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[1] 
 
 
 
 
 
 
 
Os Espaços Públicos na 
Reconfiguração Física e Social da Cidade 
 
 
por 
Jorge Manuel Gonçalves 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação submetida à 
Universidade de Nova de Lisboa para 
obtenção do grau de Doutor em Geografia na 
especialidade de Gestão do Território. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Departamento de Geografia e Planeamento Regional 
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas 
Universidade de Nova de Lisboa 
Julho de 2004 
 
 [2] 
Universidade de Nova de Lisboa 
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas 
Departamento de Geografia e Planeamento Regional 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os Espaços Públicos na 
Reconfiguração Física e Social da Cidade 
 
 
 
 
 
 
Jorge Manuel Gonçalves 
Tese de Doutoramento 
 
Orientadora: Prof. Drª Margarida Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lisboa 
 
Julho de 2004 
 [3] 
No bairro do amor a vida é um carossel 
Onde há sempre lugar para mais alguém 
O bairro do amor foi feito a lápis de cor 
Por gente que sofreu por não ter ninguém 
 
No bairro do amor o tempo morre devagar 
Num cachimbo a rodar de mão em mão 
No bairro do amor há quem pergunte a sorrir: 
Será que ainda cá estamos no fim do verão? 
 
Eh, pá, deixa-me abrir contigo 
Desabafar contigo 
Falar-te da minha solidão 
Ah, é bom sorrir um pouco 
Descontrair um pouco 
Eu sei que tu compreendes bem 
 
No bairro do amor a vida corre sempre igual 
De café em café, de bar em bar 
No bairro do amor o sol parece maior 
E há ondas de ternura em cada olhar 
 
O bairro do amor é uma zona marginal 
Onde não há prisões nem hospitais 
No bairro do amor cada um tem que tratar 
Das suas nódoas negras sentimentais 
 
Eh, pá, seixa-me abrir contigo 
Desabafar contigo 
Falar-te da minha solidão 
Ah, é bom sorrir um pouco 
Descontrair um pouco 
Eu sei que tu compreendes bem 
Jorge Palma 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais 
 
 [4] 
Agradecimentos 
É impossível elaborar um trabalho destes isoladamente. Assim 
como é impossível expressar apenas por palavras o 
reconhecimento que devo a um conjunto restrito de pessoas pois 
o termo que me merecem pelo seu contributo, directo ou 
indirecto, para este esforço não pode ser apenas gratidão. 
Concretamente estas pessoas são: 
- No plano pessoal, distingo a dedicação infinita da minha mãe 
que, antes de falecer, ainda teve oportunidade de contribuir 
objectivamente para a elaboração deste trabalho e o esforço da 
minha mulher, Ana Paula, na gestão familiar e doméstica, 
apesar desta tese ter atravessado períodos muito complicados 
na sua vida; 
- No plano académico, destaco a minha orientadora científica, 
a Professora Doutora Margarida Pereira, pois só com muitas 
dificuldades conseguiria descrever a forma como conduziu todo 
este longo processo, sem pressões, compreensiva face às 
naturais situações que surgem durante quase cinco anos, 
elegante no trato, célere no tratamento dos materiais e 
rigorosa na avaliação da qualidade do trabalho que ia sendo 
produzido. 
Merecem-me ainda palavras de agradecimento o Dr. Oliveira das 
Neves pela compreensão que revelou das minhas involuntárias 
mas, por vezes, incontornáveis variações na produtividade. 
Acresce ainda a sua permanente disponibilidade e até agrado 
com que discutiu o tema, possibilitando-me ainda o acesso a 
materiais fundamentais. 
Agradeço a todas as pessoas anónimas que colaboraram no 
processo de inquirição e de entrevista, em especial, o 
Professor Doutor João Ferrão, o Professor Doutor Manuel 
Teixeira, o Professor Doutor Horácio Bonifácio, o Professor 
Doutor Bragança de Miranda, o Arquitecto Paisagista Paulo 
Monteiro e o Arquitecto Manuel Salgado. Expresso aqui também 
 [5] 
publicamente à colega Filipa Lourenço os esclarecimentos 
prontos que me prestou no sempre difícil campo da análise de 
conteúdo das entrevistas e do tratamento estatístico dos 
inquéritos. 
Finalmente, devo uma palavra a todos aqueles que em diversos 
momentos de elaboração deste trabalho me questionavam sobre o 
andamento dos trabalhos e revelavam interesse convicto sobre o 
tema. 
 [6] 
Resumo 
 
 [7] 
Abstract 
 
 [8] 
 
ÍNDICE 
 
 
INTRODUÇÃO ................................................. 18 
1. DISCUSSÃO EM TORNO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS URBANOS (EPU): 
HIPÓTESES DE PARTIDA E ÁREAS CINZENTAS ..................... 23 
1.1. OS EPU COMO METÁFORA DAS TRANSFORMAÇÕES URBANAS ............. 23 
1.2. QUESTIONAR OS EPU OU OS MÚLTIPLOS CAMPOS DA URBANIDADE ....... 26 
1.3. QUADRO CONCEPTUAL E METODOLÓGICO .......................... 31 
1.3.1. Objectivos ...................................... 31 
1.3.2. Defender uma tese ou teses? ...................... 34 
1.3.3. Sequência metodológica ........................... 44 
2. ELEMENTOS DE UMA CRISE ANUNCIADA ........................ 47 
2.1. INTRODUÇÃO ............................................ 47 
2.2. AS DINÂMICAS URBANAS RECENTES: EMERGÊNCIA DO HÍBRIDO E DA 
DESTERRITORIALIZAÇÃO ......................................... 56 
2.2.1. A fluidez espacio-temporal da noção de cidade .... 56 
2.2.2. Transformações da cidade física ................................................ 57 
2.2.3. O estilhaçar da imaterialidade urbana ............ 62 
2.3. CONTRIBUTOS PARA UMA TEORIA DOS ESPAÇOS PÚBLICOS URBANOS ...... 63 
2.3.1. Espaço Público: crise ou novas lógicas? .......... 63 
2.3.2. Estratégias de Substituição e Sedução ............ 70 
2.3.3. Dos Espaços Públicos aos Espaços Colectivo: que 
consequências para as sociedades urbanas? ............... 75 
2.4. PROPOSTAS DE TIPOLOGIA .................................. 81 
2.4.1. Segmentando a análise ............................ 81 
2.4.2. Espaços de recreio e lazer ....................... 82 
2.4.3. O espaço público nas cidades portuguesas ......... 84 
2.4.4. Ensaio tipológico para os EPU .................... 85 
3. NO CAMPO DO ACTOR E DO SEU CENÁRIO ...................... 92 
3.1. NOTAS PRELIMINARES ..................................... 92 
 [9] 
3.2. O CRESCENTE INVESTIMENTO NO SELF .......................... 94 
3.3. A CIDADE COMO TERRENO NARCÍSSICO ......................... 100 
3.4. TRANSFORMAÇÕES E MUTAÇÕES SOCIAIS E URBANAS ................ 104 
3.4.1. O paradoxo urbano-metropolitano ................ 104 
3.4.2. Territórios da Alegria .......................... 106 
3.4.3. Cidades da Angústia ............................. 109 
3.4.4. Cidade dos Extremos ............................. 111 
4. OS ESPAÇOS PÚBLICOS URBANOS NA MULTIPLICIDADE DOS OLHARES
 112 
4.1. CIÊNCIAS SOCIAIS E DA COMUNICAÇÃO ........................ 112 
4.2. URBANISMO, ARQUITECTURA E PAISAGISMO ..................... 119 
4.3. HISTÓRIA ............................................ 123 
4.4. SÍNTESE ............................................. 127 
5. O PERCURSO HISTÓRICO DO EPU ............................ 139 
5.1. INTRODUÇÃO ........................................... 139 
5.2. ATÉ AO PERÍODO ROMANO .................................. 140 
5.2.1. Ambiente económico .............................. 141 
5.2.1.1. A Cidade Ancestral .......................... 141 
5.2.1.2. Polis grega e cidade romana ................ 146 
5.2.2. Política, cultura, e religião ................... 148 
5.2.2.1. A cidade ancestral .......................... 148 
5.2.2.2. Polis Grega e Roma Imperial ................. 152 
5.2.3. Das formas urbanas dos Espaços Públicos ......... 154 
5.3.PERÍODO MEDIEVAL ....................................... 160 
5.3.1. Ambiente económico ............................. 160 
5.3.2. Política, cultura, e religião .................. 162 
5.3.3. Das formas urbanas dos Espaços Públicos ........ 164 
5.4. PERÍODO RENASCENTISTA – CIDADE CLÁSSICA E BARROCA ........... 168 
5.4.1. Ambiente económico .............................. 169 
5.4.2. Política, cultura e religião .................... 172 
5.4.3. Das formas urbanasdos espaços públicos ......... 177 
5.5. CIDADE MODERNA ........................................ 184 
5.5.1. Ambiente Económico .............................. 184 
5.5.2. Política, cultura e religião .................... 189 
 [10] 
5.5.3. Das Formas Urbanas dos Espaços Públicos ......... 198 
5.6. A “HISTÓRIA” QUE SE ESTÁ A ESCREVER ...................... 204 
5.6.1. Recomendação do Comité de Ministros dos Estados 
Membros da Comunidade Económica Europeia ............... 205 
5.6.2. A Nova Carta de Atenas .......................... 208 
5.6.3. Regulamentos e manuais municipais de utilização dos 
EPU .................................................... 210 
6. AVERIGUAR A PRÁTICA: A OCUPAÇÃO DO TEMPO E A UTILIZAÇÃO 
DOS EPU ................................................... 220 
6.1. O USO DO TEMPO EM PORTUGAL .............................. 222 
6.2. UTILIZAR OU NÃO OS ESPAÇOS PÚBLICOS? EIS A QUESTÃO .......... 238 
6.2.1. Processo de Inquirição aos Cidadãos de Lisboa ... 238 
6.2.1.1. Introdução .................................. 238 
6.2.1.2. Processos de inquirição ..................... 253 
6.2.1.3. Dimensões e grau de pertinência da amostra .. 254 
6.2.1.4. Modelo e estrutura de inquérito ............. 255 
6.2.1.5. Caracterização dos inquiridos ............... 258 
6.2.2. Das teses à realidade ........................... 269 
6.2.3.1. Em busca de um significado para os EPU ...... 269 
6.2.3.2. A distância entre a representação e a realidade
 ..................................................... 315 
6.2.3.3. O apagamento dos EPU no Urbanismo Contemporâneo
 ..................................................... 348 
7. CONCLUSÃO .............................................. 365 
8. BIBLIOGRAFIA ........................................... 371 
 
 
 [11] 
Índice de Quadros 
 
Quadro 1 - Classificação de áreas recreativas .............. 83 
Quadro 2 - Especialização funcional dos EPU ................ 85 
Quadro 3 - Ensaio de tipificação dos EPU ................... 87 
Quadro 4 - Domínios e conceitos fixados para a análise 
quantitativa das entrevistas ........................... 130 
Quadro 5 - Matriz relativa ao domínio Cidadania (‰) ....... 133 
Quadro 6 - Matriz relativa ao domínio Comunicação (‰) ..... 134 
Quadro 7 - Matriz relativa ao domínio Elementos de Composição
 ....................................................... 136 
Quadro 8 - Matriz relativa ao domínio Complementaridades .. 137 
Quadro 9 – Distribuição geográfica da Amostr .............. 225 
Quadro 10 - População com mais de 15 anos que efectuou 
passeios a pé, um dia médio ............................ 228 
Quadro 11 - População que efectuou passeios a pé, por grupo 
etário, num dia médio .................................. 229 
Quadro 12 - População que efectuou passeios a pé, por 
tipologia de família, num dia médio .................... 230 
Quadro 13 - População que efectuou passeios a pé, por escalões 
de rendimento líquido mensal, num dia médio ............ 231 
Quadro 14 - Variação na estrutura etária da cidade de Lisboa
 ....................................................... 242 
Quadro 15 - Agrupamentos de Freguesia adoptados ........... 250 
Quadro 16 - O género na Amostra ........................... 258 
Quadro 17 - Indivíduos com filhos até 10 anos na Amostra .. 260 
Quadro 18 - Indivíduos com cão na Amostra ................. 260 
Quadro 19 - Nível de Instrução dos Indivíduos na Amostra .. 262 
 [12] 
Quadro 20 - Naturalidade dos inquiridos ................... 263 
Quadro 21 - Distribuição das Freguesias do local de trabalho 
ou Estudo .............................................. 267 
Quadro 22 - Principais utilizadores dos EPU (%) ........... 270 
Quadro 23 - Modo de deslocação (%) ........................ 292 
Quadro 24 - EPU mais importantes para o inquirido ......... 313 
Quadro 25 - Importância concedida aos EPU ................. 316 
Quadro 26 - Intensidade de uso dos EPU .................... 319 
Quadro 27 - EPU mais frequentados ......................... 320 
Quadro 28 - Termos de caracterização dos Espaços Públicos de 
Lisboa(%) .............................................. 326 
Quadro 29 - Síntese do posicionamento face à Rua (%) ..... 330 
Quadro 30 - Síntese de posicionamento face ao Jardim ...... 331 
Quadro 31 - Síntese de posicionamento face ao Parque Verde 
Urbano ................................................. 332 
Quadro 32 - Qualidade da iluminação nos jardins ........... 339 
Quadro 33 - Espaço mais utilizado fora do tempo das obrigações
 ....................................................... 345 
Quadro 34 - Aspectos mais negativo nos EPU (%) ............ 350 
Quadro 35 - Ver televisão ................................. 352 
Quadro 36 - Leitura de jornais, revistas ou livros ........ 353 
Quadro 37 - Conversar em família ou com os amigos ......... 353 
Quadro 38 - Navegar na Internet ........................... 354 
Quadro 39 - Comunicar on-line (chats, e-mail) ............. 355 
Quadro 40 - Jogos electrónicos ............................ 355 
Quadro 41 - Programas culturais e recreativos ............. 356 
Quadro 42 - Praticar desporto ou cultura física ........... 356 
Quadro 43 - Ver montras comerciais ........................ 357 
 [13] 
Quadro 44 - Jardins e parques urbanos ..................... 358 
Quadro 45 - Cafés / Esplanadas ............................ 359 
Quadro 46 - Namorar ....................................... 359 
Quadro 47 - Passear ....................................... 360 
Quadro 48 - Não tem tempos livres ......................... 360 
 
 [14] 
Índice de Figuras 
 
Figura 1 - Elemento gráfico de lisboa – Capital do Nada .... 19 
Figura 2 - Síntese da estrutura metodológica e conceptual .. 44 
Figura 3 - Descodificação do padrão de utilização dos espaços 
públicos ................................................ 54 
Figura 4 - A transição urbana .............................. 58 
Figura 5 - O humor nos olhares sobre os EPU ............... 122 
 Figura 6 – Oposição nas representações dos EPU ........... 123 
Figura 7 - Cidade de Nippur: A primeira planta urbana ..... 144 
Figura 8 - O Berço da Civilização Urbana .................. 151 
Figura 9 - Níveis de conhecimento dos EPU ................. 156 
Figura 10 - Planta da Babilónia ........................... 157 
Figura 11 - Mileto e a Àgora como charneira urbana ........ 159 
Figura 12 - Praça central de Siena ........................ 168 
Figura 13 - Monsaraz ...................................... 179 
Figura 14 - Exemplo da intervenção de Haussman em Paris ... 194 
Figura 15 - Extensão e tipos de intervenção de Haussman e . 194 
Figura 16 - Recomendações e princípios constantes na 
Recomendação NºR(86)11-CEE ............................. 207 
Figura 17 - Manual de Utilizador dos Parques de Lisboa .... 214 
Figura 18 - Perfil de ocupação da população com mais de 15 
anos, num dia médio .................................... 227 
Figura 19 - População com 15 ou mais anos que realizou 
actividades de lazer, dia médio ........................ 232 
Figura 20 - População com mais de 15 anosque anda apressada 232 
Figura 21 - População empregada que anda apressada, por grupo 
etário, por percepção do tempo na vida particular ...... 235 
 [15] 
Figura 22 - A Área Metropolitana de Lisboa ................ 240 
Figura 23 - Variação da população por concelhos, 91-01 .... 241 
Figura 24 - Estrutura etária do Parque Habitacional de Lisboa
 ....................................................... 244 
Figura 25 - As 53 freguesias de Lisboa .................... 248 
Figura 26 - Agrupamentos de freguesias de Lisboa .......... 251 
Figura 27 - Agrupamentos de Freguesias por população, 2001 252 
Figura 28 - Os espaços público/colectivos mais referidos em 
Lisboa ................................................. 253 
Figura 29 - Distribuição da amostra por grupos de idades .. 259 
Figura30 - Número de Passeios com o cão ................. 261 
Figura 31 - Local dos passeios com o cão .................. 261 
Figura 32 - Habilitações dos inquiridos ................... 263 
Figura 33 - Naturalidade dos inquiridos ................... 264 
Figura 34 - Distribuição relativa pelas principais freguesias 
de residência .......................................... 265 
Figura 35 - Freguesias de residência dos inquiridos ....... 266 
Figura 36 - Principais freguesias dos locais de trabalho .. 268 
Figura 37 - Local de trabalho ou estudo por agrupamentos de 
freguesia na distribuição da amostra ................... 268 
Figura 38 - Utilizadores habituais como perturbadores do uso 
mais alargado dos EPU .................................. 284 
Figura 39 - Limitações a um uso mais frequente dos EPU .... 288 
Figura 40 - Deslocações para compras ...................... 298 
Figura 41 - Deslocações para obrigações diversas ......... 301 
Figura 42 - EPU como modalidade de Ocupação dos Tempos Livres
 ....................................................... 302 
Figura 43 - Utilização dos EPU após as 23h ................ 305 
 [16] 
Figura 44 - Locais mais inseguros de Lisboa ............... 307 
Figura 45 - Locais identificados como mais importantes de 
Lisboa ................................................. 311 
Figura 46 - Opinião sobre o volume de EPU ................. 318 
Figura 47 - Frequência de deslocação aos locais que mais gosta
 ....................................................... 325 
Figura 48 a) b) c) d) - Opinião sobre a iluminação nos EPU 337 
 
 [17] 
Índice de Fotografias 
 
 
Fotografia 1 - A altura dos Passeios: baixo num lado e alto no 
outro (Cruzamento da Av. da República com a Av. de Berna)
 ........................................................ 35 
Fotografia 2 - Campo Pequeno. As novas muralhas da cidade(1) 35 
Fotografia 3 - Calçada do Combro.As novas muralhas da 
cidade(2) ............................................... 36 
Fotografia 4 - A Expo’98 .................................. 107 
Fotografia 5 - Os Estádios do Euro 2004 ................... 108 
Fotografia 6 - Porto - Capital Europeia da Cultura. Casa da 
Música. ................................................ 108 
Fotografia 7 - Chelas ..................................... 108 
Fotografia 8 - O Passeio Público: Rua Central e Passeios 
Laterais ............................................... 246 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 [18] 
Introdução 
Escrever uma tese significa defender e explicitar 
convicções recorrendo a uma metodologia e linguagem aceites 
pela comunidade científica. Representa também caminhar no 
sentido da obtenção de um conhecimento mais aprofundado sobre 
determinado objecto, recorrendo à reapreciação de reflexões 
efectuadas em domínios conexos aos Espaços Públicos Urbanos 
por outros autores e ainda a um investimento renovado na 
recolha de novos elementos capazes de trazer um contributo 
significativo para a compreensão do tema. 
Este objectivo geral não ajuda a entender as causas mais 
profundas que conduziram à adopção dos Espaços Públicos 
Urbanos como fundamento de uma tese de doutoramento. Esta é 
uma das principais preocupações da presente Introdução: Como 
se seleccionou um tema de natureza geográfica e urbana ao qual 
um candidato ao grau de doutorado passa a dedicar mais de 
quatro anos a investigar, a recolher, a apreciar documentação, 
a entrevistar, a inquirir e, finalmente, a tratar e discutir 
toda a informação que lhe vai chegando. A paixão sobre 
cidades, pessoas e quotidiano foram a matriz inicial dessa 
motivação aliás, já reflectida, num primeiro trabalho 
académico
1
, onde o problema da participação pública em matéria 
de questões territoriais havia sido debatida. 
Neste caso, o interesse pelo Espaços Públicos para além 
de se inscreverem na dimensão urbana e social permitiam também 
uma (re)leitura das formas de utilização quotidiana da Cidade 
medindo as causas e consequências das suas transformações. A 
interacção entre estes elementos tinha, desde os finais dos 
anos 90, vindo a ganhar expressão na literatura científica 
nacional, em especial no domínio da sociologia, mas também nas 
páginas de jornais e ecrãs de televisão onde apareciam 
 
1 Dissertação de mestrado ReciproCidade: Apropriação e Exclusão em Urbanismo, 
apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1996. 
 [19] 
insistentes reivindicações pela protecção e criação dos 
Espaços Públicos Urbanos. 
Entre os muitos exemplos é incontornável não apresentar 
aquele que talvez tenha exercido um maior poder de 
questionamento e de mobilização para o estudo do tema: 
Projecto Lisboa – Capital do Nada, que decorreu numa freguesia 
de Lisboa – Marvila - de 1 a 31 de Outubro de 2001. Um 
conjunto de artistas e especialistas de várias áreas 
disciplinares encarou como uma oportunidade a possibilidade de 
intervir no espaço urbano da freguesia para o que contou com o 
apoio dos órgãos autárquicos locais e com as populações. 
Esta intervenção suscitou-nos múltiplas interrogações 
mas entre as quais ganhou força a que questionava a forma, 
admitindo a existência de uma crise do espaço público, como 
operar a sua reanimação ou recentramento no quotidiano dos 
espaços e comunidades urbanas. Ou seja, como é que espaços 
onde o vazio e o nada marcam o tempo podem ser revertidos de 
modo a possibilitar, como afirma Teresa Alves, “(...)a criação 
de um sentimento de comunidade através da mobilização das 
populações de forma a que estas reivindiquem o espaço público 
como um bem colectivo de promoção da qualidade vida” (AAVV: 
 
Figura 1 - Elemento gráfico de lisboa – Capital do Nada 
 [20] 
2002; 12). Estes espaços públicos de Marvila não são 
mais que uma metáfora de uma qualidade urbana paupérrima e de 
frágeis dispositivos de promoção da coesão social. 
Marvila era assim um espaço ideal para desencadear 
inovadoras formas de intervenção em Espaços Públicos, a 
propósito de um movimento artístico, novos comportamentos 
colectivos, marcados pela participação, pela observação e pelo 
envolvimento. Os seus organizadores não esconderam estes 
propósitos justificando a escolha de Marvila porque “é uma 
zona mal amada; porque é um conjunto de bairros com muita 
história mas também muito futuro; porque é um território rico 
e variado, onde há pessoas e colectividades de grande 
dinamismo” (AAVV: 2002; 13). Os objectivos centrais situavam-
se na mudança da imagem negativa do bairro através da arte e 
de intervenções várias contando com a participação cidadã. O 
“Nada” inscrito no título do projecto seria a matéria de 
partida que conduziria à inversão do passado. 
O impacte e a visibilidade que este projecto teve junto 
dos meios artísticos não encontrou correspondência na 
realidade local. Todavia, a fugaz intervenção de um mês e a 
bondade do emprenho colocado no projecto não podem apagar 
décadas de esquecimentos e erros urbanísticos. Daí a 
importância conferida a este evento pois a sua avaliação exige 
que se questione sobre as melhores formas de intervir sobre o 
espaço público, o que exige a explicação para o seu declínio. 
Como mérito do projecto salientam-se as temáticas da 
participação e envolvimento público em matéria de Espaços 
Públicos Urbanos convencendo-nos em definitivo que esta será 
uma das matérias cruciais para a sobrevivência da ideia de 
Cidade sedimentada ao longo de centenas de anos. 
Se estes acontecimentos ajudaram a consolidar o tema e 
os conteúdos a tratar as vicissitudes, as limitações de ordem 
 [21] 
diversa e até a incongruência de algumas tarefas concebidas 
inicialmente não alteraram o rumo traçado mas introduziram 
novos contornos nos conteúdos face ao esperado. 
Isto é o que sucede quando o objecto de estudo se refere 
a mudanças que ainda estãoa decorrer, por isso, parte das 
suas consequências permanecem invisíveis. É o que sucede com 
os Espaços Públicos Urbanos e a forma como hoje se inscrevem 
na cidade e no imaginário das suas comunidades de 
utilizadores. 
Qualquer uma das dimensões de motivação atrás enunciadas 
(cidade, pessoas e quotidiano) estão especialmente bem 
reflectidas na temática dos EPU: 
► O mundo urbano com as suas infinitas possibilidades 
de libertação e de composição dos elementos que os constituem; 
► Os EPU na construção da aprendizagem social 
suportada na relação com o espaço e na relação com o outro; 
► O quotidiano feito de mudança e acaso ganha novo 
protagonismo nestes tempos de aceleração física e imaterial. 
Como interagem, como mudam, como são vistos e 
consequências têm estes aspectos tornou-se quase uma obsessão 
para o que se recorreu a listagens infindáveis de actividades 
e tarefas. Algumas delas abandonadas, outras começadas sem se 
prever, um pouco de tudo aconteceu durante a elaboração da 
tese. Dito de outro modo, a estrutura a que se chegou é apenas 
o resultado de um desbaste muito mais amplo e dispersivo que 
encontrou finalmente um ponto de equilíbrio sustentado. Dessa 
estrutura é possível apresentar os seus três pilares maiores: 
► Reflexão conceptual 
► Dimensão Histórica 
 [22] 
► Auscultação do território 
 
A organização formal e sistematizada encontrada para a 
adequada explicitação destes conteúdos exigiu que fossem 
elaborados seis capítulos, excluindo a introdução e a 
conclusão. O primeiro ficou reservado para a discussão dos 
objectivos e teses em torno dos quais se construirá este 
trabalho académico. O segundo capítulo detém-se na ideia de 
crise dos Espaços Públicos Urbanos dado que esse será a sua 
grande motivação. O protagonismo passa do espaço para o 
utilizador e os seus comportamento que moldam parte do 
quotidiano urbano. O capítulo quatro envereda pela exploração 
das leituras múltiplas que são feitas dos EPU a partir de 
sensibilidades e preocupações disciplinares diferentes. Pensar 
o futuro e as tendências significa saber gerir um passado que 
em matéria de Espaços Públicos é muito rico e diversificado, 
sendo este o centro de interesse do capítulo 5. Finalmente, no 
capítulo seis trabalhou-se dados recolhidos no terreno de modo 
a validar muitos dos aspectos abordados atrás. 
 
 [23] 
1. Discussão em torno dos espaços públicos urbanos 
(EPU): Hipóteses de partida e áreas cinzentas 
1.1. Os EPU como metáfora das transformações urbanas 
O questionamento da Cidade nem sempre foi uma atitude 
corrente na disciplina geográfica. Esta convicção fica 
reforçada quando deixamos a ideia abstracta e genérica de 
Cidade e passamos a considerar aspectos como as funções 
centrais, a demografia urbana, a promoção económica, os 
equipamentos sociais, entre outros. Essa interrogação só 
surge, em Portugal, de um modo mais evidente e depois de 
algumas incursões de Orlando Ribeiro
2
 sobre temas urbanos, com 
Jorge Gaspar (1968), José Pereira de Oliveira (1973), Teresa 
B. Salgueiro (1971, 1972) e Paula Bordalo Lema (1972), a que 
se seguiram outras abordagens geográficas do urbano, marcadas 
por uma crescente diversidade temática. 
Pode, assim, afirmar-se que o tratamento da Cidade na 
análise geográfica partia do interior urbano, com as 
respectivas funções centrais (traços e localização) para 
observar a sua irradiação no território envolvente – área de 
influência. Conjugando os resultados de estudos sistemáticos 
realizados em centros urbanos da mesma região era possível 
obter a correspondente rede urbana, com a sua hierarquização e 
debilidades. 
Espaço urbano e área envolvente, cidade e território por 
ela influenciado eram, deste modo, variações do mesmo tema. A 
abordagem do urbano em função do urbano e até para intervir no 
urbano só surge claramente nos anos 70 e 80, relacionada com 
problemas concretos e colocando em causa valores histórico, 
sociais e económicos (Mendes, 1979; Gaspar, 1975, 1976, 1977a, 
1977b; Fonseca, 1980; Salgueiro, 1984). Nesta aproximação aos 
 
2 Cf. a excelente reunião de textos sobre a matéria, concebida por Suzanne Daveau, em 
Ribeiro,O. (1994), Opúsculos Geográficos,FCG, Lisboa. 
 [24] 
aspectos mais restritos da cidade, visando a colecta de 
elementos para uma melhor intervenção, a geografia revelou 
algum à vontade, desde que pudesse contar com bases de 
informação credíveis como as estatísticas, a cartografia e a 
possibilidade de efectuar levantamentos directos. 
Conhecer para intervir passou a ser prática recorrente, 
sendo apenas na última década do século XX que se sentiu o 
arejamento nas temáticas e até nas escalas onde dominavam a 
região, os concelhos e as cidades, estas consideradas como um 
todo ou segmentadas por ruas e bairros. 
Esta perspectiva (implicada nos princípios da Nova 
Geografia) decorria do tipo de representação que os restantes 
campos disciplinares e políticos possuíam dos geógrafos e que 
o geógrafo tinha do espaço e da cidade. O modelo, o 
funcionalismo e a lógica mecanicista/racional, imperavam como 
pano de fundo da análise e explicação do urbano. 
Nestes passos introdutórios, preocupa-nos discutir a 
atenção conferida ao objecto de estudo identificado como 
Espaço Público Urbano (EPU) e, ao mesmo tempo, justificar essa 
escolha na justa medida em que configura ainda uma ruptura com 
os temas clássicos da geografia. O corte será ainda mais 
pronunciado quando se fizer alusão à diversidade de domínios 
que terão de ser implicados e que são ainda pouco comuns em 
estudos de natureza geográfica. 
Todavia, alguns artigos de âmbito geográfico escritos em 
Portugal, nos anos 90, continham já referências explícitas aos 
EPU (Gaspar, 1992; Abreu e Fonseca, 1995), mas a lógica sob a 
qual se abrigavam não permitia desmantelar o quadro social, 
económico e urbano que suscitou os problemas identificados. 
Persistia uma descrição dominantemente geográfica, com 
referências ténues e superficiais a condicionantes sociais, 
culturais ou ideológicas, resultando num quadro explicativo 
 [25] 
insuficiente e pouco indutor de uma produção científica a 
jusante. 
Com idêntico hermetismo o tema é também tratado noutros 
campos disciplinares, onde autores como Habermas (1962), 
Fortuna (1999a, 1999b), Arendt (2001), Bassand (2001), ou 
Teixeira (1998, 2001) entre outros, demonstraram as 
preocupações que afectam a cidade e os Espaços Públicos 
Urbanos em planos tão distintos como a sociedade, a 
arquitectura, a filosofia, a economia e o direito. A geografia 
mantém-se à margem desta discussão, negligenciando o 
contributo potencial que poderia conceber a partir da sua 
posição de charneira face às múltiplas dimensões urbanas. No 
entanto, merecem relevo os trabalhos de Valentine (1995, 1999) 
e Chintya Gorra-Gobin (2000, 2001), que utilizam os EPU como 
centro da análise para tratar temas como a insegurança, a 
política, o consumo e o género. 
Daí que se considere como uma excelente oportunidade a 
percepção de que os EPU podem constituir uma chave 
interessante para decifrar as transformações operadas, e ainda 
hoje e sempre activas, nos contextos urbanos ou 
metropolitanos. Esta será a matriz de referência, mas alerta-
se para a intensa probabilidade da análise e reflexão nos 
transportar para universos aparentemente distantes mas sempre, 
de um modo ou de outro, com ela relacionados. As dimensões 
tecnológica, social e cultural da concepção urbana afectam o 
uso e a centralidade tradicional dos EPU, tratando-se agora de 
medir as consequências múltiplas também deste processo de 
transferência de sociabilidades e, de certo modo, das novas 
formas de “produzir cidade”
3
. 
 
3 Não deixa de ser interessante a utilização desta frase que é hoje recorrente dos discursos 
político e técnicoe que remete para conceitos pré-formatados na intervenção urbana 
almejando com imodéstia oferecer espaços que contém a espessura histórica, cultural e 
socioeconómica da cidade tradicional. Esta preocupação incide não só sobre as estratégias 
 [26] 
Como em todos os processos de mudança em curso, a 
investigação corre sempre o risco de sair prejudicada por 
ainda não se vislumbrar a estabilização ou o final deste ciclo 
de incerteza, com resultados desfocados ou ainda não 
conhecidos na íntegra. Por outro lado, existem também 
vantagens a reter, de que sublinhamos a de investigar por 
antecipação, juntando e trabalhando as peças do puzzle 
disponibilizadas até agora, encontrando a justa posição dos 
EPU na cidade,não só numa perspectiva física mas igualmente no 
campo das representações individuais. 
 
1.2. Questionar os EPU ou os Múltiplos Campos da 
Urbanidade 
O desenvolvimento de uma temática como a dos EPU num 
documento académico desta natureza obriga a formular e 
sistematizar os resultados da reflexão feita previamente, 
formatados de modo a construir interrogações e até algumas 
hipóteses provisórias. Torna-se, assim, possível obter um 
quadro conceptual sólido e satisfatório para suportar e 
orientar as preocupações iniciais. Se já eram sentidas 
dificuldades de precisar o campo da geografia por oposição às 
demais disciplinas, essa dificuldade aumenta em idêntica 
proporção quando nos centramos em escalas crescentemente 
localizadas e até cirúrgicas, sendo, no limite, impossível 
proceder a essa distinção como, aliás, sucede com as outras 
disciplinas
4
. 
 
recentes de estetização da Cidade (PEIXOTO, 1998), como a EXPO’98, EURO2004 ou o 
programa Pólis, mas também sobre um urbanismo que é reflexo da densificação e da 
massificação suburbana. 
4 Veja-se o caso recente da sociologia espacialista “alimentada” por Isabel Guerra e Vítor Matias 
Ferreira e da economia do território ou antropologia do espaço, onde se sente intensamente a 
presença de Filomena Silvano. 
 [27] 
Com esta convicção é possível colocarmos as hipóteses de 
partida que configuram a presente investigação e as submeter a 
uma reflexão profunda com uma natureza holística e, por isso, 
sistémica e transversal a outras perspectivas da análise 
urbana. 
Apesar de, como já foi salientado, se defender o 
carácter total dos EPU não deixa de ser conveniente reportar 
estas hipóteses a quatro universos de referência procurando 
tornar mais claro o quadro de partida: 
 
Universo pós-moderno
5
 
► A manifestação da sociedade do conhecimento através da 
desmaterialização dos contactos subtraiu aos EPU mais 
uma das suas funções centrais: a da comunicação e 
publicitação da informação; 
► A imposição, pela competitividade urbana, de uma 
paisagem global por oposição à condição urbana local, 
capaz de seduzir o investimento, tem transformado a 
Cidade implicando a desvalorização dos traços urbanos 
tradicionais; 
► O EPU passa a participar do acréscimo de 
competitividade a diferentes escalas, justificando os 
esforços de higienização em meio urbano
6
, libertando 
as áreas disponíveis para o usufruto de utilizadores 
que sigam códigos precisos e maioritariamente aceites 
de comportamento e sociabilidade; 
 
5 O termo é substituído por outros consoante a perspectiva dos seus autores: 
sobremodernidade para Augé (1994), modernismo tardio para Giddens (1994), entre outras 
propostas. 
6 Realojamentos, salas de chuto, casas de prostituição, centros de acolhimento para imigrantes 
são iniciativas que para além do seu objectivo de conferir maior dignidade à existência de cada 
um dos segmentos da população a que reportam, não deixam de significar um acantonamento 
social e urbano, higienizando a Cidade. 
 [28] 
► Um dos elementos mais valorizados no período pós-
moderno talvez seja a experiência individual que, 
aliás, condicionou o uso dos modelos de natureza 
mecânica e linear ainda aplicados no campo cientifico. 
Nessa experiência foi convocada o elemento corporal 
como estratégia central para o uso do espaço 
(Gonçalves, 2002). Os EPU e a sua utilização estão a 
sofrer perturbações significativas com as disfunções 
associadas ao culto do corpo, insegurança, consumo. 
 
Universo do Ambiente Urbano 
► A qualidade do espaço urbano tem caminhado para 
encarar o ambiente urbano como um instrumento eficaz 
de construção da sempre perseguida sustentabilidade 
que, segundo Rodrigues (2002;16), corresponde “a um 
metabolismo circular por oposição ao metabolismo 
linear”, materializada nos grandes parques verdes 
urbanos ou no tratamento das zonas ribeirinhas ou 
ainda, noutra escala, nos corredores verdes 
metropolitanos. Os grandes projectos, consumidores de 
investimentos, recursos materiais e humanos, ganham 
protagonismo e são desvalorizados os EPU de 
proximidade, de pequena escala ou, se se quiser, de 
vizinhança; 
► O papel dos EPU, apesar destas mudanças, ainda é 
relevante na moldagem do espaço e silhueta urbana, na 
certeza de que a persistência desse estatuto decorre 
da presença de utilizadores assíduos e diversificados 
que vão fomentando as inter-relações; 
► A natureza complexa e dispersa dos EPU obriga a 
convocar outros olhares disciplinares que, para além 
da sua visão mais sectorial, fornecem contributos 
valiosos, pertinentes e actuais, para formalizar uma 
 [29] 
ideia mais precisa e, em simultâneo, mais próxima dos 
fundamentos do objecto de análise; 
► A Cidade apresenta uma relação nem sempre pacífica e 
nem sempre clara com os espaços públicos, pois se em 
alguns períodos históricos essa presença é valorizada 
noutros é remetida para posições marginais ou mesmo 
apagada
7
. A esta discussão acresce o facto de os EPU 
persistirem no centro ou em localizações privilegiadas 
nos tecidos urbanos, não permitindo directamente 
concluir por qualquer forma de apropriação social, 
política ou económica ou por uma valorização 
concretizada no uso
8
; 
► Os EPU constituem uma razoável síntese da dinâmica 
socioeconómica que afecta a Cidade e, por tal, 
assumem-se como um barómetro que é importante saber 
descodificar na sua complexidade como metáfora do 
estádio de desenvolvimento de cada comunidade. 
 
Universo da Sociabilidade 
► A transformação da Cidade como o produto de um 
conjunto alargado de domínios e de relações complexas 
associadas à globalização e à individualização obrigou 
 
7 Aristóteles (1977) no Tratado da Política deixa clara a importância do arranjo interior da 
Cidade: “É conveniente que abaixo desta fortaleza haja, como na Tessália, um lugar livre para se poder 
passear, onde se não efectue nenhum mercado e onde não se admitam nem trabalhadores, nem artistas nem 
outras pessoas semelhantes, a não ser que sejam chamados pelos magistrados(...). O mercado deve ser 
separado deste lugar, numa situação cómoda, para que a ele possam chegar com facilidade os produtos 
provenientes donde quer que seja, por terra e por mar.” (p.71). Distingue-se a praça do mercado em 
que o primeiro é vazio e livre e o outro é o centro das trocas e transacções. Não deixa de ser 
curioso a proximidade com o que se verificava ainda no século XX, em Lisboa, em que o 
Rossio era a praça e a Praça da Figueira o Mercado. O urbanismo dos espaços periféricos, que 
no caso português podemos exemplificar com as Áreas Urbanas de Génese Ilegal ou as Ilhas-
Subúrbio, faz desaparecer os espaços de encontro e de sociabilidade como resposta a exigências 
dominantes de rentabilidade do uso do solo. 
8 Poderá comprovar-se a partir da relação, p.e., que os lisboetas estabelecem com o Parque 
Eduardo VII ou Monsanto. 
 [30] 
a repensar os problemas urbanos de modo diverso ao que 
sucedeu numperíodo anterior como foi a fase 
modernista. Em lugar de destaque surgem as questões do 
uso e apropriação do espaço público urbano tal como os 
concebemos hoje; 
► A concepção dos EPU atendendo à alteração estrutural 
quer do urbanismo quer das comunidades instaladas, 
clama por diversas culturas profissionais e 
científicas visando uma reconstrução do espaço público 
que responda às exigências e expectativas actuais 
mesmo que em condições muito limitadas; 
► A revolução operada nos domínios tecnológicos e da 
transferência de informação, dominantemente 
bidireccional, permite criar espaços públicos de 
discussão fora do contexto territorial, acessíveis a 
um número crescente de utilizadores até porque as 
possibilidades de exploração destes novos meios não 
param de ampliar-se
9
 e aperfeiçoar-se
10
. 
 
Universo de Representação 
► Desde sempre as cidades reconhecem e reconhecem-se nos 
espaços públicos que, no entanto, vão variando em 
função das sociedades em presença (Àgora grega, Fórum 
romano, Adro da igreja, Largo da feira, Rossio, ...). 
Num contexto de crise urbana como é que a cidade 
utiliza o EPU para se redefinir ou, por outras 
palavras, como conferir a estes lugares uma carga 
 
9 Por exemplo, nos meios escolares ou no plano do “Ele procura Ela” a utilização dos SMS ou 
do software tipo Messenger que permite a comunicação em tempo real e a baixo custo ganhou 
uma expressão que impressiona pela sua generalização e facilidade de utilização. Se se pensar 
como estas vias implicam a substituição dos espaços físicos tradicionalmente utilizados, 
percebe-se como os EPU estão à margem dos actuais processos de comunicação e socialização. 
10 A tecnologia UMTS que permite o uso de telemóveis com câmra instalada e em que os 
interlocutores se podem ver em tempo real e a utilização das câmaras web no Messenger 
prolonga a erosão funcional dos EPU simulando os contaftos “olhos nos olhos”. 
 [31] 
simbólica fundamental para a (re)construção do 
sentimento identitário?; 
► A emergência de novos “sentimentos urbanos colectivos” 
ou, dito de outro modo, de novas representações da 
cidade e da vida urbana, tem gerado novas tipologias 
de EPU que colocam em causa os fundamentos de direito 
público em que assentavam os tradicionais. Ganham 
expressão termos como “não-lugares” no dizer de Augé 
(1994) ou a privatização do espaço público como 
assinala Lúcio in Moreno (2001); 
► Para além do futuro, mantêm-se as preocupações com a 
memória, sendo esta o garante para o reforço da 
identidade urbana e o cimento para as novas formações 
sociais em desenvolvimento; 
► A possibilidade de uma maior mobilidade de pessoas e 
ideias conduz a uma acentuada fragmentação de 
territórios habitados por minorias carentes de 
referências e espaços simbólicos, surgindo os espaços 
étnicos, alternativos, nacionalistas, etc., com 
dificuldade de conexão aos restantes segmentos 
urbanos. 
 
1.3. Quadro conceptual e metodológico 
1.3.1. Objectivos 
As hipóteses levantadas em 1.2. procedem a um tratamento 
alargado das áreas em que os EPU interferem e, 
complementarmente, são consequência, no tempo presente, da 
realidade de cidades portuguesas, com uma expressão 
demográfica e económica que as aproximam das dinâmicas nas 
áreas metropolitanas e sedes de distrito, sem olvidar aquelas 
que tenham manifestado recentes desenvolvimentos à custa de 
 [32] 
dinâmicas económicas ou outras razões (universidade, saúde, 
investigação, desporto, ...). 
Para além disso, as hipóteses de trabalho permitem 
estabelecer o leque das preocupações que, na generalidade, se 
colocam às cidades, convergindo quase todas para a convicção 
de que estão a mudar mas cuja forma final ainda se encontra 
longe de poder ser determinada. Os EPU constituem, assim, uma 
oportunidade para encontrar novas pistas sobre: 
► O estado das cidades, no que respeita à sua 
estrutura física e das realizações materiais. Da 
sua concretização resultam múltiplos impactes na 
estrutura urbana (distribuição das vocações e áreas 
imprescindíveis ao funcionamento da cidade, 
protagonismo ou desvalorização de determinados 
elementos de composição urbana, ...); 
► A composição e funcionamento das comunidades 
urbanas que, mais uma vez, interferem e são 
condicionadas pela estrutura urbana. Opulência 
cultural, diversidade étnica-religiosa-cultural, 
ampliação da sedução exercida pelo consumo apoiada 
em mecanismos de pressão social (como tão bem tem 
sido tratado por Jean Baudriallard) explicam a 
densificação e diversidade nos espaços colectivos 
privados encontrando aqui parte da sua 
justificação, a par das razões políticas e 
económicas; 
► A dimensão económica e política é ainda hoje um 
sustentáculo seguro do fenómeno urbano, pelo que 
muito do que se passa na cidade deve ser 
interpretado à luz das respectivas estratégias. Da 
alteração das estruturas urbanas às transformações 
sociais e tecnológicas, foi sempre possível, ao 
 [33] 
investimento e à intervenção política, encontrar 
fórmulas capazes de as reverter em proveito 
próprio, explorando os desejos, expectativas, as 
inseguranças e incertezas. O desenho arquitectónico 
e urbano pode também ser interpretado à luz destes 
princípios bem como o estímulo do recurso às 
tecnologias e demais formas de comunicação. 
 
Com estas hipóteses e preocupações parece pertinente tomar 
os espaços públicos urbanos como indicador credível destas 
mudanças. A sua leitura deverá ser feita numa perspectiva 
orientada para a dimensão urbanística embora, como se 
observará adiante, não seja possível dissociá-la de muitos 
outros campos que se associam directa ou indirectamente à 
ideia de urbanidade. 
Os objectivos da tese não se conformam assim com o papel 
que os EPU têm enquanto chave de leitura das mudanças operadas 
e ainda activas na cidade, procurando ir mais longe na 
identificação do sentido e da justificação dos sentimentos 
reais dos utilizadores da cidade, desconstruindo convicções 
que poderão apenas estar no plano das representações 
individuais e não no campo das práticas colectivas. 
A cidade somos nós, paredes e pessoas, ruas e edifícios, 
espaços fechados e espaços públicos. Mas a polis, de onde 
derivam em simultâneo, as palavras política e cidade, livre e 
democrática, exige o encontro, a troca, a partilha, a 
discussão e a celebração. Questionar o estado destes 
princípios fundamentais é um objectivo central desta tese. 
 
 
 
 [34] 
1.3.2. Defender uma tese ou teses? 
Em concreto, tendo presente as hipóteses de partida e os 
objectivos enunciados, qualquer tese que daqui resulte deve 
tratar, neste caso, os espaços públicos, a sua ocorrência, 
distribuição, utilização e papel no funcionamento do organismo 
urbano. O que é preciso também assegurar é que a consideração 
de todos estes aspectos permita chegar a conclusões bem mais 
ricas e distantes do objecto inicial. 
Talvez não seja descabido explicar esta preocupação a 
partir de uma metáfora referente a um elemento urbano e, para 
ser mais preciso, a um traço particular dos espaços públicos 
urbanos: alguém disse, um dia, que pela altura dos passeios 
das vias urbanas se podia concluir pelo grau de 
desenvolvimento democrático que marcava um território ou 
comunidade urbana. Dizia o mesmo personagem, de que 
infelizmente não se reteve o nome nem a origem, que a 
inexistência de diferenças altimétricas entre a rua e o 
passeio significa que ambos os utilizadores se respeitam 
mutuamente, conhecendo os limites dos respectivos direitos e 
deveres, condicionados pelos dos restantes. Assim, para que o 
sistema funcione basta uma simples demarcação ou a utilização 
de texturas ou cores que permitam estabelecer táctil ou 
visualmente os dois territórios. Porém, não deixa de ser 
interessante olhar de forma invertida para o exemplo acabado 
de descrever.Mais exactamente para a realidade onde não só o 
passeio tem um desnivelamento acentuado em relação ao plano da 
rua como é reforçado através da colocação de barreiras que 
impeçam, em definitivo, a invasão dos passeios pelos 
automóveis. 
Não é, concerteza, difícil de reconhecer de imediato 
cidades onde é recorrente esta última imagem. Lisboa, onde nos 
iremos deter sempre que possível é um desses exemplos. 
Todavia, tem mais pormenores que interessa recordar, como é o 
 [35] 
caso de diversos obstáculos ao longo destes canais e de muitos 
atravessamentos onde não existem ainda desníveis adequados 
para cidadãos com mobilidade reduzida, cadeiras de rodas, 
carrinhos de bebé, etc. 
Fotografia 1 - A altura dos Passeios: baixo num lado e alto no 
outro (Cruzamento da Av. da República com a Av. de Berna) 
 
Ao limite dos passeios, já altos, foram acrescentados em 
muitos locais os célebres “frades” ou pilaretes, que Câmara e 
freguesias exibem com orgulho nos respectivos boletins de 
imprensa, para balizarem a fronteira das vias de circulação 
automóvel. Definitivo? Não, pois outra das imagens do 
quotidiano também poderia ser “a queda” destes objectos por 
automóveis mais possantes ou condutores menos convencidos da 
sua robustez e eficácia. 
Fotografia 2 - Campo Pequeno. As novas muralhas da cidade(1) 
 
 
 [36] 
Fotografia 3 - Calçada do Combro. As novas muralhas da 
cidade(2) 
 
 
 
Finalmente, cumpre ainda dizer, antes de chegar ao 
corolário desta metáfora, que, mesmo no interior de cada uma 
das vias (pedonais e rodoviárias), é possível identificar 
sinais da fraca qualidade de democracia. Na estrada é 
desnecessário relembrar o que se passa, mas nos passeios, a 
célebre calçada portuguesa, talvez seja bom enumerar as 
questões mais graves: 
► irregularidade que lhe está associada, por 
características próprias (ausência de 
paralelepípedos, desníveis sucessivos, reduzida 
largura) ou introduzidas (pelas permanentes “obras 
na via pública”); 
► presença de elementos de mobiliário urbano 
agressivos na ocupação do espaço diminuto (mupis, 
candeeiros, ecopontos); 
► estacionamento anárquico; 
http://www.fotopt.net/foto.asp?foto=124132&primeira=143910&tema=&tipo=busca_sqlw&id=dados&num=4
http://www.fotopt.net/foto.asp?foto=124132&primeira=143910&tema=&tipo=busca_sqlw&id=dados&num=4
 [37] 
► contentores de resíduos sólidos urbanos, em 
especial nos edifícios mais antigos, sem condições 
para os integrar no seu interior; 
► paragens de autocarro predadoras do espaço público. 
 
 O conjunto destas realidades traduz-se em dificuldades 
acrescidas para o cidadão, mas em especial para deficientes e 
crianças e impeditivo de uso mais generalizado para 
modalidades recreativo/desportivas individuais (patins em 
linha, skate, bicicleta). 
Esta reflexão serve para demonstrar as implicações, 
materiais e imateriais, que um simples facto do quotidiano 
urbano ajuda a revelar e a descodificar. 
Para a tese que aqui se apresenta esta lógica é 
fundamental, já que é a partir dos Espaços Públicos Urbanos 
que se pretende fazer, não tanto a sua descrição física mas, 
sobretudo, perceber o uso e as concepções sobre eles 
formuladas pelos cidadãos de Lisboa em particular e que se 
pensa poder generalizar a outros casos da realidade 
portuguesa. 
Em todo o caso, existem já convicções que podem ser 
traduzidas em teses e ajudar, então, a estruturar todo o 
trabalho que a seguir se apresenta permitindo validá-las (ou 
não!). Relembra-se que foram as hipóteses de partida que 
abriram caminho para a reflexão em torno das teses que agora 
se apresentam. 
 
 [38] 
► Tese 1 – Os Espaços Públicos Urbanos11 não têm o 
mesmo significado para todos os actores urbanos. 
Isto é especialmente verdade quando se segmentam 
por traços individuais ou profissionais. No 
primeiro caso, idosos e crianças, homens e 
 
11
 Apresenta-se, desde já, um pequeno glossário para apoiar o acompanhamento do texto: 
Alameda – Canal destinado à circulação, integrando a estrutura verde urbana, coexistindo funções de 
estar, recreio e lazer. É uma tipologia urbana que, devido ao seu traçado uniforme, à sua extensão e ao 
seu perfil franco, se destaca da malha urbana onde se insere. Elementos nobres do território, as 
alamedas combinam. Assim, equilibradamente duas funções distintas: articulação entre áreas urbanas; 
importantes funções de estadia, recreio e lazer. 
 Avenida – Parecido com a alameda mas com menor destaque para a componente verde, ainda que a 
contenha. O traçado é uniforme, a sua extensão e perfil francos (ainda que menores que os das 
alamedas). A avenida poderá reunir maior número e/ou diversidade de funções urbanas que a alameda, 
tais como comércio e serviços, em detrimento das funções de estadia, recreio e lazer. 
Rua – Via de circulação pedonal e/ou viária, ladeada por edifícios quando em meio urbano. Poderá 
apresentar uma estrutura verde, o seu traçado poderá não ser uniforme bem como o seu perfil e poderá 
incluir no seu percurso outros elementos urbanos de outra ordem – praças, largos, etc. – sem que tal 
comprometa a sua identidade. Hierarquicamente inferior à avenida, poderá reunir diversas funções. 
Calçada – Caminho ou rua empedrada geralmente muito inclinada. 
Ladeira – Caminho ou rua muito inclinada. 
Azinhaga – Caminho de largura reduzida, aberto entre valados ou muros altos. Tipologia urbana 
geralmente associada a meios urbanos consolidados, de estrutura orgânica e grande densidade de 
ocupação do solo. 
Praça – Espaço público largo e espaçoso de forma regular, confinado por edificações. Em regra as 
praças constituem centralidades de diversas escalas, concentrando funções de carácter público, 
comércio e serviços. Podem ter uma componente mais mineralizada ou vegetal. 
Praceta – Espaço público com origem num alargamento de via ou resultante de um impasse. 
Geralmente associado à função habitar, podendo também reunir funções comerciais ou de 
serviços. 
Largo – Terreiro ou praça sem forma definida nem rigor de desenho urbano ou que, apesar de 
possuir estas características, não constitui intensa centralidade, reunindo oucas funções para 
além da habitação. Os largos são muitas vezes espaços residuais resultantes do encontro de 
várias malhas urbanas diferentes, de forma irregular, e que não se assumem como elementos 
estruturantes do espaço. 
Parque – Espaço verde público, de grande dimensão, destinado ao uso indiferenciado de uma 
população de um lugar, cidade ou até concelho. Espaço informal com funções de recreio e 
lazer, podendo ser vedado e preferencialmente fazendo parte de uma estrutura verde mais 
vasta. 
Jardim – Espaço verde urbano e público, com funções de recreio e bem-estar das populações 
residentes nas proximidades. Deve ser facilitado o seu acesso pedonal. Faz parte de uma 
estrutura verde urbana mais vasta. 
Rotunda – Praça ou largo de forma circular devido à tipologia da sua estrutura viária – em 
rotunda. Rótula de articulação das várias estruturas de um lugar, muitas vezes de valor 
hierárquico diferente, que não apresenta ocupação urbana na sua envolvente imediata. 
(Adpatado de vários regulamentos toponímicos – Porto, Braga, Guimarães). 
 [39] 
mulheres, por exemplo, posicionam-se de forma 
diferenciada sobre este objecto levantando 
legítimas dúvidas acerca do real significado das 
referências aos EPU. Da mesma forma, os campos 
disciplinares referem-se ao tema de acordo com 
metodologias e abordagens específicas, agravando as 
condições de análise e sobretudo a qualidade da 
intervenção física, mesmo quando se trata de 
pequenos espaços, ditos de proximidade
12
; 
 
► Tese 2 – No discurso é comum ficar destacada a 
centralidade dos EPU quer para a cidade quer para a 
qualidade de vida dos cidadãos. Todavia, os saltos 
tecnológicos envolvendo novas e inovadoras formas 
de comunicar à distância, diminuindo o contacto 
directo mas,ao mesmo tempo, multiplicando as 
interacções e prolongando-as por mais tempo, 
levantam mais um desafio ao papel que 
tradiconalemtne era desempenhado pelos EPU. Contra 
a convicção da indispensabilidade dos EPU está 
também um leque imenso de aspectos que são 
tradicionalmente visto como desagradáveis ou 
desvantajosos e que podem ser, de forma resumida, 
apresentados como: 
● Higiene (Dejectos, lixos, sujidade, ...); 
● Segurança (problemas de iluminação, acessos, 
vegetação densa, qualidade do piso, ...); 
 
12 Na entrevista à responsável dos EPU da Câmara Municipal de Lisboa surgiu uma das muitas 
histórias centradas nos temas e que respeita a uma pequena intervenção feita num espaço 
público junto ao Cemitério do Alto de S. João (Rua Morais Soares) ao abrigo da qual foram 
colocados alguns ciprestes. Dias após a conclusão da obra os ciprestes foram cortados 
acompanhados de mensagens onde se podiam ler “em espaços de vivos não se colocam árvores 
de mortos”. 
 [40] 
● “Indesejáveis”(sem-abrigo, toxicodependentes, 
mendicidade, prostituição, grupos de jovens 
violentos ou mesmo a apropriação do EPU por 
indivíduos muito marcados numa perspectiva 
cultural, étnica ou religiosa); 
● Comodidade (mobiliário urbano, valências, 
sombras, serviços de apoio como WC e 
bebedouros); 
● Articulação de competências (em alguns espaços 
são as juntas que procedem à sua manutenção, 
noutros é a Câmara Municipal ou empresas 
contratadas para o efeito, mas já a remoção 
de lixos é sempre feita pela Câmara assim 
como a iluminação, entre outros aspectos. A 
má compatibilização destas competências pode 
fazer que um esforço de qualificação em 
qualquer um destes domínios fique diminuída 
por não ser acompanhada de igual atenção nos 
outros); 
● Sedução pelos Espaços Colectivos 
(multiplicação dos espaços de vocação 
comercial mas com roupagem de espaços 
públicos – ruas, largos praças, toponímia, 
jogos de água, ...); 
● Ausência (o urbanismo moderno apresenta menor 
densidade de pequenos espaços tradicionais 
destinados ao usufruto público); 
● Animação (eventos vários que gerem atracção e 
encontros). 
 
 [41] 
Fotografia 4 - Ateliê de Olaria no anfiteatro de ar livre da 
Culturgeste (Maio de 2004, Sábado, 16:00) 
 
 
Tudo conjugado resulta num afastamento entre a 
prática e a representação no que respeita à postura 
dos cidadãos face à importância dos Espaços Públicos 
Urbanos. 
 
► Tese 3 – O apagamento dos EPU tem sido um facto no 
urbanismo contemporâneo, não só pelas razões 
invocadas nas teses 1 e 2 mas também por acções 
concertadas visíveis no campo político e técnico. 
Defende-se que é a elevada frequência dos EPU que 
estimula o uso da cidade, a aceitação das 
diferenças, a aprendizagem do viver social. Num 
contexto em que é vulgar encontrar jovens e adultos 
que podem ter quotidianos onde não pisam a rua ou 
qualquer outra forma de espaço público, era de 
esperar um acréscimo de sedução por estes espaços. O 
que se verifica é um desinvestimento nos pequenos, 
jardins, largos e pracetas e um reforço das 
intervenções em parques verdes urbanos ou corredores 
ecológicos metropolitanos. 
 [42] 
 
Fotografia 5 - Pequeno jardim, Bairro do Arco do Cego 
 
 
É exactamente aqui que as dimensões política e 
técnica se encontram. Isto é, os responsáveis pela 
gestão urbana (sobretudo os políticos mas também 
alguns técnicos com destaque para os arquitectos 
paisagistas) preferem criar EPU de grande expressão 
espacial, em localizações privilegiadas, recheados 
de equipamentos desportivos, ambientais, educativos, 
etc., muitas vezes à sombra de programas com 
componentes urbanísticas (Programa Pólis, Programa 
de Requalificação de Áreas Urbanas Degradadas, 
Programa de Requalificação de Áreas Suburbanas da 
AML Programa de Reabilitação Urbana, etc.). 
Invariavelmente procura-se que estes novos EPU 
acarretem ganhos de visibilidade para a respectiva 
acção política. Mas estes novos espaços são 
predadores de recursos financeiros e humanos que 
remetem a rede intersticial dos Espaços Públicos 
Urbanos para um plano secundário, sem estratégia e 
sem futuro. 
 [43] 
O paisagismo, cujo protagonismo na gestão dos 
espaços naturais em meio urbano tem vindo a ganhar 
notável reconhecimento, não só pela acção mediática 
de alguns dos seus técnicos mais carismáticos
13
 e 
apoio dos media, como pelo suporte técnico que assim 
dá às estratégias políticas, suporta parte 
substancial das mudanças, sobretudo de escala, 
operadas na abordagem aos espaços públicos. Termos 
como sistemas naturais, corredores urbanos, rede 
ecológica metropolitana, entraram no léxico 
urbanístico, mas com implicações negativas na 
promoção do quotidiano próximo dos contactos, do 
viver a cidade, do conciliar das obrigações diárias 
com a possibilidade de uso dos espaços de 
descompressão como poderiam ser os EPU de 
proximidade. 
 
Este conjunto de teses que combinam a postura dos 
cidadãos, responsáveis políticos e técnicos, convergem para a 
busca do lugar dos Espaços Públicos Urbanos na reconfiguração 
física e social da cidade. 
A figura 1 procura resumir e sistematizar a descrição 
metodológica feita ao longo do capítulo 1. 
 
 
 
 
 
 
13 É inevitável sublinhar (como se fosse necessário) o papel do Arquitecto Gonçalo Ribeiro 
Teles e de uma conjunto de discípulos (Arquitecta Paisagista Manuela Raposo de Magalhães, 
Prof. Drª Teresa Pinto Correia, Arquitecta Paisagista Graça Saraiva, ...) que não se cansam de 
repetir, em Conferências, Encontros científicos e em obras consagradas ao tema, as vantagens 
e a necessidade do planeamento dos espaços naturais em larga escala. 
 [44] 
Figura 2 - Síntese da estrutura metodológica e conceptual 
 
 
1.3.3. Sequência metodológica 
A tradução das preocupações acima expressadas fica 
reflectida na estruturação do corpo principal deste trabalho 
onde, de forma progressiva, se avança de um tratamento da 
realidade sociocultural e urbana para um plano que se vai 
centrando nos Espaços Públicos Urbanos. Essa análise abriga-se 
no ponto 2 – Elementos de uma crise anunciada-cobrindo uma 
Composição e
funcionamento das
Comunidades
Urbanas
Dimensão
Económica e
Política
Estado físico
da cidade
Distância entre
discurso e
prática do
cidadão comum
Apagamento físico
dos EPU no
Urbanismo
Contemporâneo
Pós-Moderno
Ambiente
Urbano
Sociabilidade Representação
Os Espaços Públicos Urbanos
na recomposição física e social da Cidade
Os EPU não são
entendidos da
mesma forma
(gestor, técnico,
cidadão)
 [45] 
teia de aspectos correlacionados, ainda que indirectamente, 
com o objecto de estudo. 
A localização começa a surgir a partir do ponto 3 – No 
campo do actor e do seu cenário - onde se descrevem as 
motivações dos utilizadores da cidade e as expectativas que 
nela depositam. No ponto 4 a concretização torna-se mais fina, 
de maneira a fixar as especificidades dos campos disciplinares 
no entendimento e intervenção sobre os EPU. O capítulo 5 faz a 
abordagem do percurso histórico, tratando as principais etapas 
do fenómeno urbano cruzadas com as características dos EPU. 
Como esta história acaba no nosso tempo, joga directamente com 
os trabalhos de campo e a avaliação da postura do cidadão face 
à problemática, cuja análise dos resultados surge no capítulo 
6. É, finalmente, tempo de conclusões no capítulo 7. 
Esta sequência metodológica pode sistematizar-se em duas 
partes complementares: 
► Avaliação do estado da arte, onde as leituras, as 
reflexões pessoais e o levantamento empírico 
tiveram um papel central e decisivo. Corresponde a 
uma parte substancial da tese pela necessidade de 
consolidar ideias e conceitos; 
► Averiguação da realidade, onde o recurso ao caso 
nacional e, em particular, a Lisboa, foi a âncora 
para a validaçãoda reflexão inicial. Daí que tenha 
segmentado-se em três partes: 
● Uso do tempo, partindo do princípio que a 
expansão urbana, as migrações casa-trabalho 
e casa-escola, as obrigações quotidianas, a 
sedução por múltiplas actividades, não 
deixam grandes oportunidades para 
frequentar os EPU. A base foi um processo 
 [46] 
de inquirição recente do Instituto Nacional 
de Estatística à ocupação do tempo; 
● Entrevistas, realizadas a indivíduos com 
aproximações diferenciadas aos EPU 
resultantes de experiências disciplinares e 
de terreno específicas, permitindo 
identificar as principais divergências 
entre si e por essa via os respectivos 
olhares sobre os EPU; 
● Inquéritos, onde, através de um processo 
alargado de inquirição aos cidadãos de 
Lisboa, se procurou conhecer e validar 
parte da apreciação feita na primeira 
dimensão da metodologia com destaque para 
as teses de trabalho. A selecção de Lisboa 
como base para o trabalho empírico encontra 
justificação no seu estádio de maior 
desenvolvimento urbano, pelo que se 
considera que seria aqui que se poderia 
observar com maior rigor e clareza os 
sinais de mudança bem como os traços mais 
consolidados de caracterização dos EPU. Mas 
Lisboa e os seus espaços públicos merecerão 
um tratamento mais alargado imediatamente 
antes da apresentação dos resultados do 
inquérito aos utilizadores da cidade. 
 
 
 
 
 
 [47] 
2. Elementos de uma crise anunciada 
2.1. Introdução 
A cidade vibra e expõe-se pelo que se passa nos espaços 
exteriores, e não nos interiores, sendo que aqueles estão 
agregados, no essencial, no que se pode designar por esfera 
pública
14
. As cidades dispõem de territórios diferentes 
marcados por percursos históricos e culturais singulares, 
reflectindo-se estes trajectos em espaços públicos únicos e 
com formas originais de apropriação e, finalmente, por 
agregação, em cidades de personalidade vincada. 
Sinais dessa mudança estão hoje, mais que nunca, 
visíveis nos espaços urbanos deixados livres, voluntária ou 
involuntariamente, pela transformação urbana. Desde a 
configuração até às suas formas de utilização, passando pela 
animação, mobiliário e equipamentos, muito tem mudado nas 
fórmulas de intervenção sobre os espaços públicos urbanos. Mas 
os resultados nem sempre têm sido concordantes com os 
objectivos perseguidos, quer porque não se regista uma maior 
procura daqueles espaços, quer porque existem distorções nos 
modos de apropriação exibidos pelos diferentes grupos de 
utilizadores. 
As transformações societárias têm-se revelado como as 
marcas mais profundas, interessantes e inesperadas ocorridas 
no mundo ocidental
15
. Como propulsores principais destas 
mudanças (que em determinados casos e momentos se aproximam de 
verdadeiras mutações atendendo ao seu carácter global e 
radical) surge o progresso tecnológico, reflectido na 
 
14 Na acepção que lhe deu Habermas (1978). 
15 Veja-se a título de exemplo, a obra de Giddens (p.e.1992, 1994) no campo da Sociologia ou 
de Howbsbawm (p.e. 1994) na História. 
 [48] 
revolução operada nas comunicações (rapidez, qualidade e 
versatilidade) e nas alterações ao modelo económico vigente
16
. 
Os impactes da nova tecnologia e de contextos económicos 
emergentes fizeram-se sentir não só nos respectivos campos 
específicos como também introduziram perturbações colaterais, 
quer na morfologia social quer urbana. 
Por isso, a cidade nunca deixou de espelhar o estado da 
sociedade, com a particularidade de ir fixando no tempo esses 
vários momentos históricos. Como exemplo maior dessa 
impregnação histórica surge o centro da cidade - o seu local 
mais importante nem que seja por ser ainda o centro simbólico 
- apresentando uma densidade significativa de marcas dum 
percurso rico por razões históricas, funcionais e de 
acessibilidade. Ora a actual perda de dinamismo do centro 
urbano, verificada em muitas cidades, pode ser avaliada, 
designadamente, pela observação das características dos 
espaços públicos aí existentes e dos seus utilizadores, e 
podem ser ensaiadas leituras sobre as transformações que 
conduziram a um progressivo alheamento da presença de outros 
utilizadores destes espaços. 
Nas linhas que se seguem procura fazer-se uma pequena 
paragem na vertigem de transformação urbana que afecta as 
cidades europeias (e a cidade de Lisboa com uma intensidade 
particular) detendo-se na temática dos espaços públicos 
enquanto símbolo duma urbanidade de memórias e identidades e, 
ainda hoje, instrumento territorial para a construção da 
personalidade urbana. Deixa-se, para já, em suspenso a 
consideração relativa aos EPU como instrumentos de promoção 
urbana e competitividade entre cidades. 
Perceber de que forma é afectada pelos processos em 
curso e que estratégias foram sendo encontradas para a criação 
 
16 Cf. Virilio (1993, 1997, 2000), Asher (1998) e Gofman (1993). 
 [49] 
e sobrevivência dos espaços de relação tem sido um objectivo 
central na política de gestão da Cidade, de modo a evitar uma 
excessiva perda de animação de rua, consequente interiorização 
da vida pública e emergência de fenómenos de marginalidade. 
Os espaços públicos são, por definição teórica, 
territórios de partilha colectiva, cuja apropriação não pode 
ser exercida por ninguém em particular (indivíduos, grupos de 
indivíduos, empresas). A elencagem dos elementos duma 
tipologia de espaços públicos resultaria extensa e 
heterogénea, pois inclui jardins e calçadas, largos e 
alamedas, parques urbanos e espaços residuais entre 
urbanizações, parques infantis, entre outros, que não 
interessa referenciar neste ponto pelo seu estatuto 
crescentemente especializado. Cada um deles possui uma oferta 
ajustada a interesses específicos dos utilizadores, a sua 
razão de ser fundamental. 
Estes aão os espaços-problemática, mas a discussão deve 
sobretudo centrar-se na sua quantidade, qualidade, 
funcionalidade e ocupação, de modo a identificar os pilares 
nucleares que expliquem o seu funcionamento e sucesso, ou o 
inverso. Os espaços públicos urbanos, numa visão de interesse 
geral, constituem elementos de desenho urbano decisivos para a 
produção de cidade, na medida em que é aí que se manifesta a 
vida e animação urbana e onde se processa grande parte da 
socialização dos utilizadores. 
A lógica produtivista do espaço urbano, comandada por 
interesses privados e regulada pela Administração Central e 
Local, tem progressivamente remetido para segundo plano os 
espaços de convivialidade e relação, enfatizando os espaços 
construídos
17
. Este facto, visível na escassez de EPU nas 
 
17 Todavia, os anos 90 vieram mostrar uma nova dinâmica associada aos poderes públicos ao 
promoverem o imobiliário por via da comemoração de grandes eventos culturais, desportivos, 
ou outro (Exposições universais, mundiais, Jogos Olímpicos, Campeonatos de Futebol, Taça 
 [50] 
novas realizações urbanas, insere-se um processo mais vasto e 
complexo de produção de cidade, convivendo de perto com o 
aumento da velocidade das deslocações (ligadas aos novos eixos 
viários urbanos), a multiplicação das novas centralidades e a 
insegurança dos residentes, entre outros traços do quotidiano 
urbano actual. 
 
Fotografia 6 a, b, c – O cresimento das periferias e EPU 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mas a esta redução, fácil de contabilizar através da 
quantificação de áreas, corresponde uma qualificação dos 
existentes? As estratégias adoptadas para contornar as 
crescentes dificuldades na criação de EPU parecem situar-se em 
planos distintos: 
► Retoma de projectos históricos e contrapartidas pela 
realização dos projectos imobiliários permitindo a criação de 
grandes espaços verdes (parques verdes urbanos, corredores 
ecológicos, etc.)com equipamento desportivo e lúdico; 
► Qualificação dos espaços públicos existentes, da 
responsabilidade directa da Câmara Municipal, das Juntas de 
Freguesia ou de empresas em troca de outros benefícios; 
► Criação de novos EPU incaracterísticos e apenas de 
fruição visual, como sejam as rotundas que a uma função 
 
América, ...). Ainda no plano dos EPU devem reter-se as intervenções ao abrigo de programas 
comunitários ou outros específicos (Urban, PRU,...). 
 [51] 
rodoviária e urbana associam muitas vezes intervenções 
artísticas com o emigrante, o soldado, o bombeiro; 
► A acessibilidade. Não podendo encontrar-se 
indiscriminadamente junto às residências, exige deslocações 
motorizadas, em muitos casos morosas e custosas e, por 
arrastamento, provoca a selectividade da procura; 
► A segurança. Estes espaços tendem a ter uma 
apropriação informal e marginal por grupos específicos. 
Constroem-se territórios de identidades delimitados por uma 
semiologia apreendida facilmente, cujos signos se afirmam com 
maior intensidade quando surgem “intrusos”, criando graduais 
sentimentos de insegurança e instabilidade psicológica capazes 
de desmobilizar futuras deslocações. Nascem, então, os espaços 
repulsivos no mapa mental dos residentes urbanos a partir da 
experimentação de situações vividas ou relatadas
18
. 
 
A segunda estratégia, pela sua capilaridade no espaço 
urbano, apresenta-se muito mais visível aos utilizadores da 
cidade. No fundamental encara-se estes espaços como locais 
óptimos para reanimar a vida pública, voltando a protagonizar 
um papel de socialização. 
Nesta linha, constata-se que as intervenções para a 
requalificação dos espaços públicos na cidade têm sido uma 
preocupação e mereceram cuidados que privilegiam: 
► o mobiliário urbano (mesas, cadeiras, iluminação, 
recipientes de resíduos sólidos, suportes 
publicitários); 
 
18 A este propósito cf. Gonçalves e Magalhães (2001), onde se analisa os domínios espaciais e 
os protagonistas dos mitos e rumores urbanos. 
 [52] 
► o conforto, protecção e segurança (piso, separador 
das vias urbanas, natureza dos materiais); 
► o desenho urbano (legibilidade, visibilidade, 
esteticidade); 
► a vegetação (espécies adequadas ao ambiente local e 
aos microclimas); 
► o comércio e serviços (uma componente indispensável 
para a animação urbana como os cafés, esplanadas, 
quiosques, lavabos). 
O balanço sistemático dos resultados deste esforço não 
foi ainda feito pelo volume de trabalho que tal implica, mas a 
constatação empírica identificou consequências objectivas e, 
por extensão, as respectivas vantagens e deficiências. Como se 
de um hipertexto se tratasse, a tentação é grande para 
explorar outros temas na dependência directa desta 
problemática central, mas resta-nos, por agora, focar no 
processo de leitura e intervenção dos EPU (cf. Figura 2). 
Assim, a utilização de espaços públicos urbanos pode ser 
lida ou descodificada segundo dois planos: diacrónico e 
sincrónico. No fundo, trata-se de confirmar as diferenças 
(para além de outras susceptíveis de serem estabelecidas) 
entre o espaço e o tempo, materializadas na ocupação e 
partilha de espaços públicos urbanos: 
► Plano sincrónico – É possível identificar nos mesmos 
territórios a constituição de espaços próprios de grupos de 
indivíduos grosso modo caracterizados por uma afinidade de 
idades ou interesses. Quando esse espaço é pequeno e o grupo 
muito representativo pode suceder que no seu período de 
utilização obrigue à exclusão de outros indivíduos; quando a 
dimensão o permite delimitam-se territórios distintos; 
 [53] 
► Plano diacrónico – Decorre da constatação de que ao 
longo do dia existe uma apropriação do tempo, isto é, o mesmo 
espaço é ocupado por vagas sucessivas de grupos de 
utilizadores diferentes variando temporalmente (manhã, tarde, 
noite, hora de almoço, fim de tarde, etc.). 
 
A riqueza de respostas que os EPU têm de garantir está 
bem expressa no exemplo atrás referido e materializado nas 
dimensões diacrónica e sincrónica. Devem estar preparados para 
responder, em simultâneo, à presença de utilizadores de 
características e interesses diferenciados, promovendo a sua 
coexistência espacial e, por essa via, colorindo e animando o 
espaço, incentivando à inclusão e à partilha. 
Por outro lado, os ritmos e os estilos de vida 
condicionam também o uso da cidade, não só ao longo do dia 
como ao longo da semana, pelo que há que identificar os 
potenciais utilizadores e garantir a sedução adequada à 
manutenção do seu interesse e dos níveis de frequência. 
 [54] 
Figura 3 - Descodificação do padrão de utilização dos espaços 
públicos 
 
 
 
Estes apontamentos não esgotam a problemática dos 
espaços públicos, quer no referente ao seu desenho e 
tipologias, quer no que se associa à sua utilização, até 
porque não se centram no papel dos espaços públicos urbanos na 
socialização dos indivíduos. 
Estas preocupações não foram ainda convenientemente 
traduzidas para a literatura científica. A imagem dominante 
ainda é a do espaço público como o espaço da inclusão social, 
apesar de, neste momento, a sua procura ter diminuído bastante 
a ponto de, em muitos casos, se tornar apenas um espaço urbano 
 [55] 
residual ou de enquadramento visual. Com efeito, a temática 
dos EPU não tem sido central nas análises da cidade e da 
sociedade urbana, tendo sido tratada como acessória em 
processos mais alargados do conhecimento urbano e com 
referências consensuais mas pouco reflexivas. 
Os EPU e o seu estudo geográfico remetem-se para o campo 
duma geografia da percepção, dos pequenos espaços e dos 
trajectos quotidianos, claramente inserida no que se 
convencionou designar por geografias pós-modernas. A vantagem 
do seu estudo é a de poder abordar um universo de interesses e 
motivações cruzadas, concorrentes ou antagonistas, que 
permitem conhecer as consequências mais profundas de 
transformação urbana e a sua relação com os utilizadores da 
cidade. Assim, surgem quase naturalmente os temas do género, 
dos grupos etários, das minorias, entre outros. As geografias 
do quotidiano estão no centro da problemática. 
O espaço público constitui-se, assim, como um exercício 
de reflexão sobre a cidade e o urbano, sobre a tradição e a 
inovação e, finalmente, sobre o cidadão e o consumidor. Não é 
deslocado evocar as conclusões gerais obtidas em múltiplos 
exercícios de planeamento em Portugal (Faro, Castelo Branco, 
Olhão, ...), em que a esmagadora maioria dos entrevistados 
aponta os EPU como indispensáveis para a qualidade de vida 
urbana, embora quando confrontados sobre a frequência de 
utilização desses espaços, menos de um terço aí se desloque e 
quase ninguém o faça depois das 23 horas
19
. 
Estes traços duais remetem para o actual período de 
transição em que já não ocorrem os padrões clássicos de 
utilização dos espaços públicos, mas que ainda são fulcrais na 
representação simbólica da cidade. Fazer o balanço actual do 
estado destes espaços e das formas que têm vindo a assumir, 
 
19 Aliás, no âmbito do trabalho de campo os resultados obtidos corroboram amplamente este 
comportamento. 
 [56] 
enquanto fórmula para avaliar a própria cidade e a sociedade, 
é, como já se havia referido em 1.2., a problemática central. 
Toda a carga histórica inerente aos EPU, que procuraremos 
também sublinhar, decorre, no fundo, do reconhecimento do 
papel protagonizado no percurso de socialização activa, fruto 
da tensão entre norma e transgressão ou apropriação e 
conflito. 
 
2.2. As dinâmicas urbanas recentes: emergência do 
híbrido e da desterritorialização 
2.2.1. A fluidez espacio-temporal da

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