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Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL E BIOÉTICA Luciana Rigotto Parada Redigolo é enfermeira formada pelo Centro Universitário “Barão de Mauá”, possui especialização em Administração Hospitalar pelo Centro Universitário São Camilo de São Paulo, especialização em Saúde Pública pela Faculdade AVM de Brasília e é mestranda em Saúde e Educação pela Universidade de Ribeirão Preto/SP, onde desenvolve seu projeto de pesquisa “O perfil das crianças menores de um ano impossibilitadas de receber leite materno”. Atualmente, trabalha como enfermeira em um Ambulatório de Nutrologia da rede pública municipal de Ribeirão Preto. Claretiano – Centro Universitário Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretianobt.com.br Luciana Rigotto Parada Redigolo Batatais Claretiano 2015 LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL E BIOÉTICA © Ação Educacional Claretiana, 2015 – Batatais (SP) Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli • Simone Rodrigues de Oliveira Revisão: Cecília Beatriz Alves Teixeira • Eduardo Henrique Marinheiro • Felipe Aleixo • Filipi Andrade de Deus Silveira • Juliana Biggi • Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni • Sônia Galindo Melo • Talita Cristina Bartolomeu • Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgareli • Eduardo de Oliveira Azevedo • Joice Cristina Micai • Lúcia Maria de Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires Botta Murakami de Souza Videoaula: Fernanda Ferreira Alves • José Lucas Viccari de Oliveira • Marilene Baviera • Renan de Omote Cardoso Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) INFORMAÇÕES GERAIS Cursos: Graduação Título: Legislação Profissional e Bioética Versão: dez./2015 Formato: 15x21 cm Páginas: 136 páginas 174.9574 R25L Redigolo, Luciana Rigotto Parada Legislação profissional e bioética / Luciana Rigotto Parada Redigolo – Batatais, SP : Claretiano, 2015. 136 p. ISBN: 978-85-8377-433-4 1. Ensino. 2. Legislação. 3. Princípios bioéticos. 4. Paciente-assistência. 5. Princípios e valores éticos da enfermagem. I. Legislação profissional e bioética. CDD 174.9574 SUMÁRIO CONTEúDO INTRODUTóRIO 1. INTRODUçãO ................................................................................................... 9 2. GLOSSáRIO DE CONCEITOS ............................................................................ 15 3. EsquEma dos ConCEitos-ChavE ............................................................... 20 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 21 5. E-REFERÊnCias ................................................................................................ 22 unidadE 1 – DIMENSãO ÉTICA E LEGAL DA ATUAçãO PROFISSIONAL DA ENFERMAGEM 1. INTRODUçãO .................................................................................................. 25 2. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 25 2.1. A APROxIMAçãO PROFISSIONAL AOS CONCEITOS ÉTICOS E BIOÉTICOS .....25 2.2. A ÉTICA E A PRáTICA PROFISSIONAL DO ENFERMEIRO ....................... 35 2.3. A ÉTICA E A BIOÉTICA NO CONTExTO DA EDUCAçãO ......................... 39 3. CONTEúDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 48 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 48 5. CONSIDERAçÕES ............................................................................................. 50 6. E-REFERÊnCias ............................................................................................... 51 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 52 unidadE 2 – INSTRUMENTOS E PRINCíPIOS ÉTICOS LEGAIS DA PRáTICA PROFISSIONAL DA ENFERMAGEM 1. INTRODUçãO .................................................................................................. 57 2. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 57 2.1. A REGULAMENTAçãO DA PROFISSãO DE ENFERMEIRO ..................... 57 2.2. O SISTEMA COFEN/COREN ..................................................................... 67 2.3. A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ENFERMEIRO .................................... 70 2.4. A LEGISLAçãO ACERCA DO ESTáGIO CURRICULAR .............................. 82 3. CONTEúDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 86 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 87 5. CONSIDERAçÕES ............................................................................................. 89 6. E-REFERÊnCias ................................................................................................ 90 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 91 unidadE 3 – TEMAS DA BIOÉTICA RELATIVOS à PROFISSãO E PESQUISA EM SERES HUMANOS 1. INTRODUçãO .................................................................................................. 95 2. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 96 2.1. BIOÉTICA E O CUIDADO EM ENFERMAGEM ......................................... 96 2.2. DIREITOS E SEGURANçA DO PACIENTE ................................................. 99 2.3. ATUAçãO DO PROFISSIONAL DA ENFERMAGEM DIANTE DOS DILEMAS ÉTICOS....................................................................................................... 107 2.4. PESQUISAS EM SERES HUMANOS ......................................................... 119 3. CONTEúDO DIGITAL INTEGRADOR ................................................................ 131 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 131 5. CONSIDERAçÕES ............................................................................................. 132 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 134 7. E-REFERÊnCias ................................................................................................ 135 7 CONTEÚDO INTRODUTÓRIO Conteúdo Dimensão ética e legal da atuação profissional da enfermagem. Instrumentos e princípios éticos legais da prática profissional da enfermagem. Temas da Bioética relativos à profissão e pesquisa em seres humanos. Bibliografia Básica OGUISSO, T.; SCHIMIDT, M. J. O exercício da enfermagem: uma abordagem ético legal. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. GELAIN, I. Deontologiae enfermagem. 3. ed. São Paulo: EPU, 2005. KLINGER, F. J. Ética e Bioética em Enfermagem. 2. ed. Goiânia: AB, 2007. Bibliografia Complementar ANJOS, M. F. Argumento moral e aborto. São Paulo: Loyola, 1976. BEAUCHAMP, T. L.; CHILDRESS, J. F. Princípios de Ética Biomédica. São Paulo: Loyola, 2002. BOFF, L. Fundamentos da ética. Petrópolis: Vozes, 2003. BRASIL. Lei n. 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. D.O. Eletrônico, Poder Legislativo, Brasília, DF, 9 de abril 2001. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm>. Acesso em: 16 nov. 2015. CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SãO PAULO. Principais legislações para o exercício da Enfermagem. São Paulo: [s.n.], 2009. COSTA SIF.; GARRAFA V.; OSELKA, G. (Org). Iniciação à bioética. Brasília: Conselho Federal de Medicina, 1998. 8 © LegisLação ProfissionaL e Bioética conteÚDo introDUtÓrio É importante saber: –––––––––––––––––––––––––––––––– Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes: Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que deverá ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes necessárias à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os principais conceitos, os princípios, os postulados, as teses, as regras, os procedimentos e o fundamento ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua origem?) referentes a um campo de saber. Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente selecionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas ou disponibilizados em sites acadêmicos confiáveis. São chamados “Conteúdos Digitais Integradores” porque são imprescindíveis para o aprofundamento do Conteúdo Básico de Referência. Juntos, não apenas privilegiam a convergência de mídias (vídeos complementares) e a leitura de “navegação” (hipertexto), como também garantem a abrangência, a densidade e a profundidade dos temas estudados. Portanto, são conteúdos de estudo obrigatórios, para efeito de avaliação. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 9© LegisLação ProfissionaL e Bioética conteÚDo introDUtÓrio 1. INTRODUÇÃO Atualmente estamos vivenciando situações que nos levam a reflexões sobre valores morais e éticos nos casos de competitividade no local de trabalho, principalmente, em locais que trabalham com cumprimento de metas e que às vezes levam o profissional a escolher o caminho mais fácil prejudicando seu colega de trabalho. A ética permeia nosso dia a dia como cidadão e como profissional na convivência com os colegas de trabalho, pois é nos atendimentos que realizamos que vamos nos deparar com os dilemas éticos. Na área da saúde, a enfermagem é uma das profissões em que o profissional mais se aproxima do paciente, estando sempre presente na assistência e realizando os procedimentos diários, nas orientações e na escuta do paciente. Na assistência, enquanto profissional, é importante saber ouvir as angústias relacionadas aos problemas vividos pelos pacientes, entendendo que faz parte da conduta ética profissional a escuta sem interferência pessoal. Um dos maiores problemas enfrentados na saúde está relacionado ao sigilo profissional, uma vez que no atendimento diário vamos nos deparar com pessoas conhecidas no convívio social, que procuram assistência muitas vezes por doenças infecto contagiosas como, por exemplo, a AIDS, em que o sigilo deve ser mantido com pena de prejuízo ao paciente. Neste estudo, vamos conhecer a importância da ética para os profissionais da saúde e, principalmente, para a enfermagem; vamos discutir o papel da ética profissional, bem como seu surgimento e os movimentos que sofreu ao longo da história. 10 © LegisLação ProfissionaL e Bioética conteÚDo introDUtÓrio Também é importante situar a ética e a bioética no contexto da educação, identificar os desafios e as possibilidades como uma ação que deve ser implementada no ensino durante a formação do aluno. A ética na antiguidade Segundo Ramos, 2012 a ética surgiu na Grécia, junto com a filosofia, embora existam registros de que seus preceitos fossem praticados entre outros povos desde a origem da humanidade, misturados ao contexto místico e religioso, tentando pautar regras de comportamento para permitir o convívio e as relações entre as pessoas. Para Sócrates, o verdadeiro objeto do conhecimento seria a alma humana, onde reside a verdade e a possibilidade de alcançar a felicidade. O conhecimento seria o meio do indivíduo se aperfeiçoar, tornando-se virtuoso pelo amadurecimento intelectual; enquanto a ignorância representaria o vício. Desse conceito surgiu a fundamentação da ética em volta da liberdade, virtude e bondade. Antes de Aristóteles, herdeiro da tradição socrática, Platão tratou a ética como componente da vida política e da harmonia entre os habitantes da Pólis. A ética deveria permitir que os indivíduos dividissem o poder, fazendo com que o sujeito se preocupasse com o outro. Para Platão, as formas de governo poderiam ser resumidas em quatro, todas produtoras de homens não éticos (RAMOS, 2012): 11© LegisLação ProfissionaL e Bioética conteÚDo introDUtÓrio 1) Timocracia: o regime político é conferido aos ricos, onde os donos de terra têm o direito de participar do governo, palavra que em grego significa “governo de poucos”, limitando-se às famílias mais ricas que formam a nobreza. Nesse regime o poder é transmitido hereditariamente, sem possibilidade de alternância. 2) Oligarquia: o regime político está concentrado em um pequeno número de pessoas que se diferenciam pela nobreza e riqueza, independentemente de sua origem familiar. Não há nenhuma participação dos pobres; nesse regime o que é valorizado é a capacidade econômica, e não a virtude. 3) Democracia: o governo da Pólis fica como cada um gosta, com representantes eleitos ou cidadãos participando diretamente, é um governo de iniciativa popular, estabelecendo acordos para determinar as leis, onde os indivíduos devem se adaptar. Esse regime tende a uma desorganização, pois não consegue alcançar resultados práticos em meio às discussões intermináveis que defendem interesses múltiplos. 4) Tirania: o termo tirano origina do vocábulo grego turannos, que na Grécia clássica designava um governo ilegítimo, ou seja, teria sido instituído de forma ilegal. Sistema em que um homem, o tirano, assume o poder sob o pretexto de ajudar o coletivo, mas representa seu desejo por bajulações, demonstrando total ausência de virtude e pobreza de alma. Uma vez que todas as formas de governo conduzem ao vício, inviabilizando a existência ética do indivíduo e da Pólis, Platão propôs a construção de um Estado Ideal, onde a virtude 12 © LegisLação ProfissionaL e Bioética conteÚDo introDUtÓrio pudesse ser estimulada, garantindo a liberdade efetivada no exercício da justiça, o que ficou conhecido como República Platônica. O Estado deveria ser governado pelos reis filósofos, sendo a racionalidade o que permitiria dirigir o destino coletivo com sabedoria e virtude. Aristóteles, um grande defensor da democracia, também considerava a ética como possibilidade de acabar com a desigualdade, harmonizando o convívio coletivo, relacionando a liberdade com a responsabilidade para compartilhar o poder de forma igualitária, através do conceito de representatividade. Ao inverso de Platão, para ele não é o sistema político que corrompe o homem, este é que desvirtua o regime. Para racionalizar o convívio entre as pessoas, seria preciso assimilar três tipos de conhecimentos que compõem o que Aristóteles chamou de sabedoria voltada para o bem, o belo e o honesto: 1) Conhecimentos teóricos: é a investigação do que ocorre no mundo, transformado em conhecimento sistematizado, em Ciência e, portanto, naquilo que hojechamamos de ética. 2) Conhecimentos produzidos: são as normas de orientação técnica, necessárias à efetivação da prática, correspondentes às leis e ao Direito. 3) Conhecimentos Práticos: são as orientações obtidas pela vivência diária, conduzindo a maneira justa e saudável de viver em harmonia com a natureza e o outro, condizente com a moral. Em outras palavras, a ética aristotélica propõe observar as necessidades do homem como indivíduo e membro da 13© LegisLação ProfissionaL e Bioética conteÚDo introDUtÓrio coletividade, o que é possível estabelecer como norma em dado contexto, teorizar e refletir para padronizar como correto. A ética se constitui como ciência normativa da conduta individual e coletiva em sentido amplo. Diferente da concepção platônica, onde a ética é inerente a um grupo e padronizada de forma segmentada, origem do que hoje chamamos ética profissional. Diante do exposto, chega-se à conclusão de que a existência coletiva precisa de regras para efetivar-se. A ética medieval Na Idade Média, entre o século 11 e 19, o catolicismo era dominante na Europa Ocidental, pregando uma ética vinculada com a religião e dogmas cristãos, a despeito de mudanças significativas com o renascimento, a entrada da modernidade e o iluminismo. Dentre as concepções filosóficas do conceito de ética medieval, cabe destacar as ideias de Santo Agostinho, Santo Anselmo e São Tomás de Aquino. Para Santo Agostinho, a verdade é uma questão de fé, revelada por Deus, superando a razão; subordinando o Estado e a política à autoridade da Igreja. O catolicismo alterou profundamente a ética, introduzindo a ideia de que a bondade, uma vida virtuosa, só podia ser alcançada pela vontade de Deus, desvinculando a felicidade da racionalização do mundo. A ética moderna Entre os séculos 16 e 18, as discussões éticas estiveram centralizadas no embate entre racionalismo e empirismo. 14 © LegisLação ProfissionaL e Bioética conteÚDo introDUtÓrio A Idade Moderna foi a época da formação e consolidação dos Estados Nacionais europeus, onde a separação entre Estado e igreja tornou-se definitiva, com a característica do antropocentrismo e a aceleração do avanço da Ciência. Foi um período de transição para a Idade Contemporânea, com contradições de cunho ainda medieval e forte influência da religião na vida das pessoas. A ética passou a ser vista novamente como a busca da felicidade coletiva, retomando seu sentido original grego, vinculado com a política e compondo orientações para a realização plena do cidadão. Os preceitos religiosos começaram a perder força, em uma tentativa da ética se sobrepor à moral, universalizando e discutindo princípios de convivência em sociedade. Portanto, a ética moderna, apesar de ainda vinculada à religião, começou uma tentativa de sobrepujar a moral, resgatando discussões presentes na antiguidade, avançando alguns passos, rumo à vinculação com a liberdade. Entretanto, foi pensada como instrumento de sustentação do poder do Estado perante a vida coletiva e individual. A ética contemporânea Ao separar o conhecimento da religião, no século 18, o iluminismo trouxe uma releitura da ética, estabelecendo críticas que voltaram a centralizar o foco na razão, apostando na autonomia humana e na crença otimista no progresso. 15© LegisLação ProfissionaL e Bioética conteÚDo introDUtÓrio A Revolução Francesa pregou o ideal de liberdade, igualdade e fraternidade, tendo como centro a questão da tolerância para com as diferenças e o estabelecimento de um pacto social. Nesse período, iniciou-se uma discussão em torno dos direitos humanos, culminando com a "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão" em 1789. Representando o iluminismo alemão, Immanuel Kant exerceu forte influência na universalização dos preceitos conceituais da ética humana. Na segunda metade do século 19, Friedrich Nietzsche tornou a ética definitivamente uma Ciência desvinculada da religião. Para ele, a ética seria o centro, justificativa e fundamentação das ações humanas, constituindo o elemento que torna possível a convivência, estabelecendo padrões de comportamento que reprimem a natureza. O desenvolvimento do conhecimento relacionado à vida e aos fatos que desrespeitaram a dignidade humana, durante a Segunda Guerra Mundial, incentivou o surgimento da bioética como ramo do conhecimento da ética, no tratamento do homem e responsável por realizar debates multidisciplinares sobre questões emergentes e persistentes (RAMOS, 2012). 2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e precisa das definições conceituais, possibilitando um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados. 16 © LegisLação ProfissionaL e Bioética conteÚDo introDUtÓrio 1) Bioética: é a ética que valoriza três valores fundamentais: autonomia, justiça e beneficência. Surgiu nos Estados Unidos e Europa na década de 1970, onde abordava questões relacionadas com a vida, morte e saúde das pessoas. Na atualidade, busca- se ampliar os conceitos e aplicação da bioética, como: "justiça, cidadania, direitos humanos, liberdade, participação, autonomia, igualdade, responsabilidade, beneficência, solidariedade, equidade, qualidade, excelência, radicalidade e tolerância" (GARRAFA, 1997, 263). 2) Consentimento livre e esclarecido: anuência do participante da pesquisa e/ou de seu representante legal, livre de vícios (simulação, fraude ou erro), dependência, subordinação ou intimidação, após esclarecimento completo e pormenorizado sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar (BRASIL, 2012). 3) Dano associado ou decorrente da pesquisa: agravo imediato ou tardio, ao indivíduo ou à coletividade, com nexo causal comprovado, direto ou indireto, decorrente do estudo científico (BRASIL, 2012). 4) Distanásia: termo usado para conservar em vida um doente tido como incurável, empregando cuidados extraordinários, desvelos sem os quais ele não poderia existir (PESSINI, 2004). 5) Erro profissional: engano ou equívoco ao realizar uma ação, apesar de o profissional ter tomado todos os cuidados e precauções para atuar corretamente (RABELO, et al.) 17© LegisLação ProfissionaL e Bioética conteÚDo introDUtÓrio 6) Ética: o termo deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa). Ética é um conjunto de conhecimentos obtidos do comportamento humano sobre valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade, é uma reflexão crítica sobre a moralidade. “A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta” (VALLS, 1993, p. 8). 7) Eutanásia: termo usado para designar o ato de provocar, por compaixão, a morte de um doente incurável e terminal, pondo fim aos seus sofrimentos (BORGES, 2001). 8) Incapacidade civil ou legal para pesquisa: condição em que o participante da pesquisa não dispõe de capacidade civil para dar o seu consentimento livre e esclarecido, devendo ser assistido ou representado, de acordo com a legislação brasileira vigente (BRASIL, 2012). 9) Imperícia: falta de conhecimento técnico ou habilidade para executar uma ação própria de sua categoria profissional (GRECO, 2008). 10) Imprudência: descuido ou falta de cautela ao executar uma ação que poderia ter sido prevista e evitada, agir com precipitação (PRADO, 2007). 11) Kant: Immanuel Kant foi o pai da Filosofia Kantiana. Nasceu em 1724, em Königsberg, na Prússia Ocidental, filho de pais humildes e árduos devotos da religião luterana, o que influenciou, significativamente, sua personalidade. Ingressou na universidade para 18 © LegisLação ProfissionaL e Bioética conteÚDo introDUtÓrio estudar teologia, embora tenha dado maior atenção à matemática, física e medicina (MORRIS, 2002). 12) Moral: é um conjunto de valores e de regras de comportamento,um código de conduta que coletividades adotam, quer sejam uma nação, uma categoria social, uma comunidade religiosa ou uma organização. Enquanto a ética diz respeito à disciplina teórica, ao estudo sistemático, a moral corresponde às representações imaginárias que dizem aos agentes sociais o que se espera deles, quais comportamentos são bem-vindos e quais não são (SROUR, 2000). 13) Negligência: o ato omisso de deixar de fazer o que é necessário por displicência, causando resultados prejudiciais (PRADO, 2007). 14) Ortotanásia: termo empregado em deixar morrer o doente de sua morte natural por abstenção ou omissão de cuidados (BORGES, 2001). 15) Pesquisa: “Processo formal e sistemático que visa a produção, o avanço do conhecimento e/ou a obtenção de respostas para problemas mediante emprego de método científico” (BRASIL, 2012). 16) Pesquisa em reprodução humana: “pesquisas que se ocupam com o funcionamento do aparelho reprodutor, procriação e fatores que afetam a saúde reprodutiva de humanos, sendo que nesses estudos serão considerados "participantes da pesquisa" todos os que forem afetados pelos procedimentos das mesmas” (BRASIL, 2012). 17) Pesquisa envolvendo seres humanos: pesquisa que, individual ou coletivamente, tenha como participante 19© LegisLação ProfissionaL e Bioética conteÚDo introDUtÓrio o ser humano, em sua totalidade ou partes dele, e o envolva de forma direta ou indireta, incluindo o manejo de seus dados, informações ou materiais biológicos (BRASIL, 2012). 18) Pólis: era o modelo das antigas cidades gregas desde o período arcaico até o período clássico, vindo a perder importância durante o domínio romano. Devido às suas características, o termo pode ser usado como sinônimo de cidade-estado. O surgimento da pólis foi um dos mais importantes aspectos no desenvolvimento da civilização grega. Constituída por um aglomerado urbano, abrangia toda a vida pública de um pequeno território e geralmente se encontrava protegida por uma fortaleza. Compreendia a totalidade dos cidadãos, exceto os escravos, metecos e membros de populações subjugadas, distinguindo-se de outras cidades pelo nome dos seus habitantes. 19) Risco da pesquisa: possibilidade de danos à dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual do ser humano, em qualquer fase de uma pesquisa e dela decorrente (BRASIL, 2012). 20) Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE: documento no qual é explicitado o consentimento livre e esclarecido do participante e/ou de seu responsável legal, de forma escrita, devendo conter todas as informações necessárias, em linguagem clara e objetiva, de fácil entendimento, para o mais completo esclarecimento sobre a pesquisa, a qual se propõe participar (BRASIL, 2012). 21) Termo de Assentimento: documento elaborado em linguagem acessível para os menores de idade ou 20 © LegisLação ProfissionaL e Bioética conteÚDo introDUtÓrio para os legalmente incapazes por meio do qual, após os participantes da pesquisa serem devidamente esclarecidos, explicitarão sua anuência em participar dela, sem prejuízo do consentimento de seus responsáveis legais (BRASIL, 2012). 22) Vulnerabilidade: estado de pessoas ou grupos que, por quaisquer razões ou motivos, tenham a sua capa- cidade de autodeterminação reduzida ou impedida, ou de qualquer forma estejam impedidos de opor resis- tência, sobretudo no que se refere ao consentimento livre e esclarecido (BRASIL, 2012). 3. EsquEma dos ConCEitos-ChavE Como você pode observar, o Esquema a seguir possibilita uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu conhecimento. Por exemplo, para atuar na enfermagem é necessário entender o conceito de ética e o que ele representa para a profissão. A ética estuda a conduta comportamental do ser humano, bem como seu caráter. Porém, em senso comum, entende-se que uma pessoa ética é aquela que tem como premissa um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a sua conduta. No contexto da enfermagem a ética deve ter como base comportamentos e ações que abrangem conhecimentos, habilidades, valores e atitudes, com o propósito de favorecer as potencialidades do ser humano, a fim de manter a dignidade e melhorar a condição do paciente/cliente no processo de viver e morrer. 21© LegisLação ProfissionaL e Bioética conteÚDo introDUtÓrio A prática da enfermagem requer um entendimento das implicações legais acerca do processo do cuidar, pois somente é possível dispensar assistência com segurança aos indivíduos e à sociedade, quando conhecemos os limites legais da profissão. Por isso, há a necessidade de uma discussão multidisciplinar, quando se trata de temas abordados pela bioética, pois os conceitos acerca desses assuntos são muito divergentes. Sem dúvida é de muita importância que haja espaços para a discussão bioética com respeito aos conflitos éticos que abrangem a profissão, acima de tudo, com o propósito de estimular a reflexão e o diálogo diante das situações dilemáticas não pautadas somente nos valores ligados à profissão, que são de natureza normativa, mas que também compreendem a dimensão íntima do indivíduo, suas crenças e princípios morais. Destaca-se, também, a importância de despertar a autoconsciência do aluno acerca de seus valores, levando em consideração a influência deles no seu comportamento e decisões, com relação às situações dilemáticas presentes no dia a dia do trabalho, para que venha a se tornar um profissional mais consciente da necessidade de respeitar a autonomia das pessoas que serão cuidadas por ele no futuro. Princípios e Valores Éticos da Enfermagem Paciente – Assistência Ensino Pesquisa em Humanos Princípios Bioéticos Legislação Não – Maleficência Fidelidade Beneficência Autonomia Justiça Justiça – Moral Autonomia – Respeito e Proteção pelas pessoas Beneficência + Benefícios - Prejuízos Não Maleficência Equidade Projeto Pedagógico Atividade Prática – Estágio Princípios Morais Aprender a Aprender Conforto – toque, escuta, apoio espiritual e família Acesso à informação Confidencialidade / Sigilo Trabalho em Equipe Comprometimento Respeito Apoio Técnico - Consulta Retaguarda Responsabilidade Direitos e Deveres Caminhos e Norteadores Figura 1 Esquema de Conceitos-chave de Legislação Profissional e Bioética. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEAUCHAMP, T.; CHILDRESS, J. Principies of biomedical ethics. In: POTTER, P. A., PERRY, A. G. Fundamentos de Enfermagem. 6. ed. Mosby: Elsevier, 2006. BORGES, R. C. B. Direito de morrer dignamente: eutanásia, ortotanásia, consentimento nformado, testamento vital, análise constitucional e penal e direito comparado. In: 22 © LegisLação ProfissionaL e Bioética conteÚDo introDUtÓrio SANTOS, M. C. C. L. Biodireito: ciência da vida, os novos desafios. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 283-305. GARRAFA, V. Bioética, saúde e cidadania. O Mundo da Saúde, v. 23, n. 5, p. 263-269, 1997. GRECO, R. Curso de Direito Penal: parte geral. 10. ed. Niterói: Impetus, 2008. v. 1. MORRIS, C. Os grandes filósofos do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2002. PESSINI, L. Eutanásia: por que abreviar a vida? São Paulo: Loyola, 2004. PRADO, L. Curso de Direito Penal. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. SROUR, R. H. Ética Empresarial. Rio de Janeiro: Campus, 2000. VALLS, A. O que é ética. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. 5. E-REFERÊnCias BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Resolução nº196/96. Brasília, 2012. Disponível em: <http://conselho. saude.gov.br/Web_comissoes/conep/aquivos/resolucoes/23_out_versao_ final_196_ENCEP2012.pdf>. Acesso em: 8 dez. 2013. RABELO, E. et al. Responsabilidade ética e legal do profissional de enfermagem: ética e legislação. 2012. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/lidianeosantos/responsabilidade-tica-e-legal-do-profissional-da-enfermagem>. Acesso em: 21 jul. 2014. RAMOS, F. P. História do desenvolvimento da Ética e Ética: evolução conceitual. Disponível em: <http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2012/03/ evolucao-conceitual-da-etica.html> . Acesso em: 20 nov. 2013. 23 UNIDADE 1 DIMENSÃO ÉTICA E LEGAL DA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DA ENFERMAGEM Objetivos • Estudar ética e bioética, compreendendo o seu desenvolvimento por meio da história e refletir sobre as questões éticas relevantes da atualidade. • Interpretar os subsídios teóricos sobre as questões éticas relacionadas à profissão de enfermagem. • Analisar conceitos de ética e bioética e sua relação com a educação. Conteúdos • A aproximação profissional aos conceitos éticos e bioéticos. • A ética e a prática profissional do enfermeiro. • A ética e a bioética no contexto da educação. Orientações para o estudo da unidade Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir: 1) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos explicitados no Glossário e suas ligações pelo Esquema 24 © LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm de Conceitos-chave para o estudo de todas as unidades desta obra. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu desempenho. 2) Ao ler o estudo sobre a dimensão ética e legal da atuação profissional da enfermagem, você vai observar que a lei tanto protege como pune o indivíduo, sendo necessário ao profissional de enfermagem conhecê- la para se proteger de situações que possam levá-lo a responder juridicamente e para que possa proteger os direitos das pessoas que estão sendo assistidas. 3) Vamos, também, conhecer os conceitos de ética, bioética e a dimensão ética da atuação profissional da enfermagem e o que ela representa para a essa profissão. 4) Como aluno, você vai conhecer a ética como um tema transversal cujo objetivo é mostrar a necessidade de construção de uma sociedade justa, agregando valores como respeito, solidariedade e cooperação. Você também vai aprender a dialogar e a tomar decisões coletivas. 25© LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm 1. INTRODUÇÃO A prática da enfermagem inclui uma compreensão das implicações legais envolvidas no processo de cuidar, uma vez que só é possível prestar assistência aos indivíduos e à sociedade com segurança, se conhecermos os limites legais da profissão. O profissional precisa entender que a lei tanto protege como pune, sendo necessário o conhecimento dela para se proteger de situações que possam levá-lo a responder por processos e para que possa proteger os direitos das pessoas que estão sendo assistidas. Para tanto, é necessário conhecer os limites legais da profissão de enfermagem que irão interferir diretamente na tomada de decisões, bem como garantir que os clientes recebam um cuidado de enfermagem seguro e apropriado. Para entendermos a dimensão ética da atuação profissional da enfermagem, é necessário que saibamos o conceito de ética e o que ela representa para a essa profissão. 2. CONTEúDO BÁSICO DE REFERÊNCIA O Conteúdo Básico de ReferÊncia, apresenta de forma sucinta, os temas abordados nesta unidade. 2.1. A AproximAção profissionAl Aos conceitos éticos e bioéticos Freitas (2010) comenta que antes de Cristo os filósofos gregos chamavam de éthos os princípios inspiradores dos valores e do agir em sociedade. Com a influência do cristianismo na Idade 26 © LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm Média, passou-se a usar a palavra moral para esses princípios e valores. Moore (1975) afirma que “ética” é uma palavra de origem grega, éthos, que por sua vez possui duas origens: sendo a primeira com “e” curto, que pode ser entendida por costume e é a que serviu de base para a tradução latina moral; e a segunda, que também é escrita da mesma forma, porém com “e” longo, e significa caráter. Esse sentido de alguma forma orienta a utilização atual que é dada a palavra ética. Freitas (2010) identifica que ética é o estudo da conduta e do caráter; no senso comum, diz-se que uma pessoa é ética quando se tem como premissa princípios, convicções e valores. Está relacionada ao que é bom para os indivíduos e à sociedade em geral. Em especial no cuidado à saúde, no processo de decisão pode haver conflitos entre o que é certo ou errado devido aos valores diferentes entre indivíduos. Conflitos compreensíveis ocorrem entre todos que estão envolvidos no processo do cuidado, ou seja, familiares, comunidade, profissionais de saúde e amigos. Diante disso, podemos afirmar que a ética profissional é a ciência do comportamento moral dos homens que tem como função constatar os fatores que em uma deter minada sociedade são capazes de alienar a atividade profissional; portanto, a ética profissional tem como função a reflexão crítica, com o propósito de salvar e dar segurança à sociedade no que diz respeito à atividade profissional (TRAUTMAN, 2002). Bioética (ou ética da vida) no campo filosófico corresponde ao: [...] estudo sistemático das dimensões morais – incluindo visão moral, decisões, condutas e políticas – das ciências da vida e 27© LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm atenção à saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas em um cenário interdisciplinar. (REICH, 1995). Segundo um dos precursores da bioética no Brasil (SEGRE, 1999, p. 23), bioética é a parte da ética, ramo da filosofia, que enfoca as questões referentes à vida humana e, portanto, à saúde. Os temas enfrentados pela bioética necessitam de uma discussão multidisciplinar, o que justifica conceitos divergentes sobre determinados temas. A bioética é não apenas multiprofissional e disciplinar, mas também, acessível a todo ser humano que queira pensar, o que se deseja é uma reflexão, pois a uniformidade nesses casos é inatingível (SEGRE, 1999). Hernandes (1999) aponta que de uma maneira geral a bioética não possui respostas para todas as situações, mas oferece caminhos de atuação para auxiliar nas tomadas de decisões individuais em casos complexos e limitados, portanto, tem como característica principal o enfoque multidisciplinar. A atuação da bioética normalmente se faz presente nos casos em que há conflito de valores. Em situações em que haja consenso, na aprovação ou reprovação de uma conduta pela sociedade, não há porque pensar no plano da bioética. Temos, como exemplo, o descarte de pilhas no meio ambiente, que a sociedade reprova, logo não há conflito, pois só há um interesse em evidência, que é a qualidade do meio ambiente. A bioética só pode existir quando houver conflito de valores, como, por exemplo, a eutanásia, em que se discute a dignidade do paciente terminal e continuidade da vida, entre outras situações similares. Princípios da bioética O Relatório de Belmont é resultado do trabalho da Comissão Nacional para Proteção dos Seres Humanos da 28 © LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm Pesquisa Biomédica e Comportamental, realizada pelo governo americano para identificar os princípios éticos básicos aplicáveis na pesquisa em seres humanos. Foi oficialmente divulgado em 1978, tornando-se a declaração principialista clássica, e acabou sendo usado para a reflexão bioética em geral. Os três princípios constantes no relatório e referendados pela bioética são o princípio da autonomia, da beneficência e da justiça (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2000). Bioética e filosofia Expoente do pensamento filosófico, Kant é largamente estudado pela bioética, sendo sua filosofia a base da reflexão bioética necessária, para o progresso da ciência relacionada à vida humana. Suas obras são analisadasem diversos idiomas e culturas, e muitas de suas concepções servem até hoje para nortear a conduta e fomento das decisões humanas no campo da moral e da ética. A filosofia de Kant significou uma nova forma de pensar a ética e a moral, onde o filósofo contesta a base moral de base empírica, propondo um pensamento racional. Nessa proposta Kant sintetiza o seu pensamento sobre as questões da moralidade, valorizando essa ideia de lei moral (OLIVEIRA, 2007). Como critério maior da moralidade, Kant estabelece o preceito de “imperativo-categórico”, que conclui que existem valores comuns a todos os homens, valores universais inerentes às pessoas. Questões como a mutilação genital nos rituais de iniciação de algumas tribos indígenas poderiam se contrapor à existência de valores se não fossem justificadas pela influência cultural; portanto, para quem pratica o ato não há desrespeito à pessoa, pois esse praticante considera tal ato um benefício e aguarda ansiosamente o ritual (LOLAS, 2001). 29© LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm Em seguida, buscando relacionar a ideia de lei moral universal e do ser humano como fim em si mesmo, Kant enuncia o imperativo prático: [...] age de tal maneira que possas usar a humanidade, tanto em tua pessoa, como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio (KANT, 2005, p. 59). Os homens como seres racionais estão, pois, submetidos a essa lei que ordena que cada um deles jamais se trate a si mesmo ou aos outros simplesmente como meios, mas sempre como fim de si próprio, uma pessoa e não um objeto. O homem ganha em Kant status de valor absoluto (MARTI, 2003). Após um contato teórico sobre a abordagem ética e bioética, é necessário que se conheça os conceitos que contêm significados específicos no contexto da ética, no cuidado da saúde, que são: autonomia, beneficência, não maleficência, justiça e fidelidade. Esses conceitos abordam conflitos morais e dilemas éticos na saúde, norteando as práticas, decisões, procedimentos e discussões no que se refere aos cuidados em saúde. Autonomia – refere-se ao compromisso profissional de informar aos clientes todos os cuidados que serão prestados, incluindo-o nas decisões e dando liberdade individual para escolher o que é melhor para si mesmo (DWORKIN, 2005). Mill (1909, p. 5) propõe uma das bases teóricas para o princípio da autonomia, que é: "sobre si mesmo, sobre seu corpo e sua mente, o indivíduo é soberano". Como exemplo, podemos citar o termo de consentimento que os pacientes assinam antes de procedimentos cirúrgicos. Quando o paciente assina esse termo, significa que ele concordou 30 © LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm com a realização do procedimento, assegurando à equipe de saúde a permissão para tomada de conduta. Beneficência – o princípio da beneficência refere- se à tomada de ações positivas para ajudar os outros, independentemente de desejá-las ou não. Trata-se da ponderação dos riscos e benefícios, sendo que os benefícios devem superar os riscos (DWORKIN, 2005). O enfermeiro tem de resguardar e defender os direitos do paciente. Como exemplo do princípio da beneficência, podemos citar o compromisso desse profissional em checar, no momento da alta hospitalar, se o paciente está apto a trocar seu curativo ou desenvolver qualquer técnica que precise; caso não esteja preparado, o enfermeiro deverá retardar sua saída ou programar visitas domiciliares (TIMBY; SMITH, 2005). Na literatura muitos autores propõem que o princípio da não maleficência é um elemento do princípio da beneficência. O Relatório Belmont (1978) incluía a não maleficência como parte da beneficência. O Relatório estabeleceu que duas regras gerais pudessem ser formuladas como expressões complementares de uma ação benéfica: não causar o mal e maximizar os benefícios possíveis, minimizando os danos. A prática da beneficência estimula a vontade de praticar o bem para com os outros. Não maleficência – o princípio da não maleficência é evitar riscos previsíveis, mantendo a integridade do paciente. Na prática da saúde não basta fazer o bem, é necessário igualmente não cometer danos. Cabe ao profissional de saúde então tentar equilibrar os riscos e benefícios em um plano de cuidado, 31© LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm esforçando-se para causar o menor dano possível (ALMEIDA, 2000). A não maleficência é importante, pois na área da saúde um procedimento a ser realizado por necessidade pode vir junto com o risco de causar algum dano. Como exemplo, podemos citar a necessidade de realizar uma punção para coleta de liquor occipital a fim de descartar alguma possibilidade diagnóstica e o procedimento causar um sangramento intracraniano. Nesse caso, se o benefício da punção for maior que o do sangramento, eticamente esse dano pode ser justificado (KIPPER, 2002). Justiça – refere-se à equidade, uma vez que os profissionais de saúde têm de se esforçar para praticar justiça no cuidado da saúde. Temos, como exemplo, os transplantes de órgãos, em que os beneficiários são inscritos em uma lista, garantindo-se que haverá uma sequência no chamamento dos receptores (POTTER; PERRY, 2009). Aristóteles propôs a justiça formal, afirmando que os iguais devem ser tratados de forma igual e os diferentes devem ser tratados de forma diferente (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 1994). A lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências, refere, em seu art. 2º, que a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício (BRASIL, 1990). Segundo Santos (1998, p. 42), o princípio bioético da justiça visa "garantir a distribuição justa, equitativa e universal dos benefícios dos serviços de saúde". 32 © LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm Fidelidade – o princípio refere-se à concordância em manter promessas. O profissional de saúde, quando propõe um plano de cuidado ao cliente, tem de ter o compromisso de cumpri-lo (POTTER; PERRY, 2009). Quase sempre essas promessas e responsabilidades estão relacionadas a prática de enfermagem (TIMBY; SMITH, 2005). No âmbito da saúde, devido às novas descobertas e experi- mentos científicos, a sociedade tem uma crescente preocupação com a ética. A enfermagem vem refletindo sobre a sua prática, buscan- do enfrentar os desafios relacionados às questões éticas que sur- gem em seu campo de atuação. A ética, no contexto da enfermagem, abrange comportamentos e ações que envolvem conhecimentos, valores, habilidades e atitudes no sentido de favorecer as potencialidades do ser humano com a finalidade de manter ou melhorar a condição humana no processo de viver e morrer. Assim, os cuidados de enfermagem devem ser prestados de maneira que não causem danos de correntes de imperícia, negligência ou imprudência (WALDOW, 2001). A legislação brasileira, de acordo com o Código Civil, art. 951, o disposto nos arts. 948, 949 e 950, aplicam-se ainda, no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão ou inabilitá-lo para o trabalho (BRASIL, 2002). A Constituição Federal, o Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor regem as relações intersubjetivas entre o profissional e seus clientes (FELLOUS, 2003). 33© LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm Desse modo, é considerado danoum erro civil praticado contra uma pessoa ou uma propriedade. Este pode ser classificado como intencional, quase intencional e não intencional (POTTER; PERRY, 2009). Danos intencionais – são os atos praticados de maneira consciente, voluntária, que violam os direitos de outra, como agressão, lesão corporal e cárcere privado (POTTER; PERRY, 2009). Agressão – é qualquer ato onde exista a ameaça de provocar dano ou ofensa. Nesse caso, não é necessário que se pratique um contato físico, o fato de ameaçar o paciente já é considerado agressão. Por exemplo, se a enfermeira ameaçar dar uma injeção ou contiver o paciente sem seu consentimento, é caracterizada a agressão. Sempre que for necessária a realização de procedimento ou exames, é prudente que se assine um termo de consentimento (POTTER; PERRY, 2009). Lesão corporal – qualquer toque intencional sem o consentimento do paciente pode ser considerado lesão corporal, pois o contato pode feri-lo ou ser ofensivo à sua dignidade pessoal. No caso que citamos da aplicação de injeção pela enfermeira, se ela realmente aplicar a injeção sem o consentimento do paciente, ocorrerá lesão corporal (POTTER; PERRY, 2009). Cárcere privado ou detenção ilegal – ocorre com a restrição injustificada de uma pessoa sem um mandato judicial. Se um paciente consciente deseja deixar a instituição de saúde sem alta médica, o enfermeiro não pode detê-lo a força, este deverá orientar o paciente que caso queira sair, deverá assinar um termo que eximirá de responsabilidade a instituição (TIMBY; SMITH, 2005). 34 © LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm Danos quase intencionais – são os atos em que não houve a intenção, mas ocorreu a violação do direito, como invasão de privacidade e difamação de caráter (POTTER; PERRY, 2009). Invasão de privacidade – cabe aos profissionais de saúde oferecer ao paciente assistência com confidencialidade e privacidade. É direito do paciente estar livre da intromissão indesejada em seus assuntos particulares (TIMBY; SMITH, 2005). Outra forma de invasão de privacidade é fornecer dados médicos relativos ao paciente a pessoas não autorizadas; o prontuário médico é confidencial, e as informações contidas nele só devem ser divididas com a equipe envolvida no cuidado. Outros exemplos são: fotografar o paciente sem o seu consentimento, revelar seu nome em relatórios públicos e artigos científicos e fazer comentários em áreas comuns da instituição de saúde (TIMBY; SMITH, 2005). Difamação de caráter – ocorre quando são publicadas afirmações falsas, por má-fé, que causem dano à reputação de uma pessoa. Quando alguém verbaliza uma afirmação falsa, considera-se calúnia; já uma afirmação falsa por escrito, considera-se difamação. O enfermeiro deve evitar fazer comentários exagerados e infundados dos pacientes e de seus colegas de trabalho com o risco de difamar a pessoa (TIMBY; SMITH, 2005). Danos não intencionais – são os atos não intencionais que incluem a negligência e a má prática (TIMBY; SMITH, 2005). Negligência – a negligência é uma conduta que está abaixo do padrão de cuidado, ou seja, quando há risco de lesão. No caso da enfermagem, a administração errada de um medicamento é considerada um ato negligente (FERNANDES; FREITAS, 2006). 35© LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm Má prática – a má prática, ou imperícia, é um tipo de negligência profissional. Neste item podemos listar vários atos de negligência relacionados ao cuidado do paciente, sendo: não seguir prescrições, não fornecer instruções na alta do paciente, não cuidar da segurança do paciente, especialmente daqueles que estão sedados, que têm riscos de quedas, entre outros (TIMBY; SMITH, 2005). Consentimento – quando um paciente entra em um estabelecimento de saúde onde será submetido a tratamentos de rotina, ele assina um termo geral de consentimento e com relação a procedimentos que envolvam riscos, como cirurgias e exames especializados. O paciente ou seu representante necessita assinar um termo de consentimento antes da realização do mesmo (TIMBY; SMITH, 2005). Consentimento informado é a concordância do paciente para que alguma coisa aconteça. Sempre deve ser explicado e esclarecido ao paciente sobre o tratamento, procedimento e riscos envolvidos. Caso o paciente seja deficiente auditivo ou tenha dificuldade de entender a língua brasileira, deve-se providenciar um interprete para ajudá-lo a realizar uma escolha informada (CóDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, LEI nº 8.078/90). 2.2. A éticA e A práticA profissionAl do enfermeiro Os fundamentos ou princípios éticos que norteiam o exercício da enfermagem abrangem preceitos éticos importantes na prática cotidiana, como liberdade, compromisso, consciência, valores e responsabilidade. 36 © LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm A prática da enfermagem exige que o profissional tenha um contato próximo com o paciente, não apenas fisicamente, mas também psicológica e emocionalmente. Quando você presta cuidados a um paciente, frequentemente encontrará pessoas com valores diferentes, o quais a ética exige que você respeite. Os valores são desenvolvidos na infância, no núcleo familiar, e vão sofrendo variações à medida que o indivíduo cresce. Com o tempo, as pessoas acabam transformando alguns valores por influência da comunidade e mantendo outros. Esclarecer os valores é tolerar diferenças na busca pela resolução dos dilemas éticos (POTTER; PERRY, 2009). A liberdade como elemento fundamental da natureza humana consiste na capacidade do indivíduo de dominar e superar obstáculos. É a condição fundamental para compreensão da responsabilidade, pois se entende que um indivíduo é inteiramente responsável quando é capaz de escolher e optar, de forma autônoma e sem interferências. Portanto, a autonomia, desse modo, quer dizer o direito de dirigir-se, de governar-se e de escolher (CHAUí, 1999). Assim, a consciência constitui-se em outro fundamento no processo de assistência, porque faz parte do processo de decisão, podendo o profissional agir e escolher com capacidade entre duas ou mais possibilidades. A enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde e qualidade de vida da pessoa, família e coletividade, sendo que o profissional de enfermagem tem atuado em vários segmentos, indo desde o cuidado das pessoas, passando pelas ações educativas, pesquisas administrativas e participação no planejamento em saúde. O enfermeiro tem avan çado no controle das suas atividades, previstas tanto no Regulamento do 37© LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm Exercício Profissional (Lei nº 7498/86) como no Código de Ética dos Profissio nais de Enfermagem (Resolução COFEN 311/2007). O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE) é um documento que apresenta princípios, direitos, responsabilidades, deveres e proibições pertinentes à conduta ética dos profissionais de enfermagem, sendo um instrumento norteador da conduta do enfermeiro no exercício da sua profissão. O profissional de enfermagem é parte integrante da equipe de saúde, responsável por ações que buscam satisfazer as necessidades de saúde da comunidade, em consonância com as políticas públicas, garantindo a promoção, recuperação e manutenção da saúde. Nesse sentido, observa-se a aproximação das práticas assistenciais, sociais e éticas em enfermagem com (alguns dos) princípios do Sistema único de Saúde (SUS), conforme descrito na Lei nº 8.080/1990: I. universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II. integralidade de assistência, entendida como um conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos,exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; III. preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; IV. igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer natureza. Junto a esses quatro princípios fundamentais, entende-se que a bioética é uma obrigação nas ações de saúde desenvolvi- das pela equipe multiprofissional, ficando claro que a pessoa é o tema central da bioética. A bioética busca a defesa da digni- 38 © LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm dade e qualidade de vida do ser humano e os profissionais de enfermagem incluem o exercício da bioética em sua prática diá- ria, buscando uma assistência integral na sua relação paciente/ cliente. Essa troca de experiência entre profissionais envolvidos na assistência traz benefícios, tanto para o paciente quanto para os profissionais, que no dia a dia parecem confrontar o princípio da autonomia do paciente com o da beneficência. O enfermeiro trabalha com vidas e, portanto, deve respeitar o princípio da dignidade do ser humano, necessitando de conhecimento técnico, formação moral e ética para ter suporte no momento da tomada de decisão. Com o avanço da tecnologia, aumentaram os dilemas éticos, levando o profissional de enfermagem a pensar nos riscos e benefícios envolvidos em sua prática diária, o que torna imprescindível o estudo de assuntos bioéticos, para entender cada caso concreto. Portanto, segundo o professor Marco Segre (1999), ao citar Zoboli: Bioética é, definitivamente, campo de ação e de interação de profissionais e estudiosos, oriundos das mais diversificadas áreas de conhecimento humano.[...] Porque a bioética discutindo a vida e a saúde humana, não apenas interessa a todos os humanos, bem como, requer para essa discussão a bagagem do reconhecimento de todos os profissionais (SEGRE, 1999 apud ZOBOLI, 2005). Clemente (2004) sustenta que cada profissional expressa sua própria opinião a respeito dos temas bioéticos, o que dificulta um consenso sobre o assunto. A forma transdiciplinar de trabalhar em bioética, onde os profissionais podem compartilhar situações vividas no dia a dia e buscar soluções mais justas para os problemas, proporcionou outra forma de ensino/aprendizagem. 39© LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm 2.3. A éticA e A bioéticA no contexto dA educAção Na reforma educacional, pautada em parâmetros curriculares nacionais, o estudo da ética surge como exigência legal. A ética ocupa-se em estabelecer valores referentes ao comportamento humano, ou seja, comportamentos bons e maus, construtivos ou destrutivos (SEGRE, 1996) na busca de tomada de decisões, exigindo do ser humano uma reflexão crítica, um juízo de valores vindos de dentro para fora, processo que envolve conhecimentos, razão, sentimentos, emoções, vivência e todo processo educacional apreendido, bem como as heranças acumuladas e os valores que foram socialmente construídos ao longo da vida (FERNANDES, 2007). A formação do ser ético ocorre no próprio existir. Na escola, o aluno vai projetando o seu mundo, criando o seu caminho, mesmo sem perceber todas as suas possibilidades. Essa premissa proporciona ao aluno a busca de sua realização como pessoa e construtor de si mesmo (FERNANDES, 2007). Logo o aluno tem de se preparar para o futuro, tendo a responsabilidade como parte integrante de sua formação ética, adquirindo conhecimentos para vivenciar as situações emergentes da área da saúde, que se encontram inseridas na esfera da bioética (FERNANDES, 2007). A bioética é a parte da ética voltada para questões da vida e da saúde humana, entendida como um conjunto organizado de reflexões construtivas, onde cada pessoa tem seu posicionamento quanto às situações conflituosas referentes à vida e à saúde humana. A bioética envolve fatos complexos que envolvem ou afetam direta ou indiretamente os seres humanos (SEGRE, 1996). 40 © LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm As escolas trabalham com temas referentes à saúde e que envolvem todos os ciclos da vida, desde a concepção até a morte. Têm a preocupação de oferecer condições aos alunos para que desenvolvam suas habilidades para enxergar o mundo sob o prisma da bioética, incluindo a natureza ambiental e as diversas culturas, os valores, a saúde, a educação, o trabalho, as tecnologias e, principalmente, o mundo das relações humanas. Esse mundo abrange o compromisso, o respeito, a reciprocidade, a solidariedade, a confidencialidade, a verdade, a privacidade; a questão da autonomia, do altruísmo, da tolerância, da confiança, da vontade, da escolha, da prudência, da retidão e da liberdade (FERNANDES, 2007). Nesse particular, a bioética utiliza-se dos instrumentos morais, sociais, econômicos, éticos, políticos e legais para refletir e dialogar sobre as mais diversas situações. Esses aspectos são considerados fundamentais para que o aluno atue na sua futura profissão. O aprender a ser ético deve ser trabalhado ao longo da formação do aluno, uma vez que algumas situações exigirão mudanças em si mesmo para que tenha condições de tomar decisões éticas, consideradas fundamentais para atuar na sua futura profissão. Cabe, também, à escola o dever de preparar o aluno para exercer o bem e desenvolver sua autonomia (FERNANDES, 2007). O ensino também se vincula à bioética nas questões práticas relacionadas com a beneficência e a não maleficência, autonomia e justiça. Beneficência diz respeito a fazer o bem e evitar o mal, e na relação aluno professor é o compromisso, o respeito à privacidade e a confidencialidade, à verdade dos fatos e à autonomia, relacionados ao modo de construir o 41© LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm conhecimento com responsabilidade e respeito à liberdade e justiça em relação à compreensão e acessibilidade aos direitos e respeito às diferentes culturas (BARCHIFONTAINE, 2006). A escola deve cumprir sua tarefa humanista, mostrando ao aluno que existem outras culturas além da sua e que pluralismo significa diálogo com todas as culturas, a partir de uma cultura que se abre às demais. A cultura como produto das atividades humanas evolui continuamente, levando-nos a repensar a responsabilidade humana, no sentido de organizar o mundo e as diferentes realidades, sendo que organizar também significa respeitar o direito de todos à educação (GADOTTI, 2015). A inclusão da ética como um tema transversal tem como objetivo oferecer ao aluno a necessidade de construção de uma sociedade justa, agregando valores como respeito, solidariedade, cooperação, diálogo e tomada de decisões coletivas (LOMBARDI, 2005). A seguir, conheceremos alguns desafios, dificuldades e possibilidades diante da ética e bioética como temas transversais: Alguns desafios 1) Criar espaços de debates éticos, sociais e políticos interdisciplinares. 2) Acumular conhecimentos de outras áreas que possibilitem debates sobre questões da ética e bioética. 3) Desenvolver um melhor entendimento sobre ética e bioética perante as novas tecnologias de ensino. 4) Entender a ética e bioética como instrumento facilitador para o aluno praticar a cidadania e a democracia com compromisso com o coletivo. 42 © LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm 5) Buscar meios que viabilizem o desenvolvimento de habilidades relacionadas aos saberes, diminuindo a fragmentação ao saber conhecer com a prática do saber fazer, saber conviver e saber ser (FERNANDES, 2007). Vale ressaltar que é necessário trabalhar a ética ainda no Ensino Fundamental, permeando toda a formaçãodo aluno ao longo de sua vida. Diante do exposto, cabe ao professor preparar o aluno para viver em sociedade como cidadão, auxiliá-lo no desenvolvimento de habilidades técnicas para atuar no mercado de trabalho (FERNANDES, 2007). Algumas dificuldades 1) Falta de comunicação entre os professores, dificultando o diálogo entre as disciplinas. 2) Os temas transversais não são de interesse de ensino dos professores, apesar de saberem da importância deles. 3) Falta de formação específica por parte dos professores em trabalhar com o assunto bioética. 4) Algumas instituições de ensino às vezes recorrem a profissionais especializados para ministrarem aulas pontuais de ética e bioética, afastando-se do contexto da saúde. 5) Dificuldades em trabalhar questões da bioética do cotidiano distante da realidade que o aluno vive. 6) Dificuldade do aluno em trabalhar com situação específica e complexa, necessitando de preparo gradual. 7) Os professores devem discutir as questões éticas em uma relação interdisciplinar, envolvendo o aluno no 43© LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm processo de aprendizagem, preparando-o para as dificuldades que vão ocorrendo no dia a dia no contexto da prática (FERNANDES, 2007). Algumas possibilidades 1) Sempre que ocorrer uma situação no campo de ensino prático, deve-se trabalhar ética e bioética. 2) Deve-se aproveitar as oportunidades que ocorrem no dia a dia para mostrar para o aluno os temas transversais, como ética e bioética. 3) Para tomar decisões éticas, é necessário o pensamento ordenado, reflexivo e crítico; aprender a ouvir e dialogar. 4) Criar espaços que propiciem ao aluno construir conceitos de ética e bioética. 5) Proporcionar a aproximação da instituição de ensino com estabelecimentos de saúde, propiciando ao aluno graduando de Enfermagem a possibilidade de realizar parte de sua formação no campo da prática, vivenciando situações concretas que envolvem os conflitos éticos (FERNANDES, 2007). Os desafios, as dificuldades e as possibilidades sempre estão presentes no contexto do ensino. Existem vários assuntos que estão vinculados à ética e à bioética que merecem discussão devido aos conflitos que geram no dia a dia. São eles: 1) construção da identidade, 2) desemprego, 3) sexualidade, 44 © LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm 4) excluídos, grupos vulneráveis, 5) estigmas e preconceitos, 6) conflitos de interesse, 7) violência, 8) tecnologia, 9) avanços e limites da tecnologia, 10) limites éticos da intervenção sobre o ser humano (FERNANDES, 2007). Construção da identidade Consiste em definir o que a pessoa é, seus valores, suas crenças e metas que quer atingir na vida (ERIKSON, 1972). A identidade se desenvolve ao longo da vida, mas é na adolescên- cia que ocorrem as maiores transformações, é a "primeira eta- pa da vida em que estão reunidos todos os ingredientes para a construção de uma identidade pessoal" (SCIELO, 2015). Acredita- -se que a formação da identidade ocorre até o indivíduo definir sua carreira e conseguir sua independência financeira. A inde- cisão em decidir uma identidade ocupacional é um dos fatores que mais perturba os jovens (ERIKSON, 1972). Desemprego O desemprego é considerado um dos maiores problemas atuais, que pode ocorrer a qualquer indivíduo, a qualquer momento de sua atividade profissional. Devido à alta concorrência no mercado de trabalho, não podemos deixar de mencionar os processos de avaliação, onde somente um vai ser contemplado com a vaga, a ilusão do ganho monetário fácil e a 45© LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm qualquer preço. Enquanto profissionais, devemos refletir sobre algumas questões, como: vou trabalhar com pessoas que não confio? Vou realizar um trabalho sem capacitação técnica? Vou utilizar materiais de procedência duvidosa? Todas essas questões têm de ser levadas em conta tanto na hora de ser admitido como na hora de se manter um emprego. Fábricas fechadas, escritórios vazios, milhões de desempregados, dias de fome, cidades decadentes, hospitais superlotados, administrações enfermas, explosões de violência, ideologia de austeridade, discursos fátuos, revoltas populares, novas estratégias políticas, esperanças, medos, promessas, ameaças, manipulação, mobilização, repressão, bolsas de valores temerosas, sindicatos militantes, computadores perturbados, policiais nervosos, economistas estupefatos, políticos astutos, povo sofredor – tantas imagens que pensávamos terem se ido para sempre, levadas pelo vento do capitalismo pós-industrial. E agora elas estão outra vez de volta, trazidas pelo vento da crise capitalista (APPLE, 1989, p. 19). Sexualidade A sexualidade humana ocorre em uma determinada época da existência humana através da definição de suas preferências, atitudes, predisposição ou experiências sexuais. A escola tem um papel importante na formação de uma consciência ética e política sobre a sexualidade, que deve ter clara a superação das atuais formas de entender o homem, a sociedade e a cultura. As proibições, os discursos consumistas e, propriamente, a banalização da sexualidade são variantes da repressão histórico institucional sobre a dimensão da sexualidade (FOCAULT, 1977). 46 © LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm Exclusão A exclusão social pode ocorrer por vários fatores, sendo por: diferença de classe social, racismo, dependência química, prostituição, problemas psiquiátricos e até mesmo por obesidade. Grupos vulneráveis É uma parcela da população que se encontra em menor número na sociedade, possui direitos civis e políticos como todos e não tem acesso, ou tem dificuldades, àquelas informações e serviços disponíveis para a população em geral, seja por motivos religiosos, de saúde, opção sexual, etnia, cor de pele, incapacidade física ou mental (SÉGUIN, 2002). Alguns exemplos dessa parcela são os moradores de rua, prostitutas, usuários de drogas ilícitas e álcool, entre outros. Estigmas e preconceitos O estigma pode ser classificado em três tipos diferentes: o primeiro, onde há as deformidades físicas; o segundo, as culpas de caráter individual, percebidas como vontade fraca, paixões tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidade; e, por fim, os estigmas tribais de raça, nação e religião, que podem ser transmitidos de geração para geração (GOFFMAN, 1988). Como exemplo, podemos citar os pacientes de hanseníase, AIDS, filhos de presidiários, entre outros. Conflitos de interesse O conflito de interesse pode ocorrer quando uma das partes envolvidas em um procedimento tem maior interesse do que a 47© LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm outra. Como exemplo, podemos citar as ofertas desnecessárias de procedimentos cirúrgicos na área de estética. Violência A Organização Mundial da Saúde definiu violência: Uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou efetivamente, contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do desenvolvimento ou privações. (OMS, 2002, p. 1). A violência é uma questão social. Como exemplos, podemos citar: violência física, assassinatos, violência sexual, estupro, assédio moral, espancamentos, entre outros. Tecnologia O desenvolvimento e os avanços tecnológicos sempre causam uma preocupação, principalmente na área da saúde, pois muitas vezes provocam dilemas éticos, que nos despertam para reflexão sobre a conduta dos profissionais na sua prática cotidiana diante das tecnologias, de modo a garantir um cuidado humanizado (FIGUEROA,2000). Como exemplo na área de tecnologia e saúde, podemos citar: o uso de material genético humano, organismos geneticamente modificados, reprodução assistida, clonagem, entre outros. Com relação aos limites éticos da intervenção sobre o ser humano, poderíamos mencionar a eutanásia, clonagem, doação de órgãos etc. Nesse contexto é necessário que a instituição de ensino ofereça ao aluno uma formação com condições para torná-lo um profissional autônomo, crítico e reflexivo, responsável não 48 © LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm somente para o âmbito técnico e científico, mas também para o âmbito humano, social e cultural (FERNANDES, 2007). Portanto, cabe ao professor auxiliar o aluno a construir o agir ético, autônomo, pautado em valores como beneficência, autonomia e justiça. Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––– • Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone Videoaula, localizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível de seu curso (Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo (Complementar). Por fim, clique no nome da disciplina para abrir a lista de vídeos. • Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique no botão “Vídeos” e selecione: Legislação Profissional e Bioética – Vídeos Complementares – Complementar 1. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 3. CONTEúDO DIGITAL INTEGRADOR O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição necessária e indispensável para você compreender integralmente os conteúdos apresentados nesta unidade. Para uma maior compreensão do assunto abordado, sugerimos que você acesse o site: • CABRAL, L. A. B. Ética e Moral. Disponível em: <http:// www.youtube.com/watch?v=6AtHKgmrPaM>. Acesso em: 19 nov. 2014. 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em 49© LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos estudados para sanar as suas dúvidas. 1) Os conceitos que contêm significados específicos no contexto da ética, no cuidado da saúde, são: a) autonomia, beneficência, não maleficência, justiça e fidelidade. b) autonomia, beneficência, maleficência, justiça e fidelidade. c) autonomia, não beneficência, não maleficência, justiça e fidelidade. d) autocracia, beneficência, não maleficência, justiça e fidelidade. 2) Quando o enfermeiro realiza um procedimento sem o adequado conheci- mento e habilidade técnica, está expondo o paciente a danos decorrentes de: a) Negligência. b) Imperícia. c) Imprudência. d) Indisciplina. 3) O profissional de enfermagem é parte integrante da equipe de saúde responsável por ações que buscam satisfazer as necessidades de saúde da comunidade. De acordo com as políticas públicas, é função desse profissional: a) garantir consultas médicas mensalmente. b) garantir a promoção, prevenção, recuperação e manutenção da saúde. c) oferecer acesso à unidade de saúde através de consultas especializadas. d) garantir a prevenção de doenças e tratamento de doenças. 4) A escola deve cumprir sua tarefa humanista, mostrando ao aluno que existem outras culturas além da sua. Eticamente, isso significa: a) o diálogo com todas as culturas, levando o aluno a repensar a responsabilidade humana, no sentido de organizar o mundo e as diferentes realidades. b) a transformação do aluno, melhorando sua capacidade de aprendizagem. c) a mudança no comportamento do aluno em relação à assistência. d) a criação de um senso de autonomia entre as categorias profissionais. 50 © LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm 5) A inclusão da ética como um tema transversal tem como objetivo ofe- recer ao aluno a necessidade de construção de uma sociedade justa, de modo que ele agregue valores como respeito, solidariedade e cooperação e aprenda a dialogar e a tomar decisões coletivas. Como tema transversal, a instituição de ensino deve de ter como proposta: a) trabalhar questões da bioética de um cotidiano distante da realidade em que o aluno vive. b) recorrer a profissionais especializados para ministrarem aulas pontuais de ética e bioética, afastando-se do contexto da saúde. c) a falta de comunicação entre os professores, dificultando o diálogo en- tre as disciplinas. d) buscar meios que viabilizem o desenvolvimento de habilidades rela- cionadas aos saberes, diminuindo a fragmentação ao saber conhecer com a prática do saber fazer, saber conviver e saber ser. Gabarito Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas: 1) a. 2) b. 3) b. 4) a. 5) d. 5. CONSIDERAÇÕES Nesta unidade, tivemos a oportunidade de conhecer os conceitos de ética, bioética, moral e entender que o profissional de enfermagem deve atuar na promoção, prevenção, recuperação 51© LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm e reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais. O enfermeiro é parte integrante da equipe de saúde e em seu cotidiano tem como dever respeitar a vida, a dignidade e os direitos humanos em todas as suas dimensões. Após conhecermos um pouco da filosofia de Kant, é oportuna a reflexão de alguns dilemas éticos. Como você avalia: • a recusa de transfusão de sangue em testemunhas de Jeová? • aborto em casos de anencefalia? • eutanásia em pacientes com diagnóstico de morte cerebral? Segundo a filosofia de Kant, a recusa da transfusão de sangue eticamente se sustenta no imperativo prático, no reconhecimento da dignidade humana, no respeito à crença, que deve ser respeitada, desde que tenha manifestação escrita ou pessoal; portanto, se o paciente não estiver incapacitado, sua autonomia e autodeterminação devem ser respeitadas. O mesmo há de se dizer do aborto e da eutanásia. 6. E-REFERÊnCias GADOTTI, M. Indicadores de qualidade da educação escolar. Disponível em: <http://smeduquedecaxias.rj.gov.br/nead/Biblioteca/Forma%C3%A7%C3%A3o%20 Continuada/Avalia%C3%A7%C3%A3o/Indicadores_de_qualidade_da_educ_escolar. pdf>. Acesso em: 24 set. 2015. SCIELO. A construção da identidade em adolescentes: um estudo exploratório <http:// www.scielo.br/pdf/%0D/epsic/v8n1/17240.pdf>. Acesso em: 24 set. 2015. 52 © LegisLação ProfissionaL e Bioética UNIDADE 1 – DImENsão étIcA E lEgAl DA AtUAção profIssIoNAl DA ENfErmAgEm 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, A. M. Bioética e biodireito. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000. APPLE, M. Educação e poder. Porto. Alegre: Artes Médicas, 1989. BARCHIFONTAINE, C. P. Perspectivas da bioética na América Latina e o pioneirismo do ensino de bioética no Centro Universitário São Camilo, SP. In: PESSINI, L.; BARCHIFONTAINE, C. P. (Org.). Bioética e Longevidade humana. São Paulo: Loyola; 2006. BEAUCHAMP, T. L., CHILDRESS, J. F. Principles of Bioemdical Ethics. 4. ed. New York: Oxford, 1994. BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre proteção do consumidor, e da outras providências, DOU, Poder Legislativo, Brasília, DF, 12 set. 1990. p. 1. ______. Lei nº 8.080, de 19 de Setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. DOFC, Poder Legislativo, Brasília, DF, 20 set. 1990. Seção 1, p. 18055. ______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil, e da outras providências, DOU, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. CHAUí, M. Convite à filosofia. São Paulo: ática, 1999. CLEMENTE, A. P. P. Bioética: um olhar transdisciplinar sobre os dilemas do mundo contemporâneo. Belo Horizonte: Bioconsulte, 2004. DWORKIN, R. Domínio
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