforma acadêmica 
Scielo. SIMMEL, Georg. As grandes cidades e a vida do espírito 
(1903). Mana, 	Rio	de	Janeiro, 	v.	11, n.	2, p.	577-591, 	out. 	2005.	
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0104-93132005000200010&lng=en&nrm=iso>. 
Acesso	em:	03 jul.	2018.
Aqui, é possível correlacionar que as relações sociais típicas da cidade 
irão	dar	sentido	e	significado	às	noções	de	indivíduo	e	individualidade,	as	
quais integram as vivências e compreensões da vida urbana. 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132005000200010&lng=en&nrm=iso
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132005000200010&lng=en&nrm=iso
Instrumentos de Intervenção Urbana 39
ASSIMILE
Segundo Simmel, o “nivelamento” das consciências em alta 
escala e seu assentamento na realidade das metrópoles nun-
ca dissolveriam totalmente as individualidades. Desta forma, 
o indivíduo reservaria aspectos distintivos de sua personali-
dade e o sujeito não seria meramente fruto dos processos 
sociais. Na clássica dicotomia indivíduo versus sociedade, 
teríamos, concomitantemente, a captura do indivíduo por 
processos coletivos nivelando sua representação e percep-
ção, mas, também, o desenvolvimento e expressão de sua 
individualidade:
Onde	o	aumento	quantitativo	de	significação	e	energia	se	apro-
xima de seus limites, o homem agarra-se à particularização 
qualitativa,	a	fim	de,	por	meio	do	excitamento	da	sensibilidade	
de distinção,ganhar de algum modo para si a consciência do 
círculo	social:	o	que	conduz	finalmente	às	mais	tendenciosas	
esquisitices,	às	extravagâncias	específicas	da	cidade	grande,	
como o exclusivismo, os caprichos, o preciosismo, cujo sen-
tido não está absolutamente no conteúdo de tais comporta-
mentos, mas sim em sua forma de ser diferente, de se desta-
car e, com isso, de se tornar notado (SIMMEL, 1903, s/p.).
É por isso que a cidade grande abarca e faz conviver distintos tipos de 
pessoas e culturas. Ela, ao mesmo tempo em que regula uma espécie de 
ética relacional e comportamental, permite, portanto, a legítima expres-
são das diferenças.
40 Instrumentos de Intervenção Urbana
EXEMPLIFICANDO
A música “Sampa” de Caetano Veloso descreve uma experiên-
cia de estranhamento com relação à metrópole de São Paulo 
- sua diversidade, sua estética e suas relações interpessoais: 
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas [...] 
Do	povo	oprimido	nas	filas,	nas	vilas,	favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços [...]
(SAMPA, Caetano Veloso, 1978).
O estranhamento frente à grandeza das construções, à circulação das 
pessoas	e	do	dinheiro,	enfim,	características	próprias	da	cidade	e	de	seus	
habitantes,	afloram	uma	expressão	poética	que	é,	ao	mesmo	tempo,	sub-
jetiva (própria da experiência do compositor) e coletiva (pois gera empa-
tia, sentimentos comuns), representando, desta forma, uma descrição 
particular que possui aspectos e sentidos coletivos. 
A arte, neste caso, serve para nos ilustrar a experiência teórica do nivela-
mento das subjetividades e da criação de lugares e não-lugares no inte-
rior das cidades. Pois, segundo esta mesma música, “quem vem de outro 
sonho feliz de cidade aprende depressa a chamar-te de realidade: Porque 
és o avesso do avesso do avesso do avesso”. 
Instrumentos de Intervenção Urbana 41
De	que	forma	as	noções	de	Não-Lugar	de	Marc	Augé	(1994)	e	a	des-
crição das subjetividades e da vida nervosa nas grandes cidades feita 
por Simmel (1903) auxiliam na compreensão dos limites, alcances e 
impactos individuais das “intervenções urbanas”?
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
2. Considerações finais
• Para compreendermos os limites e regulações das “intervenções” no 
e	do	urbano	é	preciso	entender	como	se	configura	seu	modo	de	vida.
• A cidade tanto é mapeada em seus lugares e não-lugares como 
também é mapeadora e reguladora das interações que os sujeitos 
processam no seu interior. 
• Este nivelamento não é absoluto, e, por isso, para além do con-
trole quantitativo das interações há expressões qualitativas das 
subjetividades.
• A cidade é palco da convivência e interação de distintos sujeitos, 
culturas e valores. O modo de vida urbano tanto exige certa indife-
rença por parte do indivíduo nas relações cotidianas (cujo volume 
de interações comprometeria sua “saúde mental” caso tivesse que 
estar atento e responder a todos os estímulos) como, por outro 
lado, permite e evidencia suas particularidades (diferenciando-o na 
multidão de sujeitos que compõem a cidade).
Glossário
• Palimpsestos: segundo o site da Infopédia, palimpsestos designam 
papiros ou pergaminhos cujo texto primitivo foi raspado dando lu-
gar a outro. Refere-se a textos que se sobrepõem. Disponível em: 
<https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/palim 
psesto>. Acesso em: 7 jul. 2018.
https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/palimpsesto
https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/palimpsesto
42 Instrumentos de Intervenção Urbana
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 03
1. Marque	a	alternativa	que	define	corretamente	a	noção	de	
lugar	e	não-lugar	cunhada	por	Marc	Augé	(1994):	
a) Lugares se referem aos ambientes urbanos, enquanto 
não-lugares designam o campo. 
b) Lugares	 são	 definidos	 pela	 cartografia	 (mapeamento	
das cidades) e não-lugares se referem a todos os re-
cantos	que	não	existem	nos	mapeamentos	oficiais.	
c) Lugares	demarcam	as	regiões	centrais	(de	maior	fluxo	
de pessoas) das cidades enquanto não-lugares se refe-
rem às periferias das mesmas. 
d) Lugares se referem aos espaços de valorização e espe-
culação imobiliária e os não-lugares aos depreciados e 
desvalorizados economicamente. 
e) Os	lugares	configuram	espaços	identitários,	ligados	aos	
valores e memórias enquanto os não-lugares não rela-
cionam sentidos históricos e identitários.
2. Observe o seguinte trecho da música Sampa, de Caetano 
Veloso, contida na leitura fundamental do tema 03:
“Do	povo	oprimido	nas	filas,	nas	vilas,	favelas;	da	força	da	
grana que ergue e destrói coisas belas [...].”
Este	trecho	relata	poeticamente	movimentos	que	configu-
ram as noções de lugares e não-lugares descritas por Marc 
Augé	(	1994).
Assinale a alternativa que elucida a relação da música e 
dos conceitos:
Instrumentos de Intervenção Urbana 43
a) “A força da grana que ergue e destrói coisas belas” des-
creve a especulação imobiliária que se relaciona com 
a noção de lugares e não-lugares por mudar uma con-
figuração	afetiva,	de	memória	e	 identidade	da	cidade	
priorizando e criando sentidos econômicos.
b) “Do	povo	oprimido	nas	filas,	nas	vilas,	favelas”	referem-
se aos não-lugares, aqueles invisibilizados na cidade e 
pelo poder público.
c) A música descreve São Paulo, uma grande metrópole 
considerada “lugar por excelência” por conta das diver-
sidades que relaciona. Os trechos elucidam exatamen-
te os distintos lugares na referida cidade.
d) A	música	descreve	 lugares	específicos	“filas,	nas	vilas,	
favelas” e não lugares como “coisas belas”. Faltou ao 
autor descrever o que seriam tais “coisas belas” para 
configurá-las	como	lugares.
e) A música, que descreve São Paulo (essencialmente um 
não-lugar	por	ser	uma	metrópole	muito	diversificada),	
tenta	estabelecer	lugares	definidos	“filas,	nas	vilas,	fa-
velas” na tentativa de mostrar o agrupamento e vida de 
seus habitantes.
3. No texto “O Fenômeno Urbano: A Subjetividade Metro- 
politana” é dado o exemplo do trânsito (psicológico e ge-
ográfico)	cotidiano	que	os	sujeitos	que	vivem	nas	grandes	
cidades vivem diariamente. Esta elucidação fala do fato de 
reconhecermos, mas não conhecermos grande parte dos 
indivíduos que compõe esta experiência cotidiana.
Acerca do “reconhecimento” e “não-conhecimento”, mar-
que a alternativa que explica teoricamente e conceitual-
mente este comportamento:
44 Instrumentos de Intervenção Urbana
a) O reconhecimento e conhecimento caracterizam os
lugares (conhecidos e mapeados) e não-lugares (reco-
nhecidos, porém não mapeados) descritos pelo teórico
Marc	Augé	(1994).
b) O reconhecimento diz da preservação da subjetividade
descrita por George Simmel (1903) e o conhecimento
refere-se às normas sociais que o nivelam socialmente.
c) Reconhecer e não conhecer refere-se à “preservação da
saúde mental” dos indivíduos nas metrópoles descritas
por Geoge Simmel (1903). Neste sentido, há tanto um
nivelamento comportamental como a particularização
dos sujeitos nas cidades.
d) Reconhecer e conhecer se referem aos mapeamentos
das	 cidades	 descritos	 por	 Marc	 Augé	 (1994).	 Muitas
vezes podem-se reconhecer os lugares nestes mape-
amentos, porém, é comum nas cidades grandes não
conhecê-los.
e) O exemplo fala do engajamento individual na mudança
do comportamento de indiferença urbana descrita por
George Simmel (1903). Cabe ao sujeito mudar os reco-
nhecimentos para conhecimentos concretos.
f) O	 exemplo	 mostra	 a	 crítica	 de	 Marc	 Augé	 (1994)	 a
George Simmel (1903). Augé mostra que, contempora-
neamente, as relações e conhecimentos descritos por
Simmel transformaram-se em reconhecimento e inte-
ração efêmeras.
Referências bibliográficas
AUGÉ, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. 
Campinas:	Papirus,	1994.Caetano Veloso. Sampa. In: Muito: dentro da estrela azulada. CBD Phonogram, 
Philips, 1978. 
Instrumentos de Intervenção Urbana 45
SANTOS, Ludmila Rodrigues dos. “Triste sina ser poeta de latrina”: Um estudo an-
tropológico/artístico dos grafitos de banheiro. 2012. 185 f. Dissertação (Mestrado 
em Antropologia Social) - Departamento de Ciências Sociais, Universidade Federal de 
São Carlos, São Carlos.
SIMMEL, Georg. As Grandes Cidades e a Vida do Espírito	 (1903). Mana,  	 Rio	 de	
Janeiro,  	 v.	 11,  n.	 2,  p.	 577-591,  	 out.  	 2005.	Disponível	 em:	 <http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132005000200010&lng=en&nrm=iso>. 
Acesso em: 03 mai. 2018.
Gabarito – Tema 03
Questão 1 – Resposta: E
Lugares: espaços identitários, ligados aos valores e memórias. Não-
lugares: não relacionam sentidos históricos e identitários. 
Questão 2 – Resposta: A
“A força da grana que ergue e destrói coisas belas” descreve a espe-
culação imobiliária, que se relaciona com a noção de lugares e não-
-lugares criando sentidos econômicos. 
Questão 3 – Resposta: C
Reconhecer e não conhecer refere-se à “preservação da saúde men-
tal” dos indivíduos nas metrópoles descritas por Geoge Simmel 
(1903).
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132005000200010&lng=en&nrm=iso
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132005000200010&lng=en&nrm=iso
Instrumentos de Intervenção Urbana 46
TEMA 04
O EMPREENDEDORISMO E 
GENTRIFICAÇÃO DOS ESPAÇOS
Objetivos
• Discutir os alcances e limites do empreendedorismo 
urbano.
• Compreender	o	que	designa	o	processo	de	gentrifica-
ção e o consumo do lugar.
• Entender	o	processo	de	ressignificação	das	áreas	cen-
trais das grandes metrópoles.
• Articular o tema do empreendedorismo voltado para 
o espaço urbano e a ação da especulação imobiliária: 
como valorizar os espaços evitando a exclusão social? 
• Pensar a questão da atuação dos sujeitos: sua memó-
ria e identidade na constituição dos espaços.
Instrumentos de Intervenção Urbana 47
Introdução
[...] E a cidade se apresenta centro das ambições
Para mendigos ou ricos e outras armações
Coletivos, automóveis, motos e metrôs
Trabalhadores, patrões, policiais, camelôs
A cidade não para, a cidade só cresce
O de cima sobe e o de baixo desce
(Chico	Science	&	Nação	Zumbi,	1994).
A cidade, espaço coletivo, é cantada por Chico Science & Nação Zumbi 
(1994)	como	“centro	das	ambições”.	Ambições	múltiplas	que	cruzam	inte-
resses	econômicos,	comerciais	e	políticos	que	atravessam	e	configuram	
seu espaço.
Assim, suas divisões territoriais, sejam formais (seus bairros, suas zonas 
de comércio, seus espaços de lazer) ou simbólicas (referentes à ocupação 
dos	espaços	e	suas	significações	e	sentidos	sociais	partilhados),	são	cons-
tantemente	pensadas,	revistas,	ressignificadas.	Afinal,	“a	cidade	não	para,	
a	cidade	só	cresce”	e,	com	isso,	o	que	ela	muda,	se	reconfigura:	sua	me-
mória	e	espaços	significativos	são	impactados,	realocados,	revalorizados.	
Esta expansão, por sua vez, implica em macroinvestimentos que estimu-
lam a especulação imobiliária, a privatização, e uma ideia de gestão espa-
ço público atrelada ao comércio e ao consumo dos lugares (otimização e 
reestruturação voltada ao aproveitamento turístico ou econômico dos es-
paços). Tais ações instituem e colaboram com o processo de gentrificação 
urbana (que implica na elitização comercial e simbólica destes territórios): 
[...] a crise da moradia tem se agravado nos últimos anos por conta da re-
estruturação	das	cidades	e	de	sua	 transformação	em	um	negócio. David	
Harvey,	professor	da	Universidade	de	Nova	York,	explica	que	o  capitalis-
mo vem	sendo	cada	vez	menos	produtivo	e	cada	vez	mais	especulativo,	e	
os capitais estão indo no sentido de investir na cidade, mas de forma es-
peculativa. Nesse sentido, a moradia foi virando uma commodity, um item 
48 Instrumentos de Intervenção Urbana
de investimento, então uma quantidade razoável de investidores investe 
muito dinheiro nisso, e a moradia vem tendo o seu preço alavancado ainda 
mais,	por	conta	dessa mercantilização da	moradia	e	da	cidade	 (COMARÚ	
apud	FACHIN, IHU on-line, 5 de maio de 2018).
Obviamente, a ideia de uma gestão pública empreendedora, que possa 
movimentar a economia citadina, apoiando-se e auxiliando no desenvol-
vimento de uma “identidade local” bem como incentivando a área de ser-
viços, de produção e criando incentivos aos investidores externos (geran-
do emprego e renda), não parece ser um “problema” no desenvolvimento 
e crescimento das cidades. Contudo, questões importantes se colocam 
neste sentido: como empreender “a cidade” e “na cidade” preservando 
sua memória, seus patrimônios, levando em conta os sujeitos e suas re-
lações com o espaço (seus direitos e cidadania)? Como fazer com que o 
espaço público seja usufruído e não apenas consumido por todos?
Muitas vezes, o “consumo da cidade” leva à exclusão física e simbólica 
dos sujeitos, principalmente os de baixo poder aquisitivo, nos espaços 
citadinos. Por isso, questiona-se de que adianta a cidade crescer criando 
distâncias físicas e sociais entre os sujeitos (fazendo com que “os de cima” 
subam e “os de baixo” desçam). Cidade existe para quem?
1. Os sujeitos e processo de gentrificação urbana
Afinal,	o	que	é	o	processo	de	gentrificação urbana?
Primeiramente, este processo faz parte das discussões teóricas e políticas 
acerca dos processos de urbanização presentes, principalmente, nas grandes 
metrópoles	associadas	à	reconfiguração	capitalista	dos	espaços	públicos.
Para efeito didático dos estudos urbanos, Magnani (2002) os agrupa em 
dois blocos. Primeiramente este autor reúne os diagnósticos que enfati-
zam os aspectos desagregadores urbanos: como colapso do transporte 
público, falta de infraestrutura urbana (saneamento, saúde, segurança, 
Instrumentos de Intervenção Urbana 49
etc.), poluição, desigualdade social, entre outros. Depois, volta-se ao “pro-
tótipo	da	cidade	pós-industrial:	lugar	da	superposição	de	conflitos	e	sig-
nos, não-lugares, redes e encontros virtuais” (MAGNANI, 2002, p. 2). Desta 
forma, de um lado trabalha-se uma concepção caótica da convivência, 
gestão e repartição real do espaço urbano: o lugar degradado. No seu 
contraponto, a convivência e multiplicidades de vivências na cidade exi-
gem um planejamento no qual a experiência espacial possa ser, ao mes-
mo tempo, única e compartilhada.
Esta noção de cidade atrelada ao consumo e a uma leitura compartilhada 
e desterritorializada dos espaços que, ao mesmo tempo, ressalta (turisti-
camente, comercialmente, culturalmente) “singularidades”, se coloca na 
noção de “cidade global”. Acerca desta experiência, Magnani ( 2002) res-
salta que:
[...] essa denominação alude ao papel que tais cidades ocupam numa eco-
nomia altamente interdependente: sedes de conglomerados multinacionais, 
pólos	de	 instituições	financeiras,	produtoras	e/ou	distribuidoras	de	deter-
minados serviços, informações e imagens, elas constituem os nós da ampla 
rede que também já é conhecida, num mundo globalizado, como “sistema 
mundial”.	Sua	influência,	desta	forma,	faz-se	sentir	muito	além	das	respecti-
vas fronteiras físico administrativas e nacionais (MAGNANI, 2002, p. 3).
Assim, se por um lado as metrópoles assumem características estéticas e 
infraestruturais	(que	por	sua	vez	configuram	comportamentos	e	reconhe-
cimentos) que, em certo grau, buscam equalizar lugares, experiências e 
percepções, por outro, é fundamental que cada uma busque e desenvol-
va uma “marca local distintiva” tornando-a competitiva ao investimento de 
capitais, ao turismo, à atração de mão de obra especializada (MAGNANI, 
2002,	p.	4).	A	cidade,	seus	espaços	e	sua	imagem	são,	concomitantemen-
te,	vitrine	e	produto.	Como	tal,	ela	é	produto	de	especulação	(financeira	e	
imobiliária) e local de investimento. Nesta concepção, os limites do públi-
co e do privado se imbricam: o espaço público pode contar com a partici-
pação de interesses,investimentos e manutenção privados. 
50 Instrumentos de Intervenção Urbana
Tal iniciativa é reconhecida como um tipo de “planejamento estratégico” 
urbano, que, dentre outras medidas, volta-se a uma ideia de otimização 
dos usos, controle, segurança, funcionalidade e deste referido “consumo 
cultural dos lugares” (vide a propagação dos Shopping Centers associados 
a tais valores difundidos).
Tal remodelação dos espaços citadinos prevê valorizações de iniciativas 
que envolvem o poder público e o privado nos projetos de renovação 
urbana. Neste viés, e buscando se associar à necessidade de particulari-
zação destes espaços remodelados, que se apóia o empreendedorismo 
do e no espaço urbano. O investimento privado (atrelado ao consumo do 
lugar) precisa “atrair” novos moradores, usuários, frequentadores e inves-
tidores, fazendo com que o espaço se atrele (simbolicamente e economi-
camente) a concepções de status e renda. 
Assim, a cidade, seus espaços, sua memória, e a participação democrática 
e irrestrita de seus habitantes são constantemente remodelados levando 
em conta os interesses do capital e da ampliação de seu consumo. Esta 
requalificação	comumente	excludente	(enobrecimento),	em	prol	de	uma	
funcionalidade	capitalista,	define,	desta	maneira,	a	gentrificação.
PARA SABER MAIS
Segundo Magnani (2002), o processo de gentrificação pode 
ser notado nas áreas centrais das metrópoles, que passam 
por projetos e iniciativas de “revitalização” de seus espaços 
“degradados” (com base neste “planejamento estratégico” e 
com parcerias público-privadas).
Ante o exposto, a gentrificação	 possui	 um	duplo	 aspecto	 na	 configura-
ção espacial urbana: além de adequá-la como “lugar de consumo”, inau-
gura uma nova modalidade de consumo cultural: o “consumo do lugar” 
(MAGNANI, 2002, p. 13).
Instrumentos de Intervenção Urbana 51
PARA SABER MAIS
O processo de gentrificação marca uma “subjetivação capita-
lista que envolve os valores, o trânsito e os olhares para os 
locais, a disposição e distribuição estética e espacial, etc.; evi-
denciando que a ‘montagem’ do urbano, sua (re)produção e 
identificação	envolvem	processos	internos	-	de	subjetivação	
- e externos - de vigilância, controle e construção física da 
urbe (SANTOS, 2017, p. 168).
O aspecto de uma “subjetivação capitalista” difundida em prol deste pos-
sível “consumo dos lugares” é, portanto, essencial à gentrificação e ao em-
preendedorismo que os reinventa: seja na esfera pública - com iniciativas 
voltadas principalmente ao turismo e à particularização qualitativa dos 
espaços, ou na esfera privada – com seus grandes empreendimentos e 
com	o	apoio	do	capital	financeiro	e	da	especulação	imobiliária.	Em	ambos	
os casos é preciso naturalizar estes sentidos e ocupações como integran-
tes de um “bem comum”.
LINK
O texto de Magnani (2002) intitulado “De perto e de dentro: 
notas	para	uma	etnografia	urbana”,	além	de	pensar	esta	geo-
grafia	urbana	e	sua	(re)distribuição,	volta-se	à	prática	de	pes-
quisa antropológica neste cenário. O Núcleo de Pesquisa em 
Antropologia Urbana da Universidade de São Paulo o dispo-
nibiliza para download. Disponível em: <http://nau.fflch.usp.
br/sites/nau.fflch.usp.br/files/upload/paginas/de_perto_de_
dentro.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2018.
Se o espaço urbano gentrificado é usufruído e consumido de maneira 
distinta pelos seus habitantes, já que o movimento que se opera é de 
elitização	e	especulação	financeira	em	torno	deste	consumo	espacial,	é	
http://nau.fflch.usp.br/sites/nau.fflch.usp.br/files/upload/paginas/de_perto_de_dentro.pdf
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52 Instrumentos de Intervenção Urbana
importante notar que a “partilha do sensível”, da experiência e do acolhi-
mento nestes distintos espaços é distintiva e desigual. A este respeito, o 
filósofo	Jacques	Rancière	afirma	que:
Uma	partilha	do	sensível	fixa,	portanto,	ao	mesmo	tempo,	um	comum	par-
tilhado e partes exclusivas. Essa repartição das partes e dos lugares se fun-
da numa partilha de espaços, tempos e tipo de atividade que determina 
propriamente a maneira como um comum se presta à participação e como 
uns e outros tomam parte nessa partilha. O cidadão, diz Aristóteles, é quem 
toma parte no fato de governar e ser governado. Mas uma outra forma de 
partilha precede este tomar de parte: aquela que determina os que tomam 
parte [...] A partilha do sensível faz ver quem pode tomar parte no comum 
em função daquilo que faz, do tempo e do espaço em que essa atividade 
exerce.	Assim,	 ter	esta	ou	aquela	 “ocupação”	define	competências	ou	 in-
competências	para	o	comum.	Define	o	fato	de	ser	ou	não	visível	num	es-
paço comum, dotado de uma palavra comum, etc. (RANCIÈRE, 2005, p. 15).
A repartição dos espaços nos leva, então, à questão de sua ocupação, 
partilha e participação (cultural, política e econômica) dos sujeitos. Ao tra-
tarmos, por exemplo, da questão dos centros urbanos, temos que sua 
reestruturação e a especulação imobiliária passam a legitimar uma apro-
priação (legalizada) privada/ empresarial, que, por sua vez, difunde uma 
estética e conceitos que facilitam esta mercantilização e consumo espa-
cial. Tal movimento evidencia a estipulação desigual das visibilidades, das 
possibilidades de falas, da participação cidadã, do “consumo” e/ou do 
acesso ao “espaço público” (e seus equipamentos). 
Neste ponto, voltamos ao tema colocado no início deste texto acerca da 
crise habitacional nas grandes metrópoles e da visibilidade e rentabilida-
de dos espaços citadinos, já que, tais aspectos, em função desta estética 
vendável e voltada ao consumo, delegam a participação e tornam invisí-
veis	aqueles	com	menor	status	e	capacidade	financeira.
[…] A cidade deixou de ser só o lugar dos negócios e passou a ser o negócio: 
a cidade é um negócio. Os pobres, dentro deste contexto, são completa-
mente	expulsos,	seja	pela	ação	direta	do	Estado	nas remoções,	seja	pela	
ação	direta	dos	proprietários	privados,	seja	pelos	processos	da especula-
ção	imobiliária,	em	que	as	pessoas	não	conseguem	pagar	aluguel	(COMARÚ	
apud	FACHIN, IHU on-line, 5 mai. 2018). 
Instrumentos de Intervenção Urbana 53
A população que destoa da remodelação dos espaços é, em muitos ca-
sos, incentivada pelo próprio poder público a ocupar “outros espaços” ou 
“lugares da invisibilidade”. Revitalização, dependendo da forma que é im-
plantada, pode possuir este viés de “higienização” e elitização dos espaços 
e dos sujeitos que os ocupam. 
ASSIMILE
Segundo Comarú, em entrevista ao site “Outras Palavras” é 
possível ver este movimento de gentrificação no centro da ci-
dade de São Paulo, no bairro da Luz, mas também em outras 
localidades em função da construção de estádios na época 
da Copa do	Mundo	de	Futebol e	dos megaeventos.	Apesar	
das resistências por parte da população, dos movimentos 
locais, de vários ativistas, acadêmicos e ONGs, a força espe-
culativa	e	financeira	aliada	ao	Estado,	agravou	ainda	mais	a	
crise da moradia neste caso, em especial nestas regiões que 
se buscava “remodelar”. 
Com a crise política e econômica que vivemos (que implica em 
aumento do desemprego e redução da renda média da popu-
lação) muitas pessoas não conseguem prover o aluguel. Isso 
aumenta as remoções e os despejos, fazendo com que estes 
sujeitos passem a morar em periferias distantes ou, em casos 
extremos, ocupem instituições e espaços públicos: morem 
em albergues, em prédios abandonados, etc. Muitos destes 
“prédios abandonados” (existentes principalmente nas áreas 
centrais)	servem	para	justificar	o	(re)investimento	privado	e	
a remodelação destes territórios. Contudo, estas localidades 
também são alvo de questionamento político por parte dos 
movimentos sociais, os quais demandam suas ocupações e 
redistribuição do espaço urbano com base na “função social 
da propriedade imóvel urbana”. Segundo o site da Prefeitura 
de

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