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U2 - A Biografia - Vários Autores

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Prévia do material em texto

U2
A BIOGRAFIA
Universo dos Livros Editora Ltda.
Rua do Bosque, 1589 • 6º andar • Bloco 2 • Conj. 603/606 
Barra Funda • CEP 01136-001 • São Paulo • SP 
Telefone/Fax: (11) 3392-3336 
www.universodoslivros.com.br 
e-mail: editor@universodoslivros.com.br 
Siga-nos no Twitter: @univdoslivros
http://www.universodoslivros.com.br
mailto:editor@universodoslivros.com.br
U2
A BIOGRAFIA
São Paulo
2013
© 2013 by Universo dos Livros 
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.
Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora,
poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios
empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer
outros.
1ª edição – 2013
Diretor editorial 
Luis Matos
Editora-chefe 
Marcia Batista
Assistentes editoriais 
Ana Luiza Candido 
Raíça Augusto 
Raquel Nakasone 
Colaboração 
Pedro Zambarda de Araújo
Preparação 
Marina Constantino
Revisão 
Mariane Genaro 
Arte 
Francine C. Silva 
Karine Barbosa 
Valdinei Gomes
CDD 782.42166
Capa 
Zuleika Iamashita
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
Angélica Ilacqua CRB-8/7057
U1 U2 – Biografia ilustrada / Universo dos Livros 
 – São Paulo: Universo dos Livros, 2013.
 256 p.: il.
 ISBN: 978-85-7930-364-7 
 1. U2 (conjunto musical) - Biografia 2. Música 3. Rock
13-0324
PREFÁCIO
Musicalmente falando, eu venho de um berço mais pesado: a mistura do rock
and roll com um blues mais intenso, distorcido e barulhento que finalmente
evoluiu para o glorioso heavy metal. Este é o meu chão desde o início. Eu
não dava bola para os outros estilos, não ia a discotecas (antigo nome dado às
baladas de hoje em dia), ficava fechado escutando somente os meus ídolos do
metal, querendo ser igual a eles: rebeldes, livres, desbocados, virtuosos e
poderosos. Naqueles dias somente a música pesada salvaria meu mundo. Por
intermédio dos amigos de escola, principalmente das mulheres, namoradas e
amigas que escutavam tudo aquilo que eu odiava, eu tinha contato com outras
bandas fora do heavy metal.
O U2 era uma dessas bandas que eu odiava, achava tudo muito fraquinho e
inocente, não sentia o peso da rebeldia de suas letras e melodias e sempre me
perguntava: como uma banda poderia ser boa se não tinha nem guitarra
distorcida? Para mim, era um absurdo. Pensamento e atitude mais do que
radical, mas era como eu me sentia na época.
Entrei no grupo Sepultura em 1987, e a partir desse momento, comecei a
abrir mais os ouvidos para outros estilos de música, desde o punk e o hard
core até as coisas mais dançantes como Oingo Boingo e Devo. Essas
influências podem não ser tão óbvias quando se escuta a música do Sepultura,
mas de uma forma ou de outra elas estão lá. Uma das minhas primeiras
aventuras com meus novos companheiros de banda foi ir ao cinema, em Belo
Horizonte, num bairro tradicional da capital mineira, o Floresta. Aquele era
um cinema antigo que cheirava a mofo. Fomos assistir ao filme Rattle and
Hum. Eu ainda tinha uma certa birra com o U2 que me acompanhava desde
os tempos de escola, mas resolvi dar uma chance a mim mesmo e fomos
todos ao cinema curtir o filme sobre o tour da banda que estava se tornando o
mais novo gigante da música mundial. Como naquela época ainda era
impossível a vinda do U2 ao Brasil, o cinema era nossa única chance de
sentir a banda ao vivo, ver como eles se portavam no palco, como soavam
seus instrumentos sem os truques de estúdio. E foi uma experiência
fantástica. Apesar de o cinema ser antigo, o som estava impecável, uma
mistura perfeita de imagem e música que hipnotizava. Imagino que foi o
mesmo efeito que se teve quando, dez anos antes, o filme do Led Zeppelin,
The Song Remains the Same (com o ridículo nome brasileiro Rock é rock
mesmo) estava sendo exibido pelos cinemas daqui. Creio que essa foi uma
referência para o próprio U2, quando resolveram fazer seu filme.
Eu viajei com os efeitos de luz no palco, com as letras do Bono e os solos
marcantes do The Edge. Lembro que a versão de “Bullet the Blue Sky” me
deu um tapa na cara. O som do baixo do Adam Clayton estava um absurdo de
pesado. O efeito visual do Bono segurando um tipo de lanterna gigante,
jogando a luz em cima do The Edge na hora do solo de guitarra foi incrível.
Aquilo, de certa forma, mudou a minha vida. Eu percebi que o U2 era um
monstro e que esse monstro havia acordado dentro de mim. Percebi que o que
eu procurava nas bandas de metal, a rebeldia, a liberdade de se expressar sem
medo mais o virtuosismo da simplicidade musical, o U2 tinha e o fazia com
propriedade.
Desde então me tornei um fã, acompanhando a trajetória da banda nos
palcos e nos estúdios e as andanças do Bono pelos caminhos da política e da
filantropia. A admiração foi tão grande e intensa que, em 2003, o Sepultura
gravou “Bullet the Blue Sky”, uma de nossas versões mais conhecidas e
respeitadas. Foi um dos grandes desafios musicais que nós tivemos em nossa
carreira.
Admiro muito as parcerias inusitadas que o U2 fez, principalmente com B.
B. King e o Green Day. O dueto de Bono com Frank Sinatra é histórico, e
isso me mostrou que na música, ou na arte, tudo é possível. As trilhas sonoras
para vários filmes, peças da Broadway e do teatro britânico, entre outras
parcerias com poetas e ativistas mostram o talento, a diversidade e a
inteligência desses irlandeses fabulosos.
A banda também é um exemplo de união e longevidade: é raro ver no
cenário musical uma banda de pelo menos 25 anos que não tenha mudado a
formação original, seja qual for o motivo. O U2 permanece junto e isso é que
mantém a identidade de sua música, apesar das mudanças visuais e sonoras
nas diferentes fases da banda; a primeira nota que se escuta de qualquer
música, você imediatamente sabe que é deles.
Nesta biografia espetacular, com informações detalhadas e fotos
sensacionais, você passa por todas essas diferentes fases, desde o começo
ANDREAS KISSER
Guitarrista do Sepultura e locutor da UOL 89 FM: A Rádio Rock
mais rebelde em Dublin até a conquista total do planeta, lotando estádios pelo
mundo, influenciando e mostrando diferentes maneiras de se fazer moda,
música e política. Prepare-se para uma viagem intensa e sem igual. Leia em
máximo volume!
INTRODUÇÃO
Esta biografia ilustrada não é apenas sobre o U2, mas também sobre sua
discografia. O livro conta as histórias individuais dos integrantes que, de
formas diferentes, construíram uma banda que rompeu os limites do rock até
atingir – e mudar – o mundo do pop, do mainstream1, da música consumida
internacionalmente. Aqui você também encontra informações sobre as
composições da banda, que misturam religião, política, engajamento,
pacifismo e, claro, vários estilos, resultando num rock direto e objetivo.
Escrever sobre os quatro músicos que transformaram o rock irlandês em
um fenômeno mundial é uma atividade que esbarra em uma abundância de
dados oficiais que detalham como o sucesso surgiu progressivamente. A
trajetória do U2 parece uma ascensão improvável de um grupo que não parou
de se reinventar desde o primeiro sucesso no show business.
Este livro tenta explicar de forma mais aprofundada o fenômeno U2
usando sua própria música, passando pelos grupos e subgêneros do rock que
influenciaram Bono e seus companheiros, até outras bandas inspiradas pelos
irlandeses, nos anos 1980. A relação entre o pós-punk e as músicas simples
do início será apresentada junto às viagens que o U2 fez pelos Estados
Unidos, os experimentalismos eletrônicos e a música europeia que os
roqueiros do grupo passaram a fazer em Berlim e no resto do mundo.
Com diversas influências em mais de trinta anos de carreira, o U2
realmente exibiu todas as suas transformações no palco. Entre 2005 e 2006, a
banda realizou a Vertigo Tour, turnê de divulgação do álbum How to
Dismantle an Atomic Bomb, com duas apresentações no Brasil. Segundo a
revista norte-americana Billboard, Vertigo se tornou a maior turnê de 2005,
com umaarrecadação de 260 milhões de dólares, atraindo cerca de 3 milhões
de pessoas em noventa shows.
Em 2009, o U2 deu início àquela que seria a maior turnê do mundo, a 360°
Tour. As apresentações tinham como destaque o palco localizado no centro
das arenas e dos estádios, proporcionando uma interação diferente entre os
músicos e o público. A turnê acabou em 2011 e teve três shows no Brasil.
Seria o maior faturamento de todos os tempos, segundo a empresa Live
Nation e a Billboard. Foram arrecadados 736 milhões de dólares. E Bono,
The Edge, Adam e Larry ultrapassaram os ganhos de artistas gigantes da
indústria musical, como Madonna, Roger Waters, Rolling Stones e AC/DC.
Toda essa estrutura fez do U2 um sucesso de crítica e de público, mas isso
só foi possível graças a uma constante renovação promovida pelos próprios
membros. Os irlandeses nunca deixam de nos surpreender e são responsáveis
por uma reinvenção notável no rock do século XXI.
No entanto, nem sempre foi assim. O grupo nasceu da vontade de quatro
garotos, quase punks, que montaram uma banda na escola. Eles não tinham
experiência alguma. Ao longo da carreira, muita coisa mudou para esses
meninos de Dublin, que já somam doze álbuns de estúdio, 150 milhões de
discos vendidos e fãs no mundo todo. A banda já percorreu os seis
continentes, conheceu chefes de governo, apoiou grandes causas mundiais,
tocou com músicos como B. B. King, Frank Sinatra, Paul McCartney, Bruce
Springsteen, Luciano Pavarotti… e até ameaçou se desfazer. Apesar disso,
Bono Vox, Larry Mullen Jr., Adam Clayton e The Edge, mesmo após tanto
tempo lado a lado, nunca se separaram.
O U2 é um filhote do punk rock inglês que cresceu na Irlanda, dominou a
Europa e ganhou voz no mundo. A história da banda transita entre diferentes
estilos e subgêneros do rock, demonstrando uma grande capacidade de se
reinventar a cada trabalho. Digna de ser transformada em livro, a biografia do
U2 é um verdadeiro retrato de artistas que se consagraram ao vivo, em shows
que atingiram públicos que certamente nem os músicos esperavam alcançar.
Mainstream: palavra em inglês utilizada para designar algo aceito pelo
grande público.
A BANDA QUE NASCEU DA
MORTE DO PUNK 
1
“É isto o que eu quero fazer”, disse Larry Mullen Jr. à sua mãe quando ouviu
uma bateria pela primeira vez, em uma escola de música. Em setembro de
1976, um mês antes de completar quinze anos, Larry colocou um anúncio na
escola protestante Mount Temple Comprehensive School, onde estudava,
procurando outros garotos para montar uma banda.
Alguns rapazes atenderam ao chamado de Mullen, entre eles os irmãos Dik
e Dave Evans, que se encarregaram das guitarras. Uniram-se a eles o baixista
Adam Clayton e Paul Hewson, que assumiu os vocais. Os guitarristas Ivan
McCormick e Peter Martin também compareceram ao primeiro ensaio da The
Larry Mullen’s Band, que ocorreu na cozinha da casa de Larry. Porém,
Martin não apareceu nos ensaios seguintes, e McCormick deixou a banda
semanas depois. Com Mullen, os irmãos Evans, Clayton e Hewson, estava
formado o grupo que daria origem ao U2. A partir disso, os jovens
começaram a fazer música sem saber tocar seus instrumentos com muita
precisão.
Mullen era popular no colégio, mas não chamava muita atenção como o
chefe do grupo de roqueiros. Assim, em pouco tempo, Bono Vox assumiu a
liderança e eles passaram a se chamar Feedback – uma referência ao modo
como The Edge toca sua guitarra, prestando
OS APELIDOS
Paul David Hewson ganhou o apelido “Bono Vox” ainda
na época da escola. Segundo The Edge, os apelidos eram
muito comuns, um costume para superar inseguranças da
juventude. “O apelido completo de Bono era Bono Vox of
O’Connell Street”, o guitarrista revelou à VH1, em 2000, que
era uma referência a uma loja de aparelhos auditivos
localizada em Dublin chamada Bonavox e também à
expressão em latim que significa “boa voz”. Além disso,
Bono Vox também lembra a marca Vox, fabricante de
amplificadores. Um dos músicos que mais utiliza aparelhos da
empresa é o próprio guitarrista do U2.
Já o nome completo de Dave Evans é David Howell Evans.
O apelido “The Edge” veio da observação de Bono sobre as
feições rígidas do rosto de Dave (“edge” pode significar, em
português, “aspereza” ou “rispidez”).
atenção no retorno do som. No começo da carreira, o U2 tinha dificuldades
técnicas para tocar ao vivo. Dessa forma, o nome Feedback também parecia
refletir, em parte, os problemas do início do grupo. Em 1977, enquanto o
punk explodia entre os roqueiros ingleses, a banda decidiu mudar o nome
para The Hype. Eles só tocavam covers de bandas famosas.
Segundo Bono Vox, em entrevista2 à VH1, em 2000, uma de suas
principais influências era o The Clash, grupo que pertencia ao punk rock
crescente em 1976. “O primeiro concerto a que eu assisti foi o Clash, na
faculdade. Não tinha visto nada parecido com aquilo. Havia um confronto
durante o show, e eu me esforcei para ficar no meio daquilo, com dezessete
anos.” A banda The Clash foi apresentada aos colegas pelo baixista Adam
Clayton, que foi assistir-lhes em 1977. Bono Vox começou a ter contato com
o punk rock nessa época, e esse tipo de rock direto e despretencioso deu
ânimo ao U2 em seu começo de carreira. No repertório do The Hype, também
estavam grupos como Buzzcocks e Sex Pistols, que também ajudaram a
popularizar o punk no Reino Unido.
Outros exemplos para o grupo foram o rock de David Bowie, que se tornou
ícone ao transitar entre subgêneros como glam rock até o rock’n’roll com
elementos eletrônicos, além do grupo norte-americano de punk rock
Television3 e da poetisa Patti Smith, que declamava em bares nos Estados
Unidos. Além disso, as primeiras perfomances ao vivo contavam com covers
dos Rolling Stones e dos Beach Boys. Dessa mistura de influências, aliada ao
punk em voga na época, o grupo dos garotos irlandeses começou a se firmar,
abandonando o nome The Hype, em 1978. Nesse mesmo ano, Dik Evans
deixou a banda. O nome definitivo surgiu de uma lista de seis possibilidades,
elaborada pelo músico Steve Averill, conhecido pelo apelido Steve Rapid,
que fazia parte da banda The Radioators from Space. O grupo escolheu U2
por causa da ambígua sonoridade – similar à expressão “you too” [“você
também”]. A escolha desse nome simples colaborou para que a banda4 fosse
conhecida internacionalmente por apenas dois caracteres.
A escolha desse nome também pode ser atribuída a um episódio ocorrido
um dia antes do nascimento de Bono (10 de maio de 1960), quando um avião
de espionagem norte-americano foi derrubado pelos soviéticos durante a
Guerra Fria. Essa versão ganhou força com as letras políticas e engajadas do
U2 contra os conflitos dos anos 1980 na Irlanda e no mundo.
Quando estavam tentando gravar seu primeiro trabalho, o punk rock
começou a entrar em decadência como estilo musical. Assim, com a morte de
suas bandas favoritas, o U2 foi ganhando destaque.
O MOVIMENTO PUNK ROCK
No começo dos anos 1970, o rock’n’roll atingiu um
patamar muito diferente do das duas décadas anteriores.
Grupos ingleses, como The Beatles e Rolling Stones,
conquistaram o mundo todo, e o movimento hippie ganhou
proporções históricas com os festivais de música, o sexo livre
e a proliferação das drogas. Naquela época, os jovens
protestavam contra a Guerra do Vietnã e a geração de seus
pais, que havia crescido na época da Segunda Guerra
Mundial.
Com a virtuose de guitarristas como Jimi Hendrix, Eric
Clapton e Jimmy Page, o heavy metal surgiu como um tipo de
rock impactante, repleto de sons distorcidos. O gênero
também foi muito influenciado pelas improvisações do Cream
e pela técnica dos Yardbirds, nos anos 1960, mas o rock
pesado só se consolidou na década de 1970, principalmente
com as bandas Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath,
que deram forma a esse movimento. Outros artistas, como
Alice Cooper e David Bowie, foram responsáveis por atribuir
dimensões teatrais para os concertos, interpretando
personagens fictícios.
No entanto, sobretudo nos Estados Unidos, começaram a
surgir bandas derock que não ligavam para subgêneros nem
para habilidades técnicas. Seguindo a trilha do The Doors, os
Stooges de Iggy Pop causaram espanto com shows que
terminavam em pancadaria entre os músicos e a plateia. O
MC5, além de adotar o “faça-você-mesmo” no palco, com
músicos sem grandes habilidades, era uma banda com
influência do marxismo e do engajamento político de grupos
como os Panteras Negras5.
O punk rock emergiu desses grupos de composições
simples e sem laços com as músicas trabalhadas pelas bandas
progressivas e pelo heavy metal – o vocalista do Sex Pistols,
Johnny Rotten, chegou a usar uma camiseta com os dizeres “I
hate Pink Floyd” [“Eu odeio Pink Floyd”]. Nessa época, o
jornalista Legs McNeil criou nos Estados Unidos a revista
Punk6, que teve os Ramones entre os primeiros entrevistados.
Além deles, os Dictators, o New York Dolls, Patti Smith e
outros artistas começaram a ganhar fama nos subúrbios de
Nova York para, a partir de 1974, ganhar o mundo.
Na Europa, o estilo ganhou forma com os Sex Pistols,
banda fundada pelo empresário Malcoln McLaren, dono da
loja SEX, localizada no Reino Unido. No entanto, de 1976 em
diante, junto à ascensão dos Pistols, esse tipo de música
começou a entrar em decadência. O rock simples deixou de
ser tão apreciado e começou a se tornar mais pop.
Nesse contexto de decadência do punk, surgiu o U2 – que
tinha influência do rock’n’roll simples, mas que chegaria a
patamares superiores aos alcançados pelos Ramones ou Sex
Pistols no show business.
O PRIMEIRO ÁLBUM DE ESTÚDIO:
BOY
Em 1978, Larry Mullen inscreveu o U2 em um concurso do programa de
Harp Lager, da emissora CBS. A banda foi a vencedora e realizou um show
na TV, o que a ajudou a alcançar uma visibilidade inédita até o momento.
O grupo também se apresentou no estádio nacional, em Dublin, atraindo
cerca de 2 mil pessoas, o maior público que já tinham conseguido reunir. O
clímax desse show ocorreu quando mais de trinta pessoas da plateia
dançaram no palco com a banda. Essa exposição facilitou o contato com
produtores para o primeiro álbum de estúdio.
No primeiro dia de setembro de 1979, a banda conseguiu lançar seu
primeiro single, chamado U2 3. A obra foi produzida por Chas de Whalley e
teve apenas mil cópias distribuídas. O material teve uma divulgação bem-
sucedida graças à apresentação do U2 na CBS. Três músicas faziam parte da
compilação: “Out of Control”, “Stories for Boys” e “Boy-Girl”. Eram
composições que possuíam o embrião do primeiro álbum de estúdio da
banda, até mesmo pela similaridade dos títulos.
Em maio de 1980, o cantor e vocalista Ian Curtis cometeu suicídio,
acabando com a banda pós-punk Joy Division, que se preparava para fazer
uma turnê nos Estados Unidos. Entre as bandas que cresceram com o declínio
do punk, o Joy Division era uma das promessas para divulgar o rock inglês na
América. O produtor do Joy Division, que tinha trabalhado na música “Love
Will Tear Us Apart”, era Martin Hannett. Favorito para trabalhar no primeiro
álbum de estúdio do U2, Hannett não topou porque estava emocionalmente
afetado pela morte de Curtis. Martin produziu o terceiro single do U2, 11
O’Clock Tick Tock.
Boy foi então lançado em 20 de outubro de 1980, com produção de Steve
Lillywhite, que já havia trabalhado com Peter Gabriel, ex-Genesis, e com a
banda Talking Heads. Naquele mês de dezembro, Boy já estava sendo
comentado pela imprensa norte-americana, e o grupo liderado por Bono Vox
realizou turnês pela Europa e pelos Estados Unidos. O trabalho teve selo da
Island Records.
Lillywhite foi responsável por inserir as notas agudas do instrumento de
percussão chamado glockenspiel, parecido com um teclado, na música de
abertura, “I Will Follow”. Ela foi escolhida para divulgar o álbum, que
chegou à 52ª posição nas paradas do Reino Unido, e na 63ª da Billboard7 200.
O crítico Steve Morse, do jornal The Boston Globe, afirmou que o estilo de
canto de Bono Vox tinha muito eco. O mesmo jornalista também disse que a
banda era “absurdamente jovem”, por ter músicos com menos de vinte anos
de idade8.
As letras de Boy tratam justamente sobre a fase de transição para a idade
adulta, com “I Will Follow” mostrando, em parte, como o U2 estava
deixando de ser uma banda de garagem para ganhar dimensão mundial. A
letra dessa canção foi escrita por Bono em homenagem à sua mãe, Iris
Elizabeth Rankin Hewson, que morreu de aneurisma cerebral em 1974.
Segundo o vocalista, a música representa a visão dela sobre o próprio filho.
“Twilight” mantém a temática do amadurecimento, mas mostrando que as
crianças podem se perder ao se tornarem adultas. “Into the Heart”, “Out of
Control” e “A Day without Me” demostram a habilidade de Bono Vox em
colocar suas próprias experiências e sua nostalgia pelos tempos de escola de
forma madura, simples e atraente nas músicas. “A Day without Me” foi
influenciada pelo suicídio de Ian Curtis, fato que afetou a geração de Bono
Vox e de seu grupo.
O rock do U2 em Boy é acessível, diretamente conectado com a própria
história da banda, e reserva algumas surpresas em suas composições. “An Cat
Dubh” aborda um relacionamento que Bono teve antes de conhecer sua
esposa, Alison Hewson. O título da música está em irlandês e significa “o
gato preto”. Os acordes simples feitos por The Edge mostram o peso da
composição, principalmente quando acompanhados pelo baixo forte e bem
marcado de Adam Clayton. The Edge também abusa de harmônicos agudos,
trazendo oscilações interessantes para a melodia.
“Into the Heart” fala sobre o sentimento coletivo da banda diante da perda
da inocência provocada pelo sucesso e pela maturidade. Musicalmente, a
guitarra elétrica continua realizando dedilhados que contrastam bastante com
o contrabaixo potente. O traço mais peculiar dessa composição é a longa
introdução, apesar de a música durar apenas três minutos e 28 segundos.
A letra de “Stories for Boys” aborda o gosto por quadrinhos e pela
televisão dos jovens dos anos 1980, como um retrato da própria geração de
Bono. Essa canção contrasta com músicas como “The Ocean”, que faz
referência direta à literatura. Nessa música, Dorian Gray, o personagem de
Oscar Wilde, é retratado como se fosse o próprio Narciso9 olhando seu
reflexo.
“The Electric Co.” é uma composição dedicada aos tratamentos de choque
que uma pessoa recebe em tratamentos psiquiátricos. O gancho da música é a
guitarra de The Edge, que brinca com efeitos de retorno e utiliza poucos
acordes, apenas repetindo-os. A música, na verdade, é um protesto da banda
em homenagem a um amigo que tentou se matar após ter passado por esse
tipo de tratamento.
“Shadows and Tall Trees” encerra o primeiro disco do U2 com a
melancolia da perda da infância e de encontros com a morte. O material
mostra que a banda flerta com assuntos que foram importantes para sua
própria formação como grupo.
A capa de Boy traz a foto de um menino chamado Peter Roven. Essa
imagem reflete o próprio começo de carreira do U2: jovem e alcançando um
sucesso que nem eles esperavam quando fundaram o grupo. Abordando
temas pessoais, a banda conseguiria alcançar um público diverso e extrapolar
temas comuns do rock’n’roll – a rebeldia, o ocultismo e as histórias
conceituais que preenchiam muitos álbuns dos anos 1970. Como todas as
letras foram escritas por Bono Vox, o disco também expressa o relato pessoal
do cantor sobre sua época.
ANOTHER TIME, ANOTHER PLACE 
WE LIE.
ANOTHER CHILD HAS LOST THE RACE.
WE LIE.
ANOTHER TIME, ANOTHER PLACE.
WE LIE.
YOUR TIME, YOUR PLACE.
Trecho de “Another Time, Another Place” 
Como diz a letra da música “Another Time, Another Place”, o U2 estava
vivendo seu próprio tempo em 1980, ganhando os holofotes e saindo do
cenário de bandas alternativas para entrar no circuito da música internacional.
Mesmo assim, a primeira turnê, com 157 apresentações na Europa e nos
Estados Unidos, recebeu críticas negativas. Sendo uma banda estreante, o U2
chegava a tocar duas vezes o single “I Will Follow”, a composição mais
conhecida do público.
O jornalista do New Musical Express, ChrisSalewicz, relembrou que o U2
era uma banda formada por jovens, e que eles soaram mal nos shows. “O
grupo de quatro irlandeses nada mais é do que um grupo muito tradicional de
hard rock com um vocalista, Bono é seu nome, que adoraria ser Rod
Stewart”, afirmou Salewicz, acrescentando que o desempenho do vocalista no
palco também era parecido com o de Iggy Pop nos Stooges. A imprensa não
poupou os argumentos contra o U2, mesmo após
PÓS-PUNK: O JOY DIVISION DE IAN CURTIS
Assim como o U2, o Joy Division surgiu em 1976 no Reino
Unido, presenciou o movimento punk e explodiu quando as
bandas do estilo entraram em decadência. Inicialmente
chamada Warsaw, a banda tinha um vocalista que se inspirava
nas performances de Iggy Pop e de David Bowie, dançando
sozinho ao segurar o microfone: Ian Curtis.
O grupo lançou um álbum de estúdio chamado Unknown
Pleasures, que fazia um rock simples, quase punk, com letras
depressivas. Curtis tinha epilepsia, e suas danças no palco
eram similares aos ataques provocados por sua doença. Sua
voz grave era acompanhada pela bateria rápida de Stephen
Morris, pelo contrabaixo alto e pesado de Peter Hook, além
da guitarra melódica de Bernard Sumner.
Ian Curtis traiu a esposa Deborah com a jornalista Annik
Honoré. Deprimido com o casamento e com a carreira,
cometeu suicídio em maio 1980, enforcando-se dentro de
casa. Os membros remanescentes do Joy Division criaram a
banda New Order, que introduziu elementos eletrônicos ao
segmento pós-punk.O fotógrafo e cineasta Anton Corbijn –
que já realizou inúmeros trabalhos com U2, como videoclipes
e sessões de fotos – produziu em 2007 o filme Control, sobre
a vida de Curtis, no qual Sam Riley interpreta o vocalista
depressivo do Joy Division.
uma série de shows que projetava a banda para além do circuito alternativo
de seu país de origem.
Nos próximos trabalhos, o U2 colocaria mais do que suas experiências
juvenis nas letras. A religião cristã entraria na temática da banda de Bono,
The Edge, Larry e Adam, causando uma transformação em pouco tempo.
OCTOBER: O SEGUNDO ÁLBUM E A
MÚSICA RELIGIOSA DO U2
Novamente com selo da Island Records, October foi lançado em 12 de
outubro de 1981. O U2 passou por mudanças no período: Larry, Bono e The
Edge ingressaram em um grupo religioso chamado Shalom Fellowship10, o
que fez os músicos questionarem a relação entre o cristianismo e a vida de
astros do rock.
A gravação enfrentou problemas porque as primeiras letras de Bono Vox
foram roubadas por alguns fãs em Portland, no estado de Oregon, nos
Estados Unidos. O grupo já tinha reservado e pago um estúdio para as
gravações, que tiveram improvisações no começo. Aos poucos, Bono
conseguiu se recordar das letras que havia perdido. O modo de vida cristão
dos integrantes começou a incomodar o baixista Adam Clayton. Segundo o
documentário da emissora VH1, Adam era um jovem de 21 anos tendo novas
experiências em turnê, e a briga entre os integrantes fez com que Bono e seus
amigos cogitassem sacrificar o U2 em prol da religião. Seria o fim de uma
banda de rock’n’roll antes mesmo de alcançar o sucesso. O rompimento
felizmente não aconteceu graças ao casamento de Bono Vox, em agosto de
1982. Adam foi padrinho de Bono e de sua esposa Alison, conhecida pelo
apelido Ali, o que ajudou a reviver a amizade entre o baixista e o vocalista.
“Gloria” abre October com trechos em latim e um tom religioso que a
banda não tinha até então. O álbum também é marcado por um instrumental
menos constante, menos pop e mais criativo do que o do primeiro disco. “I
Fall Down” mostra uma letra diferente da vertente gospel de Bono Vox,
apostando em uma variedade instrumental marcante e em uma harmonia
crescente.
Com gritos de Bono Vox na abertura, “I Threw a Brick through a
Window” é uma música sobre libertação, sobre a tentativa de aproximação –
incluindo até pedidos de “be my brother” [“seja meu irmão”]. A guitarra de
The Edge esporadicamente ataca com frases que chamam a atenção,
acompanhadas por um baixo constante e uma bateria bem presente, com
batidas fortes. Bono chegou a utilizar essa música como um hino antiguerras.
“Rejoice” é um rock rápido e direto sobre a necessidade de transformação
individual antes do desejo de mudar o mundo. Como a música anterior, a
letra tem um tom religioso, como afirma seu título, que significa “rejubilar-
se”, ou seja, “alegrar-se” de uma maneira espiritual.
Com uma guitarra abafada na abertura, “Fire” explode em acordes altos e
cheios, acompanhados pela voz empolgada de Bono Vox. A letra fala de um
fogo interno como o do Sol, uma estrela no espaço, com suas labaredas. Essa
música destaca-se como uma exceção no disco, porque realmente parece mais
próxima do tradicional modo de composição do U2.
O tom religioso torna-se mais forte em “Tomorrow”, música em que Bono
parece suspirar pela volta de Deus, na forma do próprio futuro. Os
significados amplos das letras de Boy que tornaram a banda famosa são
utilizados nesse disco para falar sobre o amor divino, o cristianismo e a
religiosidade de seus integrantes.
A faixa-título, com duração de dois minutos e 21 segundos, traz um piano
melancólico e breve tocado por The Edge. A letra, também curtíssima, aborda
os “reinos que ascendem e os reinos que caem”. Nessa composição simples,
Bono Vox canta sobre a transitoriedade pela qual a banda passava. Ao vivo,
“October” se tornou uma espécie de abertura para “New Year’s Day”, música
do disco seguinte, War.
Com a bateria tribal de Larry Mullen Jr., a música “With a Shout” também
aborda religião, mas com contornos políticos, falando sobre os conflitos na
cidade de Jerusalém, localizada oficialmente em Israel e ponto de disputa
entre várias populações distintas.
“Stranger in a Strange Land” é uma composição com um contrabaixo
melódico e menos ritmado, coberto por uma guitarra base que recheia a
música. A letra fala sobre veteranos de guerra e suas memórias, destoando do
restante de October.
“Scarlet”, com apenas dois minutos e 53 segundos, é um hino pelo
regozijo, pela alegria, retomando o tema espiritual que permeia o disco. Além
dos instrumentos normalmente usados, os gritos de Bono são também
acompanhados por um teclado.
O segundo álbum de estúdio se encerra com “Is That All?”. A canção é um
questionamento sobre as sensações que a música provoca. Ficar bravo, feliz
ou querer dançar com as músicas que fazemos é o suficiente? Com essas
questões, o U2 fecha seu segundo trabalho, mais espiritual que o primeiro,
mas ainda repleto de letras pessoais.
A capa de October mostra os quatro integrantes do U2. Bono Vox, The
Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. tornaram-se nomes conhecidos na
indústria musical a partir desse trabalho, que já mostrava uma banda mais
consolidada e mais segura em suas composições.
October levou apenas três de cinco estrelas possíveis em um artigo da
revista Rolling Stone, escrito por John Pareles em fevereiro de 1982. Dos
álbuns de estúdio do U2, October costuma ser o trabalho menos admirado da
banda.
A turnê October também teve menos shows que a primeira: foram 102
apresentações. Quase todas as performances começavam com “Gloria”, mas
o U2 ainda tocava músicas do primeiro álbum para atrair o público. Mesmo
assim, o desempenho foi abaixo do esperado, o que fez com que a banda se
reinventasse em seu terceiro disco.
WAR: PASSAPORTE PARA O
SUCESSO
Boy pode ser considerado um trabalho pessoal do U2, com letras de Bono
Vox sobre o amadurecimento. October é um disco sobre espiritualidade, com
experimentalismos também nos temas de algumas letras. Depois da recepção
morna do segundo disco, o terceiro
trabalho precisava trilhar um caminho diferente dos dois anteriores. Dessa
maneira, tanto os produtores quanto a própria banda queriam que o novo
material tivesse uma nova abordagem, mas que ao mesmo tempo abarcasse
os elementos que tornaram o U2 bem-sucedido no início.
BROKEN BOTTLES UNDER CHILDREN’S FEET 
BODIES STREWN ACROSS THE DEAD END STREET 
BUT I WON’T HEED THE BATTLE CALL 
IT PUTS MY BACK UP, PUTS MY BACK UP AGAINSTTHE WALL.
Trecho de “Sunday Bloody Sunday” 
War foi lançado em 28 de fevereiro de 1983. “Sunday Bloody Sunday”,
sobre os conflitos entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, é a
música de abertura. Na época da gravação, ocorreram atentados provocados
pelo Exército Republicano Irlandês, o IRA, que11 deseja separar a Irlanda do
Norte do Reino Unido. A música também foi escrita em homenagem às
vítimas do massacre conhecido como Domingo Sangrento, que ocorreu em
Derry, na Irlanda do Norte, no dia 30 de janeiro de 1972, durante uma
passeata civil reprimida de forma violenta pelo exército britânico. Cerca de
cem balas foram disparadas por tropas do Reino Unido lideradas pelo major
Ted Loden. Treze pessoas morreram imediatamente, e catorze ficaram
feridas. A maioria dos mortos era jovens do sexo masculino.
“É a maneira mais forte de dizer: por quanto tempo mais? Por quanto
tempo nós teremos de aturar isso? Eu não me importo [sobre] quem é quem
nesses incidentes – católicos, protestantes, o que seja. Você sabe que as
pessoas estão morrendo todos os dias por conta da amargura e do ódio. E nós
estamos dizendo: por quê? Qual é o propósito?”, disse o baterista Larry
Mullen Jr. à jornalista White Lucy, em abril de 1983. Com a letra pesada de
Bono Vox, o U2 ganhou profundidade e conservou elementos pop da música
eletrônica e do rock’n’roll pós-punk. “Sunday Bloody Sunday” é, até hoje,
uma das músicas mais pedidas nos shows do U2 ao redor do mundo.
“Seconds” possui uma abertura acústica e também tem um tom político
forte. A música fala sobre despedidas e separações, relembrando a
polarização do mundo em Estados Unidos e União Soviética na Guerra Fria.
Oeste e leste, nesta letra de Bono, simboliza a criação da Alemanha Oriental,
que dividiu Berlim e o povo alemão em dois.
Não foi apenas a primeira música de War que se tornou um clássico do
rock. A terceira faixa, “New Year’s Day”, fala sobre o preconceito entre
negros e brancos, entre capitalistas e comunistas, entre mundos distintos, e
ganhou o público e se tornou a quinta música mais tocada pelo U2, sendo
executada cerca de setecentas vezes até 2011, segundo levantamento feito
pelo site U2gigs.
“Like a Song” mantém o tom engajado do disco, preenchida por um baixo
e uma bateria insistentes, acompanhados por solos inspirados de The Edge. A
letra, em alguns momentos gritada, fala sobre o vazio de sua geração, “sem
nada a perder e nada a ganhar”, que tenta impedir guerras e conflitos sem
sucesso. É sobre a frustração, apesar de seu ritmo frenético.
Já “Drowning Man” tem uma composição oposta à de “Like a Song”,
embora aborde o tema “afogamento”. A música fala sobre restaurar a
confiança e saber se entregar a quem pode salvá-lo. O instrumental acústico
de The Edge é acompanhado pelo violino elétrico de Steve Wickham,
instrumentista de Dublin que também tocou com outros astros do rock, como
Elvis Costello e Sinéad O’Connor, e que participou de “Sunday Bloody
Sunday”.
“The Refugee” fala sobre “uma mulher que espera seu homem”, para irem
juntos até a “terra prometida”, discorrendo sobre a fuga e a falta de sentido da
guerra. Bono canta sobre aqueles que esperam a oportunidade de se
protegerem ou de os conflitos cessarem. Nessa canção pacifista, a bateria de
Larry Mullen Jr. imita o ritmo de uma marcha, contrastando o militar e o
civil.
Com um instrumental cru na abertura, sem teclados ou muitos efeitos,
“Two Hearts Beat as One” é uma balada romântica composta por Bono para
sua esposa Ali. A linha do baixo de Adam Clayton, constante na música,
ficou famosa como uma melodia característica. O videoclipe da música foi
gravado no bairro de Montmartre, com vista panorâmica para a capital da
França12. No vídeo, o U2 aparece em ação, como se estivesse fazendo um
show para a cidade.
“Red Light” traz a guitarra bem demarcada e uma letra sobre abandono do
amor. A balada é bem repetitiva, com o baixo lento e a bateria igualmente
devagar.
“Surrender” aborda as insuficiências da vida, as guerras dentro de famílias
e o quanto as pessoas são obrigadas a abdicar para continuar com sua
individualidade.
O disco se encerra com “40”, que pergunta – a Deus e à própria banda –
quanto tempo o U2 irá demorar para cantar uma nova canção. O nome veio
do Salmo 40 da Bíblia, reproduzido nas primeiras frases da letra. A música,
de certa forma, continua o questionamento de “Sunday Bloody Sunday”. “I
will sing, sing a new song/ How long to sing this song?” (Eu vou cantar,
cantar uma nova canção/ Quanto tempo para cantar essa canção?) é uma
forma de se perguntar até quando a realidade de conflitos e insegurança
permanecerá.
As músicas mais famosas desse material tinham versões alternativas no
bônus de War. Remixes de “New Year’s Day” transformam-na em uma
música disco. Um arranjo diferente de “Two Hearts Beat as One” mostra o
baixo forte de Adam Clayton fazendo um dueto interessante com a melodia
da guitarra de The Edge.
Em 1983, War desbancou o disco Thriller13, de Michael Jackson, e chegou
ao primeiro lugar das paradas do Reino Unido. Sobre esse feito, The Edge
disse ao jornalista Tony Fletcher, da revista Jamming!, em 1984: “Sim, isso
foi memorável. Mas a coisa que realmente nos mantém progredindo, que nos
mantém frescos, é uma ambição artística”. Mesmo com tanto sucesso,
segundo o guitarrista da banda, o U2 ainda pretendia conseguir novas
vertentes para sua música. Nos Estados Unidos, War chegou ao 12º lugar das
paradas.
A turnê do disco foi marcada por um dos maiores concertos do U2 e um
dos maiores shows de todos os tempos: o US Festival em San Bernardino,
Califórnia. A apresentação teve um público de cerca de 125 mil pessoas e foi
exibida ao vivo na MTV, colocando o U2 num patamar nunca antes
alcançado na música pop. Bono quase se acidentou durante sua performance,
assustando os integrantes da banda após cair do palco, mas o público impediu
que ele se machucasse.
No total, foram cerca de 110 shows. O designer de iluminação dos shows
era Willie Williams, que permaneceu trabalhando com o U2 até a última
turnê realizada pela banda, a 360°.
A série de shows de War culminou com a gravação de Under a Blood Red
Sky, um marco na carreira da banda, pois é o primeiro registro ao vivo do U2.
O material, que também recebeu o selo da Island Records, é considerado
apenas um mini-LP, com oito músicas: “Gloria”, “11 O’Clock Tick Tock”, “I
Will Follow” e “Party Girl” no Lado A; “Sunday Bloody Sunday”, “The
Electric Co.”, “New Year’s Day” e “40” no Lado B. As gravações foram
realizadas em três concertos, nos Estados Unidos e na Alemanha. Fazer
turnês em cidades americanas, na época, era muito importante para consolidar
bandas que não eram estadunidenses no cenário mundial. No estado do
Colorado, o local escolhido para o show foi a arena Red Rocks, mas no dia
das gravações choveu muito e as pedras coloridas mal apareceram – o que
deixou Bono um tanto desapontado.
No começo da versão de “Sunday Bloody Sunday” que consta em Under a
Blood Red Sky, Bono afirma que a música não é uma canção de rebeldia. As
palavras do vocalista na gravação ficaram famosas, o que consolidou o
sucesso do U2 fora da Irlanda, conquistando outros países na Europa e
chegando até os Estados Unidos. O material foi lançado no dia 21 de
novembro de 1983. Em maio de 1984, o álbum ao vivo foi lançado em vídeo,
com doze músicas. Uma reedição do material audiovisual de 2008 trouxe
mais faixas: dezessete ao todo.
O MENINO DAS CAPAS DE BOY E WAR
Peter Rowen tornou-se um símbolo na carreira do U2. Seu
irmão era amigo pessoal de Bono Vox, e o garoto estampou,
em 1979, a capa do primeiro single U2 3, e tinha apenas cinco
anos quando foi chamado, no ano seguinte, para fazer parte da
capa do álbum Boy. Ele também foi fotografado em 1983
para a produção de War, e, além da capa do álbum, seu rosto
também está nos singles Sunday, Bloody Sunday e New
Year’s Day. Anos mais tarde, a foto de Rowen ainda
apareceria nas capas do single Sweetest Thing e da coletânea
The Best of 1980-1990, ambos de 1998.
Em 2010, aos 35 anosde idade, Peter Rowen se tornou
fotógrafo profissional. Segundo o Irish Independent, Rowen
fotografou alguns shows europeus da turnê 360°.
A MÚSICA ABSTRATA DE THE
UNFORGETTABLE FIRE
Em Chicago, nos Estados Unidos, o U2 visitou uma exposição chamada
The Unforgettable Fire, que mostrava desenhos e pinturas feitas por
sobreviventes das bombas nucleares atiradas em Hiroshima e Nagasaki. A
exposição também tinha uma parte dedicada a Martin Luther King. Esse tipo
de arte serviu de inspiração para o U2 depois do sucesso estrondoso de War.
As letras adquiriram um tom político e histórico na carreira de Bono, The
Edge, Larry e Adam. The Unforgettable Fire foi lançado oficialmente no dia
1o de outubro de 1984 e contou com a produção de Brian Eno, famoso por
trabalhos com Peter Gabriel. O produtor foi um dos principais responsáveis
pelo sucesso da banda, com seus sintetizadores e com a habilidade de
transitar entre o rock e a música eletrônica até a música experimental. Neste
álbum, as composições ganharam um instrumental mais abstrato e melódico,
aproveitando acordes soltos da guitarra, sem a pegada rock’n’roll ou
excessivamente punk dos discos anteriores.
O guitarrista The Edge admira os trabalhos de Brian Eno e seu flerte com a
música ambiental. Com a passagem do produtor Steve Lillywhite, o som do
U2 sofreu uma mudança brusca, e a guitarra elétrica ganhou destaque com
sintetizadores que aumentaram a atmosfera da música, facilitando solos e
acordes soltos, além das dissonâncias.
“Eno é uma pessoa que nós cogitamos bastante por um tempo. Não apenas
por seus próprios trabalhos, mas também por seus trabalhos com David
Bowie e o Talking Heads. Nós gostamos muito do que ele já fez, e falamos
com ele e com Danny Lanois”, explicou The Edge, em 1984, ao jornalista da
Jamming!, Tony Fletcher. Foi com esse pensamento que a banda definiu
tecnicamente a produção de seu álbum, procurando atingir um novo patamar
em comparação aos trabalhos anteriores.
BRIAN ENO, A TRILOGIA DE BERLIM COM BOWIE
E AS PARCERIAS COM O U2
O homem com grande talento por trás das produções do
U2, e que conversava muito com Bono Vox e The Edge, era
Brian Eno. Seu nome completo é Brian Peter George St. John
le Baptiste de la Salle Eno. Nasceu em Woodbridge, no Reino
Unido, e estreou sua carreira musical em 1970, ao lado da
banda Roxy Music, que misturava glam rock (usando
maquiagens e visual andrógino) com música eletrônica.
Eno participou dos discos Roxy Music (1972), For Your
Pleasure (1973) e Stranded (1973). Depois desses trabalhos,
iniciou uma parceria com Robert Fripp, que faz parte da King
Crimson. Participou dos discos No Pussyfooting (também de
1973) e Evening Star (1975). Depois, só voltaria a trabalhar
com Fripp em 2004, no álbum The Equatorial Stars.
Brian Eno foi um dos expoentes da chamada música
ambiental, que se originou com o uso de sintetizadores no
Reino Unido e cresceu em bandas alemãs do segmento
chamado Krautrock, como o grupo Kraftwerk e Neu.
Mas o trabalho que mais deu renome para Brian Eno, na
década de 1970, foi sua participação na trilogia de discos de
David Bowie inspirada em suas passagens na Alemanha. Os
discos Low (1977), Heroes (1977) e Lodger (1979) tiveram a
produção de Eno com Tony Visconti. O resultado é que a
música andrógina de Bowie se transformou em um trabalho
mais pop e acessível com o uso de sintetizadores eletrônicos.
O trabalho tornou Eno um produtor famoso dentro do
rock’n’roll, que aproximou seu talento do emergente quarteto
de Dublin. O produtor começou sua parceria de sucesso com
o U2 ao lado de Daniel Lanois, no álbum The Unforgettable
Fire, de 1984. Desde então, Brian Eno sempre teve uma
participação predominante nos trabalhos de estúdio dos quatro
irlandeses e continuou trabalhando com a banda até o último
álbum de estúdio lançado: No Line on the Horizon (2009).
O single “Where Are We Now?”, lançado por David
Bowie, no dia 8 de janeiro de 2013, conta com a produção de
Tony Visconti. A atmosfera de música ambiente e eletrônica,
além das referências de Bowie à Potsdamer Platz (uma praça
com lojas comerciais na capital alemã) na letra, lembram a
época da música de Berlim com Brian Eno, no fim da década
de 1970.
“O U2 sempre teve duas faces”, afirmou Bono Vox, também em entrevista
a Fletcher. “É a energia e a atmosfera. Com Steve Lillywhite, toda a energia
foi mostrada, mas, agora, Brian Eno está nos ajudando a trazer a atmosfera
novamente”, disse o vocalista.
Parte das gravações aconteceram no Slane Castle, um castelo medieval da
Irlanda. O local foi escolhido devido à qualidade do som, mas alguns
sucessos do disco, como “Pride (In the Name of Love)”, foram gravados na
casa de Bono Vox. Outra parte do trabalho foi realizada no Windmill Lane
Studios, na cidade natal da banda, em Dublin.
O disco começa com “A Sort of Homecoming”, uma música com
progressões de instrumentos e um dedilhado de guitarra elétrica que se
encaixa num vocal inspirador. A letra fala sobre o retorno ao que é familiar,
às origens. Essa volta, segundo a composição de Bono Vox, ocorre depois de
uma passagem de tempo que “cura feridas”.
A segunda música do álbum é um clássico do U2. “Pride (In the Name of
Love)” se inicia com uma guitarra abafada e rítmica, seguida por um solo de
poucas notas. A simplicidade instrumental é compensada pelo refrão que
critica a transitoriedade dos homens e o que o orgulho humano é capaz de
fazer. O questionamento sobre a luta pelo orgulho se transforma em um hino
particular de Bono, The Edge, Adam e Larry. Para escrever a letra de “Pride”,
o cantor do U2 se inspirou em biografias de Martin Luther King e de
Malcolm X, e em suas lutas pelos direitos dos negros norte-americanos.
“Wire” fala sobre morte, tentativa de sobrevivência, e esperança. A
guitarra de The Edge já sofre influência da produção de Brian Eno: ela soa
como música-ambiente, com mais efeitos de pedal e com menos acordes
seguidos, como costuma ser um típico rock’n’roll.
O som mais trabalhado, preenchido também por um contrabaixo e uma
bateria consistentes, permanece na faixa-título do álbum. “The Unforgettable
Fire”, no entanto, cativa mais o ouvinte com um refrão grudento e com uma
letra que trata de renúncia. A exposição vista pelo U2 em Chicago foi
fundamental para conceituar essa composição, que fala sobre abdicar e
aceitar o inevitável. Mesmo criticando as maldades que os seres humanos
podem cometer, a ideia está diretamente conectada com a perplexidade
causada por conflitos, como as guerras entre nações.
Com uma melodia mais minimalista, mas ainda repleta de efeitos,
“Promenade” traz uma letra ambígua e leve ao mesmo tempo. A canção
funciona como uma preparação para a faixa instrumental “4th of July”, que
traz uma guitarra elétrica distorcida e um baixo bem perceptível, causando
uma certa “pressão” dentro da própria música. A composição sem a voz de
Bono evidencia a mudança de sonoridade ocasionada por Eno, muito
diferente do rock mais direto de Steve Lillywhite.
Os sentimentos de desespero provocados pelo vício em heroína são
retratados na letra de “Bad”, uma das principais faixas de The Unforgettable
Fire. A composição aborda o crescente índice de consumo de drogas em
Dublin. A música surgiu a partir de improvisações feitas por The Edge, e a
entrada repentina da bateria de Larry Mullen Jr. deu uma atmosfera dramática
para a composição. Nesse clima de jam, a voz de Bono Vox vai crescendo
durante a música, conectando os quatro integrantes do U2 em uma canção
longa e com versos fortes, como este, que é praticamente gritado:
TO LET IT GO
AND SO TO FADE AWAY
TO LET IT GO
AND SO FADE AWAY
I’M WIDE AWAKE
I’M WIDE AWAKE
WIDE AWAKE
I’M NOT SLEEPING
OH, NO, NO, NO.
Bono disse em vários shows que a letra de “Bad” se refere a ele mesmo e a
um amigo que morreu por overdose de heroína. Outras versões contam que a
música fala de alguém que cresceu em Dublin e testemunhou a violência
local. A capital irlandesa enfrentava um surto de tráfico de drogas na época.
Os produtores Daniel Lanois e Brian Eno não intervieramna composição da
letra, pois estavam mais interessados nos experimentalismos instrumentais.
“Indian Summer Sky” tem uma guitarra elétrica mais tradicional, repleta
de frases abafadas e bem demarcadas. A letra de Bono, com significado
bastante aberto, parece falar das visões de um homem sobre a Terra e o céu,
que afetam seu próprio interior.
“Elvis Presley and America” é uma improvisação lenta da música “A Sort
of Homecoming”. A composição reflete um conjunto com o restante do disco
e mostra como a banda irlandesa realmente se aprofundou em sua visita aos
Estados Unidos. Já a última faixa do álbum é política e chama-se “MLK” em
homenagem ao ativista Martin Luther King. A letra foi inspirada no discurso
público mais famoso de King, batizado de “Eu tive um sonho”. Em sua
composição, Bono fala dos sonhos das pessoas e da esperança de que tudo
termine da melhor maneira possível. Com esse clima positivo, The
Unforgettable Fire se encerra, sendo tanto uma compilação de letras políticas
como uma experiência sonora inédita dos garotos de Dublin.
O Slane Castle permitiu que o U2 gravasse confortavelmente, aproveitando
o som diferenciado que a banda poderia captar nos espaçosos cômodos do
local. No mesmo ano do lançamento do álbum, a banda de Bono Vox e The
Edge saiu em uma turnê de 113 shows. Foi a
A IMIGRAÇÃO IRLANDESA PARA OS ESTADOS
UNIDOS
País colonizado pelo Reino Unido, os Estados Unidos
tiveram sua formação graças aos colonos ingleses e
imigrantes de vários outros países europeus. A Irlanda era – e
ainda é – uma nação que disputa poder com a Inglaterra.
Após romper sua aliança com o papado católico, a Coroa
britânica tornou-se anglicana. O território irlandês, assim,
virou um local de disputas políticas e religiosas entre
católicos e protestantes.
Essa repressão britânica, aliada a problemas econômicos e
sociais, provocou uma grande migração de irlandeses para a
América, o novo continente. No arquipélago do Reino Unido,
irlandeses eram vistos como parte de uma etnia inferior, que
deveria se submeter ao controle inglês. Nos Estados Unidos,
com o trabalho escravo africano e a colonização indígena, a
cor de pele era o que importava na época. Dessa forma, os
imigrantes que chegavam da Irlanda ganharam um novo
status social e uma nova vida.
Sobre essa mudança histórica, o escritor e historiador norte-
americano Noel Ignatiev, especialista em racismo histórico,
escreveu, em 1995, o livro How the Irish Became White
[“Como os irlandeses se tornaram brancos”]. A tese principal
da obra é de que a Irlanda era tratada como a pior etnia do
território britânico, assim como os africanos negros eram
maltratados em diversas colônias americanas. A situação se
reverteu quando os irlandeses se estabeleceram em novos
territórios, especialmente nos Estados Unidos, utilizando a
própria escravidão negra como trampolim para a ascensão
social.
Outra obra que traduz bem esse movimento na sociedade
irlandesa é o filme do diretor Martin Scorsese Gangues de
Nova York (2002) – com Leonardo DiCaprio, Daniel Day
Lewis e Cameron Diaz –, que mostra como os imigrantes se
organizaram em guetos contra negros, italianos e diversas
etnias que dificultavam sua entrada no país. O filme também
mostra como os irlandeses tentaram rapidamente se envolver
na política republicana americana para se estabelecer na nova
nação. O U2 escreveu a música-tema do filme, chamada “The
Hands that Built America”. A composição teve produção do
guitarrista The Edge, concorreu ao Oscar de melhor canção e
ganhou o Globo de Ouro de melhor canção original.
primeira vez que o U2 desembarcou na Austrália e na Nova Zelândia para
tocar seus sucessos.
The Unforgettable Fire, de certa forma, aproxima a história dos quatro
roqueiros irlandeses com a cultura americana, que é mundialmente difundida.
Na época da gravação do material, o U2 testemunhou a pobreza das grandes
cidades dos Estados Unidos e se aproximou do blues, ritmo criado pelos
negros norte-americanos e que posteriormente deu origem ao próprio rock. O
quarteto também testemunhou a beleza do interior do país, com seus desertos
e outras paisagens que destoam das grandes metrópoles.
O disco consolida a carreira da banda e mostra pontos em comum entre a
história dos Estados Unidos e a história individual de seus integrantes, repleta
de ambiguidades. Bono, Edge, The Larry e Adam procuravam tanto alcançar
o sucesso internacional com sua sonoridade pop quanto conquistar fãs com
letras críticas e conscientizadas.
A turnê de The Unforgettable Fire deu origem ao EP Wide Awake in
America, no qual estão registradas versões ao vivo de “A Sort of
Homecoming” e de “Bad”, além das versões de estúdio dos B-sides “Love
Comes Tumbling” e “The Three Sunrises”. Lançado no dia 1º de maio de
1985 apenas nos Estados Unidos e no Japão, o EP foi um sucesso de vendas,
o que o fez ser lançado no Reino Unido em 1987, e internacionalmente no
ano de 1990, tornando-se um objeto de culto entre os fãs.
PARRA, Pimm Jal de La. U2: Live. Biografia da banda até o ano de 2003.
Banda norte-americana de punk rock formada por Tom Verlaine e Richard
Hell. Os dois tinham pretensão de se tornar poetas e ajudaram a fundar a cena
punk em Nova York. Eles tocavam no CBGB (Country, BlueGrass, and
Blues), clube que reúne a maioria das bandas do estilo. Os Ramones foram
revelados nesse mesmo bar.
MCCORMICK, Neil. U2 by U2.
Grupo político dos anos 1960 que defendia o socialismo e os direitos dos
negros nos Estados Unidos.
MCNEIL, Legs. MCCAIN, Gilian. Mate-me por favor.
Ranking da revista Billboard publicado semanalmente, elencando os
duzentos álbuns e EPs mais vendidos nos Estados Unidos.
Posteriormente, Steve Morse faria resenhas mais favoráveis aos trabalhos do
U2, provavelmente devido ao sucesso comercial da banda no mundo todo.
Narciso é um personagem da mitologia greco-romana que morre admirando
sua própria beleza no reflexo da água.
“Sociedade Shalom”, em português.
Desde 1919, várias organizações tentaram tirar a Irlanda do Norte do domínio
do Reino Unido. O objetivo desses grupos é integrá-la novamente à Irlanda,
que tem Dublin como capital. As divergências entre irlandeses e britânicos
ocorrem tanto por questões territoriais quanto religiosas – a Irlanda é católica,
enquanto os territórios ingleses são protestantes.
Montmatre é conhecido como “bairro dos artistas de Paris”, onde viveram
Salvador Dalí, Claude Monet e Pablo Picasso. O local é famoso por sua vida
noturna atraente.
Thriller, lançado em 1982, foi o sexto trabalho de estúdio do cantor Michael
Jackson e é considerado um marco na música pop e em sua carreira. É o
álbum mais vendido de todos os tempos, com 42 milhões de cópias vendidas
no mundo.
O U2 NO CIRCUITO MUNDIAL
2
ONE MAN COME IN THE NAME OF LOVE 
ONE MAN COME AND GO 
ONE MAN COME HERE TO JUSTIFY 
ONE MAN TO OVERTHROW.
Trecho de “Pride (In the Name of Love)” 
Em julho de 1985, o U2 se apresentou no Live Aid, apresentando The
Unforgettable Fire no Wembley Stadium, em Londres. O evento foi
promovido para ajudar no combate à fome na Etiópia. De acordo com a
CNN, o festival teve a participação de cerca de 72 mil pessoas no Reino
Unido. O Live Aid contou também com apresentações de David Bowie,
Queen, Madonna, Mick Jagger, Paul McCartney, Elton John e The Who. Foi
um dos primeiros shows ao vivo transmitido via satélite, com exibição
simultânea nos Estados Unidos e no Reino Unido14.
O evento foi similar ao Concert for Bangladesh, que ocorreu em 1971, com
participação do ex-beatle George Harrison. O músico foi pioneiro em
festivais filantrópicos e serviu de inspiração para o U2 e para as bandas de
rock que passaram a militar por causas como o combate à fome e à miséria na
África.
Segundo Bono Vox em entrevista à VH1, o evento fez com que ele
pensasse em “realmente salvar vidas” por meio de sua música. Bono viajou
com a esposa Alison para a Etiópia, para ajudar em ações humanitárias no
local. O vocalista filantropo também visitou El Salvador e a Nicarágua com a
Anistia Internacional. As viagens foraminspiradas pelo Live Aid.
Em 1985, a revista Rolling Stone elegeu o U2 como a maior banda dos
anos 1980. Com a turnê que chegou até a Oceania, o grupo foi se
transformando efetivamente em uma banda global, com fãs ao redor do
mundo todo. Durante a apresentação de “Bad” no Live Aid, Bono Vox
desceu do palco e dançou com uma fã. A performance durou catorze minutos
e se tornou uma marca registrada do vocalista, que chegou a se encontrar com
fãs até no Brasil.
THE JOSHUA TREE E RATTLE AND
HUM: O U2 SOB INFLUÊNCIA DO
COUNTRY ROCK E DO BLUES
Segundo as entrevistas do documentário realizado pela VH1, o U2 sofreu
outra alteração em sua sonoridade após The Unforgettable Fire. A banda
tinha crescido musicalmente e não era mais só um grupo de garagem com
influências de David Bowie, new wave e o punk rock inglês do The Clash. O
U2 incrementou sua produção com elementos de música abstrata trazidos por
Brian Eno e, com os shows em grandes estádios, a banda passou a expressar
outras influências em suas músicas.
O country rock e o blues começaram a se tornar uma inspiração para a
banda, e o seu som atingiu um novo
patamar. Ainda com produção de Brian Eno, The Joshua Tree foi lançado
oficialmente no dia 9 de março de 1987, sendo aclamado pela crítica
especializada.
A capa do material foi fotografada por Anton Corbijn. A foto traz a banda
inteira na área desértica de Mojave, na Califórnia, no sudoeste dos Estados
Unidos. No local, há plantas chamadas de “Joshuas Trees”. Bono tinha
curiosidade em descobrir o significado religioso desse nome, que utiliza a
palavra “Joshua” (Josué), em menção ao profeta do Antigo Testamento. O
cantor descobriu que a árvore recebeu esse nome dos mórmons que vivem na
região, por ela crescer de forma semelhante a Josué rezando. Foi assim que o
nome do álbum foi escolhido pela banda.
“With or without You”, a terceira faixa do disco, é tocada até hoje em
rádios do mundo inteiro e, no mesmo ano do lançamento do álbum, chegou
ao topo das paradas dos Estados Unidos e do Canadá. A nova obra do U2
também conquistou o público com outros dois singles: “I Still Haven’t Found
what I’m Looking for” e “Where the Streets Have No Name”.
A guitarra elétrica continuou, nesse novo trabalho, brincando com efeitos
de pedal e com poucas notas para compor sua harmonia. No entanto, “Where
the Streets Have No Name” é uma música com ritmo característico do rock,
com uma guitarra atraente e uma letra com ambiguidades que traduzem o
conceito do álbum: a própria cultura norte-americana, cada vez mais presente
nos temas do grupo irlandês. The Edge toca a introdução num tempo mais
rápido que os demais integrantes, contrastando com os outros instrumentos15.
Bono Vox escreveu a letra misturando sensações das cidades americanas, das
áreas urbanas, com a dos desertos, das áreas sem grande densidade
populacional. A canção traduz desejos e conceitos que se desfazem como os
ventos desérticos. Influenciados pelo reggae jamaicano, com seu ritmo
diferente e mais lento em comparação ao rock, o U2 compôs “I Still Haven’t
Found what I’m Looking for”. Single que faria sucesso no mundo inteiro, a
letra de Bono Vox parece uma canção tipicamente gospel, com inspiração
cristã. Brian Eno foi certamente uma referência para Bono nesse tipo de
composição, já que o produtor admirava o trabalho de “Blind” Willie
Johnson, guitarrista de blues que fazia música religiosa16.
“With or without You”, apesar de ser uma balada romântica, não foi
composta de forma tradicional, com versos intercalados com o refrão. Daniel
Lanois, um dos produtores e amigo de Brian Eno, afirmou ter incentivado a
banda a brincar com repetições nessa faixa, tornando a composição17 mais
sofisticada. A música se tornou uma das mais tocadas da banda em seus
quase quarenta anos de história.
Uma crítica clara à violência e aos tiroteios, “Bullet the Blue Sky” é um
hino sobre a América, sem metáforas ou outras figuras de linguagem. É uma
denúncia ao domínio dos Estados Unidos sobre a América Central, como os
conflitos em El Salvador. Slides da guitarra de The Edge substituem o modo
de tocar o instrumento fora do tempo ou com as notas abafadas. O baixo e a
bateria soam claros, demarcando o tempo da música e potencializando a voz
de Bono.
Sobre o desespero e o vício em heroína presentes na Irlanda, Bono Vox
compôs a música “Running to Stand Still”, que conta com um piano e um
acompanhamento instrumental mínimo, que cresce durante a música. A
composição ganha vigor com a entrada da bateria de Larry Mullen, que
confere uma profundidade que não está clara nos primeiros instantes da
composição. O som de gaita, no final da música, dá um tom norte-americano
para o som tipicamente irlandês do U2.
“Red Hill Mining Town” é uma música sobre herança, sobre o fardo que
pesa tanto para os pais quanto para os filhos. A canção explora também um
amor que já não existe mais, deteriorado pela passagem do tempo. Bono Vox
se destaca pela estabilidade de sua voz, mesmo durante alguns trechos
gritados da letra.
As contradições dos Estados Unidos, uma terra retratada como de grande
fé e também de várias desiluções, novamente se tornaram tema para a banda
na música “In God’s Country”. Bono Vox disse que escreveu a letra
pensando na Estátua da Liberdade. O cantor do U2 também lembrou-se da
guerra civil que existia na Nicarágua, país que o vocalista visitou para
entender melhor o subdesenvolvimento em comparação à prosperidade norte-
americana.
Uma gaita aparece novamente na música “Trip through Your Wires”,
acompanhada por uma guitarra elétrica rítmica. A canção de Bono Vox fala
sobre encontros no deserto, sobre a ambiguidade e a incerteza. Dedicada a
um índio maori chamado Greg Caroll que morreu em um acidente de
motocicleta envolvendo um motorista bêbado, o cantor também compôs a
música “One Tree Hill”, que compara os movimentos da humanidade com os
da própria vida selvagem. O indígena era amigo pessoal de Bono Vox e
atuava como roadie da banda.
Resultado de uma sessão de improvisos, a música “Exit” é dedicada a uma
obra literária. Bono se inspirou no livro The Executioner’s Song [“A canção
do carrasco”, em tradução livre], do escritor e jornalista Norman Mailer18,
que narra a história de um serial killer. Na canção, o vocalista abandona seu
estilo romântico de cantar e emprega um tom misterioso, constante e
descritivo ao falar sobre o assassino. A música tem uma guitarra rasgada e
várias progressões no contrabaixo.
Bono Vox também tornou-se um ativista nos países subdesenvolvidos.
“Mothers of the Disappeared” é a última faixa de The Joshua Tree e é a única
claramente dedicada às vítimas dos conflitos armados na Nicáragua e em El
Salvador, onde Bono esteve para realizar ações filantrópicas. Embora seja a
única música que destoa da temática norte-americana do álbum, ela aborda as
ambiguidades sociais que existem em vários países ao redor do mundo.
Quando participou de uma turnê da Anistia Internacional pela América
Latina, em 1986, Bono Vox se envolveu com o CoMadres, o comitê de mães
dos desaparecidos e perseguidos políticos em El Salvador. O cantor também
soube de outra organização contra a repressão e a violência na América do
Sul: o movimento Madres de Plaza de Mayo, contra o regime militar na
Argentina. “Mothers of the Disappeared” é uma homenagem às duas
organizações.
Além de adotar uma linha melódica nos solos de guitarra, ao longo do
disco, The Edge trabalhou em bases instrumentais abafadas e com um ritmo
bem demarcado. O crítico Steve Pond, da revista Rolling Stone, escreveu um
texto bastante favorável ao novo material: “Para uma banda que sempre se
especializou em se inspirar, mais do que em gestos de uma vida – uma banda
determinada a se tornar importante –, The Joshua Tree parece ser o grande
álbum, e é precisamente assim que ele soa”. Pond também afirmou que a
nova obra do U2 não era mais um Born in the U.S.A., lançado por Bruce
Springsteen em 1984. O crítico disse que o trabalho do grupo liderado por
Bono Vox era mais variado e com músicas acessíveis ao grandepúblico, com
“poder de seduzir e capturar a audiência das massas em seus próprios
termos”.
Steve Morse, crítico do Boston Globe, afirmou que The Joshua Tree tem
músicas espirituais que lembram The Unforgettable Fire, mas que o estilo do
disco flerta com os primeiros trabalhos do U2, que possuem mais energia.
As letras de The Joshua Tree eram metáforas sobre os ideais dos Estados
Unidos e sobre a realidade do país. A maior ironia é que justamente a nação
criticada nas letras foi a que melhor recebeu o material novo do U2. 
THE CITY’S A FLOOD, AND OUR LOVE TURNS TO RUST
WE’RE BEATEN AND BLOWN BY THE WIND
TRAMPLED IN DUST
I’LL SHOW YOU A PLACE
HIGH ON A DESERT PLAIN
WHERE THE STREETS HAVE NO NAME.
Trecho de “Where the Streets Have No Name”
Bono Vox escreveu letras que mesclam sensações de uma América que
tem, ao mesmo tempo, extensos desertos e cidades gigantescas. Com essa
temática nas canções, e transmitindo uma certa sensação de estar perdido no
“american way of life”, o estilo de vida norte-americano, as guitarras
frenéticas do country rock e do blues combinaram com toda a obra.
The Joshua Tree foi o maior sucesso entre os trabalhos de estúdio do U2,
vendendo cerca de 25 milhões de cópias. Nos Estados Unidos, foi o primeiro
trabalho de um grupo a chegar em um milhão de cópias vendidas. No dia 4 de
abril de 1987, o álbum estreou na 7ª posição do ranking Billboard Top Pop
Albums. Ficou atrás de Invisible Touch, da banda de rock progressivo
Genesis (6ª), e de Slippery When Wet, do Bon Jovi (2ª). A Associação de
Gravadoras da América (RIAA – Recording Industry Association of
America) certificou a obra com um disco triplo de platina.
Em 25 de abril de 1987, The Joshua Tree chegou ao topo da Billboard. Em
1988, o disco ganhou dois Grammy: Álbum19 do Ano e Melhor Performance
de Rock e também o de Melhor Videoclipe por “Where the Streets Have No
Name” – gravado no telhado de um prédio em Los Angeles, Califórnia, nos
Estados Unidos. Segundo a VH1, o álbum ficou no topo das paradas de 22
países. Em 2006, a revista Time colocou este trabalho na 72ª posição quando
elegeu os cem maiores álbuns de todos os tempos.
O lançamento do álbum foi seguido por uma turnê de 109 shows pelo
mundo. Bono Vox chegou a cantar uma versão da música “Help”, dos
Beatles, no Wembley Stadium, em Londres. A versão do vocalista do U2 foi
dedicada aos ingleses, que passariam mais cinco anos sob o governo
neoliberal de Margaret Thatcher20.
Nos Países Baixos, 92 mil ingressos para um show da banda foram
vendidos em apenas uma hora. A energia e a espiritualidade do som dos
rapazes de Dublin já tinham ultrapassado os limites da Irlanda e conquistado
o mundo todo. Esse sucesso atraiu a atenção do diretor de cinema Phil
Joanou. O cineasta se infiltrou nos bastidores da banda e começou a fazer um
documentário sobre o U2. O filme resultou em um novo álbum, Rattle and
Hum, com músicas novas, versões ao vivo e covers de bandas que inspiraram
o grupo liderado por Bono Vox. The Edge afirmou que o trabalho em vídeo
deveria ser pequeno no começo, mas que no fim se tornou um grande
material da banda. A produção ficou por conta de Jimmy Iovine, que já havia
trabalhado com John Lennon e Bruce Springsteen. O lançamento oficial do
disco ocorreu no dia 10 de outubro de 1988.
Rattle and Hum se tornou um álbum duplo, com versões de “Helter
Skelter”, escrita por Paul McCartney e John Lennon, e “All Along the
Watchtower”, de Bob Dylan. Durante a turnê na qual o disco foi gravado, o
U2 chegou a tocar com Dylan e até com o mestre do blues, B. B. King, em
1989. O trabalho de Joanou, que era fã do grupo, tornou-se um presente para
os admiradores da banda de Bono, The Edge, Larry e Adam. Joanou voltaria
a trabalhar com o U2 nos videoclipes de “One”, do álbum Achtung Baby
(1991), e de “All Because of You”, de How to Dismantle an Atomic Bomb
(2004).
Embora seja um trabalho misto, intercalando canções gravadas e ao vivo,
Rattle and Hum é considerado o sexto disco de estúdio por conta da grande
quantidade de material inédito. As gravações aconteceram no Sun Studio, em
Memphis, no mesmo local em que o rei do rock, Elvis Presley, costumava
cantar em sua terra natal.
No documentário do disco, Rattle and Hum é descrito como uma “jornada
musical”. De fato, o material foi uma verdadeira viagem para Bono, The
Edge, Adam e, sobretudo, para Larry Mullen Jr., pois os músicos circularam
por Memphis, Nova Orleans e Nova York, cidades musicalmente importantes
nos Estados Unidos. Os irlandeses também vistaram Graceland, e Mullen, fã
confesso de Elvis, emocionou-se muito na casa do ídolo, conferindo a
coleção de motos do rei do rock. O documentário foi lançado ainda em
novembro de 1988 nos Estados Unidos.
Rattle and Hum abre com “Helter Skelter”, cover dos Beatles. Bono Vox
cantou a música em uma apesentação feita no dia 8 de novembro de 1987, na
McNichols Arena, em Denver, no estado americano do Colorado. O cantor
começou a performance dizendo: “Esta é a música que Charles Manson21
roubou dos Beatles… nós estamos roubando-a de volta!”. “Helter Skelter”
também é conhecida por ser uma das músicas mais pesadas do famoso
quarteto de Liverpool. Por esse motivo, é apontada como um dos primórdios
de um dos maiores subgêneros do rock: o heavy metal22.
“Van Diemen’s Land” é uma das poucas músicas com letra do guitarrista
The Edge. O título da música é uma referência ao primeiro nome dado à Ilha
da Tasmânia, que hoje é parte da Austrália. A estrutura da canção, com
acordes simples e puxados para o blues, faz a música toda soar como uma
composição americana.
A quinta música, “Desire”, é mais folk, mesmo sendo inspirada no rock
quase punk dos Stooges de Iggy Pop. A música se transformou em uma
espécie de introdução ao cover “All Along the Watchtower”. No entanto, no
disco ela é seguida por “Hawkmoon 269”, música com potencial romântico,
semelhante às composições mais bem-sucedidas da banda.
Gravada originalmente em 1967, “All Along the Watchtower” é uma
canção de Dylan sobre as passagens bíblicas que ele passou a ler após um
acidente de moto em 1966. Há quem associe alguns trechos do Livro de
Isaías, especialmente o capítulo 21, do versículo 5 até o 9, à letra da
composição. O trecho fala sobre as sentinelas da torre de vigia na Babilônia,
reino que entrou em decadência. Na versão do U2, embora Bono Vox toque
violão, a música ganhou uma sonoridade mais elétrica e aguda, diferente do
folk de Bob Dylan, predominantemente acústico.
Sucesso em The Joshua Tree, Rattle and Hum também possui “I Still
Haven’t Found what I’m Looking for”, trazendo a música em novo arranjo,
acompanhada por um coral gospel, e novamente abordando a temática
estadunidense. O disco também tem a música “Freedom for My People”, de
Satan and Adam, dupla de blues composta pelos músicos Sterling “Satan”
Magee e Adam Gussow. Em vez de gravar um cover, o U2 registrou o som
da banda no bairro do Harlem, em Nova York, como uma forma de divulgar
a música tipicamente negra e americana.
No final dos anos 1980, o Apartheid ainda dividia23 negros e brancos na
África do Sul. Como uma música engajada contra essa separação baseada na
cor da pele, Bono Vox compôs a música “Silver and Gold” – um B-side do
single Where the Streets Have No Name. A letra pede o reconhecimento dos
negros como indivíduos livres com metáforas sobre as disputas sociais
presentes naquela sociedade. “Pride (In the Name of Love)” acrescenta ao
conjunto questionamentos levantados no álbum The Unforgettable Fire sobre
a falta de limites na luta humana pelo orgulho, com letra inspirada, como já
foi dito, em Martin Luther King e em Malcolm X. Em Rattle and Hum, essa
música parece estar em sintonia com as questões sobre o racismo na África e
em outras partes do mundo.
“Angel of Harlem” foi composta durante a turnê de The Joshua Tree e foi
gravada especialmente para Rattle and Hum. A letra escrita e gritada por
Bono Vox faz referência a diversos músicos negros, como os jazzistas John
Coltrane e Miles Davis. A música é dedicada a Billie Holiday,que faleceu
em 1959 e teve uma carreira brilhante como cantora de jazz e blues, mesmo
com uma vida pessoal conturbada por desilusões amorosas.
O disco contou com uma participação especial de Bob Dylan na
composição da letra de “Love Rescue Me”, que ganhou uma melodia típica
do U2 com o uso de uma gaita, o que a aproxima da música folk e das
composições acústicas norte-americanas. Sua temática aborda a vida na
estrada, o vaivém de pessoas à procura da individualidade.
Em Rattle and Hum, B. B. King, o “rei do blues”, fez uma performance
com o U2 na música “When Love Comes to Town”. Larry, Adam e The Edge
fazem os sons de fundo, deixando espaço para Bono Vox cantar livremente,
enquanto King sola e completa as frases do músico irlandês. Essa sintonia faz
parte da veia americana presente nos materiais do U2 no final dos anos 1980.
“Heartland”, diferentemente de outras composições de The Joshua Tree ou
mesmo de Rattle and Hum, parece retratar em sua letra um Estados Unidos
ideal, uma terra prometida. Essa composição de Bono também parece ter um
aspecto messiânico e religioso ao falar que a “terra do coração” depende de
suas convicções e de sua fé, retomando as raízes cristãs do U2.
“God Part II” é a segunda parte de uma música que John Lennon compôs
em 1970 associando Deus a “um conceito que usamos para mensurar nossa
dor”. Seguindo a linha de composição de Lennon, Bono Vox escreve sobre o
ceticismo em relação aos anos 1960, “a era de ouro do pop”, e a drogas como
a cocaína. E, assim como John, Bono grita para que se acredite no amor.
Assim como “Freedom for My People”, “The Star Spangled Banner” é
outra música que não é do U2 no álbum Rattle and Hum. Trata-se de uma
versão do hino dos Estados Unidos da América transformada em melodia
pela guitarra elétrica agressiva daquele que ainda é considerado um dos
maiores músicos da história: Jimi Hendrix24. O solo instrumental é
acompanhado por “Bullet the Blue Sky”, uma das músicas mais críticas do
U2 sobre os Estados Unidos.
O disco acaba com “All I Want Is You”, música de Bono Vox sobre o
pouco valor das riquezas, como o ouro, os diamantes ou o próprio dinheiro. O
cantor lembra, no final do álbum, que o bem mais precioso é a vida.
O atentado à bomba que ocorreu na cidade de Enniskillen, na Irlanda do
Norte, em 8 de novembro de 1987, deixou onze mortos e 63 feridos. Na
mesma época, o IRA ameaçou sequestrar Bono Vox e chegou a atacar um
dos automóveis do U2. Esses incidentes impulsionaram o vocalista a
condenar os conflitos separatistas entre irlandeses e britânicos durante uma
performance da música “Sunday Bloody Sunday” na turnê de Rattle and
Hum. Esse envolvimento do cantor com os conflitos armados na Irlanda
marcaram sua carreira na década de 1980.
Em 1989, um ano depois do lançamento de Rattle and Hum, Adam
Clayton se envolveu com drogas e chegou a ser detido em um pub irlandês
com dezenove gramas de maconha. Essa não era a primeira confusão causada
pelo baixista do U2, que havia enfrentado problemas por dirigir alcoolizado
em 1985. Se o processo de Clayton por porte de drogas continuasse, ele
poderia ficar impedido de fazer turnês. Seu advogado, no entanto, apenas
teve de pagar uma fiança de 25 mil libras.
Com o crescente sucesso da banda, Larry Mullen Jr. disse a Bono Vox que
estava cansado do ritmo das turnês e que sentia que eles não estavam mais
gostando do que faziam. “‘Estou considerando seriamente dissolver o U2’, eu
disse para Bono. E ele respondeu: ‘Você tem um bom argumento’”, explicou
o baterista, em entrevista à VH1, em 2000. A banda chegou a anunciar em
alguns shows que aquelas eram suas últimas performances, recebendo vaias
do público como resposta. Foi com esse clima que o U2, em vez de acabar,
passou por uma transformação a partir dos anos 1990.
BREVE HISTÓRIA DO BLUES E SUA RELAÇÃO COM
O ROCK’N’ROLL
O blues surgiu como música dos escravos negros africanos
que viviam nos Estados Unidos durante o século XIX. Eram
canções que traduziam a melancolia vivida pelo povo africano
que foi obrigado a emigrar para o continente americano. As
composições têm mudanças de progressões, chamadas
turnarounds, que deixam todas as partes da música
harmônicas.
Entre as pessoas importantes do estilo, uma das mais
famosas é Robert Johnson, músico negro influente na década
de 1930. Nascido no estado americano do Mississippi, ele
ficou famoso pela letra e pela melodia de “Cross Road
Blues”. A canção narra o encontro do músico com o diabo,
que lhe teria feito uma proposta irrecusável: uma habilidade
musical surpreendente em troca de sua alma. Johnson também
compôs “Sweet Home Chicago”.
A partir da década de 1950, músicos como Howlin’ Wolf e
Muddy Waters passaram a adotar a guitarra elétrica e a gaita
junto às novas composições de blues. O estilo também
começou a flertar com o jazz, com o folk country e com o
rock’n’roll, até então música típica de homens brancos.
Músicos como Eric Clapton, a partir dos anos 1960, passaram
a estudar a música de Waters para aplicar características do
blues no rock tipicamente inglês, diferente do que era feito até
então nos Estados Unidos.
O blues ainda influenciou bandas de hard rock como o Led
Zeppelin. No U2, o estilo musical afetou as composições do
guitarrista The Edge a partir do álbum The Joshua Tree. O
cantor Bono Vox também passou a compor letras com
temáticas relativas à sociedade norte-americana.
A transmissão europeia foi feita pela BBC. As três horas finais foram
transmitidas nos EUA pela ABC.
A guitarra da música está no compasso 3/4, enquanto os demais instrumentos
seguem o compasso típico do rock’n’roll, 4/4.
Willie Johnson era do Texas e morreu em janeiro de1945, pouco antes do fim
da Segunda Guerra Mundial. Além de músico, o cantor de blues também era
pastor religioso.
Informação é do jornalista Colm O’Hare, da revista irlandesa Hot Press, de
Dublin.
Jornalista de Long Branch, Nova Jersey, nos Estados Unidos. Ganhou o
prêmio Pulitzer e criou, com Truman Capote e Tom Wolfe, o que é
conhecido como Novo Jornalismo, isto é, o uso de técnicas literárias e do
romantismo na reportagem de imprensa.
Os prêmios do Grammy são o maior reconhecimento da Academia Nacional
de Gravadoras de Artes e Ciências (National Academy of Recording Arts and
Sciences) à indústria musical nos Estados Unidos.
Thatcher (1925-2013) foi premiê do Reino Unido de 1979 até 1980. Ela foi a
primeira mulher a ocupar o cargo no país. Também foi a chefe de Estado
inglesa durante a Guerra das Malvinas.
Criminoso norte-americano famoso nos anos 1960 por ter criado a “Família
Manson”, grupo responsável por assassinatos em série. Charles Manson
afirma ter sido inspirado por mensagens subliminares em composições dos
Beatles, que previam um suposto conflito entre brancos e negros, no qual o
triunfo seria dos descendentes de africanos.
O metal também foi muito influenciado pelas improvisações do Cream e pela
técnica dos Yardbirds, nos anos 1960. Mas o rock pesado só se consolidou
como gênero na década de 1970, principalmente com as bandas Led
Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath.
O regime de segregação racial na África do Sul durou de 1948 a 1994, e só
teve fim com a vitória democrática de Nelson Mandela.
Hendrix foi, junto a Eric Clapton, um dos músicos que mais explorou a
guitarra na década de 1960, usando bastante a distorção nos amplificadores e
os efeitos tremolo (vibração das cordas) com as alavancas de seus
instrumentos.
ANOS DE
EXPERIMENTALISMO 
3
A MTV, emissora musical americana que sempre deu destaque às grandes
apresentações da banda de Bono Vox e Larry Mullen Jr. revelou grandes
talentos que mudariam o estilo do rock no final dos anos 1980 e no começo
dos anos 1990. O grupo Guns N’ Roses foi o último sopro do hard rock
tradicional oitentista, que durou até o meio da década seguinte. No entanto, as
principais novidades iriam surgir do rock de garagem de Seattle, uma cidade
dos Estados Unidos.
Soundgarden, Pearl Jam, Mudhoney e Alice in Chains chamaram a atenção
por fazer um rock alternativo que não era

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