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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: PAULINA CHIZIANE – NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNICAMP 
Exasiu 
Exasiu 
EXTENSIVO 
Aula de Obras Literárias: Paulina Chiziane – 
Niketche: uma história de poligamia 
Análise de obra da leitura obrigatória: Paulina Chiziane – Niketche: uma história de poligamia. 
Resumo, análise, crítica, exercícios 
Professora Luana Signorelli 
t.me/CursosDesignTelegramhub
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: PAULINA CHIZIANE – NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 2 
Professora Luana Signorelli 
Sumário 
APRESENTAÇÃO 3 
1.0 LITERATURAS AFRICANAS EM LÍNGUA PORTUGUESA 4 
1.1. PAULINA CHIZIANE 14 
2.0 NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 15 
2.1. PRÉ-LEITURA 15 
2.2. RESUMO ANALÍTICO 18 
3.0 NIKETCHE E A INTERTEXTUALIDADE 39 
4.0 QUADRO SINÓPTICO 40 
5.0 GLOSSÁRIO 41 
6.0 QUESTÃO SEM COMENTÁRIOS 43 
6.1. GABARITO 51 
7.0 QUESTÕES COM COMENTÁRIOS 51 
8.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 63 
9.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 63 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Luana Signorelli @luanasignorelli1 
@profa.luana.signorelli Professora Luana 
Signorelli 
/luana.signorelli 
t.me/CursosDesignTelegramhub
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: PAULINA CHIZIANE – NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 3 
APRESENTAÇÃO 
 
Olá, alunos. 
O meu nome é Luana. Sou Mestra em Literatura e Práticas 
Sociais pela Universidade de Brasília (UnB) e Doutoranda em Teoria e 
História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 
já qualificada. Tenho 12 anos de experiência com revisão e 
padronização textual e 11 anos em curso pré-vestibular, tendo 
passado por instituições conhecidas e renomadas. 
Lembrem-se sempre de nosso lema: 
 
 
“O segredo do sucesso é a constância no objetivo”. 
Hoje vamos ter uma aula de Obras Literárias para UNICAMP 2023. Segundo o nosso cronograma, 
eis o que vamos estudar hoje: 
 
AULA TÓPICOS ABORDADOS 
AULA ÚNICA 
Título da aula: Paulina Chiziane – Niketche: uma história da poligamia. 
Descrição do conteúdo programático da aula: Análise de obra da leitura 
obrigatória: Paulina Chiziane – Niketche: uma história da poligamia. Resumo, 
análise, crítica, exercícios. 
 
Lembrando de alguns recados importantes: 
• O curso de Literatura é diferente do curso de Obras Literárias. No curso de Literatura, estudamos 
teoria e historiografia literária e no curso de Obras Literárias a lista obrigatória da instituição. 
• O curso contemplará TODAS as Obras Literárias! O curso de Obras Literárias costuma ser dividido 
entre a equipe e as obras são lançadas separadamente de acordo com cronogramas pessoais. 
• O curso de Obras Literárias do Extensivo e do Intensivo é IDÊNTICO, só muda o layout do PDF. 
• Como se trata de uma aula de análise de uma obra do repertório UNICAMP 2022, eu irei organizar 
a aula da seguinte maneira: 
➢ Pré-aula: contextualização e informações sobre a autora, Paulina Chiziane; 
➢ Análise: Niketche (resumo e análise) e Niketche e a intertextualidade; 
➢ Pós-aula: quadro sinóptico, questões atualizadas, sem e com comentários. O quadro 
sinóptico (sinopse: resumo) é um material de apoio que irá poder ajudá-los pouco antes 
da prova, por se tratar de conteúdos grandes com muita informação. 
Então, vamos lá, não percamos tempo! 
 
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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: PAULINA CHIZIANE – NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 4 
1.0 LITERATURAS AFRICANAS EM LÍNGUA PORTUGUESA 
 
 
Prezados alunos. Muito embora em alguns dos editais de suas bancas não 
esteja discriminado este conteúdo especificamente, vocês bem observaram ao 
longo de nossas aulas que procuramos ir além, para que vocês pudessem 
ampliar o seu repertório cultural. Mantemos essa promessa até o fim e agora 
não vai ser diferente. Essa seção é um complemento para que vocês conheçam 
outras literaturas de língua portuguesa, mas de outras nacionalidades. É de 
2003 a Lei no 10.639, que torna obrigatória a inclusão no currículo escolar do 
estudo da “História e Cultura Afro-Brasileira”, legitimando também o ensino 
das Literaturas Africanas. 
 
Conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa editado pelo próprio Senado Federal em 
2014, são estes os países falantes de Língua Portuguesa contemplados no tratado: 
 a República Popular de Angola, 
 a República Federativa do Brasil, 
 a República de Cabo Verde, 
 a República da Guiné-Bissau, 
 a República de Moçambique, 
 a República Portuguesa, 
 e a República Democrática de São Tomé e Príncipe. 
 
 Para fins práticos e de facilidade, vamos apenas resumir alguns autores e obras mais 
relevantes das seguintes nacionalidades: angolana e moçambicana. A lista não esgota o 
tema; precisamos fazer algumas seleções. Como são várias as nacionalidades e também 
porque são várias as tendências, já que compõem a Literatura Contemporânea, são 
tratadas como Literaturas Africanas (no plural). 
 
 
LITERATURA ANGOLANA 
Pepetela 
 
Agostinho Neto foi um dos maiores líderes do Movimento 
Popular pela Libertação da Angola (MPLA) em ocasião da luta pela 
Independência e o primeiro presidente da República de Angola. Chegou 
a ler Mayombe pessoalmente. 
Já Pepetela é um pseudônimo (nome falso) para Artur Carlos 
Maurício Pestana dos Santos. O escritor está vivo e esteve presente na 
Universidade de São Paulo (USP) no dia 16 de outubro de 2019 para uma 
conversa com o autor e a celebração da palestra: “Áfricas em trânsito”. 
Exemplo não só de intelectual, mas de militante ativo e daquele que põe 
suas ideias em prática. 
 
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 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: PAULINA CHIZIANE – NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 5 
 
Mayombe (1979) 
CATEGORIA DEFINIÇÃO 
ESTRUTURA 7 capítulos com narrador em 3ª pessoa; narrativas paralelas dos próprios guerrilheiros, 
com narradores em 1ª pessoa, designadas por títulos como: “Eu, o narrador, sou Teoria”. 
Trata-se de relatos dentro do relato. 
PERSONAGENS 
 
 
Teoria, o professor; Comandante Sem Medo; Comissário; Chefe de Operações; Ondina, 
André e outros guerrilheiros como Mundo Novo, Lutamos, Milagre, Pagu-A-Kitina 
(enfermeiro) etc. 
TEMPO Anos de 1970. 
ESPAÇO Angola e Congo (grande parte da narrativa se passa numa cidade chamada Dolisie, que 
se localiza em Angola). 
CONFLITO Um grupo de guerrilheiros do Movimento Popular de Libertação da Angola (MPLA) se 
embrenham na mata do Mayombe para formar sua base tática contra o inimigo 
português. Cada um tem sua própria história de vida e sua individualidade, mas todos 
têm um elemento que os une: a solidão. 
CLÍMAX Com a História como plano de fundo, histórias nos níveis pessoais de desenvolvem, como 
a do triângulo amoroso entre o Comissário (João); o Comandante Sem Medo e Ondina. 
Ondina sente ternura por João, mas não se sente atraída sexualmente por ele. Eles estão 
noivos, mas a relação desanda, pois Ondina procura satisfação em outros homens. Um 
desses homens é o Comandante, amigo do Comissário. A relação é complexa e por causa 
da guerra ninguém pode se manter juntos. 
DESFECHO Sem Medo cresce politicamente. É intuitivo e muito respeitado pelos colegas. Passa a ser 
quadro político e a comandar a Revolução da cidade de Dolisie, até que o combate direto 
o chama para retornar ao Mayombe. Num episódio de ocupação de Pau Caído, uma base 
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 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: PAULINA CHIZIANE – NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 6 
portuguesa, ele é atingido na barriga; morre e é sepultado na floresta, onde seu corpo e 
alma se tornam parte daquele ecossistema. O final da sua morte é narrada pelo últimorelato – do Comissário Político – que inferimos ser João, o ex-Comissário, que ascendeu 
de cargo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRECHO DE “MAYOMBE” 
 “O Mayombe tinha aceitado os golpes dos 
machados, que nele abriram uma clareira. 
Clareira invisível do alto, dos aviões que 
esquadrinhavam a mata, tentando localizar nela 
a presença dos guerrilheiros. As casas tinham 
sido levantadas nessa clareira e as árvores, 
alegremente, formaram uma abóbada de ramos 
e folhas para as encobrir. Os paus serviram para 
as paredes. O capim do teto foi transportado de 
longe, de perto do Lombe. Um montículo foi 
lateralmente escavado e tornou-se forno para o 
pão. Os paus mortos das paredes criaram raízes 
e agarraram-se à terra e as cabanas tornaram-se 
fortalezas. E os homens, vestidos de verde, 
tornaram-se verdes como as folhas e castanhos como os troncos colossais. A folhagem da abóbada 
não deixava penetrar o Sol e o capim não cresceu em baixo, no terreiro limpo que ligava as casas. 
Ligava, não: separava com amarelo, pois a ligação era feita pelo verde. 
 Assim foi parida pelo Mayombe a base guerrilheira.” (PEPETELA, 2018, p. 67). 
 
Comentários 
 Mayombe é uma floresta de clima tropical assim como a Floresta Amazônica. Ela é um ecossistema 
que que passa por Angola, Congo e Gabão. Além de elemento natural, símbolo de orgulho nacional, 
no romance ela apreende uma importante função social: abrigo e proteção para os guerrilheiros que 
estavam lutando pela independência de Angola. O trecho acima a descrição de como era o lugar de 
reunião onde os guerrilheiros planejavam suas táticas e onde eles praticamente moravam dentro da 
floresta. Conhecemos um hábito dos guerrilheiros: vestir-se de verde para se camuflarem na floresta. 
Em suma, tornar-se floresta, na essência e na aparência. Voltando à Base, os guerrilheiros se veem 
com mais um problema: a falta de comida. Eles estão se alimentando apenas do que chamam de 
“comunas”, amêndoas secas de onde tiravam os principais nutrientes: óleo vegetal e proteína. 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: PAULINA CHIZIANE – NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 7 
 
 
 
Luandino 
 José Luandino Vieira (1935-...) é o pseudônimo de José Vieira Mateus da 
Graça. Na verdade, tem dupla nacionalidade: portuguesa e angolana. Foi com 
os pais para Angola com 3 anos de idade. Participou do combate do MPLA e 
chegou a ser detido pela Pide (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), 
que era a polícia política portuguesa entre 1945 e 1969. Fez algumas 
contribuições jornalísticas. Suas principais obras são: 
  Luuanda (1963) – contos 
  Vidas novas (1968) – contos 
  Macandumba (1978) – contos 
  Nosso Musseque (2003) – romance 
  O livro dos rios (2006) – romance 
 
 
 
 
TRECHO DE “LUAANDA” 
 Falava verdade como todas as vizinhas viram bem, uma gorda galinha de pequenas penas brancas 
e pretas, mirando toda a gente, desconfiada, debaixo do cesto ao contrário onde estava presa. Era essa 
a razão dos insultos que nga Zefa tinha posto com Bina, chamando-lhe ladrona, feiticeira, queria lhe 
roubar ainda a galinha e mesmo que a barriga da vizinha já se via, com o mona lá dentro, adiantaram 
pelejar. 
 Miúdo Xico é que descobriu, andava na brincadeira com Beto, seu mais novo, fazendo essas 
partidas vavô Petelu tinha-lhes ensinado, de imitar as falas dos animais e baralhar-lhes e quando 
vieram no quintal de mamã Bina pararam admirados. A senhora não tinha criação, como é ouvia-se a 
voz dela, pi, pi, pi, chamar galinha, o barulho do milho a cair no chão varrido? Mas Beto lembrou os 
casos já antigos, as palavras da mãe queixando no pai quando, sete horas, estava voltar do serviço: 
 — Rebento-lhe as fuças, João! Está ensinar a galinha a pôr lá! 
 Miguel João desculpava sempre, dizia a senhora andava assim de barriga, você sabe, às vezes é só 
essas manias as mulheres têm, não adianta fazer confusão, se a galinha volta sempre na nossa capoeira 
e os ovos você é que apanha... Mas nga Zefa não ficava satisfeita. Arreganhava que o homem era um 
mole e jurava se a atrevida tocava na galinha ia passar luta. 
VIEIRA, José Luandino. História da galinha e do ovo. In: Luuanda. 
Alfragide (Portugal): Editorial Caminho, 2019. 
Comentários 
 A prosopopeia é um recurso expressivo que ocorre quando se atribuem características humanas a 
seres inanimados ou irracionais. No trecho acima, ela se “uma gorda galinha de pequenas penas 
brancas e pretas, mirando toda a gente, desconfiada”. Desconfiar é uma ação humana e não do animal. 
Ela é descrita assim porque era como se parecia. Para as Literaturas Africanas no geral, os animais são 
importantes personagens, por causa de suas crenças no totemismo e na ancestralidade. 
 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: PAULINA CHIZIANE – NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 8 
Fonte: Pixabay. 
Bioma da savana, representado 
pela acácia. 
Uanhenga Xitu 
 
 
 Uanhenga Xitu é o nome Kinbundu de Agostinho André Mendes 
de Carvalho (1924-2014). É um escritor angolano que ganhou o Prêmio 
de Cultura e Artes 2006. Além de ser enfermeiro, exerceu cargos 
políticos. Suas principais obras são: 
 Maka na Sanzala (1979) 
 Vozes na Sanzala (Kahitu) (1976) 
 Os Sobreviventes da Máquina Colonial Depõem (1980) 
 O Ministro (1989) 
 Meu Discurso (1974) 
 
 
POEMA DE UANHENGA XITU 
Imagem de Retorno 
Quando me debruçava sobre ela 
o pensamento voltava sempre à infância 
e andava nas nascentes de Kasady 
de Nzele 
da Menya-a-Mongwa 
sombreadas de compacto 
e verdejante mangal 
e palmar, 
pulava valas secas 
e outras cheias de água; 
 
 passeava nas margens do Kwanza e Bengu 
ali nas senzalas de Madimu 
de Caju, Jinganga, Kasenda, Kilende, 
Kinzenza, Ngala, Kabiri, Mbanza Kitel e Funda 
nas noites de luar-prata 
brincava, cantava 
batia palmas com Kisanda 
Mixinji, Tonya, Kyamuxinda, Mabunda, Kudijimbe, Keza 
 
 ia nos laços de pássaros e esquilos 
aos cajueiros e mangueiras alheias 
Uanhenga Xitu – Poesias. 
Disponível em: https://tinyurl.com/ybj72wcd. Acesso em: 12 jun. 2020. 
 
Comentários 
 Para o eu lírico, o mais importante de sua infância está atrelado à paisagem e à musicalidade. O 
que pode ser inferido a partir da alusão a vários lugares e também no verso “brincava, cantava /batia 
palmas com Kisanda”. Como é um poema memorialístico em que se evocam lembranças de infância, 
o sentido do termo é positivo. Segundo o Dicionário Houaiss, “senzala” pode significar apenas 
povoação. Aqui, a intenção do eu lírico é se ligar a animais tanto terrestres (esquilo) quanto aéreos 
(pássaro). O pássaro é uma figura simboliza liberdade. Por fim, em um dos versos o eu lírico descreve 
que algumas valas eram cheias d’água, mas que outras eram vazias. 
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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: PAULINA CHIZIANE – NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 9 
 
Agualusa 
José Eduardo Agualusa (1960-...) é um escritor angolano, mas com 
ascendência portuguesa e brasileira. É jornalista e editor, além de escritor. 
Estudou Agronomia na Universidade Técnica de Lisboa. Escreve crônicas 
jornalísticas inclusive para o jornal brasileiro O Globo. Suas obras principais 
são as seguintes: 
 Um estranho em Goa (2000) – romance 
 O homem que parecia um domingo (2002) – contos 
 O vendedor de passados (2004) – romance 
 As mulheres de meu pai (2007) – romance 
  A sociedade dos sonhadores involuntários (2017) – romance 
  O paraíso e outros infernos (2018) – crônicas 
 
 
TRECHO DE “O VENDEDOR DE PASSADOS” 
 Estava à espera daquilo. Se conseguisse falar teria sido rude. O meu aparelho vocal, porém, apenas 
me permite rir. Assim, tentei atirar-lhe à cara uma gargalhada feroz, algum som capaz de o assustar, 
de o afastardali, mas consegui apenas um frouxo gargarejo. Até à semana passada o albino sempre 
me ignorou. Desde essa altura, depois de me ter ouvido rir, chega mais cedo. Vai à cozinha, retorna 
com um copo de sumo de papaia, senta-se no sofá, e partilha comigo a festa do poente. Conversamos. 
Ou melhor, ele fala, e eu escuto. Às vezes rio-me e isso basta-lhe. Já nos liga, suspeito, um fio de 
amizade. Nas noites de sábado, não em todas, o albino chega com uma rapariga pela mão. São moças 
esguias, altas e elásticas, de finas pernas de garça. Algumas entram a medo, sentam-se na extremidade 
das cadeiras, evitando encará-lo, incapazes de disfarçar a repulsa. Bebem um refrigerante, golo a golo, 
e a seguir despem-se em silêncio, esperam-no estendidas de costas, os braços cruzados sobre os seios. 
Outras, mais afoitas, aventuram-se sozinhas pela casa, avaliando o brilho das pratas, a nobreza dos 
móveis, mas depressa regressam à sala, assustadas com as pilhas de livros nos quartos e nos 
corredores, e sobretudo com o olhar severo dos cavalheiros de chapéu alto e monóculo, o olhar 
trocista das bessanganas de Luanda e de Benguela, o olhar pasmado dos oficiais da marinha 
portuguesa nos seus uniformes de gala, o olhar alucinado de um príncipe congolês do século XIX, o 
olhar desafiador de um famoso escritor negro norte-americano, todos posando para a eternidade 
entre molduras douradas. Procuram nas estantes algum disco. 
AGUALUSA, José Eduardo. O vendedor de passados. 2. ed. Rio de Janeiro: Gryphus, 2011. 
 
Comentários 
 Há uma mudança de comportamento do albino para com a personagem: até semana passada, a 
personagem foi ignorada, mas depois disso, o albino passou a dividir com ela refeições e também 
conversa. Há uma linguagem não verbal entendida entre a personagem narradora e o albino. No caso, 
o sorriso, o que se verifica em: “Às vezes rio-me e isso basta-lhe. Já nos liga, suspeito, um fio de 
amizade.” Por fim, as mulheres com quem o homem albino se relaciona parecem não gostar de cultura. 
Infere-se que são prostitutas. Umas se acanham e outras até adentram a casa, mas se assustam com 
livros e representações de personagens históricas ou escritores. 
 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: PAULINA CHIZIANE – NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 10 
LITERATURA MOÇAMBICANA 
 
Mia Couto 
 
 Mia Couto é um pseudônimo de António Emílio Leite Couto (1955-
...). Além de escritor, sua formação profissional é a de biólogo. Como 
biólogo, dirige a Impacto Ambiental. Já pré-adolescente publica seus 
primeiros poemas em jornais. Trabalhou na Tribuna e foi nomeado diretor 
da Agência de Informação de Moçambique (AIM). Também lutou pela 
guerra de libertação do seu país. Em 2013, ganha o Prêmio Camões. É 
muito produtivo e um dos escritores moçambicanos mais traduzidos. Suas 
principais obras são: 
  Terra sonâmbula (1992) 
  Contos do nascer da terra (2002) 
  Cada homem é uma raça (2005) 
  E se Obama fosse africano? (2009) 
  Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra (2002). 
 
Terra sonâmbula (1992) 
CATEGORIA DEFINIÇÃO 
ESTRUTURA O livro se estrutura em 11 capítulos, cada um para o qual existe um Caderno de Kindzu 
correspondente. 
PERSONAGENS Muidinga, Tuahir, Siqueleto, Kindzu, Taímo, Junhito, Farida, Tia Euzinha. 
TEMPO A Guerra de Independência de Moçambique durou de 25 de setembro de 1964 a 8 de 
setembro de 1974. O Dia de Declaração de Independência foi 25 de junho de 1975. Essa 
data é tão significativa no romance que um personagem leva seu nome: “– Esta criança 
há-de ser chamada de Vinticinco de Junho”. 
ESPAÇO Moçambique. 
ENREDO Muidinga é um menino que sofreu amnésia, mas conta com a ajuda de Tuahir, um sábio 
que tenta ajudá-lo no resgate de suas memórias. Os dois vivenciam os conflitos civis 
pelos quais Moçambique estava passando na época. Nesse cenário apocalíptico, 
encontram um ônibus abandonado e, junto a um cadáver, um diário intitulado de 
Cadernos de Kindzu. Então, começa-se uma narração paralela: o pai desse menino era 
alcoólatra e sonâmbulo. Lembrando que o sonambulismo na obra não figura só no 
sentido literal, como também no metafórico, pois o país passava por uma espécie de 
letargia e inércia que se assemelhava ao sonambulismo. Kindzu também relata a sua 
relação com Farida e o início da guerra, assim servindo o seu diário também como 
documento de registro histórico. 
CLÍMAX Muidinga e Tuahir moram no ônibus por um tempo, após enterrarem o corpo. Isso até 
caírem em uma armadilha e serem presos por Siqueleto, mas são soltos. 
DESFECHO Da relação de Kindzu e Farida nasce Gaspar. No último caderno de Kindzu, narra-se uma 
situação em que ele vê um garoto em um ônibus abandonado lendo seu diário. Revela-
se a identidade: Muidinga pode ser Gaspar, o garoto que sofreu amnésia. Ele estava 
lendo o diário do pai o tempo inteiro e não sabia. Logo, o diário é uma importante fonte 
de reconstrução do passado: não só histórico, como também pessoa. 
 
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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: PAULINA CHIZIANE – NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 11 
Fonte: Pixabay. 
 
 
POEMA DE MIA COUTO 
Lembrança alada 
Em alguma vida fui ave. 
 
Guardo memória 
de paisagens espraiadas 
e de escarpas em voo rasante. 
 
E sinto em meus pés 
o consolo de um pouso soberano 
na mais alta copa da floresta. 
 
Liga-me à terra 
uma nuvem e seu desleixo de brancura. 
 
Vivo a golpes 
com coração de asa 
e tombo como um relâmpago 
faminto de terra. 
 
Guardo a pluma 
que resta dentro do peito 
como um homem guarda o seu nome 
no travesseiro do tempo. 
 
Em alguma ave fui vida. 
Mia Couto, em "Idades cidades divindades". Lisboa: Editorial Caminho, 2007. 
Disponível em: https://tinyurl.com/y8nfgqu7. Acesso em: 17 de abril de 2020. 
 
Comentários 
 No primeiro verso, há a lembrança; no segundo, a ave. O primeiro é um substantivo abstrato e o 
segundo, concreto. Um dos jogos que estabelece o eu lírico é justamente esse: entre o abstrato e o 
material. No verso “e tombo como um relâmpago”, há a presença da figura de linguagem da 
comparação por meio do conectivo. O conectivo “como” opera a equiparação. A memória é um 
receptáculo natural do qual o homem pode se alimentar para suprir necessidades. A memória é um 
travesseiro no tempo; o homem pode dormir como pode se lembrar. Na verdade, ela é um de seus 
principais temas, tanto na poesia quanto no romances. Por fim, o paralelo entre “Em alguma vida fui 
ave” e “Em alguma ave fui vida” cria um jogo semântico que contribui para a fluidez. Essa 
expressividade é construída por meio do jogo imagético entre lembrança e pássaro, como se ambos 
fossem algo em movimento. 
 
 
 
 
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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: PAULINA CHIZIANE – NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 12 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(Questão Autoral – 2021 – Professora Luana Signorelli) 
 
Leve em consideração os excertos abaixo para responder à questão. 
 
TEXTO I 
 "A guerra crescia e tirava dali a maior parte dos habitantes. Mesmo na vila, sede do distrito, as 
casas de cimento estavam agora vazias. As paredes, cheias de buracos de balas, semelhavam a pele de 
um leproso. Os bandos disparavam contra as casas como se elas lhes trouxessem raiva. Quem sabe 
alvejassem não as casas mas o tempo, esse tempo que trouxera o cimento e as residências que 
duravam mais que a vida dos homens. Nas ruas cresciam arbustos, pelas janelas espreitavam capins. 
Parecia o mato vinha agora buscar terrenos de que tinha sido exclusivo dono. Sempre me tinham dito 
que a vila estava de pé por licença de poderes antigos, poderes vindos do longe. Quem constrói a casa 
não é quem a ergueu mas quem nela mora. E agora, sem residentes, as casas de cimento apodreciam 
como a carcaça que se tira a um animal." 
COUTO,Mia. Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2016 (p. 23). 
 
 
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TEXTO II 
Quais são as raízes que prendem, que ramos estendem 
Desse entulho de pedras? Filho do homem, 
Não podes dizer, suspeitar, já que conheces só 
Uma pilha de imagens partidas, em que bate o sol, 
E o tronco morto não te abriga, o grilo não mitiga, 
E a pedra seca não ressoa a água. Só 
Que há sombra sob esta pedra rubra, 
(Vem ficar sob a sombra desta pedra rubra), 
E vou te mostrar coisas diversa tanto (...). 
ELIOT, T. S. Terra devastada. In: Poemas. Trad. Caetano W. Galindo. 
São Paulo: Companhia das Letras, 2018 (p. 113). 
 
A partir da leitura comparativa dos textos acima, assinale a alternativa correta. 
a) É comum a formação de forças de guerrilhas para combater o opressor: os moradores abandonam 
a vila para formar a FRELIMO e a pedra rubra representa a coletividade. 
b) A fantasmagoria é a temática modernista predominante, pois no primeiro texto a cidade torna-se 
fantasma por medo dos naparamas e no segundo pelo ceticismo quanto à ancestralidade. 
c) Embora sejam textos de gêneros diferentes, o primeiro épico e o segundo lírico, são manifestações 
de uma literatura nativista. 
d) É importante no movimento modernista a relação do ser humano com a terra, que deixa de ser um 
vínculo natural e corre o risco de perder sua essência. 
e) O eixo fundamental de abordagem é a crítica histórica: a resistência da vila significa a cor vermelha 
na bandeira de Moçambique e o tronco morto a aridez do sertão. 
 
Comentários 
 Questão de interpretação de texto literário e literatura comparada. 
 Alternativa A: incorreta. FRELIMO era a Frente de Libertação de Moçambique. Cuidado com 
informações extratextuais: os moradores abandonam as vilas pelos mais variados motivos, medo, 
necessidade etc. Já no poema do Eliot não há coletividade formada: a terra é devastada. 
 Alternativa B: incorreta. A fantasmagoria é uma das temáticas modernistas. Como na alternativa 
anterior, houve várias motivações da saída dos moradores da vila. Os naparamas eram considerados 
guerreiros sagrados. Kindzu sai da sua vila a princípio com o intuito de encontrá-los. No segundo 
poema, há sim um questionamento quanto às raízes. 
 Alternativa C: incorreta. O nativismo é uma tendência que valoriza a natureza, o que não ocorre 
em nenhum dos textos. 
 Alternativa D: correta – gabarito. Com o urbanismo, a mecanização e outras ameaças como a 
guerra, o ser humano corre o risco de perder a consciência de que é um ser natural. 
 Alternativa E: incorreta. A cor vermelha na bandeira de Moçambique representa a resistência 
secular ao colonialismo, a luta armada de libertação nacional e a defesa da soberania, segundo o Portal 
do Governo Moçambicano. Tampouco o segundo poema representa o sertão, pois Eliot é um escritor 
estadunidense. 
Gabarito: D. 
 
 
 
 
 
 
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O romance Niketche – uma História de Poligamia (2001) conta a história 
do casal Rami e Tony, alto funcionário do governo. Um dia, a mulher Rami 
descobre que o marido é polígamo. Ela decide ir atrás de suas quatro mulheres. 
A primeira delas é Juliana. O primeiro encontro com ela é muito agressivo, acaba 
em briga. Porém, um certo dia Rami passa por um processo de epifania 
(revelação) e descobre que a outra mulher, enquanto fonte e símbolo do sagrado 
feminino, é tão poderosa quanto ela, vítimas do mesmo homem. 
1.1 PAULINA CHIZIANE 
 
 Paulina Chiziane (1955-...) é uma escritora moçambicana. 
Nasceu numa família protestante, mas aprende a Língua Portuguesa 
numa escola católica. Estudou Linguística na Universidade Eduardo 
Mondlane, mas não concluiu o curso. Foi militante política pela Frente 
de Libertação de Moçambique (Frelimo). É a primeira mulher que 
publicou um romance em Moçambique. Suas principais obras são: 
  Balada do amor ao vento (1980) 
  Ventos do apocalipse (1993) 
  Niketche: Uma História de Poligamia (2002) 
  Na mão de Deus (2013) 
  O Canto dos Escravizados (2017). 
 
Mulher é terra. Sem semear, sem regar, nada produz (Provérbio zambeziano) 
Epígrafe da obra “Niketche: Uma História de Poligamia”. 
 – Foi a manga, mãe. 
 – Manga? 
 – Sim, aquela madura, lá no alto. 
 Levanto os olhos para a mangueira. A manga baloiça serena na brisa. É uma manga apetecível, sim 
senhor. Redonda. Jovem. E o Betinho queria interromper-lhe o voo na flor da vida, muito verde, ainda. 
 – Ah, Betinho, o que fizeste de mim? 
 – Castiga-me, mãe. 
 A voz de Betinho baloiça nos meus ouvidos como o sibilar doce dos pinheiros e dilui a minha raiva 
em piedade. Lindo filho, este meu. No lugar de perdão pede um castigo. Homem justo, tenho eu aqui. 
Fico enternecida. Encantada. A zanga se desfaz. Sinto orgulho de mãe. 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. 
São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 10). 
 
Comentários 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Nessa passagem em particular, no início do livro, Rami se identifica com uma mãe #coruja, pois 
tenta projetar no filho, que é menino, a raiva que sente pelo pai (o homem), mas não consegue. Em 
vez de dar uma bronca, tudo o que consegue fazer é sentir orgulho dele. 
 
 
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3.0 NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 
 
3.1 PRÉ-LEITURA 
 
Prezados alunos, elenquei abaixo alguns tópicos importantes para adentrarmos na leitura do 
romance. Vamos lá!? 
 
• LUGAR DE FALA. “Niketche” é um romance moçambicano contemporâneo com uma narradora 
em primeira pessoa do singular, levemente não confiável. Levemente porque narra tudo com tanta 
crueza, de maneira tão visceral, que uma grande parcela de seus leitores é levada a acreditar em 
tudo que ela fala. Porém, devemos sempre nos lembrar, do início ao fim do romance, que se trata 
da narrativa de uma experiência pessoal, marcada pela dor. Portanto, pode haver certos exageros 
em alguns dos relatos, e o leitor nunca vai saber onde. Trata-se de um dos jogos. Em todo caso, 
marca a representatividade de uma mulher preta, moçambicana, administrando uma família 
polígama que, depois e um mal-entendido quanto à morte do marido, pratica levirato com o irmão 
dele, engravidando do irmão. Ou seja, consiste em um itinerário extraordinário, que se destaca 
pelo enfrentamento de tabus e também violências, tanto psicológicas quanto domésticas. 
 
• LITERATURA E CULTURA. Um dos ramos dos estudos literários na contemporaneidade é a 
associação da área do conhecimento à respectiva cultura de certa região. Já que a autora 
participou nas lutas da FRELIMO em sua juventude, ela está diretamente ligada à cultura e História 
de seu país. Alguns dados sobre Moçambique: é um país banhado pelo Oceano Índico, o que 
permitiu o contato de vários povos e culturas, o que no romance se verifica como uma diferença 
cultural dentro do mesmo país, mesmo de Norte a Sul. Confiram abaixo e sua bandeira, com a 
respectiva explicação das cores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://tinyurl.com/5bdpnfrn 
Acesso em: 15 ago. 2021. 
Vermelha – a luta de resistência ao colonialismo, a 
Luta Armada de Libertação Nacional e a defesa da 
soberania; 
Preta – o continente africano; 
Verde – a riqueza do solo; 
Amarela-dourada – a riqueza do subsolo; e 
Branca – a paz. 
Fonte: Wikipedia. Disponível em: 
https://tinyurl.com/x83hkr4s. 
Acesso em: 22 set. 2021. 
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 A GUERRILHA DA FRELIMO 
 Eduardo Mondlane, que foi professor universitário nos Estados Unidos (e casado com uma norte-
americana), e posteriormente funcionário das Nações Unidas, acabou se tornando o principal dirigente 
e mentor da Frelimo, fundada em 25 de junho de 1962, como resultado da unificação de três 
movimentos nacionalistas: Udenamo, Umami e Unam. Em seu primeiro congresso, a Frelimo definiu 
uma plataforma capaz de unir todos os patriotas moçambicanos, fixou como objetivo central a 
libertação nacional e determinou a estratégia e a tática para atingir esses objetivos. Definiu ainda o 
papel fundamental da umidade no processo de libertação nacional, pois a divisão era a causa maior do 
fracasso da resistência histórica ao colonialismo (Frelimo, 1977, p. 24). 
 A Frelimo lançou a luta armada em Moçambique em 1964, mas Eduardo Mondlane foi 
assassinado, em 1969, por agentes da PIDE - a polícia política portuguesa. Para o seu posto como novo 
dirigente da Frelimo foi nomeado Samora Machel, o qual viria a conduzir com sucesso a luta armada 
em Moçambique, tornando-se seu presidente depois do país ter-se tornado independente de Portugal, 
em 1975. Machel era considerado mais "radical" que Mondlane e representava a ala militar da Frelimo. 
O movimento de libertação nacional em Moçambique elaborou um discurso e uma estratégia contra 
o colonialismo português dentro de um modelo bem particular de luta: incorporaram questões 
específicas da identidade africana, aliado a um discurso enquadrado aos paradigmas marxistas. 
 Os primeiros combatentes moçambicanos foram treinados na Argélia, ao norte da África, onde 
tiveram suporte militar e ficaram mais próximos ideologicamente de outros países que alcançaram a 
sua independência pela via armada. O início das operações da Frelimo ocorreu no dia 25 de setembro 
de 1964, com o ataque a vários pontos administrativos e militares na província setentrional de Cabo 
Delgado. Os combatentes, após o treinamento na Argélia, mantinham uma retaguarda estratégica na 
Tanzânia, que servia como base e posto de treinamento, que denominavam Centro de Formação do 
Homem Novo (Pachinuapa, 2005, p. 12). 
 (...) Diferentemente de Portugal, que possuía um exército regular, a Frelimo contava com exército 
não convencional e desenvolvia táticas de guerrilha - atacava o inimigo e depois recuava, pois mantinha 
um santuário estratégico protegido na Tanzânia. A Frelimo contava ainda com um fator diferenciado, 
o tempo. Portugal precisava do sucesso imediato em sua ofensiva, ao passo que Frelimo se utilizava 
do conhecimento da região e da identidade com a população para fomentar ainda mais o sentimento 
de nacionalidade e, com isso, adensar o seu exército guerrilheiro. Dessa forma, o tempo contava a 
favor da guerrilha. (...) 
 Fruto da união de grupos menores, a Frelimo enfrentou problemas de coesão logo após sua 
criação. Os desentendimentos levaram, inclusive, a confrontos violentos entre membros do grupo, até 
que uma reestruturação, realizada em 1969, veio colocar fim às dissidências. Assim emergiu e se 
consolidou a liderança de Samora Machel, que conseguiu manter o movimento unido com o apoio de 
membros provenientes do sul de Moçambique e de uma rede internacional que reconhecia a 
legitimidade do partido. As disputas internas, anteriormente, também haviam prejudicado as 
atividades do grupo, uma vez que suas ações ficaram restritas ao norte e ao Lago Niassa, não atingindo 
o Zambezi e as cidades costeiras. 
 Com a reestruturação do partido, a Frelimo conseguiu obrigar Portugal a adotar estratégias 
defensivas contra a guerrilha e, ainda que essas medidas não tenham ajudado os portugueses a ganhar 
a guerra, elas contribuíram para criar uma oposição à frente de libertação, algo que teria impacto no 
período pós-independência (...) 
 Os portugueses procuraram se apoiar nas lideranças tribais tradicionais, as quais eram destituídas 
pela Frelimo nos territórios liberados. Por outro lado, como forma de criar uma economia mais 
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A motivação da própria UNICAMP ter escolhido essa obra talvez 
possa ter sido pelo fato de que ela é representante no estudo das 
literaturas africanas em língua portuguesa. Confiram alguns grupos: 
GELCA (Grupo de Estudos em Literaturas e Culturas Africanas) da 
UNICAMP; Grupo de Pesquisa Mayombe sobre Literaturas Africanas 
e Afrodescendentes da UnB e Literaturas Africanas em Língua 
Portuguesa é uma área da pesquisa na USP também. 
 
 
 
desenvolvida, esvaziando o ímpeto da guerrilha e criando um polo próspero no centro do país que os 
barrasse, os portugueses iniciaram a construção da hidroelétrica de Cabora-Bassa no Rio Zambeze. A 
energia seria vendida, principalmente, à África do Sul. Para evitar que a guerrilha atacasse o canteiro 
de obras, grandes contingentes foram imobilizados na região, criando um corredor pouco guarnecido, 
o qual permitiu à guerrilha infiltrar-se no sul; ocorre, porém, que Frelimo não desejava atacar uma 
obra que seria vital para a economia após a independência. 
Fonte: VISENTINI, 2012, p. 91-95. 
 
• PROSA POÉTICA. “Niketche” é um romance de matriz africana, o que deve ser sempre 
compreendido que parte da tradição oral, muito mais do que a escrita. Quando é transposto para 
o plano escrito, transforma-se numa bela mistura de estilos que coincide no gênero híbrido da 
prosa poética. Entre essas formas híbridas, a narração pode assumir o caráter de carta, oração, 
discurso político, entre outros. 
 
 PROSA POÉTICA 
A poesia pode estar contida numa linguagem versificada ou em prosa. Quando ocorre a segunda 
possibilidade, dá-se o poema em prosa ou prosa poética. De um modo geral, haverá prosa poética 
quando existem as seguintes características: 
*conteúdo lírico emotivo; 
*recriação lírica da realidade; 
*utilização artística do poético; 
*linguagem conotativa, (...) “carga lírica”, devido à capacidade dela mesma de criar ideias, visões, 
imagens, por meio de imitações sonoras, melódicas e rítmicas. 
Fonte: TAVARES, 2002, p. 162. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quadro de personagens 
 
Rosa Maria (Rami) 
Narradora protagonista, que opera uma trajetória ao longo do livro, como se 
fosse um Bildungsroman (romance de formação alemão). Ela passa por uma 
transformação, primeiro enfrentando um conflito em que se opõe contra o 
mundo e suas instituições sociais pré-estabelecidas, como, por exemplo, a 
religião, e depois passa por um processo de libertação, ganhando mais 
autonomia até o fim do livro. Trata-se de uma jornada de autoconhecimento. 
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A denúncia de seus problemas no romance evidenciam a questão de gênero e 
as desigualdades sociais, mesmo em uma sociedade tradicional. 
Tony 
Marido de Rami. É um homem com cargo importância na política, que se vale 
de todo seu poder patriarcal para se autoafirmar. Tem uma grande família com 
várias irmãs, é apoiado pela mãe e respeitado por todos, o que demonstra a 
margem tênue daquilo que é humilhação para a mulher, mas pompa e 
imponência para ele. Não se omite ao agredir as mulheres, a ponto de provocar 
aborto nelas, mas no fim do romance se mostra arrependido e em crise. 
Julieta (Ju) 
Primeira amante de Tony de que Rami tem notícia. Vai atrás dela para tirar 
satisfação, as duas acabam brigando entre si e a partir dessa são presas. 
Luísa (Lu) 
Outra amante de Tony. Ela e a Ju acabam por se tornar as melhores amigas de 
Rami no fim da história, de quem ela se sentia mais próxima. Rami inclusive 
convence Luísa a abandonar um passado de incerteza para se casar com Vito.Vito 
Amante de Luísa que depois de Rami. Luísa se compadece de Rami não ser uma 
mulher satisfeita sexualmente e oferece a ela o próprio amante. Ninguém se 
incomoda; pelo contrário: se poligamia significar compartilhar, em vez de as 
mulheres entenderem essa noção no sentido negativo do termo, buscam 
reapropriar o poder para si. 
Saly 
Outra amante de Tony. A terceira dama, a apetecida, usada “nos momentos de 
pausa, como petisco”. 
Mauá 
Outra amante de Tony, no momento de sua descoberta, a mais nova. É jovem e 
gosta de se maquiar e de arrumar cabelos, tanto é que quando as mulheres 
daquele círculo polígamo se emancipam e decidem trabalhar, é a atividade que 
escolhe para si. Seu salão faz sucesso. 
Eva 
Outra amante de Tony. Mulher empoderada, rica empresária, mas que não 
pode ter filho. O motivo que Tony fornece às suas esposas para ter ficado com 
mais uma mulher foi o de que Eva é mulata e que sentiu pena dela. Ajuda Rami 
a passar pelo processo do luto, dizendo a verdade sobre o paradeiro de Tony: 
ele usou o pretexto de ir para Paris fazer exames, quando no fundo foi para lá 
passar lua de mel com mais uma amante, Gabi. 
Levi 
Irmão de Tony com quem Rami pratica levirato, por achar que o marido Tony 
havia falecido. Levirato: trata-se de uma prática que remete à mulher a se deitar 
com o irmão do esposo em caso de falecimento deste e está presente desde as 
escrituras bíblicas. Inclusive, Levi é um nome bíblico. Consiste em um dos filhos 
de Jacó com Lia. É descrito por Rami como um homem viril e bonito, capaz de 
despertar-lhe o desejo sexual. 
 
3.2 RESUMO ANALÍTICO 
Prezados alunos, como se trata de uma longa obra, organizei um resumo capítulo a capítulo 
abordando os principais tópicos que devemos lembrar em cada um deles. Vamos lá!? 
 
 
 
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A cena da confusão no trânsito é um presságio do próprio mal-
entendido que se passa na parte central do livro de Tony, momento 
da narrativa quando Rami pensa que ele morreu vítima de um 
acidente envolvendo um caminhão. 
Capítulo 1 
 Não se sabe ainda que o esposo de Rami é polígamo. Na verdade, o início do livro é confuso, 
evidenciando sua subjetividade. É muito importante entender que se trata de um reflexo do estado de 
espírito da narradora, que se encontra em um momento prestes a descobrir grandes revelações. Inclusive, 
um dos elementos importantes para a sua emancipação posteriormente vai ser se reconhecer no espelho. 
O espelho meio que se torna seu melhor amigo, como em um conto de fadas. 
Rami está prestes a descobrir que o marido é polígamo e convém entender que se trata um termo 
polissêmico. Até que a poligamia é aceita na cultura moçambicana, mas Rami se sente ressentida, pois, 
esposa dedicada que é, estando com Tony faz décadas, nunca se imaginou e uma posição que ela teria 
que perder os seus privilégios, correndo o risco de ser menos amada. 
 
 
 
 Rami está passando por uma guerra interna e externa. Da parte externa, ouve-se um estrondo 
como uma bomba. Há um acidente envolvendo o vidro de um carro e ninguém entende o que está 
acontecendo. As pessoas dialogam entre si para poder descobrir. 
 
 
 
 
 
 
 
Rami tem 5 filhos, como são 5 também as amantes contabilizadas por ela depois de suas 
descobertas. Uma das poucas alusões que faz a esses filhos é nesse primeiro capítulo, pois pensa que um 
deles, Betinho, pode ter se machucado nesse acidente. Grita por ele e começa suas lamentações: “Se o 
Tony estivesse aqui...”. Suas queixas indicam um marido ausente, fazendo-lhe sentir que ainda é 
dependente. No fundo, sente-se culpada, achando que se o marido estivesse lá a situação poderia ter 
sido evitada. 
Atenção especial para todo um mulherio que frequenta a casa da Rami para consolá-la, 
especialmente vizinhas. Todas tem um conselho para dar e lamentam, junto com ela, a ausência de um 
marido que nem é o delas. Há um sofrimento generalizado, partindo-se do pressuposto de que elas já 
viveram situação parecida, se não idêntica, ao menos semelhante. Grande parte do livro se orienta para 
a sororidade e a empatia femininas. Todas expõe seus sensos comuns sobre um relacionamento que não 
é seu, cada uma fazendo sua projeção pessoal sobre como acha que as coisas deveriam ser. 
• Casamento de uma pessoa com vários cônjuges ao mesmo
tempo. Antropologia: Costume de algumas sociedades
nas quais essa prática é aceitável; Botânica: Qualidade ou
característica de plantas que apresentam flores
unissexuais e hermafroditas num só indivíduo ou em
indivíduos diferentes.
Poligamia
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A narrativa assume pela primeira vez uma modalidade diferente: um 
script de filme de ação. É narrado round a round daquela luta, como 
se fosse um jogo de boxe. Realmente há um embate físico entre Rami 
e Julieta, expressando um momento de violência e rivalidade. 
A partir disso, pela primeira vez na vida, sob o peso de seu sofrimento pessoal, Rami começa a 
refletir sobre a condição da mulher no mundo. A prosa se torna poética quando ela vai falar de si, 
descrevendo-se. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rami não se conforma que ela foi trocada, não se contentando com sua situação de abandonada. 
Começa a entender que vivia um relacionamento unilateral, em que só ela se dedicava e entregava. Sua 
confissão aplica sobre sua própria pessoa alguns epítetos (qualidades), pois é assim como ela se vê. Ela se 
sente uma heroína traída. Por isso, o início do livro representa um grito de desespero e não de afirmação 
ainda. Sente-se um fantasma triste, como se estivesse de luto. Em sua loucura, conversa com o espelho, 
que, estando personificado, reponde-lhe: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É um convite. Niketche é a dança da afirmação, especialmente do amor e da vida. Dança esta que 
a narradora ainda precisa aprender. A vida de Rami começa a mudar quando ela começa a dançar. 
 
 
 
 
 
 
No coração da noite residem os sonhos. Umas vezes são 
coloridos como as flores. Outras, pássaros negros 
dançando nas trevas como fantasmas. Anoitece, meu 
Deus, eu tenho pavor de uma cama fria. Encostei a cabeça 
no travesseiro e conto o número de vezes que morri. 
Resisto. Não consigo aceitar a ideia de ser rejeitada. Eu, 
Rami, mulher bela. Eu, mulher inteligente. Fui amada. 
Disputada por vários jovens do meu tempo. Causei 
paixões incendiárias. De todos os que me pretenderam 
escolhi o Tony, o pior de todos, que na altura julgava ser o 
melhor Vivi apenas dois anos de felicidade completa num 
total de vinte e tantos anos de casamento. 
—Celebro o amor e a vida. Danço sobre a vida e a morte. 
Danço sobre a tristeza e a solidão. Piso para o fundo da 
terra todos os males que me torturam. A dança liberta a 
mente das preocupações do momento. A dança é uma 
prece. Na dança celebro a vida enquanto aguardo a morte. 
Por que é que não danças? 
Fonte: Pixabay. 
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A cena chama atenção da vizinhança. Frequentemente, o romance denuncia uma sociedade postas 
a criticar e não a ajudar. É exposto seu lado bisbilhoteiro e curioso. 
Rami começa a entender que o sistema de adotar várias mulheres acabar por gerar desigualdades. 
Enquanto era a única esposa, não precisava ter essas preocupações. Mal sabe ela que na casa da Ju só há 
retratos e adornos como esperança do retorno de Tony, porque na verdade ele se ausentara dali também. 
Cada mulher, uma vontade: Tony podia ter quantas mulheres quisesse, pois cada uma supria uma 
carência. Rami descobre com Julieta algumas duras verdades. Entende que Julieta foratraída assim como 
ela, e é quebrado o ciclo de rivalidade inicial. 
 
 
Capítulo 2 
Aqui se dá a conquista da existência. Depois de passar pela depressão, Rami já acorda outra 
pessoa, caminhando do luto rumo à superação. Entende que é um ser vivo e a vida precisa continuar. Tem 
consciência e quer mudar o mundo. Sente-se capaz de ouvir o universo vibrar. 
Vai procurar a primeira de Tony: Julieta. Logo ao chegar na sua casa e ser recebida por ela, constata 
que é jovem. Observa que a casa da amante é até mesmo melhor que a dela, inferindo que o dinheiro do 
marido ia parar ali. Observa um retrato na parede e pergunta por ele. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quando faz reflexões como esta, Rami entende que cada vez menos depende do marido. Não tem 
como contar com aquele homem que vive ausente, mesmo para as amantes. 
Chega a pensar em revolução, mas mediante divórcio. Depois entende que divórcio representa 
muito mais liberdade para Tony do que para ela própria. 
Gera-se um momento de pausa, grave, profundo. 
Desafiamo-nos, olho por olho. A Julieta revela-me uma 
verdade mais cáustica que uma taça de veneno. Ter uma 
das muitas ilusões da existência, porque o ser humano 
nasce e morre de mãos vazias. Tudo o que julgamos ter, é-
nos emprestado pela vida durante pouco tempo. Teu é o 
filho no ventre. Teu é o filho nos braços na hora da mamada. 
Mesmo o dinheiro que temos no banco, só o tocamos por 
pouco tempo. O beijo é um simples toque e o abraço dura 
apenas um minuto. O sol é teu, lá do alto. O mar é teu. A 
noite. As estrelas. Cada ser nasce só, no seu dia, na sua hora, 
e vem ao mundo de mãos vazias. Penso naquilo que tenho. 
Nada, absolutamente nada. Tenho um amor não 
correspondido. Tenho a dor e a saudade de um marido 
sempre ausente. A ansiedade. Ter é efemeridade, eterna 
ilusão de possuir o intangível. Teu é o que nasceu contigo. 
Teu é o marido quando está dentro de ti. 
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Capítulo 3 
 E não é que o Tony volta? No entanto, Rami sente que é um ser estranho roncando do lado de si. 
Olha para ele incapaz de inferir seus pensamentos. Seu marido é um estrangeiro dentro de sua própria 
casa. O casamento já não é mais união. 
 
 
 
Rami não se conforma e vai confrontar Tony, exigindo satisfação. Quando diz a ele que traição é 
crime, ele ri, porque não leva a própria mulher a sério. 
Além dessa violência psicológica, Tony demonstra seu poder de outra forma também, esbanjando 
sua liberdade. Quando confrontado, não gosta da situação de crise e simplesmente vai embora. Diz que 
vai dormir onde se sente em paz, deixando Rami se sentindo como se não fosse boa o suficiente, como 
se em um casamento o casal não precisasse conversar. 
 
Capítulo 4 
Rami ainda se preocupa mais com Tony do que consigo própria. Quando ele vai embora, 
naturalmente ela se preocupa. Retoma a ladainha de pensar em si como heroína, mãe de vários filhos, 
que agora vai ter que se virar sozinha, como se fosse a única. 
Pensa pela primeira vez em recursos paralelos: magia. Soube por meio de amigos de feitiço para 
prender homem, algo típico da superstição e crendice popular. Desesperada que está, busca por 
conselhos; cada mulher te diz uma coisa diferente. Sente-se mais perdida do que nunca e emagrece, sinal 
de sua depressão. 
Começa a frequentar algo inusitado: uma aula de amor. Denuncia um fato brutal de como, na 
sociedade, os homens são preparados para a vida sexual e o sentimento do amor, e as mulheres não. Já 
que Rami sempre só serviu o marido, agora ela vai aprender. 
 
Começamos a aula com banalidades: falamos do tempo, dos filhos, do 
natal que se aproxima. Esta mulher tem uma áurea magnética, sinto-me 
atraída por ela. Ela é um monumento de triunfo sobre o amor. Deve ser 
daquelas que atraem o amor e matam de desejo todos os homens que dela 
se aproximam. E fala como quem canta. Move-se como quem dança. 
Respira como quem suspira, meu Deus, toda ela é amor. Sou mais bonita 
do que ela, mas ela tem um quê, que atrai, que eu não tenho → na 
verdade, Rami precisa aprender sobre amor próprio. 
 
 
• Surpresa ou admiração provocada por algo
que não se espera ou não se conhece;
Sentimento de desconforto perante alguém
com quem não se simpatizou.
Estranhamento
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(Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2021) 
 
 Dedicámos um tempo à comparação dos hábitos culturais de norte a sul. Falámos dos tabus da 
menstrua cão que impedem a mulher de aproximar-se da vida pública de norte a sul. Dos tabus do 
ovo, que não pode ser comido por mulheres, para não terem filhos carecas e não se comportarem 
como galinhas poedeiras na hora do parto. Dos mitos que aproximam as meninas do trabalho 
doméstico e afastam os homens do pilão, do fogo e da cozinha para não apanharem doenças sexuais, 
como esterilidade e impotência. Dos hábitos alimentares que obrigam as mulheres a servir aos maridos 
os melhores nacos de carne, ficando para elas os ossos, as patas, as asas e o pescoço. Que culpam as 
mulheres de todos os infortúnios da natureza. Quando não chove, a culpa é delas. Quando há cheias, 
a culpa é delas. Quando há pragas e doenças, a culpa é delas que sentaram no pilão, que abortaram às 
escondidas, que comeram o ovo e as moelas, que entraram nos campos nos momentos de impureza. 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 33). 
 
Enquanto livro que enfrenta tabus, nesse romance formacional Rami aprende o amor próprio. A 
passagem acima descreve uma situação em sua trajetória, que é: 
a) revolução de sua vida particular para incentivar as amigas a fazer o mesmo. 
b) recondicionamento de costumes socioculturais, depois da aula do amor. 
c) vingança contra o sistema por meio da formação cultural indo para a universidade. 
d) expressão subjetiva da protagonista, que se expressa por meio do monólogo interior. 
Comentários 
 Alternativa A: incorreta. Rami ainda não se aproximou das amantes, está fazendo isso por si. 
 Alternativa B: correta – gabarito. Especialmente quando entende que os homens se privilegiam 
quase sempre, mesmo nas mínimas questões. Até na alimentação, os homens expressam sua 
hegemonia. Rami primeiro precisa aprender sobre a desigualdade, para depois converter sua revolta 
numa mudança de mindset. 
 Alternativa C: incorreta. É uma escola de amor paralela, não convencional. 
 Alternativa D: incorreta. Cuidado: muito do livro é subjetivo, mas essas são constatações da 
realidade objetiva, de situações de desigualdade que realmente ocorrem. Embora o romance assuma 
várias modalidade textuais, é mais organizado estruturalmente e linear do que costuma ser um 
monólogo interior (verborragia dos pensamentos da personagem). 
Gabarito: B. 
 
 
 
 
 
Rami começa a perceber que o amor é cultural. Aprende nessa escola que o amor varia de norte 
a sul, dentro do seu próprio país. Não há uma única forma de amor, mas sim várias. 
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Aprender a origem das coisas foi uma das funções do mito desde os 
primórdios da humanidade. O mito é uma narrativa oral fundacional. 
Rami se dá conta de que pode usar os mitos a seu favor, desde que 
primeiro entenda o que são eles e para que eles existem. O mito 
durante muito tempo foi usado erronamente para forçar o poder, 
comom é o caso da questão colonial. 
A mudança de cultura se observa dentro do mesmo país, haja vista os deslocamentos que a era 
contemporânea provoca. Lamenta-se ter demorado tantotempo para aprender. Evoca provérbios, 
entendendo cada vez mais que o amor não é tão simples assim. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Amar é a aprender a dialética da vida, entendendo seus contrários. O papel contemporâneo da 
mulher é combater aquela tradição que não lhe convém, a que achar que a subjuga. Para desmistificar a 
tradição, primeiro é preciso entendê-la. 
Nunca ninguém disse para Rami o que é poligamia e qual é a origem dela. É ela quem deve 
aprender tudo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“O colonizado é cego. Destrói o seu, assimila o alheio, sem enxergar o 
próprio umbigo. E agora? Na nossa terra há muito desgosto e muita dor, 
as mulheres perdem os seus maridos por não conhecerem os truques de 
amor. Fala-se de amor e aponta-se logo o coração e nada mais. Mas o 
amor é coração, corpo, alma, sonho e esperança. O amor é o universo 
inteiro e por isso nem a anatomia nem a cardiologia conseguiram ainda 
indicar o lado do coração onde fica o amor” → Rami no fundo confunde 
as informações que aprende sobre o sentiment do amor e o fato histórico 
da colonização de seu país. Entende que há muito em comum entre amor, 
poder e dominação. 
O amor é um investimento. Nasce, morre, renasce, como o 
ciclo do sol. Olha, não diz que não te ensinei. O amor é o 
pavio aceso, cabe a ti manter a chama. Tudo o resto são 
truques, minha linda. Técnicas. Artimanhas. Tudo na vida é 
mortal, tudo se apaga. Se a tua chama se apaga é em ti que 
está a falta. Faz o que te digo e magia nenhuma te 
derrubará nesta vida. Tu és feitiço por excelência e não 
deves procurar mais magia nenhuma. Corpo de mulher é 
magia. Força. Fraqueza. Salvação. Perdição. O universo 
inteiro cabe nas curvas de uma mulher." 
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Rami vai refletindo sobre várias situações que passou pela vida, compreendendo cada vez mais 
que, se ela passou por isso, várias outras passaram também. As mulheres historicamente durante muito 
tempo foram tratadas como escravas; algumas no sul de Moçambique se submetem ao lobolo (dote). 
Ela termina esse capítulo novamente desabafando com o espelho. 
 
Capítulo 5 
Rami procura a segunda amante, portanto, terceira mulher de Tony, com quem luta também. 
Agora, são interpeladas pela polícia e acabam sendo presas. Descobre que o nome dela é Luísa e na cadeia 
travam um diálogo importante em que Rami aprende mais duras verdades sobre a vida. 
Para quem é amante, saber que seu homem tem outras não incomoda tanto. Já são mulheres 
preparadas para a vida. Rami é quem se sente incomodada, porque agora vai precisar saber compartilhar, 
algo que é involuntário, sendo-lhe imposto. 
O discurso de que o “homem é rei” é reproduzido culturalmente; só tem a força que tem porque 
as pessoas repetem essa falácia, e repetem tanto que chegam a acreditar nela. As mulheres são tratadas 
como couro (animalizadas), desde que isso agrade o homem. Isso viabiliza o fato de muitos 
relacionamentos modernos serem tóxicos: o homem se sente no poder de fazer o que quiser. 
Rami tinha tudo para odiar Luísa, mas se simpatiza com ela, porque vê que é parecida consigo. 
Percebe que foi imatura e não dá para viver na ilusão para sempre. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tony
Rami
Julieta
LuísaSaly
Mauá
O coração do meu Tony é uma constelação de cinco 
pontos. Um pentágono. Eu, Rami, sou a primeira dama, a 
rainha mãe. Depois vem a Julieta, a enganada, ocupando 
o posto de segunda dama. Segue-se a Luísa, a desejada, 
no lugar de terceira dama. A Saly a apetecida, é a quarta. 
Finalmente a Mauá Sualé, a amada, a caçulinha, recém-
adquirida. O nosso lar é um polígono de seis pontos. É 
polígamo. Um hexágono amoroso. 
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Capítulo 6 
Rami reflete sobre uma cena: uma mulher sendo bruscamente reprimida por um 
médico porque não se comportou adequadamente. Ela deveria ser submissa e se 
comportar adequadamente. Mas não é a mulher vai embora? Xinga o médico e diz que não 
é obrigada! 
Rami vai aprendendo que existem outros caminhos, porque a vida não é uma 
estrada de via única. Se você não está satisfeito com alguma coisa: MUDE, VÁ EMBORA. 
Começa a falar em chamamento da liberdade. 
 
Capítulo 7 
Rami precisa abandonar seu idealismo e ser mais pragmática. Procura decidir o que fazer com sua 
própria vida. Recorre a bruxos, o que não dá certo. Sente-se deprimida novamente. 
 
Capítulo 8 
“De todas os seres viventes, é a mulher a que mais sofre”, já disse Euripídes em sua tragédia grega 
Medeia. Várias mulheres de várias épocas e nacionalidades já sofreram: 
 
NIKETCHE FLORBELA ESPANCA – EU 
 Eu sou aquela que tem um espelho como 
companhia no quarto frio. Que sonha o que não 
há. Que tenta segurar o tempo e o vento. Só tenho 
o passado para sorrir e o presente para chorar. 
Não sirvo para nada. As pessoas olham para mim 
como uma mulher falhada. Que future espero eu? 
O marido torna-se turista dentro da própria casa. 
As mudanças correm rápidas neste lar. As 
mulheres aumentam. Os filhos nascem. A família 
monógama torna-se polígama. A unidade 
quebrou-se em mil, oTony multiplicou-se. As 
amigas perguntam-me pelo Tony só para gozar 
comigo. As conformistas querem convencer-me 
de que o amor já fez o seu tempo. 
Eu sou a que no mundo anda perdida 
Eu sou a que na vida não tem norte 
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte 
Sou a crucificada... a dolorida 
 
Sombra de névoa ténue e esvaecida 
E que o destino amargo, triste e forte 
Impele brutalmente para a morte! 
Alma de luto sempre incompreendida! 
 
Sou aquela que passa e ninguém vê 
Sou a que chamam triste sem o ser 
Sou a que chora sem saber porquê 
 
Sou talvez a visão que Alguém sonhou 
Alguém que veio ao mundo pra me ver 
E que nunca na vida me encontrou!. 
 
Nesse capítulo, Rami entende que sua família vai deixar de ser monógama para ser polígama, o 
que vai refletir numa mudança de costumes para todos os seres envolvidos. Por mais que não goste disso, 
é algo que lhe escapa do controle, como se fosse uma espécie de prostituição. 
Não desiste da luta. Reza para uma divindade que lhe aceita. 
 
Capítulo 9 
Rami começa uma peregrinação rumo a dar sentido para sua vida. Começa pela sua família e vai 
conversar com tias. Pergunta como foi a vida de outras mulheres, se elas foram felizes. Vai ouvindo 
histórias de outros casos, como o de reis e de mulheres polígamas, com mais de um homem. Até mesmo 
de homens homessuxais. 
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Rami vai descobrindo as múltiplas manifestações da sexualidade. Em todas elas, a sociedade 
parece querer se impor. 
 
Capítulo 10 
Rami se encontra em uma situação estranha: está na casa de uma das amantes de Tony, na festa 
de seu filho. Conhece Vito, amante de Luís. Está bebendo vinho e conversa com ele. 
 
 
 
A própria Luísa leva Rami para seu quarto e lhe oferece para seu amante Vito! Percebem que Rami 
é uma mulher muito infeliz, assumem que está satisfeita sexualmente e querem lhe fazer um favor. 
Aproveitam porque ela está beba. Ela acorda sem entender direito o que aconteceu. Se foi imoral 
ou não, isso não importa. Luísa tem uma moral que é a dela, que não é necessariamente a mesma que a 
moral da sociedade. 
Quando acorda, conversam. Rami sente vergonha porque cometeu adultério, mesmo seu marido 
Tony ser bem mais devasso que ela. Carrega a sua culpa e a dos outros, sente que está se perdendo. 
A própria Luísa tenta convencê-la de que ela não fez nada de errado. Para voltar a recuperar o 
estatuto de rio, Rami deve se entregar, viver uma vida mais leve e menos presa, especialmente aconvenções sociais. 
Conversa com Vito que não é nenhum santo, mas é um homem redimido. Porque os homens 
também podem mudar. Quando Rami pergunta o porquê de ele ter ajudado a amante Luísa: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rami ouve atentamente, porque no fim do romance ela própria sugere tal casamento para Luísa. 
 
Capítulo 11 
Agora Rami começa a fazer um inventário das informações que já coletou. Vai traçando seus 
próprios conceitos para poligamia, dentro do seu entendimento. 
 
— É a força do remorso. Também fui tirano a vida inteira. 
Espanquei a minha mulher no último mês de gravidez. Foi 
de urgência para a maternidade e perdeu o Filho, o único 
filho homem que ela me ia dar. Tínhamos já duas 
meninas. Eu ambicionava um rapaz e perdi-o. Matei-o, 
Por estupidez. Como estou arrependido, Deus meu! Mal 
saiu da maternidade, foi para a casa dos pais e não voltou 
mais para mim, tinha toda a razão. Casou-se com outro e 
é feliz, para meu castigo. Estou só, ainda não me fixei, mas 
um dia hei-de casar-me outra vez. Quero tanto esta Lu, 
gosto tanto dela, mas prefere esse Tony, que faz dela 
simples concubina de terceira categoria. 
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“Poligamia é o destino de tantas mulheres neste mundo desde os tempos sem 
memória. Conheço um povo sem poligamia: o povo macua. Este povo deixou as 
suas raízes e apoligamou-se por influência da religião. Islamizou-se. Os homens 
deste povo aproveitaram a ocasião e converteram-se de imediato. Porque 
poligamia é poder, porque é bom ser patriarca e dominar. Conheço um povo com 
tradição poligâmica: o meu, do sul do meu país. Inspirado no papa, nos padres e 
nos santos, disse não à poligamia. Cristianizou-se Jurou deixar os costumes 
bárbaros de casar com muitas mulheres para tornar-se monógamo ou celibatário. 
Tinha o poder e renunciou. A prática mostrou que com uma só esposa não se faz 
um grande patriarca” → no fundo, Rami critica a hipocrisia da sociedade. 
 
Poligamia é um sistema de favorecimento aos homens, que se privilegiam dentro da formalidade 
ou mesmo na informalidade. 
Mas a vida é uma eterna metamorfose ambulante, força é entender a sua própria história. Se tudo 
está ruim, pode mudar. 
 
Capítulo 12 
Rami vai visitar os seus pais. Conversa com sua mãe, houve histórias como padrões comparativos. 
Aprende que o sofrimento feminino é passado de mãe para filha através de gerações. Se a mulher é um 
ser que sofre, a mãe sofre em dobro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 13 
Rami continua sua pesquisa de coleta de informações. Precisa ouvir várias opiniões para decidir o 
que fazer. Mas esbarra em vários questionamentos, percebe que o machismo está até na linguagem. 
 
Observação: feminismo é o movimento que luta pela igualdade de 
direitos entre mulheres e homens. 
 
 
Mães, mulheres. Invisíveis, mas presentes. Sopro de 
silêncio que dá a luz ao mundo. Estrelas brilhando no céu, 
ofuscadas por nuvens malditas. Almas sofrendo na sombra 
do céu. O baú lacrado, escondido neste velho coração, hoje 
abriu-se um pouco, para revelar o canto das 
gerações. Mulheres de ontem, de hoje e de amanhã, 
cantando a mesma sinfonia, sem esperança de mudanças. 
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Rami vai se aproximando das amantes de Tony. Sente que elas são como satélites ao seu redor, 
mas ele continua sendo o astro principal. 
A UNIÃO FAZ A FORÇA: em vez de separar, Rami une as amantes. 
 
Capítulo 14 
Festa de aniversário de cinquenta anos de Tony. Será que vai dar 
bom? De criticada, Rami faz com que os outros comecem a criticá-lo. 
Organiza uma festa e chama as amantes! 
Elas são suas convidadas, abolindo-se toda uma situação de status 
social que iria prejudicá-las. Elas se sentem no paraíso, podendo pela 
primeira vez gozar de uma situação de participação. Também elas se 
tornam menos passivas e mais ativas. 
 
Capítulo 15 
Claro que a sogra da Rami não gostar do caso, não. Pergunta se ela não tem VERGONHA (como se 
o filho dela tivesse). Rami responde à altura e começa a se incomodar menos com a opinião alheia. 
Sabe que o Tony está incomodado com a situação. 
 
Capítulo 16 
As mulheres vão à luta! Primeiro, Rami reúne as amantes e lhes dá uma inspiração: que abram 
cada uma seus negócios! Há toda uma divisão social do trabalho, pois cada uma tem sua função. 
 
 
 
 
 TRABALHO SIGNIFICA EMANCIPAÇÃO! 
• Vai no armazém, compra bebidas em caixa e vende a retalho.
JULIETA
• Vende roupas junto com Rami no mercado da esquina, onde
conservam com outras mulheres e aprendem mais sobre a vida.
Aprendem a serem econômicas e a esconder o lucro real do
marido, para ele não roubar.
LUÍSA
• Construiu uma loja e vende bebida por grosso. Tem um café, um
salão e um chá.
SALY
• Abriu um salão de cabeleliro no centro da cidade, mas continua
seu trabalho também na garagem de casa.
MAUÁ
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Capítulo 17 
Claro que a sogra da Rami irá detestar! Começa a infernizar sua vida. Como assim dar liberdade e 
ainda emprego às mulheres do Tony? 
Então, Rami sugere que comece o ciclo de lobolos. Todas as amantes devem receber seu dote para 
serem aceitas na família. Vão sair de uma condição de miséria para passar a serem reconhecidas. Rami 
não se deixa deter pela hipocrisia, vai traçando seu próprio caminho. Tenta ameaçar Tony como pode, 
mesmo todos fazendo de tudo para restituir o poder a ele. 
Mas agora Rami quer o seu poder também. Quer algo ainda mais poderoso: não estar mais sozinha. 
 
Capítulo 18 
Começa a escala conjugal: um novo costume. Tony deve ficar uma semana na casa de cada 
mulher, como se fosse um catálogo a ser seguido. Os envolvidos no processo devem aceitar e se resignar, 
mesmo que as coisas não sejam como desejam. A poligamia é um sistema de ordem e precisa dessa 
hierarquia para se manter. O que Rami deseja é privar a liberdade de Tony, nem que para isso sacrifique 
sua liberdade também. 
Rami retroalimenta o costume da poligamia, mas consegue se privilegiar também. Tony começa a 
se incomodar de ver suas amantes empregadas e com menos tempo para ele. Rami vai abolindo, mesmo 
sem querer, alguns estereótipos, motivando e ajudando aquelas que agora já são suas amigas, pois estão 
mais próximas. 
 
 
 
Numa conversa entre as mulheres, descobrem que o Tony tem mais uma amante! Numa espécie 
de rede de espionagem: é uma mulher rica que tem carro. 
 
Capítulo 19 
Convidam Tony para um jantar em família: A GRANDE FAMÍLIA. E não é que 
o feitiço se vira contra o feiticeiro? Tony fala o que cada uma daquelas mulheres 
representa para ele, cada qual com sua função PARA ELE, e não uma função 
própria. As mulheres se vingam: ficando nuas para impactar. Como as Mulheres 
d’Avignon de Picasso na imagem ao lado, as mulheres dançam, ficam nuas e se 
expõe. Deixam de ter medo para CAUSAR medo. 
 
“Entra num violento silêncio. O mundo acaba de lhe cair nos ombros. Nudez de 
mulher é mau agouro mesmo que seja de uma só esposa, no acto da zanga. É 
protesto extremo, protesto de todos os protestos. É pior que cruzar com um leão 
faminto na savana distante. É pior que o deflagrar de uma bomba atómica. Dá azar. 
Provoca cegueira. Paralisa. Mata.” → importante reflexão sobre a nudez. Por que 
ela choca tanto, se todos vieram iguais ao mundo? É porque entre todas as nudezes 
é a feminina que mais incomoda. 
 
 
Figura: fragmento do quadro Les Demoiselles d'Avignon, 
disponível em 
https://en.wikipedia.org/wiki/File:Les_Demoiselles_d%27Avignon.jpg, acessado em 11.10.2019. 
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Rami usa o mecanismo inverso da ironia: se antes foi Tony quem lhe fez sentir vergonha, agora ela 
lhe mostra o contrário. 
Rami usa o mecanismo inverso da ironia: se antes foi Tony quem lhe fez sentir vergonha, agora ela 
lhe mostra o contrário. 
Conversa com o espelho, o que lhe acompanha ao longo de toda sua trajetória. 
 
Capítulo 20 
O Tony convocou um conselho de família, momento martirizante porque as famílias das amantes 
se confrontam, cada um cobrando seu direito, e Rami fica no centro crucificada, sendo alvejada de críticas 
por todos os lados, como a prostituta apedrejada na Bíblia. A única cumplicidade possível é a de quem 
sofre em conjunto: as mulheres. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NIKETCHE CHICO BUARQUE – JOGA PEDRA NA GENI 
A minha mãe chora em silêncio. O seu choro é um 
canto de ausência, de dor e de saudade. Pela irmã 
que morreu na savana distante nas garras de um 
leopardo, por causa de uma moela de galinha. Pela 
humilhação que sofremos eu e ela, duas gerações 
distintas seguindo o mesmo trilho. Revolto-me. 
Estou disposta a abrir a boca, a soltar todos os 
sapos e lagartos, a incendiar tudo e vingar a honra 
da minha mãe ultrajada sem sequer olharem para 
a sua idade. De repente li a mensagem de paz nos 
olhos da minha mãe. Ela não quer que eu deixe 
falar a voz do silêncio. 
E também vai amiúde 
Com os velhinhos sem saúde 
E as viúvas sem porvir 
Ela é um poço de bondade 
E é por isso que a cidade 
Vive sempre a repetir 
 
Joga pedra na Geni! 
Joga pedra na Geni! 
Ela é feita pra apanhar! 
Ela é boa de cuspir! 
Ela dá pra qualquer um! 
Maldita Geni! 
 
É toda uma sociedade baseada na tentativa de afirmar o seu poder: era uma guerra para poder se 
sobressair. Alguém conta o mito de Vuyazi, uma moça rebelde que foi obrigada a se isolar na lua: 
histórias contadas a séculos para desencorajar as mulheres de agirem, fazendo o que quer. 
Nós, as esposas, entreolhamo-nos. Esta gente reuniu-se para 
nos obrigar a andar de cabeça baixa. Com os olhos na terra. 
Mas olhar para a terra é olhar para as searas onde os pés de 
milho seguram as espigas como filhos às costas. É olhar para 
o verde arrozal iluminando a terra com tapetes dourados de 
grão. No chão estão os campos de amendoim, de lírios, 
cardos, violetas. No chão está o mar, o rio e os canaviais. No 
chão poisam os pombos na hora do beijo. Os homens andam 
de cabeça erguida para o céu, mas a terra é o berço e o céu 
apenas a estrada láctea, eterna passagem. 
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A mulher é culpada antes de nascer. Por isso, durante a vida, tem que aprender a dançar. Como 
mulheres bacantes, dançar confere força e mostra que estão vivas. Nesse capítulo, é definido que 
Niketche é uma dança. 
 
 
“Niketche. A dança do sol e da lua, dança do vento e da chuva, dança da criação. 
Uma dança que mexe, que aquece. Que imobiliza o corpo e faz a alma voai: As 
raparigas aparecem de tangas e missangas. Movem o corpo com arte saudando 
o despertar de todas as primaveras. Ao primeiro toque do tambor, cada um 
sorri, celebrando o mistério da vida ao saboreio niketche. Os velhos recordam 
o amor que passou, a paixão que se viveu e se perdeu. As mulheres desamadas 
reencontram no espaço o príncipe encantado com quem cavalgam de mãos 
dadas no dorso da lua. Nos jovens desperta a urgência de amar, porque o 
niketche é sensualidade perfeita, rainha de toda a sensualidade. Quando a 
dança termina, podem ouvir-se entre os assistentes suspiros de quem desperta 
de um sonho bom.” → Rami nem sempre soube dançar. Mas, como tudo na 
vida pode ser aprendido, também ela aprendeu a dançar. 
 
É o momento central da narrativa. É o ápice quando Rami chama as mulheres para 
a luta e termina o capítulo assim: “Veremos quem sai vencedor”. 
 
Capítulo 21 
Também o homem está preso nesse ciclo. Rami conversa com Tony e 
discutem para ver quem é o mais superior. Rami não consegue se fazer 
ouvida, porque Tony sempre dá a palavra final. 
Mulher deve sofrer e, se recusa a sofrer, deve ser punida. Deve ser 
uma santa e, como tal, Rami termina o capítulo com uma oração. 
 
Capítulo 22 
Um advogado vai incomodar Rami em sua própria casa. Quer porque 
quer fazê-la assinar o divórcio. Rami perde a paciência e chega a agredi-lo, 
num ciclo vicioso: retribui violência com violência. Mas que conseguiu dar 
uma lição, conseguiu! É uma lógica subversiva e antropofágica. 
 
 
 
 
 
• Costuma antropológico de engolir o outro. No
caso, incorporar o outro, assimulando sua
coragem, para fortalecer o seu poder próprio.
Conceito também usado na primeira geração
modernista brasileira.
Antropofagia
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Capítulo 23 
Rami se sente no precipício: Tony é capaz de despertar o pior de si. Vai ao seu quarto e novamente 
dialoga com o espelho, seu porto seguro nas situações mais difíceis. Sente que a pior dor é a da injustiça, 
pois não pode nem escolher o seu destino, que está sendo decidido pelos outros (no caso, o marido Tony). 
Chama suas amigas para desabafar. Discutem sobre a educação de filhas, sobre seus órgãos 
genitais e sobre os assuntos mais diversos. 
 
Capítulo 24 
Capítulo muito importante em que Rami vai à rua para ouvir as mulheres! A 
tentativa é falar muito para esconder sua própria dor. Porém, não é uma conserva, mas 
sim observação atenta das mulheres. Procura imaginar a vida de cada uma, como se a 
vagina de cada uma falasse. Cada mulher é um mundo à parte. Ouve para aprender, 
aprende para mudar. Ela mesmo vira conselheira e é como se fosse um teatro. 
 
 
Capítulo 25 
Outro capítulo importantíssimo em que vai conversar com a mãe. Sua mãe é descrita como uma 
figura passiva e resignada, que nada pôde fazer para mudar a realidade do relacionamento abusivo com 
o pai. Simplesmente aceita-se esse abuso, como se nada pudesse ser feito. Lembra o determinismo 
naturalista (o homem é o fruto do meio). 
Cada mulher é infeliz à sua maneira e a mãe é o espelho da filha. Rami tem uma tia que morreu 
porque precisou ir buscar comida para o marido. Até quando!? 
Regressar ao lar materno causa mais dor do que gera esclarecimento. Rami termina o capítulo com 
uma série de questionamentos. 
 
 
 
Capítulo 26 
Rami segue na luta contra Tony. Nega-lhe o luxo de continuar tendo conforto e privilégios. Sai de 
casa e vai caminhando para o trabalho: é quando vê um acidente de caminhão. 
 
Capítulo 27 
O dia em que a vida muda da água para o vinho: Rami acorda com pessoas batendo na sua porta 
e lhe fazendo de viúva. Chegam com a notícia de que Tony morreu, e Rami diretamente associa o caso 
com o acidente que viu. Todo o caso soa muito suspeito e ninguém lhe explica nada direito, mantendo-
lhe no limbo da ignorância e privando-lhe do poder do conhecimento. 
Rami não sabe o que aconteceu com o próprio marido e corre atrás das amigas-amantes para 
investigarem o caso. A escala conjugal serve como álibi. Tentam incriminar o Tony que provavelmente 
estava em outra aventura sexual. Quanto mais tentam culpá-lo, mais ele sai ileso. 
Rami se sente cansada e como uma sombra. Vai reconhecer um corpo desfigurado. 
• É uma interrogação que não tem como 
objetivo obter uma resposta, mas sim 
estimular a reflexão do individuo sobre 
determinado assunto.
Pergunta retórica
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Saber a verdade é umpoder. Rami pode finalmente decidir o que fazer 
com a própria vida e ela quer se livrar de Tony. Entregar-se para o seu 
irmão seria sua vingança final. Submete-se ao costume para se 
empoderar, de livre e espontânea vontade, porque quer. Podia contar 
para todo mundo que Tony estava vivo, mas se calou. 
Capítulo 28 
Chega a família de Mauá para cobrar seus direitos. Nortenhos e sulistas brigam. 
Capítulo 29 
Rami passa por uma chuva de perguntas vindas de todos os lados. Precisa responder sim a tudo, 
não ousa negar. Decidem seu destino por ela: deve aceitar o kutchinga, praticar o ato sexual com um 
irmão do Tony para vingar o morto, como Tamar na Bíblia. 
Como se já não sofresse o bastante, agora Rami deve ser violada com o consentimento da família 
em nome dos bons costumes e das leis culturais. 
Capítulo 30 
A ainda desconhecida de Tony, Eva, visita Rami em momento de luto. Enquanto Rami está de véu, 
devidamente trajada, conversam. Passa a conhecer a existência de Gaby, mais uma amante do Tony. 
Descobre a verdade: ele fugiu para Paris com ela. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sente que tira um peso das costas. Tira o véu para conversar Eva e chega até mesmo a rir. Ela de 
quem antes Tony riu usa o riso como poder. Realmente, quem ri por último ri melhor. 
Se antes ela fez parte de um teatro, agora ela vai fazer um teatro para a sociedade. Sua conversa 
com Eva é simbólica e reveladora. 
 
Capítulo 31 
Começa outro calvário para Rami: a procissão do luto. Quanto valem os interesses em uma guerra 
cultural? Ela não pôde escolher nada, e agora raspam seu cabelo. Porque luto é um teatro. 
Para Rami, não é de todo ruim. É uma viagem rumo a si mesma, rumo à sua libertação. Descobre 
que sente empatia por Eva. 
 
 
Capítulo 32 
Busca conselho no espelho. As tias de Tony vem lhe tirar tudo: desde os 
bens materiais até o cabelo. Trata-se de um processo de depravação do 
patrimônio, intencionalmente para que Rami se sentisse pobre materialmente e 
espiritualmente. Essas tias são como as bruxas no conto de fadas. Não é de todo 
ruim, o kutchinga se consuma no escuro; Rami não vê nada, só sente. 
 
Capítulo 33 
E o bom filho ao lar regressa: TONY VOLTA! 
 
 
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Paira muito mistério ainda: não foi ele que arquitetou o plano? Rami conversa com ele para 
confrontá-lo. Tony retorna, mas é um homem sem seu poder. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Rami está dormindo em colchão; levaram tudo. É uma viúva com marido vivo. Tony é seu divino 
criador: criou uma situação paradoxal. Agora, ele que lute. 
 
Capítulo 34 
Claro que o Tony pode ficar com a Gabi; mas acha um cúmulo a Rami ter sido tchingada, mesmo 
que a culpa tenha sido dele. Rami se reúne com suas amigas, para debater a situação. 
“Nesta guerra de amor e ódio não estamos em pé de igualdade. Mulher é ser inferior, 
pequeno, a quem se baixa a crista com um simples sopro. Neste jogo somos cinco contra 
um, mas ele é forte, tem poder e dinheiro. Por isso pede perdão, mas dita as normas do 
jogo. Pede desculpas só para serenar a maré e retomar o comando. Reclamar é o nosso 
único recurso. Quem não chora não mama” → tudo o que sobra é o lamento, dos bens 
materias todos foram. O conselho familiar se torna uma situação não para debater a 
escala conjugal, mas sim para queixas. Ganha outra função: as amigas conversam. 
Porque mulher é ser que fala para esconder a dor. 
• Incidente, aventura, fato imprevisto ou
palpitante; Em uma narrativa (literária,
cinematográfica etc.) momento em que
ocorrem fatos inesperados, surpreendentes
ou mirabolantes.
Peripécia
O coração do homem quebra em mil pedaços. Honra, 
dignidade, orgulho, vaidade, são ondas imensas onde todo 
ele se afunda. Está num precipício. A sua alma mergulha num 
oceano fundo. Não sabe nadar. Olha para o céu, talvez à 
procura de Deus. Desvia os olhos para o horizonte, galgando 
as nuvens como as gaivotas no final da primavera. O 
horizonte é uma muralha distante, onde tudo é fim, tudo é 
princípio. No horizonte encontra o reflexo triste da sua 
imagem. Ele fica hirto, seco, como um homem morto. Nem 
um movimento, nem gestos, nem palavras. É curto, o voo de 
asas quebradas. Para os mortais, o chão é o lugar seguro, tal 
como o mar é para os peixes. A vida muda num só lance, tal 
como a morte te leva num instante. Ele fecha os olhos para 
a vida que o transtorna e aguarda que a energia renasça 
dentro dele. Ele é vulcão e lava. Explosão. Ele é gelo e morte. 
Terra seca. Ele é cinza, é palha, é poeira. Ele não é nada. 
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Capítulo 35 
Rami sai do trabalho de carro e vai almoçar com a Luísa. Pergunta a ela onde está o centro da sua 
força. Finalmente, começam a traçar para si o rum o de suas próprias vidas. E isso JUNTAS, porque 
Niketche é uma dança em conjunto e equilibrada. 
Luísa admite como admira Rami, que lhe ajudou muito. De mártir, Rami passa a ser símbolo, 
podendo inspirar outras mulheres. Para muita gente, má é a mulher que pensa primeiro em si e depois 
nos outros. Agora elas decidem ser más juntas. Dá-se uma tomada de consciência em conjunto. 
 
A história de Luísa é muito trágica: ela foi violada por soldados na mata. Fugiu do pai 
e se prostituiu desde os 14 anos de idade. Foi para cidade e encontra Tony, com quem faz 
filhos, dando sentido à sua existência. Nem tudo foi ruim, mas a vida é um aprendizado. 
 
MAS O PASSADO SÃO SÓ AS MARGENS DE UM RIO BRAVO: PASSAM. 
 
Capítulo 36 
Tecnicamente, aqui há um salto temporal: a máquina recomeça, pois a casa de Rami volta a 
funcionar. Volta o conselho, momento quando as mulheres trocam entre si suas frustrações. A vida 
doméstica tornou-se desregulada: retorna a desordem. 
As mulheres mudaram muito, já não querem mais o Tony. Trabalham e estão cansadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 37 
Chegam as mulheres fora de hora: vão conversar! O estereótipo feminino é conversar frivolidades, 
mas elas usam a conversa como instrumento de poder: para conhecer e entender. Algumas ainda 
cantam a cantiga da culpa. 
Num rompante, Tony bebe e sai para ir procurar 
Luísa. Prevê-se uma tragédia naquele estado e Rami liga 
para avisá-la. O coitadinho vai implorar pelo seu amor, quer 
o dinheiro do lobolo de volta: está desesperado. É abusivo, 
tóxico e a ameaça de morte. Tenta dar um soco nela, mas 
não acerta, porque está bêbado. Olha simbolicamente para o céu, porque homem só olha para o alto. 
Mas mulher é água, e o espelho é feminino. 
Penso nas palavras da Lu. Mudar o mundo. O mundo está 
em permanente mudança. Muda em silêncio. Só o Tony é 
que não deu pela mudança. Está na dança de homem, onde 
tudo é permitido. No ar há maldade com sabor a néctar. Há 
uma flor envenenada em cada beijo. Tortura feita com 
doçura, gota a gota, na pedra dura. Não reparou ainda na 
minha vingança silenciosa, nem vê as leoas que o devoram 
deliciosamente. Ah, meu Tony Para as mulheres vives, pelas 
mulheres, morrerás. 
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Tony não é um herói. Pelo contrário, é um homem opressor. Quer se valer de todo o poder que 
tem e não tem, voltando-se contra as mulheres. Precisa ter as coisas do seu jeito, senão apela, como 
criança. Mostra-se na verdade infantil. 
Se ele é o marido nacional, porque suas amantes vêm de norte a sul, Luísa é a mulher nacional. 
Prostituiu-se com os homens soldados. Como se não sofresse o bastante, agora mais essa violência. 
Capítulo 38 
Diálogo desesperado de Tony, que tenta se redimir com Rami. Tarde demais! Ela não aceita suas 
desculpas, não conseguemse entender. É a gota d’água. Quer porque quer se afirmar, coisa que ele fez a 
vida inteira. Agora que não o faz mais, não consegue aceitar o fato. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tony não aguenta a emoção e precisa ir para o hospital. E o feitiço se vira contra o feiticeiro: Rami 
se lembra da mulher no hospital que foi humilhada pelo médico, mas não aceita a situação e vai embora. 
Ela também! 
Capítulo 39 
A vida é uma roda e as mulheres são criadoras de si! Tony está no hospital, mas Rami está em 
outra. Ela vai para a igreja, acompanhar o casamento de Luísa e Vito. O conto de fadas tem um final feliz, 
pelo menos para alguém. 
Rami vai vestida de azul, cor da liberdade, e chora por todas as mulheres, pelas que conseguiram 
e pelas que não conseguiram também. Reescreve as regras e ajuda a amiga. Luísa agora é uma mulher 
extranacional: não depende da nação nem de cultura, porque vai se tornar uma mulher casada. 
Nesse dia, a deusa Vuyazi se liberta da lua. 
Capítulo 40 
Outro pulo temporal: Rami celebra mais um despertar. Tony se mostra cada vez mais 
desesperado: quer deixar todas as mulheres. Ora, ora, se não era o mulherengo! Se aproveita da tradição 
quando ela o favorece, mas quando as coisas não saem do jeito que queria não tem a coragem de encarar 
a situação. O homem é um ser que não sabe dançar, porque ainda não aprendeu. 
Quer voltar a ser respeitado, mas os costumes já foram mudados. Rami faz sua própria dança, 
porque já encontrou o equilíbrio. 
Capítulo 41 
Rami convoca as mulheres. Dá vazão a seus sentimentos. 
— Sou um homem bom, Rami, há homens piores do que eu. 
Faço tudo bem feito. Ter muitas mulheres é o direito que 
tanto a tradição como a natureza me conferem. Nunca 
maltratei a Lu, bati nela algumas vezes, apenas para 
manifestar o meu carinho. Também te bati algumas vezes, 
mas tu estás aí, não me abandonaste para lugar nenhum. A 
minha mãe foi sempre espancada pelo meu pai, mas nunca 
abandonou o lar. As mulheres antigas são melhores que as 
de hoje, que se espantam comum simples açoite. 
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As mulheres descobrem que a cultura não é eterna e cada uma já tem uma vida nova. 
Transformam-se, elas próprias, nas julgadoras da sociedade. 
Capítulo 42 
Tony é convidado para participar da reunião conjugal; acha que é uma conspiração. Não se 
entende com as mulheres e ele se encontra em desarmonia. Agora se mostra um santo. As coisas 
mudaram: Lu não está mais lá, porque casou. As mulheres deliberam que o Tony precisa de uma nova 
mulher! E se fosse possível uma revolução de amor, sem violência? A solução para a ausência da Lu é 
arranjar um novo amor! 
O capítulo termina com uma carta para Tony, que se transforma no interlocutor de Rami. Testa 
seu poder, para ver que não tem nenhum. 
Capítulo 43 
Parece que vai reaparecer a repetição dos mesmos e velhos padrões. Só que não! Tony implora 
pelo amor de Rami agora, quer ser só dela e que ela seja só sua. Não aceita o fato de ela ter sido tchingada, 
sofre muito por causa das mulheres, por Rami, especialmente, aquela que foi capaz de confrontá-lo. Ainda 
se quer dar poder: se ela fosse só sua, tudo estaria restaurado. Porque ele também foi enganado. 
Mas mulher é um ser que veio da água e Rami se batiza com novos costumes, novas crenças, nova 
mentalidade. Não aceita mais, não quer mais, não é obrigada! Sua liberdade e sua paz foi se conhecer e 
se aceitar: saber o que quer e decidir sua vida! 
RAMI ESTÁ GRÁVIDA E É DE LEVI! Sua vingança é 
sobreviver à falsa morte de Tony, gerando uma nova vida que 
não é com ele. A poligamia lhe ensinou lições no fim das contas: 
tolerância, fazer da solidão um espelho para si própria e superar 
uma sociedade de aparências. 
De repente começo a chorar todas as lágrimas do mundo. 
Deus meu, por que me fizeste mulher? Mulher é aquela 
que tem a língua de serpente e por isso carrega nas costas 
o peso do mundo. Mulher é fel, e a misteriosa criadora de 
todos os males do universo. Mulher é aquela que faz falta 
mas não faz falta nenhuma, por isso quando morre as 
pessoas entornam duas lágrimas e apenas suspiram: 
repousa em paz, queridinha. Repousa as tuas dores e o teu 
cansaço no regaço da terra. Dorme em paz. Mulher é o 
eterno problema e não há como solucioná-lo. Ela é um 
projecto imperfeito. Toda ela é feita de curvas. Não tem 
sequer uma linha recta, não se endireita. É surrealista? 
Não. É abstracta? Também não. É gótica, isso sim. Tem 
arcos, abóbadas, ogivas. Ela é mole, ela é fraca, ela é 
teimosa como a gota de água que tanto bate até que fura. 
Mulher fala muito e fala de mais. Por isso ela é silêncio, é 
sepultura, vivendo no poço fundo, no abismo sem fim. 
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Figura de linguagem usadas em Niketche: uma história de poligamia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.0 NIKETCHE E A INTERTEXTUALIDADE 
 
Prezados alunos, nessa seção eu estipulo algumas aproximações que podem ser feitas quanto à 
obra Niketche, no que tange alguns diálogos temáticos. Alguns desses pontos já levantados desde a nossa 
pré-análise. 
 
• Lugar de fala. Rami é uma mulher preta que se sente traída, mas passa por um processo que vai 
reconhecer sua importância e seu lugar no mundo. Em determinado momento, conversa com a 
mãe para entender melhor de tradição e ancestralidade. 
 
NIKETCHE CONCEIÇÃO EVARISTO – OLHOS D’ÁGUA 
 
 
Uma noite, há anos, acordei bruscamente e uma 
estranha pergunta explodiu de minha boca. De 
que cor eram os olhos de minha mãe? Atordoada, 
custei reconhecer o quarto da nova casa em eu 
que estava morando e não conseguia me lembrar 
de como havia chegado até ali. E a insistente 
pergunta martelando, martelando. De que cor 
eram os olhos de minha mãe? Aquela indagação 
havia surgido há dias, há meses, posso dizer. Entre 
um afazer e outro, eu me pegava pensando de que 
cor seriam os olhos de minha mãe. E o que a 
princípio tinha sido um mero pensamento 
interrogativo, naquela noite se transformou em 
uma dolorosa pergunta carregada de um tom 
acusativo. Então eu não sabia de que cor eram os 
olhos de minha mãe? 
Hipérbole: ocorre quando há o uso de uma 
expressão exagerada, claramente simbólica. 
Exemplo em Niketche: “Não me responde. 
Segura-me pelo pulso e arrasta-me com a maior 
força do mundo.” (CHIZIANE, 2020, p. 193, grifo 
meu) → ajuda a potencializar o seu sofrimento. 
Personificação: ocorre características 
humanas são atribuídas a seres irracionais 
ou inanimados. 
Exemplo em Niketche: “Tenta abrir o chão 
para, se esconder, mas o chão o rejeita.” 
(CHIZIANE, 2020, p. 2833). 
Metáfora: é uma comparação subentendida: emprega-se um termo com significado de outro a partir 
da semelhança entre ambos. Exemplos em Niketche, várias definições de mulher: “A mulher é um 
peixe mutilado no fundo dos oceanos.” (CHIZIANE, 2020, p. 251). 
 
 
 
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• Estudos culturais. A obra é moçambicana, mas ela se lança ao universalismo, à medida que Rami 
fala por todas as mulheres do mundo. Ainda assim, ela expõe os contrastes e as diversidades 
sociais em seu país, especialmente acerca dos comportamentos sociais. 
 
NIKETCHE PERO VAZ DE CAMINHA – CARTA 
 Homem do sul quando vê mulher do norte 
perde a cabeça. Porque ela é linda, mutbiana 
orem. Porque sabe amar, sabe sorrire sabe 
agradar. Mulher do norte quando vê homem do 
sul perde a cabeça porque tem muita garra e tem 
dinheiro. O homem do norte também se encanta 
com a mulher do sul, porque é servil. A mulher do 
sul encanta-se como homem do norte, porque é 
mais suave, mais sensível, não agride. A mulher do 
sul é económica, não gasta nada, compra um 
vestido novo por ano. A nortenha gasta muito com 
rendas, com panos, com ouro, com cremes, 
porque tem que estar sempre bela. E a história da 
eterna inveja. O norte admirando o sul, o sul 
admirando o norte. Lógico. A voz popular diz que 
a mulher do vizinho é sempre melhor que a minha. 
 Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que 
lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam 
arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o 
batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que 
pousassem os arcos. E eles os pousaram. Ali não 
pôde deles haver fala, nem entendimento de 
proveito, por o mar quebrar na costa. Somente 
deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de 
linho que levava na cabeça e um sombreiro preto. 
 
 
4.0 QUADRO SINÓPTICO 
 
Prezados alunos, essa seção tem a finalidade de ajudá-los nos dias antes da prova. Trata-se de 
uma breve ficha de leitura com algumas informações essenciais, dignas de serem memorizadas. 
 
ESTRUTURA 
Romance moçambicano contemporâneo composto por 43 capítulos breves e 
fluidos. Sua prosa é caracterizada como poética, pelo forte teor metafórico, assim 
como em determinados momentos assume outras modalidades, como oração a 
uma divindade feminina, carta mental à mãe e discurso político. 
PERSONAGENS Rami, Tony, Ju, Luísa, Mauá, Saly, Eva, Vito, Levi. 
TEMPO 
Século XXI, o tempo preciso não é especificado no romance, mas várias alusões 
ao contemporâneo são abordadas, como alusão a carros, viagem de avião etc. 
ESPAÇO 
Moçambique contemporânea, de norte a sul. Tony é descrito como um marido 
nacional, já que suas amantes vêm dos lugares mais variados, provenientes dos 
mais diversos povos. 
CONFLITO 
Rami é uma narradora protagonista que, depois de 20 anos de casamento, 
descobre que o marido tem uma amante. Uma não, várias! Sofre uma derrota 
espiritual, por ela sentida como se fosse um luto. Cada vez mais que investiga o 
caso, descobre mais amantes. Em um primeiro momento, briga com elas, mas em 
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determinado momento passa a entende que não tem nada a lucrar com isso. 
Passa a se aproximar delas, tanto que revoluciona sua estrutura familiar, 
convidando-lhes a compor um ciclo polígamo. 
CLÍMAX 
Enquanto as amantes não eram assumidas, Tony se sentia muito melhor. A partir 
do momento em que a poligamia foi adotada, ele começa a sofrer com seus 
próprios fantasmas pessoais, pois se vê numa situação obrigado a encarar 
problemas familiares e traumas do passado, coisa com que não está muito 
acostumado, já que seu status sempre lhe permitiu se sentir superior. Forja uma 
viagem a Paris para fazer exames, quando no fundo encontra com mais uma das 
amantes, Gabi. Isso é tomado como um mal-entendido, pois Rami acha que o 
marido sofreu um acidente envolvendo um caminhão. Da situação mal explicada, 
por costumes culturais, ela se submete ao levirato com o irmão de Tony. Depois 
Tony volta e a narrativa passa por uma peripécia. Ele e se seu ciclo polígamo 
passam por crises, entendendo-se cada vez menos. 
DESFECHO 
Essa obra pode ser caracterizada como um Bildungsroman (romance de 
formação alemão), porque Rami se transforma no processo e também transforma 
a vida das outras amantes de seu próprio marido, pessoas que lhe admiram e 
passaram a respeitá-la. De humilhada, ela converte sua situação de passiva para 
ativa, pois a partir do levirato com o irmão de Tony, engravida. Assim como Tony 
tem várias amantes, Rami vai ter mais um filho, mas não é dele. Sua vingança não 
se dá pela guerra, mas sim pelo amor. 
 
5.0 GLOSSÁRIO 
 
Prezados alunos. 
Eu aproveitei um glossário dessa obra para vocês, pois o vocabulário desta obra pode não fazer 
parte da realidade de muitos de vocês, e, por isso, pode não ser compreensível. Isso porque se trata do 
português moçambicano, ou seja, com vários dialetos. 
Entendemos que se preparar adequadamente para a prova envolve um conhecimento prévio 
dessa nomenclatura, o que pode te ajudar a otimizar tempo. 
 
• Atnahê. expressão idiomática. 
• Cacana: gramínea alimentícia, de folhas amargas. 
• Canho-, fruta do canhoeiro. 
• Canhoeiro: árvore sagrada entre o povo ronga; nome 
• científico—Sclerocaria cafra. 
• Capulana: pano. 
• Changana: etnia do Sul de Moçambique 
• Chima: papas de farinha de milho. 
• Jamhalau: fruta semelhante à uva. 
• Kutchinga: levirato. 
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• Licaho: canivete mágico, de castidade. Feitiço de amor. 
• Loholo: dote. 
• Lulas (polvos, tunas, bicos de peru): nomes por que algumas mulheres designam os seus órgãos 
genitais alongados. 
• Machamha: campo. 
• Macbangana: uma das etnias tsonga. 
• Maconde: etnia da região Norte de Moçambique (Cabo 
• Delgado). 
• Macua: uma das etnias do Norte de Moçambique (Nampula). 
• Makanga (xithumwa, wasso-wasso, em diferentes línguas 
• moçambicanas): feitiço. 
• Massala: fruta esférica de casca dura. 
• Mbclclf. cerimónia para atrairá chuva. 
• Miidjiwa: alma de outro mundo. 
• Musiro: raiz com que se produz uma máscara de beleza. 
• Miithiana orem: mulher bonita. 
• Naparamas: comandos suicidas ''invulneráveis às 
• balas" (Norte de Moçambique). 
• Nbangana: folhas verdes de feijoeiro. 
• Niketche: dança de amor (Zambézia e Nampula). 
• Nkosikazi: primeira esposa. 
• Ntchuva: jogo semelhante ao xadrez. 
• Onrua vayi?: onde vais? 
• Ronga: uma das etnias do Sul de Moçambique (Maputo); 
• é também uma língua da mesma etnia. 
• Sena: etnia da região central de Moçambique (Sul da 
• Zambézia). 
• Sbona: etnia entre o Zimbabwe e Manica. 
• Soruma: cannabis. 
• Tchingar: praticar o levirato. 
• Tcbova: carro de tracção humana. 
• Timbila: marimba. 
• Tsonga: etnia do Sul de Moçambique. 
• Xamã: curandeiro. 
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• Xi-cbangana: referente aos changanas. 
• Xi-maconde. referente aos macondes. 
• Xingondo: nome pejorativo com que os habitantes do 
• Sul de Moçambique tratam os do Norte. 
• Xi-nyanja: referente à etnia nyanja. 
• Xi-ronga: referente à etnia ronga. 
• Xi-sena: referente à etnia sena. 
• Xilicjue. sistema tradicional de poupança. 
 
6.0 QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS 
 
Prezados alunos, eis algumas informações práticas antes de começarem. 
A aula de hoje abordou muitos tópicos essenciais para a sua compreensão de texto. Vamos trazer 
exercícios variados para a sua fixação. Então, vamos resolver questões das seguintes fontes: 
• No material de hoje só encontrarão questões autorais, especialmente de simulados anteriores. 
• Muitas das questões que envolvem obras obrigatórias são bem específicas. Como vocês vão 
observar, essas questões costuma cobrar verificação de leitura (detalhes). É a principal tipologia 
de questão envolvendo esse conteúdo. 
 
Para complementar seu estudo cada vez mais, vocês vão encontrar questões ao longo da teoria 
e no final dela, com e sem gabaritos. Além disso, também temos simulados inéditos e gratuitos 
todo fim de semana. Isso quer dizer que vamos focar bastante na prática! 
 
 
 
 
 
01. (UNICAMP/2022/1ª fase) 
 
Tudo na vida é mortal, tudo se apaga. Se a tua chama se apaga é em ti que está a falta. Faz o que 
te digo e magia nenhuma te derrubará nesta vida. Tu és feitiço por excelência e não deves procurar 
mais magia nenhuma. Corpo de mulher é magia. Força. Fraqueza. Salvação. Perdição. O universo inteiro 
cabe nas curvas de uma mulher. 
(Paulina Chiziane, Niketche: uma história de poligamia. SãoPaulo: Companhia das Letras, 2021. p. 38.) 
 
O excerto acima corresponde a uma das primeiras lições que a conselheira amorosa oferece a Rami, a 
personagem principal do romance. Tendo em vista as várias peripécias vividas por Rami, essa lição é 
a) aceita pela protagonista, mas sua trajetória lhe ensina que o corpo feminino é, no fim das contas, 
perdição. 
b) abandonada pela personagem principal, uma vez que seu marido não se encanta com seus novos ardis. 
c) frustrada, pois Rami, ao conhecer suas rivais, percebe que não possui todos os atributos desejáveis. 
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d) confrontada com a experiência pessoal de Rami e de suas rivais, transformando-as de modo 
significativo. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
02. (Estratégia Vestibulares 2021/1o Simulado UNICAMP 2022/Professora Luana Signorelli) 
 
Mulheres cansadas, usadas. Mulheres belas, mulheres feias. Mulheres novas, mulheres velhas. 
Mulheres vencidas na batalha do amor. Vivas por fora e mortas por dentro, eternas habitantes das 
trevas. Mas por que se foram embora os nossos maridos, por que nos abandonam depois de muitos 
nãos de convivência? Por que nos largam como trouxas, como fardos, para perseguir novas primaveras 
e novas paixões? Por que é que, já na velhice, criam novos apetites? Quem disse aos homens velhos 
que as mulheres maduras não precisam de carinho? Oh, meu Tony! Queria tanto que estivesses 
presente. Traz-me de novo a primavera. Onde andas tu, que não me ouves? 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 12). 
 
Nessa passagem, a personagem desabafa sobre o sentimento de amor, um tema central para a 
narrativa. A visão de amor não é idealizada. Dessa forma, assinale o excerto que apresenta noção 
semelhante à ideia de amor desenvolvida pela autora. 
a) "Olha aí, senhor Diretor. A imagem da mulher-objeto, como dizem as meninas lá do grupo feminista. 
Meninas inteligentes, cultas, quase todas de nível universitário. Mas, meus Céus, se ao menos fossem 
mais moderadas. Mais discretas. Reivindicar tanta coisa ao mesmo tempo, tanta mudança de repente não 
pode ser prejudicial?" (Lygia Fagundes Telles - Seminário dos Ratos). 
b) "O que Mãitina falava: era no atrapalho da linguagem dela, mas tudo ninar, de querer-bem, Miguilim 
pegava um sussú de consolo, fechou olhos para não facear com os dela, mas, quisesse, podia adormecer 
inteiro não tinha mais medo nenhum, ela falava a zúo, a zumbo, a linguagem dela era até bonita, ele 
entendia que era só de algum amor." (Guimarães Rosa - Campo geral). 
c) "Ele, com aquele hálito que tinha quando estava mudo de preocupação, o que dava a ela uma piedade 
pungente, sim, mesmo dentro de sua perfeição acordada, a piedade e o amor, ela super-humana e 
tranquila no seu isolamento brilhante, e ele, quando tímido, vinha visitá-la levando maçãs e uvas que a 
enfermeira com um levantar de ombros comia" (Clarice Lispector - Laços de família). 
d) "Na noite de uma quinta-feira, achavam-se algumas pessoas em minha casa, e muitas das minhas 
amigas, menos tu. Meu marido não tinha voltado, e a ausência dele não era notada nem sentida, visto 
que, apesar de franco cavalheiro como era, não tinha o dom particular de um conviva para tais reuniões" 
(Machado de Assis - Confissões de uma viúva moça). 
_____________________________________________________________________________________ 
 
03. (Estratégia Vestibulares 2021/3o Simulado UNICAMP 2022/Professora Luana Signorelli) Leia o 
trecho a seguir para responder à questão. 
 
– Ele também é meu. 
– Sabes o que significa ser mulher de um homem casado? É o mesmo que fazer filhos na sombra 
da outra mulher. É não ser reconhecida socialmente como esposa. É ser abandonada a qualquer 
momento, ser usada, ser trocada. Que futuro esperas tu? 
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– E a senhora, que presente tem? Lutar com rivais na rua, estar detida numa cela, era o futuro 
que esperava? 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 48). 
 
O diálogo apresenta a reação das personagens femininas ao incidente. Assinale a alternativa que 
justifica a fala final. 
a) Rami e Luísa entram em conflito e não conseguem se entender. A fala final evidencia o rancor que 
guarda a amante contra a esposa privilegiada. 
b) Tony é o guarda de polícia responsável por zelar pelas duas mulheres que disputam por ele e a última 
fala é o ataque direto em tom de zombaria de Julieta. 
c) Depois de um primeiro momento quando as mulheres entram em choque, ferindo-se gravemente, a 
segunda está em um leito de hospital demonstrando o seu deboche. 
d) Duas mulheres com condições sociais distintas em relação a um mesmo homem são detidas por 
perturbar a ordem pública, sendo que a amante aponta para a esposa a hipocrisia das convenções. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
04. (Estratégia Vestibulares 2021/3o Simulado UNICAMP 2022/Professora Luana Signorelli) Sobre o 
romance moçambicano contemporâneo "Niketche: uma história de poligamia", é INCORRETO afirmar 
que: 
a) É possível construir uma atitude de sororidade mesmo entre mulheres tão distintas, como as do Norte 
e as do Sul. 
b) Apesar de vanguardista, a obra encontra dificuldades em enfrentar certos tabus, como é o caso do 
sagrado feminino. 
c) Um dos principais motivos na falência de casamentos foi a desigualdade na educação sexual entre 
homens e mulheres. 
d) A protagonista chega a frequentar uma escola de amor em que aprende, mesmo na fase adulta, alguns 
importantes ritos de iniciação. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
05. (Estratégia Vestibulares 2021/4o Simulado UNICAMP 2022/Professora Luana Signorelli) O romance 
contemporâneo “Niketche: uma história de poligamia” reflete sobre o costume de um homem poder 
assumir para si várias mulheres. Como parte do lugar de fala feminino, o livro é importante por apontar 
várias desigualdades. Assinale o trecho em que tal crítica é evidenciada explicitamente. 
a) "No coração da noite residem os sonhos. Umas vezes são coloridos como as flores. Outras, pássaros 
negros dançando nas trevas como fantasmas. Anoitece, meu Deus, eu tenho pavor de uma cama fria. 
Encosto a cabeça no travesseiro e conto o número de vezes que morri. Resisto. Não consigo aceitar a ideia 
de ser rejeitada. Eu, Rami, mulher bela. Eu, mulher inteligente". 
b) "Tudo na vida é mortal, tudo se apaga. Se a tua chama se apaga é em ti que está a falta. Faz o que te 
digo e magia nenhuma te derrubará nesta vida. Tu és feitiço por excelência e não deves procurar mais 
magia nenhuma. Corpo de mulher é magia. Força. Fraqueza. Salvação. Perdição. O universo inteiro cabe 
nas curvas de uma mulher". 
c) "Este é o discurso típico das mulheres da minha terra, onde o homem é rei, senhor da vida e do mundo. 
Um mundo onde a mulher é couro. Couro de touro macio e muito bem curtido. Um mundo onde a mulher 
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é gémea do tambor, pois ambas soltam acordes espirituais, quando aquecidas e matraqueadas por mãos 
vigorosas e rústicas". 
d) "Mulher é a dor coletiva que cobre o mundo inteiro. É passado, presente e futuro, lugar e distância, 
ligados pelo mesmo grito. Em cada passo há uma mulher que se dá, para dar vida à vida. Em cada instante 
há uma mulher que se espalha como o vento, fertilizando os campos, paratransformar o planeta numa 
alcofa de rendas". 
_____________________________________________________________________________________ 
 
06. (Estratégia Vestibulares 2021/5o Simulado UNICAMP 2022/Professora Luana Signorelli) 
 
O ciclo de lobolos começou com a Ju. Foi com dinheiro e não com gado. Lobolou-se a mãe, com 
muito dinheiro, num lobolo-casamento. As crianças foram legalmente reconhecidas, mas não tinham 
sido apresentadas aos espíritos da família. Era preciso trazê-las do teto da mãe para a sombra do 
patriarcal num ato de lobolo perfilha, uma forma de legitimá-las uma vez que nasceram fora das regras 
de jogo de uma família polígama. Depois fez-se lobolo da Lu e dos filhos. As nortenhas espantaram-se. 
Essa história de lobolo era nova para elas. Queriam dizer não por ser contra os seus costumes culturais. 
Mas envolve dinheiro e muito dinheiro. Dinheiro para os pais, dinheiro para elas, e dinheiro para os 
filhos. Dinheiro que faz falta para comer, para viver, para investir. Quando se trata de benesses, 
qualquer cultura serve. 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 108). 
 
Quanto ao costume cultural sublinhado, depreende-se que: 
a) as relações humanas são inexoravelmente pecuniárias, sendo que as mulheres encontraram um meio 
de tirar vantagem. 
b) funciona como a manutenção do poder patriarcal, cuja supremacia priva a mulher de direitos, o que 
acaba por humilhá-la. 
c) o dinheiro dado à família pela perda que a mulher representa quando casa corrobora com a organização 
social polígama. 
d) é um hábito mantido ainda no contemporâneo, o que serve para segregar as mulheres nortenhas e 
sulistas em Moçambique. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
07. (Estratégia Vestibulares 2021/Último Simulado UNICAMP 2022/Professora Luana Signorelli) 
 
TEXTO I 
— Poligamia é para mulher preta, não é para as mulatas, não — tranquilizo-as. — Essa mulher 
só quer divertir-se à nossa custa, roubar-nos o Tony por uns tempos, comer-lhe o dinheiro e largá-lo 
quando estiver saciada. 
— As mulatas de terceira são pretas e não se imporia. Dizia que a amava? Dizia que era a mulher 
mais perfeita do mundo? Que era solteiro ou casado com uma só? 
 CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. 
 
TEXTO II 
Minha pele é meu quarto 
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minha pele é todos os cômodos 
onde me alimento 
onde deito finjo 
o mínimo conforto. 
minha pele é minha casa 
com as paredes descobertas 
uma falta de cuidado: 
necessita sempre mais 
para ser casa. 
minha pele não é um estado 
desgovernado. 
minha pele é um país 
embora distante demais 
para os meus braços 
embora eu sequer caminhe 
sobre seu território 
embora eu não domine 
sua linguagem. 
minha pele não é casca 
é um mapa: 
onde África ocupa 
todos os espaços: 
cabeça útero pés 
onde os mares são feitos de 
minhas lágrimas. 
minha pele é um mundo 
que não é só meu 
PRATES, Lubi. Um corpo negro. 2.ed. São Paulo: Nosostros Editorial, 2019 (p.53). 
 
Os textos em conjunto podem ser compreendidos como 
a) confluentes, mas com a diferença de que a primeira autora é brasileira ao passo que a segunda é 
moçambicana. 
b) complementares, acentuando o sofrimento marcado na dor de perder um parceiro para amantes no 
ciclo da poligamia. 
c) opostos, pois o primeiro texto fala do costume social da poligamia, ao passo que o segundo fala da 
escravidão. 
d) complementares, indicando que as relações de poder perpassam estigmas étnicos que regulam a 
sociedade. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
08. (Estratégia Vestibulares 2022/1o UNICAMP 2023/Professora Luana Signorelli) A partir do excerto, 
responda ao que se pede. 
 
De repente senti-me feliz. Realizada. Era bom, dirigir aquele encontro, para mim que nunca tinha 
dirigido nada na vida. Sentia-me primeira esposa, esposa grande, a mulher antiga, a rainha de todas as 
outras mulheres, verdadeira primeira-dama. Mas este termo, primeira-dama, não esconde vestígios de 
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poligamia antiga? Não há primeira sem segunda. Os reis tinham uma rainha só para inglês ver, e 
afogavam-se de prazer nas belas cortesãs, favoritas, nos haréns, concubinas e todas essas coisas. Quem 
inventou este termo e quem o usou primeiro? 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 91-92). 
 
Refletindo sobre o conceito de poligamia, o que guia toda a obra, a narradora Rami usa um provérbio 
popular. Nesse sentido, assinale a opção que apresentar expressão de sentido dissidente. 
a) Quem vê cara, não vê coração. 
b) Nem tudo é o que parece. 
c) Não julgue o livro pela capa. 
d) Cão que ladra não morde. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
09. (Estratégia Vestibulares 2022/2o UNICAMP 2023/Professora Luana Signorelli) Acerca do romance 
moçambicano Niketche, leia a crítica abaixo. 
 
O mundo do feitiço e dos mitos esteve sempre ligado ao comportamento sociocultural da maior 
parte dos intervenientes ativos na nova política social de Moçambique, embora de forma mais ou 
menos latente. 
LEITE, Ana Mafalda. Oralidades & escritas pós-coloniais: estudos sobre literaturas africanas. 
2. ed. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2020. (p. 197). 
 
Assinale a opção abaixo que NÃO pode ser considerada exemplo dessa afirmação. 
a) "Quando há pragas e doenças, a culpa é delas que sentaram no pilão, que abortaram às escondidas, 
que comeram o ovo e as moelas, que entraram nos campos nos momentos de impureza." 
b) "É o fim do amor. Da tirania. Da poligamia. Da desarmonia. Que o seu sangue adube este solo padrasto. 
Que a terra lhe dê o último descanso." 
c) "(...) as mulheres do mundo inteiro, uma vez por mês, apodrecem o corpo em chagas e ficam impuras, 
choram lágrimas de sangue, castigadas pela insubmissão de Vuyazi." 
d) "Afinal acabamos de descobrira poderosa arma secreta. Podemos usar a nossa nudez para assustá-lo, 
torturá-lo, arrepiá-lo até à medula e à medida da sua maldade." 
_____________________________________________________________________________________ 
 
10. (Estratégia Vestibulares 2022/3o UNICAMP 2023/Professora Luana Signorelli) A partir da leitura do 
trecho, responda à questão. 
 
A minha vida é um rio morto. No meu rio as águas pararam no tempo e aguardam que o destino 
traga a força do vento. No meu rio, os antepassados não dançam batuques nas noites de lua. Sou um 
rio sem alma, não sei se a perdi e nem sei se alguma vez tive uma. Sou um ser perdido, encerrado na 
solidão mortal. 
Meu Deus, ajuda-me a descobrir a alma e a força do meu rio. Para fazer as águas correr, os 
moinhos girar, a natureza vibrar. Para trazer ao meu leito a luz de todas as estrelas do firmamento e 
deixar o arco-íris mergulhar-me em toda a sua imensidão. 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 18). 
 
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Como pode melhor ser configurado o diálogo da narradora com Deus no excerto acima? 
a) Um apelo fervoroso para retomar a fé ortodoxa. 
b) Uma busca pelo autoconhecimento e superação de adversidades. 
c) Construção de uma identidade na qual pode se espelhar. 
d) Valorização da natureza como paraíso físico. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
11.(Estratégia Vestibulares 2021/Questão autoral/Professora Luana Signorelli) 
 
Mulheres belas, mulheres feias. Mulheres novas, mulheres velhas. Mulheres vencidas na 
batalha do amor. Vivas por fora e mortas por dentro, eternas habitantes das trevas. Mas por que se 
foram embora os nossos maridos, porque nos abandonam depois de muitos anos de convivência? Por 
que nos largam como trouxas, como fardos, para perseguir novas primaveras e novas paixões? Porque 
é que, já na velhice, criam novos apetites? Quem disse aos homens velhos que as mulheres maduras 
não precisam de carinho? Oh, meu Tony! Queria tanto que estivesses presente. Traz-me de novo a 
primavera. Onde andas tu, que não me ouves? 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 12). 
 
O lamento momentâneo de Rami se converte ao longo do romance numa trajetória de transformação 
e amadurecimento. Isso porque ela passa a entender 
a) a figura da mulher como um fluxo contínuo, cujo força reside na capacidade de adaptação. 
b) a resiliência como instrumento de empoderamento pessoal em detrimento de outras mulheres. 
c) hegemonia de sua família frente às outras amantes, apesar de gostar de alguma delas como amigas. 
d) superioridade em relação às suas rivais, que precisou combater para se afirmar na casa. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
12. (Estratégia Vestibulares 2021/Questão autoral/Professora Luana Signorelli) 
 
TEXTO I 
 Os primeiros habitantes do território moçambicano eram caçadores e coletos San, sendo 
substituídos no início do milênio por grupos Bantu vindos do norte. A "descoberta" da atual região de 
Moçambique por parte dos portugueses deu-se em 1498, iniciando a longa presença europeia no litoral 
africano. 
VISENTINI, Paulo Fagundes. As revoluções africanas: Angola, Moçambique e Etiópia. 
São Paulo: Editora da UNESP, 2012 (p. 89). 
 
TEXTO II 
Navego numa viagem ao tempo. Haréns com duas mil esposas. Régulos com quarenta mulheres. 
Esposas prometidas antes do nascimento. Contratos sociais. Alianças. Prostíbulos. Casamentos de 
conveniência. Venda das filhas para aumentar a fortuna dos pais e pagar dívidas de jogo. Escravatura 
sexual. 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 36). 
 
Contrastando os excertos, as raízes histórico-culturais sofridas pela protagonista no texto II se justifica 
pelo I porque: 
a) demonstram dificuldade de comunicação entre os povos. 
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b) já se mostram diferentes dos costumes dos colonizadores. 
c) ainda estão presos a paradigmas patriarcais do passado. 
d) contrastam veementemente com a tradição ancestral. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
13. (Estratégia Vestibulares 2021/Questão autoral/Professora Luana Signorelli) 
 
Até na bíblia a mulher não presta. Os santos, nas suas pregações antigas, dizem que a mulher 
nada vale, a mulher é um animal nutridor de maldade, fonte de todas as discussões, querelas e 
injustiças. É verdade. Se podemos ser trocadas, vendidas, torturadas, mortas, escravizadas, 
encurraladas em haréns como gado, é porque não fazemos falta nenhuma. Mas se não fazemos falta 
nenhuma, por que é que Deus nos colocou no mundo? E esse Deus, se existe, por que nos deixa sofrer 
assim? O pior de tudo é que Deus parece não ter mulher nenhuma. Se ele fosse casado, a deusa — sua 
esposa — intercederia por nós. Através dela pediríamos a bênção de uma vida de harmonia. Mas a 
deusa deve existir, penso. Deve ser tão invisível como todas nós. O seu espaço é, de certeza, a cozinha 
celestial. 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 36). 
 
Uma das lutas de Rami era contra a religião, pois 
a) durante muito tempo ela serviu como veículo de propagação e afirmação do privilégio masculino. 
b) se torna agnóstica, já que suas crenças antigas não condizem com seu novo modo de vida. 
c) atende aos conselhos das amigas, que lhe diziam para mudar de seita e buscar outra orientação. 
d) é um tabu entre os muitos que pretende abolir, inclusive por meio da educação laica. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
14. (Estratégia Vestibulares 2021/Questão autoral/Professora Luana Signorelli) 
 
Sou a única que não diz palavra nenhuma. Para quê? Tive quatro grandes traições no meu 
currículo conjugal. Mais uma, menos uma, que diferença me faz? Poligamia é destino de homem e 
castidade é destino de mulher Um homem mata para salvar a honra e é aplaudido. Uma mulher faz 
ciúmes e é condenada. Nesta coisa de fabricar homens à sua semelhança Deus falhou em alguma 
fórmula: Ele permanece solteiro e os homens polígamos. 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 113). 
 
A frieza com que Rami enxerga a situação é decorrência do fato de 
a) organização de um coletivo que luta pelos direitos equilibrados. 
b) adotar a castidade como forma de vingança contra o marido opressor. 
c) restituir a liberdade às mulheres que um dia se sentiram traídas e condenadas. 
d) aceitado o amor como instituição social, o que é passível de ser programado. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
15. (Estratégia Vestibulares 2021/Questão autoral/Professora Luana Signorelli) 
 
Mulher é maldição, mesmo vestida. Os caçadores de grandes feras interrompem a marcha para 
a grande caçada quando lhes bate o infortúnio de se cruzarem com uma mulher dirigindo-se ao 
trabalho. Mulher é também bênção. O grande tocador de timbila só se inspira e transmigra até ao além 
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quando a mulher se senta do seu lado, qual deusa, qual musa inspiradora. Muitos desportistas recebem 
a bênção da mulher nua, na partida para uma importante partida de futebol. As mulheres dançam nuas 
no lugar escondido no dia do funeral para abominar a morte. Mbeleleé dança de mulheres nuas para 
atrair a chuva. Dançar nua ao lado de um moribundo atrai a morte. 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 128). 
 
África é um substantivo feminino. No entanto, Rami também identifica o povo africano como pessoas 
que são acostumadas a usar tanga. Nesse sentido, a nudez incomoda porque representa 
a) um retorno ao estado original, o que causa ânsia frente ao desconhecido. 
b) um ato antimoral que perturba os costumes do povo que é tão religioso. 
c) uma afronta contra os costumes da família moçambicana do bem. 
d) uma denúncia da vulnerabilidade econômica já que não têm o que vestir. 
 
6.1 GABARITO 
 
 
 
 
01) D 
02) C 
03) D 
04) B 
05) C 
06) C 
07) D 
08) D 
09) B 
10) B 
11) A 
12) C 
13) A 
14) D 
15) A
7.0 QUESTÕES COM COMENTÁRIOS 
 
01. (UNICAMP/2022/1ª fase) 
 
Tudo na vida é mortal, tudo se apaga. Se a tua chama se apaga é em ti que está a falta. Faz o que 
te digo e magia nenhuma te derrubará nesta vida. Tu és feitiço por excelência e não deves procurar 
mais magia nenhuma. Corpo de mulher é magia. Força. Fraqueza. Salvação. Perdição. O universo inteiro 
cabe nas curvas de uma mulher. 
(Paulina Chiziane, Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 38.) 
 
O excerto acima corresponde a uma das primeiras lições que a conselheira amorosa oferece a Rami, a 
personagem principal do romance. Tendo em vista as várias peripécias vividas por Rami, essa lição é 
a) aceita pela protagonista, mas sua trajetória lhe ensinaque o corpo feminino é, no fim das contas, 
perdição. 
b) abandonada pela personagem principal, uma vez que seu marido não se encanta com seus novos ardis. 
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c) frustrada, pois Rami, ao conhecer suas rivais, percebe que não possui todos os atributos desejáveis. 
d) confrontada com a experiência pessoal de Rami e de suas rivais, transformando-as de modo 
significativo. 
Comentários 
Questão de interpretação de leitura/verificação de leitura. 
Alternativa A: incorreta. Cuidado com absolutismos. Não é perdição, porque o próprio corpo de 
Rami foi veículo da revolução pacífica, por meio de amor. Para se rebelar contra as tradições culturais 
arraigadas, ela usou a cultura a seu favor, permitindo ser kutchingada por Levi (praticou levirato com o 
irmão de seu marido, Tony), tendo engravidado dele. 
Alternativa B: incorreta. A partir do momento que sabe que seu marido há mais de 20 anos era 
polígamo, Rami sentiu-se traída. Em um primeiro momento, sente-se como se estivesse de luto, ao 
descobrir que ele tinha várias amantes. Porém, depois, em vez de tentar reconquistá-lo, aproxima-se das 
mulheres, formando um novo ciclo familiar. 
Alternativa C: incorreta. Niketche é a dança da afirmação da vida. Ao longo do romance, Rami 
percebe qualidades e defeitos em sua trajetória, mas o mais importante é aceitar-se e negar tudo o que 
a ela, durante toda uma vida de julgamentos e preconceitos, foi imposto. 
Alternativa D: correta – gabarito. Para esse romance moçambicano contemporâneo, a palavra-
chave é ressignificação. O amadurecimento e a superação são primeiramente vividos pela protagonista, 
que motiva as outras mulheres também, incluindo as amantes de Tony: Mauá; Julieta; Saly e Luísa. 
Gabarito: D. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
02. (Estratégia Vestibulares 2021/1o Simulado UNICAMP 2022/Professora Luana Signorelli) 
 
Mulheres cansadas, usadas. Mulheres belas, mulheres feias. Mulheres novas, mulheres velhas. 
Mulheres vencidas na batalha do amor. Vivas por fora e mortas por dentro, eternas habitantes das 
trevas. Mas por que se foram embora os nossos maridos, por que nos abandonam depois de muitos 
nãos de convivência? Por que nos largam como trouxas, como fardos, para perseguir novas primaveras 
e novas paixões? Por que é que, já na velhice, criam novos apetites? Quem disse aos homens velhos 
que as mulheres maduras não precisam de carinho? Oh, meu Tony! Queria tanto que estivesses 
presente. Traz-me de novo a primavera. Onde andas tu, que não me ouves? 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 12). 
 
Nessa passagem, a personagem desabafa sobre o sentimento de amor, um tema central para a 
narrativa. A visão de amor não é idealizada. Dessa forma, assinale o excerto que apresenta noção 
semelhante à ideia de amor desenvolvida pela autora. 
a) "Olha aí, senhor Diretor. A imagem da mulher-objeto, como dizem as meninas lá do grupo feminista. 
Meninas inteligentes, cultas, quase todas de nível universitário. Mas, meus Céus, se ao menos fossem 
mais moderadas. Mais discretas. Reivindicar tanta coisa ao mesmo tempo, tanta mudança de repente não 
pode ser prejudicial?" (Lygia Fagundes Telles - Seminário dos Ratos). 
b) "O que Mãitina falava: era no atrapalho da linguagem dela, mas tudo ninar, de querer-bem, Miguilim 
pegava um sussú de consolo, fechou olhos para não facear com os dela, mas, quisesse, podia adormecer 
inteiro não tinha mais medo nenhum, ela falava a zúo, a zumbo, a linguagem dela era até bonita, ele 
entendia que era só de algum amor." (Guimarães Rosa - Campo geral). 
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c) "Ele, com aquele hálito que tinha quando estava mudo de preocupação, o que dava a ela uma piedade 
pungente, sim, mesmo dentro de sua perfeição acordada, a piedade e o amor, ela super-humana e 
tranquila no seu isolamento brilhante, e ele, quando tímido, vinha visitá-la levando maçãs e uvas que a 
enfermeira com um levantar de ombros comia" (Clarice Lispector - Laços de família). 
d) "Na noite de uma quinta-feira, achavam-se algumas pessoas em minha casa, e muitas das minhas 
amigas, menos tu. Meu marido não tinha voltado, e a ausência dele não era notada nem sentida, visto 
que, apesar de franco cavalheiro como era, não tinha o dom particular de um conviva para tais reuniões" 
(Machado de Assis - Confissões de uma viúva moça). 
Comentários 
 Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de obras do repertório obrigatório e 
associação de trechos. A inspiração dessa questão foi a primeira fase do vestibular UNICAMP 2021. 
 Alternativa A: incorreta. Cuidado: também há crítica à desigualdade de gênero nesse excerto, mas 
não a visão do amor. Trata-se de um trecho do conto “As formigas”. 
 Alternativa B: incorreta. Nesse caso, o amor é sincero e idealizado, pois ele parte da visão infantil 
de Miguilim. 
 Alternativa C: correta – gabarito. Nesse trecho, há a desigualdade entre as formas como cada 
gênero encara um relacionamento: o homem sem seriedade e a mulher tendo que suportar tudo, ou ao 
menos se sentindo assim, o que se infere a partir do termo: “super-humana”. Trata-se de um trecho do 
conto “A imitação da rosa”. 
 Alternativa D: incorreta. Nesse trecho, a esposa constata a ausência do marido, mas ainda tenta 
defendê-lo. Ironicamente ou não, o fato é que ainda o chama de “franco”. Tampouco a ausência desse 
marido é notada. 
Gabarito: C. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
03. (Estratégia Vestibulares 2021/3o Simulado UNICAMP 2022/Professora Luana Signorelli) Leia o 
trecho a seguir para responder à questão. 
 
– Ele também é meu. 
– Sabes o que significa ser mulher de um homem casado? É o mesmo que fazer filhos na sombra 
da outra mulher. É não ser reconhecida socialmente como esposa. É ser abandonada a qualquer 
momento, ser usada, ser trocada. Que futuro esperas tu? 
– E a senhora, que presente tem? Lutar com rivais na rua, estar detida numa cela, era o futuro 
que esperava? 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 48). 
 
O diálogo apresenta a reação das personagens femininas ao incidente. Assinale a alternativa que 
justifica a fala final. 
a) Rami e Luísa entram em conflito e não conseguem se entender. A fala final evidencia o rancor que 
guarda a amante contra a esposa privilegiada. 
b) Tony é o guarda de polícia responsável por zelar pelas duas mulheres que disputam por ele e a última 
fala é o ataque direto em tom de zombaria de Julieta. 
c) Depois de um primeiro momento quando as mulheres entram em choque, ferindo-se gravemente, a 
segunda está em um leito de hospital demonstrando o seu deboche. 
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d) Duas mulheres com condições sociais distintas em relação a um mesmo homem são detidas por 
perturbar a ordem pública, sendo que a amante aponta para a esposa a hipocrisia das convenções. 
Comentários 
Questão de interpretação de texto literário/verificação de leitura. 
Alternativa A: incorreta. A amante não guarda rancor; pelo contrário, sente-se digna e contenta-
se com sua posição de amante, mostrando à Rami, que é a mulher de Tony, como que seu lugar social 
apresenta desvantagens. 
Alternativa B: incorreta. Tony ocupa uma profissão de importante status, mas ele não é o guarda 
de polícia. Inclusive, Rami tenta subordinar o guarda ao revelar que Tony seria na verdade seu superior.Além disso, Julieta é a primeira amante e Rami vai para a cadeia por causa de uma briga com a segunda 
amante, que é a Luísa. 
Alternativa C: incorreta. As mulheres estão numa cela e não em um hospital. 
Alternativa D: correta – gabarito. Rami é a esposa de Tony e Luísa é sua segunda amante. Ambas 
conhecem a primeira amante, que é Julieta. As mulheres confrontam-se em um primeiro momento, mas 
Rami acaba por engendrar uma jornada de autoconhecimento e é capaz de sentir sororidade pelas outras 
mulheres. Luísa abre os olhos de Rami para como que uma posição social não necessariamente é 
suficiente para manter uma relação afetiva. 
Gabarito: D. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
04. (Estratégia Vestibulares 2021/3o Simulado UNICAMP 2022/Professora Luana Signorelli) Sobre o 
romance moçambicano contemporâneo "Niketche: uma história de poligamia", é INCORRETO afirmar 
que: 
a) É possível construir uma atitude de sororidade mesmo entre mulheres tão distintas, como as do Norte 
e as do Sul. 
b) Apesar de vanguardista, a obra encontra dificuldades em enfrentar certos tabus, como é o caso do 
sagrado feminino. 
c) Um dos principais motivos na falência de casamentos foi a desigualdade na educação sexual entre 
homens e mulheres. 
d) A protagonista chega a frequentar uma escola de amor em que aprende, mesmo na fase adulta, alguns 
importantes ritos de iniciação. 
Comentários 
Questão de verificação de leitura. 
Alternativa A: correta. Em várias passagens, são contrapostas duas Moçambiques, pois o país 
apresenta muitas diferenças culturais de Norte a Sul. Em relação ao comportamento das mulheres, as do 
Norte se enfeitam mais, usam roupas coloridas e são mais amorosas, ao passo que as do Sul são mais 
pragmáticas e econômicas. 
Alternativa B: incorreta – gabarito. O livro não encontra tais dificuldades e vários tabus são 
enfrentados, como costumes sociais arraigados, perpassando por crenças religiosas. 
Alternativa C: correta. Uma das descobertas que Rami faz é que os homens são educados cultural 
e sexualmente diferentes das mulheres. Então, casais frequentemente encontram dificuldade na relação, 
pois não se encontram na mesma página do entendimento. 
Alternativa D: correta. Rami chega a ir em algumas aulas para aprender sobre o amor e descobre 
que, embora seja casada há vinte anos, precisa aprender muito ainda sobre sentimentos e relações. 
Gabarito: B. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
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05. (Estratégia Vestibulares 2021/4o Simulado UNICAMP 2022/Professora Luana Signorelli) O romance 
contemporâneo “Niketche: uma história de poligamia” reflete sobre o costume de um homem poder 
assumir para si várias mulheres. Como parte do lugar de fala feminino, o livro é importante por apontar 
várias desigualdades. Assinale o trecho em que tal crítica é evidenciada explicitamente. 
a) "No coração da noite residem os sonhos. Umas vezes são coloridos como as flores. Outras, pássaros 
negros dançando nas trevas como fantasmas. Anoitece, meu Deus, eu tenho pavor de uma cama fria. 
Encosto a cabeça no travesseiro e conto o número de vezes que morri. Resisto. Não consigo aceitar a ideia 
de ser rejeitada. Eu, Rami, mulher bela. Eu, mulher inteligente". 
b) "Tudo na vida é mortal, tudo se apaga. Se a tua chama se apaga é em ti que está a falta. Faz o que te 
digo e magia nenhuma te derrubará nesta vida. Tu és feitiço por excelência e não deves procurar mais 
magia nenhuma. Corpo de mulher é magia. Força. Fraqueza. Salvação. Perdição. O universo inteiro cabe 
nas curvas de uma mulher". 
c) "Este é o discurso típico das mulheres da minha terra, onde o homem é rei, senhor da vida e do mundo. 
Um mundo onde a mulher é couro. Couro de touro macio e muito bem curtido. Um mundo onde a mulher 
é gémea do tambor, pois ambas soltam acordes espirituais, quando aquecidas e matraqueadas por mãos 
vigorosas e rústicas". 
d) "Mulher é a dor coletiva que cobre o mundo inteiro. É passado, presente e futuro, lugar e distância, 
ligados pelo mesmo grito. Em cada passo há uma mulher que se dá, para dar vida à vida. Em cada instante 
há uma mulher que se espalha como o vento, fertilizando os campos, para transformar o planeta numa 
alcofa de rendas". 
Comentários 
Questão de interpretação de texto literário; verificação de leitura e identificação de trechos. 
Alternativa A: incorreta. Esse trecho é narrativo. A protagonista, Remi, analisa a sua situação e 
descreve seu estado de espírito. 
Alternativa B: incorreta. A partir do ponto de vista feminino, a protagonista investiga sua condição 
de mulher, muitas vezes, contraditória. 
Alternativa C: correta – gabarito. Nesse trecho, a personagem chega à conclusão de como as 
crenças culturais são perpetradas, até mesmo pela própria mentalidade feminina. Segundo sua 
concepção, a mulher é animalizada e inferiorizada. 
Alternativa D: incorreta. Em tom pessimista, a protagonista generaliza a sua dor individual à dor 
feminina como um todo. 
Gabarito: C. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
06. (Estratégia Vestibulares 2021/5o Simulado UNICAMP 2022/Professora Luana Signorelli) 
 
O ciclo de lobolos começou com a Ju. Foi com dinheiro e não com gado. Lobolou-se a mãe, com 
muito dinheiro, num lobolo-casamento. As crianças foram legalmente reconhecidas, mas não tinham 
sido apresentadas aos espíritos da família. Era preciso trazê-las do teto da mãe para a sombra do 
patriarcal num ato de lobolo perfilha, uma forma de legitimá-las uma vez que nasceram fora das regras 
de jogo de uma família polígama. Depois fez-se lobolo da Lu e dos filhos. As nortenhas espantaram-se. 
Essa história de lobolo era nova para elas. Queriam dizer não por ser contra os seus costumes culturais. 
Mas envolve dinheiro e muito dinheiro. Dinheiro para os pais, dinheiro para elas, e dinheiro para os 
filhos. Dinheiro que faz falta para comer, para viver, para investir. Quando se trata de benesses, 
qualquer cultura serve. 
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CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 108). 
 
Quanto ao costume cultural sublinhado, depreende-se que: 
a) as relações humanas são inexoravelmente pecuniárias, sendo que as mulheres encontraram um meio 
de tirar vantagem. 
b) funciona como a manutenção do poder patriarcal, cuja supremacia priva a mulher de direitos, o que 
acaba por humilhá-la. 
c) o dinheiro dado à família pela perda que a mulher representa quando casa corrobora com a organização 
social polígama. 
d) é um hábito mantido ainda no contemporâneo, o que serve para segregar as mulheres nortenhas e 
sulistas em Moçambique. 
Comentários 
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do contexto histórico. 
Alternativa A: incorreta. Não inexoravelmente (inelutavelmente). 
Alternativa B: incorreta. O trecho em particular não aborda humilhação. 
Alternativa C: correta – gabarito. O lobolo é um costume cultivado até hoje no Sul de Moçambique. 
Segundo esta tradição, a família da noiva recebe dinheiro pela perda que representa o seu casamento e 
a ida para outra casa. Muitas vezes, é esperado até mais do que o casamento. Acaba por reforçar o sistema 
polígamo, uma vez que fornece assistência para as famílias. 
Alternativa D: incorreta. Não segrega. No caso, a cerimônia de lobolo permitiu com que as 
mulheres se unissem. 
Gabarito: C. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
07. (Estratégia Vestibulares 2021/Último Simulado UNICAMP 2022/Professora LuanaSignorelli) 
 
TEXTO I 
— Poligamia é para mulher preta, não é para as mulatas, não — tranquilizo-as. — Essa mulher 
só quer divertir-se à nossa custa, roubar-nos o Tony por uns tempos, comer-lhe o dinheiro e largá-lo 
quando estiver saciada. 
— As mulatas de terceira são pretas e não se imporia. Dizia que a amava? Dizia que era a mulher 
mais perfeita do mundo? Que era solteiro ou casado com uma só? 
 CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. 
 
TEXTO II 
Minha pele é meu quarto 
minha pele é todos os cômodos 
onde me alimento 
onde deito finjo 
o mínimo conforto. 
minha pele é minha casa 
com as paredes descobertas 
uma falta de cuidado: 
necessita sempre mais 
para ser casa. 
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minha pele não é um estado 
desgovernado. 
minha pele é um país 
embora distante demais 
para os meus braços 
embora eu sequer caminhe 
sobre seu território 
embora eu não domine 
sua linguagem. 
minha pele não é casca 
é um mapa: 
onde África ocupa 
todos os espaços: 
cabeça útero pés 
onde os mares são feitos de 
minhas lágrimas. 
minha pele é um mundo 
que não é só meu 
PRATES, Lubi. Um corpo negro. 2.ed. São Paulo: Nosostros Editorial, 2019 (p.53). 
 
Os textos em conjunto podem ser compreendidos como 
a) confluentes, mas com a diferença de que a primeira autora é brasileira ao passo que a segunda é 
moçambicana. 
b) complementares, acentuando o sofrimento marcado na dor de perder um parceiro para amantes no 
ciclo da poligamia. 
c) opostos, pois o primeiro texto fala do costume social da poligamia, ao passo que o segundo fala da 
escravidão. 
d) complementares, indicando que as relações de poder perpassam estigmas étnicos que regulam a 
sociedade. 
Comentários 
Questão de interpretação de texto literário/literatura comparada. 
Alternativa A: incorreta. Cuidado: é o contrário. Paulina Chiziane, autora do primeiro texto, é 
moçambicana e Lubi Prates, autora do segundo texto, é brasileira. 
Alternativa B: incorreta. Essa é informação é válida apenas para o primeiro texto. 
Alternativa C: incorreta. Falam mesmo dessas temáticas, mas não são de todo opostos. 
Alternativa D: correta – gabarito. Tanto as amantes no primeiro texto quanto o eu lírico do poema 
passaram por algum tipo de sofrimento em decorrência de estigmas étnicos. 
Gabarito: D. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
08. (Estratégia Vestibulares 2022/1o UNICAMP 2023/Professora Luana Signorelli) A partir do excerto, 
responda ao que se pede. 
 
De repente senti-me feliz. Realizada. Era bom, dirigir aquele encontro, para mim que nunca tinha 
dirigido nada na vida. Sentia-me primeira esposa, esposa grande, a mulher antiga, a rainha de todas as 
outras mulheres, verdadeira primeira-dama. Mas este termo, primeira-dama, não esconde vestígios de 
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poligamia antiga? Não há primeira sem segunda. Os reis tinham uma rainha só para inglês ver, e 
afogavam-se de prazer nas belas cortesãs, favoritas, nos haréns, concubinas e todas essas coisas. Quem 
inventou este termo e quem o usou primeiro? 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 91-92). 
 
Refletindo sobre o conceito de poligamia, o que guia toda a obra, a narradora Rami usa um provérbio 
popular. Nesse sentido, assinale a opção que apresentar expressão de sentido dissidente. 
a) Quem vê cara, não vê coração. 
b) Nem tudo é o que parece. 
c) Não julgue o livro pela capa. 
d) Cão que ladra não morde. 
Comentários 
 Questão de interpretação de texto literário/conhecimento ditados populares. 
 Alternativa A: correta. O ditado fala sobre não julgar pelas aparências. No trecho de Niketche, a 
narradora constata que o fato de o rei apresentar uma única rainha é só por aparências para a sociedade, 
porque, no íntimo, mantém concubinas. 
 Alternativa B: correta. Esse provérbio é sobre ter cuidado com as aparências e não se deixar 
enganar por elas. Os reis viviam uma vida de prazer e outra de moralismo para a sociedade. 
 Alternativa C: correta. Os reis não são só pessoas de “status” cuja aparência deve ser preservada; 
são homens cujo desejo precisa ser alimentado. 
 Alternativa D: incorreta – gabarito. Nem todas as pessoas que ameaçam, de fato, concretizam suas 
promessas. Como é um ditado que não tem a ver com aparências, não dialoga com aquele usado pela 
narradora Rami no romance de Niketche. 
Gabarito: D. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
09. (Estratégia Vestibulares 2022/2o UNICAMP 2023/Professora Luana Signorelli) Acerca do romance 
moçambicano Niketche, leia a crítica abaixo. 
 
O mundo do feitiço e dos mitos esteve sempre ligado ao comportamento sociocultural da maior 
parte dos intervenientes ativos na nova política social de Moçambique, embora de forma mais ou 
menos latente. 
LEITE, Ana Mafalda. Oralidades & escritas pós-coloniais: estudos sobre literaturas africanas. 
2. ed. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2020. (p. 197). 
 
Assinale a opção abaixo que NÃO pode ser considerada exemplo dessa afirmação. 
a) "Quando há pragas e doenças, a culpa é delas que sentaram no pilão, que abortaram às escondidas, 
que comeram o ovo e as moelas, que entraram nos campos nos momentos de impureza." 
b) "É o fim do amor. Da tirania. Da poligamia. Da desarmonia. Que o seu sangue adube este solo padrasto. 
Que a terra lhe dê o último descanso." 
c) "(...) as mulheres do mundo inteiro, uma vez por mês, apodrecem o corpo em chagas e ficam impuras, 
choram lágrimas de sangue, castigadas pela insubmissão de Vuyazi." 
d) "Afinal acabamos de descobrira poderosa arma secreta. Podemos usar a nossa nudez para assustá-lo, 
torturá-lo, arrepiá-lo até à medula e à medida da sua maldade." 
 
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Comentários 
 Questão de crítica literária/identificação de trechos. 
 Alternativa A: correta. Acreditava-se que a moela era uma das melhores partes da galinha e 
necessariamente era para ser oferecida para homens, para lhes dar força. 
 Alternativa B: incorreta – gabarito. Não é um trecho que apresenta nenhum misticismo, nem na 
menção à terra. 
 Alternativa C: correta. Essa é a explicação mítica para a menstruação da mulher. 
 Alternativa D: correta. Acreditava-se que a nudez tinha um efeito de causar maus presságios para 
quem a visse. 
Gabarito: B. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
10. (Estratégia Vestibulares 2022/3o UNICAMP 2023/Professora Luana Signorelli) A partir da leitura do 
trecho, responda à questão. 
 
A minha vida é um rio morto. No meu rio as águas pararam no tempo e aguardam que o destino 
traga a força do vento. No meu rio, os antepassados não dançam batuques nas noites de lua. Sou um 
rio sem alma, não sei se a perdi e nem sei se alguma vez tive uma. Sou um ser perdido, encerrado na 
solidão mortal. 
Meu Deus, ajuda-me a descobrir a alma e a força do meu rio. Para fazer as águas correr, os 
moinhos girar, a natureza vibrar. Para trazer ao meu leito a luz de todas as estrelas do firmamento e 
deixar o arco-íris mergulhar-me em toda a sua imensidão. 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 18). 
 
Como pode melhor ser configurado o diálogo da narradora com Deus no excerto acima? 
a) Um apelo fervoroso para retomar a fé ortodoxa. 
b) Uma busca pelo autoconhecimento e superação de adversidades. 
c) Construçãode uma identidade na qual pode se espelhar. 
d) Valorização da natureza como paraíso físico. 
Comentários 
 Questão de interpretação de texto literário/verificação de leitura. 
 Alternativa A: incorreta. Em vários outros momentos, Rami critica a religião. Chega a apelar para 
uma deusa mulher, com quem se identifica. 
 Alternativa B: correta – gabarito. O ato de mergulhar em si mesma é o que traria paz à Rami. 
 Alternativa C: incorreta. Rami precisa se concentrar em si mesma. 
 Alternativa D: incorreta. A natureza é mencionada metaforicamente. 
Gabarito: B. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
11. (Estratégia Vestibulares 2021/Questão autoral/Professora Luana Signorelli) 
 
Mulheres belas, mulheres feias. Mulheres novas, mulheres velhas. Mulheres vencidas na 
batalha do amor. Vivas por fora e mortas por dentro, eternas habitantes das trevas. Mas por que se 
foram embora os nossos maridos, porque nos abandonam depois de muitos anos de convivência? Por 
que nos largam como trouxas, como fardos, para perseguir novas primaveras e novas paixões? Porque 
é que, já na velhice, criam novos apetites? Quem disse aos homens velhos que as mulheres maduras 
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não precisam de carinho? Oh, meu Tony! Queria tanto que estivesses presente. Traz-me de novo a 
primavera. Onde andas tu, que não me ouves? 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 12). 
 
O lamento momentâneo de Rami se converte ao longo do romance numa trajetória de transformação 
e amadurecimento. Isso porque ela passa a entender 
a) a figura da mulher como um fluxo contínuo, cujo força reside na capacidade de adaptação. 
b) a resiliência como instrumento de empoderamento pessoal em detrimento de outras mulheres. 
c) hegemonia de sua família frente às outras amantes, apesar de gostar de alguma delas como amigas. 
d) superioridade em relação às suas rivais, que precisou combater para se afirmar na casa. 
Comentários 
Questão de verificação de leitura. 
Alternativa A: correta – gabarito. Além do espelho, outra imagem importante no livro é a da água. 
A figura da mulher é associada à fluidez, a partir da qual extrai sua força. 
Alternativa B: incorreta. Uma das mensagens do livro é a da sororidade contra a rivalidade 
feminina (um senso comum). 
Alternativa C: incorreta. Ela acolhe as outras famílias e administra o círculo polígamo. 
Alternativa D: incorreta. Rami passa a entender que se se aproximar de suas rivais tem mais a 
lucrar. 
Gabarito: A. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
12. (Estratégia Vestibulares 2021/Questão autoral/Professora Luana Signorelli) 
 
TEXTO I 
 Os primeiros habitantes do território moçambicano eram caçadores e coletos San, sendo 
substituídos no início do milênio por grupos Bantu vindos do norte. A "descoberta" da atual região de 
Moçambique por parte dos portugueses deu-se em 1498, iniciando a longa presença europeia no litoral 
africano. 
VISENTINI, Paulo Fagundes. As revoluções africanas: Angola, Moçambique e Etiópia. 
São Paulo: Editora da UNESP, 2012 (p. 89). 
 
TEXTO II 
Navego numa viagem ao tempo. Haréns com duas mil esposas. Régulos com quarenta mulheres. 
Esposas prometidas antes do nascimento. Contratos sociais. Alianças. Prostíbulos. Casamentos de 
conveniência. Venda das filhas para aumentar a fortuna dos pais e pagar dívidas de jogo. Escravatura 
sexual. 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 36). 
 
Contrastando os excertos, as raízes histórico-culturais sofridas pela protagonista no texto II se justifica 
pelo I porque: 
a) demonstram dificuldade de comunicação entre os povos. 
b) já se mostram diferentes dos costumes dos colonizadores. 
c) ainda estão presos a paradigmas patriarcais do passado. 
d) contrastam veementemente com a tradição ancestral. 
Comentários 
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Questão de literatura comparada/interpretação de texto literário. 
Alternativa A: incorreta. Não é essa a dificuldade da narradora. 
Alternativa B: incorreta. Não diferentes, pois a prática do harém é milenar. 
Alternativa C: correta – gabarito. Porque os povos nativos moçambicanos eram caçadores, ao 
longo de toda uma história secular transmitiu-se a noção de que o direito deveria ser patriarcal e 
masculino, inclusive, o direito ao sexo. 
Alternativa D: incorreta. Não contestam. 
Gabarito: C. 
_____________________________________________________________________________________ 
 
13. (Estratégia Vestibulares 2021/Questão autoral/Professora Luana Signorelli) 
 
Até na bíblia a mulher não presta. Os santos, nas suas pregações antigas, dizem que a mulher 
nada vale, a mulher é um animal nutridor de maldade, fonte de todas as discussões, querelas e 
injustiças. É verdade. Se podemos ser trocadas, vendidas, torturadas, mortas, escravizadas, 
encurraladas em haréns como gado, é porque não fazemos falta nenhuma. Mas se não fazemos falta 
nenhuma, por que é que Deus nos colocou no mundo? E esse Deus, se existe, por que nos deixa sofrer 
assim? O pior de tudo é que Deus parece não ter mulher nenhuma. Se ele fosse casado, a deusa — sua 
esposa — intercederia por nós. Através dela pediríamos a bênção de uma vida de harmonia. Mas a 
deusa deve existir, penso. Deve ser tão invisível como todas nós. O seu espaço é, de certeza, a cozinha 
celestial. 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 36). 
 
Uma das lutas de Rami era contra a religião, pois 
a) durante muito tempo ela serviu como veículo de propagação e afirmação do privilégio masculino. 
b) se torna agnóstica, já que suas crenças antigas não condizem com seu novo modo de vida. 
c) atende aos conselhos das amigas, que lhe diziam para mudar de seita e buscar outra orientação. 
d) é um tabu entre os muitos que pretende abolir, inclusive por meio da educação laica. 
Comentários 
Questão de interpretação de texto literário. 
Alternativa A: correta – gabarito. Não é exatamente intolerância religiosa, mas sim um 
entendimento de que os preceitos religiosos nem sempre atendem aos interesses e direitos das mulheres; 
pelo contrário, durante muito tempo foram contra, servindo para manter a diferença de gênero. 
Alternativa B: incorreta. Ela não perde suas crenças, apenas se torna cética. 
Alternativa C: incorreta. Não muda de seita. 
Alternativa D: incorreta. A religião não é um tabu. Como Moçambique é conhecida pelo seu 
trânsito cultural, lá há várias religiões. 
Gabarito: A. 
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14. (Estratégia Vestibulares 2021/Questão autoral/Professora Luana Signorelli) 
 
Sou a única que não diz palavra nenhuma. Para quê? Tive quatro grandes traições no meu 
currículo conjugal. Mais uma, menos uma, que diferença me faz? Poligamia é destino de homem e 
castidade é destino de mulher Um homem mata para salvar a honra e é aplaudido. Uma mulher faz 
ciúmes e é condenada. Nesta coisa de fabricar homens à sua semelhança Deus falhou em alguma 
fórmula: Ele permanece solteiro e os homens polígamos. 
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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: PAULINA CHIZIANE – NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 62 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 113). 
 
A frieza com que Rami enxerga a situação é decorrência do fato de 
a) organização de um coletivo que luta pelos direitos equilibrados. 
b) adotar a castidade comoforma de vingança contra o marido opressor. 
c) restituir a liberdade às mulheres que um dia se sentiram traídas e condenadas. 
d) aceitado o amor como instituição social, o que é passível de ser programado. 
Comentários 
Questão de interpretação de texto literário. 
Alternativa A: incorreta. Não é uma luta, mas uma constatação. 
Alternativa B: incorreta. Não, porque ela mantém relações por fora do casamento, com Vito e 
depois Levi. 
Alternativa C: incorreta. Não é uma heroína porque quer, mas inspira pelos seus atos. 
Alternativa D: correta – gabarito. Programático e esquemático como a escala conjugal. 
Gabarito: D. 
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15. (Estratégia Vestibulares 2021/Questão autoral/Professora Luana Signorelli) 
 
Mulher é maldição, mesmo vestida. Os caçadores de grandes feras interrompem a marcha para 
a grande caçada quando lhes bate o infortúnio de se cruzarem com uma mulher dirigindo-se ao 
trabalho. Mulher é também bênção. O grande tocador de timbila só se inspira e transmigra até ao além 
quando a mulher se senta do seu lado, qual deusa, qual musa inspiradora. Muitos desportistas recebem 
a bênção da mulher nua, na partida para uma importante partida de futebol. As mulheres dançam nuas 
no lugar escondido no dia do funeral para abominar a morte. Mbeleleé dança de mulheres nuas para 
atrair a chuva. Dançar nua ao lado de um moribundo atrai a morte. 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p. 128). 
 
África é um substantivo feminino. No entanto, Rami também identifica o povo africano como pessoas 
que são acostumadas a usar tanga. Nesse sentido, a nudez incomoda porque representa 
a) um retorno ao estado original, o que causa ânsia frente ao desconhecido. 
b) um ato antimoral que perturba os costumes do povo que é tão religioso. 
c) uma afronta contra os costumes da família moçambicana do bem. 
d) uma denúncia da vulnerabilidade econômica já que não têm o que vestir. 
Comentários 
Questão de interpretação de texto literário/verificação de leitura. 
Alternativa A: correta – gabarito. Todos nascemos nus, mas ao longo da vida a nudez incomoda, 
porque a sociedade nos impõe costumes pudicos. De todas as nudezes, é a feminina mais impactante. 
Alternativa B: incorreta. Não necessariamente. 
Alternativa C: incorreta. Não é uma crítica contra a família. 
Alternativa D: incorreta. As mulheres de Tony começam a trabalhar e ganham bem. Ficam nua 
para ele para afrontá-lo. 
Gabarito: A. 
 
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 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: PAULINA CHIZIANE – NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 63 
8.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
CAMINHA, Pero Vaz de. Carta de Achamento a el-rei D. Manuel I. Fonte: Domínio Público: Disponível em: 
https://tinyurl.com/zr8ddzsk. Acesso em: 12 set. 2021. 
CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. 
DICIONÁRIO eletrônico Aulete. Disponível em: https://www.aulete.com.br/. Acesso em: 13 set. 2021. 
EVARISTO, Conceição. Olhos d´água. Rio de Janeiro: Pallas, 2014. 
HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: 
Bazar do Tempo, 2020. 
JUNIOR, Benjamin Abdala; SILVA, Rejane Vecchia Rocha (Orgs.). Literatura e memória política: Angola. 
Brasil. Moçambique. Portugal. São Paulo: Ateliê Editorial, 2015 (Coleção Estudos Literários). 
LEITE, Ana Mafalda. Paulina Chiziane: romance de costumes, histórias morais. In: Oralidades e Escritas 
Pós-Coloniais. 2. ed. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2020 (p. 197-211). 
TAVARES, Hênio. Teoria literária. Belo Horizonte: Itatiaia, 2002. 
VISENTINI, Paulo Fagundes. As revoluções africanas: Angola, Moçambique e Etiópia. São Paulo: Editora 
da UNESP, 2012. 
 
9.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
 
 
 
 
 
Eu me coloco à disposição de vocês para sanar eventuais dúvidas. 
Tenho a meta de responder ao Fórum de Dúvidas, com a qualidade e profundidade exigidas, assim 
como podem me encontrar em redes sociais. E agora também temos Sala VIP. 
 
 
 
Versão Data Modificações Professora 
1 21/05/2022 Entrega da primeira versão do texto. Luana Signorelli 
 
 
 
 
 
 
 
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 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: PAULINA CHIZIANE – NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA 64 
Professora Luana Signorelli 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Signorelli 
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