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TRILHA SONORA AULA 2 Seleção de Compositores Abertura Olá! Tão importantes para os filmes quanto as imagens e os diálogos, as trilhas sonoras acabam ganhando “vida própria” quando se tornam muito marcantes, passando a fazer parte do imaginário coletivo da cultura pop mundial e marcando época. Nesta aula, vamos conhecer uma importante seleção contendo os principais nomes da composição de trilhas sonoras. BONS ESTUDOS! Referencial Teórico Faça a leitura do capítulo selecionado como base teórica para esta aula e, ao final de seu estudo, você estará apto a: • Conhecer a vida dos principais compositores de trilhas sonoras. • Entender qual o impacto de suas composições para o cinema. • Refletir sobre a seleção de compositores apresentada. BOA LEITURA! CAPÍTULO M ax Steiner (1 8 8 8 -1 9 7 1 ) Considerado por muitos o pai da trilha sonora musical no cinema, o compositor austríaco Max Steiner nasceu na cidade de Viena. Filho de um a família do ram o teatral, recebeu o nome como hom enagem ao seu avô Maximilian Steiner, dono do Teatro de Viena, no século XIX. Max começou os estudos de piano logo cedo e no Conservatório de Viena estudou diversos instrumentos, bem com o teoria musical e composição. Ainda em Viena, Steiner chegou a compor algumas operetas, as quais ele próprio orquestrou e regeu em sua cidade natal. Aos 21 anos, Steiner mudou-se para Londres a fim de trabalhar durante cinco anos como pianista e depois como regente de produções musi cais do teatro inglês. Com o estopim da Primeira Guerra Mundial em 1914, Steiner imigrou para Nova Iorque. A princípio, ele traba lhou como regente de orquestras do cinema mudo, mas logo passou a ser chamado para compor e orquestrar musicais da Broadway. Ao 3 7 longo de vários anos, seguiu arranjando e orquestrando musi cais de compositores famosos da época como Jerome Kem, George Gershwin, entre outros. Com o advento do som no cine ma, em 1929, Steiner foi convidado a orquestrar para a versão cinematográfica as canções do musical da Broadway Rio Rita, e assim se deu a aproximação de Steiner com o mundo do cinema. Em decorrência do grande sucesso do musical, logo ele foi convi dado para ser diretor musical dos estúdios RKO, um grande estúdio de cinema da época. Seu caminho em Hollywood estava traçado e sua figura passou a ter importância vital para o surgimento da função de compositor de música para cinema, Em 1930, como chefe do departamento de música dos estúdios RKO, ele tinha uma orquestra de dez músicos e cerca de três horas de gravação para produzir a trilha sonora de um filme da época. Certamente, nes sas circunstâncias, a maioria das trilhas resumia-se a rearranjos de trechos emprestados de músicas pré-compostas ou ainda de temas de abertura e encerramento dos filmes. Com o tempo, Steiner foi o maior responsável por m ostrar aos produtores de cinema o potencial dramático de um score composto especial m ente para o filme. Em 1931, compôs sua primeira música inteiram ente original para o filme Cimarron. No ano seguinte, trabalhou na m úsica de aproximadamente 25 filmes, mas na maior parte deles, por limitações de tempo e verbas só tinha chance de compor alguns trechos originais. O grande m arco que imortalizou Max Steiner foi a compo sição da música do clássico original King Kong (1933). Em paralelo ao bombástico sucesso do filme, com efeito visual impactante para a época, a música de Steiner apresenta características especiais que fizeram parte da evolução da música no cinema. Os produtores decidiram convidá-lo a com por um a m úsica inteiramente origi nal m esm o que isso significasse estourar o já altíssimo orçamen to da produção. Steiner gravou com um a orquestra de cerca de 45 músicos, o que era um recorde para o m om ento, e o resultado foi de fato um avanço na história da m úsica de cinema. Graças ao talento e know-how de Steiner e à evolução no sincronismo do áudio dos filmes, o com positor pôde criar frases musicais que pontuam com precisão movimentos e ações dos personagens, de m aneira nunca antes realizada. Steiner estabeleceu padrões ........ я-.'-' . - - u í..i4u ^ ..tv Л Música do Filme 3 8 'Jrr.á se'fr;io de compc^utores de técnicas de composição que iriam ser seguidas ao longo de toda a era dourada do cinema, com a música do filme O Delator (The Informer, 1935), e sua primeira trilha a ganhar o Oscar. Nesse clássico de John Ford, Steiner demonstra sua maestria na pon tuação de cenas, bem como no uso do leitmotif de Wagner, cons truindo um motivo musical para cada personagem- Vários clássicos tiveram sua música composta por Steiner na década de 1930, dos quais se destacam a música de aventura de A Carga da Brigada Ligeira (The Charge of the Light Brigade, 1936). Nasce uma Estrela (A Star is Bom, 1937), Jezebel (1938) e um dos maiores sucessos da música de cinema: E o Vento Levou (Gone with The Wind, 1939). Para esta megaprodução do lendário produtor David Selznick, Max Steiner gastou nada menos do que doze semanas na composição da música, cinco orquestradores (entre os quais um grande com panheiro e também grande compositor Hugo Friedhofer), para produzir três horas de música orquestral original, duas horas e trinta e seis minutos das quais foram utilizadas na montagem final do filme. O projeto mais longo e mais audacioso de Steiner é composto de quase cem trechos de música, dos quais o mais famoso é o consagrado tema Tara, até hoje um dos mais famosos temas já compostos para o cinema. Na década de 1940, Steiner compôs vários sucessos, entre eles a música do drama A Estranha Passageira (Now, Voyager, 1942), obra que mereceu o segundo dos três Oscars de Steiner, e na qual o compositor apresenta sua habilidade na composição de temas líricos e românticos. O tema de amor do filme mais tarde ganhou letra e transformou-se num grande sucesso popular com o nome It Can't Be Wrong. Casablanca (1942) foi um grande sucesso no qual a música de Max Steiner teve papel importante. Ele compôs o arranjo da canção As Time Goes By de Herman Hupfeld e tomou emprestado algumas composições como o Hino da França, A Marselhesa, para orquestrar e conduzir a atmosfera do clássico. Seu terceiro e últim o Oscar de Melhor Trilha veio com o sentim ental dram a de guerra Desde que Partiste (Since You Went Away, 1944), рага o qual Steiner compôs tem as m arcan tes e lânguidas melodias específicas para cada personagem principal. Neste filme, Steiner usou também tem as compostos para filmes anteriores, prática que se tom ou habitual em seu 39 A MOsica do Filme trabalho. Um dos temas mais proeminentes do filme é emprestado da valsa de Nasce uma Estrela. Com o surgimento de novos talentos e a evolução da in dústria cinematográfica, o volume de produções de Max Steiner caiu, mas seu estilo e suas composições continuaram e ser admi rados até o final de sua carreira. Outras com posições de desta que são Nossa Vida com Papai (Life with Father, 1947), Belinda (Johnny Belinda, 1948), O Tesouro de Sierra Madre (The Treasure of the Sierra Uadre, 1948), As Aventuras de Don Juan (Adventures of Don Juan, 1949), O Gavião e a Flecha (The Flame and the Arrow, 1950), A Nave da Revolta (The Caine Mutiny, 1954), Amores Clandestinos (A Summer Place, 1959), entre tantos outros. B ernard H errm an n (1 9 1 1 -1 9 7 5 ) Bernard Herrm ann nasceu em Nova Iorque. Embora sua família não tivesse tradição m usical, o garoto Herrmann logo mostrou grande aptidão para m úsica e desde cedo passou a estudar. Tornou-se estudante de m úsica na Universidade de No va Iorque (NYU) e logo ingressou na fam osa Juilliard School, também em NY Ainda estudante, Herrm ann chegou a compor peças para a Broadway e, em 1933, foi admitido como funcioná rio da rádio CBSr onde com punha m úsica de fundo para os pro gramas da rádio. Nos anos seguintes, passou a compor, arranjar, orquestrar e reger os m usicais especiais da rádio além de com por m úsica parahoje soe bastante datada, esta sonoridade foi um sucesso na época, inclu sive no universo da música pop. Dessa m aneira, Zimmer conse- guiu se destacar dos seus contem porâneos como uma figura jovem que trazia um frescor especial para o cinema. Depois dessas duas composições, ele trabalhou com vários diretores e em diversos gêneros, como C huva Negra (Black Rain, 1989), Dias de Trouão (Days o f Thunder, 1990), Cortina d e Fogo (Backdrajt, 1991) e Thelma e Louise (Thelma & Louise, 1991). Рага о filme Amor à Queima-Roupa (TVue Rom ance, 1993), Zimm er compôs um tema principal leve interpretado por tim bres de samplers de xilofone que resultaram num contraponto m uito interessante ao roteiro 68 U m a s e le ç ã oconcertos tam bém . Nessa fase de trabalho na CBS, Herrmann teve a ch an ce de trabalhar com grandes perso nalidades da área artística, entre os quais Orson Welles, com quem fez vários projetos, com pondo e regendo as trilhas sono ras m usicais de seus shows. A colaboração entre Herrmann e Welles tom ou-se bastante habitual e a consagração desse bem-su cedido relacionam ento deu-se com a trilha sonora revolucioná ria de Cidadão Капе, de 1941. Considerado por m uitos como o m elhor filme de todos os tem pos, este clássico teve uma com posição m usical brilhante escrita por H errm ann e que mudou 40 Urru de ccmpo&rcre? o cenário dos scores, pois quebrava determinadas regras habi tuais e abria espaço para experimentações e novas tendências estilísticas nas trilhas de cinema, O estilo basicamente neorromântico aliado à incorporação de instrumentação dife rente e inusitada, bem como o uso da técnica de composição de pequenas passagens musicais chamadas de “vinhetas*. foram alguns dos elementos inovadores introduzidos pela composição de Herrmann. Embora a trilha sonora do filme não seja inteira mente composta por Herrmann, o score de Cidadão Kane realmen te foi um marco na composição da música de cinema. Herrmann ganhou seu primeiro e único Oscar nesse mesmo ano, mas pela composição de outra trilha sonora composta para o filme The Deuií and Daniel Webster que. por motivos de censura da época, teve seu nome mudado para All That Money Can Buy, conhecido no Brasil como O Homem que Vendeu sua Alma (1941). Entre suas composições dessa década destacam-se a música de Soberba (The Magni/icent Ambersons, 1942), de Anna e o Rei do Sião (Anna and the King of Siam, 1946) e do clássico dos fil mes de ficção 0 Dia em que a Terra Parou (The Day the Earth Stood Still, 1951). Neste último em particular, Herrmann mais uma vez radicalizou na inovação utilizando uma combinação nada usual de instrumentos, que incluía violino elétrico, baixo, guitarras e dois teremins. Mais tarde, compôs a música de Rochedos da Morte (Beneath the 12-mile Reef 1953), na qual sua grandiosa orquestra ção incluiu nada menos do que nove harpas. Sua celebrada parceria com o lendário diretor Alfred Hitchcock iniciou-se com o filme О Terceiro Tiro (The TVouble with Harry, 1955), e prosseguiu no ano seguinte com O Homem que Sabia Demais (The Man who Knew Too Much, 1956), filme que conta com a rápida e única aparição do próprio Bernard Herrmann como personagem. Ele faz a “ponta" do maestro que no final do filme rege a cantata de Arthur Benjamin The Storm Clouds. 1958 foi um ano especial para Herrmann. Ele compôs uma de suas mais celebradas obras: a música de Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958), analisada no capítulo seguinte. Seus temas reúnem doses perfeitas de suspense e romance, e descrevem o estado emocional dos personagens de maneira brilhante, sempre 41 A Música do Filme em seu estilo inconfundível. Nesse m esm o ano, logo em segui da, Herrmann foi convidado para com por a m úsica de Símbad e a Princesa (The 7th Voyage of Sinbad, 1958), o que о colocou em contato com o m estre dos efeitos especiais Ray Harryhausen, e que lhe rendeu algumas obras m arcantes, entre elas Jornada ao Centro daTerra (Journey to the Center of the Earth, 1959). A música da adaptação da clássica história de Julio Verne contou mais uma vez com uma orquestração insólita, que dispensou as cor das e incluiu metais, percussão, m adeiras, quatro órgãos elétri cos e um órgão de tubo. Nesse m esmo ano, Herrmann com pôs a inspirada trilha de Intriga Internacional (North by Northwest, 1959) e, no ano seguin te, compôs uma das mais reconhecidas trilhas da história do cinema para o filme Psicose (Psycho, 1960). Para a lendária cena do assassinato no chuveiro, Hitchcock inicialm ente refutou a ideia dos violentos "golpes" dos violinos proposta por Herrmann. Herrmann insistiu nos violinos argum entando que tinha criado uma frase musical rápida, repetitiva e estridente com o se des crevesse na música sucessivas apunhaladas. Apesar da inventi vidade e originalidade do compositor, Hitchcock não concordava com ele porque queria notas graves e longas, não acreditava que a proposta do compositor faria sentido. A discordância culminou com um breve desentendimento entre os dois. Hitchcock disse para Herrmann aproveitar o período de festas natalinas, pensar bastante no assunto e desistir da ideia dos violinos. Passados os feriados, Herrmann voltou a insistir até que Hitchcock, a contra gosto, cedeu e permitiu que fosse usado esse tem a. Ironia do destino, a clássica passagem é um a das cenas m ais lembradas da história do cinema e em grande parte notadam ente por causa de sua música m emorável. Entre outras trilhas que seguiram Psicose, podem os des tacar O Círcuío do Medo (Cape Fear, 1962), do diretor J. Lee Thompson, em que H errm ann desfila seu estilo peculiar agora já consagrado. A trilha desse filme foi tão apreciada que, quando em 1991, o diretor Martin Scorsese fez a refilm agem conhecida como Cabo do Medo (Cape Fear, 1991), convidou Elm er Bernstein рага fazer um a adaptação dos tem as originais compostos por Herrmann. Mamie - Confissões de uma Ladra (Mamie, 1964) é o último 42 "■"Hi Uma de compcssmra л j' filme de Hitchcock que leva uma trilha de Herrmann, e segundo os fas do compositor, o último bom filme de Hitchcock Herrmann ficou muito conhecido no universo do cinema por seu gênio forte e temperamento difícil, responsável pelo ' rompimento de vários relacionamentos profissionais ao longo de sua carreira. Porém, sempre foi muito coerente com sua postura criativa e acreditava que o compositor não podia ter um papel de funcionário do diretor e sim de participante ativo no processo criativo musical. Ele procurava não apenas compor para a ima gem, mas extrair dela uma musicalidade pertinente, tentando ele var o sentido da música ao máximo. Segundo ele próprio dizia, passou a vida combatendo a ignorância. Para ele, cada trabalho era tratado como se fosse o único e não comumente, em momen tos de discórdia, ele insistia para fazer valer sua opinião de espe cialista. Este perfil pouco político trouxe-lhe o fim da parceria de dez anos com Hitchcock, durante a produção de Cortina Rasgada (Tom Curtam, 1966). Herrmann chegou a compor a trilha do filme, que foi rejeitada pelo diretor Alfred Hitchcock, e inteiramente substituída pela música do compositor inglês John Addison. No mesmo ano, Herrmann decidiu voltar para Londres e imediatamente foi convidado por François Truffaut a compor a contemporânea trilha de Fahrenheit 451 (1966). Na Inglaterra, onde viveria a partir de então, Herrmann se dedicou mais a suas com posições de música de concerto, e aceitou alguns convites de novos cineastas, entre eles Brian De Palma e Martin Scorsese, Para Brian De Palma, Herrmann compôs a música de seus filmes Irmãs Diabólicas (Sisters, 1972), na qual utilizou um sintetizador Moog junto com a orquestra, e Trágica Obsessão (Obsession, 1976), seu penúltimo trabalho. E para o então novo diretor Martin Scorsese, Herrmann compôs o que viria a ser sua última obra, Taxi Driver (1976). Mais um genial trabalho do compositor, a trilha é um trabalho diferente das obras mais conhecidas de Herrmann. Os primeiros compassos do tema principal de Taxi Dnuer foram tirados de um tema anteriormente composto por ele para uma peça de teatro inglesa. É uma sexy melodia solada por um sax alto e acompanhada por piano, cordas e leve percussão. O compositor usou elementos do jazz para compor o clima de tensão e insanidade do protagonista vivido por Robert De Niro. 43 A M úsica do Filme Ainda reza a lenda que H errm ann n ão esta v a m u ito confortável com o direcionam ento jazzístico que S corsese e s ta v a tom ando e que se não fosse a a tu ação de seu a ssisten te C h ristop her Palmer, as relações entre diretor e com p ositor p o d eriam te r se estrem eci do. Conhecendo o passadoda personalidade forte de H errm ann é bem possível que esta situação ten ha ocorrido. H errm ann morreu repentinam ente, poucas horas após co m p letar a últim a sessão de gravação da trilha de Taxi Driver, n a véspera do N atal de 1975. No ano seguinte, viria a se to m a r o único com positor a receb er duas indicações póstum as ao Oscar, tan to por Trágica Obsessão com o por Taxi Driuer. A propósito, foi а prim eira indicação depois de 30 anos, já que sua últim a trilha indicada tinha sido Anna e o Rei do Siâo, tra balho de 1946. Por seu legado e por su a forte personalidade artísti ca, Herrmann é um dos nom es m ais apreciados e adm irados no universo das trilhas son oras, e co lecio n a fãs do m u n d o inteiro por sua obra realizada ao longo de 35 anos. Elmer Bernstein (1922-2004) Mais um gigante da m úsica de cin em a, o m aestro Elmer Bemstein (pronuncia-se Bém stín) n asceu em Nova Iorque e cresceu numa família m uito interessada nas artes. Logo no início de seus estudos, aos 12 anos, conh eceu o fam o so com p ositor Aaron Copland e estudou com um de seus pupilos, Israel Sitowitz. Mais tarde, estudou com o renom ado com positor Stefan Wolpe e for m ou-se pela Universidade de Nova Iorque, ainda buscando uma carreira de pianista de concerto. Sua fo rm ação m u sical levou-o a desenvolver um a habilidade de com posição que transita facilmen te entre a tradicional escola europeia e o m odernism o do século XX. Durante a Segunda Guerra Mundial, servindo às forças armadas am ericanas, passou a fazer arranjos m usicais p ara serviços espe ciais de propaganda, onde iniciou seu en v olv im en to co m compo sição de m úsica descritiva. Após a guerra, trab alhand o em shows musicais de rádio, foi contratado para ir a Hollywood com por sua primeira trilha de cinem a p ara o filme Saturday's Hero (1951). Após seus primeiros trabalhos, foi perseguido pelo m acartism o em 44 Uma seleção de compositores Hollywood, e passou a trabalhar Gin filmes de pouca expressão durante alguns anos. Foi o diretor Cedi B. DeMille, que deu a opor- tunidade de Bemstein voltar aos holofotes com a música do gigan tesco Os Dez Mandamentos (The Ten Commandments, 1956). Ainda durante a longa produção do épico, veio o convite do diretor Otto Preminger para a composição da trilha de O Homem do Braço de Ouro (The Man with The Golden Arm, 1955), realizada com uma orquestra de jazz, em vez da tradicional orquestra sinfônica. O próprio com positor conta que ficou surpreso com a autonomia que o diretor lhe concedeu. Embora não fosse um músico de jazz, Bemstein contou com a ajuda do arranjador Shorty Rogers e do baterista Shelly Manne, além de um time afiado de músicos de jazz. Se por um lado Os Dez Mandamentos tinha um estilo musical já bastante manjado, a trilha de 0 Homem com o Braço de Ouro chega a ser considerada por muitos fãs uma obra referencial que foi copiada muitas vezes ; depois. Embora de estilos e conceitos bastante distintos, ambas as j trilhas dos filmes acima foram muito bem-sucedidas e consagra- I ram o trabalho de Bemstein. Após várias trilhas que utilizavam a j linguagem do jazz, Bemstein teve a chance de trabalhar num esti- ! lo que viria a ser uma de suas m arcas mais reconhecíveis. Compôs \ um de seus mais famosos trabalhos para o filme Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven, 1960). O tema principal do filme foi um sucesso e ironicamente sua popularidade consolidou-se mais tarde por sua utilização como música tema de campanhas publici tárias dos cigarros Marlboro. Seguindo sua incansável busca por novos estilos e lingua gens, Bemstein encontrou uma parceria excelente na figura do dire tor Alan Pakula, para quem compôs algumas trilhas, entre elas a clássica O Sol é Para Todos (To Kill a Mockingbird, 1962), e que lhe ren deu uma de suas catorze indicações ao Oscar. Depois da simpática marcha do clássico de guerra Fugindo do In/emo (The Great Escape, 1963), de Havaí (Hawaii, 1966) e da sequência A Volta dos Sete Magníficos (Return of the Seven, 1966), entre várias outras, Bemstein compôs a trilha que lhe renderia o seu primeiro e único Oscar, para o filme Positivamente Millie (Thoroughly Modem Millie, 1967). Nos anos 70, Bemstein compôs dezenas de faroestes, vários dos quais estrelando o astro John Wayne, e também pas sou a compor para o gênero cômico, evoluindo com sua fama de A Música do Filme compositor multiestilos. Trilhas para com édias com o Aeroporto (Airplane!, 1980) e Trocando as Bolas (Trading Places, 1983), entre diversas outras, com eçaram a estereotipar o com positor que chegou a negar alguns convites para trab alh ar em novas com é dias. Segundo o próprio compositor, sua fase seguinte veio com a música de Meu Pé Esquerdo (My Left Foot, 1989), film e ganhador do Oscar de 1989, seguida de algum as trilh as p ara o cinema independente com o Terra da Discórdia (The Field, 1990) e Os Imo rais (The Grifters, 1990). Seu con tato com o diretor Martin Scorsese iniciou-se na releitura de Cabo do Medo (Cape Fear, 1991), em que Bernstein rearranjou e adaptou m ú sica de seu amigo Bernard Herrmann com posta para a prim eira film agem , original de 1962. O sucesso da trilha rendeu a Bernstein u m O scar de Melhor Trilha Adaptada, bem com o lhe possibilitou a continui dade da parceria com Scorsese repetida n a bela trilha de A Época da Inocência (The Age of Innocence, 1993) г de Vivendo no Limite (Bringing Out the Dead, 1999). Entre ou tros diretores com quem chegou а trabalhar está Francis Ford Coppola, que con tou com a música de Bernstein para seu filme O Homem que Fazia Chover (The Rainmaker, 1997). Entre seus últimos trabalhos, d estaca -se a sensível trilha do melodrama Longe do Paraíso (Far from Heaven, 2003), que em muito rem ete à nostálgica sonoridade de O Sol É Para Todos. Tanto no estilo como no arranjo, Bernstein faz u m a hom en agem aos clássicos m elodram as dos anos 50, com u m a m ú sica cheia de sensibilidade e paixão, e que lhe valeu sua décim a q u arta indica ção ao Oscar. Elmer Bernstein faleceu em 18 de ag o sto de 2004 e foi um dos com positores de carreira m ais longa da h istó ria do cine ma. No ano de 2001, com em orou 50 an o s de co m p o sição para cinema. Além de seu talento m usical, a figura pessoal de Bemstein sempre foi m uito respeitada por su a a tu a çã o em seu meio. Além de lecionar f\\m scoring, foi a tu an te em várias organi zações ligadas à m úsica de cinem a e m em b ro fun d ad or do Film Music Museum. Graças à sua enorm e obra de m ais de 200 trilhas de estilos diversos, e à sua condição ativa n a indú stria cinem ato gráfica, Bemstein é considerado um dos gigantes, len d a da histó ria da música de cinem a. 46 Uma seleção de compositores Ennio Morricone (1928-) O m aior dos compositores italianos de música de cinema nasceu em Roma. Ainda pequeno, com eçou a estudar trompete e logo estava na fam osa Academ ia de Música Santa Cecília estu dando composição. Na década de 1950, passou a trabalhar em rádio e em arranjos de m úsicas para outros compositores de tea tro e cinema. Nos anos 60, Morricone iniciou um a carreira imen samente produtiva no cinem a europeu, tendo trabalhado com vários renomados diretores, entre eles Elio Petri, Gillo Pontecorvo, e mais tarde Henri Vemeuil e Bernardo Bertolucci. Mas Morricone tom ou-se conhecido no mundo todo por sua criativa linguagem musical presente nos faroestes italianos dirigidos por Sergio Leone para a trilogia Por um Punhado de Dólares (Per un Pugno di Dollari, 1964), Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro in Piu, 1965) e Três Homens em Conflito (II Buono, ií Brutto, il Cattiuo, 1966), estre lados por Clint Eastwood. Este terceiro tem um a das músicas mais marcantes e características da história do cinema e tomou-se um sucesso da música popular, independentemente do sucesso do filme. Morricone realmente inovou aousar nessas trilhas elementos até então totalmente estranhos ao gênero, como gritos, assobios e guitarras. Suas pontuações bem-humoradas e sincronizadas com ações dos personagens deram ao estilo faroeste um novo sentido, pois a música, de certa maneira, sugeria um tom mais crítico, mais sarcástico à narrativa dos faroestes. Morricone é um dos compositores de trilhas sonoras mais prolíficos da história, tendo composto, até hoje, músicas para mais de 400 filmes. Sua história no cinem a europeu rendeu-lhe dezenas de sucessos que cativam os mais fanáticos fãs de trilhas sonoras, como a m archa militar de A Batalha de Argel (La Battaglia di Aígeri, 1965), os tem as de Sacco e Vanzetti (1971), que contam com a partici pação da cantora Joan Baez, a bem-humorada trilha de Meu Nome é Ninguém (Il Mio Nome è Nessuno, 1973), e os lindíssimos temas emocio nais de 1900 (Novecento, 1976), do diretor Bernardo Bertolucci. Mais tarde, em 1978, Morricone criou a trilha de Cinzas no Paraíso (Days of Heaven, 1978) do diretor Terrence Malick que, apesar de bastante curta e muito mal mixada no som do filme, é bastante inspirada e foi 47 A M úsica do Filme indicada ao Oscar. Em Era Uma Vez no Oeste (Cera una Volta il West, 1968), as m arcantes gaitas e suas guitarras típicas ajudaram a consagrar o seu estilo vulgarm ente ch am ad o de spaghetti western ou “bang-bang à italiana”, com o se ch am ava no Brasil Seus belís simos tem as com tem pero italiano contribuíram para que este filme fosse considerado a obra m aior do diretor Sergio Leone. Mais tarde, em Era Uma Vez na América (Once Upon a Time in America, 1984), Morricone volta à cena com u m nostálgico e belíssimo tema principal, típico exem plo de sua sensibilidade e delicadeza na composição de melodias. Outro trabalho m em orável de Morricone é sua segunda trilha indicada ao Oscar para o filme A Missão (The Mission, 1986), estrelado por Robert De Niro, cujo tem a principal para orquestra e coro é uma bela peça sinfônica de estilo peculiar e foi referência para várias outras trilhas, inclusive para um tem a m usical de um a campanha publicitária de m arca de cartão de crédito, produzido pelo próprio Morricone. A utilização inteligente do contraste entre a música e a ter rível cena final de A Missão m erece destaque. A m úsica conduz o esta do emocional do espectador ao presenciar tal cena de um a maneira não convencional. A m úsica não entra na batalha, ao contrário, ela parece levar o espectador a um estado de incredulidade e reflexão, engrandecendo a força em ocional da cena. No ano seguinte, veio mais Mm sucesso com o filme Os Intocáveis (The Untouchables, 1987), cujo "onjunto parece ser um a pequena coletânea de tem as característicos do estilo de Morricone, quase que com pondo um a suíte das várias facetas do com positor para este belo filme de Brian De Palma. O co m en tad o Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso, 1989) leva um a das trilhas m ais inspiradas da história do cinema, e m arca o início da b em -su ced id a p a rceria en tre o diretor Giuseppe T om atore e Ennio M orricone. O prem iadíssim o traba lho da trilha deste belo film e co n d u z o d ra m a de m an eira única. É difícil im agin ar o que seria do film e se m e ssa m úsica, sem esses tem as. Um dos cues da trilh a , o te m a de am o r de Cinema Paradiso, é com p osição do filho de M orricone, A ndrea Morricone, ainda que em p arceria co m a m elod ia do pai. O envolvim ento do com positor com o d iretor ain d a n a fase de co n ce p çã o do rotei ro do filme g aran tiram u m a sin ton ia d ra m á tica perfeita entre m úsica e filme. 48 Além de Busca Frenética (Frantic, 1988), do diretor Roman Polanski, e Pecados âe Guerra (Casualties of War, 1989), do diretor Brian De Palma, filmes de grande sucesso internacional, Morricone ganhou sua quarta indicação ao Oscar pela trilha de mais um filme de gángs- teres, Bugsy (1991), do diretor Barry Levinson. Mais tarde, para Roland Joffé, o m esm o diretor de A Missão, Morricone compôs а trilha de A Cidade da Esperança (City ofjoy, 1992) e, nos anos seguintes, voltou a trabalhar m ais intensam ente em vários títulos italianos, dos quais se destaca a m aravilhosa m úsica de A Lenda do Pianista do Mar (The legend o f 1900, 1999), outra feliz parceria com o diretor Giuseppe Tom atore que, em bora não tenha recebido um elogio consensual da crítica pelo filme, tem , com certeza, um trabalho muito elabora do de trilha sonora, descrito no capítulo seguinte. M orricone recebeu sua quinta indicação ao Oscar pela tri lha de Maíena (2000), m arcan d o a feliz continuidade de sua parce ria com o diretor Giuseppe Tom atore, que ainda rendeu mais recen tem ente as belas produções A Desconhecida (La Sconosciuta, 2006) e o épico Baaría (2009). Em m aio de 2007, “Il Maestro", apeli do carinhoso pelo qual é conhecido junto aos fãs, veio pela primeira vez ao Brasil, para o "M úsica em Cena - Io Encontro Internacional de M úsica de C inem a”, a convite do curador do even to, au tor deste livro. M orricone brindou-nos com um memorável concerto de abertu ra do evento no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a lém de co n ced er in úm eras entrevistas nas quais contou um pouco de su a história e de sua alegria em estar no Brasil. Nos últim os anos, su a m ú sica e seu nom e ganharam ainda mais fama, particu larm ente ju n to ao público m ais jovem , com a utilização de seus te m a s nos film es Kill Bill, do criativo diretor Quentin Tarantino, declarado fã de M orricone. Ainda em 2007, após 40 anos de carreira, co m várias indicações ao Oscar, m as sem nenhuma estatu eta, a A cadem ia resolveu render-se à im portância do m aes tro e conced eu -lh e u m prêm io honorário pelo conjunto de sua obra e colab oração inestim ável ao cinem a. D esde o in ício de su a ca rre ira , M orricone sem pre fez q u estão de a r ra n ja r e o rq u e s tra r su a s próprias com posições, d isp en san d o a p a rc e r ia de orq u estrad o res. Em seus eventos, p a le s tra s e c o n c e r to s , ele p róprio ca rre g a cuidadosam ente con sig o a s p a r ti tu ra s d as p e ça s que e x e cu ta . Por sua valiosa Um a seleção de compositores е vasta obra musical para o cinem a, Ennio M orricone já tem o seu lugar garantido no seleto time dos grandes m estres da trilha sonora. A M ú sica do F ilm e Jerry Goldsmith (1929-2004) Jerrald (Jerry) Goldsmith nasceu em Los Angeles. Come çou ao piano aos seis anos de idade e logo estava estudando composição. Mais tarde, chegou a ter aulas com o grande mes tre Miklos Rozsa, na USC (University of South California). Em 1950, ele com eçou sua carreira profissional com o copista (pro fissional que transcreve as partituras para os músicos) no departam ento de Música da CBS. Aos poucos com eçou a com por peças para shows de rádio até que, em 1955, passou do rádio para a televisão, sendo um dos pioneiros da com posi ção de m úsica para televisão. Como as prim eiras séries de TV eram m usicadas ao vivo, era n ecessária u m a grande técnica e habilidade dos m úsicos e o talento de Goldsmith com o pia nista o ajudou m uito n essa época. Sua carreira n a televisão foi m uito produtiva e inúm eros são os seus trabalhos para seriados, entre os quais se d estacam Além da Imaginação (Twilight Zone), Dr. Kildare e Os Waltons (The Waltons). Ainda em ' 1957, Goldsmith conseguiu sua prim eira oportunidade de fazer um a trilha para cinem a, p ara um faroeste barato cha m ado Black Patch. Após algum as trilhas de m en or sucesso, foi por m eio da in d icação do m estre Alfred N ew m an que Goldsmith com pôs o que seria sua prim eira trilha para um trabalho de expressão para o filme Sua Última Façanha (Lonely are the Brave, 1962), estrelando Kirk Douglas. Seu bem -sucedi do trabalho para a m úsica desse filme resultou em um convi tedo diretor John Houston para trab alh ar na trilha de Freud, Além da Alma (Freud, 1963) que, por sua vez, lhe garantiu sua primeira indicação ao Oscar. Depois disso, Goldsmith ganhou uma vaga na casa dos com positores m ais requisitados de Hollywood. Ao contrário da m aioria dos grandes compositores, Goldsmith nunca foi estereotipado por seu trabalho. Desde o 50 Um a Sélêção c> -сс-л-рсглзге- início de sua carreira, o compositor destacou-se por ter um per fil bastante eclético. Ainda nos anos 60, já tinha composto música para faroestes, dram as, comédias e suspenses. Ele sem pre foi reconhecido por ser um compositor bastante dedicado à especialização da m úsica de cinem a. Sempre acreditou e defen deu o ponto de vista de que a m úsica original tem de trabalhar para ajudar o filme, respeitando sua narrativa, seus tempos, seu ritmo. Sua visão aberta e despreconceituosa da música de cinema o permitia ter um relacionam ento produtivo com dire tores de estilos muito diferentes. Na segunda metade da década de I960, seu volum e de trabalho aum entou consideravelmente e Goldsmith passou a ser um com positor muito solicitado por novos diretores em trabalhos expressivos, dos quais destacam- -se os intensos scores de O Canhoeiro do Yanq-Tsé (The Sand Pebbles. 1966) e Planeta dos Macacos (Planet of the Apes, 1968), ambas trilhas indicadas ao Oscar. Uma das trilhas m ais memoráveis de Goldsmith também foi um dos trabalhos mais curtos em duração. Para o clássico de três horas Patton - Rebelde ou Herói? (Patton, 1970), Goldsmith com pôs apenas cerca de trinta minutos de música, que já lhe vale ram um a indicação ao Oscar. Um pequeno motivo de três notas tocadas por trom pete, processado por um grande efeito de eco de repetição, m arca a forte personalidade do protagonista, o general George Patton. Este motivo passa a ser o tem a principal do filme e em algumas passagens ele está grandiosamente arranjado, como que simbolizando a trajetória do general. No ano seguinte, Goldsmith com pôs um trabalho repleto de variações bizarras sobre tem as de Liszt, para o filme Balada para Satã (The Mephisto Waltz, 1971). O lado lírico da composição de Goldsmith pode ser apreciado em trilhas para filmes com o o Quando Só o Coração Vê |A Patch of Blue, 1965) e Papülon (1973), este último do diretor Franklin Schaffher, com quem Goldsmith já tinha trabalhado em Planeta dos Macacos e Patton e com quem ainda viria a trabalhar em filmes com o Os Meninos do Brasil (The Boys/rom Brazil, 1978), em que usa tem as m elódicos que contrastam com a história funes ta. Sobre este filme. Goldsmith conta que foi do diretor a ideia de tratar o personagem caçad or nazista (vivido por Laurence Olivier) com um a leve valsa vienense e o personagem cirurgião A Música do Filme (Gregory Peck) com um tem a m uito w agneriano: “Foi um a ideia excelente. Que maravilhosa abordagem !”. Ponto alto que exem plifica a inventividade de Goldsmith está gravado na trilha de Chinatown (1974), clássico noir de Roman Polanski. A interessante história da con cep ção da músi ca deste filme descrita no capítulo seguinte, é m atéria básica no estudo da música de cinem a. Após trab alh ar em tã o diversos fil mes como O Vento e o Leão (The Wind and the Lion, 1975) e Fuga do Século 23 (Logan’s Run, 1976), Goldsmith com pos o que viria a ser um dos seus maiores sucessos, A Profecia (The Omen, 1976). Neste clássico de filmes de terror, pode-se n o ta r influência de óperas dramáticas. Devido ao grande su cesso popular do filme, bem como sua trilha bastante adequada e grandiosa, este trabalho passou a ser um dos m ais adm irados pelos fãs de Goldsmith. Na trilha do filme Coma (1978), m ais u m a vez Goldsmith demonstra seu experimentalismo em tem as arranjados com inusi tadas sonoridades de piano sendo tocado diretam ente nas cordas. Esses timbres, com efeitos de eco, produzem u m a textura musical ■yepleta de tensão, que colabora m uito com o clim a do filme. ̂ Em 1979, Goldsmith com pôs a trilh a de Jornada nas Jfstrelas - 0 Filme (StarTVefe; The Mouie), p rim eiro film e da versão fcinematográfica da série de TV dos anos 60. O film e foi um grande sucesso de público e p ara o te m a principal, Goldsmith rearranjou o clássico m otivo da série original de TV com posto por Alexander Courage em 1966 . No m e sm o ano ainda, Goldsmith compôs Alien - O Oitauo Passageiro (Alien, 1979), fil me que teve um trecho final da trilh a son o ra original trocado na última hora por um tem a da Sinfonia Romântica do com po sitor am ericano do início do sécu lo XX, H ow ard H anson. Goldsmith criou um a dram ática m úsica para o filme Poltergeist (1982), utilizando-se de m ovim entos bizarros da orques tra para acrescentar tensão à narrativa. D estaque para o tema final Carol Anne's Theme, em que u m a doce m elodia interpretada por um coro de crianças e orquestra dá o to m sinistro do filme. Nos anos seguintes, Goldsmith dem onstrou ex trem a consistência criativa nos seus trabalhos, m antendo-se sem pre com o um grande nome na criação de trilhas sonoras. A m ú sica de Sob Fogo Cerrado 52 Uma seleção de compositores (Under Fire, 1983) teve a participação do músico Pat Metheny e foi a décima quarta indicação ao Oscar de Goldsmith. No mesmo ano, compôs No Limite da Realidade (Twilight Zone: The Mouie, 1983) e, no ano seguinte, Runaway - Fora de Controle (Runaway, 1984) e Gremlins (1984), este último grande sucesso de público de seu amigo diretor Joe Dante, seu habitual parceiro. Em 1985, Goldsmith teve uma extensa obra sua rejeitada pelo diretor Ridley Scott para o filme A Lenda (Legend, 1985), substituída na versão americana pela música do grupo pop Tangerine Dream. Goldsmith havia trabalhado durante cerca de seis meses no pro jeto, compondo canções e o score do filme inteiro, baseado num arranjo de orquestra e coro. A rejeição de seu trabalho causou bastante polêmica na comunidade musical-cinematográfica, já que a sua obra se manteve na versão europeia do filme, foi lan çada em CD e se mostrou uma obra de impecável adequação ao filme, A Grande Cruzada (Lionheart, 1987), do diretor Franklin Schaffner, parceiro de Goldsmith, tem uma trilha épica que combina timbres de sintetizadores com a orquestra, criando peculiares texturas sonoras. Embora menos popular, esta tri lha é considerada uma das mais inspiradas criações de Goldsmith. Nos anos seguintes, compôs várias trilhas para fil mes de grande popularidade, como Inocente ou Culpado (Cri minal Law, 1988), Rambo III (1988), Dormindo com o Inimigo (Sleeping with the Enem y, 1991), Instinto Selvagem (Basic Instinct, 1992), Eternamente Jovem (ForeverYoung, 1992), Malícia (Malice, 1993) e 0 Vingador do Futuro (Total Recall, 1990), estrelando Arnold Schwarzenneger, trilha que é considerada o ponto alto das tri lhas de filmes de ação de Goldsmith. Entre diversos filmes que se seguiram, destacam-se as trilhas de O Curandeiro da Selva (Medicine Man, 1992), O Rio Sel vagem (The River Wild, 1994), Lancelot, O Primeiro Cavaleiro (First Night, 1995), Energia Pura (Powder, 1995), A Sombra e a Escuridão (The Ghost and the Darkness, 1996), e o aclamadíssimo Los Angeles - Cidade Proibida (L.A. Confidential, 1997), em que а música de Goldsmith parece fazer referência a seu próprio clássico Chinatown, com seus temas bluesy solados por trompete. A Música do Filme No final dos anos 90, Goldsmith compôs a heróica músi ca de No lim ite (The Edge, 1997), a de U.S. Marshals - Os Federais (U.S. Marshals, 1998), а de O 13° Guerreiro (The 13* Warrior, 1999) e а de Muían (1998). Entre os trabalhos de seus últimos anos, des tacam-se as trilhas de A Múmia (The M um m y , 1999), a grandiosa música de A Soma de Todos os Medos (The Sum o f All Fears, 2002) e а divertida composição para o filme de seu habitual parcei ro diretor Joe Dante, Looney Tunes: De Volta à Ação (Looney TUnes.Back in Action, 2003). Depois de uma dura batalha contra o câncer, Goldsmith morreu em julho de 2004. Embora não tão famoso como outros colegas, Goldsmith é indiscutivelmente um ícone da música de cinema, muito considerado junto ao meio profissional e admi rado por fãs do mundo todo, seja por seu profissionalismo, seu carisma ou seu talento. John Williams (1932-) O mais famoso de todos os compositores de trilhas sono ras, John Towner Williams nasceu em Long Island, Estados Unidos. Começou a estudar piano logo aos oito anos de idade e sempre quis ser um concertista. Mais tarde, mudou-se com sua família para a Costa Oeste, onde pôde fazer contatos com futu ros parceiros profissionais. Williams estava na UCLA (Universidade da Califórnia, em Los Angeles) quando foi convocado para o serviço militar. Depois de sua dispensa, estudou na reconhecida Juilliard School, em Nova Iorque, e depois retomou a Los Angeles, onde estudou com o grande compositor italiano Mario Castelnuovo-Te- desco. Logo passou a trabalhar como pianista de estúdio, tendo participado de dezenas de gravações de trilhas sonoras de cinema para grandes compositores, como Alfred Newman, Bernard Herrmann e Franz Waxman. Passou, então, a trabalhar sob comando do grande mestre Alfred Newman no estúdio 20№ Century Fox. A partir de meados dos anos 50, conseguiu diver- sos trabalhos de composição, arranjos e regência de diversas 54 Uma seleçào de compositores gravações para TV, para artistas famosos e, mais tarde, para cinema. Nessa época, ainda assinava como Johnny Williams e aos poucos acabou abandonando a televisão e dedicando-se a compor exclusivamente para cinema. Considerada a primeira trilha original de expressão já assinada por John Williams, a música do filme Os Rebeldes (The Reivers, 1969), do diretor Mark Rydell, marca na prática a entrada de Williams para o time de grandes compositores, e que lhe ren deu a primeira de mais de 40 indicações ao Oscar. Em 1972, Williams concorreu ao Oscar por nada menos do que duas tri lhas: O Destino do Poseidon (The Poisedon Adventure, 1972) e Ima gens (Images, 1972), este último do diretor Robert Altman. A trilha do primeiro filme pode ser considerada uma pequena mostra do que viria a ser a faceta grandiosa e aventureira de Williams, bem como o grande faroeste estrelado por John Wayne, Os Cowboys (The Cowboys, 1972). Neste filme, também do diretor Mark Rydell, Williams apresenta uma orquestração grandiosa ao estilo Bemstein de Sete Homens e Um Destino. Dois anos depois, John Williams compôs a trilha do filme Louca Escapada (Sugaríand Express, 1974), seu primeiro trabalho com Steven Spielberg, diretor com quem viria a for mar uma das mais bem-sucedidas parcerias diretor x compo sitor da história do cinema. Consta que até 2005 apenas dois filmes da carreira de Spielberg não têm música original de John Williams. Ainda em 1974, Williams compôs trilhas gran diosas para os filmes de desatres Terremoto (Earthquake, 1974) e ín/emo na Torre (The Towering In/erno, 1974), este último inclu sive sendo indicado ao Oscar. No ano seguinte, uma de suas mais m arcantes trilhas ajudou a incrementar a valorização do papel artístico do compositor. A genial descrição musical de Ilibarão (Jaws, 1975) foi um grande show de inventividade, utilizando elementos e ferramentas já bastante conhecidos, mas de um modo simples e genial. O imortal tema de apenas duas notas sugerindo a presença do assassino dos mares foi uma enorme colaboração à intensidade dramática do filme. O próprio Spielberg reconhece que o filme não teria tamanho sucesso e lembrança não fosse a forte e inesquecível música de Williams. 55 Л Música do Filme Guerra nas Estrelas (Star Wars, 1977) é o filme que marca a volta do estilo grandioso e romântico da música de Max Steiner e Korngold ao grande cinema popular A música de Guerra nas Estrelas pode ser considerada um marco pela volta da grande orquestra sinfônica, bem como pela volta do uso das técnicas de composição musical da era dourada do cine ma, como o leitmotif. Para cada personagem, John Williams desenvolveu um tema específico. Na realidade, no início da con cepção musical, o diretor George Lucas pensava em usar trechos de Stravinsky, Dvorak e principalmente Os Planetas, de Holst. Ao longo do processo, Williams foi convencendo Lucas que se ele pudesse compor uma música original, o filme ganharia muito, pois seria possível descrever com mais precisão as cenas, per sonalidades e ações da história. Além de substituir com louvor o “clima’' tão apreciado da obra de Holst, uma trilha original poderia ir além, construindo uma identidade sonora para cada personagem, como foi feito. No mesmo ano, Williams compôs outra obra-prima, muito diferente, para o filme Contatos : Imediatos de Terceiro Grau (Close Encounters o f the Third Kind, 1977). Williams conta que chegou a compor mais de 200 combinações de notas antes de escolher o famoso motivo de cinco notas que traduz a forma de comunicação dos extraterrestres com os ter ráqueos. No restante da trilha há traços da música moderna e romântica, e em várias sequências o diretor chegou a editar o filme depois da gravação da música, o que é bastante raro. A música final com seu desfecho de fanfarra apoteótica é consi derada uma peça memorável, bastante interpretada em con certos de música de cinema. No anos seguintes, Williams compôs uma saraivada de sucessos, como as famosas e populares trilhas de Superm an - O Film e (S u p erm a n , 1978), O Império Contra-Ataca (Star W ars: Episode V - T he Em pire Strikes Back, 1980) e o primeiro filme da série estrelada por Harrison Ford, Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (Raiders o f the Lost Arfe, 1981), símbolo da solidificação do retorno da grandiosa música romântica dos grandes mestres, e a consolidação de Williams como principal mestre da música de aventura. . O recorde mundial de bilheteria até então foi E.T. 0 Extraterrestre (E.T. T h e Extra-Terrestrial, 1982), comentado com Uma seleção de compositores detalhes no capitulo seguinte. Para este clássico, Williams compôs uma de suas obras-primas, percorrendo com maestria o caminho entre o delicado e o grandioso. Os principais temas estão baseados em um motivo inicial de duas notas num intervalo de quinta ascendente, que depois se desenvolvem em variadas melodias. A cena final de E.T tem um trecho de aproximadamente IS minutos de duração e, segundo o próprio Williams, foi um dos trechos mais difíceis que ele já compôs, porque nesta sequência de cenas ele criou uma música única que tem diversas pontuações predsas e várias nuances descritivas. Uma pontuação musical para as bicicle tas, uma música dramática para os carros de polícia, um trecho sentimental para a despedida, um final grandioso, e diversos outros momentos e climas que foram acompanhados por uma orquestra sinfônica, sem respiros ou emendas. Este trecho da música agradou tanto ao diretor Steven Spielberg que ele quis fazer correções na edição, a fim de que as cenas acompanhassem mais precisamente os movimentos da música. Numa série inigualável de grandes sucessos populares do cinema, W illiams foi o responsável por trilhas de filmes que cativaram e cham aram a atenção de um número cada vez maior de pessoas. Não é à toa que hoje John Williams é o com- positor-sinônimo de trilha sonora de cinema para o grande público, muito respeitado pela comunidade cinematográfica, adorado pelos fãs e elogiado pelos diretores com quem traba lha. O próprio Steven Spielberg chegou a afirmar que “John Williams é E.T.” se referindo ao excelente trabalho na trilha deste filme. Ainda segundo Spielberg17, John Williams pode “pegar um momento, e elevá-lo. Pode manipular uma lágrima que se forma em seu olho e provocar sua queda”. 0 Retomo de )edi (Star Wars: Return o f the Jedi, 1983), Indiana Jones e o Templo da Perdição (Indiana Jones and the Temple of Doom, 1984), TUrista Acidental(The Accidental Tourist, 1988), e Império do Sol (Empire of the Sun, 1987), рага o qual compos uma de suas poucas trilhas que têm bastante coro em seu arranjo. Esqueceram de Mim (Home Alone, 1990) JF K - A Pergunta que Não Quer Calar (JFK, 1991), а lin díssima música com sabor irlandês de Um Sonho Distante (Far and N ota do e n c a rte do CD E.T The Extra-Terrestrial - 20* Anniversary, 2002. 57 т .. " -j» « ■ A Música do Filme Away, 1992) e a monumental de Parque dos Dinossauros (Jurassic Park, 1993) precederam A Lista de Schindler (The Schindler’s List, 1993), em que Williams dá um show de precisão e descrição de climas numa verdadeira aula de composição para cinema. Suas tristes melodias interpretadas pelo virtuoso violinista Itzhak Perlman intensificaram a experiência dramática do filme e deram-lhe quase todos os prêmios que um compositor de cinema pode receber por uma trilha. O original tema de Sabrina (1995) e as trilhas de Sleepers - л Vingança Adormecida (Sleepers, 1996), Sete Anos no Tibete (Seven Years in Tibet, 1997) (que conta com a sonoridade do famoso violoncelo de Yo-Yo Ma), Amistad (1997), entre outros, vieram antes da sensível e ufanista O Resgate do Soldado Ryan (Saving Priuatè Ryan, 1998) e da menos conhecida e belíssima Cinzas de Ângela (Angela Ashes, 1999). Depois da virada do milênio, John Williams continuou com toda a força compondo grandes trilhas orquestrais para grandes filmes como a série Stars Wars, O Patriota (The Patriot, 2000), A.I. - Inteligência Artificial (Artificial intelligence: AI, 2001), Minority Report- A Nova Lei (Minority Report, 2002) e Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (Harry Potter and the Prisioner ofAzkaban, 2004). Em Star Wars - Episódio I - A Ameaça Fantasma (Star Wars: Episode I: The Phantom Menace, 1999), Williams conta que, durante as sessões de gravação da música com a Orquestra Sinfônica de Londres, se encontrou com alguns músicos que participaram da gravação do primeiro filme Guerra nas Estrelas de 1977, vinte e dois anos antes. ■ E outros jovens músicos da orquestra contaram-lhe que eram crianças na época do primeiro filme e confessaram que a música de Williams foi uma forte influência em seu estudo musical. Em 2002, Williams surpreendeu os fãs com uma trilha que, de uma certa maneira, resgata uma faceta de sua forma ção do jazz da década de 60 na bem-humorada música de Prenda-me se For Capaz (Catch Me if You Can, 2002). Neste traba lho, Williams utiliza a orquestra de uma forma mais jazzistica, abusando das linhas melódicas interpretadas por saxofone. A mistura de elementos de melodia e harmonia do jazz com o rico acompanhamento orquestral dá o tom certo de aventura, 58 Uma seleção de compositores ação e humor do filme. 0 tema principal, apresentado logo nos créditos iniciais, chama a atenção pela sua inusitada melodia e lembra o sabor divertido dos tem as de Henry Mancini à la Pan tera Cor-de-Rosa. Dois anos mais tarde, compôs uma belíssima obra para um filme m enor de Spielberg, 0 Terminal (TheTerminal, 2004), e muitos consideram este um exemplo de composição musical que está acima do nível do filme. Num ano muito intenso, Williams produziu grandes tri lhas para quatro grandes filmes em 2005. Para o episódio final da saga de George Lucas, Star Wars III - A Vingança dos Sith (Star Wars Ш - Reuenge o f the Sith , 2005), grande sucesso de público, Williams compôs uma trilha nova utilizando-se de temas dos primeiros episódios. Guerra dos M undos (W ar o f the Worlds, 2005), criticada adaptação da clássica história de H. G. Wells dirigida por Steven Spielberg, contou com uma trilha pesada e sombria que combi nava climas atmosféricos ameaçadores com elementos de per cussão agressivos para as cenas de ação. Memórias de uma Gueixa (Memoirs of a Geisha, 2005), também seria dirigido por Spielberg que, durante a pré-produção do filme, passou a batuta para as mãos de Rob Marshall. Como Williams já tinha aceitado o convite para escrever a música e já estava até pes quisando possibilidades musicais, o novo diretor aceitou com prazer o nome do compositor. Segundo o próprio Williams13, o conceito da música neste filme foi combinar as sonoridades únicas da música japonesa com as mais familiares harmonias e melodias da músi ca ocidental. "A coisa essencial foi buscar ampliar o espectro emo cional além das fronteiras da música tradicional das gueixas”. Por isso a música do filme mistura instrumentos japoneses como koto, cítara japonesa, taiko drums e outros a uma orquestração ociden tal pertinente à linguagem do filme. Na trilha estão participações de dois famosos músicos que Williams já convidara para outros j trabalhos; o violoncelista Yo-Yo Ma (Sete Anos no Tibete) e o violinis- ta Itzhak Perlman (A Lista de Schindler), ‘ Artigo publicado pelo New Yorfe Times em 15/1/2006, acessado no dia 19/1/2005 Link. http://www.nytimes.com/2006/01/15/movies/redcarpet/lSburl.html. http://www.nytimes.com/2006/01/15/movies/redcarpet/lSburl.html A Música do Filme Na trilha de Munique (Munich, 2005), Williams enfrentou o desafio de compor algo totalmente diverso do que havia composto para Memórias de uma Gueixa. “O que eu tentei fazer foi criar música que poderia ser israelense ou palestina”. Ele compôs o que chamou de “oração pela paz”, uma composição lírica associada ao protagonista e à casa que ele deixa em Israel e um outro tema para voz e orquestra que acompanha os vários flashbacks do filme. Williams utilizou diversos instrumentos étnicos orientais buscando uma sonoridade autêntica do Oriente Médio. John Williams é um artista que reúne raras qualidades, pois além de seu inegável talento como compositor, orquestrador e regente, é muito reconhecido pela sua personalidade amigável e por seu bom relacionamento com os diretores e produtores. Sua habilidade política em lidar com os desejos dos diretores com quem trabalhou e sua postura profissional certamente o ajuda ram a desenvolver com mais liberdade seu potencial criativo. Sabe-se que, em várias situações, o grande mérito do compositor é conseguir convencer o diretor a aceitar uma determinada ideia. Certamente Williams passou diversas vezes por essas situações. Há mais de trinta anos promove seus temas de filmes famo sos em concertos de música de cinema, desde a época em que foi ' gente titular da famosa orquestra Boston Pops (de 1980 a 1993), m a qual trabalhou inclusive na gravação de várias trilhas. Além 'sso, chegou a compor várias peças de concerto, incluindo uma sin fonia e um concerto para cello e orquestra estreado por Yo-Yo Ma e a Orquestra Sinfônica de Londres, em 1994. Por sua fama como com positor de grandes temas orquestrais e sinfônicos, Williams ainda compôs várias peças de aberturas cerimoniais, como os Jogos Olímpicos de 1984,1988 e 1996. Em agosto de 2008, o autor deste livro esteve presente em um concerto de John Williams na arena Hollywood Bowl, em Los Angeles, testemunhando, ao lado de um publico de 15.000 pessoas, uma espetacular apresentação do maes tro regendo a Filarmônica de LA. Tamanha quantidade de trabalhos bem-sucedidos ren deram a John Williams, até 2011, nada menos do que 5 Oscars, 17 Grammys, 3 Globos de Ouro, 2 Emmys e 5 Prêmios da 60 Uma seleção de compositores i, lAcademia Britânica, só para citar alguns. Por sua invejável con- ] tribuição artística para o cinema, John Williams conta com o respeito e a admiração dos amantes da música cinematográfi ca e tem um lugar especialíssimo no hall dos maiores composi tores da história. \ John Barry (1933- 2011) John Barry Prendergast nasceu na Inglaterra e iniciou os estudos de piano aos oito anos de idade. Seu pai era um empre sário do ramo de cinema que tinha oito salas de exibição e, desde menino, Barry trabalhou na companhia da família. Aos quinze anos de idade estava estudando trompete, harmonia e contraponto. No serviço militar, foi trompetista da banda durante cerca detrês anos, período no qual fez as amizades com as quais formaria sua própria big band de jazz ao receber a dispensa. Sua banda The John Barry Seven fez bastante sucesso e Barry chegou a assinar um contrato com a EML Primeiro come çou a fazer arranjos para artistas da gravadora e logo foi produ tor de alguns. Um destes artistas que Barry produziu (Adam Faith) estrelou um filme, e como Barry era seu produtor musi cal, acabou compondo sua primeira trilha para um filme cha mado Beat Girl, de 1960. O filme não chegou a ser um sucesso comercial, mas Barry teve a oportunidade de entrar para um novo mercado. Dois anos mais tarde, em 1962, Barry foi chamado para ajudar a escrever o arranjo do tema principal de um filme de espionagem. O compositor Monty Norman estava trabalhando no projeto e teve de dividir a tarefa com John Barry. O filme era nada menos do que o primeiro da histórica série de 007, no caso o pri meiro episódio que se chamou no Brasil de 007 Contra o Satânico Dr. No (Dr. No, 1962). Ao longo de muitos anos, houve controvérsia sobre quem de fato havia composto o famosíssimo tema princi pal James Bond Theme. Hoje Monty Norman detém a autoria do tema, mas reza a lenda que, não satisfeitos com o resultado da 61 A Música do Filme composição de Monty Norman, os produtores do filme decidi ram chamar Barry para complementar o score. O fato é qUe Barry tomou-se para sempre o nome ligado ao tema de 007, g foi o principal compositor e pai de toda a linguagem musical da série, compondo um total de nada menos que 11 trilhas das aventuras de James Bond ao longo de 25 anos. 007 Contra Goldfinger (Gold/inger, 1964), 007 Contra a Chan tagem Atômica (Thunderball, 1965) e 007 A Serviço Secreto de sua Majes tade (On Her Majesty's Secret Service, 1969) são exemplos do estilo espionagem praticamente criado e difundido por John Barry e que ao longo dos anos foi imitado por muitos compositores. Apesar do enorme sucesso de Jam es Bond, Barry sempre circulou por outros estilos de filmes, como na grandiosa aven tura sinfônica de Zulu (1964) e na sensível e ganhadora do Oscar A História de Elza (Bom Free, 1966). Aliás, sua faceta romântica e sua sensibilidade para compor tem as de melodia simples e marcante fica evidente em film es como O leão no Inverno (The Lion in W interr 1968), Em Algum L ugar do Passado (Somew here in T im et 1980), Entre Dois Amores (Out o f Africa, 1985) I e Dança com Lobos (Dances ivith Wòlues, 1990). O primeiro é con- í siderado por muitos como sendo um ponto alto na carreira de Barry e tem uma trilha que mistura com êxito técnicas moder nas e antigas de composição. Aqui no Brasil, o tema principal de Em Algum Lugar do Passado virou um clássico piegas de ceri mônias de casamentos, com sua melodia melosa e romântica. Já Entre dois Amores e Dança com Lobos são típicos exemplos da exacerbada faceta amorosa do com positor Apesar de não ser o responsável pela composição da trilha inteira, seu tema prin cipal para Perdidos na Noite (Midnight СошЬоу, 1969) tomou-se um sucesso popular no mundo todo. Nos anos 70, Barry experim entou alguns trabalhos de tendências vanguardistas, com arregim entações inusitadas, coros sem letra, percussões diferentes. Exemplo de uma trilha mais experimental é O Dia do G afanhoto (T h e Day o f the Locust, 1975), cuja partitura para cordas beira o bizarro. Neste filme, Barry chegou a contar que teve bastan te dificuldade para ensaiar a orquestra, tamanha a estranheza de sua composição. 62 Uma seleção de compositores Ainda nos anos 70, Barry compôs um score bastante criticado para o duvidoso remake de King Kong (1976), com Jessica Lange no papel da mocinha. As origens jazzisticas de John Barry reaparecem em Cotton Club (1984) e Corpos Ardentes (Body Heat, 1981), considerado um dos trabalhos mais sensuais do cinema, com arranjo de saxofone e orquestra muito adequados. Barry acertou na mistura entre o tom de sensualidade e suspense deste filme. A música encaixa-se per feitamente e em certos trechos parece dialogar com os persona- gens, tamanha sua sintonia com o contexto. Depois de seu quinto Oscar conquistado com a trilha de Dança com Lobos, Barry ainda compôs vários sucessos comer ciais como Proposta Indecente (Indecent Proposal, 1993), O Espe cialista (The Specialist, 1994), A Letra Escarlate (The Scarlet Letter, 1995), Código para о Inferno (Mercury Rising, 1998) e Enigma (2001), entre vários outros. Embora tenha circulado por uma grande área no campo dos estilos m usicais, Barry tem uma personalidade melódica inconfundível. A m aioria de seus temas clássicos, de Entre Dois Amores a A História de Elza; de Dança com Lobos а Proposta Indecente; de O Leão no Inverno а Perdidos na Noite, car regam sua m arca na m elodia simples, de escrita descompli- cada. Seus arranjos de cordas com notas longas e métrica quase elementar trazem em seus desenhos melódicos uma característi ca marcante do inglês John Barry. Faleceu em janeiro de 2011, deixando uma legião de fiéis apreciadores espalhados pelo mundo. Um grande nom e da m úsica de cinema que transcendeu épo cas e contribuiu profundamente com sua arte em uma vida de atividade criativa. Thomas Newman (1955-) Filho m ais novo do lendário Alfred Newman, Thomas Montgomery Newman nasceu em Los Angeles e tinha apenas 14 anos quando seu pai morreu. Nascido em uma família 63 A Música do Filme repleta de talentos ligados ao mundo da música, seu irmao mais velho, David Newman, também é compositor bastante conhecido em Hollywood, responsável por trabalhos de expressão, como as trilhas de Hoffa (1992), O Enigma do Colar (The Affair o f the Necklace, 2001) e os infantis Anastasia (1997) e A Era do Gelo (Ice Age, 2002). Thomas Newman é primo do igualmente conhecido Randy Newman, compositor de músi ca popular que se consagrou na criação de canções e scores para animações como Toy Story - Um Mundo de Aventuras (Toy Story, 1995), Vida de Inseto (A Bug's Life, 1998) e Monstros S.A. (Monsters, Inc., 2002), entre vários outros. Thomas Newman, a princípio, não queria seguir os passos do pai, trabalhando para a indústria do cinema, mas nunca abriu mão do interesse musical. Iniciou seus estudos de música na USC (University of South California), inclusive tendo aulas com o famoso m estre David Raksin, e terminou sua formação superior na Universidade de Yale. Durante seus estudos, Thomas passou a tocar teclado em bandas de pop e rock, e quando se formou, começou a compor música para teatro. Tinha trânsito livre na gravação de orquestras para filmes, já que seu tio Emil era chefe do departam ento de Música da Fox nessa época. Seu primeiro contato com trilha sonora de cine ma deu-se em 1993, quando foi chamado para orquestrar um pequeno trecho de uma composição de ninguém menos que John Williams, para o filme O Retorno de Jed i . Já no ano seguin te, foi convidado por um amigo para ajudar a compor e pro duzir a música do filme Jovens sem Rum o (Recklesst 1984), e acabou fazendo a trilha do filme inteiro. No início de seu tra balho no cinema, Thomas Newman criou seus primeiros tra balhos basicamente com intrumentos eletrônicos e samplers. Jovens sem Rumo e P ro cu ra -se S u sa n Desesperadamente (Desperately Seeking Susan, 1985), por exemplo, têm trilhas quase exclusivamente eletrônicas, com apenas alguns elementos acústicos fazendo solos. Seu trabalho criativo começou a tomar forma, e Thomas Newman foi ganhando mais expe riência em filmes como Os Garotos Perdidos (The Lost Boys, 1987), em que divide sua com posição orquestral com as can ções rock do restante da trilha sonora, e O Juízo Final (The 64 Uma seleção de compositores Rapture, 1991), considerado o score que realmente colocou o compositor no tim e dos m ais criativos músicos de cinema. Neste film e, teve a ch an ce de desenvolver um trabalho mais bizarro e experim ental. Trabalhou com os multi-instrumen- tistas Rick Cox e Chas Sm ith,que passaram a ser grandes parceiros criativos de Newman até hoje. Newman utilizou timbres experim entais, dissonâncias extremas, e escalas e harmonias atonais, sem pre dentro de um conceito dramático coerente. Sonoridades com o o rangido de uma porta, o som de violão raspado com m etais, e vidros e instrumentos exóticos como o Xaphoon (conhecido com o o saxofone étnico do Havaí), conferem um a textu ra peculiar à m úsica do filme e são exem plo do perfil inovador e criativo de Thomas Newman. A belís sima e sensível trilha de Tomates Verdes Fritos (Fried Green Tomatoes, 1991), а igualm ente bela Perfum e de Mulher (Scent of a W om an, 1992) e a clim ática O Jogador (The Player, 1992), selaram a reputação de Thom as Newman. Nesta última, para o inte ressante film e do diretor Robert Altman, Newman também teve a oportunidade de sair do lugar-comum, como na única sequência de sexo do filme, em que usa a percussão de manei ra muito interessante, descrevendo brilhantemente e intensa mente o desenrolar da cena. Em um único ano, Thomas Newman recebeu suas primeiras duas indicações ao Oscar de Melhor Trilha Sonora Ori ginal. Uma pelo belíssim o score de Um Sonho de Liberdade (The Shaiushank Redemption, 1994) e outra pela doce música de Adoráveis Mulheres (Little Women, 1994). Com а trilha de Meus Tios Heróis (Unstrung Heroes, 1995), Thomas ele recebeu sua terceira indicação ao Oscar. A característica mais marcante de seu perfil criativo, é que ele não considera a música mais importante do que o filme. A m úsica tem de funcionar a favor do filme, em função do filme. Esta abordagem conceituai da função da músi ca faz com que Newman tenha uma veia forte na criação de cli mas e atm osferas, m ais do que na concepção de melodias. Ao longo de suas criações nos anos 90, trilhas como a sensível Colcha de Retalhos (Нош to Make an American Quilt, 199S), íntimo e Pessoal (Up Close & Personal, 1996), Encontro Marcado (Meet Joe Black, 1998), O Encantador de Cavalos (The Horse Whisperer, 1998) e 65 Â Espera de um Milagre (The Green Mile, 1999) são exemplos bri lhantes deste tipo de concepção temática. Particularmente, nestes três últimos citados, Newman dá um show de sensibili dade, criando profundas texturas de intensa dramaticidade sem soar pesado e piegas. Independentemente do gênero da história e do estilo da orquestração (mais sinfônica tradicional ou mais eletrônica), Thomas Newman sempre se mostra um compositor original em busca de caminhos e sonoridades que contribuam com o espírito do filme. Talvez a consagração deste perfil tenha se dado com a excelente trilha de Beleza Americana (American Beauty, 1999) comentado com mais detalhes no capítulo seguinte. Sem dúvida esta trilha serviu de referência para várias outras trilhas, e lhe valeu sua quarta indicação ao Oscar. Depois deste blockbuster do diretor Sam Mendes, Newman ainda compôs vários trabalhos inte ressantes, dos quais se destacam Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento (Erin Brockovich, 2000), Entre Quatro Paredes (In the Bedroom, 2001), A Sombra de um Homem (The Salton Sea, 2002) e Estrada para a Perdição (Road to Perdition, 2002), um característico trabalho seu que lhe conferiu mais uma indicação ao Oscar de Melhor Score. Também para a televisão, Thomas Newman chegou a compor obras de grande valor musical, das quais se destacam a música da minissérie Angels in America (2003) e os temas do seriado A Sete Palmos (Six Feet Under), ambos exibidos no Brasil. Ele compôs uma música mais tradicional, mas não menos interessante, para a divertida anim ação Procurando Nemo (Finding Nemo, 2003). Nesta trilha, apesar de utilizar uma arregimentação orquestral convencional, é possível detectar traços das cadências harm ônicas preferidas de Newman, especialmente nas cenas m ais emocionais. Suas trilhas seguintes também são carregadas de sua personalida de e estilo: Desventuras em Série (Lemony Snicfeet's A Series о/ Unfortunate Events, 2004), uma com plexa com posição rebusca da, agitada e de pontuações grandiosas e precisas, A Luta pelfl ; Esperança (Cinderella Man, 2005), onde Newman vai do delicado ao grandioso sem perder 0 charme de suas harm onias nobres, e ainda Soldado Anônimo (Jarhead, 2005), talvez um a de suas A M úsica do Filme 6 6 Uma seleção de compositores mais ricas com posições em term os de variedades de instru mentos e sonoridades exóticas. Uma de suas trilhas mais clássicas foi composta para o filme 0 Segredo d e Berlim (The Good G erm an , 2006), uma verdadeira homenagem às trilhas grandiosas hollywoodianas, que lhe valeu mais uma indicação ao Oscar. Seus temas mais climáticos e delicados estão presentes nos dramas Pecados íntimos (Little Children, 2006), Tabu (Toweihead, 2007) e Foi Apenas Um Sonho (Revolutionary Road, 2008). Em 20 0 8 , obteve novamente uma dupla indicação ao Oscar, am bas pelo filme Wall-E, uma para a categoria de m úsica original e uma para a categoria de canção pela parceria com Peter Gabriel “Down to Earth”, tema do filme. Por seu espírito inovador e sua postura criativa, Thomas Newman é reconhecidam ente um grande nome da música do cinem a am ericano atual. John Williams chegou a afirmar que considera o m ais novo membro da família Newman um dos jovens m ais talentosos que estão surgindo, e que lhe parece um dos m ais im pressionantes compositores da nova geração. A con sistên cia de suas obras tem gerado uma massa de adm iradores fiéis e seu estilo peculiar tem sido referência para m uitas trilh as sonoras da atualidade. Hans Zimmer (1957-) N ascido em Fran k fu rt, A lem anha, Hans Zimmer começou a tocar piano logo aos três anos de idade, e aos seis anos sua fam ília tentou , sem sucesso, fazer o menino ter aulas. Zimmer só queria tocar suas próprias composições e não estudar m úsica de outros. Assim, durante a sua adoles cência e juventude, m orando em vários lugares diferentes na Europa, tocou em b an d as de rock e desprezou o estudo musical form al. Por su a p articu lar habilidade na operação de sintetizadores, acab o u arran jan d o emprego como “sinte- sista”, ou se ja , técn ico de program ação de sintetizadores. Nessa época, Zimmer tinha vinte e poucos anos e vivia na 67 A Música do Filme Inglaterra. Foi aí que se encontrou com o compositor Stanley Myers, bastante conhecido por sua trilha do premiado filme o Franco Atirador (The Deer Hunter, 1978), do diretor Michael Cimino Zimmer passou a trabalhar como assistente de Myers e durante algum tempo aprendeu muito sobre composição de música orquestral, enquanto desenvolvia seu know-how tecnológico. До3 poucos, Zimmer começou a auxiliar seu chefe de maneira mais intensa e logo, em 1982, passou a dividir a composição das trilhas com Stanley Myers. Nos anos seguintes, a dupla assinou várias trilhas até que, em 1988, Zimmer obteve sua primeira chance de compor uma trilha sozinho. Ele compôs uma bela música que mistura cantos e ritmos africanos a elementos eletrônicos desempenhando o papel da orquestra. Foi a trilha do premiado drama inglês Um Mundo à Parte (A World Apart, 1988), do diretor Chris Menges. A grande repercussão do filme no Festival de Cannes (onde ganhou o prêmio especial do júri) fez a trilha de Zimmer ser conhecida pela esposa do diretor Barry Levinson* Ela adorou a música de Zimmer, comprou o CD da trilha e o mos trou ao seu marido que, por sua vez, acabou convidando Hans Zimmer para compor a música de seu próximo filme. Era nada menos do que Rain Man (1988). Com o enorme sucesso do filme campeão de bilheteria daquele ano e com um tem a musical bas tante marcante, Hans Zimmer passou a ter projeção maior no cenário do cinema. Assim, no ano seguinte, Zimmer compôs a música de mais um grande sucesso de público, Conduzindo Miss Daisy (Driving Miss Daisy, 1989). Em am bos os trabalhos, Zimmer domina a técnica da composição que utiliza as novidades tecno lógicas da época como os sequencers e samplers. Embora