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Didática do Contar Histórias
Autoria: Vania Dohme
Tema 02
A Contação de Histórias e o Desenvolvimento 
da Criança / A Formação de Leitores
Tema 02
A Contação de Histórias e o Desenvolvimento da Criança / A Formação de Leitores
Autoria: Vania Dohme
Como citar esse documento:
DOHME, Vania. Didática do Contar Histórias: A Contação de Histórias e o Desenvolvimento da Criança / A Formação de Leitores. Caderno de 
Atividades. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2015.
Índice
© 2015 Anhanguera Educacional. Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua 
portuguesa ou qualquer outro idioma.
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Pág. 14Pág. 12
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CONvitEàlEiturA
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POrDENTRODOTEMA
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O brincar é visto indiscutivelmente como uma atividade para crianças, mas, pensando assim, por que ele é tão pouco 
usado na educação? As teorias modernas apontam para a construção do aprendizado pelo aluno, para o aluno como 
protagonista do seu aprendizado e para o aprendizado significativo. Assim, será que a configuração em que os alunos 
ficam sentados em suas carteiras, ouvindo passivamente os ensinamentos de outrem, traz resultado? Certamente que 
sim, mas fica a pergunta: trará o melhor resultado?
Quando se trata de desenvolvimento pessoal e social, o brincar tem um papel fundamental de colocar a criança no centro 
da ação, fazer com que ela sinta desafios, teste suas potencialidades, procure fazer alianças com outros aprendendo a 
conviver.
As histórias fazem parte da brincadeira, e se engana quem pensa que as crianças a recebem passivamente, ao vê-las 
sentadas atentas, quase imóveis, pois, dentro de suas cabecinhas, há um turbilhão de ideias provocado pelo enredo, ideias 
essas que se juntaram às outras que possuem, gerando uma terceira, e que responderão a indagações e despertarão 
para novos cenários. 
As histórias são um verdadeiro “abre-te sésamo” para um mundo encantado do imaginário de cada um, que torna quem 
as ouve mais experiente e mais forte para viver nesse nosso mundo real.
CONvitEàlEiturA
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A Contação de Histórias e o Desenvolvimento da Criança / A Formação de Leitores
O Valor Educacional das Histórias
As histórias são um importante instrumento de ludoeducação. 
A ludoeducação é tida como uma coisa nova, e isso merece alguma reflexão. O brincar não é novo, todos sabem que a 
criança brinca e o adulto respeita isso, sabendo que faz parte da natureza dela. 
Agora, o conceito que podemos chamar de novo é o conceito de ensinar por meio do brincar. Autores como Comenius, 
Rousseau, Pestalozzi e Froebel esboçaram ideias que, de forma até tímida, já reconheciam a importância de aliar esta 
atração da criança pelo brincar ao ato de ensinar. Do primeiro pensador que refletiu sobre este assunto já se passaram 
três séculos e ainda existem muitas resistências em se aceitar isso, ainda existe um preconceito muito grande. 
O jogo se constitui em um fim para a criança, pois dele ela obtém prazer. Para os adultos que desejam usar o jogo com 
objetivos educacionais, este é visto como um meio, um veículo capaz de levar até a criança uma mensagem educacional. 
Para Gilles (1998), a criança tem uma necessidade irresistível de brincar, todas as vezes que ele se submete a um jogo 
com objetivos educacionais ela satisfaz essa necessidade e, ao mesmo tempo, aprende.
Segundo Piaget (1994), os jogos funcionam como uma oportunidade de conviver com regras, e este convívio não se 
limita à aceitação e à obediência, mas também leva à criação de uma normatização e até de uma jurisprudência. 
O jogo é a maneira natural de as crianças interagirem umas com as outras, vivenciarem situações, manifestarem 
indagações, formularem estratégias, verificarem seus acertos e erros e poderem, através deles, reformularem, sem 
qualquer punição, seu planejamento e as novas ações. Devries (1991) indica que a participação ativa da criança em um 
jogo vai determinar a sua capacidade de envolvimento e, portanto, o seu nível de desenvolvimento.
Por essas questões, o jogo em sala de aula tem sido recomendado por diversos autores e tem se tornado prática 
crescente no ensino infantil e fundamental. Para Gilles (1998), a expressão “jogo educativo” é a conciliação entre o 
respeito à autonomia da criança, o seu desejo de brincar e a necessidade de continuar a disciplinar o processo educativo.
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E qual o interesse que o educador tem neste mergulho no mundo lúdico? É que este se apresenta como uma oportunidade 
de pesquisa, experimentação, troca de ideias, atitudes cooperativas, inferições e deduções, típicas de um ensino ativo, 
centrado no próprio aluno, tornando-o capaz de construir o seu próprio conhecimento. 
O papel do professor é preparar este “cenário”, elegendo quais pontos devem ser focados e como abordá-los, seguindo 
como um agente motivador, às vezes árbitro, mas, principalmente, observador da atuação de cada um para poder 
compreender cada criança em suas potencialidades e dificuldades. 
E nesta tarefa é importante ter atenção a dois objetivos: primeiro, o jogo tem que ser atraente, do gosto da criança, deve 
causar verdadeira diversão, e segundo, deve ter um conteúdo educacional de boa qualidade, adequado ao plano de 
ensino e seus objetivos.
Assim, ensinar brincando pode ser muito mais eficiente e produtivo do que os métodos tradicionais e, acima de tantas 
explicações metodológicas e didáticas, muito simples. Ensinamos crianças e como crianças devemos tratá-las, esta é, 
talvez, a única forma de sermos totalmente compreendidos por elas.
O Jogo e a História
A palavra jogo é tida aqui no seu sentido amplo, ela aparece aqui como uma tradução do inglês play, que tem um 
sentido muito mais amplo do que a palavra jogar tem para nós. Play, além de jogo, significa “tocar um instrumento, 
dramatizar uma peça teatral, brincar”, poderíamos dizer que é um “faz de conta”.
Para Huizinga (2000), o jogo é uma espécie de “bolha lúdica”, um espaço que se abre no cotidiano, onde as pessoas 
(adultos e crianças) entram voluntariamente e lá vivem situações que têm regras e fins próprios. É um espaço temporário, 
onde se dá o direito de viver situações inusitadas. Pensando assim, o “faz de conta” proporcionado pelas histórias 
fica muito bem representado na bolha lúdica, caracterizando as histórias como prioritariamente lúdicas, um espaço 
maravilhoso onde é permitido sonhar e de onde se pode sair quando quiser, sendo que a única coisa que se pode trazer 
são as reflexões que nos foram proporcionadas nestes momentos. 
Ludoeducação é um termo que se origina da junção de duas palavras (lúdico e educação), é como levar a mensagem 
educacional dentro do lúdico. Bem, para que aqui essa mensagem seja bem recebida ela tem que ser agradável, gostosa, 
bela, porém, pensando-se somente nisso, pode-se tornar-se um bom recreacionista. Já para ser um ludoeducador, é 
necessário ter compromisso com a mensagem, ela tem que estar de acordo com os objetivos educacionais propostos 
por cada um, de acordo com o projeto educativo no qual o programa está inserido, de acordo com a mensagem que cada 
um julga importante deixar. 
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Enfim, não se pode pensar somente em uma coisa, pois pensando só no lazer não promoveremos a educação e pensando 
só na educação corremos o risco de fazer algo chato, pouco atrativo. Assim, o ludoeducador contador de histórias deve 
saber conciliar as duas coisas, ele precisa saber encantar, ter a habilidade para abrir as portas de um mundo mágico e 
conduzir cada um pela mão, mas também necessita ter compromisso com aquilo que está comunicando. Entendendo 
as histórias como um meio de comunicação e entendendo que este meio é capaz de comunicar educação, o contador 
precisa saber que tipo de mensagem educacional sua história está conduzindo, se ela é adequada à faixa etária e aos 
objetivos educacionais, se ela exprime uma mensagem que bate com seus valores pessoais.
Contar histórias sempreé positivo, tem uma série de coisas importantes, mas este momento pode ser potencializado se, 
através da história, transmite-se um valor, um modo de vida, um exemplo a ser seguido.
Assim, quando o contador de história se envolve com a mensagem que está transmitindo e, principalmente, quando 
procura usá-la como uma ferramenta educacional, ele deixa de ser um mero transmissor e passa a ser um intérprete, 
adiciona à obra a sua pessoalidade, com seu modo de ver a vida, sua visão do futuro, seus valores. Podemos fazer um 
paralelo com a figura do cantor, aquele a que se chama intérprete, que canta uma música cuja letra já está pronta, foi 
feita por outro. Ele escolhe para cantar a música que coincide com aquilo que ele gostaria de dizer e com sua forma de 
cantar, mais contida, mais apaixonada, mais solta ou mais moderna, emprestando a sua pessoalidade à canção. Da 
mesma forma é o contador, ele escolhe a história, com cuidado, para encontrar a “sua história”, certamente fruto de boas 
pesquisas, e a ela ele dá a sua interpretação, manda a sua mensagem.
Os Valores Educacionais das Histórias
1. As Crianças Gostam
Parece muito simples usar este argumento, porém, é bom pensar um pouco nele. Quando se fala em comunicação, 
a busca é por um veículo adequado ao público-alvo, capaz de atrair este público. Assim, o fato de as crianças gostarem 
de ouvir histórias vai fazer com que estas sejam um meio de comunicação privilegiado com as crianças. 
E isso todo contador pode atestar, pois no momento que ele fala “eu vou contar uma história”, imediatamente as crianças 
abrem os ouvidos e ficam com os olhos encravados nele, esperando ansiosas, e este é o momento que ele, além de 
encantar, pode passar uma mensagem importante para este público, o que dará exatamente o mesmo trabalho.
Outro fator importante é que o fato de as crianças gostarem de ouvir histórias abre um importante canal de afetividade, 
não é a criança que precisa “crescer” para entender o adulto, é o adulto que vai até ela: senta-se no chão, põe um 
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chapéu de fada, de pirata, engrossa a voz, dá risadas esganiçadas. Ele é um amigo da criança, que entende a “sua 
língua”. Quanto maior a afetividade, mais confiança, mais diálogo e mais oportunidades de educação.
2. A Variedade de Temas é Praticamente Inesgotável
Tomando-se as histórias como um meio de comunicação, que tipo de comunicação se deseja passar? Uma visão 
esperançosa? Valorizar determinada cultura para minimizar uma situação de discriminação vivida na classe?
As histórias fornecem um repertório variado para se trabalhar com os mais diversos aspectos educacionais, e a quantidade 
de livros que temos à nossa disposição se torna uma encantadora fonte de pesquisa para aquele que acredita na 
importância do seu trabalho. 
E, caso alguém não encontre a história apropriada, o que seria muito difícil, não tem importância, ele poderá criar suas 
próprias histórias e através delas encaixar exatamente aquele recado que gostaria de dar, de uma forma que a criança 
possa entender. 
3. Pouca Exigência de Recursos Materiais
As histórias são um meio de comunicação que usa a mídia primária. Por mídia primária, entendemos o uso do 
próprio corpo, tanto do emissor como do transmissor. É evidente que, para contar uma história, pode-se usar um fantoche, 
um bocão, pode-se ter um teatro, uma verdadeira parafernália de coisas, as crianças vão gostar, mas a base central 
é o contador, sozinho. Então, de uma escala de 0 a 10 de satisfação, em que se atinge 10 com um fantoche, pode-se 
alcançar 9 sem nada, somente o contador com o seu corpo, sua voz, sua expressão facial e corporal. 
E é claro que se deve levar em consideração o repertório que cada contador tem, a forma como ele sabe organizar a 
sua mensagem. Isso será extremamente útil e estará sempre “à mão” em todos os momentos, inclusive naqueles em 
que não se sabe o que falar, nos momentos de grandes alegrias, momentos difíceis que as palavras faltam, nos quais 
afloram sentimentos profundos, abstratos e difíceis de se comunicar. 
O Desenvolvimento que todas as Histórias Propiciam
No livreto A história como meio de comunicação, escrito por Vania Dohme, em 2003, a autora afirma que toda 
história, contada seja de que forma for, acarreta um desenvolvimento educacional na criança, seja pela mensagem 
específica que encerra, seja pela atenção e exercício do imaginário que ela provoca. 
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Nas suas palavras: “De forma genérica, as histórias contribuem com diversos aspectos da formação de crianças e de 
jovens. Esses aspectos podem variar de intensidade de uma história para outra” (DOHME, 2003, p. 13) e continua 
estabelecendo que, de maneira geral, todas as histórias propiciam o desenvolvimento dos seguintes aspectos: 
• Atenção e raciocínio.
• Senso crítico.
• Imaginação.
• Criatividade.
• Afetividade.
Vejamos cada um deles.
Atenção e Raciocínio
Como já foi trabalhado por Eco (2004), a competência que a criança tem para entender uma história é limitada, dado 
o seu baixo poder de concentração, mas, como gostam de histórias, ficam mais motivadas e com isso desenvolvem sua 
capacidade de atenção. Mesmo que com um enredo muito simples, ela será desafiada a deduzir o que virá a seguir - 
qual desfecho está por vir? Outro fato importante é que a relação de causa e efeito, como ensina Piaget (1994), ainda 
está em amadurecimento nessa fase, assim, os enredos provocam o exercício de estabelecer essa relação, pois “se o 
ratinho fosse por outro caminho não encontraria o gato...”, mas, uma vez que o encontrou, “teve que se disfarçar para 
não ser caçado...”. Como diz Dohme (2003, p. 13).
As histórias têm o poder mágico de prender a atenção das crianças. Isso por si só já é um exercício, mas as 
histórias provocam muito mais do que isso. As crianças acompanham os fatos e fazem conjecturas: como será 
que o herói se saíra dessa situação? Será que o ratinho, por gostar somente de queijo, rejeitará o chocolate? A 
princesa encontrará o príncipe e será feliz novamente? Ao tomarem conhecimento do desfecho do enredo, irão 
compará-lo com as suposições que fizeram. Isso fará com que elas exercitem a relação de causa e efeito, que 
faz parte do seu amadurecimento.
É de se notar que as crianças gostam de ouvir a mesma história várias vezes, e a explicação está ligada ao fato de que 
ela quer ter certeza de que entendeu bem, de que as consequências de cada fato narrado continuarão sendo iguais, 
“elas querem ter certeza de que o mal foi derrotado e de que tudo acaba bem no final” (DOHME, 2003, p. 13).
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Senso Crítico
O senso crítico é uma capacidade importante para a participação na comunidade e para o próprio desenvolvimento, 
mas do que se trata? Ter senso crítico é ter uma opinião própria sobre os fatos que nos cercam, é ter a capacidade de 
analisar os prós e contras de cada situação, o que está de acordo com os seus princípios e o que não está, enfim, é 
tomar decisões fundamentadas em suas próprias convicções. Isso nem sempre é fácil, pois vivemos em uma sociedade 
massificada, com muitas informações se cruzando, dizendo “o que devemos fazer” ou “o que não devemos fazer”, o 
que devemos comprar, assistir, comer, ouvir e assim por diante. E como as inocentes histórias podem nos ajudar a 
desenvolver o senso crítico em nossas crianças?
É muito simples, as histórias dão contextos a situações que podem ser discutidas com as crianças fazendo com que elas 
vejam as situações sob outros pontos de vista.
Dohme (2003, p. 14) explica isso muito bem:
As crianças pequenas ficaram encantadas quando Cinderela apaixona-se imediatamente pelo príncipe. Mas, as 
mais velhas poderão ser questionadas se somente o fato de ser bonito, rico e poderoso é suficiente para alguém 
se apaixonar.
E será que o Patinho Feio não seria mais feliz continuando feio, porém filho de sua mãe pata e irmão dos patinhos, 
do que se transformar em um cisne belo, no entanto sozinho?
Quando o professor escolhe a históriade acordo com a mensagem que deseja transmitir, não tem qualquer dificuldade 
em abordar esse contexto de forma mais ampla, após o término da história, forçando a reflexão. Mas, cuidado! Não 
tente interpretar pelas crianças, somente as provoque a pensar! Deixe que troquem opiniões entre si, jamais direcione e 
lembre-se sempre de que a maturidade do adulto é bem diferente da maturidade das crianças, o importante é que elas 
reflitam. Creia, essas conclusões poderão vir muitos anos depois.
Imaginação
Quem escreve uma história utiliza signos, que podem ser palavras ou imagens que tenham o poder de serem 
“reconhecidos” pelas crianças. E como se dá esse reconhecimento? Ele se dá quando a criança tem uma imagem 
mental, um registro em sua mente que corresponde àquela palavra ou imagem que lhe foi dita. 
Mas a narrativa pode trazer elementos novos que ela vai construir em sua mente, ampliando, assim, a sua imaginação, 
por exemplo: uma criança pode não ter estado em um castelo, mas a descrição de um deles vai fazer com que ela o 
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desenhe na sua mente, passando agora a ter o seu registro. À medida que ela vai tendo contato com algo similar, que 
não precisa ser exatamente um castelo, mas apenas algo que o componha, como uma escadaria, um tapete ou um 
lustre suntuoso, ela vai redesenhando o “seu” castelo e, consequentemente, aumentando seus registros mentais. 
E assim as histórias vão aos desertos, navegam embaixo do mar com os peixinhos e vão até além das nuvens, visitam 
outras culturas, podendo ir ao passado e ao futuro. “A descrição detalhada fará com que o ouvinte sinta o cheiro das 
flores, visualize a grama verdinha e se encante com o cavalo alado que dorme sossegadamente” (DOHME, 2003, p. 15). 
Dohme (2003) alerta que esse detalhamento não deve ser exagerado, ele deve apenas sugerir, deixando que o ouvinte 
complete os detalhes com suas próprias referências. 
Criatividade
Uma imaginação rica em referências facilitará a criação de novos cenários. Por exemplo, uma história apresentou 
às crianças um Pégaso, que é um cavalo fantástico que voa, no caso, um cavalo alado na cor azul, salpicado de estrelas 
douradas. Assim, por que não será possível uma tartaruga alada na cor lilás com bolinhas amarelas? 
A formação de um repertório mental é algo que acontece espontaneamente em toda narrativa de uma história, mas 
os educadores podem tirar um pouco mais de proveito dela no desenvolvimento da criatividade pedindo para que as 
crianças deem um retorno por meio de um desenho, um trabalho manual ou uma apresentação teatral. A história fornece 
um contexto e está presa, contida, na mente de cada criança; no momento em que pedimos esse feedback forçamos 
que ela reflita sobre os conteúdos apreendidos e procure formas de exteriorizá-los. Fazer esse trabalho em grupo pode 
ser até mais proveitoso, uma vez que as crianças compartilham as imagens mentais que apreenderam, que certamente 
serão diferentes, o que fará com que todos ampliem os seus registros individuais.
Após ouvirem uma história, podemos pedir a elas que façam um desenho da cena de que mais gostaram, ou 
a modelem em argila. Um grupo de crianças poderá representá-la ou, mesmo, ser convidado a fazer a sua 
continuação. Será necessário criar o roteiro, fazer o cenário, o figurino. Situações que ficariam difíceis de serem 
pedidas aleatoriamente, mas que ganham sentido dentro de uma história que acabou de ser contada (DOHME, 
2003, p.15).
O nosso livro-texto (DOHME, 2013) traz uma importante experiência para ser feita com as crianças, que exercita a 
criatividade de cada ouvinte e dá mostras preciosas para o educador de como os registros mentais são diferentes 
para cada pessoa. Trata-se da história Urso do final do arco-íris. Ela conta a trajetória de um grupo de pessoas em 
uma floresta, os ouvintes escutam a narrativa com os olhos fechados e são usados efeitos especiais para incitar mais 
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a imaginação, por exemplo, solta-se perfume quando o “grupo” passa no meio das flores, respinga-se água quando o 
“grupo” passa ao lado de uma cachoeira e outros efeitos mais. A história termina no seu ponto culminante e os ouvintes 
deverão terminá-la, para isso, irão se valer dos registros mentais que adquiriram, e, como o trabalho é em grupo, atesta-
se como cada um formou o seu registro próprio. 
Transmissão de Valores
Trabalhar com a formação de valores é absolutamente importante para o educador, ter uma escala de valores própria 
deixa as pessoas mais fortes, orientando-as como agir em momentos difíceis que se apresentam. Mas como falar de 
valores fora de um contexto? Abordar esses assuntos com crianças de forma teórica, filosófica, certamente é perda de 
tempo. E, nesse ponto, as histórias aparecem como um maravilhoso instrumento. Elas encerram situações que envolvem 
decisões, ações e reações, basta acompanhar para saber que a presença ou ausência levaram a consequências boas 
ou más. Dohme (2003) dá um excelente exemplo do que foi dito: 
Como transmitir um conceito que a mentira deixa mais vulnerável o mentiroso do que aquele que pretensamente 
se deseja enganar?
É difícil, mas a história de Pinóquio magistralmente cumpre este papel de forma simples: o boneco de madeira 
mentia e o seu nariz crescia, ficando assim formidavelmente vulnerável!
E nesse caso é que a função do educador se faz presente, o educador que assumir que é o seu papel trabalhar valores 
com as crianças deverá ter essa preocupação na escolha da história, mais do que isso, deverá definir primeiramente 
qual o valor que deseja transmitir e depois procurar uma história que seja capaz de transmiti-lo. Deverá se ater aos fatos 
que, no curso da ação, são importantes para enfatizar o valor que deseja transmitir e, depois disso, transmiti-los com 
fidelidade, não esquecendo, porém, de verificar se o conteúdo se adequa à compreensão característica da faixa etária 
de seus ouvintes.
E finalmente arremata a autora sobre a condição principal para usar as histórias como meio de educação na construção 
de valores: 
Para que isso aconteça, cada um deve escolher as histórias que realmente lhe são verdadeiras, que batem com 
os seus valores pessoais, que estejam de acordo com aquilo que ele deseja transmitir. Somente dessa forma ele 
poderá transmitir o que deseja de forma convincente (DOHME, 2003, p. 17).
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Educação infantil: cuidar, educar e brincar
• Neste vídeo as professoras Beatriz Ferraz e Tizuko Morchida Kishimoto, especialistas nas áreas 
do brinquedo, falam sobre os diversos aspectos do brincar na vida da criança. Recomenda-se 
especialmente o acompanhamento dos seis minutos finais do vídeo. A educadora concebe o brincar 
como um direito da criança e que por isso precisa ser assegurado. Ela dá várias dicas, especialmente 
para o trato com crianças pequenas. Sendo a contação de histórias um ato lúdico, esses ensinamentos 
tornam-se importantes para o aperfeiçoamento das técnicas estudadas neste tema.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=RiFXduOjRUI>. Acesso em: 31 jan. 2015.
Tempo: 16:39
Contar história no ensino fundamental I
• Este texto, apresentado pela professora Lígia de Assis Monteiro no III Congresso Internacional 
de Ética e Cidadania, promovido pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em 2007, dá 
um panorama do assunto à luz de vários autores. Vale a pena acessá-lo para enriquecer os 
conhecimentos sobre o assunto.
Disponível em: <http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/Revistas_EST/III_Congresso_Et_Cid/Co-
municacao/Gt05/Ligia_de_Assis_Monteiro.pdf>. Acesso em: 31 jan. 2015.
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https://www.youtube.com/watch?v=RiFXduOjRUI
 http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/Revistas_EST/III_Congresso_Et_Cid/Comunicacao/Gt05/Ligia_de_Assis_Monteiro.pdf
 http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/Revistas_EST/III_Congresso_Et_Cid/Comunicacao/Gt05/Ligia_de_Assis_Monteiro.pdf
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Associação Viva e Deixe Viver 
• A Associação Viva e Deixe Viver é uma OSCIPque treina e capacita voluntários para se 
tornarem contadores de histórias em hospitais para crianças internadas. Este vídeo mostra um 
outro aspecto da contação de histórias, ele discorre sobre como ouvir uma história contribui para 
o tratamento e a recuperação da criança. Há vários testemunhos sobre os benefícios que foram 
destacados neste texto.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Lkv59zx9288>. Acesso em: 31 jan. 2015.
Tempo: 6:33
Jogando por um mundo melhor
• Esta palestra do TED, ministrada por Joane McGonigal, é de extrema coragem pois toca em 
um assunto muito ousado, mas que provoca uma interessante reflexão: como os jovens levam a 
sério o jogar. Com base nisso, ela lança o desafio de que se conseguirmos envolvê-los na vida 
real usando os mesmos atributos dos jogos, teremos uma geração muito mais atuante, sendo 
possível salvar o mundo.
Disponível em: <www.ted.com/talks/jane_mcgonigal_gaming_can_make_a_better_world?language=pt-br>. 
Acesso em: 31 jan. 2015.
ACOMPANHENAWEB
https://www.youtube.com/watch?v=Lkv59zx9288
http://www.ted.com/talks/jane_mcgonigal_gaming_can_make_a_better_world?language=pt-br
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Instruções:
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará algumas questões de múltipla 
escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.
AgOrAéAsuAvEz
Questão 1
Faça um relato de uma ou duas histórias que você ouviu em sua infância, que pode ter sido contada por um adulto ou lida por 
você em um livro infantil. Em seguida procure identificar que tipo de ensinamento essas histórias provocaram em você. Não se 
preocupe em encontrar ensinamentos muito complexos, pois, mesmo que muito simples, essas experiências trazidas pelas his-
tórias, certamente, de alguma forma contribuíram para construírem a cadeia de pensamento que você possui hoje.
Questão 2
Qual é a relação que o jogo tem com as histórias?
Questão 3
A afirmação a seguir é falsa ou verdadeira? Justifique sua resposta.
“As histórias permitem o desenvolvimento da criatividade porque a criança pode copiar o que viu no livro.”
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AgOrAéAsuAvEz
Questão 4
Qual é a principal mensagem que a história de Pinóquio passa?
a) Que mentir é feio.
b) Que Pinóquio era preguiçoso.
c) Que a mentira deixa as pessoas vulneráveis.
d) Que é preciso ser bom ator para mentir.
e) Que bonecos de madeira podem mentir à vontade.
Questão 5
Quais são os valores que podem ser trabalhados com as crianças por meio das histórias? Qual é a principal preocupação que o 
professor deve ter ao escolher uma história com o objetivo de transmitir valores?
Na marcha cultural do homem, os mais velhos debatem-se em deixar suas vivências aos mais novos, suas 
experiências, pois querem ensiná-los a viver. Com o pretexto de educá-los, os mais velhos querem fincar nos seus 
descendentes seus valores, mas como ensinar valores para crianças, que ainda têm um precário sistema de raciocínio 
abstrato? As histórias aparecem como uma solução, elas contextualizam esses valores com um exército de auxiliares: 
fadas, gnomos, bruxas, bonecas e animais, que emprestam seus corpos, suas falas e suas emoções para lhes dar 
sentido.
Nesta situação, a história passa a ser o signo de mensagens que os mais velhos querem transmitir às crianças. O 
“contador de histórias” usa deste signo para ensinar, acalentar, encantar.
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ASSOCIAÇÃO VIVA. Institucional viva e deixe viver. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Lkv59zx9288>. Acesso 
em: 31 jan. 2015.
BROUGÈRE, Gilles. Jogo e educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. 
DEVRIES, Rheta; KAMII, Constance. Jogos em grupo na educação infantil: implicações da teoria de Piaget. São Paulo: 
Trajetória de cultura, 1991.
DOHME, Vania. Técnicas de contar histórias: um guia para desenvolver as suas habilidades e obter sucesso na apresentação 
de uma história. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2013. 
______. A história como meio de comunicação. São Paulo: Informal, 2003.
rEfErêNCiAs
fiNAlizANDO
Contar histórias é uma comunicação que tem uma característica muito importante que pode passar despercebida: 
acontece “aos moldes da criança”. O adulto não fala coisas incompreensíveis, mas “entra no seu mundo” e lá, junto com 
a criança, partilha de emoções e sentimentos.
As crianças, no primeiro e segundo estágio de desenvolvimento compreendido por Piaget (1994), não conseguem 
desenvolver um raciocínio de causa e efeito, seu entendimento é baseado muito mais na emoção do que na razão. Assim, 
querer persuadir uma criança baseando-se em argumentos racionais, comuns aos adultos, tem grandes possibilidades 
de fracassar. Dessa forma, as histórias dão um contexto às ideias que são assim facilmente interiorizadas, servindo 
como exemplos de vida, dando um norte para comportamentos que a criança, por desconhecê-los, não sabe como 
desempenhar. 
Ao lado das mensagens absorvidas, a criança vai produzindo referências e imagens mentais a cada elemento que ouve, 
e elas irão servir de referências que alimentam a criatividade e suas próprias produções comunicativas. Sem contar 
que o prazer sorvido nos momentos de contação de histórias a impulsionará para querer mais, e ela estará ávida por 
novos momentos, até que perceba que pode ter esse prazer de forma independente nos livros. Neste momento teremos 
cumprido integralmente nossa tarefa formando um novo leitor que poderá desbravar a infinitude de conhecimentos que 
os livros nos dão.
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ECO, Umberto. Lector in fabula. São Paulo: Perspectiva, 2004.
HUIZINGA, Joha. Homo ludens. São Paulo: Perspectiva, 2000.
McGONIGAL, Jane. Jogando por um mundo melhor, TED, Fev. 2010. Disponível em: <www.ted.com/talks/jane_mcgonigal_
gaming_can_make_a_better_world?language=pt-br>. Acesso em: 31 jan. 2015.
MONTEIRO, Ligia de Assis. Contar história no ensino fundamental I. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE ÉTICA E 
CIDADANIA, 3., 2007, São Paulo. Anais... Disponível em: < http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/Revistas_EST/
III_Congresso_Et_Cid/Comunicacao/Gt05/Ligia_de_Assis_Monteiro.pdf>. Acesso em: 31 jan. 2015.
PIAGET, Jean. O juízo moral da criança. 2. ed. São Paulo: Summus, 1994
UNIVESP TV. Educação infantil: cuidar, educar e brincar. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=RiFXduOjRUI>. 
Acesso em: 31 jan. 2015.
rEfErêNCiAs
Criatividade: é a capacidade de se expressar, de encontrar métodos, fazer objetos ou executar tarefas de uma maneira 
nova ou diferente da habitual, com a intenção de satisfazer um propósito. A criatividade envolve sempre o conceito do 
novo, mas é fruto do remanejamento de registros que o criador já possui.
Imagens mentais: são os registros que cada um conserva em sua mente, que significam tudo o que conheceu e guar-
dou em sua memória. Podem ser de uma pessoa ou lugar, mas também pode ser uma cor, um aroma, um som. 
Imaginação: é a capacidade mental para relacionar, criar, inventar ou construir imagens mentais. 
Lúdico: suas raízes etimológicas estão na palavra latina ludos, que pode significar “jogo, brinquedo”. Em geral, refere-se a 
toda atividade que tem um fim em si mesmo, diferente do cotidiano, com regras próprias e qe promove interação voluntária.
Ludoeducação: é a atividade lúdica que encerra um objetivo educacional. Os participantes, à medida que jogam, brin-
cam e realizam experiências que são assimiladas e passam a fazer parte do seu conhecimento. Em outras palavras, é 
a construção do conhecimento por meio da atividade lúdica. 
glOssáriO
http://www.ted.com/talks/jane_mcgonigal_gaming_can_make_a_better_world?language=pt-br
http://www.ted.com/talks/jane_mcgonigal_gaming_can_make_a_better_world?language=pt-br
 http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/Revistas_EST/III_Congresso_Et_Cid/Comunicacao/Gt05/Ligia_de_Assis_Monteiro.pdf
 http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/Revistas_EST/III_Congresso_Et_Cid/Comunicacao/Gt05/Ligia_de_Assis_Monteiro.pdf
https://www.youtube.com/watch?v=RiFXduOjRUI18
glOssáriO
Senso crítico: é a capacidade de fazer análises do seu entorno e ter uma opinião sobre ele. Está relacionado a ver os 
acontecimentos do mundo de forma aberta, sem se ater a paradigmas, estar atento a outros pontos de vista para, após 
essa colheita de diversas ideias, formar o seu próprio conceito sobre o assunto.
gABAritO
Questão 1
Resposta: Espera-se nessa questão que o aluno possa identificar passagens de sua vida em que as histórias tiveram 
o papel de construir, mesmo que de forma remota ou elementar, seus conhecimentos atuais e sua forma de ver a vida.
Questão 2
Resposta: A relação existe quando entendemos o jogo em sua forma ampla, igualando-o à brincadeira. De forma ampla, 
o jogo é toda atividade diferente do cotidiano, que tem regras próprias, é praticada voluntariamente e traz prazer. Assim, 
as histórias fazem parte desse conjunto, no qual também estão a dramatização, a dança e as canções. Ouvir histórias 
cria a “bolha lúdica”, falada por Huizinga (2000), em que há envolvimento completo dos ouvintes, criando um espaço 
distinto da vida real e muito prazeroso.
Questão 3
Resposta: A afirmação é falsa. Embora as histórias desenvolvam a criatividade, criar é fazer algo novo e não simplesmente 
copiar algo que já se viu. A criança deve usar as referências com as quais teve contato para associá-las e compará-las 
com outras referências que já possui, dando origem a uma terceira ideia diferente de todas as anteriores.
Questão 4
Resposta: Alternativa C.
A mensagem de que “mentir é feio” (alternativa A) não fará muito sentido para uma criança, pois feio é um monstro, algo 
distorcido ou quebrado, mas sempre algo físico, assim, uma mentira, por ser abstrata, não se enquadra na categoria 
19
de feio. A alternativa D, “é preciso ser bom ator para mentir”, que infelizmente se enquadra no entendimento de muitos 
em nossos dias, também não se sustenta, pois Pinóquio se esforçava muito em suas mentiras, e é aí que está todo 
o ensinamento: mesmo mentindo muito bem, sempre haverá alguém que perceberá e verá o mentiroso com desdém 
e reprovação. Vale a pena refletir no valor que esta pequena história tem para a vida de uma pessoa e para toda a 
sociedade.
Questão 5
Resposta: Todos os valores podem ser trabalhados por meio das histórias. O contador deve escolher a história que 
apresente o valor que deseja transmitir, mais do que isso, dever ler a história atentamente para perceber, de maneira 
clara, qual é o valor abordado, quando e de que maneira ele se apresenta. Porém, o principal é que ele acredite nesses 
valores e que eles coincidam com os seus valores pessoais. Somente dessa forma ele poderá transmitir o que deseja 
de forma convincente.

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