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MEDICINA - CADERNO 2-087-088

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AULA 10 Figuras de linguagem ligadas aos aspectos sintáticos 87
 y Monopólio exclusivo;
 y Breve alocução; 
 y Principal protagonista; 
 y Ganhe outro grátis;
 y Criar um novo;
 y Encarei frente a frente.
Polissíndeto
Trata-se da repetição de uma conjunção coordenativa.
E se perder e se achar e tudo aquilo que é viver
Gonzaguinha. “Explode coração”.
Assíndeto
Ocorre assíndeto quando temos uma sucessão de 
coordenadas assindéticas.
Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a 
pouco, todas quatro, pegando-se, apartando-se, fundindo-se.
Machado de Assis. Dom Casmurro.
Elipse 
A elipse ocorre quando se omite uma palavra (ou 
expressão). 
Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias coloridas.
Rubem Braga. A cidade e a roça e três primitivos.
Elipse do pronome ela (Ela veio) e da preposição de 
(de sandálias). 
No mar, tanta tormenta e tanto dano.
Luís Vaz de Camões. Os Lusíadas.
Elipse do verbo haver (no mar há tanta...). 
Zeugma
Ocorre zeugma quando um termo já expresso na frase 
é suprimido, ficando subentendida sua repetição. 
Foi saqueada a vila, e assassinados os partidários dos 
Filipes. (...foram...)
Camilo Castelo Branco. O senhor do paço de Ninães.
Ela gosta de história; eu, de física. (...gosto...)
Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa de que importa? 
(...ser...)
Gregório de Matos. “Desenganos da vida humana, metaforicamente“.
Obs.: Trata-se de um tipo de elipse.
Quiasmo
Há quiasmo quando o que está na primeira po sição 
vai para a segunda, e o que está na segunda posição vai 
para a primeira. 
A voz do silêncio é o silêncio da voz.
Apóstrofe
Trata-se de um chamamento do receptor da mensa-
gem, real ou não; para obter o apóstrofe, o autor emprega 
o vocativo.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Álvaro de Campos [heterônimo de Fernando Pessoa]. “Ode triunfal”.
Exercícios de sala
 Leia o excerto do “Sermão de Santo Antônio aos peixes” de Antônio Vieira (1608-1697) para responder à questão. 
A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a 
circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. [...] Santo 
Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego 
aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens. Olhai, peixes, lá do mar para a terra. 
Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que 
haveis de olhar. Cuidais que só os tapuias se comem uns aos outros, muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem 
os brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas: vedes 
aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem bus-
cando os homens como hão de comer, e como se hão de comer.
[...]
Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, senão declaradamente a sua plebe: Plebem meam, porque a plebe 
e os plebeus, que são os mais pequenos, os que menos podem, e os que menos avultam na república, estes são os comidos. 
E não só diz que os comem de qualquer modo, senão que os engolem e os devoram: Qui devorant. Porque os grandes que 
têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, poucos a pou-
cos, senão que devoram e engolem os povos inteiros: Qui devorant plebem meam. E de que modo se devoram e comem? 
Ut cibum panis: não como os outros comeres, senão como pão. A diferença que há entre o pão e os outros comeres é que, 
para a carne, há dias de carne, e para o peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses no ano; porém o pão é comer 
de todos os dias, que sempre e continuadamente se come: e isto é o que padecem os pequenos. São o pão cotidiano dos 
grandes: e assim como pão se come com tudo, assim com tudo, e em tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo, 
nem fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, 
traguem e devorem: Qui devorant plebem meam, ut cibum panis. Parece-vos bem isto, peixes? 
(Antônio Vieira. Essencial, 2011.)
MED_2021_L2_INT_FU.INDD / 16-12-2020 (19:10) / EXT.DIAGRAMACAO.02 / PROVA FINAL MED_2021_L2_INT_FU.INDD / 16-12-2020 (19:10) / EXT.DIAGRAMACAO.02 / PROVA FINAL
Interpretação de texto AULA 10 Figuras de linguagem ligadas aos aspectos sintáticos88
1 Unifesp 2016 “Diz Deus que comem os homens não 
só seu povo, senão declaradamente a sua plebe” 
(2o parágrafo)
Reescrito em ordem direta, tal trecho assume a se-
guinte forma:
a Deus diz que os homens, senão declaradamente a 
sua plebe, comem não só o seu povo. 
b Diz Deus que os homens comem não só o seu 
povo, senão declaradamente a sua plebe. 
c Deus diz que os homens comem não só o seu 
povo, senão a sua plebe declaradamente. 
d Os homens comem não só o seu povo, senão a sua 
plebe declaradamente, diz Deus. 
e Os homens comem não só o seu povo, diz Deus, 
senão declaradamente a sua plebe.
2 Unifesp 2018 Leia o soneto “Aquela triste e leda ma-
drugada”, do escritor português Luís de Camões 
(1525?-1580), para responder à questão.
Aquela triste e leda madrugada, 
cheia toda de mágoa e de piedade, 
enquanto houver no mundo saudade 
quero que seja sempre celebrada. 
Ela só, quando amena e marchetada saía, 
dando ao mundo claridade, 
viu apartar-se de uma outra vontade, 
que nunca poderá ver-se apartada. 
Ela só viu as lágrimas em fio que, 
de uns e de outros olhos derivadas, 
se acrescentaram em grande e largo rio. 
Ela viu as palavras magoadas 
que puderam tornar o fogo frio, 
e dar descanso às almas condenadas.
(Sonetos, 2001.)
Observa-se a elipse (supressão) do termo “vontade” 
no verso:
a “viu apartar-se de uma outra vontade,” (2ª estrofe) 
b “cheia toda de mágoa e de piedade,” (1ª estrofe) 
c “quero que seja sempre celebrada.” (1ª estrofe) 
d “Ela só viu as lágrimas em fio” (3ª estrofe) 
e “que puderam tornar o fogo frio,” (4ª estrofe)
 Texto para a questão 3.
Ser como todo mundo?
(Roberto DaMatta*)
Uma palavra resume a crise brasileira: a igualdade. 
Conforme tenho salientado no meu trabalho e nesta co-
luna, o Brasil não tem problemas com a desigualdade. Ele 
ama de paixão as hierarquias e as gradações que estão em 
toda parte. Em nossas leis sobram privilégios, penachos, 
recursos, isenções... 
Nossa formação nacional teve no escravismo, no 
patrimonialismo aristocrático e no compadrio das casas-
-grandes e nos grandes apartamentos dos “bairros nobres” 
de nossas cidades o seu centro e razão. Não é fácil ser 
igualitário com essa folha corrida. 
Sempre fomos dinamizados por elos pessoais ofi-
cializados e legais. Nosso projeto de vida funda-se no 
arrumar-se e no “subir na vida”. Alcançar o baronato — ser 
alguém —, “virar famoso” e, do alto da sua celebrização, 
ter direito a fazer tudo sem ser molestado pelo bando de 
caretas que, infelizmente, não são como nós. 
Saber com certeza quem é quem, mapear com pre-
cisão genealogias familísticas, poder dizer com um riso 
superior — “conheci Frank Sinatra quando ele morava em 
Hoboken e era um merdinha”; ou, “esse eu conheço!” — 
confirma a nossa ontologia segundo a qual “conhecer” 
ou relacionar-se pessoalmente é um modo de estar num 
mundo ordenado por ricos e pobres, superiores e infe-
riores, homens e mulheres, brancos e negros, limpos e 
sujos. O modo de navegação social confirma um universo 
ordenado em camadas e é melhor você estar “por cima”. 
Nossa questão mais angustiante, o que eventualmente 
nos tira do sério, não é saber que tudo tem um dono, e 
dele receber ordens. Não! É entrar numa sala onde outras 
pessoas também aguardam na fila, e todos se olham com 
uma ofensivaindiferença porque ninguém sabe quem é 
quem. No Brasil, a igualdade é vivida como uma ofensa 
ou um castigo. 
O anonimato associado à cidadania nos perturba. Para 
nós, o maior castigo não é a prisão, é saber que somos 
iguais a todo mundo porque burlamos a lei que foi feita 
para todos, menos para nós. Quando indiciados, viramos 
vítimas de uma maldosa igualdade republicana! No Bra-
sil lido como Estado nacional, somos todos “cidadãos”. 
Mas no Brasil relacional da casa e das amizades que nos 
impedem de dizer não, somos todos parentes e amigos. 
Não somos como todo mundo. 
Saiu ao pai ou ao avô... Merece a nomeação. Ade-
mais, é afilhado do presidente e tem “pinta” e “jeito” de 
alto funcionário: não vai fazer feio. A “aparência”. Eis um 
traço merecedor de um tratado de sociologia. Meu mentor 
harvardiano, Richard Moneygrand, dizia que a “luta das 
aparências” (e das recomendações e empenhos) é tão ou 
mais importante do que a luta de classes no Brasil... 
— Logo vi que era “gentinha”... 
— Você viu o “jeito” dele (ou dela)? Descobri imedia-
tamente quem era pelo modo como ele (ou ela) se sentou, 
comeu e falou. 
— Você viu a roupa? Notou o sapato? Atinou para a 
sujeira das unhas?
— Eu até que tolero a pobreza, mas não me confor-
mo com falta de limpeza. Um pobre precisa ser limpo. 
Sobretudo se for preto... 
Nosso inferno não são os “palácios” onde poucos 
entram, todos se conhecem e sabem dos seus lugares, mas 
os espaços abertos. Sobretudo quando temos que esperar 
o sinal para caminhar e sentir como todo mundo! 
— Eu sei que não sou e jamais vou ser todo mundo! — 
diz o magistrado do Tribunal Supremo. 
É justo nesse “todo mundo” que jaz, como um cadá-
ver oculto, o nosso problema. Pois como ser como todo 
mundo se mamãe nos criou para ser ministro? Como ser 
como todo mundo se a nossa família tem origem nobre? 
Empobrecemos, mas “temos berço”. 
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