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U2 A BIOGRAFIA Universo dos Livros Editora Ltda. Rua do Bosque, 1589 • 6º andar • Bloco 2 • Conj. 603/606 Barra Funda • CEP 01136-001 • São Paulo • SP Telefone/Fax: (11) 3392-3336 www.universodoslivros.com.br e-mail: editor@universodoslivros.com.br Siga-nos no Twitter: @univdoslivros http://www.universodoslivros.com.br mailto:editor@universodoslivros.com.br U2 A BIOGRAFIA São Paulo 2013 © 2013 by Universo dos Livros Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. 1ª edição – 2013 Diretor editorial Luis Matos Editora-chefe Marcia Batista Assistentes editoriais Ana Luiza Candido Raíça Augusto Raquel Nakasone Colaboração Pedro Zambarda de Araújo Preparação Marina Constantino Revisão Mariane Genaro Arte Francine C. Silva Karine Barbosa Valdinei Gomes CDD 782.42166 Capa Zuleika Iamashita Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 U1 U2 – Biografia ilustrada / Universo dos Livros – São Paulo: Universo dos Livros, 2013. 256 p.: il. ISBN: 978-85-7930-364-7 1. U2 (conjunto musical) - Biografia 2. Música 3. Rock 13-0324 PREFÁCIO Musicalmente falando, eu venho de um berço mais pesado: a mistura do rock and roll com um blues mais intenso, distorcido e barulhento que finalmente evoluiu para o glorioso heavy metal. Este é o meu chão desde o início. Eu não dava bola para os outros estilos, não ia a discotecas (antigo nome dado às baladas de hoje em dia), ficava fechado escutando somente os meus ídolos do metal, querendo ser igual a eles: rebeldes, livres, desbocados, virtuosos e poderosos. Naqueles dias somente a música pesada salvaria meu mundo. Por intermédio dos amigos de escola, principalmente das mulheres, namoradas e amigas que escutavam tudo aquilo que eu odiava, eu tinha contato com outras bandas fora do heavy metal. O U2 era uma dessas bandas que eu odiava, achava tudo muito fraquinho e inocente, não sentia o peso da rebeldia de suas letras e melodias e sempre me perguntava: como uma banda poderia ser boa se não tinha nem guitarra distorcida? Para mim, era um absurdo. Pensamento e atitude mais do que radical, mas era como eu me sentia na época. Entrei no grupo Sepultura em 1987, e a partir desse momento, comecei a abrir mais os ouvidos para outros estilos de música, desde o punk e o hard core até as coisas mais dançantes como Oingo Boingo e Devo. Essas influências podem não ser tão óbvias quando se escuta a música do Sepultura, mas de uma forma ou de outra elas estão lá. Uma das minhas primeiras aventuras com meus novos companheiros de banda foi ir ao cinema, em Belo Horizonte, num bairro tradicional da capital mineira, o Floresta. Aquele era um cinema antigo que cheirava a mofo. Fomos assistir ao filme Rattle and Hum. Eu ainda tinha uma certa birra com o U2 que me acompanhava desde os tempos de escola, mas resolvi dar uma chance a mim mesmo e fomos todos ao cinema curtir o filme sobre o tour da banda que estava se tornando o mais novo gigante da música mundial. Como naquela época ainda era impossível a vinda do U2 ao Brasil, o cinema era nossa única chance de sentir a banda ao vivo, ver como eles se portavam no palco, como soavam seus instrumentos sem os truques de estúdio. E foi uma experiência fantástica. Apesar de o cinema ser antigo, o som estava impecável, uma mistura perfeita de imagem e música que hipnotizava. Imagino que foi o mesmo efeito que se teve quando, dez anos antes, o filme do Led Zeppelin, The Song Remains the Same (com o ridículo nome brasileiro Rock é rock mesmo) estava sendo exibido pelos cinemas daqui. Creio que essa foi uma referência para o próprio U2, quando resolveram fazer seu filme. Eu viajei com os efeitos de luz no palco, com as letras do Bono e os solos marcantes do The Edge. Lembro que a versão de “Bullet the Blue Sky” me deu um tapa na cara. O som do baixo do Adam Clayton estava um absurdo de pesado. O efeito visual do Bono segurando um tipo de lanterna gigante, jogando a luz em cima do The Edge na hora do solo de guitarra foi incrível. Aquilo, de certa forma, mudou a minha vida. Eu percebi que o U2 era um monstro e que esse monstro havia acordado dentro de mim. Percebi que o que eu procurava nas bandas de metal, a rebeldia, a liberdade de se expressar sem medo mais o virtuosismo da simplicidade musical, o U2 tinha e o fazia com propriedade. Desde então me tornei um fã, acompanhando a trajetória da banda nos palcos e nos estúdios e as andanças do Bono pelos caminhos da política e da filantropia. A admiração foi tão grande e intensa que, em 2003, o Sepultura gravou “Bullet the Blue Sky”, uma de nossas versões mais conhecidas e respeitadas. Foi um dos grandes desafios musicais que nós tivemos em nossa carreira. Admiro muito as parcerias inusitadas que o U2 fez, principalmente com B. B. King e o Green Day. O dueto de Bono com Frank Sinatra é histórico, e isso me mostrou que na música, ou na arte, tudo é possível. As trilhas sonoras para vários filmes, peças da Broadway e do teatro britânico, entre outras parcerias com poetas e ativistas mostram o talento, a diversidade e a inteligência desses irlandeses fabulosos. A banda também é um exemplo de união e longevidade: é raro ver no cenário musical uma banda de pelo menos 25 anos que não tenha mudado a formação original, seja qual for o motivo. O U2 permanece junto e isso é que mantém a identidade de sua música, apesar das mudanças visuais e sonoras nas diferentes fases da banda; a primeira nota que se escuta de qualquer música, você imediatamente sabe que é deles. Nesta biografia espetacular, com informações detalhadas e fotos sensacionais, você passa por todas essas diferentes fases, desde o começo ANDREAS KISSER Guitarrista do Sepultura e locutor da UOL 89 FM: A Rádio Rock mais rebelde em Dublin até a conquista total do planeta, lotando estádios pelo mundo, influenciando e mostrando diferentes maneiras de se fazer moda, música e política. Prepare-se para uma viagem intensa e sem igual. Leia em máximo volume! INTRODUÇÃO Esta biografia ilustrada não é apenas sobre o U2, mas também sobre sua discografia. O livro conta as histórias individuais dos integrantes que, de formas diferentes, construíram uma banda que rompeu os limites do rock até atingir – e mudar – o mundo do pop, do mainstream1, da música consumida internacionalmente. Aqui você também encontra informações sobre as composições da banda, que misturam religião, política, engajamento, pacifismo e, claro, vários estilos, resultando num rock direto e objetivo. Escrever sobre os quatro músicos que transformaram o rock irlandês em um fenômeno mundial é uma atividade que esbarra em uma abundância de dados oficiais que detalham como o sucesso surgiu progressivamente. A trajetória do U2 parece uma ascensão improvável de um grupo que não parou de se reinventar desde o primeiro sucesso no show business. Este livro tenta explicar de forma mais aprofundada o fenômeno U2 usando sua própria música, passando pelos grupos e subgêneros do rock que influenciaram Bono e seus companheiros, até outras bandas inspiradas pelos irlandeses, nos anos 1980. A relação entre o pós-punk e as músicas simples do início será apresentada junto às viagens que o U2 fez pelos Estados Unidos, os experimentalismos eletrônicos e a música europeia que os roqueiros do grupo passaram a fazer em Berlim e no resto do mundo. Com diversas influências em mais de trinta anos de carreira, o U2 realmente exibiu todas as suas transformações no palco. Entre 2005 e 2006, a banda realizou a Vertigo Tour, turnê de divulgação do álbum How to Dismantle an Atomic Bomb, com duas apresentações no Brasil. Segundo a revista norte-americana Billboard, Vertigo se tornou a maior turnê de 2005, com umaarrecadação de 260 milhões de dólares, atraindo cerca de 3 milhões de pessoas em noventa shows. Em 2009, o U2 deu início àquela que seria a maior turnê do mundo, a 360° Tour. As apresentações tinham como destaque o palco localizado no centro das arenas e dos estádios, proporcionando uma interação diferente entre os músicos e o público. A turnê acabou em 2011 e teve três shows no Brasil. Seria o maior faturamento de todos os tempos, segundo a empresa Live Nation e a Billboard. Foram arrecadados 736 milhões de dólares. E Bono, The Edge, Adam e Larry ultrapassaram os ganhos de artistas gigantes da indústria musical, como Madonna, Roger Waters, Rolling Stones e AC/DC. Toda essa estrutura fez do U2 um sucesso de crítica e de público, mas isso só foi possível graças a uma constante renovação promovida pelos próprios membros. Os irlandeses nunca deixam de nos surpreender e são responsáveis por uma reinvenção notável no rock do século XXI. No entanto, nem sempre foi assim. O grupo nasceu da vontade de quatro garotos, quase punks, que montaram uma banda na escola. Eles não tinham experiência alguma. Ao longo da carreira, muita coisa mudou para esses meninos de Dublin, que já somam doze álbuns de estúdio, 150 milhões de discos vendidos e fãs no mundo todo. A banda já percorreu os seis continentes, conheceu chefes de governo, apoiou grandes causas mundiais, tocou com músicos como B. B. King, Frank Sinatra, Paul McCartney, Bruce Springsteen, Luciano Pavarotti… e até ameaçou se desfazer. Apesar disso, Bono Vox, Larry Mullen Jr., Adam Clayton e The Edge, mesmo após tanto tempo lado a lado, nunca se separaram. O U2 é um filhote do punk rock inglês que cresceu na Irlanda, dominou a Europa e ganhou voz no mundo. A história da banda transita entre diferentes estilos e subgêneros do rock, demonstrando uma grande capacidade de se reinventar a cada trabalho. Digna de ser transformada em livro, a biografia do U2 é um verdadeiro retrato de artistas que se consagraram ao vivo, em shows que atingiram públicos que certamente nem os músicos esperavam alcançar. Mainstream: palavra em inglês utilizada para designar algo aceito pelo grande público. A BANDA QUE NASCEU DA MORTE DO PUNK 1 “É isto o que eu quero fazer”, disse Larry Mullen Jr. à sua mãe quando ouviu uma bateria pela primeira vez, em uma escola de música. Em setembro de 1976, um mês antes de completar quinze anos, Larry colocou um anúncio na escola protestante Mount Temple Comprehensive School, onde estudava, procurando outros garotos para montar uma banda. Alguns rapazes atenderam ao chamado de Mullen, entre eles os irmãos Dik e Dave Evans, que se encarregaram das guitarras. Uniram-se a eles o baixista Adam Clayton e Paul Hewson, que assumiu os vocais. Os guitarristas Ivan McCormick e Peter Martin também compareceram ao primeiro ensaio da The Larry Mullen’s Band, que ocorreu na cozinha da casa de Larry. Porém, Martin não apareceu nos ensaios seguintes, e McCormick deixou a banda semanas depois. Com Mullen, os irmãos Evans, Clayton e Hewson, estava formado o grupo que daria origem ao U2. A partir disso, os jovens começaram a fazer música sem saber tocar seus instrumentos com muita precisão. Mullen era popular no colégio, mas não chamava muita atenção como o chefe do grupo de roqueiros. Assim, em pouco tempo, Bono Vox assumiu a liderança e eles passaram a se chamar Feedback – uma referência ao modo como The Edge toca sua guitarra, prestando OS APELIDOS Paul David Hewson ganhou o apelido “Bono Vox” ainda na época da escola. Segundo The Edge, os apelidos eram muito comuns, um costume para superar inseguranças da juventude. “O apelido completo de Bono era Bono Vox of O’Connell Street”, o guitarrista revelou à VH1, em 2000, que era uma referência a uma loja de aparelhos auditivos localizada em Dublin chamada Bonavox e também à expressão em latim que significa “boa voz”. Além disso, Bono Vox também lembra a marca Vox, fabricante de amplificadores. Um dos músicos que mais utiliza aparelhos da empresa é o próprio guitarrista do U2. Já o nome completo de Dave Evans é David Howell Evans. O apelido “The Edge” veio da observação de Bono sobre as feições rígidas do rosto de Dave (“edge” pode significar, em português, “aspereza” ou “rispidez”). atenção no retorno do som. No começo da carreira, o U2 tinha dificuldades técnicas para tocar ao vivo. Dessa forma, o nome Feedback também parecia refletir, em parte, os problemas do início do grupo. Em 1977, enquanto o punk explodia entre os roqueiros ingleses, a banda decidiu mudar o nome para The Hype. Eles só tocavam covers de bandas famosas. Segundo Bono Vox, em entrevista2 à VH1, em 2000, uma de suas principais influências era o The Clash, grupo que pertencia ao punk rock crescente em 1976. “O primeiro concerto a que eu assisti foi o Clash, na faculdade. Não tinha visto nada parecido com aquilo. Havia um confronto durante o show, e eu me esforcei para ficar no meio daquilo, com dezessete anos.” A banda The Clash foi apresentada aos colegas pelo baixista Adam Clayton, que foi assistir-lhes em 1977. Bono Vox começou a ter contato com o punk rock nessa época, e esse tipo de rock direto e despretencioso deu ânimo ao U2 em seu começo de carreira. No repertório do The Hype, também estavam grupos como Buzzcocks e Sex Pistols, que também ajudaram a popularizar o punk no Reino Unido. Outros exemplos para o grupo foram o rock de David Bowie, que se tornou ícone ao transitar entre subgêneros como glam rock até o rock’n’roll com elementos eletrônicos, além do grupo norte-americano de punk rock Television3 e da poetisa Patti Smith, que declamava em bares nos Estados Unidos. Além disso, as primeiras perfomances ao vivo contavam com covers dos Rolling Stones e dos Beach Boys. Dessa mistura de influências, aliada ao punk em voga na época, o grupo dos garotos irlandeses começou a se firmar, abandonando o nome The Hype, em 1978. Nesse mesmo ano, Dik Evans deixou a banda. O nome definitivo surgiu de uma lista de seis possibilidades, elaborada pelo músico Steve Averill, conhecido pelo apelido Steve Rapid, que fazia parte da banda The Radioators from Space. O grupo escolheu U2 por causa da ambígua sonoridade – similar à expressão “you too” [“você também”]. A escolha desse nome simples colaborou para que a banda4 fosse conhecida internacionalmente por apenas dois caracteres. A escolha desse nome também pode ser atribuída a um episódio ocorrido um dia antes do nascimento de Bono (10 de maio de 1960), quando um avião de espionagem norte-americano foi derrubado pelos soviéticos durante a Guerra Fria. Essa versão ganhou força com as letras políticas e engajadas do U2 contra os conflitos dos anos 1980 na Irlanda e no mundo. Quando estavam tentando gravar seu primeiro trabalho, o punk rock começou a entrar em decadência como estilo musical. Assim, com a morte de suas bandas favoritas, o U2 foi ganhando destaque. O MOVIMENTO PUNK ROCK No começo dos anos 1970, o rock’n’roll atingiu um patamar muito diferente do das duas décadas anteriores. Grupos ingleses, como The Beatles e Rolling Stones, conquistaram o mundo todo, e o movimento hippie ganhou proporções históricas com os festivais de música, o sexo livre e a proliferação das drogas. Naquela época, os jovens protestavam contra a Guerra do Vietnã e a geração de seus pais, que havia crescido na época da Segunda Guerra Mundial. Com a virtuose de guitarristas como Jimi Hendrix, Eric Clapton e Jimmy Page, o heavy metal surgiu como um tipo de rock impactante, repleto de sons distorcidos. O gênero também foi muito influenciado pelas improvisações do Cream e pela técnica dos Yardbirds, nos anos 1960, mas o rock pesado só se consolidou na década de 1970, principalmente com as bandas Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath, que deram forma a esse movimento. Outros artistas, como Alice Cooper e David Bowie, foram responsáveis por atribuir dimensões teatrais para os concertos, interpretando personagens fictícios. No entanto, sobretudo nos Estados Unidos, começaram a surgir bandas derock que não ligavam para subgêneros nem para habilidades técnicas. Seguindo a trilha do The Doors, os Stooges de Iggy Pop causaram espanto com shows que terminavam em pancadaria entre os músicos e a plateia. O MC5, além de adotar o “faça-você-mesmo” no palco, com músicos sem grandes habilidades, era uma banda com influência do marxismo e do engajamento político de grupos como os Panteras Negras5. O punk rock emergiu desses grupos de composições simples e sem laços com as músicas trabalhadas pelas bandas progressivas e pelo heavy metal – o vocalista do Sex Pistols, Johnny Rotten, chegou a usar uma camiseta com os dizeres “I hate Pink Floyd” [“Eu odeio Pink Floyd”]. Nessa época, o jornalista Legs McNeil criou nos Estados Unidos a revista Punk6, que teve os Ramones entre os primeiros entrevistados. Além deles, os Dictators, o New York Dolls, Patti Smith e outros artistas começaram a ganhar fama nos subúrbios de Nova York para, a partir de 1974, ganhar o mundo. Na Europa, o estilo ganhou forma com os Sex Pistols, banda fundada pelo empresário Malcoln McLaren, dono da loja SEX, localizada no Reino Unido. No entanto, de 1976 em diante, junto à ascensão dos Pistols, esse tipo de música começou a entrar em decadência. O rock simples deixou de ser tão apreciado e começou a se tornar mais pop. Nesse contexto de decadência do punk, surgiu o U2 – que tinha influência do rock’n’roll simples, mas que chegaria a patamares superiores aos alcançados pelos Ramones ou Sex Pistols no show business. O PRIMEIRO ÁLBUM DE ESTÚDIO: BOY Em 1978, Larry Mullen inscreveu o U2 em um concurso do programa de Harp Lager, da emissora CBS. A banda foi a vencedora e realizou um show na TV, o que a ajudou a alcançar uma visibilidade inédita até o momento. O grupo também se apresentou no estádio nacional, em Dublin, atraindo cerca de 2 mil pessoas, o maior público que já tinham conseguido reunir. O clímax desse show ocorreu quando mais de trinta pessoas da plateia dançaram no palco com a banda. Essa exposição facilitou o contato com produtores para o primeiro álbum de estúdio. No primeiro dia de setembro de 1979, a banda conseguiu lançar seu primeiro single, chamado U2 3. A obra foi produzida por Chas de Whalley e teve apenas mil cópias distribuídas. O material teve uma divulgação bem- sucedida graças à apresentação do U2 na CBS. Três músicas faziam parte da compilação: “Out of Control”, “Stories for Boys” e “Boy-Girl”. Eram composições que possuíam o embrião do primeiro álbum de estúdio da banda, até mesmo pela similaridade dos títulos. Em maio de 1980, o cantor e vocalista Ian Curtis cometeu suicídio, acabando com a banda pós-punk Joy Division, que se preparava para fazer uma turnê nos Estados Unidos. Entre as bandas que cresceram com o declínio do punk, o Joy Division era uma das promessas para divulgar o rock inglês na América. O produtor do Joy Division, que tinha trabalhado na música “Love Will Tear Us Apart”, era Martin Hannett. Favorito para trabalhar no primeiro álbum de estúdio do U2, Hannett não topou porque estava emocionalmente afetado pela morte de Curtis. Martin produziu o terceiro single do U2, 11 O’Clock Tick Tock. Boy foi então lançado em 20 de outubro de 1980, com produção de Steve Lillywhite, que já havia trabalhado com Peter Gabriel, ex-Genesis, e com a banda Talking Heads. Naquele mês de dezembro, Boy já estava sendo comentado pela imprensa norte-americana, e o grupo liderado por Bono Vox realizou turnês pela Europa e pelos Estados Unidos. O trabalho teve selo da Island Records. Lillywhite foi responsável por inserir as notas agudas do instrumento de percussão chamado glockenspiel, parecido com um teclado, na música de abertura, “I Will Follow”. Ela foi escolhida para divulgar o álbum, que chegou à 52ª posição nas paradas do Reino Unido, e na 63ª da Billboard7 200. O crítico Steve Morse, do jornal The Boston Globe, afirmou que o estilo de canto de Bono Vox tinha muito eco. O mesmo jornalista também disse que a banda era “absurdamente jovem”, por ter músicos com menos de vinte anos de idade8. As letras de Boy tratam justamente sobre a fase de transição para a idade adulta, com “I Will Follow” mostrando, em parte, como o U2 estava deixando de ser uma banda de garagem para ganhar dimensão mundial. A letra dessa canção foi escrita por Bono em homenagem à sua mãe, Iris Elizabeth Rankin Hewson, que morreu de aneurisma cerebral em 1974. Segundo o vocalista, a música representa a visão dela sobre o próprio filho. “Twilight” mantém a temática do amadurecimento, mas mostrando que as crianças podem se perder ao se tornarem adultas. “Into the Heart”, “Out of Control” e “A Day without Me” demostram a habilidade de Bono Vox em colocar suas próprias experiências e sua nostalgia pelos tempos de escola de forma madura, simples e atraente nas músicas. “A Day without Me” foi influenciada pelo suicídio de Ian Curtis, fato que afetou a geração de Bono Vox e de seu grupo. O rock do U2 em Boy é acessível, diretamente conectado com a própria história da banda, e reserva algumas surpresas em suas composições. “An Cat Dubh” aborda um relacionamento que Bono teve antes de conhecer sua esposa, Alison Hewson. O título da música está em irlandês e significa “o gato preto”. Os acordes simples feitos por The Edge mostram o peso da composição, principalmente quando acompanhados pelo baixo forte e bem marcado de Adam Clayton. The Edge também abusa de harmônicos agudos, trazendo oscilações interessantes para a melodia. “Into the Heart” fala sobre o sentimento coletivo da banda diante da perda da inocência provocada pelo sucesso e pela maturidade. Musicalmente, a guitarra elétrica continua realizando dedilhados que contrastam bastante com o contrabaixo potente. O traço mais peculiar dessa composição é a longa introdução, apesar de a música durar apenas três minutos e 28 segundos. A letra de “Stories for Boys” aborda o gosto por quadrinhos e pela televisão dos jovens dos anos 1980, como um retrato da própria geração de Bono. Essa canção contrasta com músicas como “The Ocean”, que faz referência direta à literatura. Nessa música, Dorian Gray, o personagem de Oscar Wilde, é retratado como se fosse o próprio Narciso9 olhando seu reflexo. “The Electric Co.” é uma composição dedicada aos tratamentos de choque que uma pessoa recebe em tratamentos psiquiátricos. O gancho da música é a guitarra de The Edge, que brinca com efeitos de retorno e utiliza poucos acordes, apenas repetindo-os. A música, na verdade, é um protesto da banda em homenagem a um amigo que tentou se matar após ter passado por esse tipo de tratamento. “Shadows and Tall Trees” encerra o primeiro disco do U2 com a melancolia da perda da infância e de encontros com a morte. O material mostra que a banda flerta com assuntos que foram importantes para sua própria formação como grupo. A capa de Boy traz a foto de um menino chamado Peter Roven. Essa imagem reflete o próprio começo de carreira do U2: jovem e alcançando um sucesso que nem eles esperavam quando fundaram o grupo. Abordando temas pessoais, a banda conseguiria alcançar um público diverso e extrapolar temas comuns do rock’n’roll – a rebeldia, o ocultismo e as histórias conceituais que preenchiam muitos álbuns dos anos 1970. Como todas as letras foram escritas por Bono Vox, o disco também expressa o relato pessoal do cantor sobre sua época. ANOTHER TIME, ANOTHER PLACE WE LIE. ANOTHER CHILD HAS LOST THE RACE. WE LIE. ANOTHER TIME, ANOTHER PLACE. WE LIE. YOUR TIME, YOUR PLACE. Trecho de “Another Time, Another Place” Como diz a letra da música “Another Time, Another Place”, o U2 estava vivendo seu próprio tempo em 1980, ganhando os holofotes e saindo do cenário de bandas alternativas para entrar no circuito da música internacional. Mesmo assim, a primeira turnê, com 157 apresentações na Europa e nos Estados Unidos, recebeu críticas negativas. Sendo uma banda estreante, o U2 chegava a tocar duas vezes o single “I Will Follow”, a composição mais conhecida do público. O jornalista do New Musical Express, ChrisSalewicz, relembrou que o U2 era uma banda formada por jovens, e que eles soaram mal nos shows. “O grupo de quatro irlandeses nada mais é do que um grupo muito tradicional de hard rock com um vocalista, Bono é seu nome, que adoraria ser Rod Stewart”, afirmou Salewicz, acrescentando que o desempenho do vocalista no palco também era parecido com o de Iggy Pop nos Stooges. A imprensa não poupou os argumentos contra o U2, mesmo após PÓS-PUNK: O JOY DIVISION DE IAN CURTIS Assim como o U2, o Joy Division surgiu em 1976 no Reino Unido, presenciou o movimento punk e explodiu quando as bandas do estilo entraram em decadência. Inicialmente chamada Warsaw, a banda tinha um vocalista que se inspirava nas performances de Iggy Pop e de David Bowie, dançando sozinho ao segurar o microfone: Ian Curtis. O grupo lançou um álbum de estúdio chamado Unknown Pleasures, que fazia um rock simples, quase punk, com letras depressivas. Curtis tinha epilepsia, e suas danças no palco eram similares aos ataques provocados por sua doença. Sua voz grave era acompanhada pela bateria rápida de Stephen Morris, pelo contrabaixo alto e pesado de Peter Hook, além da guitarra melódica de Bernard Sumner. Ian Curtis traiu a esposa Deborah com a jornalista Annik Honoré. Deprimido com o casamento e com a carreira, cometeu suicídio em maio 1980, enforcando-se dentro de casa. Os membros remanescentes do Joy Division criaram a banda New Order, que introduziu elementos eletrônicos ao segmento pós-punk.O fotógrafo e cineasta Anton Corbijn – que já realizou inúmeros trabalhos com U2, como videoclipes e sessões de fotos – produziu em 2007 o filme Control, sobre a vida de Curtis, no qual Sam Riley interpreta o vocalista depressivo do Joy Division. uma série de shows que projetava a banda para além do circuito alternativo de seu país de origem. Nos próximos trabalhos, o U2 colocaria mais do que suas experiências juvenis nas letras. A religião cristã entraria na temática da banda de Bono, The Edge, Larry e Adam, causando uma transformação em pouco tempo. OCTOBER: O SEGUNDO ÁLBUM E A MÚSICA RELIGIOSA DO U2 Novamente com selo da Island Records, October foi lançado em 12 de outubro de 1981. O U2 passou por mudanças no período: Larry, Bono e The Edge ingressaram em um grupo religioso chamado Shalom Fellowship10, o que fez os músicos questionarem a relação entre o cristianismo e a vida de astros do rock. A gravação enfrentou problemas porque as primeiras letras de Bono Vox foram roubadas por alguns fãs em Portland, no estado de Oregon, nos Estados Unidos. O grupo já tinha reservado e pago um estúdio para as gravações, que tiveram improvisações no começo. Aos poucos, Bono conseguiu se recordar das letras que havia perdido. O modo de vida cristão dos integrantes começou a incomodar o baixista Adam Clayton. Segundo o documentário da emissora VH1, Adam era um jovem de 21 anos tendo novas experiências em turnê, e a briga entre os integrantes fez com que Bono e seus amigos cogitassem sacrificar o U2 em prol da religião. Seria o fim de uma banda de rock’n’roll antes mesmo de alcançar o sucesso. O rompimento felizmente não aconteceu graças ao casamento de Bono Vox, em agosto de 1982. Adam foi padrinho de Bono e de sua esposa Alison, conhecida pelo apelido Ali, o que ajudou a reviver a amizade entre o baixista e o vocalista. “Gloria” abre October com trechos em latim e um tom religioso que a banda não tinha até então. O álbum também é marcado por um instrumental menos constante, menos pop e mais criativo do que o do primeiro disco. “I Fall Down” mostra uma letra diferente da vertente gospel de Bono Vox, apostando em uma variedade instrumental marcante e em uma harmonia crescente. Com gritos de Bono Vox na abertura, “I Threw a Brick through a Window” é uma música sobre libertação, sobre a tentativa de aproximação – incluindo até pedidos de “be my brother” [“seja meu irmão”]. A guitarra de The Edge esporadicamente ataca com frases que chamam a atenção, acompanhadas por um baixo constante e uma bateria bem presente, com batidas fortes. Bono chegou a utilizar essa música como um hino antiguerras. “Rejoice” é um rock rápido e direto sobre a necessidade de transformação individual antes do desejo de mudar o mundo. Como a música anterior, a letra tem um tom religioso, como afirma seu título, que significa “rejubilar- se”, ou seja, “alegrar-se” de uma maneira espiritual. Com uma guitarra abafada na abertura, “Fire” explode em acordes altos e cheios, acompanhados pela voz empolgada de Bono Vox. A letra fala de um fogo interno como o do Sol, uma estrela no espaço, com suas labaredas. Essa música destaca-se como uma exceção no disco, porque realmente parece mais próxima do tradicional modo de composição do U2. O tom religioso torna-se mais forte em “Tomorrow”, música em que Bono parece suspirar pela volta de Deus, na forma do próprio futuro. Os significados amplos das letras de Boy que tornaram a banda famosa são utilizados nesse disco para falar sobre o amor divino, o cristianismo e a religiosidade de seus integrantes. A faixa-título, com duração de dois minutos e 21 segundos, traz um piano melancólico e breve tocado por The Edge. A letra, também curtíssima, aborda os “reinos que ascendem e os reinos que caem”. Nessa composição simples, Bono Vox canta sobre a transitoriedade pela qual a banda passava. Ao vivo, “October” se tornou uma espécie de abertura para “New Year’s Day”, música do disco seguinte, War. Com a bateria tribal de Larry Mullen Jr., a música “With a Shout” também aborda religião, mas com contornos políticos, falando sobre os conflitos na cidade de Jerusalém, localizada oficialmente em Israel e ponto de disputa entre várias populações distintas. “Stranger in a Strange Land” é uma composição com um contrabaixo melódico e menos ritmado, coberto por uma guitarra base que recheia a música. A letra fala sobre veteranos de guerra e suas memórias, destoando do restante de October. “Scarlet”, com apenas dois minutos e 53 segundos, é um hino pelo regozijo, pela alegria, retomando o tema espiritual que permeia o disco. Além dos instrumentos normalmente usados, os gritos de Bono são também acompanhados por um teclado. O segundo álbum de estúdio se encerra com “Is That All?”. A canção é um questionamento sobre as sensações que a música provoca. Ficar bravo, feliz ou querer dançar com as músicas que fazemos é o suficiente? Com essas questões, o U2 fecha seu segundo trabalho, mais espiritual que o primeiro, mas ainda repleto de letras pessoais. A capa de October mostra os quatro integrantes do U2. Bono Vox, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. tornaram-se nomes conhecidos na indústria musical a partir desse trabalho, que já mostrava uma banda mais consolidada e mais segura em suas composições. October levou apenas três de cinco estrelas possíveis em um artigo da revista Rolling Stone, escrito por John Pareles em fevereiro de 1982. Dos álbuns de estúdio do U2, October costuma ser o trabalho menos admirado da banda. A turnê October também teve menos shows que a primeira: foram 102 apresentações. Quase todas as performances começavam com “Gloria”, mas o U2 ainda tocava músicas do primeiro álbum para atrair o público. Mesmo assim, o desempenho foi abaixo do esperado, o que fez com que a banda se reinventasse em seu terceiro disco. WAR: PASSAPORTE PARA O SUCESSO Boy pode ser considerado um trabalho pessoal do U2, com letras de Bono Vox sobre o amadurecimento. October é um disco sobre espiritualidade, com experimentalismos também nos temas de algumas letras. Depois da recepção morna do segundo disco, o terceiro trabalho precisava trilhar um caminho diferente dos dois anteriores. Dessa maneira, tanto os produtores quanto a própria banda queriam que o novo material tivesse uma nova abordagem, mas que ao mesmo tempo abarcasse os elementos que tornaram o U2 bem-sucedido no início. BROKEN BOTTLES UNDER CHILDREN’S FEET BODIES STREWN ACROSS THE DEAD END STREET BUT I WON’T HEED THE BATTLE CALL IT PUTS MY BACK UP, PUTS MY BACK UP AGAINSTTHE WALL. Trecho de “Sunday Bloody Sunday” War foi lançado em 28 de fevereiro de 1983. “Sunday Bloody Sunday”, sobre os conflitos entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, é a música de abertura. Na época da gravação, ocorreram atentados provocados pelo Exército Republicano Irlandês, o IRA, que11 deseja separar a Irlanda do Norte do Reino Unido. A música também foi escrita em homenagem às vítimas do massacre conhecido como Domingo Sangrento, que ocorreu em Derry, na Irlanda do Norte, no dia 30 de janeiro de 1972, durante uma passeata civil reprimida de forma violenta pelo exército britânico. Cerca de cem balas foram disparadas por tropas do Reino Unido lideradas pelo major Ted Loden. Treze pessoas morreram imediatamente, e catorze ficaram feridas. A maioria dos mortos era jovens do sexo masculino. “É a maneira mais forte de dizer: por quanto tempo mais? Por quanto tempo nós teremos de aturar isso? Eu não me importo [sobre] quem é quem nesses incidentes – católicos, protestantes, o que seja. Você sabe que as pessoas estão morrendo todos os dias por conta da amargura e do ódio. E nós estamos dizendo: por quê? Qual é o propósito?”, disse o baterista Larry Mullen Jr. à jornalista White Lucy, em abril de 1983. Com a letra pesada de Bono Vox, o U2 ganhou profundidade e conservou elementos pop da música eletrônica e do rock’n’roll pós-punk. “Sunday Bloody Sunday” é, até hoje, uma das músicas mais pedidas nos shows do U2 ao redor do mundo. “Seconds” possui uma abertura acústica e também tem um tom político forte. A música fala sobre despedidas e separações, relembrando a polarização do mundo em Estados Unidos e União Soviética na Guerra Fria. Oeste e leste, nesta letra de Bono, simboliza a criação da Alemanha Oriental, que dividiu Berlim e o povo alemão em dois. Não foi apenas a primeira música de War que se tornou um clássico do rock. A terceira faixa, “New Year’s Day”, fala sobre o preconceito entre negros e brancos, entre capitalistas e comunistas, entre mundos distintos, e ganhou o público e se tornou a quinta música mais tocada pelo U2, sendo executada cerca de setecentas vezes até 2011, segundo levantamento feito pelo site U2gigs. “Like a Song” mantém o tom engajado do disco, preenchida por um baixo e uma bateria insistentes, acompanhados por solos inspirados de The Edge. A letra, em alguns momentos gritada, fala sobre o vazio de sua geração, “sem nada a perder e nada a ganhar”, que tenta impedir guerras e conflitos sem sucesso. É sobre a frustração, apesar de seu ritmo frenético. Já “Drowning Man” tem uma composição oposta à de “Like a Song”, embora aborde o tema “afogamento”. A música fala sobre restaurar a confiança e saber se entregar a quem pode salvá-lo. O instrumental acústico de The Edge é acompanhado pelo violino elétrico de Steve Wickham, instrumentista de Dublin que também tocou com outros astros do rock, como Elvis Costello e Sinéad O’Connor, e que participou de “Sunday Bloody Sunday”. “The Refugee” fala sobre “uma mulher que espera seu homem”, para irem juntos até a “terra prometida”, discorrendo sobre a fuga e a falta de sentido da guerra. Bono canta sobre aqueles que esperam a oportunidade de se protegerem ou de os conflitos cessarem. Nessa canção pacifista, a bateria de Larry Mullen Jr. imita o ritmo de uma marcha, contrastando o militar e o civil. Com um instrumental cru na abertura, sem teclados ou muitos efeitos, “Two Hearts Beat as One” é uma balada romântica composta por Bono para sua esposa Ali. A linha do baixo de Adam Clayton, constante na música, ficou famosa como uma melodia característica. O videoclipe da música foi gravado no bairro de Montmartre, com vista panorâmica para a capital da França12. No vídeo, o U2 aparece em ação, como se estivesse fazendo um show para a cidade. “Red Light” traz a guitarra bem demarcada e uma letra sobre abandono do amor. A balada é bem repetitiva, com o baixo lento e a bateria igualmente devagar. “Surrender” aborda as insuficiências da vida, as guerras dentro de famílias e o quanto as pessoas são obrigadas a abdicar para continuar com sua individualidade. O disco se encerra com “40”, que pergunta – a Deus e à própria banda – quanto tempo o U2 irá demorar para cantar uma nova canção. O nome veio do Salmo 40 da Bíblia, reproduzido nas primeiras frases da letra. A música, de certa forma, continua o questionamento de “Sunday Bloody Sunday”. “I will sing, sing a new song/ How long to sing this song?” (Eu vou cantar, cantar uma nova canção/ Quanto tempo para cantar essa canção?) é uma forma de se perguntar até quando a realidade de conflitos e insegurança permanecerá. As músicas mais famosas desse material tinham versões alternativas no bônus de War. Remixes de “New Year’s Day” transformam-na em uma música disco. Um arranjo diferente de “Two Hearts Beat as One” mostra o baixo forte de Adam Clayton fazendo um dueto interessante com a melodia da guitarra de The Edge. Em 1983, War desbancou o disco Thriller13, de Michael Jackson, e chegou ao primeiro lugar das paradas do Reino Unido. Sobre esse feito, The Edge disse ao jornalista Tony Fletcher, da revista Jamming!, em 1984: “Sim, isso foi memorável. Mas a coisa que realmente nos mantém progredindo, que nos mantém frescos, é uma ambição artística”. Mesmo com tanto sucesso, segundo o guitarrista da banda, o U2 ainda pretendia conseguir novas vertentes para sua música. Nos Estados Unidos, War chegou ao 12º lugar das paradas. A turnê do disco foi marcada por um dos maiores concertos do U2 e um dos maiores shows de todos os tempos: o US Festival em San Bernardino, Califórnia. A apresentação teve um público de cerca de 125 mil pessoas e foi exibida ao vivo na MTV, colocando o U2 num patamar nunca antes alcançado na música pop. Bono quase se acidentou durante sua performance, assustando os integrantes da banda após cair do palco, mas o público impediu que ele se machucasse. No total, foram cerca de 110 shows. O designer de iluminação dos shows era Willie Williams, que permaneceu trabalhando com o U2 até a última turnê realizada pela banda, a 360°. A série de shows de War culminou com a gravação de Under a Blood Red Sky, um marco na carreira da banda, pois é o primeiro registro ao vivo do U2. O material, que também recebeu o selo da Island Records, é considerado apenas um mini-LP, com oito músicas: “Gloria”, “11 O’Clock Tick Tock”, “I Will Follow” e “Party Girl” no Lado A; “Sunday Bloody Sunday”, “The Electric Co.”, “New Year’s Day” e “40” no Lado B. As gravações foram realizadas em três concertos, nos Estados Unidos e na Alemanha. Fazer turnês em cidades americanas, na época, era muito importante para consolidar bandas que não eram estadunidenses no cenário mundial. No estado do Colorado, o local escolhido para o show foi a arena Red Rocks, mas no dia das gravações choveu muito e as pedras coloridas mal apareceram – o que deixou Bono um tanto desapontado. No começo da versão de “Sunday Bloody Sunday” que consta em Under a Blood Red Sky, Bono afirma que a música não é uma canção de rebeldia. As palavras do vocalista na gravação ficaram famosas, o que consolidou o sucesso do U2 fora da Irlanda, conquistando outros países na Europa e chegando até os Estados Unidos. O material foi lançado no dia 21 de novembro de 1983. Em maio de 1984, o álbum ao vivo foi lançado em vídeo, com doze músicas. Uma reedição do material audiovisual de 2008 trouxe mais faixas: dezessete ao todo. O MENINO DAS CAPAS DE BOY E WAR Peter Rowen tornou-se um símbolo na carreira do U2. Seu irmão era amigo pessoal de Bono Vox, e o garoto estampou, em 1979, a capa do primeiro single U2 3, e tinha apenas cinco anos quando foi chamado, no ano seguinte, para fazer parte da capa do álbum Boy. Ele também foi fotografado em 1983 para a produção de War, e, além da capa do álbum, seu rosto também está nos singles Sunday, Bloody Sunday e New Year’s Day. Anos mais tarde, a foto de Rowen ainda apareceria nas capas do single Sweetest Thing e da coletânea The Best of 1980-1990, ambos de 1998. Em 2010, aos 35 anosde idade, Peter Rowen se tornou fotógrafo profissional. Segundo o Irish Independent, Rowen fotografou alguns shows europeus da turnê 360°. A MÚSICA ABSTRATA DE THE UNFORGETTABLE FIRE Em Chicago, nos Estados Unidos, o U2 visitou uma exposição chamada The Unforgettable Fire, que mostrava desenhos e pinturas feitas por sobreviventes das bombas nucleares atiradas em Hiroshima e Nagasaki. A exposição também tinha uma parte dedicada a Martin Luther King. Esse tipo de arte serviu de inspiração para o U2 depois do sucesso estrondoso de War. As letras adquiriram um tom político e histórico na carreira de Bono, The Edge, Larry e Adam. The Unforgettable Fire foi lançado oficialmente no dia 1o de outubro de 1984 e contou com a produção de Brian Eno, famoso por trabalhos com Peter Gabriel. O produtor foi um dos principais responsáveis pelo sucesso da banda, com seus sintetizadores e com a habilidade de transitar entre o rock e a música eletrônica até a música experimental. Neste álbum, as composições ganharam um instrumental mais abstrato e melódico, aproveitando acordes soltos da guitarra, sem a pegada rock’n’roll ou excessivamente punk dos discos anteriores. O guitarrista The Edge admira os trabalhos de Brian Eno e seu flerte com a música ambiental. Com a passagem do produtor Steve Lillywhite, o som do U2 sofreu uma mudança brusca, e a guitarra elétrica ganhou destaque com sintetizadores que aumentaram a atmosfera da música, facilitando solos e acordes soltos, além das dissonâncias. “Eno é uma pessoa que nós cogitamos bastante por um tempo. Não apenas por seus próprios trabalhos, mas também por seus trabalhos com David Bowie e o Talking Heads. Nós gostamos muito do que ele já fez, e falamos com ele e com Danny Lanois”, explicou The Edge, em 1984, ao jornalista da Jamming!, Tony Fletcher. Foi com esse pensamento que a banda definiu tecnicamente a produção de seu álbum, procurando atingir um novo patamar em comparação aos trabalhos anteriores. BRIAN ENO, A TRILOGIA DE BERLIM COM BOWIE E AS PARCERIAS COM O U2 O homem com grande talento por trás das produções do U2, e que conversava muito com Bono Vox e The Edge, era Brian Eno. Seu nome completo é Brian Peter George St. John le Baptiste de la Salle Eno. Nasceu em Woodbridge, no Reino Unido, e estreou sua carreira musical em 1970, ao lado da banda Roxy Music, que misturava glam rock (usando maquiagens e visual andrógino) com música eletrônica. Eno participou dos discos Roxy Music (1972), For Your Pleasure (1973) e Stranded (1973). Depois desses trabalhos, iniciou uma parceria com Robert Fripp, que faz parte da King Crimson. Participou dos discos No Pussyfooting (também de 1973) e Evening Star (1975). Depois, só voltaria a trabalhar com Fripp em 2004, no álbum The Equatorial Stars. Brian Eno foi um dos expoentes da chamada música ambiental, que se originou com o uso de sintetizadores no Reino Unido e cresceu em bandas alemãs do segmento chamado Krautrock, como o grupo Kraftwerk e Neu. Mas o trabalho que mais deu renome para Brian Eno, na década de 1970, foi sua participação na trilogia de discos de David Bowie inspirada em suas passagens na Alemanha. Os discos Low (1977), Heroes (1977) e Lodger (1979) tiveram a produção de Eno com Tony Visconti. O resultado é que a música andrógina de Bowie se transformou em um trabalho mais pop e acessível com o uso de sintetizadores eletrônicos. O trabalho tornou Eno um produtor famoso dentro do rock’n’roll, que aproximou seu talento do emergente quarteto de Dublin. O produtor começou sua parceria de sucesso com o U2 ao lado de Daniel Lanois, no álbum The Unforgettable Fire, de 1984. Desde então, Brian Eno sempre teve uma participação predominante nos trabalhos de estúdio dos quatro irlandeses e continuou trabalhando com a banda até o último álbum de estúdio lançado: No Line on the Horizon (2009). O single “Where Are We Now?”, lançado por David Bowie, no dia 8 de janeiro de 2013, conta com a produção de Tony Visconti. A atmosfera de música ambiente e eletrônica, além das referências de Bowie à Potsdamer Platz (uma praça com lojas comerciais na capital alemã) na letra, lembram a época da música de Berlim com Brian Eno, no fim da década de 1970. “O U2 sempre teve duas faces”, afirmou Bono Vox, também em entrevista a Fletcher. “É a energia e a atmosfera. Com Steve Lillywhite, toda a energia foi mostrada, mas, agora, Brian Eno está nos ajudando a trazer a atmosfera novamente”, disse o vocalista. Parte das gravações aconteceram no Slane Castle, um castelo medieval da Irlanda. O local foi escolhido devido à qualidade do som, mas alguns sucessos do disco, como “Pride (In the Name of Love)”, foram gravados na casa de Bono Vox. Outra parte do trabalho foi realizada no Windmill Lane Studios, na cidade natal da banda, em Dublin. O disco começa com “A Sort of Homecoming”, uma música com progressões de instrumentos e um dedilhado de guitarra elétrica que se encaixa num vocal inspirador. A letra fala sobre o retorno ao que é familiar, às origens. Essa volta, segundo a composição de Bono Vox, ocorre depois de uma passagem de tempo que “cura feridas”. A segunda música do álbum é um clássico do U2. “Pride (In the Name of Love)” se inicia com uma guitarra abafada e rítmica, seguida por um solo de poucas notas. A simplicidade instrumental é compensada pelo refrão que critica a transitoriedade dos homens e o que o orgulho humano é capaz de fazer. O questionamento sobre a luta pelo orgulho se transforma em um hino particular de Bono, The Edge, Adam e Larry. Para escrever a letra de “Pride”, o cantor do U2 se inspirou em biografias de Martin Luther King e de Malcolm X, e em suas lutas pelos direitos dos negros norte-americanos. “Wire” fala sobre morte, tentativa de sobrevivência, e esperança. A guitarra de The Edge já sofre influência da produção de Brian Eno: ela soa como música-ambiente, com mais efeitos de pedal e com menos acordes seguidos, como costuma ser um típico rock’n’roll. O som mais trabalhado, preenchido também por um contrabaixo e uma bateria consistentes, permanece na faixa-título do álbum. “The Unforgettable Fire”, no entanto, cativa mais o ouvinte com um refrão grudento e com uma letra que trata de renúncia. A exposição vista pelo U2 em Chicago foi fundamental para conceituar essa composição, que fala sobre abdicar e aceitar o inevitável. Mesmo criticando as maldades que os seres humanos podem cometer, a ideia está diretamente conectada com a perplexidade causada por conflitos, como as guerras entre nações. Com uma melodia mais minimalista, mas ainda repleta de efeitos, “Promenade” traz uma letra ambígua e leve ao mesmo tempo. A canção funciona como uma preparação para a faixa instrumental “4th of July”, que traz uma guitarra elétrica distorcida e um baixo bem perceptível, causando uma certa “pressão” dentro da própria música. A composição sem a voz de Bono evidencia a mudança de sonoridade ocasionada por Eno, muito diferente do rock mais direto de Steve Lillywhite. Os sentimentos de desespero provocados pelo vício em heroína são retratados na letra de “Bad”, uma das principais faixas de The Unforgettable Fire. A composição aborda o crescente índice de consumo de drogas em Dublin. A música surgiu a partir de improvisações feitas por The Edge, e a entrada repentina da bateria de Larry Mullen Jr. deu uma atmosfera dramática para a composição. Nesse clima de jam, a voz de Bono Vox vai crescendo durante a música, conectando os quatro integrantes do U2 em uma canção longa e com versos fortes, como este, que é praticamente gritado: TO LET IT GO AND SO TO FADE AWAY TO LET IT GO AND SO FADE AWAY I’M WIDE AWAKE I’M WIDE AWAKE WIDE AWAKE I’M NOT SLEEPING OH, NO, NO, NO. Bono disse em vários shows que a letra de “Bad” se refere a ele mesmo e a um amigo que morreu por overdose de heroína. Outras versões contam que a música fala de alguém que cresceu em Dublin e testemunhou a violência local. A capital irlandesa enfrentava um surto de tráfico de drogas na época. Os produtores Daniel Lanois e Brian Eno não intervieramna composição da letra, pois estavam mais interessados nos experimentalismos instrumentais. “Indian Summer Sky” tem uma guitarra elétrica mais tradicional, repleta de frases abafadas e bem demarcadas. A letra de Bono, com significado bastante aberto, parece falar das visões de um homem sobre a Terra e o céu, que afetam seu próprio interior. “Elvis Presley and America” é uma improvisação lenta da música “A Sort of Homecoming”. A composição reflete um conjunto com o restante do disco e mostra como a banda irlandesa realmente se aprofundou em sua visita aos Estados Unidos. Já a última faixa do álbum é política e chama-se “MLK” em homenagem ao ativista Martin Luther King. A letra foi inspirada no discurso público mais famoso de King, batizado de “Eu tive um sonho”. Em sua composição, Bono fala dos sonhos das pessoas e da esperança de que tudo termine da melhor maneira possível. Com esse clima positivo, The Unforgettable Fire se encerra, sendo tanto uma compilação de letras políticas como uma experiência sonora inédita dos garotos de Dublin. O Slane Castle permitiu que o U2 gravasse confortavelmente, aproveitando o som diferenciado que a banda poderia captar nos espaçosos cômodos do local. No mesmo ano do lançamento do álbum, a banda de Bono Vox e The Edge saiu em uma turnê de 113 shows. Foi a A IMIGRAÇÃO IRLANDESA PARA OS ESTADOS UNIDOS País colonizado pelo Reino Unido, os Estados Unidos tiveram sua formação graças aos colonos ingleses e imigrantes de vários outros países europeus. A Irlanda era – e ainda é – uma nação que disputa poder com a Inglaterra. Após romper sua aliança com o papado católico, a Coroa britânica tornou-se anglicana. O território irlandês, assim, virou um local de disputas políticas e religiosas entre católicos e protestantes. Essa repressão britânica, aliada a problemas econômicos e sociais, provocou uma grande migração de irlandeses para a América, o novo continente. No arquipélago do Reino Unido, irlandeses eram vistos como parte de uma etnia inferior, que deveria se submeter ao controle inglês. Nos Estados Unidos, com o trabalho escravo africano e a colonização indígena, a cor de pele era o que importava na época. Dessa forma, os imigrantes que chegavam da Irlanda ganharam um novo status social e uma nova vida. Sobre essa mudança histórica, o escritor e historiador norte- americano Noel Ignatiev, especialista em racismo histórico, escreveu, em 1995, o livro How the Irish Became White [“Como os irlandeses se tornaram brancos”]. A tese principal da obra é de que a Irlanda era tratada como a pior etnia do território britânico, assim como os africanos negros eram maltratados em diversas colônias americanas. A situação se reverteu quando os irlandeses se estabeleceram em novos territórios, especialmente nos Estados Unidos, utilizando a própria escravidão negra como trampolim para a ascensão social. Outra obra que traduz bem esse movimento na sociedade irlandesa é o filme do diretor Martin Scorsese Gangues de Nova York (2002) – com Leonardo DiCaprio, Daniel Day Lewis e Cameron Diaz –, que mostra como os imigrantes se organizaram em guetos contra negros, italianos e diversas etnias que dificultavam sua entrada no país. O filme também mostra como os irlandeses tentaram rapidamente se envolver na política republicana americana para se estabelecer na nova nação. O U2 escreveu a música-tema do filme, chamada “The Hands that Built America”. A composição teve produção do guitarrista The Edge, concorreu ao Oscar de melhor canção e ganhou o Globo de Ouro de melhor canção original. primeira vez que o U2 desembarcou na Austrália e na Nova Zelândia para tocar seus sucessos. The Unforgettable Fire, de certa forma, aproxima a história dos quatro roqueiros irlandeses com a cultura americana, que é mundialmente difundida. Na época da gravação do material, o U2 testemunhou a pobreza das grandes cidades dos Estados Unidos e se aproximou do blues, ritmo criado pelos negros norte-americanos e que posteriormente deu origem ao próprio rock. O quarteto também testemunhou a beleza do interior do país, com seus desertos e outras paisagens que destoam das grandes metrópoles. O disco consolida a carreira da banda e mostra pontos em comum entre a história dos Estados Unidos e a história individual de seus integrantes, repleta de ambiguidades. Bono, Edge, The Larry e Adam procuravam tanto alcançar o sucesso internacional com sua sonoridade pop quanto conquistar fãs com letras críticas e conscientizadas. A turnê de The Unforgettable Fire deu origem ao EP Wide Awake in America, no qual estão registradas versões ao vivo de “A Sort of Homecoming” e de “Bad”, além das versões de estúdio dos B-sides “Love Comes Tumbling” e “The Three Sunrises”. Lançado no dia 1º de maio de 1985 apenas nos Estados Unidos e no Japão, o EP foi um sucesso de vendas, o que o fez ser lançado no Reino Unido em 1987, e internacionalmente no ano de 1990, tornando-se um objeto de culto entre os fãs. PARRA, Pimm Jal de La. U2: Live. Biografia da banda até o ano de 2003. Banda norte-americana de punk rock formada por Tom Verlaine e Richard Hell. Os dois tinham pretensão de se tornar poetas e ajudaram a fundar a cena punk em Nova York. Eles tocavam no CBGB (Country, BlueGrass, and Blues), clube que reúne a maioria das bandas do estilo. Os Ramones foram revelados nesse mesmo bar. MCCORMICK, Neil. U2 by U2. Grupo político dos anos 1960 que defendia o socialismo e os direitos dos negros nos Estados Unidos. MCNEIL, Legs. MCCAIN, Gilian. Mate-me por favor. Ranking da revista Billboard publicado semanalmente, elencando os duzentos álbuns e EPs mais vendidos nos Estados Unidos. Posteriormente, Steve Morse faria resenhas mais favoráveis aos trabalhos do U2, provavelmente devido ao sucesso comercial da banda no mundo todo. Narciso é um personagem da mitologia greco-romana que morre admirando sua própria beleza no reflexo da água. “Sociedade Shalom”, em português. Desde 1919, várias organizações tentaram tirar a Irlanda do Norte do domínio do Reino Unido. O objetivo desses grupos é integrá-la novamente à Irlanda, que tem Dublin como capital. As divergências entre irlandeses e britânicos ocorrem tanto por questões territoriais quanto religiosas – a Irlanda é católica, enquanto os territórios ingleses são protestantes. Montmatre é conhecido como “bairro dos artistas de Paris”, onde viveram Salvador Dalí, Claude Monet e Pablo Picasso. O local é famoso por sua vida noturna atraente. Thriller, lançado em 1982, foi o sexto trabalho de estúdio do cantor Michael Jackson e é considerado um marco na música pop e em sua carreira. É o álbum mais vendido de todos os tempos, com 42 milhões de cópias vendidas no mundo. O U2 NO CIRCUITO MUNDIAL 2 ONE MAN COME IN THE NAME OF LOVE ONE MAN COME AND GO ONE MAN COME HERE TO JUSTIFY ONE MAN TO OVERTHROW. Trecho de “Pride (In the Name of Love)” Em julho de 1985, o U2 se apresentou no Live Aid, apresentando The Unforgettable Fire no Wembley Stadium, em Londres. O evento foi promovido para ajudar no combate à fome na Etiópia. De acordo com a CNN, o festival teve a participação de cerca de 72 mil pessoas no Reino Unido. O Live Aid contou também com apresentações de David Bowie, Queen, Madonna, Mick Jagger, Paul McCartney, Elton John e The Who. Foi um dos primeiros shows ao vivo transmitido via satélite, com exibição simultânea nos Estados Unidos e no Reino Unido14. O evento foi similar ao Concert for Bangladesh, que ocorreu em 1971, com participação do ex-beatle George Harrison. O músico foi pioneiro em festivais filantrópicos e serviu de inspiração para o U2 e para as bandas de rock que passaram a militar por causas como o combate à fome e à miséria na África. Segundo Bono Vox em entrevista à VH1, o evento fez com que ele pensasse em “realmente salvar vidas” por meio de sua música. Bono viajou com a esposa Alison para a Etiópia, para ajudar em ações humanitárias no local. O vocalista filantropo também visitou El Salvador e a Nicarágua com a Anistia Internacional. As viagens foraminspiradas pelo Live Aid. Em 1985, a revista Rolling Stone elegeu o U2 como a maior banda dos anos 1980. Com a turnê que chegou até a Oceania, o grupo foi se transformando efetivamente em uma banda global, com fãs ao redor do mundo todo. Durante a apresentação de “Bad” no Live Aid, Bono Vox desceu do palco e dançou com uma fã. A performance durou catorze minutos e se tornou uma marca registrada do vocalista, que chegou a se encontrar com fãs até no Brasil. THE JOSHUA TREE E RATTLE AND HUM: O U2 SOB INFLUÊNCIA DO COUNTRY ROCK E DO BLUES Segundo as entrevistas do documentário realizado pela VH1, o U2 sofreu outra alteração em sua sonoridade após The Unforgettable Fire. A banda tinha crescido musicalmente e não era mais só um grupo de garagem com influências de David Bowie, new wave e o punk rock inglês do The Clash. O U2 incrementou sua produção com elementos de música abstrata trazidos por Brian Eno e, com os shows em grandes estádios, a banda passou a expressar outras influências em suas músicas. O country rock e o blues começaram a se tornar uma inspiração para a banda, e o seu som atingiu um novo patamar. Ainda com produção de Brian Eno, The Joshua Tree foi lançado oficialmente no dia 9 de março de 1987, sendo aclamado pela crítica especializada. A capa do material foi fotografada por Anton Corbijn. A foto traz a banda inteira na área desértica de Mojave, na Califórnia, no sudoeste dos Estados Unidos. No local, há plantas chamadas de “Joshuas Trees”. Bono tinha curiosidade em descobrir o significado religioso desse nome, que utiliza a palavra “Joshua” (Josué), em menção ao profeta do Antigo Testamento. O cantor descobriu que a árvore recebeu esse nome dos mórmons que vivem na região, por ela crescer de forma semelhante a Josué rezando. Foi assim que o nome do álbum foi escolhido pela banda. “With or without You”, a terceira faixa do disco, é tocada até hoje em rádios do mundo inteiro e, no mesmo ano do lançamento do álbum, chegou ao topo das paradas dos Estados Unidos e do Canadá. A nova obra do U2 também conquistou o público com outros dois singles: “I Still Haven’t Found what I’m Looking for” e “Where the Streets Have No Name”. A guitarra elétrica continuou, nesse novo trabalho, brincando com efeitos de pedal e com poucas notas para compor sua harmonia. No entanto, “Where the Streets Have No Name” é uma música com ritmo característico do rock, com uma guitarra atraente e uma letra com ambiguidades que traduzem o conceito do álbum: a própria cultura norte-americana, cada vez mais presente nos temas do grupo irlandês. The Edge toca a introdução num tempo mais rápido que os demais integrantes, contrastando com os outros instrumentos15. Bono Vox escreveu a letra misturando sensações das cidades americanas, das áreas urbanas, com a dos desertos, das áreas sem grande densidade populacional. A canção traduz desejos e conceitos que se desfazem como os ventos desérticos. Influenciados pelo reggae jamaicano, com seu ritmo diferente e mais lento em comparação ao rock, o U2 compôs “I Still Haven’t Found what I’m Looking for”. Single que faria sucesso no mundo inteiro, a letra de Bono Vox parece uma canção tipicamente gospel, com inspiração cristã. Brian Eno foi certamente uma referência para Bono nesse tipo de composição, já que o produtor admirava o trabalho de “Blind” Willie Johnson, guitarrista de blues que fazia música religiosa16. “With or without You”, apesar de ser uma balada romântica, não foi composta de forma tradicional, com versos intercalados com o refrão. Daniel Lanois, um dos produtores e amigo de Brian Eno, afirmou ter incentivado a banda a brincar com repetições nessa faixa, tornando a composição17 mais sofisticada. A música se tornou uma das mais tocadas da banda em seus quase quarenta anos de história. Uma crítica clara à violência e aos tiroteios, “Bullet the Blue Sky” é um hino sobre a América, sem metáforas ou outras figuras de linguagem. É uma denúncia ao domínio dos Estados Unidos sobre a América Central, como os conflitos em El Salvador. Slides da guitarra de The Edge substituem o modo de tocar o instrumento fora do tempo ou com as notas abafadas. O baixo e a bateria soam claros, demarcando o tempo da música e potencializando a voz de Bono. Sobre o desespero e o vício em heroína presentes na Irlanda, Bono Vox compôs a música “Running to Stand Still”, que conta com um piano e um acompanhamento instrumental mínimo, que cresce durante a música. A composição ganha vigor com a entrada da bateria de Larry Mullen, que confere uma profundidade que não está clara nos primeiros instantes da composição. O som de gaita, no final da música, dá um tom norte-americano para o som tipicamente irlandês do U2. “Red Hill Mining Town” é uma música sobre herança, sobre o fardo que pesa tanto para os pais quanto para os filhos. A canção explora também um amor que já não existe mais, deteriorado pela passagem do tempo. Bono Vox se destaca pela estabilidade de sua voz, mesmo durante alguns trechos gritados da letra. As contradições dos Estados Unidos, uma terra retratada como de grande fé e também de várias desiluções, novamente se tornaram tema para a banda na música “In God’s Country”. Bono Vox disse que escreveu a letra pensando na Estátua da Liberdade. O cantor do U2 também lembrou-se da guerra civil que existia na Nicarágua, país que o vocalista visitou para entender melhor o subdesenvolvimento em comparação à prosperidade norte- americana. Uma gaita aparece novamente na música “Trip through Your Wires”, acompanhada por uma guitarra elétrica rítmica. A canção de Bono Vox fala sobre encontros no deserto, sobre a ambiguidade e a incerteza. Dedicada a um índio maori chamado Greg Caroll que morreu em um acidente de motocicleta envolvendo um motorista bêbado, o cantor também compôs a música “One Tree Hill”, que compara os movimentos da humanidade com os da própria vida selvagem. O indígena era amigo pessoal de Bono Vox e atuava como roadie da banda. Resultado de uma sessão de improvisos, a música “Exit” é dedicada a uma obra literária. Bono se inspirou no livro The Executioner’s Song [“A canção do carrasco”, em tradução livre], do escritor e jornalista Norman Mailer18, que narra a história de um serial killer. Na canção, o vocalista abandona seu estilo romântico de cantar e emprega um tom misterioso, constante e descritivo ao falar sobre o assassino. A música tem uma guitarra rasgada e várias progressões no contrabaixo. Bono Vox também tornou-se um ativista nos países subdesenvolvidos. “Mothers of the Disappeared” é a última faixa de The Joshua Tree e é a única claramente dedicada às vítimas dos conflitos armados na Nicáragua e em El Salvador, onde Bono esteve para realizar ações filantrópicas. Embora seja a única música que destoa da temática norte-americana do álbum, ela aborda as ambiguidades sociais que existem em vários países ao redor do mundo. Quando participou de uma turnê da Anistia Internacional pela América Latina, em 1986, Bono Vox se envolveu com o CoMadres, o comitê de mães dos desaparecidos e perseguidos políticos em El Salvador. O cantor também soube de outra organização contra a repressão e a violência na América do Sul: o movimento Madres de Plaza de Mayo, contra o regime militar na Argentina. “Mothers of the Disappeared” é uma homenagem às duas organizações. Além de adotar uma linha melódica nos solos de guitarra, ao longo do disco, The Edge trabalhou em bases instrumentais abafadas e com um ritmo bem demarcado. O crítico Steve Pond, da revista Rolling Stone, escreveu um texto bastante favorável ao novo material: “Para uma banda que sempre se especializou em se inspirar, mais do que em gestos de uma vida – uma banda determinada a se tornar importante –, The Joshua Tree parece ser o grande álbum, e é precisamente assim que ele soa”. Pond também afirmou que a nova obra do U2 não era mais um Born in the U.S.A., lançado por Bruce Springsteen em 1984. O crítico disse que o trabalho do grupo liderado por Bono Vox era mais variado e com músicas acessíveis ao grandepúblico, com “poder de seduzir e capturar a audiência das massas em seus próprios termos”. Steve Morse, crítico do Boston Globe, afirmou que The Joshua Tree tem músicas espirituais que lembram The Unforgettable Fire, mas que o estilo do disco flerta com os primeiros trabalhos do U2, que possuem mais energia. As letras de The Joshua Tree eram metáforas sobre os ideais dos Estados Unidos e sobre a realidade do país. A maior ironia é que justamente a nação criticada nas letras foi a que melhor recebeu o material novo do U2. THE CITY’S A FLOOD, AND OUR LOVE TURNS TO RUST WE’RE BEATEN AND BLOWN BY THE WIND TRAMPLED IN DUST I’LL SHOW YOU A PLACE HIGH ON A DESERT PLAIN WHERE THE STREETS HAVE NO NAME. Trecho de “Where the Streets Have No Name” Bono Vox escreveu letras que mesclam sensações de uma América que tem, ao mesmo tempo, extensos desertos e cidades gigantescas. Com essa temática nas canções, e transmitindo uma certa sensação de estar perdido no “american way of life”, o estilo de vida norte-americano, as guitarras frenéticas do country rock e do blues combinaram com toda a obra. The Joshua Tree foi o maior sucesso entre os trabalhos de estúdio do U2, vendendo cerca de 25 milhões de cópias. Nos Estados Unidos, foi o primeiro trabalho de um grupo a chegar em um milhão de cópias vendidas. No dia 4 de abril de 1987, o álbum estreou na 7ª posição do ranking Billboard Top Pop Albums. Ficou atrás de Invisible Touch, da banda de rock progressivo Genesis (6ª), e de Slippery When Wet, do Bon Jovi (2ª). A Associação de Gravadoras da América (RIAA – Recording Industry Association of America) certificou a obra com um disco triplo de platina. Em 25 de abril de 1987, The Joshua Tree chegou ao topo da Billboard. Em 1988, o disco ganhou dois Grammy: Álbum19 do Ano e Melhor Performance de Rock e também o de Melhor Videoclipe por “Where the Streets Have No Name” – gravado no telhado de um prédio em Los Angeles, Califórnia, nos Estados Unidos. Segundo a VH1, o álbum ficou no topo das paradas de 22 países. Em 2006, a revista Time colocou este trabalho na 72ª posição quando elegeu os cem maiores álbuns de todos os tempos. O lançamento do álbum foi seguido por uma turnê de 109 shows pelo mundo. Bono Vox chegou a cantar uma versão da música “Help”, dos Beatles, no Wembley Stadium, em Londres. A versão do vocalista do U2 foi dedicada aos ingleses, que passariam mais cinco anos sob o governo neoliberal de Margaret Thatcher20. Nos Países Baixos, 92 mil ingressos para um show da banda foram vendidos em apenas uma hora. A energia e a espiritualidade do som dos rapazes de Dublin já tinham ultrapassado os limites da Irlanda e conquistado o mundo todo. Esse sucesso atraiu a atenção do diretor de cinema Phil Joanou. O cineasta se infiltrou nos bastidores da banda e começou a fazer um documentário sobre o U2. O filme resultou em um novo álbum, Rattle and Hum, com músicas novas, versões ao vivo e covers de bandas que inspiraram o grupo liderado por Bono Vox. The Edge afirmou que o trabalho em vídeo deveria ser pequeno no começo, mas que no fim se tornou um grande material da banda. A produção ficou por conta de Jimmy Iovine, que já havia trabalhado com John Lennon e Bruce Springsteen. O lançamento oficial do disco ocorreu no dia 10 de outubro de 1988. Rattle and Hum se tornou um álbum duplo, com versões de “Helter Skelter”, escrita por Paul McCartney e John Lennon, e “All Along the Watchtower”, de Bob Dylan. Durante a turnê na qual o disco foi gravado, o U2 chegou a tocar com Dylan e até com o mestre do blues, B. B. King, em 1989. O trabalho de Joanou, que era fã do grupo, tornou-se um presente para os admiradores da banda de Bono, The Edge, Larry e Adam. Joanou voltaria a trabalhar com o U2 nos videoclipes de “One”, do álbum Achtung Baby (1991), e de “All Because of You”, de How to Dismantle an Atomic Bomb (2004). Embora seja um trabalho misto, intercalando canções gravadas e ao vivo, Rattle and Hum é considerado o sexto disco de estúdio por conta da grande quantidade de material inédito. As gravações aconteceram no Sun Studio, em Memphis, no mesmo local em que o rei do rock, Elvis Presley, costumava cantar em sua terra natal. No documentário do disco, Rattle and Hum é descrito como uma “jornada musical”. De fato, o material foi uma verdadeira viagem para Bono, The Edge, Adam e, sobretudo, para Larry Mullen Jr., pois os músicos circularam por Memphis, Nova Orleans e Nova York, cidades musicalmente importantes nos Estados Unidos. Os irlandeses também vistaram Graceland, e Mullen, fã confesso de Elvis, emocionou-se muito na casa do ídolo, conferindo a coleção de motos do rei do rock. O documentário foi lançado ainda em novembro de 1988 nos Estados Unidos. Rattle and Hum abre com “Helter Skelter”, cover dos Beatles. Bono Vox cantou a música em uma apesentação feita no dia 8 de novembro de 1987, na McNichols Arena, em Denver, no estado americano do Colorado. O cantor começou a performance dizendo: “Esta é a música que Charles Manson21 roubou dos Beatles… nós estamos roubando-a de volta!”. “Helter Skelter” também é conhecida por ser uma das músicas mais pesadas do famoso quarteto de Liverpool. Por esse motivo, é apontada como um dos primórdios de um dos maiores subgêneros do rock: o heavy metal22. “Van Diemen’s Land” é uma das poucas músicas com letra do guitarrista The Edge. O título da música é uma referência ao primeiro nome dado à Ilha da Tasmânia, que hoje é parte da Austrália. A estrutura da canção, com acordes simples e puxados para o blues, faz a música toda soar como uma composição americana. A quinta música, “Desire”, é mais folk, mesmo sendo inspirada no rock quase punk dos Stooges de Iggy Pop. A música se transformou em uma espécie de introdução ao cover “All Along the Watchtower”. No entanto, no disco ela é seguida por “Hawkmoon 269”, música com potencial romântico, semelhante às composições mais bem-sucedidas da banda. Gravada originalmente em 1967, “All Along the Watchtower” é uma canção de Dylan sobre as passagens bíblicas que ele passou a ler após um acidente de moto em 1966. Há quem associe alguns trechos do Livro de Isaías, especialmente o capítulo 21, do versículo 5 até o 9, à letra da composição. O trecho fala sobre as sentinelas da torre de vigia na Babilônia, reino que entrou em decadência. Na versão do U2, embora Bono Vox toque violão, a música ganhou uma sonoridade mais elétrica e aguda, diferente do folk de Bob Dylan, predominantemente acústico. Sucesso em The Joshua Tree, Rattle and Hum também possui “I Still Haven’t Found what I’m Looking for”, trazendo a música em novo arranjo, acompanhada por um coral gospel, e novamente abordando a temática estadunidense. O disco também tem a música “Freedom for My People”, de Satan and Adam, dupla de blues composta pelos músicos Sterling “Satan” Magee e Adam Gussow. Em vez de gravar um cover, o U2 registrou o som da banda no bairro do Harlem, em Nova York, como uma forma de divulgar a música tipicamente negra e americana. No final dos anos 1980, o Apartheid ainda dividia23 negros e brancos na África do Sul. Como uma música engajada contra essa separação baseada na cor da pele, Bono Vox compôs a música “Silver and Gold” – um B-side do single Where the Streets Have No Name. A letra pede o reconhecimento dos negros como indivíduos livres com metáforas sobre as disputas sociais presentes naquela sociedade. “Pride (In the Name of Love)” acrescenta ao conjunto questionamentos levantados no álbum The Unforgettable Fire sobre a falta de limites na luta humana pelo orgulho, com letra inspirada, como já foi dito, em Martin Luther King e em Malcolm X. Em Rattle and Hum, essa música parece estar em sintonia com as questões sobre o racismo na África e em outras partes do mundo. “Angel of Harlem” foi composta durante a turnê de The Joshua Tree e foi gravada especialmente para Rattle and Hum. A letra escrita e gritada por Bono Vox faz referência a diversos músicos negros, como os jazzistas John Coltrane e Miles Davis. A música é dedicada a Billie Holiday,que faleceu em 1959 e teve uma carreira brilhante como cantora de jazz e blues, mesmo com uma vida pessoal conturbada por desilusões amorosas. O disco contou com uma participação especial de Bob Dylan na composição da letra de “Love Rescue Me”, que ganhou uma melodia típica do U2 com o uso de uma gaita, o que a aproxima da música folk e das composições acústicas norte-americanas. Sua temática aborda a vida na estrada, o vaivém de pessoas à procura da individualidade. Em Rattle and Hum, B. B. King, o “rei do blues”, fez uma performance com o U2 na música “When Love Comes to Town”. Larry, Adam e The Edge fazem os sons de fundo, deixando espaço para Bono Vox cantar livremente, enquanto King sola e completa as frases do músico irlandês. Essa sintonia faz parte da veia americana presente nos materiais do U2 no final dos anos 1980. “Heartland”, diferentemente de outras composições de The Joshua Tree ou mesmo de Rattle and Hum, parece retratar em sua letra um Estados Unidos ideal, uma terra prometida. Essa composição de Bono também parece ter um aspecto messiânico e religioso ao falar que a “terra do coração” depende de suas convicções e de sua fé, retomando as raízes cristãs do U2. “God Part II” é a segunda parte de uma música que John Lennon compôs em 1970 associando Deus a “um conceito que usamos para mensurar nossa dor”. Seguindo a linha de composição de Lennon, Bono Vox escreve sobre o ceticismo em relação aos anos 1960, “a era de ouro do pop”, e a drogas como a cocaína. E, assim como John, Bono grita para que se acredite no amor. Assim como “Freedom for My People”, “The Star Spangled Banner” é outra música que não é do U2 no álbum Rattle and Hum. Trata-se de uma versão do hino dos Estados Unidos da América transformada em melodia pela guitarra elétrica agressiva daquele que ainda é considerado um dos maiores músicos da história: Jimi Hendrix24. O solo instrumental é acompanhado por “Bullet the Blue Sky”, uma das músicas mais críticas do U2 sobre os Estados Unidos. O disco acaba com “All I Want Is You”, música de Bono Vox sobre o pouco valor das riquezas, como o ouro, os diamantes ou o próprio dinheiro. O cantor lembra, no final do álbum, que o bem mais precioso é a vida. O atentado à bomba que ocorreu na cidade de Enniskillen, na Irlanda do Norte, em 8 de novembro de 1987, deixou onze mortos e 63 feridos. Na mesma época, o IRA ameaçou sequestrar Bono Vox e chegou a atacar um dos automóveis do U2. Esses incidentes impulsionaram o vocalista a condenar os conflitos separatistas entre irlandeses e britânicos durante uma performance da música “Sunday Bloody Sunday” na turnê de Rattle and Hum. Esse envolvimento do cantor com os conflitos armados na Irlanda marcaram sua carreira na década de 1980. Em 1989, um ano depois do lançamento de Rattle and Hum, Adam Clayton se envolveu com drogas e chegou a ser detido em um pub irlandês com dezenove gramas de maconha. Essa não era a primeira confusão causada pelo baixista do U2, que havia enfrentado problemas por dirigir alcoolizado em 1985. Se o processo de Clayton por porte de drogas continuasse, ele poderia ficar impedido de fazer turnês. Seu advogado, no entanto, apenas teve de pagar uma fiança de 25 mil libras. Com o crescente sucesso da banda, Larry Mullen Jr. disse a Bono Vox que estava cansado do ritmo das turnês e que sentia que eles não estavam mais gostando do que faziam. “‘Estou considerando seriamente dissolver o U2’, eu disse para Bono. E ele respondeu: ‘Você tem um bom argumento’”, explicou o baterista, em entrevista à VH1, em 2000. A banda chegou a anunciar em alguns shows que aquelas eram suas últimas performances, recebendo vaias do público como resposta. Foi com esse clima que o U2, em vez de acabar, passou por uma transformação a partir dos anos 1990. BREVE HISTÓRIA DO BLUES E SUA RELAÇÃO COM O ROCK’N’ROLL O blues surgiu como música dos escravos negros africanos que viviam nos Estados Unidos durante o século XIX. Eram canções que traduziam a melancolia vivida pelo povo africano que foi obrigado a emigrar para o continente americano. As composições têm mudanças de progressões, chamadas turnarounds, que deixam todas as partes da música harmônicas. Entre as pessoas importantes do estilo, uma das mais famosas é Robert Johnson, músico negro influente na década de 1930. Nascido no estado americano do Mississippi, ele ficou famoso pela letra e pela melodia de “Cross Road Blues”. A canção narra o encontro do músico com o diabo, que lhe teria feito uma proposta irrecusável: uma habilidade musical surpreendente em troca de sua alma. Johnson também compôs “Sweet Home Chicago”. A partir da década de 1950, músicos como Howlin’ Wolf e Muddy Waters passaram a adotar a guitarra elétrica e a gaita junto às novas composições de blues. O estilo também começou a flertar com o jazz, com o folk country e com o rock’n’roll, até então música típica de homens brancos. Músicos como Eric Clapton, a partir dos anos 1960, passaram a estudar a música de Waters para aplicar características do blues no rock tipicamente inglês, diferente do que era feito até então nos Estados Unidos. O blues ainda influenciou bandas de hard rock como o Led Zeppelin. No U2, o estilo musical afetou as composições do guitarrista The Edge a partir do álbum The Joshua Tree. O cantor Bono Vox também passou a compor letras com temáticas relativas à sociedade norte-americana. A transmissão europeia foi feita pela BBC. As três horas finais foram transmitidas nos EUA pela ABC. A guitarra da música está no compasso 3/4, enquanto os demais instrumentos seguem o compasso típico do rock’n’roll, 4/4. Willie Johnson era do Texas e morreu em janeiro de1945, pouco antes do fim da Segunda Guerra Mundial. Além de músico, o cantor de blues também era pastor religioso. Informação é do jornalista Colm O’Hare, da revista irlandesa Hot Press, de Dublin. Jornalista de Long Branch, Nova Jersey, nos Estados Unidos. Ganhou o prêmio Pulitzer e criou, com Truman Capote e Tom Wolfe, o que é conhecido como Novo Jornalismo, isto é, o uso de técnicas literárias e do romantismo na reportagem de imprensa. Os prêmios do Grammy são o maior reconhecimento da Academia Nacional de Gravadoras de Artes e Ciências (National Academy of Recording Arts and Sciences) à indústria musical nos Estados Unidos. Thatcher (1925-2013) foi premiê do Reino Unido de 1979 até 1980. Ela foi a primeira mulher a ocupar o cargo no país. Também foi a chefe de Estado inglesa durante a Guerra das Malvinas. Criminoso norte-americano famoso nos anos 1960 por ter criado a “Família Manson”, grupo responsável por assassinatos em série. Charles Manson afirma ter sido inspirado por mensagens subliminares em composições dos Beatles, que previam um suposto conflito entre brancos e negros, no qual o triunfo seria dos descendentes de africanos. O metal também foi muito influenciado pelas improvisações do Cream e pela técnica dos Yardbirds, nos anos 1960. Mas o rock pesado só se consolidou como gênero na década de 1970, principalmente com as bandas Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath. O regime de segregação racial na África do Sul durou de 1948 a 1994, e só teve fim com a vitória democrática de Nelson Mandela. Hendrix foi, junto a Eric Clapton, um dos músicos que mais explorou a guitarra na década de 1960, usando bastante a distorção nos amplificadores e os efeitos tremolo (vibração das cordas) com as alavancas de seus instrumentos. ANOS DE EXPERIMENTALISMO 3 A MTV, emissora musical americana que sempre deu destaque às grandes apresentações da banda de Bono Vox e Larry Mullen Jr. revelou grandes talentos que mudariam o estilo do rock no final dos anos 1980 e no começo dos anos 1990. O grupo Guns N’ Roses foi o último sopro do hard rock tradicional oitentista, que durou até o meio da década seguinte. No entanto, as principais novidades iriam surgir do rock de garagem de Seattle, uma cidade dos Estados Unidos. Soundgarden, Pearl Jam, Mudhoney e Alice in Chains chamaram a atenção por fazer um rock alternativo que não era
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